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AS SAGRADAS ESCRITURAS (BÍBLIA) Por que estudar a Bíblia? É de primeira necessidade que o cristão conheça profundamente sua fé e sua base doutrinária. Sem o conhecimento adequado da Palavra de Deus, um cristão não possui qualquer condição de prevalecer contra as falsas doutrinas, e muito menos de entender e praticar o Cristianismo. Tendo em vista a necessidade de um conhecimento amplo e profundo da fé e teologia cristã, esse estudo abordará as Sagradas Escrituras, para que o cristão: 1. “Saiba responder a quem lhe perguntar sobre a razão da sua fé”. (1Pe. 3.15); 2. Apresente-se aprovado a Deus. (2Tm. 2.15); 3. Não seja condenado por não conhecer corretamente sua fé. (Os. 4.6 e Mt. 22.29); 4. Entender que a única forma de fé aceitável à Deus emana do padrão das Escrituras. (Rm. 10.17 e Hb. 11.3); 5. Ser habilitado a batalhar pela fé cristã com qualidade (Jd. 3). 6. Saber identificar e se guardar das heresias, dos equívocos e das falsas interpretações bíblicas (Mt. 16. 6-11/12). O que a Bíblia significa para nós? Por fim, o estudante sincero das Escrituras deve saber que a Bíblia é o próprio Deus infinito se revelando ao homem e que tudo que podemos descobrir de Deus é o que Ele mesmo revela de si próprio (Jo. 1.1), igualmente devemos compreender que a Bíblia é a nossa própria vida (Dt. 32.47) e que contém em si um padrão de mandamentos, conceitos e regras a ser conhecido e obedecido (Os. 6.3 e Tg. 1.22). 1.1 INTRODUÇÃO “Mas, para que nos reluza a verdadeira religião, é preciso considerar isto: que ela tenha a doutrina celeste como seu ponto de partida; nem pode alguém provar sequer o mais leve gosto da reta e sã doutrina, a não ser aquele que se faz discípulo da Escritura. Donde também provém o princípio do verdadeiro entendimento: quando abraçamos reverentemente o que Deus quis testificar nela acerca de si mesmo. Ora, não só a fé consumada, ou completada em todos os seus aspectos, mas ainda todo reto conhecimento de Deus nascem da obediência à Palavra.” (CALVINO, João. Institutas. Tradução: Waldyr Carvalho Luz. São Paulo: Cultura Cristã, 2003. p. 79). “(...) porque a verdade se dirime de toda dúvida quando, não se apoiando em suportes alheios, por si só ela própria é suficiente para suster-se. Quão peculiar, porém, é esse poder à Escritura, transparece claramente disto: que dos escritos humanos, por maior que seja a arte com que são burilados, nenhum sequer nos consegue impressionar de igual modo. Basta ler a Demóstenes ou a Cícero; a Platão ou a Aristóteles, ou a quaisquer outros desse plantel: em grau admirável, reconheço-o, são atraentes, deleitosos, comoventes, arrebatadores. Contudo, se te transportares dali para esta sagrada leitura, queiras ou não, tão vividamente te afetará, a tal ponto te penetrará o coração, de tal modo se te fixará na medula, que, ante a força de tal emoção, aquela impressividade dos retóricos e filósofos quase que se desvanece totalmente, de sorte que é fácil perceber que as

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  • AS SAGRADAS ESCRITURAS (BBLIA)

    Por que estudar a Bblia?

    de primeira necessidade que o cristo conhea profundamente sua f e sua base doutrinria. Sem o conhecimento adequado da Palavra de Deus, um cristo no possui qualquer condio de prevalecer contra as falsas doutrinas, e muito menos de entender e praticar o Cristianismo.

    Tendo em vista a necessidade de um conhecimento amplo e profundo da f e teologia crist, esse estudo abordar as Sagradas Escrituras, para que o cristo:

    1. Saiba responder a quem lhe perguntar sobre a razo da sua f. (1Pe. 3.15);2. Apresente-se aprovado a Deus. (2Tm. 2.15);3. No seja condenado por no conhecer corretamente sua f. (Os. 4.6 e Mt.

    22.29);4. Entender que a nica forma de f aceitvel Deus emana do padro das

    Escrituras. (Rm. 10.17 e Hb. 11.3);5. Ser habilitado a batalhar pela f crist com qualidade (Jd. 3).6. Saber identificar e se guardar das heresias, dos equvocos e das falsas

    interpretaes bblicas (Mt. 16. 6-11/12).

    O que a Bblia significa para ns?

    Por fim, o estudante sincero das Escrituras deve saber que a Bblia o prprio Deus infinito se revelando ao homem e que tudo que podemos descobrir de Deus o que Ele mesmo revela de si prprio (Jo. 1.1), igualmente devemos compreender que a Bblia a nossa prpria vida (Dt. 32.47) e que contm em si um padro de mandamentos, conceitos e regras a ser conhecido e obedecido (Os. 6.3 e Tg. 1.22).

    1.1 INTRODUO

    Mas, para que nos reluza a verdadeira religio, preciso considerar isto: que ela tenha a doutrina celeste como seu ponto de partida; nem pode algum provar sequer o mais leve gosto da reta e s doutrina, a no ser aquele que se faz discpulo da Escritura. Donde tambm provm o princpio do verdadeiro entendimento: quando abraamos reverentemente o que Deus quis testificar nela acerca de si mesmo. Ora, no s a f consumada, ou completada em todos os seus aspectos, mas ainda todo reto conhecimento de Deus nascem da obedincia Palavra. (CALVINO, Joo. Institutas. Traduo: Waldyr Carvalho Luz. So Paulo: Cultura Crist, 2003. p. 79).

    (...) porque a verdade se dirime de toda dvida quando, no se apoiando em suportes alheios, por si s ela prpria suficiente para suster-se. Quo peculiar, porm, esse poder Escritura, transparece claramente disto: que dos escritos humanos, por maior que seja a arte com que so burilados, nenhum sequer nos consegue impressionar de igual modo. Basta ler a Demstenes ou a Ccero; a Plato ou a Aristteles, ou a quaisquer outros desse plantel: em grau admirvel, reconheo-o, so atraentes, deleitosos, comoventes, arrebatadores. Contudo, se te transportares dali para esta sagrada leitura, queiras ou no, to vividamente te afetar, a tal ponto te penetrar o corao, de tal modo se te fixar na medula, que, ante a fora de tal emoo, aquela impressividade dos retricos e filsofos quase que se desvanece totalmente, de sorte que fcil perceber que as

  • Sagradas Escrituras, que em to ampla escala superam a todos os dotes e graas da indstria humana, respiram algo de divino. (CALVINO. Joo. op. cit. p. 88-89).

    O vocbulo Bblia proveniente da palavra grega biblos ou bblion, que significa rolo, livro, livros ou coleo de livros, esta ltima, a forma como atualmente empregada, ou seja, como um conjunto de livros divinamente inspirados, que foramagrupados, passando a ser a fonte de autoridade e regra de f crist.

    A Bblia foi composta em um perodo de aproximadamente 1.545 anos, desde seus cinco primeiros livros, escritos por Moiss, que recebem a denominao de Pentateuco, at seu ltimo livro, chamado Apocalipse, escrito pelo apstolo Joo. A Bblia contm 66 livros, divididos em Antigo e Novo Testamentos, e foi escrita por aproximadamente 46 escritores diferentes.

    Fato importante de se salientar que apesar de a Bblia ter sido escrita por uma variedade to grande de pessoas e em pocas diferentes, manteve em sua essncia o mesmo ensino e doutrina, ocorrncia essa que somente soma a favor de sua qualidade como a Palavra inerrante, autntica e inspirada de Deus, que conduziu toda a sua escrita, atravs de homens que Ele mesmo separou para essa importantssima tarefa.

    1.2 BREVES CONSIDERAES SOBRE ALGUNS TERMOS RELACIONADOS BBLIA

    Abaixo relacionamos alguns termos que so costumeiramente empregados em relao Bblia:

    - Cannico Do grego kanon, que siginifica cana, regra, medida. Faz referncia aos 66 livros considerados como autnticos, inerrantes e inspirados por Deus,que compem a Bblia protestante atual.

    - Deuterocannico Do grego deutro + kanon, que significa do outro cnon, ou da outra regra, significando que tais livros no foram considerados Escrituras pela comunidade crist ou judia fiis, nos tempos de sua composio.

    - Apcrifos ou Pseudo-Epgrafos Do grego apkryphos, que significa no-autntico, falso, secreto, e pseuds-epigrpho, que significa falso responsvel pela escrita. Diz-se dos livros tidos como no-fidedignos pela cristandade e pelo judasmo, ou seja: so aqueles considerados falsos, mentirosos ou incompatveis com a histria, cultura, fatos e espiritualidade da poca. So os seguintes livros: O Primeiro Livro de Ado e Eva, O Segundo Livro de Ado e Eva, Livro dos Segredos de Enoque, Livro das Asceno de Isaas, Conto dos Patriarcas, O Martrio de Isaas, Melchizedek, Narrao do Dilvio da Epopia de Gilgamesh (Relato Babilnico), O Testamento de Abrao, A Assuno de Moiss, Caverna dos Tesouros, Livro de Enoque (I Enoque), Testamento dos Doze Patriarcas, O Hino da Prola Sobre a Origem do Mundo, O Livro dos Jubileus, Livro da Infncia do Salvador, A Histria de Jos, o Carpinteiro, Evangelho rabe da Infncia, Excertos do Evangelho Armnio da Infncia Jos e Asenath, Evangelho Pseudo-Mateus da Infncia, Evangelho Pseudo-Tom,Evangelho de Judas, Proto-Evangelho de Tiago, Evangelho de Nicodemus, Descida de Cristo ao Inferno (verso grega), Descida de Cristo ao Inferno (verso latina), Evagelho de Bartolomeu, Evangelho de Pedro, Evangelho Segundo Tom, o Ddimo, Excertos do Evangelho de Maria, Agrapha Extra-Evangelho, Evangelho Segundo Felipe, O Evangelho da Verdade, O Evangelho de Valentino, Ciclo de Pilatus, Julgamento e Condenao de Pilatus, Declaraes de Jos de Arimatia, Aquele que reclamou o Corpo do Senhor, e que Contem a Causa dos dois ladres, Cartas do Senhor, Discurso

  • Sobre o Domingo, Apcrifos da Assuno, Passagem da Bem-Aventurada Virgem Maria, Didaqu: O Ensino dos Doze Apstolos, Apocalipse de Baruch, Apocalipse de Ado, Apocalipse de Abrao, Apocalipse de Moiss, Apocalipse de Elias, Apocalipse de Pedro, Apocalipse de Tom.

    - Bblia Stuttgartensia (Hebraica) Verso mais recente da Bblia em hebraico, composta diretamente dos Textos Massorticos, tidos como os mais fiis. Engloba apenas os livros do Tanakh judeu, isto , o Velho Testamento dos protestantes.

    - Bblia Septuaginta, LXX (Grega) a verso grega da Bblia hebraica, que foi elaborada entre os sculos III e I antes de Cristo, por 72 rabinos judeus, da seu nome ser Septuaginta, ou verso dos setenta. A Septuaginta inclui livros apcrifos, que no constam do cnon hebraico, sendo que os protestantes excluem esses livros adicionais, contudo, os cristos catlicos mantm alguns dos livros constantes da Septuaginta em seu cnon.

    - Bblia Vulgata (Latina) Verso em latim de toda a Bblia, produzida no sculo VI, por Jernimo, a pedido do papa Dmaso I. uma traduo do Antigo Testamento em hebraico e do Novo Testamento em grego, diretamente para o latim vulgar, falado em todo Imprio Romano poca. Possui alguns livros mais que a Bblia protestante, chamados de deuterocannicos.

    1.3 TESTEMUNHOS DE GRANDES PERSONALIDADES SOBRE A BBLIA

    - Johannes Kepler (fundador da astronomia fsica, alemo) Astronomia pensar os pensamentos de Deus, depois Dele.

    - Francis Bacon (lorde, diplomata e filsofo ingls, pai do moderno mtodo cientfico) H dois livros que devemos sempre estudar: As Escrituras, que nos previnem do erro e revelam a vontade de Deus, e a Criao, que expressa o Seu poder.

    - Isaac Newton (fsico ingls) Ns encontramos mais marcas da autenticidade da Bblia que da histria secular.

    - Louis Pasteur (microbiologista francs) Quanto mais conheo a Bblia, mais minha f aumenta.

    - Werner von Braun (engenheiro fsico alemo) No consigo entender como um cientista tem a capacidade de no reconhecer a presena de uma racionalidade superior e divina por trs da existncia do universo. Seria o mesmo que um telogo que resolvesse negar os avanos da cincia moderna.

    - Sir William Ramsey (arquelogo ingls) Os grandes historiadores so os mais raros escritores...Eu reconheo Lucas entre os historiadores de primeira classe.

    - William Foxwell Albright (arquelogo chileno, possuidor de mais de 30 ttulos de doutorado honoris causae) No h a menor dvida que a arqueologia confirma a historicidade substancial da tradio do Antigo Testamento... Descoberta aps descoberta tem confirmado a exatido de inmeros detalhes, e feito crescer o reconhecimento da Bblia como uma valiosa fonte histrica.

  • - Nelson Blueck (arquelogo judeu, presidente da Universidade Hebraica de Jerusalm) Pode-se afirmar, categoricamente, que nenhuma descoberta arqueolgica tem jamais desmentido uma referncia bblica.

    - Victor Hugo (escritor francs) Alguns homens, de fato, negam o Deus infinito. Alguns, tambm, negam o Sol: so os cegos.

    1.4 RECENTES PESQUISAS SOBRE A BBLIA E SEU CONHECIMENTO PELA POPULAO

    Um renomado instituto de pesquisas dos Estados Unidos, chamado Instituto Barna, sediado em Greendale, Califrnia, elaborou uma pesquisa nos EUA, Amrica Latina, frica e Europa, acerca do conhecimento bblico dos entrevistados. Abaixo seguem os resultados assustadores.

    1 Quais pessoas normatizam seu comportamento de vida pela Bblia ou por uma filosofia de vida no crist?

    Resposta: 25% por uma filosofia bblico-crist; 24% se declararam no-cristos; e 51% disseram no ter nenhuma filosofia de vida.

    2 Dos que se disseram cristos, quantos possuam Bblias?Resposta: 93% possuam uma ou mais Bblias; 7% no possuam um nico

    exemplar da Bblia.

    3 Dos que possuam Bblias, quantos a liam e nela criam?Resposta: 12% liam diariamente a Bblia; 38% recorriam ela

    momentaneamente, em perodos de necessidade; e 42% no concordavam que a Bblia a legtima Palavra de Deus, correta em seus ensinos.

    4 Dos que liam a Bblia, qual seu nvel de conhecimento?Resposta: 69% criam que Deus ajuda quem cedo madruga um texto bblico;

    48% acharam que o Livro de Tom fazia parte do Novo Testamento; e 58% no souberam responder quem pregou o Sermo do Monte.

    Em nova pesquisa de campo, o socilogo norte-americano Jeffrey Haden enviou 10 mil cartas pastores e lderes religiosos nos EUA, contendo vrias perguntas. Abaixo o resultado apurado:

    - 50% No criam que Jesus nasceu de uma virgem;- 80% No criam que Jesus era o legtimo Filho de Deus;- 80% No criam que a Bblia um livro sagrado e inspirado por Deus; e- 36% No criam na ressurreio fsica e corprea de Jesus.

    No de se espantar a razo da atual apostasia que os EUA tm experimentado e exportado para todos os continentes da Terra, entretanto, quando da sua fundao, suas bases bblico-crists eram extremamente slidas, tanto que sua maior universidade, chamada Harvard, foi fundada por piedosos cristos, como um local de ensino teolgico, que possua como lema a palavra Veritas, do latim Verdade.

    Tambm na fundao dos EUA, um renomado diplomata e jurista francs foi enviado at l, com o objetivo de descobrir qual o segredo daquela grande nao. De volta Frana, Alexis de Tocqueville escreveu: Os Estados Unidos da Amrica so grandes porque so bons.

  • 1.5 EVIDNCIAS DA AUTENTICIDADE DAS ESCRITURAS

    Segundo o captulo A Palavra Inspirada de Deus, escrito por John R. Higgins, para o livro Teologia Sistemtica, Uma Perspectiva Pentecostal, as evidncias da autenticidade tanto do Antigo quanto do Novo Testamento podem ser divididas no apoio interno e no apoio externo, que corroboram em favor da identidade da Bblia como a Palavra de Deus.

    1.5.1 APOIO INTERNO

    legtimo procurar a origem e o carter de uma obra escrita por meio do exame de seu contedo. A Bblia revela unidade e consistncia espantosas quanto ao seu contedo, levando-se em conta a grande diversidade havida em sua composio.

    O conjunto foi escrito no perodo de aproximadamente quinze sculos, por cerca de 46 autores diferentes, provenientes de vrias classes sociais polticos, pescadores, agricultores, mdicos, reis, etc. Cada um deles escreveu em diferentes locais palcios, prises, navios, viagens, exlios, entre outros lugares. Seus textos variavam entre relatos histricos, genealogias, legislaes, poesias, profecias e cartas epistolares.

    Cada um de seus autores possua antecedentes nicos em sua constituio como pessoas, carregando suas escritas com experincias, virtudes e fraquezas pessoais.Escreveram em trs idiomas diferentes (hebraico, aramaico e grego), e trataram de centenas de temas.

    Ainda assim, diante de to grande diversidade, seus escritos combinados formam entre si um todo homogneo e consistente, que aponta para o relacionamentoentre Deus e a humanidade.

    Nas palavras de Josh McDowell a Bblia no possui uma unidade superficial, mas profunda. Quanto mais profundamente a estudamos, mais completa essa unidade se nos revela.

    A Bblia totalmente relacionada natureza complexa do ser humano, tratandode todas as reas inerentes sua vida (Sl. 119:96). Ainda que tenha sido escrita h milhares de anos atrs, a Bblia continua atendendo s necessidades de cada gerao. As Escrituras dirigem continuamente aquele que as l em direo ao Deus verdadeiro, lhe possibilitando um encontro pessoal e transformador com Ele.

    Cada poro das Escrituras revela um padro tico e moral que supera em muito os padres esperados de homens e mulheres comuns. O foco da tica e moralidadebblicas no se atm apenas ao que a pessoa faz, mas ao que a pessoa .

    Muitos crticos (da ala chamada alta crtica) tm procurado diminuir a credibilidade do AT, por meio da atribuio de novas datas aos seus livros, mais recentes, no interesse de minimizar o carter acertado das predies profticas. Entretanto, Peter Stoner analisou oito predies a respeito de Jesus e concluiu que na vida de uma s pessoa, a probabilidade de elas se coincidirem de 1 em 100.000.000.000.000.000 (cem quatrilhes). Logo a nica explicao racional de tantas predies exatas, especficas, a longo prazo, que o Deus onisciente, soberano sobre a histria, haja revelado tais conhecimentos aos escritores sagrados.

  • 1.5.2 APOIO EXTERNO

    A Bblia exerce uma influncia marcante sobre toda a sociedade, e isso se comprova factualmente, pois ela j foi impressa, no todo ou em parte, em mais de dois mil idiomas (a ONU afirma que atualmente existem 3 mil idiomas ou dialetos falados no mundo), se tornando o livro mais difundido e lido na histria da Terra.

    Tem se dito que se a Bblia fosse perdida, poderia ela ser reconstruda em suas partes-base a partir das citaes tiradas dos livros que se acham nas prateleiras das bibliotecas pblicas.

    Os princpios revelados pelas Escrituras serviram para a formulao de todo o sistema legal das naes modernas. Thiessen disse a Bblia... produziu os resultados supremos em todas as profisses existentes na vida humana. Tem inspirado sublimemente as artes, a arquitetura, a literatura e a msica... No h livro que se compare a ela na sua influncia benfica sobre a raa humana.

    A exatido da Bblia em todas as reas, incluindo pessoas, locais, costumes, eventos e cincia, tm sido demonstrada pela histria e pela arqueologia. s vezes, pensa-se que a Bblia est historicamente errada, mas as descobertas tm dado testemunho de sua veracidade. Por exemplo: h algum tempo, pensava-se que a escrita no havia sido inventada seno depois de Moiss. Mas agora, sabemos que essa cincia remonta at 3.000 a.C. Houve tempos quando os crticos negavam a existncia de Belsazar. As escavaes, contudo, identificam-no com seu nome babilnico: Bel-shar-usur. Os crticos diziam que os heteus, mencionados 22 vezes na Bblia, nunca existiram. Agora sabemos que eles foram uma grande potncia no Oriente Mdio.

    Em muitas pocas foi intentada a destruio da Bblia (edito de Diocleciano, de 303, ordenando sua completa destruio), ou sua leitura foi proibida populao (Idade Mdia), contudo, nenhuma delas obteve xito.

    Levando-se em conta que durante muitos sculos ela foi copiada manualmente, grande era a probabilidade dela ter desaparecido. Um clebre filsofo, chamado Voltaire predisse que dentro de cem anos, o Cristianismo desapareceria. Cinquenta anos depois da sua morte, ocorrida em 1778, a Sociedade Bblia de Genebra estava usando o seu prelo e a sua casa para produzir grandes pilhas de Bblias, conforme relata Sidney Collett.

    Por fim, Bruce Metzger, especialista em crtica textual, informa que, no sculo III a.C., os estudiosos em Alexandria indicavam que as cpias que possuam da Ilada de Homero apresentavam cerca de 95% de fidedignidade. Indica, tambm, que os textos setentrional e meridional da Mahabharata da ndia diferem entre si numa extenso de 26.000 linhas. Isto contrasta com mais de 99,5% de exatido para as cpias manuscritas do Novo Testamento. Esse meio por cento de diferena consiste principalmente nos erros de ortografia dos copistas e, mesmo assim, passveis de correo. Nenhuma doutrina da Bblia depende de algum texto cuja forma original no possa ser determinada com exatido.

    Explicando as variantes gregas do NT o Dr. Philip Schaff, presidente do Comit Americano de Revisores diz:Esta grande quantidade de variantes do texto grego no deve desconcertar ou alarmar cristo algum. Ela o resultado natural da grande riqueza de nossas fontes documentais; ela um testemunho da imensa que o Novo Testamento tem; ela no afeta, mas, ao contrrio, assegura a integridade do texto; e ela um estmulo til ao estudo.

  • Somente cerca de 400 das 100.000 ou 150.000 variantes afetam materialmente o sentido. Destas, no mais do que cerca de cinquenta so realmente importantes por alguma razo ou outra; e mesmo destas cinquenta uma sequer afeta um artigo de f ou um preceito de dever que no seja abundantemente mantido por outras passagens sobre as quais no h dvida, ou pelo teor total do ensino da Escritura.O Textus Receptus de Stephens, Beza e Ezevir, e das verses inglesas, ensina exatamente o mesmo cristianismo que o texto uncial dos manuscritos Sinatico e Vaticano, as verses mais antigas, e a reviso Anglo-Americana. (SCHAFF, Philip. Companion to the New Testment apud CHAFER, Lewis Sperry. Teologia sistemtica. Vol. 1. So Paulo: Hagnos, 2003. p. 122).

    1.6 REVELAO, INSPIRAO E ILUMINAO

    O estudo da revelao, inspirao e iluminao ensina ao homem como a verdade de Deus pde ser transmitida sem erro, por homens falveis, e de como o Deus eterno abre (iluminao) o entendimento para que os homens compreendam quela verdade.

    A revelao a influncia divina direta que comunica a verdade de Deus ao homem.

    A inspirao a influncia divina direta que assegura uma transferncia correta da verdade numa linguagem que outros possam entender.

    A inspirao bblica :

    1. Verbal: que significa que o Esprito Santo guiou a escolha das prprias palavras que esto na Bblia, em meio s palavras conhecidas pelos autores; e

    2. Plenria: que significa que toda a Bblia infalvel e final, em todas as suas pores.

    A iluminao a tarefa efetuada pelo Esprito Santo para possibilitar ao homem, com uma relao correta com Deus, a entender as Escrituras (Lc. 24.44-45, 1 Jo. 2.27).

    A revelao, inspirao e iluminao podem ser vistas claramente na passagem de 1Co. 2.9-13 (v. 10, revelao; v. 11-12, iluminao e v. 13, inspirao).

    1.7 A FORMAO DO CNON E A AUTENTICIDADE DO ANTIGO TESTAMENTO

    Estabelecer o cnon da Bblia no foi, porm, a deciso dos escritores, nem dos lderes religiosos, nem de um conclio eclesistico. Pelo contrrio: o processo da aceitao desses livros como Escritura deu-se mediante a influncia providencial do Esprito Santo sobre o povo de Deus. O Cnon foi formado por um consenso, e no por um decreto. A Igreja no resolveu quais livros deveriam estar no cnon sagrado, mas limitou-se a confirmar aqueles que o povo de Deus j reconhecia como a sua Palavra. Fica claro que a Igreja no era a autoridade; mas percebia a autoridade na Palavra inspirada. (HIGGINS, John R. A palavra inspirada de Deus. In. HORTON, Stanley M. Teologia sistemtica. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p. 114-115).

  • importante observar que a determinao do cnon, ou lista dos livros da Escritura Sagrada, no obra da Igreja como entidade organizada. Ns os recebemos, como os Pais e os Conclios os receberam, pois temos evidncia de que eles so os escritos dos homens, das classes de homens, cujos nomes eles detm, merecem crdito, e so inspirados. (STRONG, Augustus Hopkins. Teologia sistemtica. So Paulo: Hagnos, 2003, p. 265).

    A autoridade da Escritura Sagrada, razo pela qual deve ser crida e obedecida, no depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que o seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque a palavra de Deus.Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreo da Escritura Sagrada; a suprema excelncia do seu contedo, e eficcia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que dar a Deus toda a glria), a plena revelao que faz do nico meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelncias incomparveis e completa perfeio, so argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuaso e certeza da sua infalvel verdade e divina autoridade provm da operao interna do Esprito Santo, que pela palavra e com a palavra testifica em nossos coraes. (INGLATERRA. Confisso de f de Westminster. Da escritura sagrada. Londres, 1647).

    O Antigo Testamento constitui a parte inicial da Bblia crist e a totalidade da Bblia hebraica, chamada de Tanakh. Segundo a tradio judaica, o AT pode ser divido em Torah ou livros da Lei, que contm a lei mosaica, Neviim ou livros dos profetas e Ketuvim ou escritos (formando o acrnimo Tanakh). A tradio crist divide o AT em Pentateuco (os cinco livros da Lei e Deus), Livros Histricos, Livros Poticos e Sapienciais e Livros Profticos, somando um total de 39 livros.

    A genuinidade do Antigo Testamento , nas palavras de A. H. Strong: sinceridade de propsito e liberdade de qualquer coisa falsa ou intencionalmente enganosa a respeito da poca ou da autoria dos documentos.

    Prova-se a genuinidade do AT atravs dos seguintes argumentos:

    1 O Novo Testamento faz citao ou aluso a todos os livros do AntigoTestamento como genunos, exceto seis deles, que so: Juzes, Eclesiastes, Cantares de Salomo, Ester, Esdras e Neemias, entretanto, apesar destes livros no serem citados diretamente no Novo Testamento, eles no trazem nenhum ensino ou doutrina que anulequalquer outra poro das Escrituras.

    Juzes No se sabe, ao certo, quem seja o autor desse livro de transio, que liga o perodo de conquista de Cana por Josu, at os dias da monarquia hebraica. O Talmude aponta Samuel como seu provvel autor. Alm de no conter nenhuma inscrio que contrarie qualquer ponto bblico-doutrinrio, o livro de Juzes apresenta uma verdade perene por toda a Bblia: Deus usa somente pessoas cheias do Esprito Santo para sua obra (cf. 3:10, 6:34, 14:6 e At. 1:8, 4:33).

    Eclesiastes Sua autoria, pelo estilo, majestade e tema, atribuda ao rei Salomo. Apesar de no possuir menes especficas no Novo Testemunho, o livro contem verdades espirituais que se coadunam perfeitamente s doutrinas neotestamentrias (cf. 9:9-10 Hb. 9:27 / 11:9, 12:14 Mt. 16:27, Rm. 2:6-8 / 5:15 I Tm. 6:7).

  • Cantares de Salomo um livro, que pela tradio judaica, foi escrito durante a juventude do rei Salomo, para descrever seu amor pela bela Sulamita. o livro bblico que mais trata do relacionamento pr e ps-nupcial, que coloca em relevo a grandeza da vida afetiva entre o homem e a mulher. Apesar de no haver nenhuma referncia explcita em outros livros da Bblia, seu tema foi utilizado pelo autor de Hebreus para exaltar a nobreza de um casamento santo (13:4), e ainda tem sido utilizado como uma alegoria ao amor entre Cristo e a Igreja (cf. Ef. 5:22-23, Ap. 21:1-2, 9-10).

    Ester Seu autor permanece desconhecido at os dias atuais, contudo as evidncias literrias intrnsecas apontam para um autor judeu, ou de profundo conhecimento dos costumes hebraicos. O tema desse livro (que no menciona nenhuma vez o nome de Deus) revela uma ntima ligao com o dio e raiva que desfrutam aqueles que so escolhidos como povo de Deus. Trata-se de uma clara aluso ao sofrimento suportado por aqueles que vivem em uma terra alheia, governada por lderes demonacos, contudo, so livrados sempre pela mo poderosa do Deus ao qual servem.

    Esdras um livro escrito por um sacerdote e escriba (que empresta seu nome ao livro), com o propsito de relatar os eventos histricos e genealgicos de seu tempo, bem como a volta do povo judeu do exlio babilnico. Contm um dos princpios mais patentes de orao fervorosa e arrependida do AT (cap. 9), onde seu autor tomado de quebrantamento pelo pecado da nao israelita, princpio esse encontrado, mais vividamente, nos profetas Daniel, Jeremias, Joel e em Neemias.

    Neemias Este livro foi escrito pelo governador Neemias, auxiliado pelo sacerdote Esdras. Sua historicidade foi comprovada no comeo do sc. XX, atravs dos Papiros de Elefantina, que fazem referncia personagens constantes do livro (Sambalate e Joan), e tambm substituio de Neemias como governador em 410. A.C. Este livro se amolda perfeitamente ao restante das Escrituras Sagradas, apesar de no ser mencionado em outro livro bblico, pois apresenta a figura de um governador piedoso e dirigido por Deus, constantemente em orao, em semelhana ao rei Davi, e ao Rei dos Reis Jesus.

    2 Por meio do testemunho das autoridades judias antigas e modernas que declaram que somente os livros constantes do atual cnon so sagrados.

    Nessa esteira esto, segundo A.H. Strong, o historiador Flvio Josefo que enumera esses livros que, com justia, desfrutam crdito; Filo, que nunca cita um apcrifo, apesar de que ele cita quase todos os livros do AT; George Adam Smith, que ensina que os fatos no apiam a teoria que atribui o cnon do AT a uma simples deciso da igreja judia nos dias da sua inspirao. O desenvolvimento do cnon do AT foi gradual, ou seja, ele foi sendo firmado pelo tempo, atravs de Esdras e Neemias e, finalmente, nas decises do conclio de rabinos em Jmnia, entre 90 e 118 d.C. Nesse conclio foi decidido acerca da incluso de Cantares de Salomo e de Eclesiastes, encerrando assim o cnon do AT.

    3 Atravs da descoberta do livro da Lei no templo (621 a.C), no reinado do rei Josias (II Re. 22:8). Foi justamente nessa data que a Lei, ou Torah, comeava a ser observada como a lei da terra em Israel (semelhante fora da legislao nacional nos pases atuais). Tal descoberta comprova a j existncia de pores do AT em formas escritas, juntamente com as passagens de Os. 8:12 (743 737 a.C.) e Am. 2:4 (759 745 a.C.).

  • 1.8 A FORMAO DO CNON E A AUTENTICIDADE DO NOVO TESTAMENTO

    Os elementos que garantem a autenticidade do Novo Testamento foram apresentados no captulo anterior, intitulado Bibliologia, Aspectos Histricos, no item Evidncias da autenticidade das Escrituras. Abordaremos, neste momento, a formao e consolidao do cnon do NT, com base na obra O Novo Testamento interpretado versculo por versculo, do Dr. Russell Norman Champlin (So Paulo: Hagnos, 2002, p. 158-160).

    Situaes que influenciaram a formao do cnon do Novo Testamento:

    1 O AT, que forneceu o impulso criador de um novo testamento;

    2 A vida e as palavras de Jesus Cristo e, em conseqncia a necessidade de criar uma nova autoridade alm da autoridade do AT;

    3 A nova religio crist, que criou a necessidade de mais Escrituras alm das Escrituras judaicas, para formar a base da nova revelao;

    4 Os apstolos, primeiros grandes lderes da nova religio revelada, os quais, com seus livros e epstolas, forneceram a base das novas Escrituras;

    5 Os pais apostlicos, que criaram os cnones primitivos e uma nova autoridade na igreja crist primitiva;

    6 Os conclios da igreja primitiva e medieval.

    Foram adotados na elaborao do cnon do NT, basicamente, sete princpios orientadores, para que os livros fossem considerados como de inspirao divina e, portanto, obrigatrios de constarem no NT, so eles:

    1. Circulao Universal Alguns livros jamais foram aceitos por falta de circulao, enquanto outros foram aceitos tardiamente por falta de circulao na igreja universal, pois circulavam somente em certos setores da igreja.

    2. Autoria dos Apstolos Ou dos discpulos dos apstolos. Dentre os apstolos temos as epstolas de Paulo e de Pedro, e os evangelhos de Mateus e Joo. Dentre os discpulos temos os evangelhos de Marcos e de Lucas, o livro de Atos, a epstola aos Hebreus, etc.

    3. Livros Segundo a Tradio E a doutrina dos apstolos: Lucas, Atos, Hebreus, Apocalipse e II Pedro.

    4. Rejeio Houveram livros rejeitados mais tarde, aps o tempo dos apstolos. Isso explica a rejeio final das epstolas de Clemente e outras.

    5. Rejeio de Escritos Notadamente Falsos - Tambm foram rejeitados escritos ridculos ou fabulosos. Entre esses podemos enumerar a maior parte dos livros apcrifos, o evangelho de Tom e de Andr, os Atos de Paulo, o Apocalipse de Pedro, entre outros.

    6. Rejeio de Livros Herticos A literatura que visava propagar heresias, como o evangelho de Tom e diversos outros livros apcrifos.

  • 7. Uso Universal Por parte da igreja universal. Alguns livros foram aceitos apenas por determinados setores da igreja, ou somente por alguns indivduos. Finalmente, os vinte e sete atuais livros do NT foram aceitos e passaram a ser universalmente usados na igreja crist.

    O cnon oriental foi fixado, de forma quase universal, no Conclio de Alexandria, em 325, por Atansio de Alexandria. Esse cnon continha os vinte e sete livros que temos hoje no NT.

    O cnon ocidental foi realizado atravs dos seguintes conclios: Conclio de Laodicia, em 363, que proibiu o uso dos livros no-cannicos, esse conclio somente excluiu o livro de Apocalipse; Conclio de Nicia, em 325, que aceitou o cnon de Atansio de Alexandria; Conclio de Hipona, em 393, que aceitou os vinte e sete livros atuais; Conclio de Cartago I, em 397, aprovou os atuais vinte e sete livros; Conclio de Cartago II, em 419, que confirmou o anterior, mas separou a epstola aos Hebreus das que so atribudas ao apstolo Paulo, Agostinho participou ativamente desses dois ltimos conclios.

    Finalmente, as vrias confisses de f protestantes confirmaram os vinte e sete livros do NT como os temos atualmente (Confisso de F Alem (Augsburgo) de 1530, por Philipp Melanchthon, Confisso de F Escocesa de 1560, por John Knox e outros, Confisso de F de Westminster de 1647, Confisso de F Batista de 1689).

    1.9 CARACTERES INTEGRADORES E DISTINTIVOS DO ANTIGO E NOVO TESTAMENTO

    H muitos que apontam para uma diferenciao (e mesmo um antagonismo) entre os pactos e o Deus do AT, e a aliana e graa do Deus do NT. Tais pessoas vm no AT um Deus perfeccionista e irado, pronto a vingar toda desobedincia, com Suas vontades voltadas exclusivamente para lhe garantir um grande nome, enquanto, no NT, nos deparamos com um Senhor humilde e compassivo, atento e prestativo s carncias humanas.

    O maior ensino sobre o vnculo existente entre o AT e o NT est em Glatas, captulo 3, para o qual remetemos o aluno.

    Para comprovarmos, teologicamente, o elo de continuidade existente entre os Antigo e Novo Testamentos, utilizaremos a preciso lio do Dr. Alister E. McGrath, em sua obra Teologia Sistemtica, Histrica e Filosfica (So Paulo: Shedd, 2007, p. 204-205).

    Joo Calvino, o reformador suo, defende a existncia de uma fundamental semelhana de continuidade entre os dois testamentos, valendo-se de trs argumentos:

    1 Ele enfatiza a imutabilidade da vontade divina. No plausvel que Deus aja de uma determinada forma no Antigo Testamento e, logo a seguir, aja de uma totalmente distinta no Novo Testamento. Deve existir uma continuidade fundamental de ao e inteno entre os dois testamentos.

    2 Ambos celebram e proclamam a graa de Deus manifestada em Jesus Cristo. Pode ser que o Antigo Testamento seja capaz de oferecer em testemunho da vinda de

  • Jesus apenas distncia e de forma obscura; no entanto, seu testemunho da vinda de Cristo real.

    3 Ambos os testamentos possuem os mesmos sinais e sacramentos, dando testemunho da mesma graa por parte de Deus.

    Desta maneira, Calvino defende que os dois testamentos so, basicamente, idnticos, diferindo apenas em administratio, porm no em substancia. Com o intuito de comprovar as diferenas entre ambos apenas quanto forma, e no quanto substncia, Calvino apresenta cinco detalhadas explicaes:

    1 O Novo Testamento mais claro do que o Antigo, em particular com relao s coisas invisveis. O Antigo Testamento tende a ser impregnado de certas preocupaes relativas a coisas visveis e tangveis, que pode por vezes obscurecer os propsitos, esperanas e valores intangveis que esto por trs daquilo que visvel. Calvino exemplifica esse aspecto com uma referncia terra de Cana. O Antigo Testamento tende a tratar essa propriedade terrena como fim em si mesma, ao passo que o Novo Testamento a considera como reflexo da herana futura, reservada aos cristos no cu.

    2 Os Antigo e Novo Testamentos adotam uma abordagem diferente em relao linguagem figurativa. O Antigo Testamento utiliza um modelo de representao da realidade que, conforme sugere Calvino, leva a um encontro indireto com a verdade, por meio de diversas figuras de linguagem e imagens; o Novo Testamento possibilita uma experincia imediata da verdade. O Antigo Testamento apresenta apenas um reflexo da verdade... a sombra no lugar da substncia, proporcionando uma antecipao daquela sabedoria que viria a ser um dia claramente revelada; o Novo Testamento apresenta a verdade de forma direta, em toda sua plenitude.

    3 H uma diferena entre a lei e o evangelho, ou entre a letra e o esprito. Falta ao Antigo Testamento a ao poderosa e capacitadora do Esprito Santo, ao passo em que o Novo Testamento capaz de liberar esse poder. A lei capaz, portanto, de instruir mandamentos, proibir e prometer, mas faltam-lhe recursos necessrios para operar algum tipo de transformao fundamental na natureza humana, o que representa, antes de tudo, a razo da necessidade de mandamentos. O evangelho capaz de transformar ou corrigir a perversidade que inerente a todos os seres humanos. A lei e o evangelho guardam entre si uma relao de continuidade, assim como no se encontram em posies diametralmente opostas.

    4 Percebe-se uma diferena nas emoes desiguais evocadas pela lei e pelo evangelho. O Antigo Testamento evoca temor e tremor, mantendo a conscincia em estado de servido, ao passo que o Novo Testamento provoca uma resposta de liberdade e jbilo.

    5 A revelao do Antigo Testamento era restrita nao de Israel; a revelao do Novo Testamento possui escopo universal. Calvino restringe a esfera de atuao da antiga aliana a Israel; com a vinda de Cristo, essa separao chegou ao fim, medida que foi abolida a diferena entre judeu e grego, entre circuncisos e incircuncisos. Assim, o chamado dos gentios distingue o Antigo Testamento do Novo.

    Em uma das poucas obras de teologia escritas por um rei (Rei James I da Inglaterra, que tambm foi o mandante da confeco de uma nova verso da Bblia em ingls, chamada de King James Version), este apresenta a seu filho, Prncipe Henry, a precisa relao existente entre o Antigo e o Novo Testamento, conforme abaixo:

  • Toda a Bblia ditada pelo prprio Esprito de Deus para, dessa maneira (assim como por meio de sua palavra viva), instruir e governar toda a igreja em ao, at os confins do mundo. Ela compe-se de duas partes, os Antigo e Novo Testamentos. A base do Antigo Testamento a Lei, que expe nosso pecado e traz em si a justia. A base do Novo Testamento Cristo, aquele que perdoando os pecados, encerra em si a graa. A sntese da lei so os Dez Mandamentos, mostrados de forma mais detalhada na Lei e interpretados pelos Profetas: por intermdio de suas histrias so apresentados exemplos da obedincia ou desobedincia aos mandamentos e qual praemiun ou poena era, conseqentemente, atribudo por Deus. Contudo, tendo em vista que homem algum foi capaz de cumprir a Lei, nem sequer uma parte dela, aprouve a Deus, em sua infinita bondade e sabedoria, enviar seu prprio Filho como um de ns, segundo a nossa natureza, para alcanar sua justia mediante o sacrifcio de seu Filho por ns: para que, uma vez que no pudemos ser salvos pelas nossas obras, pudssemos ser (ao menos) salvos pela f. Portanto, a base da Lei da Graa encontra-se nas histrias do nascimento, vida, morte e ressurreio de Cristo. (JAMES I da Inglaterra. Basilikon dorom [Dom real]).

    1.10 PRESERVAO DAS ESCRITURAS

    Como relatado nos captulos anteriores, por diversas vezes a Bblia foi alvo de tentativas de destruio completa ou parcial. As lnguas em que foi escrita, os locais geogrficos de difcil acesso, as caractersticas pessoais dos escritores e todas as intempries s quais seus pergaminhos foram submetidos poderiam ter colaborado para que o texto se perdesse ou que fosse gravemente deturpado.

    Contudo, devido sua autoria divina, esse incomparvel livro foi preservado no passado, permanece resguardado no presente e continuar preservado pelos anos que ainda se fizerem necessrios at a volta de Cristo, e mesmo depois desse evento, estar em pleno cumprimento no cu!

    Acerca dos teus testemunhos soube, desde a antiguidade, que tu os fundaste para sempre. (Sl. 119.152)

    O cu e a terra passaro, mas as minhas palavras no ho de passar. (Mt. 24.35)

    Sendo de novo gerados, no de semente corruptvel, mas da incorruptvel, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre. (1Pe. 1.23)

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