14
7/25/2019 Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente http://slidepdf.com/reader/full/aspectos-relevantes-relacao-populacao-meio-ambiente 1/14  Sinapse Ambiental, v.4 n.2 Dezembro de 2007. 75 ASPECTOS RELEVANTES NA RELAÇÃO POPULAÇÃO X MEIO AMBIENTE Clara Elisa Fernandes Pereira  Cristiane Galvão Afonso  Lícia Neto Arruda ( [email protected]) 1 Mayara Pinheiro Levenhagen Ferreira  Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Acadêmicos do curso de Ciências Biológicas – PUC Minas 1 Rua Nicolina Pacheco, 450/203 – Palmares – Belo Horizonte – MG; (31)3426-1603; Eugênio Batista Leite  Virgínia Simão Abuhid  Professores orientadores do curso de Ciências Biológicas – PUC Minas Resumo O artigo apresenta uma revisão bibliográfica sobre a relação entre o tamanho da população humana e os impactos ambientais. As idéias de Malthus sobre o limite do crescimento populacional imposto pela disponibilidade de alimentos são confrontadas com o desenvolvimento tecnológico, que ampliou estes limites. Surge uma nova problemática que vai além do reducionismo malthusiano e cujo fundamento passa a ser muito mais qualitativo do que quantitativo: mudança de padrão de consumo e valores. A sociedade é marcada por profundas crises que demonstram a esgotabilidade do processo produtivo, que, ao expandir-se globalmente, causa várias formas de degradação sócio- ambiental. O binômio produção-consumo, portanto, gera uma maior pressão sobre os recursos naturais, causando mais degradação ambiental. O agravamento dos problemas ambientais e a crescente sensação de paralisia e insolubilidade dos impactos destrutivos da crise do metabolismo urbano levam o desafio ambiental a centrar-se em ações que dinamizem o acesso à consciência ambiental dos cidadãos a partir de um intenso trabalho de educação. A Educação Ambiental a ser praticada na cidade deve partir da condição do homem como ser urbano, que integra o intenso metabolismo ecossistêmico das cidades. Entretanto, a educação ambiental praticada no ambiente formal da escola apresenta currículos, metodologias e projetos político-pedagógicos que restringem a problemática ambiental a uma visão naturalista. Dimensões fundamentais da dinamicidade da vida são ainda incipientes no âmbito escolar. Ressalta-se ainda o papel da universidade de estabelecer uma conexão entre ciência e qualidade de vida, comprometendo-se com o contexto socioambiental na qual está inserida. Palavras-chave: Controle populacional, meio ambiente, educação ambiental, educação. INTRODUÇÃO A população mundial cresceu rapidamente a partir do início da Revolução Industrial, ampliando os níveis de consumo e degradação ambiental, ambos resultantes

Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

7/25/2019 Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

http://slidepdf.com/reader/full/aspectos-relevantes-relacao-populacao-meio-ambiente 1/14

 

Sinapse Ambiental, v.4 n.2 Dezembro de 2007.

75

ASPECTOS RELEVANTES NA RELAÇÃO POPULAÇÃO X MEIOAMBIENTE

Clara Elisa Fernandes Pereira 

Cristiane Galvão Afonso 

Lícia Neto Arruda ([email protected])1 

Mayara Pinheiro Levenhagen Ferreira 

Pontifícia Universidade Católica de Minas GeraisAcadêmicos do curso de Ciências Biológicas – PUC Minas 

1Rua Nicolina Pacheco, 450/203 – Palmares – Belo Horizonte – MG; (31)3426-1603;Eugênio Batista Leite 

Virgínia Simão Abuhid 

Professores orientadores do curso de Ciências Biológicas – PUC Minas

Resumo

O artigo apresenta uma revisão bibliográfica sobre a relação entre o tamanho dapopulação humana e os impactos ambientais. As idéias de Malthus sobre o limite docrescimento populacional imposto pela disponibilidade de alimentos são confrontadascom o desenvolvimento tecnológico, que ampliou estes limites. Surge uma novaproblemática que vai além do reducionismo malthusiano e cujo fundamento passa a sermuito mais qualitativo do que quantitativo: mudança de padrão de consumo e valores. Asociedade é marcada por profundas crises que demonstram a esgotabilidade do processoprodutivo, que, ao expandir-se globalmente, causa várias formas de degradação sócio-

ambiental. O binômio produção-consumo, portanto, gera uma maior pressão sobre osrecursos naturais, causando mais degradação ambiental. O agravamento dos problemasambientais e a crescente sensação de paralisia e insolubilidade dos impactos destrutivosda crise do metabolismo urbano levam o desafio ambiental a centrar-se em ações quedinamizem o acesso à consciência ambiental dos cidadãos a partir de um intensotrabalho de educação. A Educação Ambiental a ser praticada na cidade deve partir dacondição do homem como ser urbano, que integra o intenso metabolismo ecossistêmicodas cidades. Entretanto, a educação ambiental praticada no ambiente formal da escolaapresenta currículos, metodologias e projetos político-pedagógicos que restringem aproblemática ambiental a uma visão naturalista. Dimensões fundamentais dadinamicidade da vida são ainda incipientes no âmbito escolar. Ressalta-se ainda o papel

da universidade de estabelecer uma conexão entre ciência e qualidade de vida,comprometendo-se com o contexto socioambiental na qual está inserida.

Palavras-chave: Controle populacional, meio ambiente, educação ambiental, educação.

INTRODUÇÃO

A população mundial cresceu rapidamente a partir do início da Revolução

Industrial, ampliando os níveis de consumo e degradação ambiental, ambos resultantes

Page 2: Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

7/25/2019 Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

http://slidepdf.com/reader/full/aspectos-relevantes-relacao-populacao-meio-ambiente 2/14

 

Sinapse Ambiental, v.4 n.2 Dezembro de 2007.

76

de valores e costumes ditados pelo sistema social e econômico consolidado a partir de

então. Tendo em vista a necessidade de lidar com este problema, estudiosos acreditam

que a solução esteja associada à redução do crescimento populacional vinculada a

mudanças no padrão de consumo irresponsável, visando atingir um novo estilo de vida

baseado numa ética global, regida por valores mais humanitários e harmonizadores.

Neste contexto, a atuação da educação, e mais especificamente da educação ambiental,

assume papel fundamental, uma vez que promove a construção de conhecimentos e a

efetivação de ações em prol da qualidade de vida e preservação do meio ambiente e dos

seus recursos.

Este trabalho apresenta uma revisão bibliográfica com foco no crescimento

populacional da espécie humana e suas conseqüências sobre o meio ambiente. A

necessidade do controle populacional e da difusão de mudanças nos valores e condutas

da sociedade por meio da educação, sobretudo, no meio universitário também são

tópicos abordados neste trabalho. A identificação do papel social da educação ambiental

“principalmente em estudantes universitários – considerando que este segmento tem

mais acesso teórico às discussões mais aprofundadas sobre questões relacionadas ao

ambiente e à saúde” (ANDRADE JÚNIOR; SOUZA; BROCHIER, 2004, p. 47) –

torna-se importante para a compreensão do processo de formação dos profissionais e

educadores institucionalizados pela universidade. Trata-se de uma forma de fornecer

subsídios em prol da melhoria desse processo e, consequentemente, da constituição da

educação voltada para a sociedade, que depende e aprende com a sua atuação.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 

As relações entre os seres humanos sofreram profundas alterações dentro de um

espaço de tempo histórico muito curto. Dias (2000) afirma que essa velocidade de

Page 3: Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

7/25/2019 Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

http://slidepdf.com/reader/full/aspectos-relevantes-relacao-populacao-meio-ambiente 3/14

 

Sinapse Ambiental, v.4 n.2 Dezembro de 2007.

77

eventos, conseqüência do processo multidimensional da globalização, consolidou uma

das mais graves preocupações para os cientistas da área ecológico-ambiental: a

capacidade de suporte da Terra – que pode ser definida “como o número de pessoas

compartilhando um dado território que podem para o futuro visível, sustentar um dado

padrão físico de vida, utilizando energia de outros recursos (incluindo terra, ar, água e

minerais) bem como o espírito de iniciativa, competências e organizações” (UNESCO,

1984 apud  HOGAN, 1991, p. 64) – e a viabilidade biológica da espécie humana.

As populações urbanas dependem tanto das suas relações institucionais com

outras comunidades quanto do ambiente físico para a sua sobrevivência. Essa relação

entre sociedade e natureza foi enfraquecida pelo uso da tecnologia. Entretanto, o

crescimento demográfico continuado do mundo moderno tem retomado aspectos dessa

relação. O número crescente de pessoas que passam a adotar os mesmos padrões de

consumo em todo o mundo exerce pressão crescente sobre uma mesma categoria de

recursos, cuja velocidade de regeneração não está sendo observada. 

De acordo com Carmo (2001), ao final do século XVIII, os primeiros

movimentos da Revolução Industrial e o início do processo de urbanização tornaram

mais visíveis o crescimento populacional. Nesse período, Malthus1  sistematizou

informações e teorizou a respeito das implicações desse processo sobre a

disponibilidade de alimentos, lançando as bases da discussão sobre “população e

ambiente”. Na sua visão, esse período de crescimento populacional acentuado devia-se

principalmente ao aumento da natalidade. Trabalhos recentes, no entanto, apontam para

a diminuição da mortalidade – resultante do aumento da oferta de alimentos – como

1 Thomas Robert Malthus (1766-1834): economista e demógrafo britânico, cuja principal contribuição foia teoria sobre o crescimento da população, segundo a qual, a taxa de crescimento populacional estádiretamente relacionada à produção de alimentos (ENCARTA, 2001). Seus trabalhos incentivaram os

primeiros estudos demográficos sistemáticos. (Obra principal: 

 An Essay on the Principle of Population,1978).

Page 4: Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

7/25/2019 Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

http://slidepdf.com/reader/full/aspectos-relevantes-relacao-populacao-meio-ambiente 4/14

 

Sinapse Ambiental, v.4 n.2 Dezembro de 2007.

78

causa efetiva. O mesmo autor afirma que a fecundidade começava a entrar num

processo de decréscimo em função das mudanças estruturais resultantes da

industrialização e da urbanização, que levariam algum tempo para impactar as taxas de

crescimento.

Outra concepção fundamental no trabalho de Malthus diz respeito à

incapacidade da terra em manter continuamente um mesmo nível de produtividade, o

que constitui um fator limitante para a subsistência. Malthus não considerou a

potencialidade das mudanças tecnológicas, advindas da Revolução Industrial, de

ampliar os limites da capacidade de suporte, através do aumento da produtividade e da

diminuição significativa do efeito da “Lei de rendimentos decrescentes” por ele

empregada.

Retomando-se essas questões na entrada do terceiro milênio, segundo Vargas

(1998), parece evidente que a problemática malthusiana deixou de ser apenas de ordem

quantitativa. Visualiza-se uma nova problemática, cujo fundamento passa a ser muito

mais qualitativo (tratando-se de mudanças nos padrões de consumo e nos valores) ou

ético. Carmo (2001, p. 9) ainda cita que:

O informe da ONU acentua que, em termos de volume, o futuro dapopulação mundial depende em grande parte da população que hoje está comidade entre 15 e 24 anos. São as decisões reprodutivas desses 1,1 bilhão de

 jovens, a maior geração da História a entrar na idade adulta, que vãodeterminar quantas pessoas o mundo vai abrigar em 2050.

Vargas (1998) menciona que, se para Malthus, a miséria era capaz de conter o

aumento demográfico, a situação no século XX era que, o aumento da população levava

à pobreza e, consequentemente, à degradação ambiental. Ressaltam-se, nesse sentido,

idéias básicas do que chamamos desenvolvimento sustentável, por meio do qual “o

processo de desenvolvimento deveria levar em conta as características das áreas em

questão, considerando o uso adequado e de organização que respeitem os ecossistemas

Page 5: Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

7/25/2019 Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

http://slidepdf.com/reader/full/aspectos-relevantes-relacao-populacao-meio-ambiente 5/14

 

Sinapse Ambiental, v.4 n.2 Dezembro de 2007.

79

naturais e os padrões sócio-culturais” (BRESSAN, 1996 apud  VARGAS, 1998). Assim,

o controle populacional constituiria uma das bases do processo, levando em

consideração, porém, aspectos ideológicos e comportamentais de cada grupo social.

Existe, portanto, uma corrente que reconhece o problema ambiental, mas atribui ao fator

demográfico um papel secundário, procurando situar a questão em termos de

instituições sócio-econômicas, padrões de acesso à terra e desigualdades sociais.

Conforme estabelecido na 1ª Conferência Internacional sobre População e

Desenvolvimento das Nações Unidas, ocorrida no Cairo em 1994 (CIPD’94),

... as questões populacionais referem-se aos aspectos qualitativos detransmitir uma vida de qualidade, que vai muito além da quantidade de sereshumanos e sim, de como eles vivem. Neste sentido as questões maisdiscutidas cobrem três grandes temas: a reprodução e os direitos que lheestão associados, os problemas sanitários e a sexualidade; o planejamentofamiliar, a livre escolha e o perfil dos serviços de anticoncepção; a família,sua função social, sua segurança e a relação entre seus membros. [...] dadoaos laços entre evolução demográfica e desenvolvimento, três aspectospassam a se destacar: o objetivo de durabilidade ou sustentabilidade dosistema econômico, a necessidade de estimular o crescimento econômicopara lutar contra a pobreza e o direito ao desenvolvimento. [...] A luta contraa pobreza aparece, diferentemente do conceito de Malthus, como uma dascondições, senão a mais importante, na estabilização do crescimentodemográfico”. (LASSONDE, 1996 apud  VARGAS, 1998, p.3070-3071)

A sociedade humana destaca-se pela sua peculiar capacidade de unir esforços e

agregar-se social e economicamente em torno de sistemas produtivos. Isso resultou na

constituição de aglomerados humanos (cidades), bem como, no aumento populacional.

A partir da formação desses aglomerados, começam a surgir problemas ambientais,

provenientes das atividades produtivas, residenciais e sociais dos seres humanos. É nas

cidades onde se concentra a maior parte das atividades econômicas e é também onde se

consome a maioria dos recursos. As cidades acumulam riquezas, mas são também

imensas consumidoras de recursos naturais e geram significativas quantidades de lixo

que precisam ser dispostas de maneira segura e sustentável.

Os problemas ambientais urbanos, de acordo com Grostein (2001), dizem

Page 6: Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

7/25/2019 Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

http://slidepdf.com/reader/full/aspectos-relevantes-relacao-populacao-meio-ambiente 6/14

 

Sinapse Ambiental, v.4 n.2 Dezembro de 2007.

80

respeito tanto aos processos de construção da cidade e, portanto, às diferentes opções

políticas e econômicas que influenciam as configurações do espaço, quanto às

condições de vida urbana e aos aspectos culturais que informam os modos de vida e as

relações interclasses. Os problemas ambientais estão relacionados à economia,

dependência de suprimentos, balanço de energia e hídrico, geomorfologia e

biogeografia das cidades, disposição de resíduos, gestão e planejamento. É, portanto,

necessário que a partir dessa ampla gama de elementos, se desenvolva ferramentas

(gerenciais e tecnológicas), a fim de reduzir os impactos ambientais.  

A sociedade atual é a sociedade do ter em detrimento do ser, do individualismo,

da degradação do meio ambiente, da violência e da competição acirrada. Esta sociedade

é marcada por profundas crises que demonstram a esgotabilidade de um processo

produtivo, que, ao expandir-se globalmente, causa várias formas de degradação sócio-

ambiental. O binômio produção-consumo gera uma maior pressão sobre os recursos

naturais, causando mais degradação ambiental. Para Dias (2002), esta se reflete na perda

de qualidade de vida, por condições inadequadas de moradia, poluição em todas as suas

expressões, destruição de habitats e intervenções desastrosas nos mecanismos que

sustentam a vida na Terra. Mas não é apenas a quantidade de seres humanos que

responde pela rápida destruição do planeta, mas, sobretudo, o seu modo de vida.

Segundo Rocha (2005, p. 14),

A ecologia profunda reconhece a importância de todos os seresvivos e concebe os seres humanos apenas como um fio particular na teia davida. [...] Assim, quando a humanidade sofrer uma mudança radical nos seusvalores, nas suas percepções e no seu pensamento poderá então encontrarsoluções para os principais problemas do nosso tempo.

A abordagem neomalthusiana estabelece que o equilíbrio ambiental apresenta-se

como produto do tamanho e do crescimento da população, que determinam uma relação

direta com a pressão sobre os recursos naturais, resultando na imediata necessidade do

Page 7: Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

7/25/2019 Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

http://slidepdf.com/reader/full/aspectos-relevantes-relacao-populacao-meio-ambiente 7/14

 

Sinapse Ambiental, v.4 n.2 Dezembro de 2007.

81

controle populacional. Não há como negar que o crescimento populacional seja um

problema ambiental, logo, na relação população-meio ambiente, a questão da escolha de

modelos de desenvolvimento e de tipos de tecnologia também se torna fundamental.

Nessa esfera, a população e a tecnologia devem operar dentro de limites,

sublinhando os valores referentes a níveis de consumo e integridade ambiental como

fatores que controlam a relação. Hogan (1991) afirma que maximizar o crescimento

demográfico por maximizar a agricultura de alta tecnologia não é meta de ninguém. Um

grau de controle populacional é necessário ou desejável para alcançar um determinado

nível de consumo (mais consciente) e preservar o ambiente.

Não existe uma relação que seja direta entre a diminuição das taxas de

crescimento populacional e melhorias generalizadas para o conjunto da sociedade. As

relações são complexas, mediadas por fatores econômicos e políticos. Pode-se tomar

como exemplo o fato de que a relação atual entre população e recursos é muito mais

afetada pelo padrão de consumo, estilo de vida e tipo de desenvolvimento dos países

mais desenvolvidos do que pelo aumento populacional dos países pobres. Assim, os

problemas ambientais globais (como efeito estufa, destruição da camada de ozônio,

perda da biodiversidade) seriam resultado, majoritariamente, do padrão de consumo dos

países mais industrializados. Enquanto isso, os países menos industrializados estariam

envolvidos em problemas ambientais mais locais ou regionais (como a desertificação, o

desmatamento, enchentes, poluição do ar, chuva ácida,...), associados principalmente a

situações de pobreza bem como ao esgotamento de recursos naturais. Carmo (2001)

afirma que

Dentro dessa perspectiva de diferenciação de escala dos problemasambientais, que podem ser locais ou globais, a dimensão da questãopopulacional passa a ter outro sentido. Mais relevante que discutir ocrescimento populacional, que se encontra em uma tendência de quedaacentuada, passa a ser a discussão sobre a distribuição da população. A

localização da população e o impacto de sua atividade econômica sobre oambiente local e global são agora as preocupações principais [...]. (CARMO,2001, p. 22)

Page 8: Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

7/25/2019 Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

http://slidepdf.com/reader/full/aspectos-relevantes-relacao-populacao-meio-ambiente 8/14

 

Sinapse Ambiental, v.4 n.2 Dezembro de 2007.

82

Hogan (1991) afirma que há uma versão mais moderada da relação meio

ambiente/população que reconhece outros fatores (além do crescimento populacional)

na equação população/meio ambiente/desenvolvimento, e que vê a pressão demográfica

não como determinante de problemas ambientais, mas como um fator agravante. Sob

essa perspectiva, há espaço para uma análise sociológica muito mais adequada, tanto do

papel do crescimento demográfico quanto do próprio processo de desenvolvimento.

Talvez a incorporação de uma dimensão ética de valorização do ser humano e do

ambiente e uma ênfase menor nas questões econômicas imediatas seja o caminho para a

construção de uma relação mais equilibrada entre população e ambiente.

Philomena (2002) afirma que quando a população que precisa ser mantida numa

área é do tamanho máximo que os recursos disponíveis podem garantir, o crescimento

tem que parar. Certamente a economia atual ainda tem dificuldades para entender e

aceitar esta realidade que ocorre em todos os tipos de sistemas. Desenvolver não quer

dizer crescer sem parar. Mesmo a proposta antiga da ação da tecnologia na busca de

alternativas para se manter o crescimento, substituindo recursos, já não tem base de

suporte. A questão de bom senso sobre a parada do crescimento está sempre vindo à

tona nas discussões sobre o futuro do homem e da natureza. Quando o crescimento pára,

segundo o mesmo autor, o sistema se caracteriza por ter mais especializações na

estrutura, no trabalho, na manutenção e na reciclagem de material. A eficiência e a

organização são maiores que na fase anterior. A cooperação aparece, prevalecendo

sobre a competição.

A busca por sustentabilidade está exigindo da sociedade uma reavaliação das

diversas problemáticas que através do tempo foram deixadas “para depois”. Assim, o

controle da população é uma realidade que terá de ser administrada.

Page 9: Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

7/25/2019 Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

http://slidepdf.com/reader/full/aspectos-relevantes-relacao-populacao-meio-ambiente 9/14

 

Sinapse Ambiental, v.4 n.2 Dezembro de 2007.

83

A sustentabilidade depende da base cultural fundada em padrões de consumo e

estilos de vida globalmente perduráveis. Além disso, Ribeiro (2003) apud   Camargo

Presznhuk e Silva (2003), afirma que a sustentabilidade ambiental está relacionada à

capacidade de suporte dos ecossistemas associados de absorver ou se recuperar das

agressões derivadas da ação humana, implicando um equilíbrio entre as taxas de

emissão e/ou produção de resíduos e as taxas de absorção e/ou regeneração da base

natural de recursos. Se essas condições não forem alcançadas, haverá crescente

deterioração ambiental e diminuição da base de recursos.

A idéia de sustentabilidade apresentou, inicialmente, um cunho notadamente

econômico a ponto de alguns pensarem ser possível prescindir dos fundamentos da

ecologia nas práticas sustentáveis. Segundo Camargo, Presznhuk e Silva (2003), do

ponto de vista sociológico, a ecologia pode ser definida como o conjunto de crenças,

teorias e projetos que contempla o gênero humano como parte de um ecossistema mais

amplo, e visa, numa perspectiva dinâmica e evolucionária, manter o equilíbrio desse

sistema por meio do equilíbrio de suas estruturas, redes e ciclos de causa e efeito. Essa

noção de sustentabilidade implica uma necessária inter-relação entre justiça social,

qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a necessidade de desenvolvimento com

capacidade de suporte.

A sustentabilidade, portanto, segundo Costa et al.  (2004), está inexoravelmente

associada à redefinição de valores e padrões de desenvolvimento capazes de frear o

crescimento populacional. Dessa forma, constata-se que o constante aumento

populacional e a expansão de centros urbanos têm exigido cada vez mais ações no

sentido de se promover sociedades sustentáveis, com riscos do comprometimento da

qualidade de vida das gerações atuais e da sobrevivência das gerações futuras.

Tendo como referência o agravamento dos problemas ambientais e a crescente

Page 10: Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

7/25/2019 Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

http://slidepdf.com/reader/full/aspectos-relevantes-relacao-populacao-meio-ambiente 10/14

 

Sinapse Ambiental, v.4 n.2 Dezembro de 2007.

84

sensação de paralisia e insolubilidade dos impactos destrutivos da crise do metabolismo

urbano, o desafio ambiental deve centrar-se em ações que dinamizem o acesso à

consciência ambiental dos cidadãos a partir de um intenso trabalho de educação. Jacobi

(1999), afirma que é preciso fazer crescer o nível de consciência ambiental, ampliando

as possibilidades da população participar mais intensamente nos processos decisórios

como um meio de fortalecer a sua co-responsabilidade na fiscalização e controle de

agentes responsáveis pela degradação sócio-ambiental.

Neste contexto e segundo Dias (2000), a Educação Ambiental teria como

finalidade: promover a compreensão da existência e da importância da interdependência

econômica, política, social e ecológica da sociedade; proporcionar a todas as pessoas a

possibilidade de adquirir conhecimentos, o sentido dos valores, o interesse ativo e as

atitudes necessárias para proteger e melhorar a qualidade ambiental; induzir novas

formas de conduta nos indivíduos, nos grupos sociais e na sociedade em seu conjunto,

tornando-se apta a agir em busca de alternativas de soluções para os seus problemas

ambientais, como forma de elevação da sua qualidade de vida.

A Educação Ambiental a ser praticada na cidade deve partir da condição do

homem como ser urbano, que integra o intenso metabolismo ecossistêmico urbano. Para

tanto, os recursos instrucionais devem ser elementos facilitadores de ações que visem à

promoção de percepção de suas realidades sociais, políticas, econômicas, ecológicas e

culturais.

Segundo Leff (2001), citado por Andrade Júnior, Souza e Brochier (2004), a

educação ambiental é um processo no qual incorporamos critérios sócio-ambientais,

ecológicos, éticos e estéticos nos objetivos didáticos da educação, com o intuito de

construir novas formas de pensar, incluindo a compreensão da complexidade, das

emergências e inter-necessidade crescente de promoção da ação, em detrimento da

Page 11: Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

7/25/2019 Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

http://slidepdf.com/reader/full/aspectos-relevantes-relacao-populacao-meio-ambiente 11/14

 

Sinapse Ambiental, v.4 n.2 Dezembro de 2007.

85

simples conscientização. A Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, trata a educação

ambiental como um conjunto de “processos por meio dos quais o indivíduo e a

coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e

competências voltadas para a conservação do meio ambiente”, sendo um “componente

essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma

articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e

não-formal”. (BRASIL, 1999)

As responsabilidades e atribuições da educação ambiental estão, portanto,

diretamente ligadas ao processo de construção de conhecimentos. Tendo em vista o

potencial formador da educação (vista, segundo Trevizan (2000), como o nível das

condições mentais, morais e do saber fazer e, ao mesmo tempo, como processo de

aquisição desse complexo de saberes), busca-se a efetivação de ações em prol da

qualidade de vida, da preservação do meio ambiente e dos seus recursos.

A educação é fundamental na busca da compreensão e da solução desses

problemas ambientais. Corroborando esta idéia, a UNESCO (órgão das Nações Unidas

para a Educação) ergueu quatro pilares para orientar a educação e o papel da escola para

este século, sendo eles: 1º - Aprender a conhecer, isto é, adquirir os instrumentos da

compreensão; 2º - Aprender a fazer, isto é, poder agir sobre o meio envolvente; 3º -

Aprender a viver juntos, isto é, cooperar com outros em todas as atividades humanas e

4º - Aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes (DELORS, 1999 apud  

GUERRA, 2004, p.01-02)

Associando-se o potencial da educação à realidade escolar sabe-se que os

currículos, as metodologias e os projetos político-pedagógicos no espaço escolar formal

restringem a problemática ambiental a uma visão naturalista. Dimensões fundamentais

da dinamicidade da vida são ainda incipientes no âmbito escolar. Para Agotti e Auth

Page 12: Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

7/25/2019 Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

http://slidepdf.com/reader/full/aspectos-relevantes-relacao-populacao-meio-ambiente 12/14

 

Sinapse Ambiental, v.4 n.2 Dezembro de 2007.

86

(2001),

Isso exige buscar mais precisão com relação aos conceitos. Entreeles, os de meio ambiente e educação ambiental, visto que, [...] eles sãoabstrações ou idéias que descrevem várias percepções. [...] O entendimentoda dinâmica homem/ambiente pode ser explorado no processo didático-

pedagógico em contraposição à “estaticidade” ainda predominante em grandeparte dos sistemas de ensino. (ANGOTTI e AUTH, 2001, p. 22-23).

Aliada da educação, a ciência é vista como processo de descoberta e geração de

conhecimento necessário para as mudanças sociais. Cabe-lhe um importante papel no

comprometimento para a solução dos problemas sociais e elevação da qualidade de

vida. Contudo, historicamente, esta não tem sido usada para a melhoria da qualidade de

vida. Constitui função da universidade reverter tal processo. Obviamente, a precondição

dos resultados da pesquisa para a melhoria das condições de vida depende do acesso à

informação. Cabe, assim, à universidade definir, também, estratégias de socialização do

conhecimento produzido.

Para Trevizan (2000, p.180) “ciência e qualidade de vida são dois pólos que se

ligam ou se interceptam num contexto socioambiental (sic), a depender de como atua a

educação nesse contexto. A universidade tem o dever de colocar-se no centro dessa

conexão”. Segundo este autor

É através da reconhecida necessidade da universidade comprometer-se com a melhoria das condições de vida no ambiente em que opera,trabalhando o processo de geração de conhecimento e crítica sobre ascondições ambientais, com o propósito posterior ou simultâneo de ação paraa mudança da mesma realidade, e agindo de forma integrada com as várias

áreas do conhecimento, que se pode atuar numa linha de pesquisadirecionada para a qualidade de vida da população regional. (TREVIZAN,2000, p.184).

Tendo-se em vista que a universidade é uma instituição, por excelência, de

produção e crítica do conhecimento, deve haver um grande compromisso com o

contexto socioambiental na qual está inserida, sobretudo se esse contexto for carente de

necessidades básicas para um padrão de vida de qualidade. Dessa forma, cabe à

universidade criar iniciativas para superar os problemas socioambientais locais.

Page 13: Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

7/25/2019 Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

http://slidepdf.com/reader/full/aspectos-relevantes-relacao-populacao-meio-ambiente 13/14

 

Sinapse Ambiental, v.4 n.2 Dezembro de 2007.

87

É necessário, enfim, traçar um potencial com habilidades para corrigir as

distorções e desacertos, antecipar-se aos problemas e atuar no aperfeiçoamento das

condições ambientais, a fim de elevar a qualidade de vida populacional, compatíveis

com o sonho da sustentabilidade.

REFERÊNCIAS

ANDRADE JÚNIOR, H. de; SOUZA, M. A. de; BROCHIER, J. I. Representaçãosocial da educação ambiental e da educação em saúde em universitários. Psicologia:

Reflexão e Crítica, v.17, n.1, p.43-50, 2004.ANGOTTI, J. A. P.; AUTH, M. A. Ciência e tecnologia: implicações sociais e o papelda educação. Ciência & Educação, v.7, n.1, p.15-27, 2001.

BRASIL, 1999. Lei 9.795, de 27 de abril de 1999.  Dispõe sobre a educação ambiental,institui a política nacional de educação ambiental e da outras providencias. DiárioOficial da União, Brasília, 28 abr. 1999. Disponível em:<http://www6.senado.gov.br/sicon/ListaReferencias.action?codigoBase=2&codigoDocumento=226350>. Acesso em: 14 set. 2006.

CAMARGO, A. S. G. de; PRESZNHUK, R. A. de O.; SILVA, M. C. da.Considerações sobre o movimento pró-sustentabilidade. In: Semana de Tecnologia:tecnologia para quem e para que?, 2003, Curitiba. Anais da Semana de Tecnologia: paraquem e para que?, 2003. v.1, p.1-4. Disponível em:<http://www.ppgte.cefetpr.br/semanatecnologia/grupo_tema/consideracoes_sobre_o.pdf >.

CARMO, R. L do. A água é o limite? Redistribuição espacial da população e recursoshídricos no Estado de São Paulo. 2001. 194f. Tese (Doutorado) – Universidade Estadualde Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Campinas.

COSTA, A. F. M.; STUTZ, B. L.; MOREIRA, G. de O.; GAMA, M. M. da . Sociedadeatual, comportamento humano e sustentabilidade. Caminhos de Geografia. Ano 5,v.13, p.209-220, out/2004. Disponível em:<www.ig.ufu.br/revista/volume13/artigo13_vol13.pdf>.

DIAS, G. F. Educação ambiental: princípios e práticas. 6. ed. rev. e ampl. São Paulo:Gaia, 2000. 551p.

DIAS, G. F. Pegada ecológica e sustentabilidade humana. São Paulo: Gaia, 2002.257p.

ENCARTA, Enciclopédia Microsoft. Robert Malthus. Microsoft Corporation. 1993-2001. 1 CD-ROM.

Page 14: Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

7/25/2019 Aspectos Relevantes Relação População Meio Ambiente

http://slidepdf.com/reader/full/aspectos-relevantes-relacao-populacao-meio-ambiente 14/14

 

Sinapse Ambiental, v.4 n.2 Dezembro de 2007.

88

GROSTEIN, M. D. Metrópole e expansão urbana: a persistência de processosinsustentáveis. São Paulo em Perspectiva, v.15, n.1, p.13-19, Jan./Mar.2001. SãoPaulo. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/spp/v15n1/8585.pdf>.

GUERRA, R. A. T. O meio ambiente na visão de estudantes de Ciências Biológicas. In:II Encontro Temático Meio Ambiente e Educação Ambiental na UFPB, 2004, JoãoPessoa - PB. Anais...  Disponível em:http://www.prac.ufpb.br/meae/Anais%20II%20Encontro%20Tem%E1tico/trabalhos/visaoo.doc. Acesso em 01 nov. 2006.

HOGAN, D.J. Crescimento demográfico e meio ambiente. Revista Brasileira deEstudos Populacionais, Campinas, v.8, n.1/2, p.61-71, 1991.

JACOBI, P. Meio ambiente e sustentabilidade. O município no século XXI: Cenários ePerspectivas, São Paulo: CEPAN/CORREIOS, Edição Especial, p.175-183, 1999.

PHILOMENA, A. L. 2002, “O imperativo humano  – ou, como fica a questãopopulacional no Desenvolvimento Sustentável?”, in  D. F. BECKER (org.),Desenvolvimento Sustentável: Necessidade e/ou Possibilidade. 4. ed. Santa Cruz doSul: EDUNISC, 2002. p.139-155.

ROCHA, M. C. G. Crise ambiental. Quartas científicas. Instituto Politécnico – UERJ.15 jun. 2005. Disponível em: <http://www.iprj.uerj.br/figuras/CriseAmbiental.pdf>

TREVIZAN, S. dal P. Ciência, meio ambiente e qualidade de vida: uma proposta depesquisa para uma universidade comprometida com sua comunidade. Ciência & saúdecoletiva, v.5, n.1, p.179-186, 2000.

VARGAS, H. C. População e meio ambiente na entrada do terceiro milênio: Embusca de uma nova ética. Anais do XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais daABEP. Caxambu, 1998, v.1, p. 3055-3075. Disponível em:<http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/PDF/1998/a249.pdf>.