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Dina Matias AS SIGILLATAS AFRICANAS DAS TERMAS DE EBUROBRITTIUM Instituto de Arqueologia Coimbra 2001

As Sigillatas Africanas das Termas de Eburobrittium · 2012. 4. 18. · As termas comprovam a influência cultural romana sobre as regiões dominadas. Na Antiguidade, diversos médicos

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Dina Matias

AS SIGILLATAS AFRICANAS

DAS TERMAS

DE EBUROBRITTIUM

Instituto de Arqueologia Coimbra

2001

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AGRADECIMENTOS Na elaboração deste trabalho recebemos auxílios de variada ordem, pelo

que fica aqui expresso o devido reconhecimento. Em primeiro lugar, queremos agradecer à Doutora Helena Catarino por

ter aceite o tema no âmbito da cadeira de Arqueologia Medieval da F.L.U.C., bem como por se ter mostrado sempre disponível para esclarecer todas as dúvidas que nos foram surgindo.

O Dr. Beleza Moreira, Coordenador do Gabinete de Arqueologia da Câmara Municipal de Óbidos, prestou-nos desde o início todo o apoio. Facultou-nos bibliografia e trabalhos pessoais, prestou-nos esclarecimentos,sugeriu alternativas... Por tudo isso, muito obrigado.

A colaboração de Bruno Figueira, Assistente de Arqueólogo no mesmo Gabinete, revelou-se muito importante. Ajudou-nos durante a inventariação e colagem das peças. Os desenhos apresentados são de sua autoria. Foi fundamental nas questões mais técnicas.

A Drª. Ana Paula Ramos também nos deu algumas facilidades que não podemos esquecer.

Por último, estamos gratos à Câmara Municipal de Óbidos pela utilização da biblioteca e dos equipamentos informáticos existentes no Gabinete de Arqueologia.

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CONVENÇÕES E ABREVIATURAS

Hayes Late Roman Pottery, Londres, 1972 Conimbriga Fouilles de Conimbriga, Paris, 1975 e 1977 Atlante Atlante delle Forme Ceramiche, Roma, 1981 T.S.I. Terra Sigillata Itálica T.S.Sg. Terra Sigillata Sudgálica T.S.H. Terra Sigillata Hispânica I.C. 1 Itinerário Complementar 1 I.P. 6 Itinerário Principal 6 F.L.U.C. Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra S.E.C. Secretaria de Estado da Cultura M.N.A. Museu Nacional de Arqueologia I.P.M. Instituto Português de Museus I.P.P.A R. Instituto Português do Património Arquitectónico C.A.M. Campo Arqueológico de Mértola D.G.M.S.G. Direcção Geral de Minas e Serviços Geológicos D.R.A.R.O. Direcção Regional de Agricultura do Ribatejo e Oeste S.C.E. Serviço Cartográfico do Exército S.N.I.G. Sistema Nacional de Informação Geográfica C.M.A. Câmara Municipal de Alcoutim

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ÍNDICE Introdução ……………………………………………………………….. 1

Enquadramento Histórico-Geográfico ...…………………………. 2 As Termas ………………………………………………………… 4

A Terra Sigillata Africana ………………………………………………. 6

História do Estudo da Terra Sigillata Africana ………………….. 7 Metodologia ……………………………………………………….. 8 Características .............................................................................. 9 Modo de Produção ………………………………………………... 12

Catálogo das Peças ……………………………………………………… 14 Considerações Finais ……………………………………………………. 25 Bibliografia ………………………………………………………………. 28 Mapas e Afins …………………………………………………………… 30 Estampas ………………………………………………………………… 38

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INTRODUÇÃO

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ENQUADRAMENTO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO A estação romana de Eburobrittium localiza-se na actual Quinta das

Flores, pertencente à freguesia das Gaeiras, concelho de Óbidos, distrito de Leiria (fig. 1).

A cidade desenvolve-se ao longo da vertente ocidental do outeiro, que lentamente morre no antigo leito da Lagoa de Óbidos, a Norte do Rio Arnóia. Encontra-se a cerca de 35 m de altitude. Na Carta Militar de Portugal do S.C.E. apresenta as seguintes coordenadas GAUSS (Datum / Lisboa) :

113 186.61; 266 674.35 (Moreira, 1994: 2) (fig. 2). Com base na Carta Geológica de Portugal, elaborada pela D.G.M.S.G.,

vimos que se trata de uma formação calcária do Jurássico, em concreto do Lusitaniano Superior, sobranceira a solos Plio-Plistocénicos e Modernos (fig. 3).

Para avaliarmos as potencialidades económicas da área recorremos à Carta de Ocupação dos Solos da D.R.A.R.O. Estes terrenos são utilizados para a cultura arvense de sequeiro e como prado natural ou de sequeiro (fig. 4).

Os trabalhos arqueológicos foram iniciados pelo Dr. Beleza Moreira na Primavera de 1994, aquando da construção do nó de articulação entre o I.P. 6 e o I.C. 1. A abertura de uma vala para a drenagem das águas pusera a descoberto muros e “opus signinum”, para além de outros materiais arqueológicos. Aparentemente tratava-se de um sítio romano.

Efectuaram-se duas escavações de emergência, que vieram não só confirmar a atribuição anterior, como situar a ocupação entre o séc. I a.C. e os sécs. IV/V d.C.. A longa cronologia, aliada ao tipo de estruturas encontradas, implicaram a continuação dos trabalhos, sempre sob a direcção do Dr. Beleza Moreira, na esperança de se determinar a importância da estação e de se contribuir para a resolução da “questão Eburobriciense” (1994: 1, 24-26).

Os dados recolhidos até hoje parecem confirmar a descoberta da cidade romana de Eburobrittium. Com efeito, Plínio-o-Velho, na sua “História Natural”, situou-a entre as civitates de Olisipo (Lisboa) e de Collipo (S. Sebastião do Freixo), todavia, sem dar uma localização mais precisa dentro do Conventus Scallabitanus (Moreira, 2000: 2).

Segundo Beleza Moreira, trata-se de um oppidum stipendiarium fundado no início do principado de Augusto, portanto, sujeito a uma determinada tributação. Terá sido promovido à categoria político-administrativa de municipium durante a dinastia flaviana, possivelmente quando o imperador Vespasiano alargou o Ius Latii a toda a Península Ibérica; tal significa que o centro urbano “mantinhaleis e costumestradicionais (...) desde que estes não ofendessem as normas do direito romano”. Nesta altura, deve ter tomado o nome de Municipium Flavium Eburobrittium, sendo os seus cidadãos inscritos na Tribu Quirina (Alarcão, 1990: 388-390; idem,1995: 47; Moreira, 2000: 2).

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No estado actual da investigação, pensamos que a cidade ainda esteve habitada durante o séc. V. O local foi novamente reocupado na época tardo-medieval, mas como propriedade particular (Moreira, 2000: 2).

O topónimo Eburobrittium aparece referido pela primeira vez na obra de Plínio já citada. Etimologicamente, diversos autores parecem concordar que a palavra provém da latinização de dois radicais célticos: Eburo derivado do etnónimo Eburones (“Povo Adorador do Teixo”?) e Brittium oriundo do termo brica < briga (“altura”, “castelo”). Talvez resida aqui um indício da presença de um povoado da Idade do Ferro nas imediações... (Vasconcelos, 1989: 59; Moreira, 2000: 4-6).

O território das civitates romanas era normalmente estabelecido com base em acidentes geográficos e/ou unidades étnico-culturais. Partindo do Oceano Atlântico, o limite de Eburobrittium seguiria o curso do Rio Alcobaça e o do Rio da Fonte Santa até perto de Évora de Alcobaça, tomando depois por extrema a cumeada da Serra dos Candeeiros. O troço que culmina na localidade de Póvoa, perto das faldas da Serra do Montejunto, apresenta-se incerto. Em seguida, o limes passava por Vilar, acompanhando o Rio Alcabrichel até à foz (VVAA, cit. por Moreira, 2000: 19-21) (fig. 5).

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AS TERMAS Ao longo de oito campanhas de escavações, foi possível trazer à luz do

dia quinze estruturas. De entre elas destacamos as termas, de onde saíram os materiais estudados neste trabalho.

A implantação topográfica das termas de Eburobrittium parece obedecer a um primitivo traçado urbanístico. De facto, situam-se ao lado do forum na zona monumental, perfeitamente enquadradas na ortogonalidade esperada para uma cidade fundada no período alto-imperial.

O edifício ainda não está totalmente escavado, em virtude de se situar por baixo de um dos acessos à via rápida. De qualquer modo, Beleza Moreira calculou o seu cumprimento com base nas proporções defendidas por Vitrúvio (1/3): para uma largura de 20,50 m, será de 61,50 m (fig. 6).

Parafraseando aquele autor, até este momento identificaram-se “um corredor de serviço, duas salas, o praefurnium, um lacónico e parte de uma sala pavimentada a opus signinum” (2000: 91).

O corredor de serviço acompanha a fachada ocidental do edifício, abre directamente à rua para se poder abastecer a fornalha a confirmação da existência de uma porta naquela fachada poderá ajudar a compreender o entaipamento da entrada lateral. Talvez se guardassem as madeiras na ala a Norte da boca do praefurnium. Sob um pavimento de tijoleira existiam duas condutas, uma secundária para águas pluviais e outra principal para as águas residuais das termas (Fig. 7 – A).

Um compartimento, possivelmente com o chão forrado de tijolo, ainda exibe os pilares em bisel correspondentes às suspensurae. Temos, pelo menos, três galerias intercomunicantes, sendo uma atravessada em parte por um estreito canal de evacuação de águas. Beleza Moreira pensa que neste espaço funcionou uma sala de descanso (fig. 7 – B).

Anexo, um outro compartimento comunica por meio de vãos com a divisão anterior. Aqui, o sistema de apoio usa pilares verticais em vez de arcaturas, formando galerias aparentemente correlacionáveis com as da sala ao lado. No entanto, pode ter havido uma malha mais apertada do que a que os vestígios agora documentam, por forma a suportar duas banheiras. O canal mencionado atrás prolonga-se até alcançar a conduta principal. Na parede Sul são visíveis ainda “as bases de assentamento do arco abobadado” que dava para a fornalha (fig. 7 – C).

A área que vamos abordar em seguida tem sido equacionada com o praefurnium. O facto de ocupar uma zona central no edifício deve ter facilitado a canalização do calor para as salas adjacentes. A entrada era em forma de arco. Pelo menos ao nível do patamar sobrelevado, o pavimento seria coberto com tijoleiras; por baixo, passava a conduta mais importante do complexo termal (fig. 7 – D).

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O laconicum foi certamente alvo de diversas melhorias. Trata-se de uma piscina circular, em princípio dotada de três ordens de bancos cobertos por placas de calcário (tipo “Moca Creme”, abundante ali próximo na Serra d’ Aire e Candeeiros). Não estamos seguros em relação à sua capacidade total.

A localização da estrutura está conforme o preceito vitruviano de colocar a piscina da água quente na área mais exposta aos raios solares; mais do que obedecer a um princípio, trata-se de uma questão prática. Todavia, a piscina não está centrada, coincide com a própria parede no lado ocidental; as duas ábsides semi-circulares dão uma nota decorativa ao ambiente. Desta maneira, o sistema de sustentação ocupa um espaço em forma de ferradura à volta da estrutura, daí que os arcos tomem várias orientações e se incluam mesmo arcadas duplas. O ar aquecido vinha por um arco abobadado junto à fornalha. Um chão de tijoleiras sobrecompridas ocultava a conduta de eliminação das águas (fig. 7 – E).

A Este localiza-se uma sala que tem levantado alguns problemas de interpretação: como se prolonga sob a via rápida, não é possível continuar a escavação. Apresenta um pavimento revestido de opus signinum, sendo assinalável o acabamento em meia-cana ao pé da parede. Determinados indícios sugerem a existência de uma porta de acesso ao lacónico (Conimbriga, 1975: 50; Moreira, 2000: 92-102) (fig. 7 – F).

Na sequência da descrição apresentada, é possível que existisse uma entrada destinada aos utentes na vertente oriental do edifício. Isto não significa que aí ficasse a fachada principal: a atracção cenográfica exercida pela Lagoa de Óbidos deveria ser enorme. Aliás, conhecemos mais estruturas com esta configuração, por assim dizer, atlântica.

Neste momento, ainda não dispomos de dados relativos ao sistema de abastecimento hídrico; quanto muito, podemos colocar a hipótese da existência de um aqueduto que conduzia a água para a cidade. Quando a totalidade do complexo estiver escavada será possível fazer uma melhor interpretação da sua organização, assim como adiantar as diversas etapas construtivas por que passou.

As termas comprovam a influência cultural romana sobre as regiões dominadas. Na Antiguidade, diversos médicos defenderam os benefícios da água quente e da água fria sobre o sistema circulatório. O exercício do corpo também era recomendado. Cabia aos arquitectos traçar projectos que permitissem a concretização de tais indicações. Um percurso típico deveria incluir: lavagem dos pés, banho quente, abluções no rosto com água fria (numa atmosfera tépida), banho frio, exercícios, refresco numa bacia, unção.

O dia tinha normalmente um período destinado ao ócio nas termas, que decorria “entre le milieu de la journée et la soirée”. Havia horários diferenciados consoante o sexo. Aos cuidados com o bem-estar físico, acresciam-se bons hábitos de conversação e convívio (Conimbriga, 1977: 49-50, 113).

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A TERRA SIGILLATA AFRICANA

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HISTÓRIA DO ESTUDO DA TERRA SIGILLATA AFRICANA No séc. XIX, publicam-se as primeiras peças em Terra Sigillata

Africana. Elas fazem parte das grandes colecções públicas e particulares então formadas na Europa, contudo, estão normalmente desprovidas de contexto arqueológico. Desta maneira, apresentavam mais interesse para a História da Arte Cristã, que tratou de classificar a sua decoração em diversos estilos.

A intensificação das escavações na bacia mediterrânica forneceu bastante informação sobre a cronologia, o fabrico e a distribuição da Sigillata Africana. Faltava um trabalho que articulasse tais dados...

Em 1933, Waagé publicava a classificação das numerosas cerâmicas romanas tardias encontradas na Ágora de Atenas. Encontrara três tipos de fabricos, que denominou “Late Roman” A, B e C. Mais tarde, o britânico levantaria a hipótese de o centro de produção se localizar no Norte de África. Com efeito, dois dos fabricos dizem respeito a Terra Sigillata Africana: “Late Roman A” (correspondente à produção C de Lamboglia), “Early Late Roman B” (equivalente à produção A de Lamboglia) e “Middle and Late Late Roman B” (identificável com a produção D do mesmo autor).

Comfort, em 1940, dava à estampa cerâmicas deste género num artigo intitulado “Terra Sigillata”.

Nos anos seguintes, Lamboglia propõe o uso da designação “Terra Sigillata Clara” e distingue quatro séries de produção (A, B, C e D). Note-se que a série B não provém do Norte de África, mas da Gália.

Fremersdorf escreveu um artigo chamado “Nordafrikanische Terra Sigillata aus Köln” em 1959. Com o trabalho de Pallarés, publicado em 1960, ganha força a teoria da origem africana destas cerâmicas.

Ao longo das décadas de 1960 e de 1970, Salomonson, Carandini e Hayes contribuíram bastante para a identificação dos centros de produção norte-africanos, bem como para o conhecimento dos tipos e cronologias de produção. Hayes chamou-lhe “African Red Slip Ware”.

Em 1981, foi editado um corpus relativo às cerâmicas finas do Médio e Baixo Império, onde existe um capítulo inteiramente dedicado à produção norte-africana (Hayes, 1972: 2-8, 287-288; Delgado, 1975: 126; Coutinho, 1997: 15-16).

Em Portugal, foram efectuados estudos de certa envergadura sobre as produções africanas finas na época das escavações de Conimbriga. Distinguem-se os trabalhos de Manuela Delgado, Françoise Mayet e Adília Moutinho de Alarcão. Recentemente, outros autores têm evidenciado interesse por esta temática, por exemplo, Helder Coutinho ao publicar a Sigillata Africana encontrada no Montinho das Laranjeiras.

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METODOLOGIA Como acabámos de ver, a variedade de nomenclaturas nas cerâmicas

romanas finas está relacionada com a evolução dos próprios estudos ceramológicos. E a lista que apresentámos não pretendeu ser de forma alguma sistemática!

Agora, cabe explicar por que optámos pelo uso da designação “Terra Sigillata Africana”. Na denominação de materiais, sempre que possível privilegiamos os critérios geográficos face às características de produção. Assim, esta expressão será a que melhor convém a uma cerâmica de mesa considerada de boa qualidade e produzida no Norte de África.

Ao mesmo tempo, trata-se de tentar uniformizar as nomenclaturas, pois tanta diversidade só vem complicar o estudo das cerâmicas finas romanas. Nesta matéria, parte das produções finas alto-imperiais estão normalizadas: T.S.I., T.S.Sg., T.S.H. Contudo, existem ainda outros tipos de terminologias. Actualmente, pode-se corrigir a designação “Terra Sigillata Clara B”, na medida em que a investigação conseguiu determinar a sua origem e cronologia; sabe-se que provém da Narbonense, que coexistiu com fabricos diferentes e que houve séries similares, com certa continuidade, noutras províncias do Império.

De resto, até concordamos com os autores que acham inadequada a expressão “Terra Sigillata”... Talvez em breve se adoptem termos menos rígidos e mais consensuais, quiçá “Cerâmica Africana Fina de Engobe Vermelho”.

O grande conjunto de cerâmicas finas romanas proveniente de Eburobrittium permitiu-nos seleccionar bastantes Sigillatas Africanas. Houve um trabalho prévio de inventariação e colagem dos fragmentos, que antes não fora possível concluir. Só então obtivemos uma ideia da quantidade de peças e escolhemos o espaço a estudar.

Optámos pelas termas, que ocupam parte dos sectores IV e V, na esperança de contribuirmos para afinar a datação das suas últimas fases de reconstrução/ocupação. No edifício encontraram-se algumas dezenas de fragmentos em Sigillata Africana, mas apenas estudámos aqueles passíveis de classificação. São vinte e oito fragmentos, pertencentes a dez peças diferentes. Estas aparecem todas descritas no nosso catálogo, sempre que possível por ordem cronológica. Para tanto, baseámo-nos no “Late Roman Pottery” e no “Atlante delle Forme Ceramiche”. Os respectivos desenhos estão à escala 1: 2, excepto o fragmento Nº 10 que se encontra à escala 1: 3.

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CARACTERÍSTICAS A Sigillata Africana tardia pertence a uma longa tradição de cerâmicas

finas com origem na época helenística. Esta série caracteriza-se por ter uma pasta de aspecto granuloso ou grosseiro, em virtude de incluir algumas impurezas (calcite, quartzo e mica branca). Em termos cromáticos, varia entre o vermelho alaranjado e o vermelho acastanhado, passando por tonalidades rosadas.

O engobe constitui uma versão melhorada da pasta. Pode ser espesso e algo brilhante ou fino e mate, confundindo-se inclusive com a própria argila; em regra, apresenta uma tonalidade ligeiramente mais escura do que esta. O engobe nem sempre reveste toda a superfície da peça, pode abranger apenas o interior e a parte de cima do exterior. Poucas vezes atinge a qualidade de outros produtos em Terra Sigillata, talvez por isso a tendência para lascar seja mínima.

Os serviços eram sobretudo compostos por pratos e taças nas mais variadas dimensões, dotados de pé (atrofiado ou não) e sem pé. Sublinhe-se que a produção africana se encontrava altamente estandardizada: a maioria dos vasos pode ser reduzida a um pequeno número de formas relativamente fixas, depressa substituídas por novas versões ao sabor das “modas”; o torno e o molde possibilitavam essa uniformização dos modelos. Em determinada altura, houve oleiros especializados só no fabrico de três ou quatro formas.

Quanto à decoração, estas cerâmicas receberam tipos já conhecidos: estampada, a roleta, incisa, modelada em relevo, brunida. Existem diversos estilos com significado cronológico. Eles copiam os temas dominantes nas artes decorativas contemporâneas; há peças que têm claros paralelos nas baixelas em metal (prata e bronze), mas também se encontram influências de obras em marfim ou vidro, do mobiliário, dos têxteis e da numismática. Por vezes, fica a impressão de um horror ao vazio. No entanto, alguns vasos apresentam um decoração pouco ou nada elaborada, residindo o segredo na sua simplicidade (Hayes, 1972: 13-17, 283-287; Atlante, 1981: 15).

Os estudos realizados permitiram identificar diferentes tipos de produção (A, A/D, C, C/E, D, E), assim como as respectivas variantes. Para Hayes, “these sub-groups probably represent the products of different factories within the main manufacturing region, though some may be due to differences in manufacturing techniques” (1972: 288).

De seguida, daremos particular atenção ao fabrico D, porque caracteriza a generalidade das nossas cerâmicas. Os investigadores apontam esta produção como sucessora da primitiva produção A, da qual sedistingue por não apresentar engobe na totalidade da superfície e por ter uma nítida separação entre o fundo e a parede (Hayes, 1972: 291, 295). Em concreto, defendem que a variante D1 retoma a tradição da T.S.A2 e a variante D2 continua a produção A/D. Hayes diferenciou ainda duas fases cronológicas dentro de cada variante (Atlante, 1981: 78).

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No concernente à primeira fase da produção D1 (sécs. IV-V), “the clay varies from finely granular to coarse in texture, the earlier examples being on the whole the best; the ware is at first of medium thickness, sometimes quite thin, but tends to get thicker (about 6-9 mm) as time goes on. The slip, which varies in thickness, tends to be less lustrous than that of the early ware; a pinkish tinge, perhaps the result of harder firing, is quite common, along with normal orange-red and brich-red colours. Fine tooling-marks are visible on some of the larger pieces, particularly on exterior surfaces; other pieces exhibit a rather pimply surface. The hair-lines characteristic of the earlier series are less in evidence, indicating less careful polishing”. Aparece nas formas Hayes 58 B-61 e 63-65 (Hayes, 1972: 291).

A segunda fase da produção D1 (fim séc. V-meados séc. VII) caracteriza-se por ter uma pasta semelhante ao fabrico anterior, “a rather thin dull slip and a tendency to pimply surfaces”. Surge nas formas Hayes 93 e 107 (Hayes, 1972: 292).

Em relação à primeira fase da produção D2 (fim séc. IV-início séc. VI), podemos dizer que exibe “a thick, bright, highly polished slip, similar in appearance to that of the early third-century series mentioned above, and with a similar tendency to flake. These contrast markedly with the dull-surfaced vessels of the main series. The body-clay of these pieces tends to be coarse-grained and is mostly rather poorly fired, with a tendency to an orange or light brownish colour. The surfaces show tooling-marks, and the slip tends to have a burnished appearance. Occasionally areas of the surface are left rough and decorated with lightly burnished patterns”. As formas Hayes 61 B e 87 foram assim produzidas (Hayes, 1972: 291).

Na segunda fase da produção D2 (fim séc. V-meados séc. VII), deparamos com “ a thicker, semi-lustrous polished slip, more or less identical in appearance with that of the earliest African products. This is combined with a rather coarse ware in which lime is the predominant impurity. Its colour is regurlarly orange-red or brick-red, as that of the early series; the slip frequently ends at the lower edge of the rim. A characteristic of this ware is the smoothing of the unslipped exterior with a brush, producing a finely corrugated surface. This feature is commonest on the smaller vessels; the undersides of the larger dishes often bear tooling-marks instead. (...) Some early examples are quite fine, not unlike the “ Late Roman A” series, but later ones are of much poorer quality, with poorly levigated clay, roughly finished surfaces and walls ranging up to 12 mm in thickness”. Está bem representada nas formas Hayes 91 e 94-106 (Hayes, 1972: 292).

Os autores de Atlante definiram ainda a produção D1/2. Tratam-se “di alcune forme raramente attestate, che presentano una vernice semibrillante, ma le cui caratteristiche tecniche generali non appaiono per ora ben definibili, a causa della insufficiente documentazione. Non è possibile l’attribuzione delle medesime forme alla sigillata africana D1 o alla D2, che pure annoverano

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talvolta esemplari con vernice semibrillante, anche se l’una è caratterizzara generalmente da vernice opaca, l’altra da vernice brillante” (1981: 78-79).

Apesar de termos procurado indicar as formas típicas de cada fase de produção, os ceramólogos já constataram o aparecimento de algumas em fabricos não habituais ou, pelo menos, considerados como tal (Conimbriga, 1975: 249-250).

Estas cerâmicas foram atribuídas às oficinas da Mauritânia e da África Proconsular, porque se comprovou arqueologicamente a existência de centros de produção nessa região, porque as formas mais antigas foram recolhidas no Magrebe e, ainda, porque as peças se enquadram na tradição norte-africana (olaria, costumes).

Relativamente à série D, calcula-se que as oficinas ficariam na Tunísia Setentrional em torno de Cartago. No entanto, apenas se conhece a localização exacta de algumas: Oudna, Pheradi Maius, Henchir Mahrine... A proximidade dos portos costeiros significava prioridade no escoamento (acompanhando certos produtos), uma forma de bloqueio à exportação de cerâmicas idênticas manufacturadas no “interland”.

A Sigillata Africana começou a ser manufacturada logo na segunda metade do séc. I d.C., mas conheceu os momentos áureos no séc. III. Satisfeitas as necessidades locais ou regionais, depressa adquiriu um cariz “mondiale”, sendo exportada em grande escala para toda a bacia mediterrânica; por vezes, atingiu regiões situadas nos confins do Império. Seguia as rotas comerciais de tantos outros produtos africanos: azeite e outros bens alimentares, lucernas e cerâmicas de cozinha. O Norte de África ia consolidando a sua supremacia económica sobre a Península Itálica. Esta tradição cerâmica só iria terminar no final do séc. VII.

A produção D deve ter começado em fins do séc. III ou inícios do séc. IV, na sequência duma recuperação das olarias. Atingiu a máxima difusão entre meados do séc. IV e meados do séc. V; na época, era possível adquiri-la na bacia mediterrânica e costa atlântica ou, em algumas zonas da Europa Continental e do Mar Negro. Aliás, o grande número de formas abertas parece indicar um fabrico destinado essencialmente à exportação, porque empilhadas ocupavam pouco espaço na embarcação. O sucesso alcançado pelo fabrico foi de tal ordem que surgiram várias imitações, foram diversas as produções locais e regionais que o tomaram como modelo formal e decorativo.

O índice das exportações desceu sob o domínio vândalo (cerca de 440-540), mas foi retomado aquando da reconquista bizantina. A invasão árabe constitui um último golpe no fabrico D, em virtude de ter sido paulatinamente substituído por cerâmicas vidradas ao longo da segunda metade do séc. VII (Hayes, 1972: 296-299; Carandini, 1981: 11-15, 80-81).

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MODO DE PRODUÇÃO O conhecimento do processo de fabrico das cerâmicas africanas finas

do Baixo Império tem por base a análise das peças conhecidas. Grande parte foi produzida de acordo com o esquema clássico:

torneamento, secagem, segundo torneamento (por exemplo, para a adição do pé), decoração, aplicação do engobe por imersão, secagem final, cozedura.

No entanto, alguns destes pratos e taças foram certamente feitos com o recurso a moldes. A moldagem em cerâmica havia sido utilizada já no Alto Império, mas Hayes argumenta que continuou a ser praticada muito depois desse período.

Com efeito, as formas Hayes 48-56 e 58-61 sugerem a existência de um par de moldes (interno e externo). Há vasos de formato rectangular que não admitem pura e simplesmente um trabalho de torno. Outros apresentam perfis bastante articulados, bordos complexos, paredes demasiado lisas ou finas (com 3 mm, ou menos), fundos muito lisos, pés tendencialmente atrofiados, etc. Parecem um negativo, devem ter sido comprimidos contra uma determinada superfície. Em peças largas, a aplicação do pé mediante a roda de oleiro é pouco provável, porque o fundo meio seco não suportaria a força exercida por este engenho ou seria danificado pelo artesão na busca da finura desejada; assim, o pé deveria ser modelado ao mesmo tempo que o resto da peça.

Também se encontram semelhanças nas composições decorativas que não podem ser descuradas. Cada série decorativa deveria ter moldes completos e matrizes para composições centrais em diversas escalas (adequadas aos vários tamanhos das peças), além de pequenos punções com motivos subsidiários. No primeiro caso, as fases de moldagem e de decoração confundiam-se numa só.

As peças africanas foram manufacturadas em massa. Tornava-se, então, necessário um determinado apoio técnico que garantisse a manutenção dos níveis de produção. A existência de uma grande quantidade de moldes permitia a rápida colocação do produto final no mercado.

Finalmente, Hayes levanta a hipótese de o molde por vezes funcionar em conjunto com o torno, na posição dita convencional, ou então, de “pernas para o ar”. Desta maneira, pretende explicar a presença de determinados pormenores no lado externo dos vasos: estrias finas e regulares no fundo ou pequenos riscos ao nível da parede.

Em algumas formas, o engobe pode ter sido empregue enquanto ainda secavam dentro dos moldes. A solução era vertida nas cerâmicas, retirando-se o excesso. O escorrimento do engobe para o interior do molde cobria o lado de fora da peça, mas tal dependia do grau de contracção que sofrera; o acabamento fazia-se a pincel. Esta perspectiva ajuda a compreender por que razão o engobe acaba debaixo da aba ou a meio da parede e poucas vezes chega a revestir a base.

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A técnica da imersão deve ter sido abandonada com o intuito de reduzir o número de deformações, uma vez que os vasos não podiam estar completamente secos ao receberem o engobe.

Ainda assim, está bem documentada a prática antiga de retirar as cerâmicas dos moldes para secarem ao ar livre. Os vestígios de elementos vegetais nos fundos comprovam isso mesmo.

Na última fase de produção, as peças eram cozidas em fornos abertos. A julgar pelas características das pastas supõe-se a formação de uma atmosfera oxidante em condições muito bem controladas. Uma experiência realizada em Corinto, num forno eléctrico da Escola Americana de Estudos Clássicos, indicou que a temperatura normal de cozedura seria igual ou inferior a 1000 ºC.

O processo terminava com o polimento dos vasos, contudo, há que sublinhar o decrescente esmero no acabamento à medida que o tempo ia passando (Hayes, 1972: 292-296).

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CATÁLOGO DAS PEÇAS

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Nº Estudo/Estampa 01/I Forma Hayes 58 B; Lamboglia 52 A; Antioch 820-823;

Salomonson D2A Função Grande prato; louça fina de mesa

Dimensões bordo 41 cm; alt. máx. 5,1 cm; larg. máx. 41 cm; fundo 27,8 cm

Morfologia Bordo em forma de aba plana e curta, um pouco descaída para baixo; paredes curvas e esvasadas; fundo plano, com um falso pé muito atrofiado

Produção Admite D1 Pasta Pouco compacta e grosseira, tem bastantes grãos com

pequena e média dimensão (e até com grande granulometria) de quartzo/feldspato, cerâmica moída e calcite, notou-se presença de moscovite; cozedura e arrefecimento em atmosfera oxidante; cor vermelha clara (Cail. 10 R 6/6); apresenta grande tendência para escamar, em especial no lado de fora

Engobe Mal conservado; espesso e semi-brilhante; coloração vermelha clara (Cail. 10 R 6/8); parece ter revestido a peça, pelo menos, até ao meio da parede externa

Decoração Canelura única na extremidade da aba, bem como no ponto onde se unem a parede e o fundo internos; alguns exemplares têm sulcos concêntricos no meio das bases

Cronologia 290/300 até 425 Difusão Todo o Mediterrâneo Ocidental e Oriental, tal como

na costa atlântica Orig. Estratigráfica Quadrícula V-241, em terra castanha

Nº Inventário 1015/97 Bibliografia Hayes, 1972: 92-96; Conimbriga, 1975: 262; Atlante,

1981: 81-82; Vásquez de la Cueva, 1985: 57; Belo, 1991: 294

Comentário Trata-se de uma das primeiras formas pertencentes à série D. Hayes estimou o fim desta forma em torno de 375, contudo, os autores de Atlante prolongaram-na até ao início do séc. V, com base na sequência estratigráfica encontrada em Óstia.

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Nº Estudo/Estampa 02/I Forma Hayes 58 B; Lamboglia 52 A; Antioch 820-823;

Salomonson D2A Função Grande prato; louça fina de mesa

Dimensões bordo 36 cm; alt. máx. 2,9 cm; larg. máx. 36 cm Morfologia Bordo em forma de aba plana e curta, descaída para

fora; paredes esvasadas; fundo possivelmente plano Produção Admite D1

Pasta Compacta e relativamente homogénea, com muitas partículas de cerâmica moída e calcite de pequeno e médio porte, grande quantidade de minúsculos grãos de quartzo/feldspato e presença de moscovite; cozedura e arrefecimento em ambiente oxidante; cor vermelha clara (Cail. 10 R 6/6)

Engobe Virtualmente ausente; parece ter sido muito fino, brilhante e de cor vermelha; devia cobrir ambos os lados da peça, porque ainda existem vestígios no exterior da parede

Decoração Duas caneluras bastante finas, correndo paralelas no meio da aba

Cronologia 290/300 até 425 Difusão Todo o Mar Mediterrâneo e costa atlântica

Orig. Estratigráfica Quadrículas IV-223/224, em terra castanha Nº Inventário 23/98

Bibliografia Hayes, 1972: 92-96; Conimbriga, 1975: 262; Atlante, 1981: 81-82; Vásquez de la Cueva, 1985: 57; Belo, 1991: 294

Comentário Idem Nº 01.

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Nº Estudo/Estampa 03/I Forma Hayes 58 B; Lamboglia 52 A; Antioch 820-823;

Salomonson D2A Função Prato; louça fina de mesa

Dimensões bordo 24,8 cm; alt. máx. 1,7 cm; larg. máx. 24,8 cm

Morfologia Bordo em forma de aba recta e curta, ligeiramente descaída para o exterior; paredes muito esvasadas; em regra, este tipo apresenta um fundo plano

Produção Admite D1 Pasta Compacta e homogénea, com muitas intrusões

minúsculas de quartzo/feldspato, algumas de cerâmica moída, raramente de moscovite ou calcite; cozedura e arrefecimento em atmosfera oxidante; cor vermelha clara (Cail. 10 R 6/6)

Engobe Quase desaparecido; muito fino, meio lustroso, de cor vermelha clara (Cail. 10 R 6/8); no mínimo, a peça foi engobada até ao nível do bordo, já que subsistem vestígios debaixo da aba

Decoração Duas caneluras paralelas no extremo da aba Cronologia 290/300 até 425

Difusão Toda a bacia mediterrânica e litoral atlântico Orig. Estratigráfica Quadrículas V-291/292, sem indicação de camada

Nº Inventário 1265/97 Bibliografia Hayes, 1972: 92-96; Conimbriga, 1975: 262; Atlante,

1981: 81-82; Vásquez de la Cueva, 1985: 57; Belo, 1991: 294

Comentário Idem Nº 01.

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Nº Estudo/Estampa 04/I Forma Hayes 58 B; Lamboglia 52 A; Antioch 820-823;

Salomonson D2A Função Prato; louça fina de mesa

Dimensões bordo 31 cm; alt. máx. 2,7 cm; larg. máx. 31 cm Morfologia Bordo em aba plana e curta, inclinada para fora;

paredes muito esvasadas; fundo plano, associado a um pé microscópico não funcional (encontra-se reduzido a um ressalto com 1 mm de espessura)

Produção Admite D1 Pasta Muito compacta, mas homogénea, com minúsculos

grãos (por vezes, de tamanho médio) de quartzo/ feldspato e cerâmica moída, alguns de calcite; cozedura e arrefecimento em meio oxidante; cor vermelha clara (Cail. 10 R 6/6)

Engobe Excelente estado de conservação; fino e brilhante; cor vermelha (Cail. 7,5 R 5/6); cobre toda a superfície da peça, até o fundo externo

Decoração Duas caneluras paralelas a meio da aba; um sulco no ponto de junção entre a parede e o fundo internos

Cronologia 290/300 até 425 Difusão Mediterrâneo Ocidental e Oriental, assim como na

costa do Oceano Atlântico Orig. Estratigráfica Quadrículas V-161 e V-177, em terra preta

Nº Inventário 43/96, 1216/97 Bibliografia Hayes, 1972: 92-96; Conimbriga, 1975: 262; Atlante,

1981: 81-82; Vásquez de la Cueva, 1985: 57; Belo, 1991: 294

Comentário Idem Nº 01.

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Nº Estudo/Estampa 05/II Forma Hayes 58 B; Lamboglia 52 A; Antioch 820-823;

Salomonson D2A Função Prato; louça fina de mesa

Dimensões bordo 25 cm; alt. máx. 3,4 cm; larg. máx. 25 cm; fundo 12,2 cm

Morfologia Bordo em aba direita, curta e inclinada para baixo; paredes bastante esvasadas; fundo plano, dotado de falso pé bastante pequeno

Produção Admite D1 Pasta Compacta e homogénea, com muitos grãos de

quartzo/feldspato e de cerâmica moída, alguns de moscovite e calcite, com pequenos calibres (pontualmente de média dimensão); cozedura e arrefecimento em meio oxidante; cor vermelha pálida (Cail. 7,5 R 6/4); paredes muito “picadas” e com alguma tendência para escamar no lado de dentro

Engobe Mal conservado; fino e polido, com certo brilho; cor vermelha (Cail. 7,5 R 5/6); reveste os dois lados da peça, inclusive o fundo externo

Decoração Canelura na extremidade da aba; é possível que também apresentasse no fundo

Cronologia 290/300 até 425 Difusão Bacia mediterrânica e costa atlântica

Orig. Estratigráfica Quadrícula V-241, em terra castanha Nº Inventário 1014/97, 2467/97

Bibliografia Hayes, 1972: 92-96; Conimbriga, 1975: 262; Atlante, 1981: 81-82; Vásquez de la Cueva, 1985: 57; Belo, 1991: 294

Comentário Idem Nº 01.

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Nº Estudo/Estampa 06/Sem ilustração Forma Hayes 59; Lamboglia 51; Antioch 817-818

Função Grande prato; louça fina de mesa Dimensões Não determináveis Morfologia Bordo em forma de aba plana e horizontal; os

exemplares deste tipo normalmente têm paredes baixas esvasadas e fundo achatado

Produção Admite D1 Pasta Pouco compacta, mas homogénea; composta por

ínfimos grãos de cerâmica moída e quartzo/feldspato, tem moscovite e alguma percentagem de calcite; cozedura e arrefecimento em ambiente oxidante; cor vermelha clara (Cail. 10 R 6/6)

Engobe Quase desaparecido; pequenos vestígios indicam que foi espesso e brilhante, de cor vermelha; deveria cobrir o interior e a aba da peça

Decoração Aba apresenta uma reentrância em cada extremidade; os fundos têm, com frequência, uma estampa central pertencente ao Estilo A (i) ou A (ii) de Hayes, envolta por caneluras

Cronologia 320 até 400/420 Difusão Bacia mediterrânica, litoral atlântico, Mar Negro e

em alguns pontos da Europa Continental

Orig. Estratigráfica Quadrícula IV-207, em terra castanha escura com pedras e materiais de construção

Nº Inventário 602/97 Bibliografia Hayes, 1972: 96-100; Conimbriga, 1975: 262-263;

Atlante, 1981: 82-83; Vásquez de la Cueva, 1985: 57; Belo, 1991: 294-295

Comentário Uma das formas mais precoces da produção D. Não foi possível determinar se pertence à variante A ou B, devido à ausência de parede. Esta forma aparece em Vintimille num contexto do séc. III; diversas estações confirmam a sua continuidade até aos inícios do séc. V, tal como Hayes afirmou.

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Nº Estudo/Estampa 07/II Forma Hayes 61 A; Lamboglia 53/54; Antioch 830/831

Função Grande prato; louça fina de mesa Dimensões bordo 34,1 cm; alt. máx. 3,7 cm; larg. máx. 36 cm Morfologia Bordo triangular introvertido, fazendo um ângulo

vivo com a parede arqueada; fundo plano

Produção Admite D1 e D2 Pasta Compacta e homogénea, incluindo muitas partículas

ínfimas (esporadicamente, de maior tamanho) de quartzo/feldspato e calcite, algumas de cerâmica moída e moscovite; cozedura e arrefecimento em atmosfera oxidante; cor vermelha (Cail. 7,5 R 5/6)

Engobe Muito bem conservado; consistente e brilhante; cor vermelha (Cail. 7,5 R 5/6); cobre o interior e o exterior da peça, incluindo o lado de fora do fundo

Decoração Ausente; em regra, apresenta caneluras e decoração estampada no fundo interno

Cronologia 325 até 400/420 Difusão Mediterrâneo Ocidental e Oriental, litoral atlântico e

Norte da Península Itálica; por vezes, encontra-se na Europa Continental

Orig. Estratigráfica Quadrículas IV-207, IV-223, IV-224, V-241 e V-257, em diversas camadas

Nº Inventário 648/97, 657/97, 699/97, 1094/97, 1095/97, 1226/97, 2465/97, 2468/97

Bibliografia Hayes, 1972: 100-107; Conimbriga, 1975: 263-264; Atlante, 1981: 83-84; Vásquez de la Cueva, 1985: 58; Belo, 1991: 295-296

Comentário A presente forma é característica da primeira fase da produção D. A datação de Hayes foi confirmada pelas escavações feitas em Óstia. Surge imitada em cerâmica comum e em T.S.H. Tardia.

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Nº Estudo/Estampa 08/II Forma Hayes 61 A; Lamboglia 53/54; Antioch 830-831

Função Grande prato; louça fina de mesa Dimensões bordo 35,3 cm; alt. máx. 2,9 cm; larg. máx. 37 cm Morfologia Bordo triangular introvertido, formando um ângulo

vivo com a parede arqueada; em regra, esta forma apresenta um fundo achatado

Produção Admite D1 e D2 Pasta Compacta e homogénea, incluindo grande quantidade

de pequenos grãos (por vezes, maiores) de quartzo/ feldspato, cerâmica moída e calcite, rara moscovite; cozedura e arrefecimento de tipo oxidante; cor vermelha clara (Cail. 10 R 6/6)

Engobe Mal conservado; consistente e brilhante; cor vermelha (Cail. 7,5 R 5/6); reveste ambos os lados das paredes

Decoração Inexistente; normalmente, teria caneluras e uma decoração estampada no fundo interior

Cronologia 325 até 400/420 Difusão Bacia do Mar Mediterrâneo, costa do Oceano

Atlântico, Norte da Península Itálica e, às vezes, na Europa Continental

Orig. Estratigráfica Quadrícula V-257, em terra castanha escura Nº Inventário 1204/97

Bibliografia Hayes, 1972: 100-107; Conimbriga, 1975: 263-264; Atlante, 1981: 83-84; Vásquez de la Cueva, 1985: 58; Belo, 1991: 295-296

Comentário Vide supra.

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Nº Estudo/Estampa 09/II Forma Hayes 92; var. Lamboglia 24/25

Função Taça pequena; louça fina de mesa Dimensões bordo 16,9 cm; alt. máx. 4,1 cm; larg. máx.

18,8 cm Morfologia Bordo com lábio vertical simples, seguido de rebordo

curvo e atrofiado, sem canelura; parede baixa e bastante esvasada; fundo ausente, possivelmente plano

Produção Admite os fabricos A, D e E Pasta Compacta e relativamente homogénea, com bastantes

grãos de pequena a média dimensão de quartzo/ feldspato, certa quantidade de calcite e cerâmica moída e pouca moscovite; cozedura e arrefecimento em atmosfera oxidante; cor vermelha clara (Cail. 2,5 YR 6/6); paredes um pouco “picadas”

Engobe Bem conservado; fino e aderente, lustroso; cor vermelha clara (Cail. 10 R 6/8), mas sofreu a acção do fogo durante ou após a utilização; cobre o interior e a orla, apresenta vestígios sobre a parede externa

Decoração “Feather-Rouletting” em parte da parede interna Cronologia Finais do séc. IV a inícios do séc. VI (?)

Difusão Rara fora da Tunísia, no entanto, surge em Portugal Orig. Estratigráfica Quadrículas IV-207, IV-223, IV-224, V-242 e V-

257, em variadas camadas Nº Inventário 398/97, 601/97, 654/97, 655/97, 656/97, 695/97,

1093/97, 1096/97, 1301/97 e 1307/97 Bibliografia Hayes, 1972: 144-145 e 282-283; Atlante, 1981:

105-106 e 122; Vásquez de la Cueva, 1985: 92 Comentário

Hayes traça um paralelo entre as variantes mais precoces da Forma 91 e a Forma 92. Também encontramos facilmente semelhanças estilísticas e morfológicas entre Hayes 91 C/D e Atlante XLIX, 9. As características da peça de “Eburobrittium” aproximam-na de Hayes 91 B. Os autores de Atlante basearam-se em dados estratigráficos oriundos de vários sítios arqueológicos para subir algumas das cronologias propostas por Hayes. Por conseguinte, estimamos que a nossa peça tenha sido manufacturada durante o séc. V. Convém ter cuidado ao utilizar o trabalho do britânico devido à necessária actualização das datações.

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Nº Estudo/Estampa 10/III Forma Indeterminada (Hayes 59, 61 A ou, inclusive, 67)

Função Prato ou grande taça; louça fina de mesa Dimensões Não determináveis Morfologia Fundo achatado

Produção Admite D1 e D2 Pasta Compacta e relativamente homogénea, com muitas

partículas pequenas (raramente de granulometria média) de cerâmica moída e quartzo/feldspato, tem moscovite e alguma calcite; cozedura e arrefecimento de tipo oxidante, no entanto, variações no ambiente originaram uma mancha acinzentada na superfície interna da peça, sem alterar a coloração do engobe; cor vermelha clara (Cail. 10 R 6/6)

Engobe Mal conservado; fino e mate (?); cor vermelha clara (Cail. 10 R 6/6); apenas restam vestígios no interior, de resto não acreditamos que o engobe cobrisse o exterior do fundo

Decoração Estilo A (ii); a composição inclui pétalas em forma de pingo, curtas e alargadas na extremidade (portanto, diferentes do motivo Hayes 21), dispostas em estrela, envolvidas por uma série de triplos círculos concêntricos (tipo Hayes 26 e) e pela habitual sequência de caneluras

Cronologia 350 até 420 Difusão De uma maneira geral, as formas colocadas acima

como hipóteses aparecem na bacia mediterrânica, no litoral atlântico, no Norte de Itália e nalguns pontos dispersos da Europa

Orig. Estratigráfica Quadrícula V-257, em terra castanha com alguns materiais de construção

Nº Inventário 1008/98 Bibliografia Hayes, 1972: 218-219, 223, 233-235; Atlante, 1981:

82-84, 88-89 Comentário Trata-se de uma composição relativamente larga;

existem irregularidades na impressão dos motivos com círculos concêntricos, que indiciam um trabalho menos cuidado.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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O conjunto das cerâmicas em análise é reduzido. Todas as peças pertencem a formas já conhecidas. Tratam-se de pratos, por vezes de dimensões consideráveis, manufacturados na primeira fase da produção D, característicos da época que medeia entre finais do séc. III e os inícios do séc. V (Hayes 58 B, 59, 61 A). Surgem decorados com caneluras simples ou duplas, mas falta normalmente a parte do fundo que recebia o estampado; contudo, temos um fragmento de uma composição no Estilo A (ii), onde existe um motivo para o qual não encontrámos paralelo: a pétala em forma de pingo. Somente a peça nº 09 sai fora deste quadro. A pequena taça com “feather-rouletting” no interior faz mais parte do gosto corrente no séc. V.

Tal como determinados autores afirmam, a presença de grandes pratos pode relacionar-se com uma modificação dos hábitos alimentares, ocorrida ao longo dos sécs. III e IV. Os costumes de servir e de comer à mesa devem ter passado de essencialmente individuais para colectivos (Atlante, 1981: 15).

Temos verificado que certas áreas da cidade de Eburobrittium não conservam uma estratigrafia intacta. O Dr. Beleza Moreira justifica-o com o facto de estarmos perante um espaço bastante agricultado ao longo dos tempos, nomeadamente através da plantação de árvores. Também não podemos descurar o impacto da reocupação para fins habitacionais já no período da nacionalidade portuguesa (do período tardo-medieval ao período contemporâneo). Acresce ainda que o solo argiloso/arenoso apresenta um certo declive e, portanto, a erosão provocada pelas chuvas deve estar na origem da deslocação de muitos materiais. Durante o Inverno confrontamo-nos com vários problemas na conservação de estruturas, precisamente relacionados com a acção das águas pluviais.

Após a análise da estratigrafia registada em cada compartimento das termas, concluímos que as cerâmicas aqui estudadas provêm geralmente de contextos relativos a destruição e/ou entulhamento. Em consequência, surgem misturadas com T.S.I., T.S.Sg., T.S.H., T.S.H. Tardia, T.S. Regional Tardia, moedas e vidros de época alto-imperial, já para não referir os metais, a cerâmica comum e os restos de alimentação (ossos, dentes e chifres de animais, cascas de bivalves). Isto acontece da camada mais superficial até à mais profunda. No caso da quadrícula V-257, houve recentemente a acção de um factor natural ou antrópico: a Sigillata Africana estava associada a cerâmica comum vidrada.

Em relação ao objectivo de afinar a cronologia da última fase de reconstrução/ocupação das termas, apenas podemos recolher os indícios dispersos pelo edifício. A Norte da fornalha, está documentado o surgimentode dois numismas da 2ª metade do séc. III sobre o pavimento, bem como o levantamento de paredes em época tardia, a julgar pela má qualidade dos aparelhos; no corredor encontrou-se uma moeda do séc. III (?) e uma inscrição honorífica dedicada a um dos imperadores da Casa de Constantino (séc. IV); também se deram intervenções nas fachadas Norte e Sul para drenar as águas pluviais e para desactivar uma porta.

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Possuímos, por conseguinte, alguns indicadores que permitem colocar a hipótese de uma reestruturação ou, pelo menos, da realização de obras de manutenção nos sécs. III e IV. A epígrafe podia constituir uma forma de agradecer o desbloqueio de verbas para melhorar as termas da cidade. Encontraram-se fragmentos de estuque pintado que devem pertencer a esta última fase.

Eburobrittium tem um posicionamento costeiro (lagunar, não marítimo, mas ainda assim costeiro) que deve ter facilitado sobremaneira o desenvolvimento da actividade comercial. Tal como outras cidades congéneres, importou os produtos dominantes nos mercados ibéricos da Antiguidade Romana Tardia: produtos hispânicos e africanos.

A presença de mercadorias de origem africana no nosso espaço prende-se com os condicionalismos económicos e políticos do Médio e Baixo Império. As províncias do Norte de África foram assumindo o estatuto hegemónico antes pertencente à Península Itálica. As cidades conheceram um grande desenvolvimento económico e urbanístico; as principais famílias conseguiram transformar membros seus em imperadores.

Actualmente, não dispomos de dados suficientes para avaliar a envergadura nem a periodização destas trocas comerciais. A Terra Sigillata Africana e o “Cristal Rosa do Deserto”, exumados durante as escavações, demonstram inequívocas ligações ao Norte de África. Desconhecemos se o comércio se fazia em moldes directos ou indirectos. Localizando-se entre Olisipo e Conimbriga, dois grandes pólos comerciais da Lusitânia, a cidade poderia constituir um dos pontos da rede de redistribuição das mercadorias importadas. Os recursos minerais, agrícolas ou piscatórios do município deveriam ser canalizados para suportar estas relações comerciais.

Tão pouco podemos falar em áreas de influência comercial. De qualquer maneira, imaginamos mais facilmente um modelo setentrional e continental ligado ao Norte da Península Ibérica (Conimbriga) que um meridional e marítimo relacionado com o Sul da Península (Belo).

Achamos um pouco estranho o facto de não termos encontrado formas mais antigas de produtos africanos. Por outro lado, consideramos normal a ausência de tipologias que surgiram após a forma Hayes 92. Deste modo, Eburobrittium apresenta uma cronologia comparável às de muitas estações arqueológicas do Baixo Império, ressentindo-se igualmente com a instabilidade provocada pelas invasões bárbaras.

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MAPAS E AFINS

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Fig. 1 – Localização de Eburobrittium na Carta Concelhia de Portugal do S.N.I.G.

(1998), extraída via Internet

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Fig. 2 – Localização de Eburobrittium na Carta Militar de Portugal do S.C.E.

(1970), fl. 338, na escala 1:25 000

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Fig. 3 – Implantação de Eburobrittium na Carta Geológica de Portugal da

D.G.M.S.G. (1959), fl. 26-D, na escala 1: 50 000

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Fig. 4 – Tipo de aproveitamento económico da área de Eburobrittium, segundo a

Carta de Ocupação do Solo da D.R.A.R.O. (1990), fl. 338, na escala 1: 25 000

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Fig. 5 – Limites do município de Eburobrittium, com a indicação de alguns

vestígios arqueológicos, in Beleza Moreira, Eburobrittium (2000), Coimbra, Vol. II, estampa 33

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Fig. 6 – Planta da cidade de Eburobrittium, com a área provável das termas,

elaborada por José Rui Pereira (1999), topógrafo da Câmara Municipal de Óbidos

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Fig. 7 – Planta da área escavada nas termas, in Beleza Moreira, Eburobrittium

(2000), Coimbra, Vol. II, estampa 76

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ESTAMPAS

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I

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II

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III