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91 REVISTA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO FRANCISCO ALBERTO DA MOTTA PEIXOTO GIORDANI* ASPECTOS DA PROVA TESTEMUNHAL NO PROCESSO DO TRABALHO Sumário: Prova, sua importância para o processo e para a parte que quer fazer valer um direito seu em juízo; a prova documental e sua superioridade sobre a tes- temunhal, crítica desse posicionamento; diferença entre mentir e dizer uma mentira; fatores que podem influenciar o modo pelo qual uma testemunha capta algum acontecimento; como deve se dar a tomada do depoimento e algumas perguntas que não devem ser formuladas. Palavras-chave: Prova; prova testemunhal; testemunha; testemunho. Trataremos, nesse espaço, de algu- mas questões atinentes aos aspectos psico- lógicos da prova testemunhal, algo que nos fascina e que, por esse motivo, pretende- mos, à medida que o tempo nos permitir, estudá-lo de maneira mais intensa ainda, procurando outros elementos que nos auxi- liem a ter uma maior e mais completa visão sobre tão interessante tema. Ninguém desconhece a importância que o capítulo das provas tem para o direito, material e processual e, dentro dele, a rele- vância da prova testemunhal. Já se disse, e com boa dose de razão, que a prova é a “alma do processo” (Perei- ra e Souza) (01), tendo Bentham afirmado até que o processo nada mais é do que a arte de administrar as provas (02). Com efei- to, para Jeremy Bentham, “el arte del proceso es esencialmente el arte de administrar las pruebas” (03). A importância das provas, em senti- do lato, acompanha o homem desde tempos imemoriais, pois é uma maneira de o homem conhecer melhor a si próprio, o seu compor- tamento. Releva salientar, também, que, ainda quando bárbaras, certas provas, vistas com os olhos de hoje, na sua época tinham por escopo dar certas garantias aos indivíduos, o que era já um progresso; assim, os ordálios, cujas variedades arrepiam só de ouvi-las, ao homem de hoje (embora, talvez nem todos, infelizmente...), mas que, apesar disso, du- raram séculos em quase toda a Europa, como observa o preclaro Marcelo Caetano (04), que cuida, depois, de expor os co- mentários do grande escritor português *Juiz da Vara do Trabalho de Campo Limpo Paulista

ASPECTOS DA PROVA TESTEMUNHAL NO ROCESSO DO … · liem a ter uma maior e mais completa visão sobre tão interessante tema. Ninguém desconhece a importância que o capítulo das

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91REVISTA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO

FRANCISCO ALBERTO DA MOTTA PEIXOTO GIORDANI*

ASPECTOS DA PROVA

TESTEMUNHAL

NO PROCESSO DO TRABALHO

Sumário: Prova, sua importância para o processo e para a parte que quer fazer valerum direito seu em juízo; a prova documental e sua superioridade sobre a tes-temunhal, crítica desse posicionamento; diferença entre mentir e dizer umamentira; fatores que podem influenciar o modo pelo qual uma testemunhacapta algum acontecimento; como deve se dar a tomada do depoimento ealgumas perguntas que não devem ser formuladas.

Palavras-chave: Prova; prova testemunhal; testemunha; testemunho.

Trataremos, nesse espaço, de algu-mas questões atinentes aos aspectos psico-lógicos da prova testemunhal, algo que nosfascina e que, por esse motivo, pretende-mos, à medida que o tempo nos permitir,estudá-lo de maneira mais intensa ainda,procurando outros elementos que nos auxi-liem a ter uma maior e mais completa visãosobre tão interessante tema.

Ninguém desconhece a importânciaque o capítulo das provas tem para o direito,material e processual e, dentro dele, a rele-vância da prova testemunhal.

Já se disse, e com boa dose de razão,que a prova é a “alma do processo” (Perei-ra e Souza) (01), tendo Bentham afirmadoaté que o processo nada mais é do que aarte de administrar as provas (02). Com efei-to, para Jeremy Bentham, “el arte del proceso

es esencialmente el arte de administrar laspruebas” (03).

A importância das provas, em senti-do lato, acompanha o homem desde temposimemoriais, pois é uma maneira de o homemconhecer melhor a si próprio, o seu compor-tamento.

Releva salientar, também, que, aindaquando bárbaras, certas provas, vistas comos olhos de hoje, na sua época tinham porescopo dar certas garantias aos indivíduos,o que era já um progresso; assim, os ordálios,cujas variedades arrepiam só de ouvi-las, aohomem de hoje (embora, talvez nem todos,infelizmente...), mas que, apesar disso, du-raram séculos em quase toda a Europa,como observa o preclaro Marcelo Caetano(04), que cuida, depois, de expor os co-mentários do grande escritor português

*Juiz da Vara do Trabalho de Campo Limpo Paulista

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Alexandre Herculano sobre os mesmos eque são os seguintes:

“Por imperfeitas que elas fossem emgeral, por bárbaro e absurdo que fosse o sis-tema dos juízos de Deus, é certo que o pen-samento de todos esses métodos mais oumenos complicados, mais ou menos segu-ros para averiguar a verdade, fora o de cri-ar garantias a favor da inocência contra ocrime. Para apreciar com justiça a índole desemelhantes instituições convém que se nãovejam à luz da civilização actual, mas que,remontando a essas eras, se meçam peloscostumes e idéias de então, quando o senti-mento religioso, não só profundo, mas tam-bém exagerado, dava gran-de valor ao juramento dealma, sobretudo sendo dadosobre a cruz; a essas erasem que se acreditava que,não bastando à providênciaas leis físicas e morais comque ela revela sabedoriaeterna no regimento dascousas humanas, o seu dedoaparecia a cada momento,em manifestações mira-culosas, e que a vontade dohomem podia compelí-la asemelhantes manifesta-ções”(05).

Acolhida essa argu-mentação, que tem a seulado a elevada autoridade dequem a expôs e umairrecusável solidez, fica cla-ro o quanto é difícil e arriscado enxergarapenas com os nossos padrões certos acon-tecimentos, o que, abstração feita quanto aotempo decorrido, com o exemplo dado, ser-ve também no que tange à prova testemu-nhal, quanto ao aspecto que ora nos interes-sa; em outras palavras, ver com os nossosolhos não significa ver e compreender, emsua plenitude, o que havia e/ou há para verou o que efetivamente aconteceu e/ou acon-tece.

Cabe, por seu turno, ter sempre pre-sente na memória a seguinte realidade: deque adiantará à parte ter um direito se nãoconseguir provar o fato a que o direito seriaaplicável (06); fica, então, fácil avaliar aimportância da prova; nesse passo, inte-

ressante o recordar a referência feita porLuiz Fabiano Corrêa, em seu trabalho acer-ca da prova testemunhal, sobre umensinamento de Jerome Frank, no sentidode que, para este último, “ninguém possuidireito algum antes de tê-lo proclamado umadecisão judicial definitiva. Ainda que na re-alidade os fatos tenham sido outros, de for-ma que de acordo com o direito vigente arazão estaria com fulano, se na sua conten-da com beltrano os testemunhos favorece-rem a esse, normalmente também em favordesse será a decisão. Se isso ocorrer, queserventia terá, na prática, o direito teóricode alguém”(07).

Enfim, como disseEvaristo de Moraes Filho,citando um outro autor es-trangeiro (Bandry-Lacan-tinerie): “A não existênciade um direito e a impossibi-lidade de prová-la são umae a mesma coisa, pois sechega nos dois casos aomesmo resultado negativo”(08); aliás, interessante lem-brar que Carnelutti já dizia que,sem as provas, “em noventay nueve por ciento de lasveces, el derecho no podríaalcanzar su finalidad” (09).

Olvidar não devemosque, há um bom tempoatrás, já dizia o ProfessorJoão Monteiro, reproduzin-

do ensinamento de Raymond Bordeaux, que:“A teoria da prova em geral é um dos maisvastos assuntos que abrir se possam diantedo espírito humano; a filosofia inteira nelase compreenderia, pois que ela mesma tempor objeto a descoberta da verdade” (10).Talvez fosse considerando esses aspectosque Quintiliano, há muito mais tempo ainda,disse que: “O lugar, porém, que mais faz suaros advogados são as testemunhas”(11).

Entretanto, especificamente quanto àprova testemunhal, ela não conta com umaampla confiança do legislador, o que se podeinferir em razão dos limites e restrições es-tabelecidos em lei quanto a sua realização eadmissibilidade, o que foi bem observado pelogrande José Frederico Marques, para quem

“...e que adiantará àparte ter um direito senão conseguir provar o

fato a que o direito seriaaplicável.”

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“a lei tem alguma desconfiança para com aprova testemunhal, o que se manifesta emlimites e restrições pertinentes à sua reali-zação e admissibilidade” (12), ao passo quea prova documental goza dos favores da dou-trina, que a considera, em muito, superior àprova documental.

Assim, o Professor Arruda Alvim, umdos maiores processualistas que temos, afir-ma que “a prova testemunhal não pode serconsiderada, no quadro das provas existen-tes, como sendo a prova ideal. Certamente,a prova documental supera-a de muito” (13),embora aceite a “realidade de que as teste-munhas muito mais dizem a verdade, do quementem, e que o testemunho encerra uma‘presunção’ de verdade” (14).

O culto Eduardo Espínola Filho, apósregistrar que “há um pessimismo demasia-do na generalização das conclusões decor-rentes da observação dos fatos” (15), ob-serva que “o testemunho se manifesta sem-pre como a fonte culminante dos processos”(16), trazendo, em abono a essa observa-ção, o posicionamento de Florian, extraídoda obra “Delle Prove Penali”, vol. 2°, 1926,página 68, no sentido de que “quase nenhumprocesso pode desenvolver-se sem testemu-nhas; o processo concerne a um pedaço davida vivida, um fragmento da vida social, umepisódio da convivência humana, pelo que énatural, inevitável, seja representado medi-ante vivas narrações de pessoas” (17).

Quiçá o valor que alguém empreste àprova testemunhal se ligue, em proporçãoequivalente, ao juízo que essa pessoa façaou tenha do homem, de uma maneira geral,quanto mais desacreditar do ser humano,menor confiança depositará nessa prova, oque, se bem que se possa entender, deveser evitado, pena de se viver inseguro,macambúzio e, em casos mais extremos,tornar-se um misantropo, situação que, a parde não resolver a questão, tornaria tristedemais a vida de quem assim agisse, e oque é pior, injustificadamente, porquanto, ain-da que existam desvios de comportamentoentre os homens – e não são poucos, antes,muitos e variadíssimos-, nem por isso se devedeixar de acreditar no homem, fraco e for-te, alguns mais e outros menos, sob quais-quer desses aspectos, às vezes sem sabercomo caminhar num mundo que se lhe afi-

gura hostil e cruel, pela prevalência do valorpossuir, esmagando o valor ser, mas que sem-pre continuará sendo um filho querido doCriador, realidade essa que, o dia em quefor sincera e realmente compreendida po-derá – assim esperamos –, melhorar, infini-tamente, o relacionamento entre os homens.

Aristocles – ou se se preferir podeser chamado pela alcunha de Platão – emsua obra Górgias, valendo-se dos seus per-sonagens, em trecho no qual o personagemSócrates refuta o personagem Polo, deixaclaro que é mais digno de pena quem come-te uma injustiça do que quem a sofre, confi-ra-se:

“Pol. Digno de dó e infeliz, por cer-to, é quem morre injustamente!

Sóc. Não tanto como quem o mata,Pólo, e não tanto como quem morre pormerecer.

Pol. Como assim, Sócrates?Sóc. Como? Porque o maior dos

males vem a ser praticar uma injustiça.Pol. Esse é o maior? Não é maior

sofrer a injustiça?Sóc. Absolutamente não.Pol. Assim, pois, tu preferes sofrer

uma injustiça a praticá-la?Sóc. Eu não quereria nem uma nem

outra coisa; mas se fosse imperioso oupraticar ou sofrer uma injustiça, eu pre-feriria sofrê-la a praticá-la” (18).

Com aquele que falta conscientemen-te à verdade, na condição de testemunha,deve-se ter o mesmo sentimento: de dó, depiedade, por sua fraqueza, por, como seuprocedimento denuncia, não ter o espíritopreparado e disposto o suficiente para rejei-tar certos interesses menores; é lógico que,para tornar possível o reconhecimento e areparação de certos direitos daqueles queos tiveram desrespeitados, a lei tem de ten-tar coibir a prática do falso testemunho, nemninguém, por certo, aceitará ou se confor-mará em perder um processo porque umatestemunha fez pouco da verdade, por oca-sião de seu depoimento, mas o que aqui secoloca vai além desses aspectos, eis que setem em vista o espírito, a alma, o que há de

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mais essencial numa individualidade, demaneira que, embora ninguém o queira, so-fre menos – no plano que ora se mira – oque tem contra si um testemunho falso, doque aquele que o presta, vistas as coisas,insista-se, de um plano superior, trans-cendental.

Voltando já a um plano mais próximodo dia-a-dia, do cotidiano, de acolher a ma-dura observação de Hélio Tornaghi, paraquem: “a humanidade erraria se proscreves-se as coisas boas apenas pelo perigo decor-rente do seu mau uso. Não são poucas asvidas que o avião tem ceifado. Não obstantesão inegáveis os serviços prestados por ele;o homem o vai melhorandocomo fez com o navio, como trem de ferro, com o auto-móvel e com muitíssimas ou-tras coisas perigosas, masúteis. O conhecimento cadadia maior das regras de psi-cologia experimental e de crí-tica histórica (perfeitamenteaplicáveis neste campo), delógica, de psiquiatria etc, tor-na progressivamente maisseguro e mais facilmente ava-liável o testemunho”(19).

Com renovadas emais firmes esperanças con-tinuemos.

E já para provocar anossa reflexão, pode ser co-locada a seguinte questão: essa superiorida-de da prova documental, embora, de regra,possa existir, o que não se nega, será assimtão forte ou valerá tanto assim para e noprocesso do trabalho, principalmente se lem-brarmos da razão de ser e do conteúdo doprincípio da primazia da realidade, um dosprincípios norteadores do direito do trabalhoe que significa que, em sede trabalhista, émais importante o que ocorre na prática doque o que consta em documentos, o que nãodeixa de ser uma espécie de reconhecimen-to de que o empregado, diante da absolutanecessidade que tem na obtenção do em-prego, pode vir a assinar documentos quenão correspondam ao que verdadeiramenteacontece, aconteceu ou mesmo, por maisincrível que possa parecer, acontecerá...

Como se vê, embora concedendo quea prova documental possui um alto valor egrau de eficiência como prova, no que tocaao processo do trabalho, a sua superiorida-de sobre a prova testemunhal deve ser vistacom muita cautela, em cada caso concreto.

É importante salientar que há quemconsidere que a “mais importante, sob vári-os aspectos, das provas admitidas na lei é aprova por testemunhas” (20).

Vejam que a afirmação ora feita leva,necessária e automaticamente, a uma boavalorização da prova testemunhal no proces-so do trabalho.

E em se tratando doprocesso comum, não podeser colocada a questão se aidéia da prevalência da pro-va documental não pode in-teressar – ou efetivamenteinteressa – a quem tenhacondições de ditar as cláu-sulas de algum contrato,atento a que a existência deuma parte mais forte, compoder de impor sua vonta-de, não é privilégio do direi-to do trabalho.

A realidade é que,apesar das críticas que lhesão feitas, a prova testemu-nhal ainda é insubstituível ede extrema importância, oucomo diz Carnelutti: “é umaprova indispensável, mas in-

felizmente perigosa, que deve ser percebidae avaliada com extrema cautela” (21).

Bem é de ver que a importância dotestemunho, além de evidente, não se limitaà esfera judicial, mas à história, ao mundo.Já parou alguém para pensar quanto deve-mos do que sabemos, supondo, audaciosa-mente, que sabemos alguma coisa, ao quepor outros, durante o transcorrer dos tem-pos, nos foi passado? Será que essa realida-de, que é inafastável, não deixa ver o quãotranscendental é o valor do testemunho paraa evolução e a história do homem? O quesaberíamos do passado mais longínquo, nãofosse o relato de nossos antepassados?

Liga-se às indagações ora formula-das, o quanto asseverado, com a grafia de

“Bem é de ver quea importância do

testemunho,além de evidente,não se limita àesfera judicial,mas à história,

ao mundo.”

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então, por óbvio, pelo Professor JulianoMoreira, no já distante ano de 1926, em ar-tigo intitulado “Psychologia do Testemunho”,a saber: “Há 15 annos passados dizia o no-tável Dupré que se há, em psychologia, ques-tão cujo interesse theorico e pratico se im-ponha à attenção e à crítica de todo espiritoculto é a do testemunho. Não há problemahistórico, nem processo judiciário, que, emtodas as épocas, não evidenciem a extremaimportância de tal assumpto” (22).

Para o então juiz Affonso José de Car-valho, autor de preciosa monografiaintitulada “Inquirição Civel”, “a prova teste-munhal, merece bem que se lhe compare odestino ao de toda a communidade humana.É ella effectivamente antiga como o própriohomem, porque seu apparecimento coinci-diu com os primeiros surtos para aaffirmação do direito individual, e todos osseus passos vieram acompanhando ainfancia, a adolescencia, a idade viril de to-das as civilisações do mundo, de modo areproduzir successivamente a rudezaingenua, a malicia feroz, a ignorancia, o obs-curantismo, a escravidão, a independencia,a liberdade, a educação, o civismo, o pro-gresso moral dos povos em cujas terras foiinvocada para garantia, acquisição e reivin-dicação dos direitos violados. Nenhumasoffreu tanto com o scepticismo de todos ostempos. Indisciplinada e grosseira, no iniciodas civilisações; bulhenta e irriquieta nostribunaes de Roma, desnaturada mais tarde,com a conquista barbara, pelas superstiçõesrestauradoras de praticas fanaticas primiti-vas ou pelas asperas usanças dos conquis-tadores do imperio romano; influenciada,mais tarde ainda, pelo romanismo redivivo epelo Direito Canonico; ora acatada, ora in-juriada, ora castigada, arremessada decodificação em codificação, de systema emsystema, aos solavancos, perdendo aqui ter-reno, reconquistando-o alem, libertada maislonge ainda, ao clarão das grandes reformassociaes, e empurrada finalmente até nossosdias para a plena luz em que se a observa eestuda scientificamente, - pode-se bem di-zer, em verdade, que a prova testemunhaldenuncia, entre as manifestações daactividade humana, em lucta contra asdifficuldades da existencia social, o esforçoperseverante, ás vezes tumultuoso, agitadodas raças para a affirmação do Direito. E é

por isso mesmo que, não obstante a descon-fiança e as injurias soffridas, ella revelousempre e por toda a parte o seu caracter denecessidade e de imprescindibilidade atémesmo nas legislações dos povos queattribuiram mais cedo do que outros umaimportancia excepcional ao testemunhoescripto” (23).

Foi uma longa transcrição, que res-peitou a grafia em que impressa a obra, masapresentamos como escusa e justificativapara fazê-la o próprio conteúdo, a substân-cia, os ensinamentos que o texto reproduzi-do contém, a gerar em nosso espírito a con-fiança de que, em assim procedendo, boaparte do caminho que reputamos conveni-ente, no particular, trilhar, fica já vencido;aliás, aproveitamos o ensejo para esclare-cer que faremos outras transcrições talvez– pois nisso vai uma certa dose de subjetivi-dade – nem tão pequenas, mas quando issoacontecer, deixamos já dilucidado que as-sim procedemos porque avaliamos que re-levante todo o texto reproduzido, como o queo foi e que, se não o fosse tal como feito,poderia redundar em prejuízo à boa com-preensão do que se quer extrair dorespeitante excerto, bem como por entendê-lo transbordante de ensinamento, além doque em muitos casos, trata-se de trabalhose obras antigas e/ou de difícil obtenção, oque, por seu turno, recomenda, também,s.m.j., a reprodução como feita.

Interessa, também, ao que de momen-to se trata, a observação, perspicaz, de An-tonio Dellepiane, no sentido de que: “A féno testemunho humano desempenha umpapel importantíssimo na ciência e em todaa vida humana. Para compreendê-lo é bas-tante lembrar que a maior parte das noçõese verdades que norteiam a nossa condutatem como origem a crença no testemunhodos homens. A existência, por exemplo, deuma cidade que não visitamos é, para nós, ar-tigo de fé unicamente baseado na informaçãodaqueles que a conheceram de vista” (24).

Por outras águas não navegou Vicentede Paulo Vicente de Azevedo, quando pon-derou que:

“No trato comum da vida é incalculá-vel, é incomensurável a extensão, a signifi-cação do testemunho.

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Basta imaginar o que sabemos emrelação ao mundo; considerar o nada quesabemos por nossos próprios recursos e oinfinito que chegou ao nosso conhecimentoatravés da ciência alheia acumulada duran-te séculos” (25).

Parece, como corolário inelutável doque vem de ser exposto, que a prova teste-munhal, tendo embora seus detratores, con-tinua a ter espaço privilegiado entre as es-pécies de provas existentes e que cabe econvém não apenas, conquanto também, sim-plesmente criticá-la, apontando seus possí-veis pontos falhos – que, de resto, em maiorou menor grau, pode-se entender que toda equalquer espécie de prova possui –, mas simprocurar compreender quenão é essa ou qualquer ou-tra espécie de prova que seapresenta vulnerável, masque o próprio homem é queé, em muitos aspectos e va-riadas situações, muito frá-gil, cumprindo, conseqüen-temente, tentar evitar, oquanto se conseguir – o quenão será totalmente possível,num número razoável decasos –, que suas fraquezassempre e sempre prejudi-quem a prova de que ora nosocupamos.

Abrindo seu livro járeferido, o culto AffonsoJosé de Carvalho, faz a se-guinte e curiosa comparação, para depoisconcluir pela relevância da prova testemu-nhal:

“O individuo que, sob pretexto deexistir no espaço quantidade incontavel debacilos de toda a especie nocivos á saude,proclamasse a desnecessidade do aratmospherico para a vida do planeta, mos-trar-se-ia tão enfermo da mente como quemquer que tentasse proscrever da scenajuridica a prova do testemunho oral, sob ofundamento de que essa especie de verifi-cação contem perigos muito serios, e porvezes, funestos á saude e á vida do Direito.A situação é deveras curiosa. Nesta sem-pre interessante materia sente-se o jurista,ás vezes, aturdido entre estas duas verda-des igualmente fortes e irrefragaveis: de um

lado, a da existencia de causas multiplas,frequentes e complexas do desvio e dos er-ros do depoimento oral; de outro, aimprescindibilidade e da perpetuidade dessaespecie de prova para a acquisição, manu-tenção e reivindicação de certos direitos, eminnumeros casos insoluveis por qualqueroutro processo de verificação. Mas, por fe-licidade, elle comprehende que não há fugirnem rebellar-se, pois essa necessidade lheordena que acceite a especie, que se con-forme plenamente com ella, e que não tomeoutro caminho sinão o do melhor estudo daprova, afim de aperfeiçoal-a cada vez mais,até que ela se torne apta ao bom e completofunccionamento do mechanismo juridico” (26).

Destarte, só podemosinferir que, passe a singele-za da expressão, “não dápara abrir mão” da provatestemunhal, pelo que temosque identificar o que pode in-terferir na sua produção, demodo a evitar, tanto quantopossível, fique reduzido e/ouabalado o seu valor proba-tório, quando e sempre queutilizada.

Para tanto e logo deinício, devemos fixar que aavaliação de um depoimen-to em juízo reproduz, no seucírculo de atuação e de in-fluência, um dos grandesdramas da Humanidade,

qual seja, a incerteza, a perplexidade, a faltade segurança no avaliar os efeitos e as van-tagens de determinadas coisas e situações,enfim, o que concluir em alguns momentose sobre alguns comportamentos, o que,logicamente, também repercute, conformeo ângulo sobre o qual se examine a questão,no conceito que se faça acerca da provatestemunhal, o que explica, como já anteri-ormente observado, enquanto para uns alta-mente valiosa, para outros de importânciareduzida; para os primeiros, pela tendênciado homem para a verdade, para os segun-dos, por acreditarem que, por instinto, o ho-mem é mendaz, mentiroso. Lembra SouzaNeto, com base nos ensinamentos dos auto-res que referiu que “no mundo inorgânico eno biológico, a fraude é arma de uso

“não dá para abrir mão” daprova testemunhal, pelo que

temos que identificar o que podeinterferir na sua produção, demodo a evitar, tanto quantopossível, fique reduzido e/ou

abalado o seu valor probatório,quando e sempre que utilizada.

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generalizado e indispensável, na luta pelaexistência. Os vegetais e os animais, dos deínfima categoria aos racionais mais desen-volvidos, iludem, mentem, enliçam, enganam,sistematicamente” (27).

Prosseguindo, o mencionado SousaNeto, sem refolhos, diz que: “Dessas obser-vações nas plantas carnívoras, nos animaismimantes e na humanidade mendaz, os ci-entistas concluiram que, onde quer que hajaluta pela existência, mesmo em sentido fi-gurado, impera a lei absoluta da astúcia, damentira, da simulação, do engodo” (28); indomais longe, chega o nosso autor a afirmarque:

“Investigando a história moral e psi-cológica da humanidade, tem-se a impres-são de que o ‘cogito, ergo sum’, odesprestigiado silogismo de Descartes deveser substituído por êste: Minto, logo existo”(29).

Resta saber se o grande Sousa Netofez alguma distinção entre ter a intençãoconsciente de mentir, de faltar com a verda-de, e dizer uma mentira como conseqüênciade ter algo que não é verdadeiro como se ofosse, o que, bem é de ver, provoca umadiferença sensível no resultado e conclusãoobtidos, até para elevação do conceito doindivíduo que é testemunha em algum mo-mento.

Na obra de sua lavra e já menciona-da nas linhas transatas, o juiz Affonso Joséde Carvalho afirmou que: “Não é lícito ne-gar a tendência natural da testemunha paraa verdade” (30); aliás, para fortalecer essaassertiva, esse autor citou outro, Bonnier, que“até compara a atracção dos espíritos paraa verdade á dos corpos para o centro daterra” (31), com certeza, se referindo aoscorpos com vida, do contrário a sua compa-ração não seria lá muito criativa!

Devemos considerar que o homemmudou, de lá para cá, ou a frase sempre foierrada, como, para muitos, a própria históriaatesta?

Colocando a questão em outros ter-mos: quando há algum desvio num testemu-nho, que o afaste da realidade, é de se atri-buir isso ao incontrolável desejo de mentir,de enganar, ou pode haver algum outro moti-

vo para tanto; e se houver, em quepercentual pode ocorrer esse outro motivoe qual ou quais seriam?

Será que o só fato de servir como tes-temunha já conta contra a pessoa que agenessa condição?

Cada um de nós, como testemunha,como imaginamos seria nosso compor-tamento?...Certamente fazemos um bomjuízo do nosso desempenho, respeitando sem-pre a verdade; então, por que desacreditartanto da testemunha, ou melhor dizendo, deoutro que não nós como testemunha?

Em prol da prova testemunhal, oupara minimizar parte da desconfiança queela produz em certos espíritos, talvez sejainteressante considerar que essa descrençaquanto ao testemunho pode ter como fun-damento, além da inegável falibilidade dohomem, enquanto ser, enquanto observadore enquanto passa o que observa, na circuns-tância de que a testemunha, via de regra,presencia fatos para os quais não estavaprevenida, nem preparada, nem presenciou-os com espírito científico ou com ânimo deanotar e/ou reter o que quer que fosse, sim-plesmente estava presente e/ou soube decerto fato ou acontecimento e depois, àsvezes muito depois, é chamada para relatarum ou outro; não parece claro que é muitoexigir-se, em situações tais que, em cem porcento dos casos, a testemunha saiba ou te-nha condições de rememorar tudo o que viue/ou ouviu? Isso se conforma com a nature-za humana? No particular, serve como luvaa seguinte passagem do já mencionado An-tonio Dellepiane:

“...como não desconfiarmos do tes-temunho, isto é, do depoimento não de umobservador científico, que se rodeia de pre-cauções para notar e anotar os fenômenose que os descreve, logo que produzidos, emtermos precisos, inequívocos; não do obser-vador atento, repetimos, senão de um es-pectador ocasional, indiferente, de ordináriodistraído, a quem os fatos colheram de sur-presa, pode-se dizer, e que sobre eles depõemuito tempo após verificados, de acordo comrecordações semiapagadas na sua mente oumisturadas com outras recordações análo-gas que as alteram?” (32), ou, como diz Irajá

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Pereira Messias, “no testemunho a atençãonão é despertada de forma proposital para ofato, mas de forma inteiramente acidental efortuita” (33).

Lembrando que existem perigos - esérios - na prova testemunhal, o já mencio-nado Affonso José de Carvalho informa quea “testemunha que depõe em juizo realizauma destas varias hypotheses: ou quer dizera verdade e acerta; ou quer dizel-a e se en-gana; ou é indifferente, não faz tenção dementir, mas também não se importa queacerte ou erre; ou, emfim, quer enganar”(34); interessante notar que, além de estarclaro que essa divisão deve comportar ou-tras subdivisões ou particu-laridades, de todo modo, ape-nas uma, das quatro hipóte-ses apresentadas, diz com odesejo de não declarar o quese sabe, dado esse que soacomo tendo um sabor algoalentador, ao menos para osque são otimistas ou que nãoquerem recusar à prova tes-temunhal um bom valor...

Já se disse que a sen-sibilidade não é a mesma en-tre as pessoas. Os indivídu-os não são iguais, e o teste-munho de um fato dependede uma série de fatores.

Para o ex-Professorde Psiquiatria da Universi-dade de Barcelona, EmílioMira y Lopez, “o testemunho de uma pes-soa sobre um acontecimento qualquer de-pende essencialmente de cinco fatores: a)do modo como percebeu esse acontecimen-to; b) do modo como sua memória o con-servou; c) do modo como é capaz de evocá-lo; d) do modo como quer expressá-lo; e) domodo como pode expressá-lo”(35).

O preclaro Eduardo Espínola Filho,por sua vez, lembra os ensinamentos deLanzilli, que “firmou, como requisitos, paraavaliação das testemunhas: I. A ciência, com-preendendo: a) exatidão das idéias recepta-das; b) atenção; c) inteligência; d) reminis-cência; e) habilidade de exprimir com preci-são as próprias idéias; II. A indiferença, quese externa pela ausência: a) de interesses

Já se disse que a sensibilidadenão é a mesma entre as

pessoas. Os indivíduos não sãoiguais, e o testemunho de um

fato depende de uma sériede fatores.

pessoais e diretos: b) de relações naturais:c) de relações morais; d) de relações políti-cas; e) de relações civis; III. A probida-de”(36).

Para o Professor Alberto dos Reis,“a prova testemunhal é particularmente fa-lível, porque é extremamente infiel. O quesucede é que a infidelidade pode derivar detrês causas diferentes:

1º De erro de percepção (a testemu-nha captou mal o facto);

2º De defeito de retenção (a teste-munha, por falta de memória, faz narraçãoinexacta ou incompleta do que viu ou ou-

viu);3º De vício de parci-

alidade (a testemunha fazpropositadamente depoi-mento falso ou reticente porpaixão, interesse, suborno,etc).

Nos dois primeiroscasos a infidelidade éinvoluntária; no terceiro éintencional” (37).

Já para o ProfessorAlberto Pessoa, um depoi-mento presume sempre aseguinte série de operações:

“1ª, que a testemunhaperceba o facto; 2ª, que ofixe na memória; 3ª, que oexprima por palavras” (38).

Dos ensinamentos retro, possível aqui-latar da importância da percepção, para finsde bem situar um testemunho.

Como já se disse, “a testemunha, emprincípio insubstituível no seu papel, é cha-mada a referir as suas percepções de fac-tos passados ( o que viu, o que ouviu, o quesentiu, o que observou” (39).

Diz o Professor português GermanoMarques da Silva: “A testemunha tem antesde mais de ter a percepção sensível dos fac-tos, mas porque na grande maioria dos ca-sos essa percepção é meramente ocasionalsucede também freqüentemente que não seapercebe integralmente deles. Acresce quea capacidade de percepção é muito variável

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de pessoa para pessoa e depende tambémde muitas circunstâncias relativas ao factoe à própria testemunha” (40).

E aqui chegamos num ponto altamen-te sensível e de vital importância na e para aprova testemunhal.

Sim, pois, como realçado por J. P.Porto-Carrero, “o apêlo á credibilidade datestemunha funda-se, no entanto, sob o pontode vista psicológico, no pressuposto de quehaja perfeita fidelidade na percepção do fatoe ainda na evocação e na expressão” (41),sendo que o referido autor, logo a seguir,complementa afirmando: “A fidelidade napercepção já por si é difícil de ser perfeita.Basta lembrar as ilusões de óptica, referi-das em qualquer compéndio de física ele-mentar, assim como as ilusões dos demaissentidos. O nosso sensório é precário: a per-cepção da fórma e da côr, por exemplo, podesofrer deturpações...” (39); ainda na mes-ma página, esse grande mestre dá o exem-plo de como um homem de média estaturapode ser tido por um observador como altoou baixo, dependendo, obviamente, da altu-ra desse mesmo observador...

Numa linguagem bem simples: nãosomos iguais e também por isso não perce-bemos as coisas e os fatos da mesma ma-neira; cada qual, do que se lhe apresentaaos sentidos, capta aquilo para o que suaatenção se dirige e que, via de regra, tem aver com o seu gosto, a sua profissão, as suaspreferências, e o modo como raciocina einterpreta o que vê ou sente, e tudo isso ain-da sofre o tempero da atenção que dedica-mos ao que vemos ou sentimos, sofrendoainda a influência do nosso estado de espíri-to e até da nossa saúde.

Daí a advertência do citado Profes-sor Alberto Pessoa, no sentido de que: “seos aspectos percebidos forem diferentes,poderão dois indivíduos sinceros ficar comuma idea diversa dum mesmo facto, porqueé, como se vem demonstrando, o raciocínioque supre as deficiências de percepção”(43).

Interessante frisar que, às vezes, po-demos falar algo que, para nós, ou melhor,para quem fala, seja verdade, mas que, emrealidade, não o é, e nem por isso mentimos,embora tenhamos dito uma mentira. Sofis-

mamos? Não, pois cumpre distinguir o men-tir de falar uma mentira.

Já o Professor Vicente de PauloVicente de Carvalho, após advertir que, con-quanto “de inteira boa-fé, e por motivos vá-rios, pode a testemunha falsear a verdade,por êrro” (44), lembra que: “a verdade é aadequação da coisa ao intelecto, à inteligên-cia. Ora, a mentira, ou falsidade, consistejustamente em revelar, em manifestar-se emdesacôrdo, em desarmonia com a percep-ção. Se a testemunha for daltônica verá acôr verde onde se encontrar a côr verme-lha. O seu depoimento será verdadeiro, por-que haverá adequação da coisa ao intelec-to, a testemunha vê uma côr, onde se en-contra outra; mas a sua afirmação nãocorresponde à realidade” (45).

Há considerar que as pessoas podemafirmar algo que, para elas, corresponde,sem tirar nem pôr, ao que viram, mas nãoviram correta e/ou integralmente, pois, poruma razão ou por outra enxergaram ou cap-taram um fato ou acontecimento de certamaneira quando, em realidade, esse fato ouacontecimento ocorreu de maneira diferen-te e às vezes, de forma muito diversa daqui-lo que acreditaram ver ou imaginaram bemcaptar, e aí reside a diferença entre mentir edizer uma mentira, de vez que, enquantoaquela significa que o indivíduo afirma, cons-cientemente, o que sabe não ser a verdadepara ele, ao dizer uma mentira, diz algo que,para ele, é verdadeiro, pois o enxergou oucaptou como reproduziu, entretanto, por ha-ver visto ou captado de forma imperfeita,disse uma mentira, mas, e aí está a grandediferença, não teve o deliberado propósitode ocultar ou não retratar fielmente o quetinha como verdade.

O grande Evaristo de Moraes, no jádistante ano de 1920, com toda a sua cultu-ra e experiência, discorrendo acerca da pro-va testemunhal, aludiu às conclusões do “VICongresso de Anthropologia Criminal” (sic),realizado em Turim e que, sobre o testemu-nho, foi no sentido de chamar a atenção paraas recentes experiências que então foramrealizadas, citando excerto do ProfessorBrusa, que relatou a tese respeitante:

“Hoje - dizia o eminente professor -ninguém tem o direito de ignorar que até

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mesmo o homem mais honesto e intelligentenão póde estar certo de ter percebido comexactidão os phenomenos de que foi teste-munha, as coisas que viu, e ouviu ou perce-beu pelo tacto; de haver bem se lembradod’ellas e de ter sabido reproduzir tudo comfidelidade” (46).

Com muita clareza, dilucida o precla-ro Léo da Silva Alves que “dizer mentira éexpor uma coisa falsa que a pessoa crê ver-dadeira; mentir é falar contra a própria cons-ciência” (47).

O mesmo autor, em outro trabalho,mas também de maneira muito clara, dilucidaque há “sutil diferença entre mentir e dizermentiras. Mente aquele que trai a própriaconsciência; que sabe que a afirmação quefaz não corresponde à verdade. Diz mentiraa testemunha que não reproduz um fato ver-dadeiro, embora, para si, pense ser aquilo aexpressão da verdade” (48).

Mas, para tentar obviar e/ou diminuiro quanto possível os males que o mentir po-dem provocar, talvez seja interessante co-nhecer alguns dos sinais que, acredita-se,possam denunciar aquele que está mentin-do, pois, nas palavras de Coriolano Noguei-ra Cobra, “é sabido que quem mente emoci-ona-se mais ou menos intensamente e quequem se emociona exterioriza, por modosdiversos, o que vai no seu íntimo. Sãoexteriorizações da emoção de quem mente:tremor de voz, bôca sêca, movimentos dedeglutição, movimento mais acentuado dopomo de Adão, transpiração mais intensa,rubor ou palidez, incomodidade de posições,movimentos das mãos e dedos, desvio doolhar e outras manifestações” (49).

Por seu turno, Romeu de AlmeidaSalles Júnior assevera que, de rigor, “obser-var o comportamento da testemunha duran-te o ato, a maneira como reage às pergun-tas, se a testemunha se apresenta de modoespontâneo ou aparentando nervosismo. Amaneira de responder às perguntas poderárevelar se a testemunha é ou não parcial emrelação à prova que se produz” (50).

Todavia, bem é de ver que os sinaisacima mencionados ou algum outro, não sig-nificam que, uma vez verificados, inevitávelque quem os apresente esteja mentindo, poissituações existem em que tais manifesta-

ções, ou manifestações similares, podem seoferecer ante nossos olhos, e nem por issoestará à nossa frente um indivíduo que querfalsear a verdade, podemos estar diante deuma pessoa muito tímida ou muito medrosa,ou mesmo uma pessoa que, nem tanto tími-da, nem tanto medrosa, mas sim bem ner-vosa e que, por uma razão qualquer, no mo-mento da inquirição, sente-se desacredita-da, agredida e até humilhada, e como con-seqüência acaba por descontrolar-se – o que,em inúmeras ocasiões, pode interessar mui-to à parte contrária que aconteça...–, mani-festando, então, algum dos sintomas suso-apontados.

Outro fator que pode contribuir paraalterar o estado emocional da testemunha,fazendo com que apresente alguns indíciosde que está deliberadamente faltando coma verdade, sem que isso esteja, em realida-de, acontecendo, é a circunstância de queela sente que, de certo modo, vai influir nojulgamento com o que disser e, de outra par-te, que será julgada também, sensações es-sas que, força é convir, podem perturbar umapessoa pouco ou nada acostumada com taissituações, “em exercer esse papel”, mor-mente se, ainda por cima, é tratada comdesconfiança e até com desdém ou, comosuperiormente dito por Porto-Carrero:

“Se, por um lado, a testemunha per-cebe, intuitivamente, a parcela de juízo quelhe cabe, pois que pode o seu depoimentodar base para a sentença, por outro lado senteela que, ao comparecer perante a autorida-de interrogante, vai, sob certo ponto vista,ser julgada também.

Com efeito, o interrogatório, feito emcipoal de perguntas, dá ao interrogando aimpressão de que o estão torturando; na re-alidade, as suas declarações não merecemfé, por princípio; pois que as mesmas cousassão reperguntadas de maneira diversa, paraapanhar as contradições, sempre no pres-suposto de que a testemunha não fale a ver-dade, ou pelo menos não a diga por inteiroou não tenha certeza sobre os fatos que afir-ma” (51).

As linhas acima transcritas, se lidasimaginando-se no papel de testemunha, le-varão, acreditamos, a que se conclua quenão se cuida de um papel fácil de ser

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desempenhado. Com efeito, já nos imagina-mos sendo indagados duramente, como se,desde que saídos do ventre materno fossemosmentirosos inveterados e a cada respostadada, a parte contrária desse um daquelesmortíferos sorrisos de canto de boca, de es-cárnio? Quantos continuariam impassíveis ecom pleno domínio de seus sentidos?

Muitas causas contribuem para a ine-xatidão do testemunho, dentre as quais po-demos mencionar o hábito, que faz com quese descreva uma situação, mais consideran-do como costumeiramente ela acontece doque como, na determinada situação sob exa-me, os fatos realmente se passaram. Aocontrário do que alguns normalmente pen-sam, há quem sustente que não são os fa-tos insólitos, incomuns, que impressionammais, parecendo até que as pessoas têm di-ficuldades em aceitar o que não é comum.

O mestre Alberto Pessoa, de sua par-te, entende que: “ao nosso espírito pareceque repugna admitir qualquer coisa que nãoesteja de acordo com o uso e a rotina, pre-ferindo-lhe sempre o provável, cuja assimi-lação exige menos esforço, por caber maisexactamente nos esquemas que dispomos”(52).

Há mesmo quem diga que o “hábito,adormecendo a atenção, pode influir paraque alguém julgue ver cousas ou pessoas,não presentes por ocasião de acontecimen-tos, mas que eram vistas, com frequência,em outras ocasiões. Pode acontecer, tam-bém, o contrário. O hábito pode, embotandoa atenção, concorrer para que passem des-percebidos fatos ou pessoas, realmenteprojetados. Ocorre, aqui, que o registro éfeito pelo subconsciente e não pelo consci-ente” (53).

Influi perigosamente para viciar umtestemunho a sugestão, que está presentequando a pergunta já procura direcionar aresposta para determinado sentido. A per-gunta capciosa, que também deve ser evita-da, perguntas do tipo: “Você já deixou debater na sua esposa?”. MAIS ADIANTE,DESENVOLVEREMOS UM POUCOMAIS A QUESTÃO REFERENTE AOSTIPOS DE PERGUNTAS QUE NÃODEVEM SER ACEITAS E POR QUÊ.

O tempo, sim, o tempo, aquele velhoremédio, segundo antigo e conhecidíssimodito popular que diz que “o tempo é o me-lhor remédio para todas as feridas”. Já pa-ramos para pensar quantos e quantos dadose acontecimentos que nos impressionaramvivamente quando os presenciamos, o tem-po transcorrido fez com que, ou os apagás-semos totalmente da memória ou deles ti-véssemos apenas pálida recordação? Queefeitos mágicos possui o tempo em nossamemória e – por que não dizer? – em nos-sos corações?

Tem-se que o tempo transcorrido fazcom que se percam certos dados da situa-ção, havendo até, ao que consta, experiên-cias que concluíram em percentuais de pos-sibilidade de erro por dia passado da verifi-cação de certo fato.

Para o inesquecível Enrico Altavilla,“há uma Segunda lei geral, que é confirma-da pelas experiências de Stern: a exactidãoda recordação diminui com o decorrer dotempo.

Isto está em relação com a alteraçãoe a dissolução das imagens mentais.

Segundo Philippe, a imagem tende adesaparecer por duas maneiras: ou os por-menores se vão atenuando sucessivamenteou se eliminam um após outro, ou a imagemse desfaz, tornando-se tão confusa que dei-xa de ser representativa, de maneira que osujeito não é capaz de descrevê-la e nemmesmo de voltar a encontrar o seu simplessímbolo verbal” (54).

Os processualistas portugueses quejá nos socorreram neste singelo estudo,Antunes Varela, J. Miguel Bezerra eSampaio e Nora, incisivamente observamque “o tempo exerce uma acção poderosade erosão das vivências de cada facto namemória da generalidade das pessoas: quempresencia um acidente de viação tem, demomento, a imagem viva do facto, que emgrande parte perdeu quando, passados mui-tos meses e às vezes até anos, é chamado adepor em juízo” (55).

Diga-se mais: como apreender a no-ção de tempo decorrido, como e quais oscritérios de que dispomos ou de que nos

102 REVISTA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO

valemos para precisá-lo, a partir de quandose deu determinado acontecimento e/ou fato?

Nesse ponto, de interesse o recordar,uma vez mais, os ensinamentos do preclaroPorto-Carrero, para quem, a noção de tem-po, como ocorre com a de espaço, é muitodifícil de apreender, porquanto a “nossa psi-que não tem meios de perceber diretamenteo tempo: fá-lo indiretamente, por intermédiodas noções de espaço e movimento. O exer-cício, a experiência repetida, podem dar aoindivíduo uma capacidade relativa de avali-ar o tempo decorrido: o número de movi-mentos executados, a observação do ambi-ente, a própria sensação subjetiva de fadigapodem auxiliar, nesse propósito; mas a emo-ção, a angústia de espera, o desejo de verrealizado um fato, o sofrimento podem cau-sar uma supervalorização do tempo; assimcomo o bem-estar, o prazer podem levar oindivíduo a considerar o tempo como para-do” (56); e para bem demonstrar como otempo pode ser diferentemente considera-do em certas situações, o mesmo autor re-produziu de Arthur Azevedo, a parte “finalde um soneto em que o poeta descreve aespera da amante:

‘É o relógio, porém, quem mais meespanta:Pois, se não vens, o mísero seatrazaE se vens, o ditoso se adianta” (sic)(57).Quantas pessoas não pensariam, ao

tomar ciência desse verso, que, agora sim,já sabem o motivo de tanto atrasar o seurelógio, não é a bateria que estáfraca...Outros, esperamos que em númeroconsideravelmente superior, saberão que nãoé defeito do seu relógio, de marca tão con-ceituada, o adiantar sempre e sempre...

O já citado lente Alberto Pessoa en-sina que:

“Importa, porém, tomar em conside-ração que nós só temos conhecimento dotempo pelo seu conteúdo.

A avaliação duma duração dependemuito afinal da atenção prestada, durante oseu desenvolvimento, ao facto a que ela dizrespeito, e ainda do maior ou menor númerode coisas acontecidas durante o intervalo de

tempo considerado e que tenham ficado gra-vadas na memória. Se forem muitas, o lap-so de tempo parecer-no há grande; se fo-rem poucas, pequeno”(sic) (58).

Parece-nos que ambas as colocações,a de Porto-Carrero e a de Alberto Pessoa,se completam, não se excluem, já que traz,cada uma delas, aspectos que, indubita-velmente, contribuem para uma fixação maisprecisa ou ao menos, mais aproximada, dotempo decorrido, nos casos em que há ne-cessidade ou interesse de fixá-lo.

De nossa parte, montamos praça naidéia de que se deve acreditar que, em prin-cípio e como regra, o tempo provoque algu-ma perda na capacidade de se remontar namemória um fato ou acontecimento, mas -e isso é muito importante reter – existeminúmeros outros fatores que podem fazercom que a ação do tempo não seja tão dele-téria assim, quanto a determinado indivíduoou quanto a um determinado fato ou acon-tecimento presenciado por uma pessoa, de-pendendo do estado de espírito da pessoano respectivo momento, de faculdade espe-cial de memorização e retenção queporventura tenha, do quanto o fato ou acon-tecimento o tocou, o emocionou, o assustouou por qualquer outra razão tenha atingido emarcado, com cores vivas, o seu âmago etc.

Prosseguindo, a tendência afetiva, sim,porque não há vivências ou percepções neu-tras, de modo que a afetividade pode levar aque se aumente ou disfarce a realidade, semque exista uma vontade consciente emalterá-la, por exemplo: os pais de jovens ra-pazes que acham que todas as meninasolham apenas para eles, enquanto outros paisacham que as mesmas meninas e tambémquaisquer outras, só olham para os seus fi-lhos e para ninguém mais; note-se, nessescasos, nenhum dos pais está mentindo, que-rendo enganar conscientemente, mas o modode ver de cada qual, provocado pela ten-dência afetiva, não é o mesmo.

Seguindo, em respeito ao provérbioque diz que “vamos em frente que atrás vemgente”, será absurdo imaginar que no siste-ma em que vivemos, não é até certo pontocompreensível que um dado empregado, quese sinta brutalmente explorado, queira –

103REVISTA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO

ainda que inconscientemente – que outroempregado saia vitorioso no processo movi-do contra o que ele julga um patrão explora-dor, ou que um ou outro empregado que fun-cione como testemunha do seu empregador,por receio, também ainda que inconsciente,queira que esse empregador ache “bom” oseu testemunho e ganhe o processo? A na-tureza humana, tão frágil – ou mais frágil -quanto a certos interesses e comportamen-tos em determinados indivíduos não expli-caria esses sentimentos? Não seria negá-la,recusá-los?

O Professor Moacyr Amaral Santosjá dizia que: “da própria situação de humil-dade e dependência dos criados e emprega-dos domésticos se infere a presunção dedesconfiança de seus depoimentos na cau-sa do patrão. Temerosos, por vezes, de so-frer as conseqüências desagradáveis resul-tantes do testemunho prejudicial a este,aqueles pelo interesse em evitá-las faltam àverdade” (59), acrescentando que, com asleis sociais, principalmente as trabalhistas,isso teria mudado; de todo modo, para quemnão pensa exatamente assim, interessante oquanto diz José Mendonça, a respeito dessaquaestio: “O testemunho de subordinados,como os caixeiros, aprendizes, etc., é sus-peito de parcialidade. Tal efeito, porém, de-saparece quando se trata de fatos que ditastestemunhas tinham particular razão de sa-ber, ou quando não são subordinadas ao tem-po do compromisso.

Não é de se concluir pela impresta-bilidade do depoimento da testemunha, sópelo fato de ser ela empregada da pessoaem favor de quem depõe, mormente em setratando de fatos que a mesma tinha razãode saber” (60).

O meio em que a pessoa vive pode –talvez, certamente, em muitos casos – influ-enciar o seu testemunho, pois colhe das ou-tras pessoas as impressões que estas tive-ram e/ou ficaram, relativamente a um certofato ou acontecimento, e aí entra o poder deconvencimento que, porventura, um indiví-duo tenha mais desenvolvido que o outro (nãonos referimos ao bíceps, mas à facúndia, àeloqüência, à oratória). Imaginemos a se-guinte situação: dois empregados seengalfinham em pleno horário de trabalho esão despedidos por justa causa: um empre-

gado que tenha a tudo presenciado pode, noprimeiro momento entender que foi o em-pregado “A” o causador da confusão, porter ofendido o empregado “B”, mas, depois,de tanto ouvir outro empregado que presen-ciou a briga, o empregado “C”, de grandeeloqüência, passar a acreditar que o empre-gado “A” simplesmente se defendeu do ata-que que “B” lhe dirigiu, injustificadamentee, posteriormente, chamado a juízo para de-por como testemunha, depor no sentido doque foi convencido e não daquilo que, de iní-cio, havia entendido ter acontecido.

Lógico, repita-se, que tudo isso quevem de ser comentado, não tira o valor daprova testemunhal, mas obriga a que se ten-te evitar ou neutralizar esses riscos.

Ainda podem ser enumerados váriosoutros fatores, como a tensão provocadapela espera para depor; o ambiente, aliás,quanto ao ambiente, cabe lembrar estudosque concluem no sentido de que o litigantehabitual ou a testemunha habitual, o freguêsda justiça, por sua maior intimidade com oambiente, pode sentir-se mais à vontade e,com isso, ter uma vantagem sobre o litigan-te não-habitual, aquele que pela vez primei-ra, está num ambiente judiciário, o que podeafetar a sua memória, seu depoimento etc(61); entre outros fatores que provocam ten-são podem ser apontados a sala de audiên-cia, isso mesmo, a sala de audiências, e porque não? Quando estamos num hospital,aguardando atendimento ou mesmo no con-sultório de um médico, isso não provoca alte-rações no nosso íntimo, no nosso procedimen-to, o que não dizer, então, de uma sala deaudiências em que nunca estivemos antes?

Outro fator: a timidez da testemunha,que pode fazer, inclusive, com que ela, dian-te de uma pergunta meio áspera, rude, ad-mita que um fato aconteceu, sem que o te-nha visto, apenas por não se ter como forteo suficiente para negar a colocação, sendoque o medo pode, também, provocar a mes-ma reação, ou melhor dizendo, falta de rea-ção. Em quantas situações da nossa vida,diante de algo desconhecido ou de algumaincerteza ou dúvida, não ficamos alterados,sem certeza quanto ao que fazer?

Há, ainda, que considerar o própriocaráter, a personalidade da testemunha,

104 REVISTA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO

umas falam demais e completam seus de-poimentos com criações de sua imaginação,o que fazem, não por mal, mas por acredita-rem que as coisas assim se passaram; ou-tras falam de menos e nem com “saca-ro-lhas” se tira muito delas, isso para não falarnos depoimentos dos idosos e das crianças,estas porque, ao contrário do que muitagente pensa, no sentido de que as criançassempre falam a verdade, já ensinavaNapoleão Teixeira que “a mentira é uma dascaracterísticas da psicologia infantil” (62), equanto aos idosos, todos sabemos das difi-culdades de retenção dos fatos com o pas-sar dos anos.

Todas essas causas,por óbvio, influenciam o de-poimento do trabalhador en-quanto testemunha (e comoparte também) e até, acre-ditamos, numa intensidadebem maior, pela sua própriasimplicidade, agravada pelacircunstância de que, comolembra Maurice Garçon,“não é verdade que um ho-mem inculto saiba exprimirclaramente o seu pensamen-to” (63), e não se pode fugirdo fato de que o trabalhadorbrasileiro, regra geral, é umhomem de poucas luzes,embora seja, também, umaconstatação, que pode influ-enciar um depoimento, inde-pendentemente da condiçãode trabalhador ou não, a de que não basta apercepção e boa retenção do fato, já queresta a vencer, para reproduzí-lo em juízo,narrá-lo de forma a ser compreendido, tan-to que se fala ser “uma aptidão pouco fre-qüente a que permite descrever bem” (64).

Daí se infere que, para que o depoi-mento seja útil, é preciso ter grande paciên-cia com a testemunha, de modo geral e, par-ticularmente, tratando-se de um trabalhador,procurando fazê-la sentir-se à vontade esegura quando do seu depoimento, e tendomuito cuidado no formular e dirigir as per-guntas, para que sejam bem compreendidas.E quanto à formulação de perguntas, deveser feita respeitando-se o nível cultural datestemunha. Parece claro que, perguntas

feitas com termos incompreensíveis ou demuito difícil compreensão, poderão levar arespostas distorcidas, comprometendo o re-sultado. Imagine-se uma pergunta formula-da nesses termos a um trabalhador muitosimples: “É fato que o seu colega “X” davaamplexos e osculava em pleno horário e lo-cal de trabalho, sem se preocupar com areação das suas colegas de trabalho, se elaspermitiam, aceitavam ou concordavam comisso ou não?”, e isso para saber se o empre-gado abraçava e beijava outras emprega-das, nos horário e local de trabalho, sem queelas quisessem ou permitissem tal compor-tamento.

E aqui surge a per-gunta que, como diriam osantigos, não quer calar: ojuiz, sentido que a testemu-nha não está conseguindo seexpressar bem, fazendo-secompreendida, deve ir emseu socorro, auxiliando-a, ouisso pode ser visto ou consi-derado como quebra da im-parcialidade que deve ca-racterizar seus atos?

A questão é tormen-tosa, podendo-se extrair ar-gumentos para sustentarambas as posições, masachamos que deva ser pe-sado, com especial atenção,que difícil falar em quebrade imparcialidade, nessecaso, pois, então, como fi-

caria a seguinte ponderação: não acabariapor quebrar a imparcialidade o juiz que, vendoque a testemunha muito tem a contribuir nabusca e para estabelecer a verdade, mas nãoestá conseguindo fazê-lo, por dificuldade emfazer-se compreendida, nada faz para que aprova seja útil, não estaria abalando a im-parcialidade, na medida em que isso seriabenéfico ou favoreceria a parte contra quema prova está sendo produzida? E o interessedo Estado na justa composição da lide? Fa-tores esses que, no nosso modo de ver, re-comendam que o juiz procure auxiliar a tes-temunha, de modo que seja valioso para asolução do processo o seu testemunho, mes-mo porque, como salienta FrancescoChimenti, “outro aspecto que vicia

“...para que o depoimento sejaútil, é preciso ter grande

paciência com a testemunha, demodo geral e, particularmente,

tratando-se de umtrabalhador, procurando

fazê-la sentir-se à vontade esegura quando do seu

depoimento.”

105REVISTA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO

determinados depoimentos é a rusticidadede certas testemunhas que se encontram pelacarência na forma de expressar o eventopresenciado. Torna-se indispensável que ojuiz venha em auxílio dessa insuficiência. Orelato dessas pessoas torna-se dificultado efalho. Muitas vezes, as omissões são fatosimportantíssimos que deixam de ser menci-onados” (65)

Nesse passo, cabe recordar a obser-vação do Professor Juan Montero Aroca,da Universidade de Valência, no sentido deque “el testigo no se elige, viene determina-do por su relación histórica com los hechossobre los que declara” (66), ou seja, a partenão escolhe aquela testemunha que, no seumodo de ver, seria a testemunha ideal paradepor, por sua desenvoltura, sua vivacidade,sua facilidade de expressão, mas terá quecontar com as que, efetivamente, podemesclarecer o juízo sobre fatos relevantes parao deslinde da controvérsia, se assim é e sedeterminada parte, por uma razão qualquer,só puder contar como testemunhas, compessoas excessivamente tímidas e medro-sas, por exemplo, que têm quase invencíveisdificuldades de se expressar, essa parte es-tará irremediavelmente condenada a não terêxito no processo, por não conseguir produ-zir boa e robusta prova dos fatos que lhecabia demonstrar, já que proibido ao juiz deatuar, auxiliando a testemunha que não con-segue se expressar como seria necessário?Será justo? Estará de acordo com os finsque justificam a existência de um processojudicial? Deixamos a pergunta para que cadaum responda-a de acordo com suas convic-ções.

Gostaríamos de acrescentar que, porum ou por alguns dos motivos já apresenta-dos, é natural que não possa a testemunhadar, para utilizar uma expressão de PrietoCastro y Ferrándiz, “una reproducciónexacta del hecho, como la placa fotográfi-ca” (67), pelo que algumas pequenas con-tradições e/ou incoerências, por si só, nãoinvalidam um testemunho, antes, conferem-lhe uma maior autenticidade, sendo de seestranhar, isso sim, aquele depoimento emque a precisão de detalhes, de pormenores,vá muito além do que é de se esperar sejanormalmente retido pela memória de quemobserve algum fato; aliás, já se disse –

Gorphe - que “o excesso de certeza é tãopreocupante quanto o excesso de incerte-za” (68).

Na altura em que estamos, temos serde algum interesse falar algo acerca do de-poimento da testemunha, de como ela deveser interrogada e como e quais perguntasdevem ser feitas, bem como umas que de-vam ser evitadas.

A inquirição já foi apresentada comoassumindo, em algumas oportunidades, o “ca-ráter de duelo, de luta entre o interrogante,ansioso por conhecer a verdade e a teste-munha, angustiada por não ser colhida emfalso” (69), talvez por isso tenha sido consi-derada uma arte (70).

Ora, se a inquirição pode ser consi-derada ou um duelo ou uma arte, esta talvezabrangendo aquele, parece evidente que, aparte que fizer as perguntas que entendanecessárias, da forma mais elegante e cor-dial que puder e mesmo que tente refazê-la,se conseguir, para, aceite-se a singeleza dalocução, “tentar pegar a testemunha numacurva”, saiba ou consiga fazê-lo dando aimpressão de que quer um esclarecimento amais, pode ganhar a simpatia e a confiançada testemunha, fazendo com que ela se abrae responda o mais sinceramente que puder,às perguntas que lhe forem dirigidas, sendofácil imaginar as vantagens daí advindaspara que a verdade – a verdade que se pos-sa atingir – surja.

No que tange à repetição de pergun-ta já feita, deve ser evitada essa prática -por isso que acima, falamos, ao cuidar des-se ponto, em se a parte conseguir refazê-la– à uma, porque, como lembra CoriolanoNogueira Cobra:

“A memória pode ser prejudicada,também, por desgastes ou por acréscimos.Para evitar esses dois males, ideal será queas testemunhas relatem os fatos, o menornúmero de vezes possível, porque, nas re-petições, acontece que vão sendo deixadosdetalhes ou, em sentido inverso, vão sendoacrescentados outros, deturpando, de ummodo ou de outro, a exatidão dos aconteci-mentos” (71).

Aliás, a preocupação do aludido au-tor com essa questão é tamanha que ele

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observa que o dito popular que diz que “quemconta um conto aumenta um pouco”, nemsempre acontece, sucedendo, bastas vezes,o inverso, de modo que “quem conta umconto tira um ponto” (72).

À duas, porque, uma vez feita a per-gunta, constando a resposta no termo res-pectivo, no momento adequado se verá doseu valor para o feito em relação ao qual foidada, mesmo porque, regra geral, o fimcolimado com a repetição de pergunta é aobtenção de respostas conflitantes, emba-raçando a testemunha, deixando-a confusa,num momento em que, como salientado, atestemunha não está a vontade ou com ab-soluto domínio sobre ela mesma, salvo ex-ceções. Ademais, essa prática provocariainconciliável cizânia com os fins visados peloprincípio da celeridade processual e mais,num raciocínio talvez extremado, mas quenão pode deixar de ser considerado: se forpermitido repetir a pergunta, qual o critériopara limitar quantas vezes a mesma poderáser repetida, pode-se limitar o “direito” àrepetição em uma só vez? Ou em duas es-tará mais razoável? Quem sabe três, saben-do-se que, no desenrolar do depoimento, umanova resposta pode “reacender” ou “acres-centar” uma nova dúvida a uma resposta jádada por duas vezes? Não nos esqueçamosde que a subjetividade não é boa conselheira!

Com pena de mestre, Eudes Oliveirafere o tema:

“O princípio geral da celeridade pro-cessual, fixado no CPC/1973, no art. 125,II, proíbe a prática de atos inúteis, repeti-dos. Na prática a repetição de perguntas sefaz por falta de atenção do inquiridor ou pormanobra de malícia processual, procurandoprovocar o registro de respostas conflitantes.

Outro tipo de pergunta repetida é aconfirmatória, aquela em que se pede aodepoente a confirmação de resposta já dadaanteriormente.

Esta indagação também é irregular.O que foi dito está registrado, será objeto deapreciação por parte do juiz e das partes,estas por ocasião das razões finais, não sejustificando voltar-se atrás para se pedirqualquer confirmação. Aliás o pedido deconfirmação de resposta já dada implica emtensionar a testemunha, admitir claramente

erro na resposta anterior, levantar tacitamen-te dúvida sobre a afirmação, o queintranqüiliza o depoente e não condiz com aserenidade que deve ser mantida durante ainquirição” (73).

Como se vê, a repetição de pergunta,regra geral (locução que já rende homena-gem e reconhece a existência de exceçãoou de exceções!) deve ser obstada, pois que,em última instância, não tem por escopo ummaior esclarecimento, mas sim uma maiorconfusão, valendo-se principalmente da al-teração do estado emocional da testemunha.

Vamos avaliar um pouco mais esseproblema da repetição de pergunta: supon-do-se que determinada testemunha, indagadasobre um fato, dê uma resposta e, depois,repetida a pergunta, ofereça nova e diferenteresposta, a qual delas se deve dar crédito,admitindo-se que uma o mereça?

Para o notável Pontes de Miranda, emtal situação, “tendo a testemunha depostomais de uma vez, sobre o mesmo ponto, maisatendível é o primeiro depoimento; porqueos outros, diferentes, se presumem (presun-ção hominis) obtidos por outrem (ManuelÁlvares Pegas, Resolutiones Forenses, III,375)” (74); esses “obtidos” a que se refereo grande mestre, não podem ser decorren-tes do que foi dito nas linhas transatas, nosentido de se procurar embaralhar, confun-dir a testemunha, de modo ou na tentativade se obter dois depoimentos contraditóri-os?

É bem de ver que a repetição da per-gunta, sob outro enfoque, inibe, agride e des-respeita a testemunha, o que não deve sertolerado, já que a testemunha tem o direitode ser bem tratada, CPC, artigo 416, pará-grafo 1°, e a repetição da pergunta, comodito, traz implícita, quando menos, uma dú-vida quanto à sinceridade da resposta jádada. Curioso admitir que a testemunha,além dos incômodos que tem de suportar emsua vida pessoal, para funcionar como tal,ainda tenha que ouvir insinuações e/ou co-locações que firam-na. Por isso que acon-tece o que já foi percebido por Locard, cita-do por Porto-Carrero, quanto ao tratamentodispensado à testemunha, e que fazem comquem já foi uma vez, não mais queira sê-lo,são suas as seguintes palavras:

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“Locard faz referência, ainda, a ou-tra espécie de medo, entre as testemunhas– o medo da Justiça. Convém citar as suaspróprias palavras. ‘Ele se explica muito bem,em duas ordens de casos: para aqueles quenão têm a consciência perfeitamente pura(quem ousaria pretendê-lo!) e temem sofrerpesquizas nos seus negócios privados; e paraaqueles, também, que já representaram umavez o lamentável papel de testemunha. Abor-receram-nos muito e ás mais das vezes, pornonada; fizeram-lhes perder o tempo, quepode valer muito e ainda o trabalho. Nãofôram acolhidos melhor que os acusados.Esperaram durante horas, em corredoresgelados e ante-camaras no-jentas. Nos debates, o advo-gado da defesa tentou em-batuca-los. Se o depoimentofôra perigoso para o cliente,não deixou o patrono de lan-çar alguma dúvida sôbre ahonorabilidade, a sincerida-de, o desinteresse da teste-munha. Talvez lhe haja ape-nas perguntado se nunca fôracondenada por atentados aoscostumes: e diante do espan-to do interrogado, tomara umar de quem compreende.Para a viagem custosa, re-cebeu a testemunha uma es-mola miserável. Se, depoisdisso, o acusado se salva,pode a testemunha contarque as suas relações com eleperderão a cordialidade. A partir desse dia,pode quem quizer assassinar a outrem, anteos olhos da testemunha: ela está firmemen-te decidida a nada ver” (75); não se negaque algumas das condições de instalação eoutras melhoraram, de quando escrito o textoretro-reproduzido a esta quadra, mas quan-to ao tratamento em si, da testemunha, ain-da que também tenha melhorado, em algunsmomentos e localidades, demonstram quenão estão, absolutamente, desatualizadas e/ou superadas as respeitantes linhas.

Certamente para obviar, tanto quantopossível, esses males, é que o ProfessorGermano Marques da Silva, fez observar que:

“A prova testemunhal é dos mais im-portantes meios de prova e o dever de tes-

temunhar é não só um dever jurídico, mastambém um importantíssimo dever ético. Astestemunhas para cumprirem o seu deversofrem freqüentemente, porém, graves in-cômodos e elevados prejuízos, não sendomenores a desconsideração com que sãotratadas pelo tribunal, pelos advogados efuncionários. Por isso que muitas pessoasse retraiam em cumprir o dever de colabo-rar com a justiça, o que em muito pode con-tribuir para a sua degradação. Importa, porisso, não olvidar os direitos que assistem àstestemunhas e que ao contrário dos deveresa lei não refere expressamente: esses direi-tos podem sintetizar-se no direito de audiên-

cia, à correção do tribunale a indemnização” (76).

Do que vem de serexposto, aflora a conclusãode que a testemunha devese sentir à vontade, evitan-do-se mesmo dar ao ato deinquirição um aspecto mui-to formal e solene, “o quechega a inibir não poucos”(77), e para que esse fimseja alcançado, quem inter-roga deve se manter calmo,bem sereno, não deixandotransparecer que já tem opi-nião, quando não certeza,uma e outra perigosas, seprematuras, formadas sobreo assunto enfocado.

Salta aos olhos quemais calmo e sereno durante a inquirição,se manterá o interrogador que houver antesbem examinado e definido o que necessitaser provado, preparando as perguntas queprecisam ser feitas, o que deve ser um hábi-to que o tempo não faça perder.

Talvez seja uma utopia, mas o ideal,fazendo-se abstração do dia-a-dia, da reali-dade forense e da absoluta falta de condi-ções, estrutura, maquinários e pessoal comque o Judiciário se depara – e que tanto agra-da aos demais Poderes, por lhe permitircriticá-lo, o que muito os satisfaz -, o idealseria que as perguntas fossem feitas sempressa, talvez até precedidas de uma peque-na conversa, que serviria, inclusive, para sesentir e avaliar o grau de inteligência e de cul-tura da testemunha e seu estado de espírito.

“Salta aos olhos que mais calmoe sereno durante a inquirição, se

manterá o interrogador quehouver antes bem examinado e

definido o que necessita serprovado, preparando as

perguntas que precisam serfeitas, o que deve ser um hábitoque o tempo não faça perder.”

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Relativamente ao grau de inteligên-cia e de cultura, o bem avaliá-lo é de impor-tância irrecusável, o que fica fácil compre-ender se retivermos na memória que as per-guntas devem ser feitas de modo a serem omais amplamente entendidas pela testemu-nha, com o que evitar-se-á uma respostadesconectada com a indagação – note-seque o receio de não ter bem compreendidouma pergunta pode levar a que a testemu-nha, receosa, deixe de dar uma resposta maiscompleta -; de nossa parte, estamos em quea pergunta feita em nível superior à capaci-dade de compreensão da testemunha podelevá-la, ainda que inconscientemente, a as-sustar-se, fazendo com que se preocupe maisem ver o que consegue responder, até, en-tre outros fatores, para não mostrar que nãoentendeu o que lhe foi perguntado, do quepriorizar a invocação da memória para vero que sabe, exatamente, e que tenha algu-ma relação com o que se quer saber, ou seja,quer responder alguma coisa, independen-temente de sua ligação com os fatos ouacontecimentos ocorridos e sobre os quaispoderia ter uma palavra a dar, paraesclarecê-los.

Diga-se mais, porquanto, aquilatando-se, convenientemente, o grau de inteligên-cia e de cultura da testemunha, além de sepoder formular as perguntas empregando-se palavras e frases que ela bem e melhorcompreenderá, ainda se entenderá bem emelhor as palavras e expressões que a pró-pria testemunha utilizará.

Da mesma maneira, a força da provatestemunhal produzida num determinado pro-cesso, não está ou não se mede pela quanti-dade de testemunhas ouvidas, mas sim pelaqualidade do depoimento, de modo que umtestemunho, firme e seguro, pode conven-cer plenamente o julgador, ao passo que doisou três depoimentos desencontrados, incoe-rentes, podem levar, conforme o caso, a quenão se tenha como provado determinadofato, o que leva a que a preocupação dequem deseje provar um fato se direcione àqualidade e não à quantidade das testemu-nhas, mesmo porque, como já dizia AlcântaraMachado, “os depoimentos não se contam,pesam-se” (78), embora, conquanto afirman-do que foi Bacon quem asseverou “que ostestemunhos se não contam, mas se pesam”,

aqui surja a questão levantada por CarlosA. Ayarragaray, no sentido de que, nessecaso, “a dificuldade consiste em encontrara balança da sensibilidade adequada” (79),a qual, s.m.j., bem pode sê-lo quando, den-tre outros fatores, verificada a ausência deelementos que comprometam o “dictum” datestemunha e a harmonia e coerência do quea mesma asseverou, com as demais provasproduzidas nos autos.

Gostaríamos de expor, ainda que ra-pidamente, algumas idéias sobre os tipos deperguntas que podem e como devem serfeitas, de vez que, como já adiantamos an-teriormente, há aquelas que não devem serfeitas, quando menos pelo modo que o fo-ram.

Uma espécie de pergunta que cum-pre seja evitada, é a que dá como certo algoque ainda precisa ser demonstrado, porexemplo, indagar da testemunha quantashoras extras por dia o reclamante prestava,“engolindo” já a, digamos assim, “perguntaantecedente”, eis que precisava ficar esta-belecido antes se o reclamante labutava emregime extraordinário; o Professor EnricoAltavilla chama de perguntas implícitas asem que “pergunta-se um pormenor, dandocomo certo um ponto ou uma circunstânciaque era preciso apurar” (80), dando o feste-jado mestre o seguinte exemplo: “ se diz auma testemunha: de que cor era o casacoda mulher? “Pressupõe-se a certeza de setratar de uma mulher e de que usava casa-co, circunstâncias que, pelo contrário, im-portava averiguar”, o que, dilucida na se-qüência, “pode provocar as mais impressio-nantes confusões, porque a testemunha,amoldando-se a esses dados, que podem serinexactos, julga forçar a sua recordação edeforma-a” (81).

Também não devem ser feitas per-guntas que deixem a testemunha na contin-gência de responder apenas sim ou não, porgerarem uma “facilidade de sugestão” (82),tanto que se recomenda que: “em lugar dese perguntar foi assim ou não foi assim, deveser indagado: como foi?” (83), havendo atéquem advirta que, numa situação dessas, “aresposta ‘sim’ é mais vulgar do que a res-posta ‘não” (84), com o que parece não con-cordar plenamente Altavilla, ao asseverar,contestando outro autor que, quanto à maior

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possibilidade de se responder afirmativa-mente, “não tanto porque, como entendeMetelli, seja mais fácil dizer ‘sim’, mas por-que uma resposta não circunstanciada so-fre, mais facilmente, a sugestão daespectativa e porque esta é mais facilmenteperceptível” (85).

Outrossim, é óbvio que não pode seradmitida uma pergunta que contenha qual-quer tipo de intimidação à testemunha, nem,tampouco, a que ponha em causa, agressi-vamente, a sua credibilidade, pois, “a per-gunta que contenha directa ou veladamenteuma promessa ou ameaça pode suscitar natestemunha o temor de dizer a verdade ou ointeresse em mentir; a que ponha em causa,ofensivamente, a credibilidade da testemu-nha, pode suscitar-lhe como reacção o omi-tir factos relevantes de que tem efetivo co-nhecimento, o desejo de se libertar do tor-mento tão pronto quanto possa ou tambémo mentir como desforra pela agressão de queestá a ser vítima” (86).

Continuando, cabe observar que oCódigo de Direito Canônico (Codex IurisCanonici), possui dois cânones religiosamen-te acertados, quanto à prova testemunhal –e em questão de tratamento dispensado auma testemunha, não se pode questionar aexperiência da Igreja Católica –, trataremosagora de um e logo após, de outro; o que demomento nos importa determina:

“Cân. 1564 – As perguntas sejam bre-ves, adaptadas à capacidade do interroga-do, não abrangendo muitas coisas ao mes-mo tempo, não-capciosas, não sugeridorasda resposta, isentas de qualquer ofensa epertinentes à causa em questão” (87).

E, realmente, assim há de ser, as per-guntas feitas de maneira simples, “curtas,claras e de fácil compreensão”, como dizCoriolano, que ainda acrescenta que não“são aconselháveis as chamadas perguntascomplexas, ou sejam aquelas que envolvammais de um ponto. Cada pergunta deve cui-dar de uma só coisa ou de um só detalhe”(88).

Do mesmo modo, como já retro-men-cionado, a sugestão, “isto é, o automatismooriginado pela presença nas perguntas deelementos que condicionam a resposta emum sentido determinado” (89), na lição de

Eudes Oliveira, “sendo feita, sendo apresen-tada em audiência, não pode mais serreformulada, já que qualquer resposta dodepoente estaria viciada pela sugestão já feitasobre o tema” (90).

No que toca ao tratamento devido àtestemunha, como colocado no cânon suso-transcrito, de se dar a palavra a GermanoMarques da Silva, para quem:

“Uma regra básica se impõe: acorrecção. A testemunha tem direito a exi-gir que a sua honra e consideração sejamrespeitadas por todos os intervenientes pro-cessuais, mormente por parte dos magistra-dos e advogados. A atitude correcta dosmagistrados e advogados para com a teste-munha nada mais significa que a salvaguar-da da consideração que a todos é devida”(91); aliás, não se compreenderia mesmo quealguém, além dos transtornos que o servirde testemunha já acarreta por si só, aindaseja mal-tratada quando inquirida, o que podeprovocar, como salientado, as mais diversasreações, como, verbi gratia, fazer com queaquele que pretendesse dizer a verdademudasse de idéia, ou então, o que não serecorda bem dos fatos, decida não fazer omenor esforço para lembrá-los etc, situaçõesque, como é palmar, em nada contribuiriam– como não contribuiem, para a boa soluçãodos processos em que aconteçam, daí a ab-soluta necessidade de se obstar se verifi-quem situações desse tipo.

O outro cânone que gostaríamos dereferir, é o que dispõe que:

“Cân. 1567- parágrafo 1° (sic) - Aresposta deve ser imediatamente redigida porescrito pelo notário, e deve referir as própri-as palavras do testemunho proferido, aomenos no que se refere diretamente à ma-téria em juízo” (92).

E deve ser assim, ou seja, há procu-rar transcrever no termo de audiência, tantoquanto possível, as palavras que a testemu-nha realmente empregou ou, como superi-ormente dilucidado por Hélio Tornaghi, “aforma usada pela testemunha, seus modis-mos, seu linguajar, são elementos preciosospara a avaliação psicológica do testemunho,para aferição da sinceridade e do grau deinformação do depoente” (93).

110 REVISTA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO

Agora falaremos de algumas situa-ções que, na prática, podem ajudar a avaliaro comportamento de uma testemunha, al-guns exemplos ou sintomas que podem serúteis, desde que não esqueçamos que aspessoas não reagem todas de maneira uni-forme a certos estímulos ou situações, o que,vale insistir, se não for cuidadosamente reti-do, poderá levar a conclusões bem equivo-cadas.

Quando duas – ou mais – testemu-nhas falam acerca de um fato da mesmamaneira, sem discrepância, descrevendo-oigualmente, geralmente se segue a afirma-ção de que o fato que se queria demonstrarrestou cabalmente provado...será? Não é dese suspeitar um tanto quando dois testemu-nhos são absolutamente afinados, sem di-vergência alguma, relativamente à descri-ção de algum acontecimento? AntonioDellepiane faz reservas a depoimentos as-sim tão harmoniosos; são suas as seguintescolocações: “uma identidade completa dasdeclarações, especialmente em certos pon-tos característicos, é antes suspeita e só vemdenunciar o concerto ou a preparação dastestemunhas. Vários espectadores de ummesmo fato jamais verão as coisas do mes-mo modo, nem as apreciarão e relatarão poridêntica forma” (94).

Outro exemplo: a curiosidade de umindivíduo pode levá-lo a depor bem e demaneira mais completa, quando testemunha.Como ensina Altavilla, “para o estudo dotestemunho tem grande valor o exame dacuriosidade, que varia de indivíduo para in-divíduo e que pode explicar-nos a diferençade interesse e, por conseguinte, a diferençade atenção” (95); parece claro que, um in-divíduo que anda pela rua absorto, compe-netrado, sem que nada lhe atraia a curiosi-dade, evidentemente que esse indivíduo, sealgum fato se der por onde ele estiver pas-sando, pouco poderá informar, pois que suacuriosidade não o despertou para o que sedesenrolou sob suas vistas. Vamos a umexemplo bem elucidativo: num domingo ànoite passa, perdido pelas ruas, um torcedorde um time qualquer que não o glorioso SãoPaulo Futebol Clube, esse torcedor andadesolado, arrasado, chutando as pedras queencontra, inconformado porque seu timeperdeu mais uma partida, e então se acusa

por haver escolhido justamente esse timepara torcer, ao invés de torcer para o tri-campeão mundial, o SPFC; esse pobre tor-cedor, por certo, bem pouco perceberá doque ocorrer à sua volta, de maneira que,chamado a depor como testemunha, em ra-zão de algum acontecimento verificado emlocal em que muito triste passava, esse in-divíduo pouco auxiliará a justiça. Brincadei-ras à parte, o que gostaríamos nesse mo-mento é de demonstrar, de enfatizar, a influ-ência que a curiosidade e mesmo o estadode espírito podem exercer, prejudicando apercepção de um acontecimento que se querdepois demonstrar em juízo.

Mais um exemplo: a artimanha, queuma testemunha pode empregar, de fingirnão ter compreendido bem a pergunta, pe-dindo para que a mesma seja refeita e comisso ganhar tempo para ver qual a melhorresposta a dar. Também, é preciso cuidadocom a testemunha que, manhosamente, dêuma de tímida, de que não quer falar nada, edepois, acreditando haver dado uma de“franca, mais tímida”, comece a falar, ou seja,para não provocar desconfianças, em fun-ção de um grande desembaraço, mostra-sereservada, de início, e depois “solta o verbo”.

Permitam-nos os eventuais leitoresque nos socorramos, novamente, do grandeEnrico Altavilla, que nos deixou também aseguinte lição:

“A testemunha que fala com exces-sivo desembaraço, que começa a falar an-tes de ser interrogada, que se mostra ex-cessivamente hostil a uma das partes, pro-voca desconfiança no juiz; assim o compre-endem alguns astutos mentirosos, que che-gam à presença do magistrado ostentando opropósito de não falar e, somente após vi-vas insistências, como pessoas a quem ar-rancam a verdade da boca, acabam por di-zer as suas mentiras. Algumas vezes, dei-xam-se apanhar em banais falsidades, evi-dentemente favoráveis a uma das partes eassim persuadem o juiz que têm uma polari-zação espiritual especial. Quando, peranteas insistências e as ameaças de quem inter-roga, acabam por dizer coisas graves con-tra aqueles que pareciam querer favorecer,parecem seguramente verdadeiros e nin-guém suspeita da sua indigna artimanha.

111REVISTA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO

Outras vezes, mostram-se invadidospor um sentimento de piedade, preocupadoscom a sua amizade, de maneira a parecerque falam com desgosto, que se resignamcom pena ao doloroso dever de dizer a ver-dade. E são descarados mentirosos!”(96).

Uma outra possibilidade que podeocorrer é a de ficar demonstrado que, numdepoimento, algumas afirmações não foramverdadeiras e outras foram-no: isso leva aque não se dê valor a esse testemunho?

Imagine-se uma reclamatória em quese discuta a existência de vínculo de empre-go, o qual acabe sendo reconhecido comotendo existido, com basenum único testemunho; aempresa recorre sustentan-do que a testemunha disseque o reclamante não traba-lhava lá quando ela foi ad-mitida, embora, ao reverso,o reclamante já lá labutasse,o que as próprias datas con-signadas em sua CTPS, exi-bida quando da audiência,bem como outros documen-tos acostados aos autos, far-tamente comprovavam, demaneira que aludido teste-munho não poderia embasarum decreto condenatório. Oque quem nos acompanhaacha? De nossa parte, en-tendemos que não se podeesperar que alguém que vátrabalhar, logo no seu primeiro ou primeirosdias de trabalho, saiba quem já labuta no seunovo emprego, o normal é ficar sabendoapenas quem é o chefe e o colega de traba-lho mais próximo, de maneira que não é porisso que um tal testemunho perca seu valor,se as demais assertivas estiverem afinadascom o mais que dos autos conste, há de seraceito o testemunho. Alberto Pessoa ensinaque:

“Não pode, pois, o facto de se terverificado a exactidão de um certo númerode afirmações bastar para garantir a verda-de de todo um depoimento; nem, pelo con-trário, uma afirmação, que se demonstrouser errônea, servir de argumento para inva-lidar todas as declarações dum depoente,como é uso e costume fazer-se” (97).

Até como conseqüência de tudo quevem sendo dito, resta firme que pequenascontradições num testemunho não odesqualificam, não o desmerecem, mas ser-vem até para conferir-lhe maior valorprobatório.

Outrossim, não se deve interromperou permitir que se interrompa a testemunha,quando ela está depondo, pois isso poderia– e pode, em inúmeras situações -, tirar asua tranqüilidade, perturbar a sua memória,a sua lembrança dos acontecimentos, e mes-mo confundi-la, o que, de resto, é o que sepretende em grande número de casos, quan-do assim se procede. Como bem adverte

Affonso José de Carvalho,não é bom que se “interrom-pa a exposição da testemu-nha. Bem se compreendeque o contrário seria facili-tar a confusão do depoente,o emaranhar da prova” (98).

Agora, uma “dica”que reputamos importantís-sima: não perguntar além donecessário é algo que sem-pre deve ser observado, eisque, não raro, à medida quea testemunha vai respon-dendo em linha com o sus-tentado pela parte, desta háum desejo de comprovar, àexaustão, a veracidade detudo quanto afirmou, o quepode ser prejudicial, em al-

guns casos; veja-se o que, a esse respeito,notou Oliveira e Silva:

“Em matéria de prova, permiti que vosaconselhe, embora hoje em dia, o papel deconselheiro se torne antipático e difícil. Maistarde, quando amadureceres na profissão,estou certo de que não me lembrareis comoum orientador inútil...

Advogados de defesa ou assistentesdo Ministério Público, no processo, nãodevereis reperguntar, demasiadamente, atestemunha. Por que? – indagareis, comestranheza – não é conveniente esmiuçarsempre a verdade?

Sim, em tese. Mas a testemunha éhumana como qualquer um de vós, e, comoqualquer um de vós, tem o direito de

“Até como conseqüência detudo que vem sendo dito, restafirme que pequenas contradições

num testemunho não odesqualificam, não o desmere-

cem, mas servem até paraconferir-lhe maior valor

probatório.”

112 REVISTA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO

consultar o relógio, e, ali mesmo, durante ainquirição, estar preocupada com os seusproblemas quotidianos, cada vez mais pre-mentes, sejam morais, econômicos ou soci-ais.

Mesmo que um juiz, excessivamentebenévolo, defira todas as reperguntas, re-fleti que a testemunha pode irritar-se com avossa insistência, silenciar ou desdizer-se,comprometendo a prova.

Daí a atitude dos profissionais anti-gos, cheios de experiência, que somentereinquirem sobre o indispensável, não esque-cendo certas surpresas amargas que lhecausaram os excessos de indagação à tes-temunha, nos primeiros anos de atividadeforense.

Um juiz, embora tolerante, não per-mite reperguntas ociosas em relação à cau-sa. Por maior liberalidade que se conceda àdefesa, não devemos resvalar no abuso oudesapreço à personalidade da testemunhaque presta um serviço à Justiça, dentro daslinhas da ponderação e da imparcialidade.

Sêde, portanto, concisos, diante da tes-temunha. A prova não é quantitativa, mas qua-litativa. O que impressiona e convence o julgadornão é o pormenor, o lado miúdo ou insignifican-te da questão, mas o essencial, o principal. Nãosão os depoimentos, prolixos ou copiosos, quevão pesar numa consciência acostumada a dis-tribuir razão a quem tem.” (99).

Finalizando, gostaríamos de salientarque a prova testemunhal é algo do homeme, como tal, não tem como ser substituída,pois acreditamos que o homem e nada doque é seu pode ser totalmente substituído,nem pela máquina, pelo coração que nelepulsa e pelos sentimentos que o agitam elevam-no a grandes e elevados feitos, em-bora, às vezes, com alguns deslizes, deslizesesses que, talvez, sejam os estímulos quefaltam para que ocorram as grandes reali-zações.

BIBLIOGRAFIA:(1) Apud Vicente de Paulo Vicente de Aze-

vedo, “Curso de Direito Judiciário Pe-nal”, 2º volume, Edição Saraiva, 1958,página 07.

(2) Apud Hermann Homem de CarvalhoRoenick, “Algumas Reflexões sobre aVerdade e a Certeza no CampoProbatório”, in Ajuris nº 68, ano XXIII,novembro/1996, página 55; tambémVicente de Paulo Vicente de Azevedo,“Curso de Direito Judiciário Penal” cit.,2º volume, Edição Saraiva, 1958, página07.

(3) “Tratado de las Pruebas Judiciales”,Jeremy Bentham, Editorial Jurídica Uni-versitária, México, 2002, página 02.

(4) “História do Direito Português (1140 –1495)”, Marcelo Caetano, Editorial Ver-bo, 2ª edição, página 262.

(5) “História do Direito Português (1140 –1495)” cit., Marcelo Caetano, EditorialVerbo, 2ª edição, página 263.

(6) Sobre esse particular, ver “Curso de Di-reito Judiciário Penal”, Vicente de Pau-lo Vicente de Azevedo, 2º volume, Edi-ção Saraiva, 1958, página 07.

(7) ”Prova Testemunhal”, Luiz FabianoCorrêa, RT n° 762, abril/1999, página773.

(8) “A Justa Causa na Rescisão do Contra-to de Trabalho”, Evaristo de Moraes Fi-lho, LTr, 3ª edição, 1996, página 255.

(9) Apud José Carlos G. Xavier de Aquino, “AProva Testemunhal no Processo PenalBrasileiro”, Saraiva, 2ª edição, 1994, pági-na 08.

(10) “Programa do Curso de Processo Ci-vil”, João Monteiro, 2º volume, Duprat& Comp., 1912, SP, páginas 96/7.

(11) “Instituições Oratórias”, M. FábioQuintiliano, 1º volume, Edições Cultu-ra, SP, 1944, página 234.

(12) Apud Vicente Greco Filho, “Direito Pro-cessual Civil Brasileiro”, 2° volume, Sa-raiva, 1984, página 205.

(13) “Manual de Direito Processual Civil”,Arruda Alvim, 2° volume, RT, 1978, pá-gina 278.

(14) “Manual de Direito Processual Civil”cit., Arruda Alvim, 2° volume, RT, 1978,página 278.

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(15) “Código de Processo Penal BrasileiroAnotado”, Eduardo Espínola Filho, 3ºvolume, Editora Borsoi, 6ª edição, RJ,1965, página 75.

(16) ”Código de Processo Penal BrasileiroAnotado” cit., Eduardo Espínola Filho,3º volume, Editora Borsoi, 6ª edição, RJ,1965, página 76.

(17) ”Código de Processo Penal BrasileiroAnotado” cit., Eduardo Espínola Filho,3º volume, Editora Borsoi, 6ª edição, RJ,1965, página 76.

(18) “Górgias”, Platão, Editora Bertrand Bra-sil S.A., RJ, 1989, página 89.

(19) “Instituições de Processo Penal”, Hé-lio Tornaghi, 4º volume, Saraiva, 2ª edi-ção, 1978, páginas 63/4.

(20) “Manual de Processo Civil”, AntunesVarela, J. Miguel Bezerra e Sampaio eNora, 2ª Edição, Coimbra Editora, Li-mitada, 1985, página 609.

(21) “Como se faz um Processo”, FrancescoCarnelutti, Editora Líder Cultura Jurí-dica, BH, 2001, página 55.

(22) “Revista de Medicina e Hygiene Militar”,Juliano Moreira, ano XV, nº 01, janeiro/1926.

(23) “Inquirição Civel”, Affonso José deCarvalho, Saraiva & C. - Editores,1924, SP, páginas 13/4.

(24) “Teoria da Prova”, Antonio Dellepiane,M.E. Editora e Distribuidora, 2001,Campinas, página 186.

(25) “Curso de Direito Judiciário Penal”,Vicente de Paulo Vicente de Azevedo,2º volume, Edição Saraiva, 1958, pági-na 66.

(26) “Inquirição Civel”, cit., Affonso Joséde Carvalho, Saraiva & C. - Editores,1924, SP, páginas 03/4.

(27) “A Mentira e o Delinquente”, SousaNeto, 1947, s/ed., página 22.

(28) “A Mentira e o Delinquente” cit., SousaNeto, 1947, s/ed., página 26.

(29) “A Mentira e o Delinquente” cit., SousaNeto, 1947, s/ed., página 28.

(30) “Inquirição Civel”, cit., Affonso Joséde Carvalho, Saraiva & C. - Editores,1924, SP, página 06.

(31) “Inquirição Civel”, cit., Affonso Joséde Carvalho, Saraiva & C. - Editores,1924, SP, página 07.

(32) “Teoria da Prova”, Antonio Dellepiane,M.E. Editora e Distribuidora, 2001,Campinas, página 189.

(33) “Da Prova Penal”, Irajá Pereira Mes-sias, 2ª edição, Bookseller, Campinas,2001, página 356.

(34) “Inquirição Civel”, cit., Affonso Joséde Carvalho, Saraiva & C. - Editores,1924, SP, página 04.

(35) “Manual de Psicologia Jurídica”, EmílioMira y Lopez, Livraria Agir Editora,1947, RJ, página 161.

(36) ”Código de Processo Penal Brasileiro Ano-tado” cit., Eduardo Espínola Filho, 3º volu-me, Editora Borsoi, 6ª edição, RJ, 1965,página 77.

(37) “Código de Processo Civil Anotado”,Alberto dos Reis, volume IV, CoimbraEditora, 1987, página 361.

(38) “A Prova Testemunhal”, Alberto Pes-soa, Coimbra – Imprensa da Universi-dade, 1931, página 28.

(39) “Manual de Processo Civil” cit.,Antunes Varela, J. Miguel Bezerra eSampaio e Nora, 2ª Edição, CoimbraEditora, Limitada, 1985, página 609.

(40) “Curso de Processo Penal”, GermanoMarques da Silva, volume II, EditorialVerbo, 1993, páginas 121/2.

(41) “Psicologia Judiciária”, J. P. Porto-Carrero, Editora Guanabara -Wassman, Koogan, Ltda. RJ, s/d, pá-gina 118.

(42) “Psicologia Judiciária” cit., J. P. Porto-Carrero, Editora Guanabara -Wassman, Koogan, Ltda. RJ, s/d, pá-gina 118.

(43) “A Prova Testemunhal”, Alberto Pes-soa, Coimbra – Imprensa da Universi-dade, 3ª edição, 1931, página 44.

114 REVISTA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO

(44) “Curso de Direito Judiciário Penal” cit.,Vicente de Paulo Vicente de Azevedo,2º volume, Edição Saraiva, 1958, pági-na 70.

(45) “Curso de Direito Judiciário Penal” cit.,Vicente de Paulo Vicente de Azevedo,2º volume, Edição Saraiva, 1958, pági-na 84.

(46) “Problemas de Direito Penal e dePsychologia Criminal”, Evaristo deMoraes, Editores Leite Ribeiro &Maurillo, RJ, 1920, páginas 223/4.

(47) “A Prova no Processo Disciplinar”, Léoda Silva Alves, Editora Lumen Juris, RJ,2003, página 131.

(48) “Psicologia Aplicada aos Testemunhos”,Léo da Silva Alves, in “RevistaConsulex”, ano VIII, nº 180, julho/2004,página 38.

(49) “Manual de Investigação Policial”,Coriolano Nogueira Cobra, SugestõesLiterárias S/A, 4ª edição, SP, 1969, pá-gina 67.

(50) “Inquérito Policial e Ação Penal”,Romeu de Almeida Salles Júnior, Sa-raiva, 3ª edição, 1983, página 92.

(51) “Psicologia Judiciária” cit., J. P. Porto-Carrero, Editora Guanabara -Wassman, Koogan, Ltda. RJ, s/d, pá-gina 206.

(52) “A Prova Testemunhal” cit., AlbertoPessoa, Coimbra – Imprensa da Uni-versidade, 3ª edição, 1931, página 30.

(53) “Manual de Investigação Policial”,Coriolano Nogueira Cobra, SugestõesLiterárias S/A, 4ª edição, 1969, SP, pá-ginas 58/9.

(54) “Psicologia Judiciária”, Enrico Altavilla,volume II, Armênio Amado – Editor, Su-cessor – Coimbra, 3ª edição, 1982, pági-nas 264/5.

(55) “Manual de Processo Civil” cit.,Antunes Varela, J. Miguel Bezerra eSampaio e Nora, 2ª Edição, CoimbraEditora, Limitada, 1985, página 615.

(56) “Psicologia Judiciária” cit., J. P. Porto-Carrero, Editora Guanabara -

Wassman, Koogan, Ltda. RJ, s/d, pá-gina 119.

(57) “Psicologia Judiciária” cit., J. P. Porto-Carrero, Editora Guanabara -Wassman, Koogan, Ltda. RJ, s/d, pá-ginas 119/120.

(58) “A Prova Testemunhal” cit., Alberto Pes-soa, Coimbra – Imprensa da Universi-dade, 3ª edição, 1931, páginas 69/70.

(59) “Prova Judiciária no Cível e Comerci-al”, Moacyr Amaral Santos, volume III,Max Limonad, 4ª edição, 1972, página198.

(60) “A Prova Civil”, José Mendonça, Li-vraria Jacintho, RJ, 1940, página 154.

(61) A esse respeito, ver interessante artigode José Ernesto Manzi, na Revista doTRT – 12ª Região, ano 11, número 16,2º semestre, páginas 117/131, especi-almente página 121.

(62) “Psicologia Forense e Psiquiatria Mé-dico-Legal”, Napoleão Teixeira,Curitiba, s/ed., 1954, página 69.

(63) “Ensaios sobre a Eloqüência Judiciá-ria”, Maurice Garçon, Servanda Edi-tora e Distribuidora de Livros Ltda.,2002, página 33.

(64) “Manual de Psicologia Jurídica”, EmílioMira y Lopez, Livraria Agir Editora,1947, RJ, página 169.

(65) “O Processo Penal e a Verdade Mate-rial”, Francesco Chimenti, Forense,1995, página 172.

(66) “El Proceso Laboral”, Juan MonteroAroca, volume I, Libreria Bosch, 2ªedição, Barcelona, 1982, página 304.

(67) “Derecho Procesal Civil”, L.Prieto Cas-tro y Ferrándiz, Editorial Tecnos, 1989,5ª edição, página 185.

(68) Apud Napoleão Teixeira,“PsicologiaForense e Psiquiatria Médico-Legal”,Curitiba, s/ed., 1954, página 78.

(69) “Psicologia Judiciária” cit., J. P. Porto-Carrero, Editora Guanabara -Wassman, Koogan, Ltda. RJ, s/d, pá-gina 206.

115REVISTA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO

(70) “Curso de Processo Penal”, GermanoMarques da Silva, volume II, EditorialVerbo, 1993, páginas 122 e 134.

(71) “Manual de Investigação Policial” cit.,Coriolano Nogueira Cobra, SugestõesLiterárias S/A, 4ª edição, 1969, SP, pá-gina 61.

(72) “Manual de Investigação Policial” cit.,Coriolano Nogueira Cobra, SugestõesLiterárias S/A, 4ª edição, 1969, SP, pá-gina 61.

(73) “A Técnica do Interrogatório”, Eudesde Oliveira, ABC-Fortaleza, 4ª edição,1998, páginas 73/4.

(74) “Comentários ao Código de ProcessoCivil”, Pontes de Miranda, IV volume,Forense, 2ª edição, 1979, página 616.

(75) “Psicologia Judiciária” cit., J. P. Porto-Carrero, Editora Guanabara -Wassman, Koogan, Ltda. RJ, s/d, pá-ginas 189/190.

(76) “Curso de Processo Penal” cit.,Germano Marques da Silva, volume II,Editorial Verbo, 1993, páginas 135/6.

(77) “Manual de Investigação Policial” cit.,Coriolano Nogueira Cobra, SugestõesLiterárias S/A, 4ª edição, 1969, SP, pá-gina 64.

(78) Apud Napoleão Teixeira,“PsicologiaForense e Psiquiatria Médico-Legal”,Curitiba, s/ed., 1954, página 82.

(79) “Crítica do Testemunho”, Carlos ªAyarragaray, Livraria Progresso Edi-tora, Bahia, 1950, página 35.

(80) “Psicologia Judiciária” cit., EnricoAltavilla, volume II, Armênio Amado –Editor, Sucessor – Coimbra, 3ª edição,1982, página 272.

(81) “Psicologia Judiciária” cit., EnricoAltavilla, volume II, Armênio Amado –Editor, Sucessor – Coimbra, 3ª edição,1982, página 272.

(82) “Psicologia Judiciária” cit., EnricoAltavilla, volume II, Armênio Amado –

Editor, Sucessor – Coimbra, 3ª edição,1982, página 272.

(83) “Manual de Investigação Policial” cit.,Coriolano Nogueira Cobra, SugestõesLiterárias S/A, 4ª edição, 1969, SP, pá-gina 66.

(84) “A Prova Testemunhal” cit., AlbertoPessoa, Coimbra – Imprensa da Uni-versidade, 3ª edição, 1931, página 14.

(85) “Psicologia Judiciária” cit., EnricoAltavilla, volume II, Armênio Amado –Editor, Sucessor – Coimbra, 3ª edição,1982, página 272.

(86) “Os Tribunais, as Polícias e o Cidadão– O Processo Penal Prático”, FernandoGonçalves e Manuel João Alves,Almedina, 2ª edição, 2002, página 162.

(87) “Código de Direito Canônico”, EdiçõesLoyola, 1983.

(88) “Manual de Investigação Policial” cit.,Coriolano Nogueira Cobra, SugestõesLiterárias S/A, 4ª edição, 1969, SP, pá-gina 65.

(89) “Manual de Psicologia Jurídica” cit.,Emílio Mira y Lopez, Livraria Agir Edi-tora, 1947, RJ, página 178.

(90) “A Técnica do Interrogatório”, Eudesde Oliveira, ABC-Fortaleza, 4ª edição,1998, página 73.

(91) “Curso de Processo Penal” cit.,Germano Marques da Silva, volume II,Editorial Verbo, 1993, página 134.

(92) “Código de Direito Canônico” cit., Edi-ções Loyola, 1983.

(93) “Curso de Processo Penal”, HélioTornaghi, volume I, Saraiva, 4ª edição,1987, página 423.

(94) “Teoria da Prova”, Antonio Dellepiane,ME Editora e Distribuidora, Campinas,2001, página 191.

(95) “Psicologia Judiciária” cit., EnricoAltavilla, volume II, Armênio Amado –Editor, Sucessor – Coimbra, 3ª edição,1982, página 256.

116 REVISTA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO

(96) “Psicologia Judiciária” cit., Enrico Altavilla,volume II, Armênio Amado – Editor,Sucessor – Coimbra, 3ª edição, 1982, pá-ginas 318/9.

(97) “A Prova Testemunhal” cit., AlbertoPessoa, Coimbra – Imprensa da Uni-versidade, 3ª edição, 1931, página 26.

(98) “Inquirição Civel”, cit., Affonso Joséde Carvalho, Saraiva & C. - Editores,1924, SP, página 71.

(99) “Curso de Processo Penal”, Oliveira eSilva, 3ª edição, Livraria Freitas Bas-tos, 1956, páginas 104/5.