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ASPECTOS DA PAISAGEM: ENTRE A IMIGRAÇÃO ITALIANA E ALEMÃ NO RIO GRANDE DO SUL CREMONESE, PEDRO E. (1); LIMA, RAQUEL R. (2) 1. FAU-PUCRS. Aluno de bacharelado [email protected] 2. FAU-PUCRS. Departamento de Teoria e História [email protected] RESUMO No Rio Grande do Sul, o século XIX foi marcado pela chegada de uma enorme população imigrante principalmente da Itália e da Alemanha, que trouxe consigo seus conhecimentos e cultura, trazendo novos cenários, mais europeus, para este estado ao sul do continente americano. Com a diferença de tempo entre as duas principais imigrações européias no século XIX para o Rio Grande do Sul, houve, portanto, uma diferenciação de regiões para cada etnia. Com isto, várias cidades se desenvolveram com essas culturas, cultivando vários aspectos paisagísticos de seu país de origem e lhes agregando valores vernaculares na adaptação de seus conhecimentos trazidos à realidade da América a ser desbravada. Hoje, para quem convive com tais realidades, é clara a diferenciação de uma residência urbana ou rural ou até mesmo dos vilarejos à distância, entre origem alemã ou italiana do referido povo. Isto acontece devido a estéticas, planejamento urbano, e até métodos construtivos que diferenciavam estes povos, além do próprio local onde se assentaram, entre planícies, serras e planaltos. O artigo tem como objetivo central a comparação entre as duas arquiteturas de colonização italiana e alemã por meio de comparações e assimilações, baseadas em bibliografias de estudos sobre arquitetura vernacular no Rio Grande do Sul posteriores, feitos em outras regiões, e outras bibliografias. Tais aspectos serão expostos, com base nas pesquisas feitas 2014 e com foco principal na região Centro Serra do Rio Grande do Sul, onde houve pouca produção científica nesse sentido, em muitos lugares inclusive foram pioneiramente estudados para estes estudos; sendo assim, serão citados estudos feitos a exemplo da cidade de Arroio do Tigre e o vilarejo de Tamanduá, no interior de Segredo, como exemplos da paisagem cultural da etnia alemã, e as cidades de Segredo e Sobradinho a exemplo da etnia italiana. Palavras-chave: imigração italiana, imigração alemã, Rio Grande do Sul, arquitetura vernacular, paisagem cultural.

ASPECTOS DA PAISAGEM: ENTRE A IMIGRAÇÃO ITALIANA … · Logo, presume-se que fora construída outra provisória de madeira ... capela primitiva de Pitingal, ... localizada na área

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ASPECTOS DA PAISAGEM: ENTRE A IMIGRAÇÃO ITALIANA E ALEMÃ NO RIO GRANDE DO SUL

CREMONESE, PEDRO E. (1); LIMA, RAQUEL R. (2)

1. FAU-PUCRS. Aluno de bacharelado

[email protected]

2. FAU-PUCRS. Departamento de Teoria e História [email protected]

RESUMO

No Rio Grande do Sul, o século XIX foi marcado pela chegada de uma enorme população imigrante principalmente da Itália e da Alemanha, que trouxe consigo seus conhecimentos e cultura, trazendo novos cenários, mais europeus, para este estado ao sul do continente americano. Com a diferença de tempo entre as duas principais imigrações européias no século XIX para o Rio Grande do Sul, houve, portanto, uma diferenciação de regiões para cada etnia. Com isto, várias cidades se desenvolveram com essas culturas, cultivando vários aspectos paisagísticos de seu país de origem e lhes agregando valores vernaculares na adaptação de seus conhecimentos trazidos à realidade da América a ser desbravada. Hoje, para quem convive com tais realidades, é clara a diferenciação de uma residência urbana ou rural ou até mesmo dos vilarejos à distância, entre origem alemã ou italiana do referido povo. Isto acontece devido a estéticas, planejamento urbano, e até métodos construtivos que diferenciavam estes povos, além do próprio local onde se assentaram, entre planícies, serras e planaltos. O artigo tem como objetivo central a comparação entre as duas arquiteturas de colonização italiana e alemã por meio de comparações e assimilações, baseadas em bibliografias de estudos sobre arquitetura vernacular no Rio Grande do Sul posteriores, feitos em outras regiões, e outras bibliografias. Tais aspectos serão expostos, com base nas pesquisas feitas 2014 e com foco principal na região Centro Serra do Rio Grande do Sul, onde houve pouca produção científica nesse sentido, em muitos lugares inclusive foram pioneiramente estudados para estes estudos; sendo assim, serão citados estudos feitos a exemplo da cidade de Arroio do Tigre e o vilarejo de Tamanduá, no interior de Segredo, como exemplos da paisagem cultural da etnia alemã, e as cidades de Segredo e Sobradinho a exemplo da etnia italiana.

Palavras-chave: imigração italiana, imigração alemã, Rio Grande do Sul, arquitetura vernacular, paisagem cultural.

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ASPECTOS DA PAISAGEM: ENTRE A IMIGRAÇÃO ITALIANA E ALEMÃ NO RIO GRANDE DO SUL

Contextualizando as imigrações

No contexto do século XIX, o território gaúcho encontrava-se escasso de população e

constantemente ameaçado de invasões territoriais, como consequência disto. O governo

imperial, então, aproveitando-se das condições de pobreza das populações europeias deste

tempo, oferece terras a estas populações, a primeira em 1824, com a emigração alemã.

Sendo o Rio Grande do Sul um estado com relevo variado, estes primeiros imigrantes

estabeleceram-se em regiões semelhantes ás suas na Alemanha, como as planícies do norte

que acidentam-se em montanhas até culminar nos alpes do sul, na fronteira com a Suíça.

Logo, o Rio Grande do Sul teve suas planícies perto da capital e em direção à região central

do estado inicialmente povoadas pela população alemã, e algumas comunidades no início do

relevo acidentado da Serra Gaúcha (nordeste do estado). As populações mais antigas são da

região de São Leopoldo, próxima da capital gaúcha, de onde partiram os imigrantes e

descendentes para o restante do estado. Cidades como Venâncio Aires, Santa Cruz do Sul,

São Sebastião do Caí, Candelária, Agudo e Novo Hamburgo são claros exemplos de

comunidades alemãs estabelecidas nas planícies gaúchas. Enquanto Nova Hartz, Nova

Petrópolis e Santa Maria do Herval são exemplos de cidades em relevos acidentados

próximos ou na própria Serra Gaúcha. Os famosos casos de Gramado e Canela são

exemplos de cidades mais novas, já do início do século XX e com população mais mista, em

contato com a italiana.

A imigração italiana ocorreu de outra forma. Com a maioria dos imigrantes vindos do norte da

Itália, região próxima aos alpes e com as terras planas próximas a capital gaúcha já ocupadas

pelos alemães, as comunidades se estabeleceram em quatro subdivisões da colônia italiana.

Três nos acidentados morros da serra gaúcha, e a Quarta Colônia italiana (pouco conhecida

devido ao principal foco acadêmico e turístico para esta etnia ser focado para a Serra

Nordeste), esta localizando-se nas proximidades da cidade de Santa Maria, onde o terreno é

mais plano, com várias cidades localizadas nas serras próximas, e outras para onde os

imigrantes e descendentes também migraram posteriormente. O presente artigo evocará

comparações e relatará sobre as comunidades imigrantes no Rio Grande do Sul em geral,

mas com enfoque na região centro-serra, por ser uma região rica em arquitetura das

comunidades imigrantes de ambas as etnias, ora em contato, ora separadas. Muito do que foi

documentado na região durante os anos de pesquisa foram construções e comunidades

inéditas para o meio acadêmico, a título de catalogação.

Figura 1: casos de cidades mais antigas das imigrações: Acima, Antônio Prado, com sua igreja

neobarroca e o casario em madeira, e Caxias do Sul na direita, exemplos da colonização italiana.

Abaixo, as cidades alemãs de Santa Cruz do Sul à esquerda, com a catedral católica, e São Leopoldo,

ao fundo com a igreja luterana. Fonte: Thread Memória - Rio Grande do Sul, skyscrappercity.com

A região centro-serra

Após o estabelecimento das primeiras comunidades, ainda havia muita terra não desbravada

no interior gaúcho. Os chamados “fundões” da serra central tornaram-se atrativos

posteriormente, principalmente pela oferta de madeira e terras na região, desta vez não do

governo, já republicano do final do século XIX - não houve evidencia da chegada dos

imigrantes para a região antes de 1888, visto que a casa mais antiga documentada data-se de

1900 e é feita de pedra. Logo, presume-se que fora construída outra provisória de madeira

anteriormente, porém sem datas claramente ditas.

Segundo alguns relatos, foi constatado que a venda das terras da região já não era um

negócio pertencente ao estado, mas sim a “empresas”, famílias de luso-brasileiros vindos

antes da imigração ou algumas famílias alemãs, a exemplo da família Scheit, que

provavelmente comprou a terra antes do real povoamento.

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Figura 2: Edificações religiosas. Acima, a igreja da comunidade italiana de Ivorá, na Quarta Colônia, e

ao lado de Itaúba, no centro serra. Abaixo, a igreja luterana de Sinimbu, na região do Rio Pardinho e a

capela primitiva de Pitingal, ambas regiões de colonização alemã.

Fonte: acervo Pedro Cremonese

As evidências de comunidades prósperas

As evidências mostram que se estabelecem então na região do Campestre com os casarões

datados de 1900 os primeiros imigrantes italianos, e logo após os primeiros alemães na atual

Linha Rocinha com sua capela em alvenaria de 1903. O símbolo de cada povoamento era sua

igreja, e através do tamanho, tipo e data em que foram construídas, pode-se ter uma idéia

sobre as condições de vida e recursos que cada comunidade detinha. Em seguida a estas

primeiras comunidades, os italianos seguem para Arroio Bonito (pequena igreja em alvenaria

de 1909 rica em afrescos e altar neogótico) e também para Sobradinho e Segredo sendo suas

cidades ainda com muitas construções em madeira, inclusive igrejas, enquanto os alemães

em Arroio do Tigre em 1915 já construíram a atual igreja católica matriz em alvenaria e estilo

neogótico. As comunidades italianas de Sobradinho e Segredo construíram suas matrizes

atuais em alvenaria somente em 1936 e 1932, respectivamente, enquanto que a exemplo de

Serrinha Velha, hoje apenas uma comunidade do interior do município, tem sua igreja de

alvenaria da década de 1920.

Todas estas comunidades concorreram entre as mais próximas para quais seriam sedes dos

atuais municípios nos momentos de emancipação, pois até então todas pertenciam a

Soledade. Segredo concorria com Gramado, Serrinha Velha e Tamanduá; e Sobradinho com

Arroio Bonito. A primeira cidade a se emancipar foi Sobradinho, em 1927, mais tarde Arroio do

Tigre em 1963 e tardiamente Segredo em 1988, já bem mais consolidada entre as suas atuais

comunidades dependentes que as demais nas suas respectivas épocas.

Análises da paisagem e da cidade

Evidentemente, na Europa é clara a diferença de uma cidade italiana e uma cidade alemã. No

Brasil, as cidades de cada etnia acompanham suas culturas de origem. A Igreja foi o centro

das comunidades italianas no sul do Brasil por muito tempo, tendo ainda valiosa importância

nas cidades interioranas. As comunidades da quarta colônia como Vale Vêneto e Ivorá são

exemplos claros deste planejamento urbano, que também se repetiu no Centro Serra gaúcho,

como em Segredo, Sobradinho, Arroio Bonito, e Campestre. O planejamento urbano dessas

comunidades italianas consistiam em definir o local da igreja católica matriz, normalmente

localizada na área mais alta da cidade em declive. Segundo as pesquisas realizadas, os

relatos e a bibliografia de Júlio Posenato, as primeiras igrejas eram, de modo geral, de

madeira com campanário separado. Depois, quando a comunidade adquiria mais recursos,

construía-se em alvenaria, e esta sim seria uma igreja com trabalhos e requinte ao máximo

que as condições que o povo podia oferecer, ainda que provavelmente vernacular; somente

posterior a isto se construía o campanário em alvenaria, por isto, em comunidades cujo

desenvolvimento estagnou-se, ainda há igrejas de alvenaria com campanário de madeira ao

lado, enquanto são escassos os casos de uma igreja de madeira com campanário de

alvenaria.

As construções italianas reservaram características singulares, sendo tido como um dos

melhores exemplos de arquitetura espontânea no Brasil. Trata-se de casos diversos, entre os

quais podemos citar características comuns, como o uso do porão como fabricação de vinho

ou para o abrigo de animais no inverno(a fim de que o calor subisse através da sublimação

para esquentar o restante da casa), o piso principal ser não o térreo, semi-enterrado, mas sim

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o superior, como os quartos e sala(s), e o sótão ser reservado para as crianças mais novas e

filhos homens e as escadas estarem localizadas não dentro, mas fora da casa Dentre os

casos característicos, temos as casas de pedra como os “rusticos” italianos, conservando

ainda mais suas características de origem, como as esquadrias com vergas de madeira,

escadarias externas, que era com se sabia fazer. Não necessariamente as casas de pedra

tinham telhados íngremes como as casas de madeira. Nesse caso, criado no Brasil, não

adaptado, devido a abundância de matéria prima; esse tipo de residência manteve sempre

uma inclinação íngreme de telhado, relata-se que para não haver acúmulo de neve, enquanto

que se pode sugerir que consideravam as casas de pedra mais resistentes a esse acúmulo.

Também, o telhado serviria de sótão, e, portanto, mais um espaço útil da casa.

Figura 3: Exemplos de casas rurais. Na esquerda, a casa da família italiana Rubert; à direita, a casa da

família alemã Kipper. Fonte: Acervo Pedro Cremonese.

Para ambas as etnias, ocorre o conhecido caso da cozinha separada do restante da

residência, principalmente nas construções rurais, porém os italianos levam hoje o maior

crédito pelo número de casos. Assim sendo, as casas antigas italianas em geral podem

apresentar-se como uma casa “dupla”, de volume maior e outro menor. O maior destaque

para a arquitetura italiana se dá pela criatividade dos imigrantes com a madeira e a pedra,

desenvolvendo aqui cidades feitas quase totalmente com construções de até grande porte em

madeira, como escolas, clubes e igrejas. No exterior, fachadas com lambrequins e trabalhos

na parede da casa também chamam atenção. A horta e o restante das construções

conformam-se após a casa, e o jardim com paisagismo simples, normalmente decorado com

roseiras. A casa alemã toma um contraste de não necessariamente tentar “esconder” as

funções lavorais e a horta, enquanto que a lida com flores também é muito reconhecida pelos

coloridos jardins, chegando em casos variados: ou jardins impecáveis e com muitas flores, ou

até mesmo com a horta tomando a frente da casa, característica notada em várias

comunidades alemãs, seja em casas antigas ou mais novas.

Figura 4: Acima, exemplos do posicionamento da igreja em cidades italianas, à esquerda em Serrinha

Velha, à direita, em Sobradinho, onde houve desenvolvimento urbano da cidade abaixo da Igreja

Matriz. Abaixo, ambas as fotos exemplificam Arroio do Tigre, na esquerda, a cidade vista da Igreja

Católica, à direita, vista do campo atrás da Igreja Luterana, no outro lado da cidade.

Fonte: Acervo Pedro Cremonese

As comunidades alemãs tendiam também a privilegiar suas comunidades religiosas, porém

com a dualidade da cristandade alemã entre as comunidades católicas e luteranas,

observa-se o destaque na maioria dos horizontes urbanos sendo cortados pelas torres de não

uma, porém duas igrejas em destaque, as respectivas comunidades de cada religião,

geralmente, construindo suas igrejas em estilo neogótico. No caso de Arroio do Tigre há ainda

o destaque para o pequeno vale onde se encontra a cidade, a qual tem uma igreja em cada

ponto alto do vale, com um campo e um pequeno rio cortando a cidade ao meio até hoje,

dando a parecer vista de cima que é uma cidade católica e outra luterana separadas pelo

fundo do vale. Porém de perto se observa que hoje o principal centro urbano com comércio,

hospital e colégio se localiza no lado católico. Caso semelhante ocorreu na famosa cidade de

Gramado (ressaltando ser a cidade na serra gaúcha, não a pequena comunidade

centro-serrana já citada), onde a Igreja Católica toma o protagonismo da rua principal, mas a

igreja luterana está num local de destaque devido ao morro onde se encontra. O afastamento

das comunidades cristãs ocorre frequentemente nas cidades germânicas do Rio Grande do

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Sul, também a exemplo de Sinimbu e Santa Cruz do Sul, onde o centro cívico fica concentrado

em torno da igreja católica.

Este já é um aspecto característico das comunidades teuto-brasileiras, visto que, mesmo após

o Império e o desmembramento da Igreja Católica com o estado, a Igreja ainda detinha

benefícios sobre as cidades, e não somente por supremacia, pois se não fosse por essa

instituição, as pobres comunidades imigrantes não teriam crescido culturalmente com suas

escolas em Seminários Católicos, sem falar nas questões civis como os registros de

casamento e nascimento, e da saúde, como os hospitais de caridade e de comunidades que

também eram mantidos pela igreja. Em resumo, é evidente que cabia ao estado geralmente a

mínima importância sobre policiamento e ofícios, porém cabia à Igreja as demais funções

sociais básicas da sociedade na grande maioria das comunidades imigrantes.

Figura 5: As setas indicando as igrejas de Arroio do Tigre nos altos do vale onde fica a cidade. Em

laranja, a igreja católica com o centro mais consolidado e em vermelho a igreja luterana. Fonte: Google

Earth.

Voltando ao caso de Arroio do Tigre, vemos na igreja católica matriz muito bem conservada

com altares neogóticos e belos vitrais, chamando atenção para a Via Crucis bilíngue, como o

português de grafia antiga e o alemão narrando as estações da crucificação de Cristo. A Igreja

Luterana também conserva seus aspectos originais, porém, como igreja protestante, com

decoração mais minimalista. A igreja tem vitrais em losangos nas laterais, e relatos informam

que foi construída com ajuda financeira da Alemanha.

As construções alemãs trazem consigo, já nesse período tardio e nessa região de enfoque,

não a conformação do estilo enxaimel como ocorrera nas comunidades mais antigas como em

Agudo, Dois Irmãos ou Nova Petrópolis e o famoso caso do novo estilo enxaimel brasileiro,

porém genuinamente alemão das comunidades germânicas se Santa Catarina: por outro lado,

conformam as formas características alemãs como o telhados em formas características,

como em gambrel e com o ecletismo alemão que ja dominava a capital gaúcha. Nos tempos

em que a modernidade era algo almejado por muitos, trazer estas características das grandes

cidades para o interior era sinônimo de estar à par com seu tempo. As cidades italianas

preservaram suas características de construções quadradas com janelas retangulares e

telhados de quatro águas, como nas cidades italianas; porém “modernizavam-se” buscando o

art-déco aerodinâmico. Sobre o urbanismo alemão, constata-se pela apresentação do Prof.

Dr. Günter Weimer a diferença da conformação das aldeias na Alemanha. Especifica-se a

diferença entre o crescimento ao longo de uma estrada, mais característico da Vestfália e a

conformação arredondada, mais independente de uma via, caracterizando a região da

Pomerânia.

Nas cidades e vilarejos analisados, temos dois tipos: a formação de uma cidade independente

de via principal e outra conformando-se ao longo de uma estrada, possivelmente um ponto

estratégico de comércio ou de coleta da produção rural. Ocorre que a maioria das

comunidades realmente formaram-se ao longo de uma via, porém logo tomaram

independência para seu planejamento urbano. Os atuais vilarejos de Gramado e Serrinha

Velha seguem essa conformação, sendo de comunidades mistas ou de maioria italiana. A

cidade de Arroio do Tigre e a comunidade Progresso são de autoria alemã, porém conformam

suas construções mais antigas ao longo do eixo principal da própria cidade, não da rodovia

que interliga as cidades, e seguem um planejamento organizado.

Segredo tem um caso especial de planejamento urbano que deveria ser semelhante ao da

demais cidades, porém ocorreu de forma diferente. A cidade crescia em um lado contornando

o morro enquanto que a casa da família Mainardi, o mais importante comércio da cidade por

anos e que dera origem a ela estava no lado do declive. Almejando o paisagismo tradicional

de sua origem, a igreja matriz foi construída defronte a casa. A família não vendeu nenhum

terreno e a cidade acabou crescendo para o outro lado. Resultado: a cidade continuou

contornando o morro e para o lado oposto de onde deveria seguir, tendo sua igreja de costas,

porém com uma reforma feita pelo Padre João Pasa no sentido de trazer uma nova “frente”

para os cidadãos, foi adicionada uma cúpula e naves laterais no sentido em que a cidade

cresceu. A igreja “modernizou-se” com características italianas, porém o casarão foi demolido

em 2015.

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Um estudo de caso da arquitetura germânica: a casa Ensslin.

A família Ensslin, chegada a Arroio do Tigre se estabeleceu em terras próximas à cidade,

onde construíram a primeira casa de madeira e o primeiro comércio, também de madeira.

Com o passar dos anos, a família acumulou recursos o suficiente para construir a nova

"venda" (armazém) de alvenaria, inaugurada na data pintada na fachada, 1932. Nesta

construção, observa-se características marcantes como:

· Telhado em formato característico;

· Paredes em chapisco de cal;

· Ornamentos planos emoldurando aberturas(em reboco regular);

· Pinturas internas;

No período entre dois a quatro anos depois da finalização do armazém de alvenaria, a família

pôde dar início a construção da nova casa. Anexa ao armazém, segundo relatos da senhora

Erica Ensslin, a família optou por manter o mesmo pé direito do armazém demasiadamente

alto para uma residência, segundo ela, para que se mantivesse a forma e as construções não

tivessem alturas diferentes. A ligação entre as duas construções se dá através de uma parede

com porta que dá acesso não para um espaço interno, mas para o grande alpendre "corredor"

da parte posterior da casa, que liga as duas construções, seguindo até a cozinha, na

extremidade da casa mais longe do armazém; tal parede gera a impressão de, para o

observador que vê as construções da "esquina" de estradas onde a casa fica, parecer ser uma

construção só, fechada. A casa compreende-se por um corredor central com os cômodos

dispostos em torno, um deles com a escada para o sótão que não é conectado ao do

armazém. De modo que um dos cômodos da frente é uma sala, e os dois últimos são a sala de

jantar e a cozinha. O acesso principal se dá para o corredor, não a uma sala. Nesta casa se

observam ainda características originais muito bem conservadas como as pinturas em quatro

cômodos, os móveis (alguns em estilo art nouveau e modernistas). Em ambas as casas,

nenhuma abertura, seja janela ou porta, foi trocada.

Figura 6: fotos do conjunto Ensslin: O interior com pinturas, na direita; uma das fotos antigas da casa; e

abaixo uma foto atual. O primeiro armazém à esquerda e a residência na direita. Fonte: Acervo Pedro

Cremonese e da família Ensslin.

As pinturas:

De fato, é notável o refinamento das pinturas na propriedade Ensslin. Os motivos variam entre

texturas, ornamentos com base geométrica mais modernos, e ornamentos vegetais, mais

tradicionais. No armazém, observa-se cores marrom, bege e detalhes menores em azul. A

porta frontal da residência, na varanda, em seu acesso ao corredor mostra o cômodo com a

pintura mais bem trabalhada da casa, o próprio corredor. Onde os motivos com folhas verdes

e flores brancas na parte superior da pintura seguido por uma textura em tom mais claro

abaixo, e abaixo, um terceiro tipo de pintura "rodapé" alto, com formas quadradas como

molduras. Na sala de estar há o fundo bege com padrões com rosas e formas geométricas.

Segundo Erica Ensslin, neste cômodo a pintura foi feita com gabarito metálico, tal como no

quarto do casal, no outro lado do corredor, que então apresenta um padrão de pássaros e

florais.

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A construção:

Para a construção, em seus relatos dona Erica relata que " foi um pedreiro de Candelária(...).

Ele tinha seus ajudantes, mas ele que era o chefe, que administrava a construção e as

pinturas, tudo era com ele.". Apesar do aparente erudismo presente no traçado e no

ornamento da casa, permanece incerta a formação do construtor. Segundo relatos de dona

Erica, pondera-se se era "engenheiro¹" ou "prático".

Os tijolos vieram da localidade de Arroio Bonito. Naquele tempo, as várias vilas prosperavam

com pequenas indústrias, cooperativas e até hospitais, e mais tarde concorreriam para saber

quais virariam municípios e quais, com as facilidades do automóvel, ficariam dependentes

deles e parariam no tempo, como o que houve com a estagnação de pequenas potências

como Serrinha Velha e Tamanduá, em seus períodos de apogeu. Arroio Bonito, cuja capela

de alvenaria hoje existente data de 1906, é, segundo relatos, a primeira dessas localidades, e

na época de construção das casas da família Ensslin (1932 e 1934) já tinha sua olaria. Dona

Erica relata a rotina para trazer os tijolos, em duas viagens por dia a uma distância de dez

quilômetros.

"Os tijolos, eram duas viagens por dia: saia o carroceiro de madrugada, voltavam perto de

meio dia, descarregavam; e de tarde ia buscar outra viagem de tijolo, lá no Arroio Bonito, tinha

uma olaria lá. E de noite descarregavam ainda, porque, naquela época, trabalhavam era de

manhã até escurecer, não tinha horário assim '6 horas, pára'."

Trecho dos relatos de Erica Ensslin, 2016.

A madeira para pisos e telhados veio da linha Figueira, próxima à vila Tamanduá, outro polo

de colonização alemã onde seu tio, Alberto Ensslin, possuía um engenho que está

funcionando até hoje (sem o mecanismo original) com seu neto, Daniel Ensslin. E as

aberturas, no que se refere a portas e janelas não se sabe a origem, porém cogita-se que seja

das duas maiores cidades próximas, Arroio do Tigre e Sobradinho. O telhado, de zinco, foi

certamente comprado de alguma indústria da região de Porto Alegre.

Um estudo de caso da arquitetura italiana: a casa Mainardi.

A casa da família Mainardi foi construída na década de 1920 para residência e comercio de

Antônio Mainardi e família. Trata-se de uma construção que segue o maior padrão das casas

italianas: o porão de pedra e a construção de madeira acima, sempre em declive, com a

cozinha construída em volume separado, porém essa em questão mais moderna, da década

de 1940 e em alvenaria. A casa foi um grande referencial para a cidade, sendo forte ponto de

comércio e negócios. A família comprava e vendia fumo, enquanto também tinha um grande

armazém em um grande salão feito de largas tábuas de pinheiro araucária dentro do volume

da casa maior. Anexo a ele, havia cozinha, banheiro e saletas. Desses cômodos posteriores

ao salão do armazém e do próprio armazém acessava-se o restante da casa: no volume maior

em madeira, poucos cômodos destinados ao convívio da família, porém a construção menor

separada tinha quatro repartições entre saletas e cozinha. Os quartos ficavam no sótão, três

ao total e uma saleta em torno da escada, com as três águas-furtadas. O porão de pedra era

usado para fabricação de vinho, e no piso havia um pequeno poço d’água usado para

refrigeração das bebidas do armazém encima.

Figura 7: Aspectos sobre a casa Mainardi: na esquerda, a cidade de Segredo na década de 50,

desenvolvida para detrás e em torno da igreja. Na direita a casa vista da torre da igreja. Abaixo,

detalhes do trabalho em madeira. Fonte: Acervo Paróquia São Marcos e Pedro Cremonese.

Construção:

A casa foi feita basicamente de dois materiais: pedra e madeira. As pedras, facilmente

achadas na região, são cortadas em prisma retangular para o porão. A madeira por sua vez,

como na maioria das casas de sua época tem as vigas maiores que sustentam o piso e o

segundo pavimento cortadas em machado, falquejada. As tábuas de piso e das paredes

externas são grandes tabuões de pinheiro araucária, enquanto que as divisórias dos quartos

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são feitas de tábuas menores. A madeira foi retirada da região enquanto ainda estava sendo

desbravada.

Conclusões parciais sobre os modos de organização das sociedades

imigrantes.

De fato, estas comunidades alemãs são reconhecidas no interior do Rio Grande do Sul por

cultivarem uma erudição maior nas suas cidades e casas, sugere-se que provavelmente isso

tenha ocorrido em função da Alemanha não ter tamanha situação de pobreza como na Itália,

sendo a América uma oportunidade de vida nova, não como uma medida de desespero em

meio à miséria.

“Lúri i saria stádi in tel Giardin dal mondo, come che i ghe ciamava. Ma a iéra mia sua la tera,

cári! E li grandi ricassi, qüíi che lá i iera ríchi, ríchi, e cheáltri i iéra póveri, poveri.”

Pietro Radaelli, 1982

“Eles teriam ficado no jardim do mundo, como de fato lhe chamavam. Mas não era deles a

terra, caros! E os grandes ricaços, os que lá eram ricos, eram ricaços, e que fossem pobres,

eram miseráveis. ”

Relato e tradução interpretativa, extraídos da obra de Júlio Posenato, Arquitetura da imigração italiana

no Rio Grande do Sul, 1983.

Por toda a região de colonização italiana há os relatos sobre os tempos antigos com

dificuldades no novo mundo, não como uma queixa de adaptação, mas às condições

insalubres aos quais as famílias ficaram condicionadas seja na cidade, seja no campo. Na

cidade, como em São Paulo, poucos imigrantes tinham abrigo e eram explorados por um

regime de trabalho pós escravocrata sem alguma legislação que defendesse seus direitos

como trabalhadores, no campo, as propagandas sobre as terras disponíveis os faziam crer

sobre campos onde trabalhariam e ganhariam dinheiro. Em vez disso, ganhavam no máximo

as ferramentas (algumas mesmo sem saber usar) e eram enviados para o interior onde o seu

sonhado terreno era nada senão floresta de mata atlântica de araucária, em tamanha serra

íngreme como mesmo na região centro serra onde facilmente se encontra lugares com menos

de um metro e meio de terra acima da pedra vulcânica bruta.

Segundo relato feito por Atílio Miotto, residente de Vila Gramado, a rotina de inverno estava

concentrada no desbravamento da mata que havia ali, tempo que também era usado para a

construção das casas. Claro que havia muita coisa para fazer nas terras desbravadas, como

manutenção das culturas, como podas, porém em menor quantidade do que no restante do

ano. No verão, o trabalho era integral, e era algo extremamente valorizado nas sociedades

imigrantes: se tinhas terra e água, não cultivava apenas aquilo para subsistência e algo a mais

para vender excedentes, mas aproveitava ao máximo aquilo que a terra poderia fornecer,

então um imigrante sem nenhuma experiência em ramos diversos almejava ter, se tivesse

condições, variados ofícios na sua propriedade. Como no caso da propriedade Schneider, na

linha Turvo, Arroio do Tigre/Segredo: a família tinha, além das terras para o cultivo de várias

culturas, um moinho, onde também funcionava a marcenaria que fabricava carroças até início

da década passada, e a ferraria, para consertos em geral e também para as armações das

carroças fabricadas. Ou da casa Mainardi da Linha Guabiroba, com casa de comércio,

engenho de café, serraria e moinho. Então não necessariamente seguiam aquela profissão

que lhes fazia respeito na Europa, ou no seu local de origem no Brasil, mas também havia o

sentido de garantir-se no cenário econômico e experimentar mercados.

Nas comunidades italianas há esse costume de trazer ao alto, elevar a um patamar a igreja,

enquanto que nas cidades alemãs eleva-se o templo, mas a entrada está a menos degraus do

solo. Seria essa uma possível tradução ao feitio do povo alemão de ter contestado Roma e

criado uma nova igreja para si, a luterana? Esse sentimento do culto, planejado, cooperativo,

se vê nas comunidades alemãs até hoje. As ordens não são de cima para baixo, mas se

completam com mais diálogo, enquanto que os italianos foram fortes pioneiros industriais na

Serra Gaúcha, com um sentimento e admiração sobre o trabalho, “lavoro”, que persiste muito

até hoje, como se essa cooperação atuasse de outra forma, menos direta, por mais que

existissem, sim cooperativas nessas regiões Essa admiração e força fizeram com que as

comunidades italianas se desenvolvessem rapidamente. A cidade de Arroio do Tigre, alemã, é

considerada “o celeiro do centro serra” pelo desenvolvimento e produção que a agricultura

ressalta sobre a cidade, com suas cooperativas. A cidade de Sobradinho, mista de

colonização, mas predominantemente italiana, por sua vez, é marcada pelo comércio e

pequenas indústrias.

Casa da família Mainardi em Linha Guabiroba,

Arroio do Tigre. Localidade que já funcionou

com engenho de café, madeireira, casa de

comércio e moinho, além da agricultura.

4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

Referências

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MIOTTO, Vera L. Souza; Pesquisa sobre a história da comunidade Nossa Senhora da

Imaculada Conceição. Manuscritos. Vila Gramado. 2003.

POSENATO, Júlio – Arquitetura da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul. Porto Alegre.

Edições de 1983.

SILVA, Elvan – Matéria, idéia e forma: uma definição de arquitetura. Porto Alegre. 1994.

OLIVER, Paul. Encyclopedia of Vernacular Architecture of the World. Cambridge: University

Press, 1997.

ROHDE, Geraldo. Arquitetura espontânea. IN: WEIMER, Günter (org.). A arquitetura no Rio

Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983.

SILVA, Elvan. Matéria, idéia e forma. Uma definição de arquitetura. Porto Alegre: Editora da

Universidade/UFRGS, 1994.

VELLINGA, Marcel; OLIVER, Paul; BRIDGE, Alexander. Atlas of Vernacular Architecture of

the Word. Nova York: Routledge, 2007.

WEIMER, Günter. Arquitetura popular brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

WEIMER, Günter Origem e Evolução das Cidades Rio-grandenses. Porto Alegre: Livraria do

Arquiteto, 2004.

WEIMER, Günter. A arquitetura da imigração alemã: um estudo sobre a adaptação da

arquitetura centro-europeia ao meio rural do Rio Grande do Sul. 1983.

NOVAES, Sylvia Caiuby. Índios da América do Sul – Brasil – Habitações I. 1983.

VIÑUALES, Graciela María. Arquitectura vernácula iberoamericana. 2013.

Os relatos:

• Atílio Arnegildo Miotto

• Afonso Orlandi

• Elide Lasta Orlandi

• Lourdes Orlandi Seolin

• Gervásio Luiz Seolin

• Modesto Segatto

• Irma Mainardi Segatto

• Nilva Scherer Robert

• Iria Burin

• Mário Borin

• Arlindo Mainardi

• Erica Ensslin

Agradecimento muitos colaboradores na região centro-serra, dos municípios de Arroio do

Tigre, Sobradinho, Ibarama e Segredo, contribuindo para o desenvolvimento deste e de

outros documentos com fotografias antigas, autorização de visitas e documentação com fotos

e livres relatos, entre 2010 para o blog Janelas da Serra Central, e entre o segundo semestre

de 2014 e o segundo semestre de 2015 para a apresentação da pesquisa “O desenvolvimento

da arquitetura vernácula na região de Segredo - RS e Vila Gramado na primeira metade do

século XX” no Salão de Iniciação Cientifica da PUCRS (outubro de 2015) e o artigo

“Arquitetura vernácula na região de Segredo - RS e Vila Gramado na primeira metade do

século XX.” no 4º Seminário Ibero-americano Arquitetura e Documentação. Documentos que

agregaram para este novo artigo, e no ano de 2016 com BIC da PUC-RS, com foco maior na

região germânica do centro-serra para o Salão de Iniciação Científica que ocorrerá em

outubro.