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As Representações Sociais sobre o Patrimônio Cultural em Pirabeiraba - Joinville 1 Ian Pogan 2 Sandra Paschoal Leite de Camargo Guedes 3 Resumo: A pesquisa verificou quais eram as representações que os moradores do distrito de Pirabeiraba, localizado em Joinville, Santa Catarina, têm a respeito do patrimônio cultural da cidade. O recolhimento de dados foi feito a partir de um formulário com 44 questões, construído pelo grupo de pesquisas Estudos Interdisciplinares sobre Patrimônio Cultural, o Geipac. A aplicação dele se deu nos meses de junho e julho de 2017, no centro do distrito. Ao fim, foram recolhidos 31 formulários preenchidos. Os resultados obtidos foram analisados a partir das leituras referentes à teoria das Representações Sociais, do conceito de Patrimônio Cultural e acerca da história de Pirabeiraba. Nas respostas, o que mais foi relacionado a patrimônio cultural foram: a arquitetura, a história e o artesanato. Os participantes, ao citarem a arquitetura, muitas vezes, a ligavam à história, pois relacionavam, como patrimônio do local, as construções antigas e históricas presentes no distrito, grande parte com fortes traços germânicos. A história também aparece por ser considerada, segundo os participantes, como elemento fundamental para um povo. O artesanato aparece como fator econômico, já que a prática serve de complemento financeiro nas economias das famílias da localidade. Palavras-chave: Patrimônio Cultural; Representações Sociais; Pirabeiraba; Joinville Pirabeiraba é um distrito com uma população de quase 5 mil habitantes (JOINVILLE, 2017), localizado na região norte de Joinville, cidade com 515.288 habitantes (IBGE, 2010). Joinville foi fundada na segunda metade do século XIX por imigrantes europeus, principalmente germânicos, que saíram de seus locais de origem, devido a crises, desordem política, fome e anomias. O historiador Carlos Ficker (1965) aponta alguns dos fatores que fizeram com que os imigrantes saíssem da Europa para o Novo Continente: A imigração incessante e intensa das populações alemãs para os países livres da América era, em última análise, a consequência do desajustamento social do século 19. Apesar de todas as perseguições, o espírito liberal continuou sua luta contra os governos absolutos, convulsionando a estrutura social dos estados alemães; [...] Além das guerras e lutas políticas, outros fatores concorriam para intensificar a emigração alemã. O excessivo crescimento da população, desproporcional ao desenvolvimento dos meios de produção, 1 Pesquisa de Iniciação Científica financiada pelo CNPq entre agosto de 2016 e julho de 2017. 2 Graduando em História pela Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE; e-mail: [email protected] 3 Doutora em História, pós doutora em Museologia, professora da graduação em História e do Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade da Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE; e-mail: [email protected]

As Representações Sociais sobre o Patrimônio Cultural em ......Durkheim definia que as Representações são somente coletivas, Moscovici amplia essa visão, considera que as representações

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Page 1: As Representações Sociais sobre o Patrimônio Cultural em ......Durkheim definia que as Representações são somente coletivas, Moscovici amplia essa visão, considera que as representações

As Representações Sociais sobre o Patrimônio Cultural em

Pirabeiraba - Joinville1

Ian Pogan2

Sandra Paschoal Leite de Camargo Guedes3

Resumo: A pesquisa verificou quais eram as representações que os moradores do distrito de Pirabeiraba, localizado em Joinville, Santa Catarina, têm a respeito do patrimônio cultural da cidade. O recolhimento de dados foi feito a partir de um formulário com 44 questões, construído pelo grupo de pesquisas Estudos Interdisciplinares sobre Patrimônio Cultural, o Geipac. A aplicação dele se deu nos meses de junho e julho de 2017, no centro do distrito. Ao fim, foram recolhidos 31 formulários preenchidos. Os resultados obtidos foram analisados a partir das leituras referentes à teoria das Representações Sociais, do conceito de Patrimônio Cultural e acerca da história de Pirabeiraba. Nas respostas, o que mais foi relacionado a patrimônio cultural foram: a arquitetura, a história e o artesanato. Os participantes, ao citarem a arquitetura, muitas vezes, a ligavam à história, pois relacionavam, como patrimônio do local, as construções antigas e históricas presentes no distrito, grande parte com fortes traços germânicos. A história também aparece por ser considerada, segundo os participantes, como elemento fundamental para um povo. O artesanato aparece como fator econômico, já que a prática serve de complemento financeiro nas economias das famílias da localidade.

Palavras-chave: Patrimônio Cultural; Representações Sociais; Pirabeiraba; Joinville

Pirabeiraba é um distrito com uma população de quase 5 mil habitantes

(JOINVILLE, 2017), localizado na região norte de Joinville, cidade com 515.288

habitantes (IBGE, 2010). Joinville foi fundada na segunda metade do século XIX por

imigrantes europeus, principalmente germânicos, que saíram de seus locais de

origem, devido a crises, desordem política, fome e anomias. O historiador Carlos

Ficker (1965) aponta alguns dos fatores que fizeram com que os imigrantes saíssem

da Europa para o Novo Continente:

A imigração incessante e intensa das populações alemãs para os países livres da América era, em última análise, a consequência do desajustamento social do século 19. Apesar de todas as perseguições, o espírito liberal continuou sua luta contra os governos absolutos, convulsionando a estrutura social dos estados alemães; [...] Além das guerras e lutas políticas, outros fatores concorriam para intensificar a emigração alemã. O excessivo crescimento da população, desproporcional ao desenvolvimento dos meios de produção,

1 Pesquisa de Iniciação Científica financiada pelo CNPq entre agosto de 2016 e julho de 2017. 2 Graduando em História pela Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE; e-mail: [email protected] 3 Doutora em História, pós doutora em Museologia, professora da graduação em História e do Mestrado

em Patrimônio Cultural e Sociedade da Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE; e-mail: [email protected]

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elevados impostos, barreiras alfandegárias entre os numerosos estados e, finalmente, as grandes propriedades e latifúndios concentrados nas mãos das classes aristocráticas, com os privilégios quase medievais, que colocavam o camponês em situação econômica difícil. (FICKER, 1965, p.36).

Esse contexto fez com que muitos europeus saíssem de seus países em direção

à América, sendo que maioria ia para a América do Norte e, em menor escala, para

a América do Sul. A vinda de imigrantes ao sul Brasil foi promovida pelo Império

brasileiro com o intento de substituir, gradativamente, a mão-de-obra escrava no

país para o trabalho assalariado dos imigrantes. Além do fator econômico, a

imigração também tinha como função povoar regiões com baixa demografia e

fomentar o embranquecimento da população brasileira (GUEDES, 2005).

As terras onde hoje localiza-se Joinville, haviam sido o dote de casamento que

Dom Pedro I ofertou ao casamento de sua filha, a princesa Francisca de Bragança

(1824-1898), com François Ferdinando Felipe (1818-1900), o Príncipe de Joinville,

segundo Guedes (2005, p.14-15):

As terras compreendidas entre a margem direita do rio Pirabeiraba e a margem esquerda do Rio Itapocu, onde hoje se encontram as cidades de Joinville, São Bento do Sul, Guaramirim, Jaraguá do Sul, Corupá, Schroeder, Campo Alegre e Garuva, faziam parte do dote da princesa Francisca Carolina, irmã do imperador Pedro II, recebido por ocasião do casamento dela, em 1843, com o príncipe da cidade de Joinville, na França, François Ferdinand Phillipe.

Nessas terras estabeleceu-se a colônia Dona Francisca, até 1866 ligada ao

município de São Francisco do Sul, quando obteve sua emancipação política sendo

o município de Joinville instalado em 1869. Ainda no século XIX, com o surgimento

da extração em grande escala da erva-mate (Ilex paraguariensis), na região do

planalto norte catarinense e paranaense, houve um considerável crescimento

econômico na região. O viajante francês, August de Saint-Hilaire (1978), relata em

seu diário de viagens, a importância que a erva-mate tinha para a economia da

região; parte considerável da erva extraída, saía do planalto norte catarinense com

destino ao porto de São Francisco do Sul, o escoamento da erva era feito pela

estrada Dona Francisca, conhecida no período como Picada Três Barras. Aberta na

segunda metade do Século XVIII por tropeiros, a picada fazia a ligação da Ilha de

São Francisco do Sul com a Comarca de Curitiba, Saint-Hilaire (1978) relata a

necessidade de ampliação da picada Três Barras, o que iria corroborar com uma

melhor fluidez no escoamento de produtos (SAINT-HILAIRE, 1978, p.149). A

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ampliação da Picada Três Barras começou no ano de 1858, durante a ampliação, a

picada passou a se chamar Estrada Dona Francisca, em homenagem à princesa,

Grein nos atenta para:

A obra começou nas proximidades do Rio Cubatão onde após a derrubada da mata se formou uma clareira, de onde partiu a estrada em direção à serra. Neste ponto, tido como estratégico diversas vias de comunicação da Colônia, foram divididos lotes das autoridades locais, constituindo o segundo núcleo fundado pela Colônia Dona Francisca: Pedreira (GREIN, 2012, p.45)

Surge assim Pirabeiraba, fruto do desenvolvimento econômico e da expansão da

estrada Dona Francisca. Fundada oficialmente no dia 15 de abril de 1859, teve como

primeiro nome Pedreira, em homenagem ao Conselheiro Luiz de Couto Ferraz

Pedreira, que inspecionou as obras na Colônia Dona Francisca (FICKER, 1965, p.

208). O nome de Pirabeiraba só viria depois da Segunda Guerra (1939-1945),

devido ao fato de haver uma cidade com o nome de Pedreira no interior do estado

de São Paulo.

A abordagem histórica do distrito é significativa para a compreensão de como os

moradores do distrito estabelecem suas relações com o local onde habitam, para as

Teorias das Representações Sociais, isso é vital, já que as representações se

constituem historicamente. A teoria das Representações Sociais, são importantes

para entendermos como os sujeitos constroem suas visões e posições em seus

contextos e em suas relações. Para entender sua complexidade, é importante

também levar em conta a necessidade de um olhar inter e multidisciplinar. Denise

Jodelet define as Representações Sociais como:

[...]sistemas de interpretação, que regem nossa relação com o mundo e com os outros, orientando e organizando as condutas e as comunicações sociais. Igualmente intervêm em processos tão variados quanto a difusão e a assimilação dos conhecimentos, no desenvolvimento individual e coletivo, na definição das identidades pessoais e sociais, na expressão dos grupos e nas transformações sociais. (JODELET,1993, p.5)

Como define Jodelet, as Representações Sociais são elementos que mediam

entre os indivíduos, os fenômenos e objetos que estão presentes em seus

cotidianos. As Representações Sociais tem sua origem com o sociólogo Émile

Durkheim (1858-1917), que acreditava que as Representações seriam produtos da

cultura e da sociedade, tendo impacto direto sobre o pensamento do indivíduo

(ALBA, 2011, p. 401). O conceito de Representações é retomado de modo inovador,

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dentro do campo da Psicologia Social, por Serge Moscovici (1925-2014) que

acrescenta novas discussões para as representações assim como a flexibiliza.

Durkheim definia que as Representações são somente coletivas, Moscovici amplia

essa visão, considera que as representações são coletivas mas também individuais,

o sujeito também constrói individualmente suas representações sobre o mundo, não

somente sendo influenciado pelo coletivo. Martha de Alba escreve que Moscovici ao

considerar o indivíduo como ser autônomo em seu pensamento, passa a ser um

marco para as discussões acerca das representações:

A teoria de Moscovici se apresenta como um marco conceitual mais flexível, na medida em que nos permite analisar as Representações sociais em diversos níveis. [...] Trata-se em certa medida da recuperação do sujeito que, embora esteja determinado, possui uma margem de originalidade e criatividade ao construir suas representações sobre o mundo. (ALBA, 2011, p. 400)

As Representações Sociais são formadas a partir da comunicação e de

inúmeros conhecimentos que perfazem o mundo social do indivíduo, como religião,

tradições, ideologias dentre outros. Para Moscovici, esses elementos, presentes no

cotidiano dos indivíduos, são o que ele define como condicionantes, bases culturais

em que os indivíduos estão inseridos, esses, possuem grande influência no

pensamento individual:

[...] cada experiência é somada à uma realidade predeterminada por convenções, que claramente define suas fronteiras [...] Nenhuma mente está livre dos efeitos dos condicionamentos anteriores que lhe são impostos por suas representações, linguagens ou cultura. Nós pensamos através de uma linguagem; nós organizamos nossos pensamentos, de acordo com um sistema que está condicionado, tanto por nossas representações, como por nossa cultura. Nós vemos apenas o que as convenções subjacentes nos permitem ver e nós permanecemos inconscientes dessas convenções (MOSCOVICI, 2009, p. 35).

Os condicionantes são construídos historicamente e coletivamente, eles agem

sobre os indivíduos em suas representações de mundo. Para Moscovici (2009),

apesar dos condicionantes serem influentes sobre os indivíduos, eles também são

ativos na construção de suas próprias representações, ou seja, a influência do grupo

não determina de modo total as representações dos sujeitos. A formação delas, dá-

se no cotidiano com suas próprias dinâmicas que permitem a construção de

representações de outras representações, assim como, a partir da assimilação de

novas informações que aparecem ao interpretar o meio. Moscovici estabelece que

há dois processos pelos quais o conhecimento é transformado em Representações,

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que são: a ancoragem e a objetivação, a primeira consiste na assimilação de novas

informações aos conhecimentos já familiares e estruturados pelo indivíduo, a partir

de conhecimentos pré-existentes, integrando, classificando e reduzindo essas

informações em categorias. Já a objetivação é a transformação de uma informação

abstrata em algo concreto, pertencente ao mundo físico (FERRARI; GUEDES, 2012,

p. 8). Esses mecanismos de familiarização de informações e conhecimentos, por

classificar, tende a definir e julgar valores, logo, não podem ser considerados

neutros, porque as bases condicionantes dos indivíduos estão ligadas à determinada

identidade e cultura. A complexidade do tema pede diferentes abordagens, assim,

os estudo sobre as Representações Sociais tem como característica, a

interdisciplinaridade; o seu estudo perpassa por várias áreas do conhecimento e

com diversas metodologias, Ferrari e Guedes (2012, p.10) atentam para isso quando

escrevem que:

[...] a abordagem interdisciplinar do estudo das representações sociais possibilita a problematização do cotidiano enquanto campo de produção histórico-social do saber. A história está sendo feita, representada, recriada e ressignificada ao mesmo tempo, assim como as relações do homem com a materialidade e a imaterialidade do Patrimônio Cultural ocorrem simultaneamente.

A possibilidade de uma abordagem interdisciplinar, permite conhecer através de

diferentes perspectivas e metodologias, os diferentes níveis sobre a construção das

Representações. As Representações Sociais são importantes para se pensar o

Patrimônio Cultural dentro da perspectivas de políticas públicas, uma vez que as

representações podem ajudar no entendimento do que é significativo para a

população (FERRARI; GUEDES, 2012).

No âmbito histórico, o conceito de Patrimônio Cultural surge na França, no

século XIX, dentro da concepção nacionalista, o Patrimônio seria uma ferramenta

significativa na exaltação dos valores da nação e de seus grandes líderes (CHOAY,

2001). Ao tratar do Patrimônio conceitualmente, Françoise Choay (2001, p.11)

considera que é:

[...] um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensões planetárias, constituído pela acumulação contínua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado em comum: obras e obras-primas das belas-artes e das artes aplicadas, trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos.

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A noção de Patrimônio Cultural apresentada por Choay, trata tanto do material,

quanto do imaterial. Importante a reflexão de que o Patrimônio só tem sentido ao ter

uma relação de pertencimento a um determinado grupo ou comunidade, o

Patrimônio carrega em si, elementos simbólicos, culturais e memoriais ligados à um

grupo, que acabam por defini-lo como representativo (BALTAZAR, 2011). Essa

construção representativa do Patrimônio é coletiva e tensionada dentro dos campos

de disputa, onde há o embate de qual memória é representada em detrimento de

outra (FERRARI; GUEDES, 2011).

A metodologia empreendida na pesquisa, teve como início, a revisão

bibliográfica, posteriormente foi desenvolvido um formulário pelo Grupo de Estudos

Interdisciplinares sobre Patrimônio Cultural - Geipac - conjuntamente com parte do

corpo docente do Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade da Universidade da

Região de Joinville - Univille. O formulário continha 44 questões, que abarcavam

desde o perfil do participante até questões a respeito da relação do sujeito com a

cidade de Joinville e referentes ao patrimônio e a práticas culturais.

A aplicação dos formulários na região central do distrito deu-se nos meses de

junho e julho de 20174, , completando 31 formulários. As abordagens foram feitas

em locais públicos, apresentando aos entrevistados informações sobre a pesquisa,

de acordo com ponderações do Comitê de Ética em pesquisa5. Posteriormente

esses resultados foram computados em banco de dados desenvolvido

especialmente para essa pesquisa6 e, posteriormente, analisados em planilhas de

excel. No presente artigo, foram trabalhadas 3 questões do formulário, além das

informações acerca do perfil dos participantes.

Ao tratar sobre o perfil dos participantes, as mulheres totalizaram 56% e entre os

homens, a porcentagem ficou em 44%. A faixa etária dos entrevistados está

mostrada na Tabela 1.

4 A aplicação dos formulários continuou até o mês de novembro, nos demais bairros da cidade. Aqui

fazemos um recorte das entrevistas relativas ao Distrito de Pirabeiraba. 5 A pesquisa Representações Sociais do Patrimônio Cultural de Joinville foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa. 6 Banco de dados desenvolvido pelo Prof.Msc. Walter Coan e pelos bolsistas Lucas Nakagawa e Cezar Maurício Antunnes.

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Tabela 1: Faixa etária dos participantes do Distrito de Pirabeiraba.

Faixa Etária dos Participantes Percentual

18 a 24 anos 12,5%

25 a 34 anos 12,5%

35 a 49 anos 28,1%

50 a 65 anos 37,5%

Com mais de 66 anos 9,4%

Fonte: Dos autores, 2018. Baseados nos resultados da pesquisa Representações Sociais do Patrimônio Cultural de Joinville.

Percebe-se que parte significativa dos entrevistados tinha idade entre 35 e 65

anos (Tabela 1) e 33,4% dos respondentes tinha ensino fundamental completo

(Tabela 2):

Tabela 2: Escolaridade dos Participantes de Pirabeiraba.

Escolaridade dos participantes Percentual

Ensino Fundamental incompleto 13,3%

Ensino Fundamental completo 33,4%

Ensino Médio Incompleto 13,4%

Ensino Médio Completo 26,7%

Ensino Superior 13,3%

Fonte: Dos Autores, 2018. Baseados nos resultados da pesquisa Representações Sociais do Patrimônio Cultural de Joinville.

Com relação à renda média familiar dos participantes, 37,5% dos entrevistados

declararam ter entre 3 e 5 salários, número acima da média do distrito que é de

cerca de 2 salários mínimos (JOINVILLE, 2017.

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Tabela 3: Renda familiar dos entrevistados em Pirabeiraba, por salários mínimos.

Média da Renda familiar

(salário mínimo)7

Percentual

Até 1 salário 12,5%

1 a 2 salários 28,1%

3 a 5 salários 37,5%

5 a 10 salários 21,9%

Fonte: Dos autores, 2018. Baseados nos resultados da pesquisa Representações Sociais do Patrimônio Cultural de Joinville.

Além do perfil dos participantes, selecionamos mais três questões para serem

analisadas neste artigo, quais sejam: “O que é, na sua opinião, Patrimônio

Cultural”?, “O que é Patrimônio Cultural de uma cidade”? e “Quais práticas culturais

mais identificam Joinville”?

O Gráfico 1, apresenta as respostas relativas à questão: “O que é, na sua

opinião, Patrimônio Cultural”? dadas pelos entrevistados moradores do Distrito de

Pirabeiraba. Pode-se notar que a arquitetura obteve 33,3% das respostas, enquanto

o artesanato 24,4%, e respostas como museus, dança, coisas antigas, jardins e

História, obtiveram percentuais bem menores como é possível conferir no Gráfico 1.

7 O salário mínimo durante a pesquisa em 2017, era de R$ 937,00.

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Gráfico 1 – O que é Patrimônio Cultural para os entrevistados do Distrito de Pirabeiraba.

Fonte: Dos Autores

Uma das hipóteses para que essas escolhas tenham sido preponderantes no

Distrito é que tanto a arquitetura quanto o artesanato são elementos característicos

daquela localidade. Pirabeiraba conserva inúmeras construções históricas, muitas

delas com elementos arquitetônicos de origem germânica, como a casa Krüger

(Figura 1), tombada pelo Governo do Estado (1996) e pelo Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional – IPHAN (2015). Já o artesanato, apareceu,

provavelmente, pelo fato desta prática ser um complemento econômico para

algumas famílias que vivem da agricultura de subsistência. Segundo Grein (2012), a

prática da agricultura de subsistência é fomentada pelos governos locais, numa

tentativa de manter tradições e práticas que remetem aos imigrantes germânicos.

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Figura 1 - Casa Krüger, Pirabeiraba, Joinville/SC, 2017

Fonte: Foto Ian Pogan, 2017. Acervo pessoal.

Ao serem perguntados sobre o que é patrimônio cultural de uma cidade,

novamente a maior parte das respostas giraram em torno da arquitetura e do

artesanato. Chama-se atenção para o fato de que, nesta questão, a resposta “não

sabe” (11,1%), se comparada à questão anterior (6,7%), foi dada por número maior de

pessoas. Este dado pode ser um indicativo de que, quando perguntados sobre

Patrimônio Cultural de uma forma mais geral, a questão foi melhor compreendida pelos

participantes do que quando se ligou o Patrimônio Cultural a um espaço determinado,

no caso a cidade, como é possível observar no Gráfico 2.

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Gráfico 2 – O que é Patrimônio Cultural de uma cidade para os entrevistados do Distrito de Pirabeiraba.

Fonte: Dos autores, 2017

Quando questionados sobre as práticas culturais que mais identificam a cidade

em que moram, os entrevistados citaram novamente a arquitetura (31,3%) e o

artesanato (29,2%), como é possível verificar no Gráfico 3. Nessa questão, o

interessante é que a arquitetura aparece como uma prática, para os moradores as

construções simbolizam saberes e técnicas remetentes ao passado. Este fato pode

ser explicado pelo grande número de residências construídas pela técnica enxaimel,

existentes no município e, principalmente, no Distrito de Pirabeiraba, que consiste

em construções feitas com estrutura de madeira numerada e encaixada, sem

utilização de pregos ou parafusos, e que poderiam ser desmontadas e transportadas

para outros locais. Esta técnica é bastante valorizada na região e, geralmente, as

casas construídas dessa forma, são consideradas patrimônio pelo município e por

outros órgãos de preservação, como a Fundação Catarinense de Cultura e o IPHAN.

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A dança também apareceu com uma porcentagem considerável, 14,6% das

respostas dos participantes. A dança estava associada ao festival de dança de

Joinville, evento amplamente divulgado pelas mídias locais.Segundo Moscovici

(2009), as mídias têm considerável influência no processo de construção das

Representações dos sujeitos, algo que foi perceptível nas respostas desta questão.

Gráfico 3 – Quais as práticas culturais que mais identificam Joinville, na opinião dos entrevistados em

Pirabeiraba.

Fonte: Dos autores, 2017

Os dados apontados devem ser analisados juntamente com o contexto histórico

da região em estudo. As mudanças econômicas e sociais que o distrito sofreu ao

longo do tempo, assim como Joinville, parecem não ter impactado tanto nas

características germânicas presentes no distrito. Ainda há, em Pirabeiraba, um

número considerável de descendentes de imigrantes que mantém suas tradições,

como festas, gastronomia, costumes, dentre outros.

Considerações finais

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As relações cotidianas dos moradores do distrito parecem ter mais força na

construção das Representações Sociais sobre seu patrimônio cultural. O

entendimento dos moradores do distrito sobre Patrimônio e práticas culturais estão

ligados diretamente às características do distrito Outro fator importante de ser

descrito é referente à idade dos participantes, grande parte deles, tem pelo menos

35 anos ou mais, a pergunta a se fazer é, será que as novas gerações manterão

essas tradições? Será que os jovens do distrito se veem como a continuação dessas

tradições e elementos germânicos? Qual o impacto dessas mudanças no processo

de preservação patrimonial? Essas são questões importantes a serem feitas e

refletidas em um próximo trabalho.

A teoria das Representações Sociais atrelada às discussões acerca do

Patrimônio Cultural, torna-se importante para o conhecimento do que é significativo

para as comunidades ou determinados grupos sociais. Assim, é a partir dessas

pesquisas que se pode empreender políticas de preservação patrimonial que levem

em conta os anseios e as vontades dessas comunidades, assim como o distrito de

Pirabeiraba.

REFERÊNCIAS:

ALBA, Martha. Teoria das Representações Sociais, 50 anos. Brasília: Technopolitik, 2011.

BALTAZAR, A. Patrimônio cultural: técnicas de arquivamento e introdução à

Museologia. Batatais: Claretiano, 2011.

CHOAY, Françoise. A alegoria do Patrimônio. São Paulo: Unesp, 2001.

FERRARI, Cibele Dalina Piva; GUEDES, Sandra Paschoal Leite de Camargo. A contribuição da teoria das Representações Sociais para o estudo do Patrimônio Cultural – o exemplo da Ilha da Rita/SC. CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Niterói. 2012, p.1-18.

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FICKER, Carlos. História de Joinville: Crônicas da Colônia Dona Francisca. Joinville: Ipiranga, 1965.

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GREIN, Gustavo. Olhares contemporâneos sobre a Serra Dona Francisca. Joinville: Univille, 2012.

IBGE. IBGE, Censo Demográfico 2010. Disponível em: <https://censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?dados=0&uf=42 .> Acesso em 03/07/2018. JODELET, Denise. Representações Sociais: um domínio em expansão. In: ____ Les représentations sociales. Paris: PUF, 1989, p. 31-61. Tradução: Tarso Bonilha Mazzotti. Revisão Técnica: Alda Judith Alves Mazzotti. UFRJ- Faculdade de Educação, dez. 1993.

JOINVILLE, PREFEITURA DE JOINVILLE. Joinville Bairro a Bairro. 2017. Disponível em:https://www.joinville.sc.gov.br/wp-content/uploads/2017/01/Joinville-Bairro-a-Bairro-2017.pdf . Acesso em: 10/06/2018.

MOSCOVICI, Serge. Representações Sociais: Investigações em psicologia social. Petrópolis: Vozes, 2009.

SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem a Curitiba e à Província de Santa Catarina. São Paulo: Itatiaia, 1978.