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RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS Edição 94 [12/07/2012 a 18/07/2012]

ASSESSORIA DE IMPRENSA DO GABINETE - … a... · terá 448 filmes, entre eles 80 brasileiros, selecionados de um número recorde de inscritos - 1623. Nos eventos que ... havia anos

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RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS

Edição Nº 94[12/07/2012 a 18/07/2012]

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Sumário

CINEMA E TV...............................................................................................................4Valor Econômico - Festival projeta animação no mercado nacional...............................................4Folha de S. Paulo - Anima Mundi faz 20 anos com novos nomes da animação.............................5Folha de S. Paulo - Brasileiro de superproduções de Hollywood dá aula no evento.......................6Correio Braziliense – O cinema do mundo......................................................................................6O Estado de S. Paulo - Salles na estrada.......................................................................................8Folha de S. Paulo - Mostra celebra parceria do Anima Mundi com o Oscar...................................8O Globo – Entre o lúdico e o sujo, um animador autoral.................................................................9O Estado de S. Paulo - Em busca do hoje perdido.......................................................................10O Estado de S. Paulo - Lázaro e a nova cara do País que acorda...............................................11O Estado de S. Paulo - Ecos da ditadura......................................................................................12O Globo - UPPs em debate até em Nova York.............................................................................14

TEATRO E DANÇA....................................................................................................15Folha de S. Paulo - Grupos do Nordeste e do Norte tomam palcos de São Paulo.......................15Folha de S. Paulo - Peça faz da maratona uma metáfora das exigências da vida e da busca de sentido...........................................................................................................................................15O Globo - Movimentos a partir da memória do outro.....................................................................16O Globo - Rupturas e iluminações de um poeta que atravessou o tempo....................................17Valor Econômico - Aos 30 anos, Grupo Galpão prepara nova sede e complexo cultural em MG.18O Globo - As feridas abertas da América Latina...........................................................................19Correio Braziliense - Voo da menina palhaça...............................................................................21

ARTES PLÁSTICAS...................................................................................................22O Globo - Daniel Senise expõe a relação de lugares genéricos e próprios..................................22Valor Econômico - Davos encontra Inhotim..................................................................................23O Globo - As vozes e faces da Amazônia.....................................................................................26Folha de S. Paulo - Irmãos Campana fundem barroco e rococó em Paris....................................27O Globo - A ‘beleza serena’ e a sedução de Anna Letycia em retrospectiva................................28Folha de S. Paulo - Figuras de costas são tema de exposição.....................................................29O Globo - Daisy Xavier usa madeira para criar formas de ‘quase ficção’......................................30

MÚSICA......................................................................................................................31Correio Braziliense - Escrito nas estrelas......................................................................................31O Globo – O hip-hop e suas misturas...........................................................................................32Jornal de Brasília - Pop rock Candango........................................................................................33O Estado de S.Paulo – Dois cantinhos e um violão / Entrevista....................................................33O Estado de S.Paulo – Ernesto Superstar....................................................................................35O Globo – As canções de sofá do casal Nina e Callado...............................................................36Correio Braziliense – Canções do mundo.....................................................................................38O Globo - Harpas, violinos e pianos embalam os cafezais...........................................................39Folha de S. Paulo - Guitarrada, gênero tradicional do Pará, reforça status cult aos 50 anos.......40The New York Times - A Two-Step Invasion of Brazilian Energy..................................................41

LIVROS E LITERATURA...........................................................................................44Folha de S. Paulo - Os eleitos.......................................................................................................44Folha de S. Paulo - Iniciativa desperta críticas e livro com "adorados pelos leitores"...................45O Estado de S.Paulo – Estudo brasileiro ganha edição internacional...........................................46O Estado de S. Paulo – A realidade pelo avesso, na alegoria / Entrevista...................................46O Globo – Outras palavras............................................................................................................48Bloomberg / Blog World View - Jonathan Franzen Visits Brazil, Puzzles Nation...........................49

ROMANCES GRÁFICOS...........................................................................................50O Globo - O Brasil de Stefan Zweig em versão HQ......................................................................50

FOTOGRAFIA............................................................................................................52Folha de S. Paulo - Série do argentino Horacio Coppola sobre a obra de Aleijadinho ganha mostra em SP................................................................................................................................52O Estado de S. Paulo – Atol: explosão de vida.............................................................................53

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GASTRONOMIA.........................................................................................................54O Estado de S. Paulo - Bahia abriga pela 1ª vez o principal evento chocolateiro do mundo........54

OUTROS.....................................................................................................................55O Globo - Nova feira de arte quer atrair classe média..................................................................55Agência Brasil - Encontro de arte digital reúne artistas internacionais em São Paulo ..................56O Globo - Brasil e Portugal detalham seu intercâmbio cultural ....................................................57

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CINEMA E TV

Valor Econômico - Festival projeta animação no mercado nacional

Por Edson Valente

Cena de "D. On Ice", musical animado que satiriza as fábulas da Disney: fita já teve mais de 60 mil acessos no site de vídeos Vimeo.

(12/07/2012) A 20ª edição do Anima Mundi, que começa amanhã no Rio e estará em São Paulo a partir do dia 25, terá 448 filmes, entre eles 80 brasileiros, selecionados de um número recorde de inscritos - 1623. Nos eventos que ocorrerão fora das salas de projeção, porém, é que se medirá o aquecimento do mercado de animação no país.

No Anima Forum, que promove debates entre produtores e animadores no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio, estarão em pauta temas como tecnologia, financiamento, estratégias de marketing e os meios para chegar ao Oscar - o Anima Mundi foi qualificado para indicar curtas de animação ao prêmio. Entre os palestrantes, destaque para Rodrigo Teixeira, um dos responsáveis pelos efeitos visuais de "A Invenção de Hugo Cabret", de Martin Scorsese.

A conferência também abrirá espaço para rodadas de negócio. O objetivo é fomentar a internacionalização das transações brasileiras. "Várias séries já estão sendo produzidas. Há 18 projetos em coprodução com os EUA e o Canadá", diz Cesar Coelho, diretor e criador do Anima Mundi. "A animação 'viaja' bem, trata-se de um produto fácil de ser vendido no exterior."

O momento é propício para esse tipo de iniciativa. "O que já se produziu neste ano em curtas, séries e longas se equipara ao que foi feito durante todos os outros anos da história da animação no Brasil", afirma Sílvia Prado, membro do Comitê Gestor de Animação da ABPI-TV (Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão). Para o cinema, exemplifica, 23 longas estão em fase de produção ou em vias de iniciá-la, contra um total de 24 concretizados no transcorrer de décadas.

Boa parte desses novos projetos valem-se de financiamento governamental obtido por meio de editais. Entender melhor as regras e discutir as condições para obter esses recursos também são questões que devem nortear as conversas do fórum. Será abordado ainda o filão de conteúdo para as TVs por assinatura, potencializado com a lei 12.485/2011, regulamentada no mês passado e que estabelece cotas de programação nacional para os canais pagos.

Sílvia avalia que as aprovações de editais contribuem para o estabelecimento de uma indústria de animação brasileira. Coelho, contudo, reforça a necessidade de adaptar os regulamentos às especificidades da produção. Para ele, o custo de realização costuma ser maior do que o da indústria cinematográfica em geral. Em média, um curta de até sete minutos consome por volta de R$ 120 mil.

Outro ponto a ser debatido no Anima Forum é a formatação dos projetos em pacotes que sejam atrativos para os compradores estrangeiros. No mercado internacional, não se consegue vender um único filme de dez minutos. A preferência é por temporadas, em geral de 26 ou de 52 filmes. "Isso requer uma grande quantidade de produção", diz Coelho.

O contexto exige mais capacitação de profissionais. "Há um problema sério de falta de mão de obra especializada", diz Coelho. Em sua empresa, a Campo 4, o diretor do festival diz trabalhar "em plena carga" com uma equipe de oito funcionários para concluir dois minutos de animação por mês. "Para fazer uma série, teriam de ser produzidos de 20 a 26 minutos mensalmente. Imagine isso em termos de estrutura."

Mas não há escassez quando se fala de criatividade nas linhas de desenvolvimento dos estúdios brasileiros. A diversidade de motes é um ponto forte da produção nacional, avalia Melina Manasseh, produtora-executiva do 44 Toons. "Há estúdios que têm uma pegada de humor mais ácido, outros adotam um olhar mais poético."

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O Anima Mundi oferece uma boa oportunidade para conhecer parte dessas obras. O 44 Toons, por exemplo, apresenta o curta "D. On Ice", musical animado que satiriza as fábulas da Disney e que, segundo Melina, já teve mais de 60 mil acessos no site de vídeos Vimeo.

Destacam-se ainda filmes como "O Guitarrista no Telhado", da Cartunaria Desenhos, com direção e roteiro de Guto Bozzetti, curta que narra a história de um músico que compra uma briga com a síndica e o porteiro ao organizar um show no telhado do prédio, e "Mentiras são Contadas em Julho", de Rogério Vilela, sobre o resgate de um garoto que descansa em um braço do Cristo Redentor. Ambos estão entre os concorrentes ao prêmio de melhor da mostra, que significará também a indicação ao Oscar.

Folha de S. Paulo - Anima Mundi faz 20 anos com novos nomes da animação

Com os pioneiros trabalhando no mercado, edição que começa hoje no Rio centra seleção em jovens talentosEvento tem 448 filmes, retrospectivas e papos com animadores; São Paulo recebe produções a partir do dia 25/7

MARCO AURÉLIO CANÔNICO

(13/07/2012) "Cadê o povo?", perguntaram-se os diretores do Anima Mundi ao fazer a seleção das 80 animações brasileiras que participam (com 368 internacionais) da 20ª edição do festival, que começa hoje no Rio e chega a São Paulo no dia 25.

"O povo", aquela geração de animadores que se criou no festival e que participava regularmente com curtas -como Pedro Iuá, Diogo Viegas, Rosária, Pedro Ivo-, não deu as caras neste ano.

"Está todo mundo nos estúdios, fazendo séries para a TV, comerciais, longas", diz Aída Queiroz, uma das diretoras do festival. "É um movimento normal, o pessoal que já anima foi sobreviver de animação. E que bom que esteja dando para sobreviver!"

A saída do time de "sócios-atletas" abre espaço para que a próxima leva de animadores venha a campo mostrar suas técnicas e obras: a competição de curtas tem nomes como Amir Admoni ("Linear"), Natalia Cristine ("Cafeka") e Rogério Vilela ("Mentiras São Contadas em Julho").

Esse movimento comprova algo que o Anima Mundi, iniciado em 1993, já vinha indicando (e estimulando) havia anos -o forte desenvolvimento da animação no Brasil, coroado nos últimos anos com crescentes incentivos públicos e com a explosão das séries infantis para TV.

"Várias frentes estão se abrindo, hoje em dia tem produção de longas, estúdios fazendo séries, até a parte acadêmica, animadores fazendo mestrado e doutorado", diz Marcos Magalhães, outro dos diretores do Anima.

Ainda com esse cenário, o Brasil continua sendo o país com mais inscritos no festival: foram 427 dentre as 1.623 obras enviadas -número recorde, estimulado pelo fato de que o curta vencedor do júri profissional deste ano passa a integrar a pré-seleção dos indicados ao Oscar.

RETROSPECTIVA E PAPOSintomaticamente, parte da geração anterior do Anima terá seus trabalhos exibidos na retrospectiva que comemora as 20 edições do festival e que terá sessões com os curtas brasileiros vencedores de 1998 a 2011, como "Sushi Man", de Pedro Iuá.

O festival também aproveitou a efeméride para convidar para o Papo Animado -sessão em que um animador apresenta um apanhado de sua obra e conversa com a plateia- o fluminense Marcelo Marão, participante de primeira hora e premiado mais de uma vez.

"Tomamos o Marão como um símbolo do animador que cresceu com o Anima", diz Magalhães. "Sempre valorizamos a proposta dele de fazer filmes independentes, coletivos, de apostar em coisas que o mercado pode rejeitar."

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Folha de S. Paulo - Brasileiro de superproduções de Hollywood dá aula no evento

(13/07/2012) Principal termômetro do mercado nacional de animação, o Anima Mundi vem destacando, nos últimos anos, a crescente demanda por brasileiros no exterior, notadamente nos EUA, e convidando para seu Papo Animado profissionais que conseguiram fazer carreira lá fora.

Depois de trazer, no ano passado, o símbolo máximo desse processo, Carlos Saldanha (diretor de "A Era do Gelo" e "Rio"), nesta edição o festival recebe o gaúcho Rodrigo Teixeira, 35.

Radicado em Los Angeles há 11 anos, Teixeira participou das equipes técnicas de filmes como "O Espetacular Homem-Aranha" (2012), "A Invenção de Hugo Cabret" (2011), de Martin Scorsese, e "Alice no País das Maravilhas" (2010), de Tim Burton.

Falando à Folha por telefone, o gaúcho repete diversas vezes que está "muito empolgado" com o convite para participar do festival -sua primeira vinda ao Brasil desde que foi para os EUA.

Além do Papo Animado (nos dias 18, no Rio, e 27, em São Paulo), Teixeira também dará aulas direcionadas a estudantes de animação, tendo como tema seu trabalho em "A Invenção de Hugo Cabret".

"Estou levando muita coisa bacana, conteúdo de bastidores, coisas que ninguém nunca viu, além de histórias engraçadas."

O brasileiro também espera que sua conversa com os jovens animadores tenha o efeito de "uma injeção de adrenalina".

"Quero que eles pensem 'se esse cara fez isso, eu também posso'. Vou mostrar minha trajetória, as dificuldades. "

O Papo Animado deste ano também receberá convidados internacionais como o americano Adam Pesapane, conhecido como PES e famoso por animar objetos cotidianos, e a inglesa Sarah Cox, que vem mostrar seu filme mais recente para os estúdios Aardman.

Correio Braziliense – O cinema do mundo

Mostra reúne trabalhos de jovens cineastas e investe na diversidade de linguagens com longas de várias partes do planeta

FELIPE MORAES, YALE GONTIJO

(12/7/2012) Depois de um longo período de estiagem cinematográfica desde o fechamento dos cinemas da Academia de Tênis em 2010, Brasília volta a sediar um festival internacional de cinema. O Brasília International Film Festival (Biff) será aberto para o público, de amanhã até 22 de julho, no Cine Cultura Liberty Mall e Sala Alberto Nepomuceno do Teatro Nacional. Serão projetados 46 filmes distribuídos em uma mostra competitiva, cinco mostras paralelas (leia quadro) e uma retrospectiva

dedicada à atriz francesa, musa da Nouvelle Vague, Anna Karina. Haverá debates e seminários ao longo do evento.

O grupo de curadores atuou como olheiros de filmes chancelados pelos festivais internacionais de Cannes, Berlim, Veneza, Locarno e Sundance. Para a mostra competitiva, foram selecionados filmes assinados por diretores em início de carreira. “Nós estipulamos no regulamento que só participariam cineastas com até três filmes na mostra competitiva e títulos recentes de 2010 até 2011. Fizemos isso por acreditar que é possível descobrir talentos emergentes, como acontece em grandes festivais internacionais que já revelaram nomes como os irmãos Coen e Quentin Tarantino”, explica a diretora de programação e curadora, Anna Karina de

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Carvalho. “Conseguimos produções que tiveram grande impacto de crítica e público nesses festivais”, complementa Anna.

Com 12 títulos em competição, o Biff apresenta um programa marcado pela presença de produções europeias e destaques da América Latina, África (Tey, do Senegal) e do Oriente Médio (Habibi). Bel ami — O sedutor (Inglaterra/França/Itália), de Declan Donnellan e Nick Ormerod, deverá ser o mais popular da seleção. O vampiro de Crepúsculo Robert Pattinson é um ex-soldado astuto em busca de ascensão social em Paris e divide a cena com as atrizes Uma Thurman e Christina Ricci. A produção multinacional La playa D.C, parceria entre Colômbia, França e Brasil, é dirigida pelo colombiano Juan Andrés Arango. O drama chileno O ano do tigre, de Sebastián Lelio, apresenta a história de um ex-presidiário voltando a viver em liberdade. Dos Estados Unidos, desembarcam os independentes Ausência, de Mark Jackson, e O planeta solitário, de Julia Loktev, com o mexicano Gael García Bernal no elenco.

O diretor-geral do festival, Nilson Rodrigues, ressalta a diversidade cultural de filmes representantes dos quatro cantos do planeta. “Era importante conceituar os novos filmes do velho continente tanto quanto aproximar os brasileiros com a África, porque temos afinidades históricas com os povos africanos. Tentamos também apresentar um modelo de produção norte-americano desligado do esquema industrial dos grandes estúdios de Hollywood, apresentando filmes independentes. Essas foram as escolhas para a primeira edição, mas pode ser que nos próximos festivais tenhamos outros recortes”, antecipou o diretor. O francês Um verão escaldante, de Philippe Garrel, e o aguardado Fausto, de Aleksandr Sokurov (vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza 2011), terão sessões de pré-estreia espalhadas pela grade de programação.Mostras paralelas

Independentes americanosExpressão máxima do lado b dos Estados Unidos, a seara indie é representada com seis filmes. A curadora deste segmento do Biff, Samantha Dearo, pinçou vários deles quando esteve nos festivais de Berlim e Cannes, em contato com o Independent Filmmaker Project (IFP), importante instituto de fomento aos independentes. Encabeça a seleção, o documentário Detropia, relato sobre o êxodo urbano e o desmoronamento econômico e moral da cidade de Detroit: direção da dupla Heidi Ewing e Rachel Grady, indicadas ao Oscar por Jesus camp (2006). No mais, a mostra projeta pela primeira vez no planeta Gray, live at the New Museum, doc de Michael Holman, sobre a cena artística de Nova York, três selecionados de Berlim (Crianças elétricas, Coisa de criança e Francine), além do misterioso Sahkanaga, de John Henry Summerour.

Mundo animadoEm sessões gratuitas, sempre às 10h30 e às 14h, na sala Alberto Nepomuceno (Teatro Nacional), o cinema de animação está representado no Biff com seis curtas-metragens (um norte-americano e cinco produzidos na Europa). O destaque é o americano Os fantásticos livros voadores do Sr. Morris Lessmore, da dupla William Joyce e Brandon Oldenburg, vencedora do Oscar 2012 na categoria. Figuram na seleção títulos da Alemanha (Angelinho), da Inglaterra (Condenado), da Dinamarca (Rito de passagem), da Espanha (Margarita) e uma coprodução entre França e Espanha (Uma sombra azul).

Panorama europeuÉ, talvez, o segmento mais curioso da mostra. Em vez de privilegiar grandes cinematografias, exibe longas-metragens pouco conhecidos de países do Leste Europeu e Escandinávia. A maior atração vem da Noruega, com o elogiado Oslo, 31 de agosto, de Joachim Trier: passou na mostra Um certo olhar, de Cannes, e em vários outros festivais pelo mundo, inclusive a Mostra São Paulo 2011. O polonês O batismo, de Marcin Wrona, e Biblioteca do Pascal, coprodução de Hungria/Alemanha/Reino Unido/Romênia, de Szabolcs Hajdu, inspiram atenção. O mais obscuro do segmento é Sementes da vida, do sérvio Sinisa Dragin, premiado em Roterdã.

Cara latinaA curadora Priscila Martins vinha desenvolvendo uma pesquisa sobre cinema latino-americano quando percebeu que muitos dos filmes produzidos no continente são tocados por mulheres. Filmes da Venezuela, Argentina, Colômbia, Equador, Chile e Honduras foram reunidos na mostra Cara Latina, em que faz parte também Uma longa viagem, de Lúcia Murat, o único brasileiro do festival. “Elas produzem mais documentários do que ficção e geralmente se dedicam a falar de temas sociais

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e políticos”, observou Priscila. Um dos grandes destaques da mostra paralela é o documentário venezuelano Araya, de Margot Benacerraf. O filme dividiu o Prêmio Internacional da Crítica em Cannes com Hiroshima, mon amour, de Alain Resnais, em 1959. Em uma seleção de filmes realizados por mulheres latinas, chama a atenção a ausência de títulos assinados pela argentina Lucrecia Martel. “A Lucrecia é muito conhecida no Brasil mas optamos por trazer o que a gente realmente não tem acesso no país”, explicou Priscila. No total serão exibidos sete filmes.

Panorama ÁfricaA diversidade do continente africano é evidenciada na escolha de filmes com temáticas variadas, oriundos na seleção de cinco longas-metragens da mostra Panorama África. Otelo em chamas, dirigido por Sara Blecher, por exemplo, versa sobre as diferenças sociais na África do Sul do apartheid. Um representante da parte islâmica do continente é Fim de dezembro, título da Tunísia, dirigido por Moez Kamoun, única comédia da seleção. Os brasileiros poderão conhecer melhor a cultura de outras ex-colônias portuguesas na ficção Massa cinzenta, produzida em Ruanda, em 2011. E assistir ao longa baseado na obra do escritor Mia Couto, o moçambicano Terra sonâmbula, dirigido por Teresa Prata sobre as mazelas causadas pela guerra civil naquele país.

O Estado de S. Paulo - Salles na estrada

Inspirado em Jack Kerouac, On the Road estreia hoje em São Paulo depois de dividir opinião dos críticos

LUIZ CARLOS MERTEN - Belo, mas sem alma. Falta o batismo da sarjeta. São algumas das críticas feitas à adaptação, por Walter Salles, do livro cult de Jack Kerouac, On the Road. Batizado como Na Estrada - a tradução de Eduardo Bueno recebeu outro título no País, Pé na Estrada -, o filme tem dividido a crítica desde que estreou no Festival de Cannes, realizado em maio.

Há os que gostam muito, os que gostam pouco e os que não gostam nada. Salles não chega a se abalar com isso. Ele lembra que filmes só se completam no espectador e que obras essenciais do cinema foram mal acolhidas, enquanto filmes medíocres se converteram em êxitos extraordinários. Mas ele deixa subentendido o carinho que tem pelo filme que estreia hoje.

Ao longo de sua carreira, desde A Grande Arte, de 1991, e já antes, em suas incursões pela televisão, com documentários que marcaram época, Salles virou sinônimo de cinema de estrada. Não admira que Francis Ford Coppola, produtor de Na Estrada - por meio de sua empresa Zoetrope, associada à francesa MK2 -, o tenha chamado para projeto tão grande.

Desde sua publicação, em 1958, o livro de Jack Kerouac virou referência de uma geração que, na década seguinte, iria se rebelar contra o establishment. Uma nova moral, liberdade de ser e sentir, sexo, drogas e bebida. Tudo está, ou passa, pelo livro farol de Kerouac, cuja musicalidade do texto está ligada ao jazz.

Folha de S. Paulo - Mostra celebra parceria do Anima Mundi com o OscarCurta de animação vencedor do júri do festival vai integrar pré-seleção de indicados à Academia Dividida em quatro sessões, Think Oscar! exibe no Rio e em São Paulo desenhos vencedores da estatueta

No ano em que o curta vencedor do júri profissional do Anima Mundi passará a integrar a pré-seleção dos indicados ao Oscar, o festival brasileiro de animação celebra sua parceria com a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood promovendo uma retrospectiva intitulada Think Oscar!.

A mostra, que começa hoje no Rio e será exibida em São Paulo no próximo dia 29, é dividida em quatro sessões.

Cada uma delas vai de curtas animados que levaram a estatueta até os que concorreram, mas não ganharam -e alguns que, apesar de sua qualidade, não ficaram entre os indicados finais.

Quem frequenta o festival vai reconhecer velhos favoritos, como o belo e terno holandês "Father and Daughter" (vencedor do Oscar em 2001, exibido no Anima Mundi no mesmo ano) e o japonês

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"Tsumiki no Ie" ("A Casa de Pequenos Cubos"), que passou no festival em 2008 e venceu o prêmio da Academia no ano seguinte.

Há também ganhadores mais antigos, como o americano "Frank Film" (1974) e o divertido inglês "Bob's Birthday" (1995).

Na lista dos que concorreram, mas não levaram, destaque para o cômico canadense "The Cat Came Back". A produção sobre um homem que tenta se livrar de um gato amarelo perdeu para "Tin Toy", um dos primeiros curtas da Pixar, em 1989.

Os fanáticos por Beatles podem correr para outro canadense indicado. "I Met the Walrus", de Josh Raskin, ilustra uma conversa real de John Lennon com um garoto de 14 anos, em 1969.

O Globo – Entre o lúdico e o sujo, um animador autoral

Com dez curtas e 74 prêmios no currículo, Marão, realizador brasileiro homenageado no 20º Anima Mundi, usa a generosidade para unir cineastas

Rodrigo Fonseca

(14/07/2012) Em condições normais de temperatura e pressão, só cabem quatro pessoas no apartamento onde mora o animador Marão, em Copacabana. Mas durante os dez dias de duração do festival Anima Mundi, a lei da Física segundo a qual dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço perde sua validade no lar do cineasta nascido e criado em Nilópolis. Até ontem, quando a mostra começou, Marão já abrigava seis outros diretores. Todos estão aboletados em sua sala, disputando espaço num sofá em que só pessoas de 1m60, como ele, conseguem se sentir confortáveis. Como este ano, em sua 20ª edição, o maior

festival de animação da América Latina escolheu o realizador como cineasta brasileiro homenageado, o número de amigos que ele vai hospedar chegará a 21. — Como as pessoas costumam chegar bêbadas, elas vão caindo umas sobre as outras. Por isso, acredito que caibam 21 aqui dentro. Tem água, cerveja e manteiga na geladeira.

Com algumas garrafas de cachaça deve dar para deixar todo mundo feliz — calcula Marão, que, desde “Cebolas são azuis”, de 1996, já dirigiu dez filmes animados, todos em curta-metragem, contabilizando 74 prêmios no Brasil e no exterior.

Símbolo de irreverência no cinema nacional animado por fazer do escracho o eixo de suas narrativas, Marão tem fama de “amigo de fé, irmão camarada” entre seus colegas pela generosidade com que transforma sua casa em albergue de cineastas.

— No cinema de animação brasileiro, Marão é uma unanimidade: quem pensa nele lembra de uma figura aglutinadora, que reúne as pessoas em prol do cinema — diz o paranaense Paulo Munhoz, realizador de “Brichos — A floresta é nossa”, com sessão hoje, às 13h, no Odeon, na programação do Anima Mundi. — Com sua plasticidade rigorosa, Marão é um exemplo de diretor que desenha bem.

Parede milagrosa Essa boa fama ganhou o mundo há cerca de dez anos, quando Marão começou a abrir as portas de seu lar a animadores de todo o planeta que vêm por conta própria para participar do Anima Mundi, sem ter onde ficar.

— Sara Barbas, animadora portuguesa do estúdio britânico Aardman (de “A fuga das galinhas”), ficou aqui em casa e chegamos até a comemorar seu aniversário com uma festinha, com chapeuzinhos e bexigas comprados na loja que pegou fogo semana passada em Copacabana — diz o diretor de 41 anos, batizado Marcelo Fabri Marão. Todo mundo que passa pelo apartamento de Marão faz um desenho numa parede (hoje não tão) branca de seu quarto. É mais do que uma regra. Virou quase uma simpatia.

— Minha parede tem o incrível poder de produzir fomento, em menos de um ano, para os projetos de quem ali desenhou. Cada um que desenhou na minha parede conseguiu apoio financeiro para

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viabilizar seus curtas, séries ou longas. Um deles conseguiu uma bolsa para estudar no Canadá, no National Film Board, uma semana após ter feito o desenho na parede. Juro — afirma Marão, que nesta terça-feira, às 17h, fala sobre seu cinema na Praça Animada, espaço entre a Casa França-Brasil e o Centro Cultural Correios.

Graduado em Desenho Industrial pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marão enfim vai debutar no formato longa-metragem. Há duas semanas, ele foi contemplado com R$ 115 mil do edital da Secretaria de Estado de Cultura para desenvolver seu longa de estreia, cujo título é austero: “Minha bunda é um gorila”.

— É um filme animado todo em preto e branco, a lápis, sobre uma heroína que metamorfoseia sua área glútea em um gorila de meia tonelada — explica Marão, que não gosta quando usam o termo tosco para definir seus filmes, embora, no caso dele, a palavra tenha um emprego elogioso.

— Marão traz uma estética mais “suja” para a animação nacional, em que impera uma certa ditadura do desenho fofo.

E nunca deixa de experimentar, cada filme dele é uma surpresa — diz o cartunista e animador Allan Sieber.

Aliás, um dos motivos pelos quais o Anima Mundi decidiu homenagear o diretor é a anarquia de sua produção.

— Marão é um animador que assume a espontaneidade do traço. Vê-se que ele ama um pencil test, ou seja, a filmagem de uma animação ainda em seus rascunhos a lápis, tanto ou mais que a arte final. Ele representa hoje para a animação brasileira um exemplo de liberdade de expressão e de independência diante de qualquer limite que o mercado queira equivocadamente impor à criatividade de um animador — diz Marcos Magalhães, um dos curadores do Anima Mundi.

Uma ode ao pai Em sua filmografia, Marão tem filmes que assumem a lambança formal e a escatologia como forma de expressão, caso de “Engolervilha” (2003). O curta, com outros 18 trabalhos — como comerciais, vinhetas e aberturas de programas — do diretor, está no cardápio do festival, em quatro sessões, começando amanhã, às 16h30m, no CCBB.

— Com o “Cebolas são azuis”, Marão ganhou um prêmio: uma lata de filme em película, algo raro e caro para um iniciante — lembra a artista gráfica Hannah 23, sua colega de faculdade. — O caminho lógico seria se preparar para filmar em 35mm. O que ele fez? Mostrou o tamanho da sua generosidade convidando amigos para realizar o que eles jamais teriam a chance de fazer: um filme em 35mm, da forma que quisessem. Só saiu escatologia. Assim nasceu “Engolervilha”.

Há dois anos, a estética autoproclamada “suja” do diretor sofreu uma ruptura quando ele lançou “Eu queria ser um monstro” (2009). Descrito como “lúdico”, o filme fala de um garotinho com bronquite que aprende a viver com a ajuda de um super-herói: seu pai. O filme é uma declaração de amor do cineasta ao homem que o criou, Jorge Marão, dono do armarinho Estrela D’Alva, em Nilópolis. Seu Jorge fala do filho citando sempre o 10 que “seu garoto” tirou na prova de redação da UFRJ.

— A coisa mais bonita do Marão é que ele vibra quando um colega ganha um edital com a mesma alegria que teria se fosse ele o vencedor. Para o meu filho, ver o cinema de animação se desenvolver é o que há de mais importante — coruja Jorge.

Marão volta sempre a Nilópolis, não apenas para abraçar seu Jorge, mas para ver estudantes da Baixada fazendo animação, provando que o cinema deste estado existe para além da Zona Sul:

— Acho importante explicitar de onde venho, pois, sempre que eu volto a Nilópolis, tenho a noção clara da direção para onde vou com o meu cinema.

O Estado de S. Paulo - Em busca do hoje perdido

Em filme de Tata Amaral, mulher tenta reconstruir vida após anos na clandestinidade

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(17/7/2012) FLAVIA GUERRA - Diz o desgastado clichê que o Brasil é o país do futuro. Dono de um futuro promissor, não tem tempo para perder com o passado. Será? Hoje, por sua vez, é um filme que, apesar do nome, vai buscar exatamente no passado a substância para entender o presente e escrever o futuro.

Vencedor do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro em 2011 é o quarto longa de Tata Amaral (de Antônio e Um Céu de Estrelas), e conta a história de uma mulher que quer reconstruir sua vida após duas décadas de clandestinidade civil. Vera (Denise Fraga) perdeu o marido (o ator uruguaio César Troncoso, de O Banheiro do Papa) para a ditadura, mas, como ele está oficialmente desaparecido desde 1974, nem mesmo como viúva pode se reconhecer. Em 1995, quando finalmente ele é dado como morto, ela recebe uma indenização, com a qual compra um apartamento. Vera, que passou estes anos à espera de um sinal, finalmente decide deixar de viver em suspensão e recomeçar a vida. É aí que começa seu novo hoje. E é aí que Luiz, o marido, reaparece. E ela vai ter de lidar com um passado de culpas, frustrações e dor.

Em um Brasil que exuma principalmente os crimes cometidos durante a ditadura militar ao estabelecer a Comissão da Verdade (a junta para apurar violações de direitos humanos durante entre 1946 e 1988 no Brasil), Hoje é mais "hoje" do que nunca. "Foi uma feliz coincidência. A ideia do filme surgiu em 2003, quando li o Prova Contrária, do Fernando Bonassi. Não se falava ainda na Comissão, vários filmes que também tratam do tema da ditadura não haviam ainda sido feitos. Mas é interessante observar como este assunto ainda habita nosso inconsciente coletivo", comenta a diretora, para quem a questão da perda foi de fato o grande motivador. "Embora o tema do filme não tenha diretamente a ver comigo, pois não perdi ninguém assim na ditadura, o sentimento de perda que a Vera vive é algo que conheço bem. E me reconheço. Quando li o trecho em que ela fala do suicídio, entendi perfeitamente o sentimento de responsabilidade, de perda, da ausência, de impotência que ela estava sentindo."

Não foi por acaso que Tata escolheu o livro e não é por acaso que é no microcosmo do apartamento que se passe todo conflito. Já em seu primeiro filme, Um Céu de Estrelas (1996), ela trazia um universo diminuto, uma casa na Mooca, como cenário da relação violenta e visceral de um casal. Em Hoje, é talvez no conflito interno da personagem que se refletem as maiores marcas que a violência da ditadura deixou em quem a viveu. "Há muitos filmes chilenos, argentinos sobre o assunto. Mas a gente não fala muito do tema porque joga embaixo do tapete. Não queremos encarar a verdade."

O principal diferencial de Hoje com relação a outros longas que já trataram do tema é o fato de não haver flashbacks. O marido, por exemplo, envelheceu junto com Vera. "Tudo se passa no aqui e agora. Afinal, o que importa de verdade nesta história? As marcas que o período deixou na vida destas pessoas. E, consequentemente na nossa história", diz a diretora, que relembra trecho da minisérie Trago Comigo (que dirigiu para a TV Cultura em 2009): "O programa resgata as memórias da ditadura. Há uma personagem que diz: 'A sociedade que não trata e não enfrenta a tortura é uma sociedade que aceita a tortura'. E é isso que a gente vê até hoje, não?"

O Estado de S. Paulo - Lázaro e a nova cara do País que acorda

Ator interpreta músico de periferia no longa de Sérgio Machado sobre a Sinfônica de Heliópolis

(17/7/2012) LUIZ CARLOS MERTEN - Uma da manhã na Sala São Paulo. A movimentação é intensa, mas não é nenhum concerto, nenhum recital. A sala abriga nesta madrugada a filmagem de uma cena importante do novo longa de Sérgio Machado. O diretor de Cidade Baixa e Quincas Berro D'Água comanda uma animada equipe reunida pela Gullane Filmes para contar a história do Instituo Baccarelli e da Sinfônica de Heliópolis. Neste momento específico, o músico de periferia realiza seu exame de admissão para a Osesp. O próprio diretor artístico da Orquestra Sinfônica de São Paulo - Arthur Nestrovski - faz uma participação especial, integrando a banca examinadora que avalia... Lázaro Ramos.

Em sua segunda parceria com o diretor, Lázaro faz o músico jovem que joga suas fichas e sonha integrar a prestigiada orquestra. O filme chama-se, provisoriamente, Acorda, Brasil, mas é certo que vai mudar até o lançamento, embora o título tenha a ver com o conceito da obra. O músico de Lázaro é a representação deste Brasil que, nos últimos anos, tem aberto novas perspectivas de vida para a garotada da periferia. Não faz muito tempo, quais eram as opções? Ser jogador de futebol ou então

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uma meteórica trajetória no tráfico, ganhando dinheiro (rapidamente) e vivendo 'à bout de souffle' (a perder o fôlego) antes de tombar sob as balas de adversários ou da polícia.

Esses garotos hoje podem sonhar com outras coisas, como os da favela de Heliópolis, que possui uma orquestra sinfônica e é dela que Lázaro - o personagem dele - sai para a Osesp. A Osesp é a cereja do bolo, a Sinfônica de Heliópolis é a expressão do Brasil que acorda - e isso não vai mudar com o título -, mas o filme não é chapa branca, como diz o diretor Machado. "É tudo, menos chapa branca", reforça Lázaro Ramos, que chega dos bastidores para conversar com o repórter. O palco está uma balbúrdia. A cena filmada nesta noite é a sequência do material que foi rodado no dia anterior. Lázaro, no violino, acompanhado de uma pianista. Os planos próximos de ambos já foram feitos e agora, nesta madrugada, o diretor de fotografia Marcelo Durst trepa na plataforma para filmar, de cima do palco, as reações dos integrantes da comissão de avaliação, que, da plateia, assistem à apresentação do candidato.

Cidadão. Nas suas escolhas de ator - e diretor de teatro -, no programa de TV (Canal Brasil) Espelho, Lázaro Ramos vem construindo uma imagem que extrapola a do intérprete extraordinário que consegue ser. Ele se engaja em causas sociais, milita questões de cidadania. "Isso aqui é muito verdadeiro, essa história é bonita porque é de superação e eu estou muito feliz de estar participando desse projeto. Pode parecer banal, mas juro que, como ator, como indivíduo, quero fazer filmes para que meu filho se orgulhe de mim. A paternidade mexeu comigo. Me sinto mais responsável. Não quero contar histórias que só falem de otimismo ou de esperança, mas esse personagem é tão forte, tem tanto a cara do País. Não resisti. E, depois, o Sérgio é um diretor que testa a gente. Meu personagem vira maestro. Treinei tanto que vou te dizer - se eu tiver de conduzir uma orquestra não vou me intimidar, não. Não vai ser só de mentirinha."

Embora o nome de Lázaro Ramos seja o mais importante no elenco de Acorda, Brasil, o longa tem participações de outras figuras conhecidas, como a própria mulher do ator, Taís Araújo, e Sandra Corveloni, que ganhou o prêmio de interpretação feminina no Festival de Cannes por Linha de Passe, de Walter Salles. Mas o personagem de Lázaro é o motor que impulsiona a historia real, baseada na experiência de dois jovens de comunidade cuja vida será transformada pela música. Fátima Toledo, com quem Lázaro e Machado trabalharam em Cidade Baixa, prepara mais uma vez o elenco jovem, repetindo uma experiência que começou em Pixote, a Lei do Mais Fraco, de Hector Babenco, há 32 anos, e prosseguiu em Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, há dez. Ambos os filmes adquiriram projeção internacional e são bem exemplos do tipo de vida que os garotos de Heliópolis - e Acorda, Brasil - estão conseguindo, agora, evitar.

Marcelo Durst, o grande diretor de fotografia de Estorvo, retorna ao cinema depois de um período dedicado à publicidade. Filho do lendário diretor de TV e cinema Walter George Durst, Marcelo já trabalhou (num comercial da Nike) com John Woo. Ele gosta de ângulos e movimentos de câmera complicados. Tira de letra. Seu nome é mais um a credenciar a produção da Gullane com estreia prevista para o ano que vem, com distribuição da Fox.

O Estado de S. Paulo - Ecos da ditadura

Espetáculos latino-americanos usam experiências pessoais para observar passado autoritário de seus países

(18/7/2012) MARIA EUGÊNIA DE MENEZES - Um teatro calcado em reminiscências. Impressões pessoais. Episódios autobiográficos que se amarram no palco. Tudo isso para dar conta de um passado que em muito transcende a dimensão individual: a intenção é falar de ditadura militar, repressão e dos seus impactos na vida de uma nação inteira.

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Mi Vida Después. Obra argentina, que está no Festival de Brasília, traz seis atores revendo as experiências dospróprios pais com o governo militar .

Mi Vida Después - espetáculo que é um dos destaques do Cena Contemporânea, festival de teatro de Brasília que se estende até o dia 29 - revive o período ditatorial na Argentina a partir das memórias de seis atores nascidos entre os anos 1970 e 80. Abandona a ideia de denúncia ou homenagem, tão em voga quando o assunto são os traumáticos governos autoritários da América Latina. Antes, prefere vasculhar a intimidade para chegar à política. "Me interessa o cruzamento das histórias pessoais e da história de um país. Creio que a dimensão biográfica, íntima de uma obra é o mais poderoso", disse ao Estado a diretora Lola Arias. "Não é uma obra que fala de ditadura de uma maneira geral, mas de como a vida de determinadas pessoas, que nasceram nessa época, foi afetada por esse fato."

Um dos nomes mais festejados da fervilhante cena portenha, Lola Arias borra as fronteiras entre realidade e ficção. Mas não é a única a valer-se da prerrogativa para examinar a história recente de seu país. No mesmo festival de Brasília, procedimentos semelhantes atravessam outras criações latinas. Ainda que, curiosamente, não despontem com o mesmo ímpeto nas produções brasileiras.

Tanto na peça mexicana El Rumor del Incendio, quanto em Villa + Discurso, vinda do Chile, jovens artistas, que não viveram sob a égide ditatorial, examinam as motivações e os impasses vivenciados por seus pais. "Como filhas da ditadura, essas personagens não viveram a experiência da geração anterior. Portanto, são capazes de questionar tudo isso do ponto de vista da memória", considera o encenador e dramaturgo chileno Guillermo Calderón.

Em Villa + Discurso, Calderón combina duas peças na mesma obra. A primeira delas focaliza o encontro de três mulheres, filhas de vítimas do governo Augusto Pinochet. Caberá a elas decidir que destino dar ao espaço da Villa Grimaldi - principal centro de tortura do regime. "Temos que defender pontos de vista muito fortes, o que nos coloca em uma situação de grande exposição", considera a atriz Carla Romero.

Na segunda metade da criação, o que se observa é um fictício pronunciamento de despedida de Michelle Bachelet. Última dirigente do Chile, Bachelet foi vítima da ditadura. Ao assumir o poder, teve a chance de rever crimes e fatos não revelados da época. Estranhamente, contudo, preferiu silenciar a reviver o assunto. "Teatro também se faz no calor do momento. Não busco objetividade. Não preciso ter distanciamento histórico", observa o autor.

O que levou uma legião de jovens a entrar na luta armada? Quem hoje seria capaz de arriscar a vida por uma ideologia? Tais perguntas pairam sobre a pesquisa do grupo Lagartijas Tiradas ao Sol. No trabalho El Rumor del Incendio, intérpretes observam o fim das utopias. Trazem ecos dos grupos guerrilheiros estudantis, dos anos 1960 e 1970, que lutavam contra o poder no México.

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Concebida como um documentário cênico, a peça conta a história de movimentos subversivos. Utiliza cenas antigas de televisão projetadas em um telão e recria entrevistas. O foco recai, particularmente, sobre a vida da antropóloga Margarita Urías Hermosillo. Além de participante ativa do movimento de 1968, Margarita é tia de uma das atrizes. O que aproxima as dimensões familiar e política, individual e coletiva.

Não são apenas as vítimas óbvias dos governos autoritários que ocupam a cena em Mi Vida Después. No espetáculo de Buenos Aires, que já passou por São Paulo e São José do Rio Preto, diferentes pontos de vista são convocados.

A atriz Carla Crespo reconstrói a morte de seu pai, guerrilheiro do Exército Revolucionário Popular. Ao mesmo tempo, outra intérprete, Vanina Falco, observa uma figura paterna de contornos diametralmente opostos: um oficial da inteligência do governo. "A intenção não era igualar essas histórias. Mas, postas uma contra a outra, elas permitem uma reflexão mais completa sobre a relação de nossa geração com esse passado", comenta Lola Arias.

Para conceber a dramaturgia, a diretora entrevistou os integrantes do grupo sobre suasrelações familiares. Cada um deles trouxe fotos, cartas, objetos. Fez perguntas a seus pais que nunca haviam sido feitas. "Eles se transformaram em investigadores da própria história. Na montagem, não há personagens, há pessoas", pontua Arias.

Levar feridas ainda não cicatrizadas à cena exigiu um esforço de distanciamento. "Não queria testemunhos de gente que chora ou desaba em cena", diz a diretora. "Na obra, há uma geração que observa a anterior. Minha geração tenta entender o que significava militar em um partido político nos anos 1970 ou ir ao trabalho com a preocupação de não se envolver com aquilo. Nossa experiência é muito diferente da de nossos pais. Me interessa como reconstruímos os rastros perdidos de uma outra geração com a nossa própria perspectiva, nosso próprio humor, nossas próprias ferramentas."

O Globo - UPPs em debate até em Nova York

Beltrame e diretores do filme "5x Pacificação" participam de encontro no "NYT"

Fernanda Godoy

(18/7/2012) NOVA YORK. Coestrelando um debate sobre a pacificação das favelas do Rio com quatro diretores do filme "5x Pacificação", exibido segunda-feira no festival Première Brasil, no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, usou os cineastas como exemplo dos novos horizontes que se abriram com a implementação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Rodrigo Felha, Luciano Vidigal, Wagner Novais e Cadu Barcellos, com idades entre 25 e 32 anos, dirigem os curtas que compõem o documentário, produzido por Cacá Diegues e Renata de Almeida Magalhães.

- O bonito é que agora esses quatro ou cinco são referências para outros jovens. Eles estão mostrando outros horizontes para pessoas que acham que o mundo termina no fim do muro da favela. O apelo desse projeto não é mais simplesmente a polícia. É o segundo passo, é haver um verdadeiro tsunami de ações sociais - disse Beltrame a uma plateia de cerca de cem americanos e brasileiros que vivem em Nova York, num auditório na sede do jornal "The New York Times".

Cacá Diegues contou que surgiram 606 candidatos a cineastas, a maioria moradores de favelas, que gostariam de participar do projeto. Um dos diretores do "5x Favela" original, em 1962, quando era um universitário cinéfilo de classe média, Diegues pilotou, como produtor, em 2010, "5x Favela - agora por nós mesmos":

- Foi emocionante, quando terminamos o "5x Favela - agora por nós mesmos", ver que eles (os jovens diretores) propuseram um documentário sobre as UPPs.

Durante o debate, Beltrame reconheceu que as ações sociais nas comunidades pacificadas não estão acontecendo com a velocidade desejada. Ele considerou um sinal positivo que a sociedade comece a cobrar mais do governo, exigindo a construção de escolas e postos de saúde, por exemplo.

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TEATRO E DANÇA

Folha de S. Paulo - Grupos do Nordeste e do Norte tomam palcos de São Paulo

Neste mês, a cidade recebe 11 produções importadas de outros Estados, introduzidas à cena por artistas locaisGrupos são unânimes quanto à dificuldade para trazer montagens; trupe de Recife tentava vir havia quase 8 anos

Gabriela Mellão

(12/07/2012) Neste mês, 11 produções de de fora do eixo Rio-São Paulo invadem a cidade.

O grupo Magiluth, de Recife, apresenta uma mostra de seu repertório, assim como o Coletivo Alfenim, da Paraíba, que aproveita para estrear "Deus da Fortuna".

O autor e diretor amazonense Francisco Carlos retoma sua tetralogia "Jaguar Cibernético". Já o pernambucano Cláudio Lira encena pela primeira vez em São Paulo "Um Rito de Mães, Rosas e Sangue", releitura da obra de García Lorca (1898-1936).

É unânime o relato da dificuldade de chegar até aqui.

"Percebemos o mercado como algo fechado, de difícil acesso para circulações e trocas com outros Estados", diz Lira, que contou com a ajuda de Cibele Forjaz para encontrar uma teatro na cidade.

O modo mais eficaz para grupos entrarem (e se destacarem) em São Paulo se dá com ajuda de artistas locais.

Francisco Carlos obteve visibilidade fora da cena alternativa após ser apadrinhado pelos Satyros no Festival de Curitiba do ano passado.

O destaque no evento rendeu ao artista o apoio do Sesc para sua primeira montagem com amplos recursos, a tetralogia "Jaguar Cibernético".

Neste ano foi a vez de o grupo Magiluth se revelar no festival, convidado pela Cia. Brasileira de Teatro a integrar uma mostra em Curitiba.

O Coletivo Alfenim vem para as atividades comemorativas dos 15 anos da Companhia do Latão. Márcio Marciano, autor e diretor do Alfenim, foi fundador do Latão e o integrou por dez anos.

As temporadas desses grupos ocorrem muitas vezes após anos de empenho.

"Apesar de percebemos São Paulo como principal centro da produção cultural do país, apenas após quase oito anos conseguimos acessá-lo", conta o ator e diretor Pedro Vilela, do Magiluth.

Para ele, São Paulo possibilita criar redes de pensamento e de troca com os principais profissionais do país.

"A cidade é a capital do teatro brasileiro. Toda forma de teatro cabe aqui", define Francisco Carlos, rejeitando a tese de que a dificuldade de chegar se deva a especificidades regionais.

"A grande questão não é técnica, e sim política", ecoa Marciano.

Folha de S. Paulo - Peça faz da maratona uma metáfora das exigências da vida e da busca de sentido

Rodolfo Lucena

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(12/07/2012) O ator Anderson Muller já foi um sujeito gordinho -"obesinho", confidencia. Para perder os quilos extras, tratou de começar a correr, há mais de 20 anos. Apaixonou-se pelo esporte, começou a participar de provas, até maratona fez -duas, no Rio.

Faltava juntar suas paixões, a corrida e o teatro.

Não falta mais. Ele faz, ao lado de Raoni Carneiro, "Maratona de Nova York", em que os dois personagens correm quase o tempo todo, em um pequeno tablado nu onde o universo é definido por uma parede/tela que recebe projeções de paisagens, cenas urbanas, céus e luzes.

No total, calculam os atores, que terminam o espetáculo empapados de suor, correm em cena um pouco mais de seis quilômetros. É quase sempre um trote lento, mas há momentos em que aceleram, trocam de lugar e de rumo, movimentam braços e pernas com energia, vontade de chegar a algum lugar.

"O mais difícil é correr e falar", diz Carneiro, que nunca fez uma maratona. Ele se vale da forma física construída em uma atividade chamada bootcamp, combinação de escaladas e exercícios em solo e água que levam à exaustão.

Na peça, os dois personagens se encontram numa noite para um treino de corrida, que inclui desabafos, provocações, brincadeiras, palavrões e comentários machistas. O texto do italiano Edoardo Erba capta quase de forma naturalista a conversa de corredor -preocupações com o tempo e o ritmo da corrida, lesões reais ou fantasiadas, recordes e grandes fracassos.

A plateia acompanha os diálogos, ditos sem empostação exagerada nem histrionismo, como se bisbilhotasse a conversa alheia.

O texto faz da maratona uma metáfora das exigências da vida, da necessidade de superação, da busca de um sentido. "Por que correr?", pergunta um personagem, como se indagasse por que viver, o que dizer ao chegar.

A resposta talvez esteja no desabafo/confidência gritado por Muller depois dos aplausos da estreia: "A endorfina é a melhor droga!".

O Globo - Movimentos a partir da memória do outro

(13/07/2012) A coreógrafa carioca Ivana Menna Barreto lançou a pergunta “Sem o que você não pode viver?” a amigos, amigos dos amigos e desconhecidos, e ouviu as respostas mais diversas. Das óbvias (“família”, “filhos”, “amor”) às inusitadas (“minha escova de dentes”, “ver meus e-mails antes de deitar”, “ler antes de dormir”).Os depoimentos foram colhidos ao vivo, por e-mail ou Skype de 45 pessoas no Brasil, na Dinamarca, nos Estados Unidos, na França e na Holanda. O material foi reelaborado coreograficamente e resultou no espetáculo solo “Sem o que você não pode viver?”, que estreia hoje, às 21h, no Teatro Gláucio Gill.— Interesso-me em ver como algo que começou a ser feito por alguém vai sendo reaproveitado por outro. O que fica de cada um, o que alguém faz com aquilo que o outro deixou — diz Ivana, que comemora 25 anos de carreira com este trabalho.Ela explica que o tema tem a ver com “os restos do que sobrou da memória de alguém”. A origem do espetáculo está em sua tese de doutorado, “Autoria em rede — Modos de produção e implicações políticas”, recém defendida na PUC-SP. A ideia da tese é de 2009. No início de 2010, Ivana viveu uma tragédia quetem um triste paralelo com o tema da memória: a morte de seu marido, Fred Pinheiro, iluminador do Nós do Morro, com quem foi casada por 22 anos e teveuma filha, Julia, de 20, estudante de cinema. Fred foi assassinado num crime ainda sem solução.— A morte dele precipitou a vontade de falar sobre esse assunto, de chegar mais perto das pessoas. Quis muito ir até elas.Ivana pegou os resultados da pergunta — e de outra, “Qual a coisa mais importante de seu dia?” — e estruturou o solo em cinco ações: falar, andar, dançar, observar e vestir/despir.— Selecionei essas cinco porque foram extraídas dos depoimentos e também são importantes para mim.

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No Rio, ela colheu depoimentos em locais como o Camelódromo e a Avenida Rio Branco, com a ajuda de Flora Mariah, assistente de direção. E sem o que Ivana não pode viver? — Sem as pessoas. O tempo todo estou indo até elas.

O Globo - Rupturas e iluminações de um poeta que atravessou o tempo

LORENA DA SILVA, Alcemar Vieira e Ana Abbott na peça dirigida por Isabel Cavalcanti: três épocas.

(12/07/2012) Mais do que inspirada na obra do poeta A r t h u r R i m baud 1854-1891), a peça “Eu é um outro”, que entra em cartaz hoje, às 21h, no Teatro Poeirinha, se apóia na capacidade de seu espírito desestabilizador cruzar

épocas,territórios e culturas diversas.

A obra atemporal do poeta, criada num genial rasgo de iluminação entre os 15 e os 19 anos, serviu como inspiração para uma série de eventos futuros na sociedade do século XX. Desde a ampliação do uso livre das drogas até a influência na cultura pré-hippie, passando pela contracultura americana e a explosão do rock. E por que não imaginar Rimbaud desencadeando ações em outros planos, como no Rio de Janeiro da década de 1970 ou na Paris dos anos 2000?

— Rimbaud segue até hoje como uma referência na criação artística no Ocidente, tanto é que se criou em torno dele, na Europa e nos Estados Unidos, o mito do “místico selvagem” — diz o ator André Marinho, idealizador da montagem. — Sua capacidade de magnetizar as pessoas é surpreendente. A bibliografia sobre ele conta com mais de dois mil livros.

Pretexto para falar de hoje Com texto de Pedro Brício e direção de Isabel Cavalcanti, a montagem parte do metateatro, colocando em cena cinco atores que ensaiam uma peça em que o poeta figura como pano de fundo. Em três planos de ação justapostos, a montagem narra três histórias distintas passadas em cidades e séculos diferentes, como a Charleville de 1871, cidade natal de Rimbaud, o Rio de Janeiro de 1970 e a Paris de 2005. Os tempos se cruzam e entrelaçam, mas “ganham o mesmo peso”, diz a diretora.

— Toda a estrutura do texto é um quebra-cabeça, um jogo de edição, em que você vai entendendo as cenas ao longo da montagem. Meu trabalho foi o de aproximar o máximo possível o espectador da cena, apostando na delicadeza, num jogo lúdico, em que o poeta não é colocado como geralmente as pessoas esperam, aquela coisa visceral. O caminho é outro, porque o poeta não é um personagem fixo, ele é mais uma sombra que passeia por essas histórias.

Na primeira delas, passada em Charleville, emergem as lembranças da infância de Rimbaud (João Velho), sua relação com a irmã (Ana Abbott) e seu precoce ímpeto de reformular a poesia, passando pela inadequação do poeta no meio intelectual parisiense e pela paixão fulminante por Paul Verlaine (Alcemar Vieira). Já no Brasil dos anos 1970 Rimbaud é o objeto de paixão de uma tradutora, que, após verter “Uma temporada no inferno” para o português, se desespera com a censura da obra pelos militares. No conturbado terço final, passado em Paris, um estudante de literatura francês de origem árabe, Jamal (André Marinho), representa a rebeldia e o espírito revolucionário do poeta, numa cruzada contra o desemprego e a injustiça social, que o levam a atear fogo a um ônibus nas ruas de um subúrbio de Paris.

— Rimbaud é, de certa maneira, um pretexto para falar também dos dias de hoje, das reverberações da ditadura militar na educação do país e de todos esses movimentos que eclodiram recentemente, com jovens do mundo todo lutando contra regimes ditatoriais, contra o desemprego e o preconceito. A montagem levanta todas essas questões, mas não as responde — frisa a diretora.

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Ambientada num cenário criado por Fernando Mello da Costa, a montagem explora as interseções entre a biografia e a obra do poeta, um artista sempre em busca e em fuga de si: um libertário, um radical, que aos 20 anos decide abandonar a poesia e a criação literária para viver plenamente a errância e o desregramento que tão bem exprimiu em seus versos, deixando a Europa para viver na África, onde passou os últimos anos de sua vida, interrompida por um câncer aos 37 anos.

— A peça é atravessada por essa pergunta: “Por que Rimbaud larga a poesia para viver na África?” Talvez ele tenha optado por enriquecer no negócio das armas por ver esgotadas suas possibilidades poéticas — diz Isabel. — Os dilemas de uma ruptura como essa são vivenciados pelos personagens da peça. Eles estão sempre a ponto de deixar o lugar onde se encontram, de romper, de se tornar outro, como Rimbaud fez, embora tenha mantido intacto o fervor e o espírito de aventura com que se lançou à poesia.

Valor Econômico - Aos 30 anos, Grupo Galpão prepara nova sede e complexo cultural em MG

Por Valmir Santos

(16/7/2012) Um grupo de teatro alcançar a casa dos 30 anos já não constitui novidade no Brasil. Seguem ativos no panorama atual núcleos balzaquianos como o sergipano Imbuaça, o gaúcho Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz e o paulista Tapa, para não dizer do quarentão mineiro Giramundo e do cinquentão paulista Oficina, entre outros.

Mas o prestígio que o Grupo Galpão conquistou nos cenários nacional e internacional o coloca em posição tão imponente quanto as montanhas da sua Belo Horizonte natal. E uma das razões para isso é a capacidade de gerir as demandas artísticas, administrativas e financeiras ao longo de três décadas de história, ou 20 espetáculos.

A rigor, foi assim desde novembro de 1982, quando Antonio Edson, Beto Franco, Eduardo Moreira e Teuda Bara, cofundadores remanescentes, juntaram-se a outros colegas. Empoleirados em pernas de pau, eles foram às praças apresentar a comédia

"E a Noiva Não Quer Casar". Perdura, portanto, a simbologia de um grupo de atores - os diretores geralmente são convidados - equilibrando-se na cultura popular, no aprimoramento técnico e na pesquisa permanentes; na busca de infraestrutura ideal e na sobrevivência de seus membros exclusivamente por meio da arte.

Quem assiste ao espetáculo de rua "Romeu e Julieta" (1992), obra-prima do Galpão e do diretor Gabriel Villela para a tragédia de Shakespeare, havia nove anos sem vir à luz, capta com precisão a importância do grupo na historiografia da cena nacional. A tragédia tingida pela tradição barroca é remontada na esteira das comemorações pelos 30 anos. A turnê estreou em maio, em Londres, no mesmo espaço onde fora vista em 2000: o Globe, o teatro recriado nos moldes daquele onde o dramaturgo inglês trabalhou entre os séculos XVI e XVII.

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Já o reencontro com o público de Belo Horizonte aconteceu no mês passado, durante o 11º Festival Internacional de Teatro Palco & Rua, o FIT-BH. Foram cinco apresentações ao ar livre. A reportagem viu a primeira, na praça do Papa, aos pés da Serra do Curral. Impressiona o afeto da cidade para com o Galpão. Apinhados morro acima, cerca de 5 mil espectadores ecoavam o elenco no cancioneiro popular da peça. Conformavam uma espécie de estádio lotado em torno da perua Veraneio modelo 1974, de cor vinho, batizada Esmeralda e transformada em "palco" para as ações, entre elas a dos enamorado no balcão.

O carro que virou suporte cênico transportou o elenco e a equipe técnica nos idos de 1980 e 1990. Essa disponibilidade de espírito para ir de encontro ao público permanece intacta mesmo com a escala empresarial moldada pelo tempo. Hoje, além dos 13 atores e sócios, o grupo responde por outros 45 profissionais com carteira assinada, incluída a folha de pagamento do centro cultural mantido a poucos quarteirões da sua sede, o Galpão Cine Horto.

Da popular passagem de chapéu ao final das apresentações de rua, gesto tributário da Commedia dell'Arte, na Itália do século XV, à obtenção de patrocínio de manutenção e circulação das peças junto à Petrobras, desde 2000 (R$ 1,5 milhão/ano), o grupo ambiciona um crescimento estrutural em curto, médio e longo prazos.

As próximas etapas estão ancoradas na construção de uma nova sede, integrada a um complexo artístico e cultural de 2.055 m2 a ser erguido na mesma zona leste onde aportou em 1989. O terreno foi cedido pelo governo estadual, em abril de 2011, em comodato por 25 anos. "Isso significa que a gente precisa captar recursos para construir um patrimônio que não será do Galpão, mas público", diz o ator Chico Pelúcio.

Orçado em R$ 28 milhões e concebido pelos arquitetos Mariza Machado e Fernando Maculan, o espaço multimeios prevê teatro de 400 lugares, sala de cinema, praça de apresentação, alojamento e biblioteca, além de absorver o próprio centro cultural Galpão Cine Horto, com seus núcleos de pesquisa em figurinos, cenografia, comunicação, memória, etc. O futuro edifício, cuja primeira parte deve ficar pronta em 2014, será vizinho ao Centro Mineiro de Referência em Resíduos e terá "cortinas verdes" em sua fachada, arbustos de bambu que reduzem o uso de ar-condicionado.

Com formação em administração de empresas, Pelúcio ingressou no Galpão em 1984 e responde pelo coletivo quando o assunto é gestão. Ele defende o conceito de sustentabilidade na cultura com a mesma convicção das preocupações ambientalmente corretas. A premissa é de que sem educação e cultura, falar em sustentabilidade seria inócuo.

"O cidadão somente terá a arte e a cultura como fundamentais em sua vida se, desde criança, dentro e fora da escola, for incentivado a olhar o mundo de forma mais humana e sublime. O espírito da arte, o belo, não encontra espaço no vocabulário 'político economês' no qual só os índices e os números são relevantes", diz.

No plano criativo, não é por acaso que o Galpão anda às voltas com o pensamento e a obra do escritor russo Anton Tchékhov (1860-1904). Fazem parte do repertório as peças "Tio Vânia (Aos que Vierem Depois de Nós)", direção de Yara de Novaes, e "Eclipse", encenação do também russo Jurij Alschitz. Ambas estrearam em 2011 e, ao lado de "Romeu e Julieta" e "Till, a Saga de um Herói Torto" (2009), direção de Júlio Maciel, convidam a revistar as raízes e a instigar o porvir, como devem sublinhar as temporadas em São Paulo (agosto) e Rio (outubro e novembro).

O Globo - As feridas abertas da América Latina

Festival Cena Contemporânea inicia hoje, em Brasília, uma edição repleta de investigações políticas e sociais

Luiz Felipe Reis

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ESCRITA E DIRIGIDA por Lola Arias, a peça “Mi vida después” constrói ummosaico de lembranças sobre a ditadura militar argentina

A ERA Pinochet, no Chile, é abordada em “Villa + Discurso”

(16/7/2012) Após uma edição que reunia peças dos cinco continentes, o Festival Cena Contemporânea de Brasília inicia amanhã a sua 13aedição sem deixar de estabelecer elos com outros cantos, como a África — representada pelo Benim e África do Sul —, mas agora volta o seu olhar para o teatro latino-americano. No entanto, dada a amplitude de pesquisas, vertentes e investigações dramatúrgicas e de encenação, a curadoria optou por um filtro específico: redimensionar as possibilidades do teatro de cunho político e social. Além do Brasil, países como Argentina, Chile, Colômbia e México apresentam montagens que investigam chagas recentes em suas histórias, como a ditadura militar, a violência urbana, a ação de grupos paramilitares e outros temas. — Tenho observado criadores latinos trabalhando sobre problemáticas políticas de uma maneira nova, cruzando histórias privadas com a História do país, e, assim, reconstruindo e ficcionalizando a política — considera a argentina Lola Arias, que abre o festival com “Mi vida después”. — É um painel interessante porque não são obras panfletárias ou didáticas, mas irreverentes, arriscadas, que talvez não possam ser chamadas de teatro político porque é simplesmente teatro sobre o mundo em que vivem.

Além da peça de Lola, o Cena apresenta hoje o monólogo “Estamira”, de Dani Barros, inspirada na vida da catadora de lixo, e “Foi Carmen”, uma criação de Antunes Filho sobre a cantora Carmen Miranda. Ao lado de nomes como Rafael Spregelburd e Daniel Veronese, Lola Arias é hoje um dos principais nomes do teatro argentino. Articulando literatura e artes visuais, ela faz de “Mi vida después” um mosaico de lembranças sobre a ditadura militar argentina, com o objetivo de redimensionar o presente do país a partir do passado. Em cena, através de cartas, fotografias, roupas e relatos, atores nascidos na década de 1970 reconstroem a juventude de seus pais, que surgem nas memórias como exguerrilheiros, oficiais de inteligência do governo e jornalistas militante na Juventude Peronista, entre outros atores sociais ativos nos anos de chumbo da Argentina.

— Na peça, há uma geração que olha para outra, tentando entender o que significava militar num partido político dos anos 1970, ser parte de uma organização armada ou ser indiferente a tudo e ir trabalhar tentando não se envolver — conta Lola. — A nossa experiência é diferente, mas a ideia não é estabelecer um juízo de valor. Estou interessado em saber como uma geração reconstrói seus traços perdidos com sua própria perspectiva, seu humor, suas ferramentas.

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Criada pelo chileno Guillermo Calderón, “Villa y discurso” também se ergue a partir da reconstrução da memória do país, oferecendo dois espetáculos em um só. No primeiro, “Villa”, três mulheres discutem alternativas para remodelar o prédio que abrigou o principal centro de tortura e extermínio da ditadura Pinochet, a Villa Grimaldi.

— Além de ser uma tradição do teatro chileno, vejo que as pessoas das minha geração e os mais novos também veem o teatro como um lugar especial para pensar e discutir questões políticas, com interesse em explorar o tecido da ditadura em que crescemos — diz Calderón.

— No Chile não houve justiça para o assassinato e tortura da ditadura Pinochet, e é necessário perguntar como podemos lembrar o que aconteceu. Já a segunda parte, “Discurso”, apresenta uma despedida fictícia da ex-presidente Michelle Bachelet. Perseguida e torturada, ela tenta entender as dificuldades de implementar seu plano de governo num mundo dominado pelo livre mercado. Sendo assim, o espetáculo une um passado de torturas e repressão e um presente de opressões veladas guidas pelo neoliberalismo.

— O fato de a primeira mulher eleita presidente ter sido uma vítima direta das violações dos direitos humanos durante a ditadura foi marcante — conta. — Fora isso, ela governou o Chile sob o modelo neoliberal capitalista, e, via de regra, sendo o alvo de ataques da direita.

Guerrilha no México é tema Já o grupo mexicano Lagartijas Tiradas ao Sol estreia, no dia 26, “El rumor del incendio”, que parte da vida da antropóloga Margarita Urías Hermosillo para narrar histórias dos movimentos subversivos, das guerrilhas e revoltas que marcaram o México nas décadas de 1960 e 1970.

— Observo um reposicionamento da questão política na cena teatral — afirma o diretor Gabino Rodríguez. — Acreditamos, sim, que o teatro pode redirecionar o imaginário, a partir do entendimento de que repensar o passado é uma maneira de permitir um futuro diferente. Coisa que o diretor espanhol radicado na Colômbia Tino Fernández acredita ser possível a partir de uma abordagem que observa a realidade colombiana sob uma ótica mais “poética que literal”, diz ele, que une teatro e dança em “EnOtraParte”.

— Sou um espanhol que escolheu viver na Colômbia por acreditar na vitalidade da América. Então esse é um trabalho que investiga o que significa ser e se sentir estrangeiro, o choque entre culturas e sobre como podemos nos aproximar do outro, coabitar o mesmo espaço, mesmo sendo tão diferentes.

Correio Braziliense - Voo da menina palhaça

Vencedora do Prêmio Shell de melhor atriz com a personagem Estamira, Dani Barros dá um saltona carreira com a história da filósofa do lixão.

Nahima Maciel

(18/7/2012) Dani Barros é uma obstinada. Uma vez, quando criança, catou o telefone e ligou para a TV Globo. A recepcionista atendeu e a garota perguntou: “Vocês têm vaga de atriz?”. Era lá pelos anos 1980 e de tanto ouvir o padrasto dizer que a colocaria na Globo, ela se apressou. Na mesma época, adorava brincar de Chacrinha. Fazia caras e bocas, imitava artistas e fingia apertar a mão dos

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jurados. Acabou fazendo televisão — em 2006, em Minha nada mole vida, com Luís Fernando Guimarães — e gostou. Mas é, no teatro, que Dani costuma sentir o que chama de “potência” da interpretação.

Aos 39 anos, essa fluminense nascida em Petrópolis tem vontade de gritar, chorar, pular e correr, tudo ao mesmo tempo, quando se depara com um trabalho consistente. Por pouco, não vira a palhaça Leonora Prudência, mas com certeza retira de seu avatar de nariz vermelho boa parte da força necessária para apreciar e encarar o palco.

Estamira — Beira do mundo é um divisor de águas na vida de Dani. A peça que integra a agenda de hoje do Cena Contemporânea surgiu como um caso de amor à primeira vista: no fundo, tudo parece óbvio, mas o impacto inicial derruba e planta certezas. Dani assistiu ao documentário homônimo de Marcos Prado quando foi lançado, em 2005, e nunca mais parou de pensar na filósofa do lixão do Jardim Gramacho, cheia de verdades e sentenças proferidas como um tapa na cara. “Fiquei completamente arrebatada, apaixonadíssima. Achei aquela mulher muito forte, extremamente corajosa, guerreira. Era a possibilidade de poder falar de coisas que estavam engasgadas há muito tempo.”

Coisas engasgadas, Dani tinha algumas. Os 13 anos como a palhaça Leonora no grupo Doutores da Alegria levaram à experiência em hospitais ao extremo. Trabalho duro, sofrido e sensível. O ambiente hospitalar já era conhecido da atriz. Durante a infância, a depressão da mãe a fez transitar por alas psiquiátricas e vivenciar situações delicadas. Estamira carregava algo familiar em seu discurso delirante e filosófico. Em 2009, começou o delírio de Dani. Com o patrocínio garantido, ela se deu conta de que ia mesmo montar a peça e começou a enfrentar a surpresa de amigos e a sentir o peso da responsabilidade. “As pessoas me diziam `nossa você vai fazer Estamira!´ Comecei a ficar traumatizada. Como colocar no palco? Porque cinema é real e tinha a Estamira de verdade.”

A montagem, com direção da amiga Beatriz Sayad (companheira de Doutores da Alegria), levou nove meses e acabou com um Prêmio Shell de melhor atriz para Dani, que já havia sido indicada por Acqua toffana, em 2007 A adaptação de romance de Patrícia Melo firmou a experiência da atriz com monólogos, prática sem a qual Estamira ficaria capenga. “É um crescimento que só entende quem faz um monólogo”, explica. “Acqua Toffana foi meu primeiro monólogo, mas na verdade tem toda a equipe por trás e eu não estou sozinha em cena. E eu acredito em coisas do além: sozinha em cena, não estou.”

Uma gestaçãoDani é um pouco espírita e mística, confia na intuição e em coisas que sente mas não pode explicar. Com Antônio Abujamra, por exemplo, ela trabalhou em inúmeras peças e, mesmo quando ele não está por perto, tem certeza da presença do diretor. “Escuto a voz dele”, garante.

Sob a direção de Abujamra e João Fonseca, outra referência e colega de turma, a atriz fez Casamento (Nelson Rodrigues), O auto da compadecida (Ariano Suassuna) e As bruxas de Salem (Arthur Miller). Em Estamira, a parceria com Beatriz Sayad se beneficiou de algo que Dani sempre carrega para as montagens: afinidade, amizade e admiração. “Ela é uma atriz potente, com uma experiência de vida forte que usa como matéria artística. Estamira é uma escolha intuitiva, de amor, é mais do que fazer uma personagem porque ela é bacana”, avalia Beatriz. A dupla já havia trabalhado em Inventário, peça com depoimentos do Doutores da Alegria sobre o lado B da vida do palhaço.

ARTES PLÁSTICAS

O Globo - Daniel Senise expõe a relação de lugares genéricos e próprios

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(12/07/2012) Ao entrar na nova exposição que Daniel Senise inaugura hoje, às 19h, na Silvia Cintra Galeria de Arte, o visitante se depara com dois ambientes diferentes plasmados nas paredes do lugar: um chão de tacos de madeira reluzentes — desses comuns nos apartamentos mais antigos do Rio — e o interior de uma casa, com suas janelas e portas, que, descobre-se depois, trata-se do ateliê do artista, localizado na Rua Silvio Romero 34, endereço que dá nome à série.Na mostra, Senise resolveu apresentar três obras de cada série — os tacos e o ateliê —, num total de seis trabalhos inéditos de grande formato.— São dois extremos que mostro aqui: o chão de tacos foi baseado na casa de um amigo meu, mas poderia representar qualquer lugar. É um ambiente genérico, sem limites — diz o artista. — Já o outro é o meu espaço. Quero representar esses dois fundamentos e mostrar que sempre reconhecemos os dois lugares.Nas duas séries, Senise utiliza a mesma técnica com a qual sempre trabalhou, desenvolvida por ele nos anos 1980: em seu ateliê, cobre o piso com cola, verniz, pigmentos e sujeiras que já estão ali, e depois imprime num tecido fino a memória do local. Em seguida, Senise recorta e organiza as impressões numa estrutura de alumínio — material escolh i d o p o r c o n t a d e s u a m a i o r d u r a b i l i d a d e —, construindo por meio de claros e escuros a perspectiva da obra. Ainda que pareça, não há um traço de pincel ou lápis nas telas. A “pintura” se forma numa espécie de corte e colagem.Apesar de serem imagens exatamente do mesmo local, cada uma tem sua própria intensidade de luz e de marcas dos pigmentos e da sujeira.Os trabalhos são uma espécie de continuação de obras que o artista já vinha mostrando nos últimos anos: em 2001, em exposição nas Cavalariças do Parque Lage, Senise apresentou uma tela que representava o lugar onde ela estava sendo exposta. Em 2010, na Casa França-Brasil, uma das séries exibidas foi a também intitulada “Silvio Romero 34”, com fotos desgastadas de seu ateliê. Nelas, o acaso e o projeto convivem.— Estou fazendo um trabalho para mim. Quero me surpreender com ele. Se eu sempre souber o que vai acontecer, fica chato — afirma Senise, para logo fazeru m a o b s e r v a ç ã o : — N ã o que eu não saiba, já tenho um território meu construído, mas é bom experimentar as duas coisas: um controle grande sobre as coisas e a ex p e r i m e n t a ç ã o s e m projeto algum. Estou num m o m e n t o e m q u e p o s s o transitar pelos dois. (Catharina Wrede)

Valor Econômico - Davos encontra Inhotim

Por Camilla Veras Mota

(16/7/2012) O sol brilha 300 dias por ano na suíça de St. Moritz, encravada nos Alpes, entre os lagos da região de Engadine. Durante o inverno, a população de 5 mil habitantes da cidade cresce 35% - gente que vai para esquiar, encontrar amigos em festas fechadas, comer em restaurantes estrelados e, mais um vez, gastar. Dos 40 hotéis da cidade, metade é quatro ou cinco estrelas. A quem passava por lá agosto passado, um luminoso em inglês na janela da sede de um banco suíço lembrava que "a felicidade custa caro". E a provocação piscante não era clandestina. Alejandro Diaz, artista plástico e autor da obra, era convidado da quarta edição do Art Masters, o evento que, na definição de um de

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seus fundadores, Reiner Opoku, quer transformar St. Moritz em um ponto de referência para discutir e repensar a arte. "Como [a também suíça] Davos é para a economia", compara.

O projeto começou mais humilde. O bureau de turismo pedira um evento que movimentasse a cidade durante o verão e não tivesse ligação com os esportes, já que eles são soberano na temporada desde o século XIX. Com o especialista em branding Monty Shadow, que faz consultoria para gigantes do luxo como o grupo Richemont, porém, Opoku criou um projeto sofisticado, baseado em cinco plataformas. Exposições nas oito galerias internacionais da cidade, simpósios e palestras, workshops, projetos com patrocinadores (Mercedes-Benz, Cartier, Pirelli, Leica) e o Art Masters Project, em que artistas convidados criam em ambientes inesperados - uma igreja, as margens de um lago, o topo de uma montanha. Tudo gratuito. "Queremos criar uma espécie de retiro, cercar os visitantes de arte e natureza por todos os lados, como vocês fazem em Inhotim [MG]", completa. Os artistas Mike Kelley, morto no começo do ano, George Condo, Jannis Kounellis, Gerhard Richter e Frank Stella participaram nas edições anteriores. Ao lado de curadores e especialistas, eles também discutiram suas obras e, nos "samposiums", temas como a relação entre a arte e a arquitetura e a polêmico do "art or cult?".

Dos 34 artistas que ocupam a cidade de 24 de agosto a 2 de setembro, nove, entre nomes consagrados e promessas, são brasileiros. Adriana Varejão leva sua "Linda da Lapa" (2004) para a francesa Eglise au Bois. Também em uma igreja, mas protestante, Vik Muniz expõe a série "Verso" (2008), que passou em 2010 pela galeria Fortes Vilaça, em São Paulo, e mostra a face posterior dos clássicos "Les Demoiselles d'Avignon", de Picasso, "Starry Night", de Van Gogh, e "La Grande Jatte", de Seurat. Tiago Rocha Pitta ergueu uma tenda de concreto no topo de uma montanha. "Hermit", ele diz, inspira-se na solidão contemplativa que promoveu o "encontro" entre Friedrich Nietzsche, que morou por muitos anos em Sils-Maria, um vilarejo vizinho, e Zaratustra. Já Carlito Carvalhosa transformará uma casa do século XVII na instalação "Bulb End", com luzes e muitas taças. Saint Clair Cemin apresenta as esculturas "Tai Chi Penguin" (2012), "Marte" (1994) e "Pneumokariatide" (2006). Pedro Wirz, radicado em Basel, leva "Handmade" (2011), Paulo Sergio Niemeyer, a cadeira "Rio", e Roberto Cabot promove sua "Mediamorphose" em um estacionamento.

A decisão de homenagear o país, admite Opoku, deve-se muito à onipresença dos "brazilian day" em eventos pelo mundo - "da Feira do Livro de Frankfurt ao mês temático da Macy's, todo mundo hoje tem um" - e à sugestão da amiga brasileira Rita Ficher Rohr, galerista em Basel, e de Sam Keller, empresário entre 2000 e 2007 da Art Basel, maior feira de arte contemporânea do mundo. Pode não parecer, mas o alemão é versado no tema Brasil. Foi ele que trouxe, em 1985, o tcheco Georg Dokoupil, quem representava na época, para a 18ª Bienal de São Paulo. Desde então, mesmo longe, ele discute arte brasileira com amigos como Rita e o artista Antonio Dias.

Para ele, a globalização e o bom momento econômico vivido pelo Brasil - e por Índia e China - são a chance de o país, assim como Estados Unidos e Europa fizeram um dia, exportar sua cultura. "Não é mais apenas samba e carnaval. O mundo já vê o Brasil através da arte, do cinema, da literatura. E vocês ainda têm a vantagem, em relação a outros emergentes, de não terem precisado de uma revolução cultural para libertar seus artistas. Mesmo com o regime militar, a arte brasileira continuou se desenvolvendo, ainda que com dificuldade", afirma.

Para ele, os três grandes nomes da arte contemporânea brasileira são Adriana Varejão, Beatriz Milhazes e Vik Muniz. Com este último, a quem compara com Andy Warhol - "o método de produção 'industrial' deles é parecido" -, ele trabalhará em outro projeto, que desenvolve no Brasil. Em 2010, Opoku criou, com patrocínio da Mercedes, o Avant Gard Diaries, uma plataforma virtual em que personalidades viram, por um ano, curadores, revelam novos talentos e trabalham com quem consideram "à frente de seu tempo". Cada edição é fechada com um evento de dez dias, que inclui espetáculos e exposições. A primeira aconteceu em Berlim e foi montada pelo estilista belga Raf Simons, que sucedeu recentemente John Galliano na diretoria de criação da Dior. Mike D, vocalista da banda Beastie Boys, levou o evento para Los Angeles em 2011 e o compositor Andreas Emenius comanda o deste ano em Copenhagen. Em 2013, Muniz lidera do Rio com Letícia Monte. E os planos de Opoku para o Brasil seguem. Com a amiga Rita Ficher, ele trará os trabalhos de Arne Quinze e Julian Schnabel para o Masp em 2013 e 2014.

O alemão entrou no mercado de arte incidentalmente. Nos anos 1980, aos 23 anos, abriu um bar na sua Colônia natal. Tendo como vizinhos os "meninos selvagens" do coletivo Mülheimer Freiheit - entre eles Georg Dokoupil, a quem viria representar pouco tempo depois -, Opoku não demorou a

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descobrir que "mexer com arte era mais divertido do que servir mesas". Morou em Madri, Nova York e nas Ilhas Canárias e trabalhou ainda com Julian Schnabel, Ilya Kabakov, Albert Oehlen e David LaChapelle. Já abriu uma loja de departamento dedicada a objetos de arte, passou pela editora Taschen - Benedikt Taschen, outro amigo nativo de Colônia, precisava de alguém para abrir o mercado asiático para seus livros de arte - e foi sócio da Wolfgang Roth & Partners, uma das maiores galerias de Miami.

A St Moritz Art Masters, ele diz, é uma oportunidade de diminuir o ritmo - não dele, mas do mercado como um todo. Hoje, defende, há feiras de arte em número suficiente para que alguém com tempo viaje o ano inteiro de um evento a outro. "O problema é que dificilmente se discute arte nesses lugares. Só se compra". Ele admite que os colegas galeristas estão tendo problemas para reunir material novo para dar conta dessa peregrinação e começam a se fazer a pergunta que assombra as marcas de luxo - "como aumentar escala e não perder qualidade?".

O avanço da demanda, porém, não pressiona os preços, pelo menos nas galerias. "As cifras malucas dos leilões são apenas a ponta do iceberg; 80% das obras continuam com preços 'normais'. Se você conversar com os galeristas, eles não dirão que estão fazendo excelentes negócios. Os valores irreais dos leilões, aliás, se concentram em alguns nomes - Damien Hirst, Roy Lichtenstein, Jean Basquiat -, e isso é reflexo do momento econômico atípico que vivemos. Conversei há pouco tempo com um russo que comprou uma peça extraordinariamente cara e ouvi que ele prefere investir em arte sabendo que a obra que arrematou pode perder até 30% em valor com o tempo do que 'apostar' no sistema financeiro e correr o risco de perder tudo". As casas de leilão, ele continua, tomaram o lugar que já foi das galerias e das bienais. Elas regulam o segmento e o direcionam para uma cultura mercadológica. "Nos anos 1960, 1970, a arte era restrita a 'connaisseurs' e galerias. Na década seguinte, quando entrei nesse mercado, a arte virou assunto de interesse público. Essa foi a época em que Warhol foi reconhecido, apesar de já estar trabalhando há 20 anos. Muita gente fez dinheiro nessa época, com essa arte nova, fresca. As galerias eram os centros em torno dos quais gravitava esse universo. As aberturas eram grandes eventos, onde todo mundo se encontrava. A crise do fim dos anos 80 pôs um fim brusco a esse momento. Quando os players foram se recuperando, começaram a surgir as bienais, as instalações, os trabalhos e artistas mais impenetráveis. A partis dos anos 2000, as casas de leilão assumiram e hoje dominam o cenário. A forma como operam não é muito saudável, pouco contribui para o desenvolvimento da arte. Se sentem que o mercado está fraco, jogam suas estimativas para baixo para continuar vendendo. E o sistema é alimentado pela emergência de novos players, como China, Rússia, Oriente Médio e Brasil, que se sentem mais, digamos, confortáveis comprando em um leilão que em uma galeria".

Beatriz Milhazes, a primeira artista brasileira viva a ter uma obra vendida por US$ 1 milhão ("O Mágico", negociado pela Sotheby's em 2008), e Adriana Varejão, que viu sua "Parede com Incisões à La Fontana II" ser arrematada por £ 1,1 milhão, maior valor já pago por obra de um artista brasileiro vivo, em um leilão da Christie's em Londres no ano passado, têm o trabalho disputado nessa nova realidade, afirma Opoku, porque têm uma produção limitada. "Acredito que elas não façam mais que 20 obras por ano", diz. Em pouco mais de seis anos, segundo o curador, ambas venderam, em leilões, entre 50 e 80 peças cada. "Com um pouco mais de tempo, Vik Muniz já chegou a 600", fala, "mas isso, como disse, é consequência da maneira como ele trabalha".

Para os investidores, Opoku sugere apostar nos artistas que estão no meio da carreira. A chance de suas obras terem uma valorização relevante é maior, afirma. Mas não desencoraja os perdulários: "A satisfação é aplicar em algo de que se gosta".

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O Globo - As vozes e faces da Amazônia

Ampla mostra no CCBB destaca a vigorosa produção artística contemporânea da região

‘Amazônia — Ciclos de modernidade’

Marisa Flórido

O vídeo “Ymã Nhamdehetama — Antigamente fomos muitos”, de Armando Queiroz, nos recebe na exposição “Amazônia: ciclos da modernidade”.

(16/7/2012) Nele, um índio discorre sobre a mitificação, a marginalização e o aniquilamento das muitas etnias indígenas. Ao fim, seu rosto pintado de negro reproduz o desaparecimento que relata. A ambivalência da situação nos inquieta: o vídeo dá voz e imagem — visibilidade política e estética, portanto — a quem, entretanto, expõe sua extinção, seu apagamento, sua invisibilidade.

Talvez por estarem ameaçados, jamais os “povos” foram tão expostos em documentários ou obras de arte. Como dar visibilidade e voz (portanto representação) para não expor e enunciar seu desaparecimento? Eis o impasse.

Com curadoria de Paulo Herkenhoff, a mostra foi intencionalmente inaugurada no CCBB Rio durante a Rio+20. Indiretamente, foi confrontada aos discursos de outra ameaça: a do desaparecimento do próprio planeta. A ambivalência se repete: a Amazônia, que figurou no imaginário ocidental como o inferno verde ou o paraíso intocado, é celebrada como a reserva ecológica da Terra. E, no entanto, como não ver a própria ecologia como uma reserva imaginária de ressonâncias teológicas? Como a última possibilidade (que alguns creem) de um laço universal que transcenderia divergências para nos salvar da iminente hecatombe?

O horizonte de uma Humanidade reconciliada, antes nas promessas religiosas ou políticas, se coloca sob a perspectiva escatológica (do fim do mundo), sob o signo da catástrofe vivida em comum.

Longe das idealizações, a história da Amazônia, como escreve o curador, é uma história de violência. Não é um universo apaziguado, mas uma miríade de mundos que, ao longo dos séculos, vêm se chocando e se devorando: do canibalismo da evangelização à luta por territórios e riquezas,

dos genocídios aos conflitos agrários e urbanos, dos assassinatos políticos às queimadas e garimpos.

Cerca de 300 obras expostas A curadoria se propõe a desenhar “uma cartografia do conhecimento e da cultura visual amazonense” a partir dos ciclos de sua modernidade: o Iluminismo, o Ciclo da Borracha, o Modernismo, a Contemporaneidade. Uma pesquisa extensa que traz cerca de 300 obras, do século XVIII até hoje, emprestadas de acervos diversos.

São colocados, lado a lado, objetos da cultura material e obras de arte, documentos históricos e científicos, mapas e projetos arquitetônicos. Realizando uma iconografia amazonense, são esboçadas as arqueologias de sua visualidade: a floresta e seu fundo infinito, sua flora e fauna atravessadas pelas visões indígena e cristã, catalogadas pela razão iluminista e desenhada por seus cientistas viajantes, cobiçadas pelo capitalismo, idealizadas pelos fundamentalismos ecológicos; os habitantes tipificados por pintores e filtrados pelas lentes de fotógrafos que por lá passaram; as geometrias dos artefatos indígenas mesclandose ao construtivismo da arte e arquitetura europeias etc.

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O confronto de imaginários sobre e da Amazônia emerge de cruzamentos e fricções de mundos: surgem suas vozes dissonantes, seus estereótipos perpetuados, suas generalizações e singularidades. Mas o que sobressai na mostra é a vigorosa produção artística contemporânea da região, seus deslocamentos e resistências, seus questionamentos das codificações culturais e dos discursos identitários: na fotografia e no vídeo paraenses (de Luiz Braga, Orlando Maneschy e Armando Queiroz, entre outros); na contundência performática de Berna Reale; nas cartografias incertas do grupo Urucum de Macapá, que denunciam as fronteiras como imaginárias e portáteis; na incorporação da visualidade popular de Emanuel Nassar e Marcone Moreira em diálogo com a tradição construtiva da arte etc.

É preciso situar a estratégia curatorial (e política) em suas muitas articulações. “Amazônia” pretende demonstrar que o se produz na periferia dos centros de poder do país tem características próprias e por vezes precursoras. A um só tempo, ambiciona reescrever a história da arte brasileira, evidenciando que há muitas histórias recalcadas sob os discursos hegemônicos (outros “modernismos”), como também colocar a arte nos grandes debates políticos da atualidade. Abrir o lugar de enunciação e visibilidade das vozes e faces da Amazônia, tanto na história da arte como nos destinos do mundo.

Folha de S. Paulo - Irmãos Campana fundem barroco e rococó em ParisDesigners mostram em setembro nova coleção no museu Les Arts Décoratifs

Dupla de brasileiros recebe prêmio de conglomerado de luxo francês e fará primeira individual parisiense

(17/07/2012) Na "terra do luxo", os irmãos designers Fernando e Humberto Campana vão tentar reinventar a noção de chique juntando o barroco mineiro ao rococó francês.

Essa fusão -que cria móveis palacianos a partir de jacarés de plástico, fragmentos de bonecos e até escovas de dentes fundidos em bronze e depois pintados de ouro- é o mote da coleção que a dupla mostra numa individual marcada para setembro no Les Arts Décoratifs, em Paris.

"Quero criar esse cruzamento entre os movimentos, tentando entender o que seria o barroco hoje", diz Humberto Campana à Folha. "Fui refazendo e fundindo novas peças para agregar esses ornamentos, ter o passado e o presente num diálogo."

Não é a primeira vez que os Campana, designers que vendem sua obra como símbolo máximo de brasilidade, visitam o barroco mineiro como referência, mas o período agora é revisto à luz dos frisos, excessos e ornamentos do rococó que decoraram palácios da monarquia francesa.

Isso porque o comitê Colbert, um conglomerado francês que reúne 75 marcas, entre elas Louis Vuitton, Hermès e Chanel, está premiando os Campana por seguirem no Brasil aquilo que ele entende por luxo.

"Fernando e Humberto são exemplos da cultura brasileira em que podemos reconhecer nossos ideais", diz Elisabeth Ponsolles des Portes, diretora do grupo. "Eles usam o artesanato tradicional e a carpintaria para criar modernidade e um discurso poético em torno desses objetos."

Um sofá da nova coleção dos Campana combina um estofado de pele com uma estrutura dourada composta de pequenos jacarés e répteis dourados, que se entrelaçam para sustentar o móvel.

Esse é o tipo de excesso característico da obra dos Campana, motivo de críticas à dupla, que sempre se opôs à escola construtiva do design no país, herança da Bauhaus e do movimento concretista.

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"Quero propor outra coisa, fazer tudo com a mão", diz Humberto. "Em vez do industrial, o 'slow design'. Acho muito careta, limitado e castrador ficar restrito só a uma coisa. Esse século é transgênico, graças a Deus. Quero fazer poesia e coisas bonitas."

Mas os Campana reconhecem que essa poesia, quando transformada em objetos, nem sempre agrada, sentindo que muitos ainda "duvidam" de sua obra no país.

Enquanto isso, Veuve Clicquot, Lacoste e outras já firmaram parcerias com os irmãos para abocanhar essa brasilidade para exportação. E a Paris do rococó se rende ao neobarroco dos Campana.

O Globo - A ‘beleza serena’ e a sedução de Anna Letycia em retrospectiva

Prestes a fazer 83 anos, artista exibe no MNBA 80 gravuras desde os anos 1950

Mauro Ventura

“CARACOL”, de 2007 (ao lado), e “Novas imagens”, de 1992: vernissage hoje.

(17/7/2012) Anna Letycia recusa os apelidos de “grande dama da gravura” ou “grande dama das prensas”, como já foi chamada:

— Acho bobagem — diz. Ela conta que diziam a mesma coisa de Fayga Ostrower, que morreu em 2001, e depois passaram a falar dela. Ainda que não goste do rótulo, é inegável que a trajetória de Anna Letycia se mistura à história da gravura no Brasil. Perto de completar 83 anos, em setembro, ela ganha retrospectiva no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA). O vernissage é hoje, a partir das 19h.

Dificuldades da gravura À mostra, estão 80 obras, que abrangem do começo da década de 1950 até 2008. — É uma exposição bem didática. Apresenta várias técnicas (como ponta seca, água forte, água tinta, açúcar com guache) e tem matrizes para ensinar como fazer. Muitas pessoas não têm ideia do que é gravura — ela diz, enquanto acompanha a montagem.

E, é possível acrescentar, não têm ideia dos obstáculos de se fazer gravura no Brasil. — É muito trabalhoso, demorado. E os preços são sempre ridículos. É difícil para se impor.

Como diz Ângela Âncora da Luz no livro “Anna Letycia”, uma das dificuldades “é o uso do papel como suporte da criação artística”. Frágil, “facilmente atacado por fungos, sobretudo num clima quente e úmido como o nosso, o papel sinaliza para um baixo custo e, por isso, não interessa às galerias”. Além do mais, há a possibilidade de que a obra possa ser copiada muitas vezes.

Na exposição “Anna Letycia gravuras”, estão os temas mais conhecidos da artista: caracóis, espirais, caixas. A iniciativa partiu da própria Anna Letycia, que sugeriu o projeto a Tomie Othake. A ideia foi prontamente aceita. E assim surgiu a retrospectiva, com curadoria de Anna e do professor Ricardo Queiroz. Começou em 2008 no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, seguindo depois para Brasília e Recife.

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Ainda que esteja mais associada à gravura, Anna Letycia também é conhecida por suas pinturas — aliás, foi onde ela começou, estudando com Bustamante Sá. Mais tarde, fez cursos de gravura com Iberê Camargo, Goeldi e Darel, e de pintura com Ivan Serpa.

— Quando fui aprender pintura com Iberê, ele precisava de alunos de gravura — diz a artista, nascida em Teresópolis e radicada no Rio.

Em seu longo percurso, ela foi cenógrafa e figurinista do Teatro Tablado, tendo sido parceira da amiga Maria Clara Machado em peças como “O cavalinho azul” e “A bruxinha que era boa”, e trabalhou com Jorge Amado no jornal “Paratodos”. Em 1975, fundou, juntamente com Aloísio Magalhães, Thereza Miranda, Márcia Barroso do Amaral, Bárbara Sparvoli, Dadá Carvalho Brito e Haroldo Barroso, a galeria de arte Gravura Brasileira, em Copacabana, a primeira dedicada à comercialização de gravura e desenho.

Também fez a curadoria da exposição “Os inumeráveis estados do ser”, em 1997, para celebrar o Museu de Imagens do Inconsciente, de Nise da Silveira — Anna Letycia chegou a ser presidente da sociedade de amigos do museu. Ainda atuou como carnavalesca da União de Jacarepaguá, onde criou um enredo sobre Mestre Valentim, em 1963; e criou, em 1977, a Oficina de Gravura do Museu do Ingá, em Niterói, onde continua ensinando.

— O ateliê do MAM fechou, o do Parque Lage fechou — lamenta. — Tem o do Sesc, na Tijuca, e o do Ingá. No catálogo paulista da retrospectiva, Ferreira Gullar escreve: “As obras de Anna Letycia nos seduzem e nos fazem contemplá-las, demoradamente.

São o contrário da expressão instantânea, que logo se esgota. Queremos penetrar nelas, nos deixar envolver por seu sortilégio e seu silêncio — detrás do qual adivinhamos uma personalidade criadora inconfundível.” Outro crítico, Frederico Morais, apontou certa vez “um máximo de despojamento nas obras (de Anna), uma espécie de minimalismo gráfico, que revela uma sensibilidade muito apurada e uma beleza serena”.

Folha de S. Paulo - Figuras de costas são tema de exposiçãoLasar Segall tem obras do século 19 até hoje com personagens ambíguos Mostra reúne trabalhos de Anita Malfatti, Oswaldo Goeldi, Lasar Segall, Giorgio De Chirico, entre outros

“Perfil de Zulmira", de Lasar Segall

(18/07/2012) Estão todos de costas. Uma mulher nua refestelada na cama, um homem num turbilhão de movimento, pescadores fitando o horizonte, cavalos numa praia estranha.

São personagens de obras do século 19 até hoje, juntas numa mostra em cartaz no Museu Lasar Segall, em São Paulo. O único critério para a seleção era que as figuras estivessem de costas para o espectador, mergulhadas na própria solidão ou alheias ao fato de serem observadas.

Nisso, estilos e escolas se misturam num contraste entre tempos e proposições.

Uma tela clássica de Rodolpho Amoedo, pintor acadêmico que

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viveu no Rio na virada do século 19 para o 20, mostra uma mulher nua, de curvas lustrosas, deitada sobre uma montanha de lençóis em seu ateliê, segurando na mão um leque japonês.

Essa tela do Museu Nacional de Belas Artes do Rio, pouco vista em São Paulo, serve de síntese da mostra.

Isso por dois motivos. Amoedo sujeita o academicismo da época a arroubos do realismo burguês que aprendeu em Paris, sem contar o aceno ao japonismo dos impressionistas. Também por juntar na figura nua ali deitada uma série de suposições sobre alguém de costas, um ar de mistério, tristeza, vulnerabilidade ou indiferença.

"É um tema muito comum a modelo jogada sobre o sofá, uma coisa exuberante", descreve Aracy Amaral, curadora da mostra. "É de uma sensualidade muito grande."

Menos sensual, Eliseu Visconti, que foi aluno de Amoedo, mostra duas figuras, um adulto e uma criança, olhando estáticos para o jardim de Luxemburgo, em Paris.

"Há um suspense, algo que intriga o observador, que é também voyeur", diz Amaral. "O mistério está sempre subjacente em figuras de costas."

Nesse ponto, uma gravura de Oswaldo Goeldi em que pescadores também fitam o horizonte parece complementar a noção de suspense.

Mais interessado em plasmar uma linguagem de vanguarda, um carvão da melhor fase de Anita Malfatti, entre 1915 e 1917, mostra um homem quase estátua retratado no gestual acelerado, convulsivo dos futuristas italianos.

Depois de seu retorno da Europa, em 1923, Lasar Segall emprestou contornos expressionistas a uma obra que já absorve as cores do Brasil. Seu "Perfil de Zulmira" mostra uma menina negra em vestes e ambiente cálidos.

O Globo - Daisy Xavier usa madeira para criar formas de ‘quase ficção’

Artista abre mostra com 15 esculturas abstratas na galeria Anita Schwartz

Audrey Furlaneto

MADEIRA REINVENTADA em “Aranha”, de 2012, e o estudo “Último azul”, uma das poucas obras de 2011

(18/7/2012) Na entrada da galeria Anita Schwartz, onze pontiagudas lanç a s d e m a d e i r a saem da parede rumo ao chão. Algumas delas, porém, não chegam a tocar o piso e estão equilibradas pelo resto do que um dia foi uma taça de vidro azul. Daisy Xavier chama este primeiro trabalho da exposição “Arqueologia da perda” (que a galeria abre hoje, para convidados, às 19h) de “Batalha”, em

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referência à “A Batalha de São Romano”, de Paolo Ucello, do século XV — e talvez a seu próprio trabalho.

A batalha de Daisy está em criar na galeria obras que não repitam a bem-sucedida exposição que apresentou recentemente no Museu de Arte Moderna do Rio. Lá, móveis, ora inteiros, ora despedaçados, equilibravam-se sobre copos, taças e vasos de vidro azul.

Destruir para remontar Da batalha rumo à galeria, restaram a madeira e poucos vidros. Não há mais formas definidas. Há, sim, a memória do que um dia já foi forma, criando o que a artista define como “quase ficção” . Depois de ver a “Batalha”, de 2012 (assim como todos os demais trabalhos da mostra), o espectador adentra o espaço principal da galeria para se deparar com 15 esculturas — a maioria na parede. Três delas são menores e e precedidas por uma delicada lente de aumento pela qual se pode ver um número talhado.

Todas as formas são feitas de madeira antiga, que já era usada na mostra do MAM. Para Daisy, o material antigo, que um dia foi móvel, “dá a sensação de coisa vivida”. No museu, diz a artista, ela tentava mostrar “a memória da casa prestes a desmoronar”. Na galeria, tudo é “mais abstrato, e o móvel já não surge mais como cadeira, como mesa, mas como quase ficção”.

— Foi difícil dar continuidade ao trabalho depois da exposição no MAM. Lá, foi a primeira vez que usei esculturas e, agora, sabia que queria fluidez de linhas e formas, mas já não queria mais a madeira esculpida, talhada, desenhada.

Daisy, então, desmontou móveis e usou, por exemplo, pernas de cadeiras para criar uma escultura no chão, que não chega a sugerir uma forma definida. Na parede, remontadas, as partes dos móveis criam formas sinuosas, curvilíneas que podem passar de três metros de altura.

O título da exposição, “Arqueologia da perda”, diz muito da proposta da artista: “Usar coisas destruídas para remontar algo e criar uma ficção”, como ela mesma define. Aos 60 anos, Daisy atende pacientes (ela é psicanalista) pelo menos três vezes na semana. Nos demais dias, dedica- sa ao ateliê, no andar de cima do consultório. Não à toa, vê muito de psicanálise no trabalho artístico.

— O processo de análise é também este, o de destruir tudo para remontar e rearticular de outra forma — explica. — Perdas existem o tempo todo.

A ideia é sempre aprender a reinventar o sentimento. No terceiro andar da galeria, ela apresenta algumas telas que usa para a “formalização das esculturas”. A sala com pinturas em preto, marrom e azul anil (o mesmo dos vidros que Daisy costuma usar nas obras) funciona como um bloco de anotações da sala principal, de esculturas. Já no contêiner da galeria, na varanda do terceiro andar, ela mostra o vídeo “Mar sem orla”, de 2010. Nele, um poema numa folha de papel queima aos poucos, deixando ver, abaixo dele, o mar azul.

MÚSICACorreio Braziliense - Escrito nas estrelas

YALE GONTIJO

(12/07/2012) A cantora brasiliense Paula Nunes relaciona várias características do próprio trabalho com as linhas desenvolvidas pelos astros. Canceriana, admite que consegue compor com inspiração ultradisciplinada. "Se eu tenho uma ideia ao longo do dia, uso o gravador de celular. Quando chego

em casa, organizo o material. Depois me sento para compor. Sou de câncer e me concentro com facilidade", descreve. Foi com esse desempenho que a cantora de 30 anos conseguiu concluir o álbum Sede do mundo, que será apresentado hoje, às 21h, no Teatro Sesc Garagem (913 Sul).

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Iniciada na música desde cedo pelo pai, o bluesman Cleves Nunes, a menina atuou ao lado do guitarrista na banda cover Tributo a Eric Clapton até decidir encontrar o próprio caminho em canções autorais. A vontade de escrever as emoções que sente foi ficando maior ao concluir um mestrado sobre bandas cover na Universidade de Brasília (UnB). A energia para compor, segundo Paula, apareceu ao atingir uma crise impulsionada, de novo, pelos astros. Mais especificamente, o planeta Saturno. "A culpa é do retorno de Saturno. Quando eu fiz 28 anos, tudo mudou. As pessoas dizem o que é melhor para você mas uma hora é preciso descobrir o que você realmente quer. Existem muitas escolas de samba e chorinho em Brasília. Todo mundo é muito bom. Mas uma hora é preciso esquecer um pouco a técnica e valorizar a emoção. Decidi que quero investir na música e quero muito estar no palco", percebeu.

Apesar de admirar os ídolos, era preciso traçar um caminho autoral. “Sou compositora de todas as músicas de Sede. No meu primeiro disco, Paula Nunes, eu gravei músicas de outros compositores”, discorre sobre o álbum financiado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), com orçamento total de R$ 32 mil, o suficiente apenas para produção do disco e muito pouco para a difusão do trabalho. O novo álbum reflete a fase da vida, a maturidade balzaquiana, mas também uma vontade de viajar e conhecer outros lugares e sonoridades, a musicalidade do mundo. As 10 faixas compostas por Paula e produzidas por Jorge Brasil falam sobre diferentes geografias em estilos musicais de várias partes do mundo.

O tango De Cartagena a Bogotá, por exemplo, descreve uma viagem real que Paula completou na Colômbia enquanto a faixa Saudação ijexá, lembra os sambas afros tão conhecidos dos brasileiros. "Dei um tempinho do samba e misturei um pouco. Acho que dá para sentir a influência rock que eu sempre tive por causa do meu pai. O título existe por causa dessa sede de sonoridade de várias partes do mundo. O disco reflete a minha vontade de continuar a música, de estar no palco. Estou orgulhosa do trabalho", declara Paula, que contou com a participação de vários artistas brasilienses durante a gravação e que estarão no palco. Estão, entre os amigos, Oswaldo Amorim, Ted Falcon e Daniel Baker (do duo Mandrágora). O álbum Sede do mundo está disponível para ser ouvido na íntegra no endereço eletrônico www.paulanunes.com.br.

O Globo – O hip-hop e suas misturas

Após anos, o hip-hop cresceu, mas não exatamente da maneira que os primeiros aficionados imaginavam. O rap virou pop. Atração da festa de seis anos do blog Só Pedrada Musical, do DJ Tamenpi, amanhã na Comuna (leia mais na agenda), o DJ americano Cosmo Baker (foto acima) vê essa evolução como algo natural.— Na época em que Puffy aproximou o hiphop do mercado comercial, o rap era algo a ser descoberto. Em 2012, ele é algo onipresente, e a molecada cresce ouvindo esses sons. Então, faz todo o sentido que o hip-hop seja música pop. É interessante ver como a galera mais nova filtra essas influências em seus trabalhos. Um dos meus preferidos é o A$AP Rocky, influenciado pelo rap sulista (dos EUA), mesmo sendo de Nova York, pois esse tem sido o som predominante. Os sons mudam e evoluem, é legal ver elementos da música eletrônica sendo incorporados. Chuck Berry não soava como os Beatles que não soavam com os Ramones, que não soavam como o Queens Of The Stone Age, e assim por diante. É uma progressão.

À frente de um dos blogs mais respeitados para se encontrar bons sons (www.sopedrada musical.com), Tamenpi, produtor da festa e aniversariante da noite, está empolgado.— O Cosmo Baker é uma grande referência pra mim daquele DJ que faz o baile. Toca diversos estilos com uma transição muito bem feita entre hip-hop, soul, disco, rock e eletrônico, sempre mantendo a qualidade. Fazer o baile só tocando hit é fácil, conseguir se tornar uma referência no mundo tocando sons mais desconhecidos, de pesquisa, é bem diferente.Quem for verá!Cosmo concorda. Sua onda é mesmo chacoalhar a pista, não interessa com que som.— É um prazer animar um público aberto tanto aos novos sons quanto aos clássicos ou a músicas mais obscuras. O subtexto dos meus sets é tentar desenhar uma linha entre o antigo e o novo. A melhores festas em que toquei pelo mundo são para pessoas que topam isso: The Rub, no Brooklyn; Do Over, em Los Angeles; Deep Crates, em Dubai; Club Harlem, em Tóquio; Juicy, em Oslo; Yo Yo, em Londres… São fãs da boa música e de bons DJs.

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Promessa de set especialO espírito de Cosmo está alinhado com o da festa, surgida em São Paulo por causa do blog, com a proposta de englobar grooves de todas as épocas e lugares. Acreditando que limitar uma festa a somente um estilo é desperdício,Tamenpi também aposta nas misturas.— O grande diferencial é não ser uma festa de hip-hop em si. O som é um dos carros-chefes, mas a ideia é passar por todas as sonoridades que acabaram resultando no hiphop, como soul, funk, disco, reggae, afrobeat, além de estilos que vejo como evolução do hip-hop, como o dubstep, o glitch etc.Cosmo está ansioso em relação ao público e promete um set especial para presentear quem for conferir.— Muitos amigos já tocaram no Brasil e falam que é uma experiência incrível. Estou bastante empolgado. Conheço um pouco de música brasileira fora do rap e pretendo homenagear esses sons. O país tem muita alma, e acho que combina com o que eu toco. Definitivamente não estou encarando como mais uma festa, que é algo que não faço com festa alguma. Tento fazer uma coisa especial, que não possa ser duplicado, para agradecer aos que vão me ouvir tocar. Jornal de Brasília - Pop rock Candango

O videoclipe Documentários tornou-se popular na internet e tem mais de 50 mil acessos no YouTube A promissora banda Daros surge como uma das novidades do cenário nacional

(14/07/2012) Com seu primeiro álbum autoral na pegada pop rock romântico, a banda Daros vem conquistando seu espaço em Brasília e promete ser uma boa surpresa no mercado fonográfico nacional. O quinteto brasiliense, que foi finalista no programa Astros , do SBT, está divulgando o videoclipe de Documentários – primeira música de trabalho do disco Daros – e já teve seu talento reconhecido até mesmo pelos mineiros do grupo Jota Quest.

O próprio nome é a grande inspiração da banda Daros. Do grego darós, significa aquele que se elevou – algo como ir para o alto seguindo os seus sonhos. E é isso que eles pretendem.

Lançado em maio de 2011, o primeiro disco contém guitarras distorcidas e batidas marcantes. Revela uma identidade pop nos sintetizadores e baterias eletrônicas. O destaque fica por conta das faixas Brisa, Amanhã, Plebeu e Americano.

Formado em 2006 por Gabriel Corrêa (vocal), Nilson Karoll e Lucas Borges (guitarras), Jota Cohen (baixo) e Pedro Corrêa (bateria), o grupo tem na banda Maroon 5 uma de suas maiores influências. Ecléticos, os meninos também curtem Bon Jovi, John Mayer, Skank e Paralamas do Sucesso, entre outros.

RECONHECIMENTO

Com aparições na TV e participações constantes nas rádios de Brasília, o quinteto definitivamente chegou para ficar. “Depois do Astros , o pessoal começou a perceber que não estávamos brincando. Queríamos reconhecimento nacional e a experiência foi uma abertura legal para isso”, explica o vocalista da banda, Gabriel Corrêa.

Junto com o álbum de estreia veio o videoclipe da primeiro single do disco, Documentários, que chama atenção pela qualidade e fotografia. Mas o conjunto promete material novo em breve. “Vamos lançar o clipe da música Nem Aí logo, logo. Além disso, temos algumas surpresas guardadas. O segundo disco deve aparecer daqui a pouco também”, revela Gabriel. É só esperar.

O Estado de S.Paulo – Dois cantinhos e um violão / Entrevista

Caso típico de voz mais reconhecida nos EUA do que em sua própria terra, Luciana Souza ressurge com dois CDs

Lucia Guimarães

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(14/07/2012) Não é fácil conversar com Luciana Souza e ao mesmo tempo ouvir seu novo CD The Book of Chet, uma visita ao repertório do grande trompetista e cantor Chet Baker. A voz impecável que transformou a clássica Forgetful num lamento hipnótico ("como uma cadeira de balanço," diz) não parece pertencer à mesma artista que fala com urgência e sem hesitação. A mesma artista que achou por bem lançar não um mas dois CDs no próximo dia 28 de agosto. O segundo, Duos III, encerra a celebrada série de violão e voz que deu à paulista radicada em Los Angeles duas de suas quatro indicações para o Grammy.

O lançamento duplo marca a volta de Luciana à gravadora Sunnyside, onde ela se projetou nos Estados Unidos com o Brazilian Duos, em 2002. Na última década, Luciana testou sua definição como jazzista, gravando repertório erudito com orquestras sinfônicas e compondo com o marido e premiado produtor musical Larry Klein, com quem colabora nos novos álbuns. Luciana perdeu o pai, o pioneiro da bossa Walter Santos, em 2008, e a mãe, a poeta e produtora musical Teresa Souza, em 2009. Os dois foram figuras seminais da música instrumental brasileira, à frente do selo Som da Gente, e Luciana reconhece que a sua MPB é a que recebeu dos pais e levou na bagagem quando embarcou ainda adolescente para estudar em Boston. O Duos III traz de volta os incomparáveis Romero Lubambo e Marco Pereira e realiza um sonho de Luciana: gravar com Toninho Horta. "Nós nos conhecemos às 5 da tarde e às 9 da noite já tínhamos gravado Pedra da Lua e Beijo Partido," lembra a musicista, para quem o tempo pode acomodar a torrente de palavras que a repórter mal consegue anotar. Ou pode ser um espaço minimalista onde o som é tão irresistível "que a gente nem se mexe."

Por que você decidiu lançar os dois CDs ao mesmo tempo?

Traço vários paralelos entre o Duos III e o Book of Chet. A ligação mais direta que eu vejo é a do João Gilberto com o Chet Baker. Meu pai lembrava que, em Juazeiro, na Bahia, tocava Chet no coreto. A emoção do Chet existe mas é contida, é a emoção que a gente encontra na bossa nova, tem amor mas não tem dramalhão. É a melancolia e o lirismo, expressivos de uma emoção muito pessoal. Para mim, foi muito fácil gravar os dois CDs juntos. As canções são muito simples, são dois discos de cover. Quem ouve já tem suas referências e eu faço a minha leitura.

Em 2006, você deixou a independente Sunnyside, pela gravadora Universal, onde lançou The New Bossa Nova (2007) e Tide, este indicado para um Grammy em 2010. O que fez você voltar para a gravadora menor, do François Zalacain ?

Nós fomos jantar aqui em Los Angeles, no ano passado. O François foi como um pai para mim e a Sunnyside sempre me faz sentir em casa. Ele perguntou o que eu queria fazer e ele mesmo completou a minha frase: Duos III. Expliquei que queria gravar e lançar o CD do Chet Baker junto mas avisei que já tinha um repertório na cabeça, não queria gravar sucessos como My Funny Valentine. Logo mandei os dois orçamentos e pedi para ele ler com uma taça de vinho na mão. Ele suspirou e disse, vamos em frente. Com o François, é tudo muito claro, não há intermediários.

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Como você decidiu o repertório do Duos III e incluiu até uma música que pode surpreender, como Mágoas de Caboclo?

Mágoas do Caboclo para mim era importante, eu ouvia de Orlando Silva quando era pequena e, pouco antes de morrer, meu pai me deu de presente um box set do Orlando Silva. Eu tinha saudade do meu pai e ficava ouvindo. É uma seresta, um gênero que eu não costumo cantar, um pouco na linhagem de outras faixas como Chora Coração, do Jobim, e As Rosas Não Falam, do Cartola. O Larry chegou a perguntar "tem certeza que quer incluir?" É um fraseado que tem ritmo mas não tem groove. A minha MPB é a de quem saiu do Brasil há 27 anos. Não estou numa missão, mas pertenço a esta tradição de voz e violão que continua. Faço mais uma leitura informada por jazz em, por exemplo, Doralice. É o que faz um músico de jazz quando grava um standard. Eu não tenho uma relação forte com o que está sendo lançado agora. A minha música brasileira é marcada pela memória do meus pais, eu fui embora ainda em formação. Meu conhecimento de samba é de quem ouviu o João Gilberto cantar samba. Podem me criticar, dizer que gravo música antiga, mas sei que não sou uma Elis Regina lançando compositores.

Mais uma vez, você escolheu a gravação ao vivo no estúdio para o Duos III. O diálogo voz e violão se presta especialmente a esta forma de gravar?

Sim, há uma transparência absurda. Com o piano você sustenta o som, com o violão não tem isso. O desaparecer do som é mais rápido. Minha forma de cantar mudou muito, eu já consigo sustentar mais notas, como faço em Dindi. Cantar é ar, é coisa abstrata , quando acaba, acabou.

Você já se interessava pelo Chet Baker desde que morava em Boston?

Sim, eu explorei muito o repertório do Chet no começo dos anos 90. Adorava os solos de scat dele, tinham poucas consoantes. O Chet evoca quase um conforto com a solidão e a melancolia. É interessante ocupar este espaço de tristeza, como parte da minha humanidade. Sentar neste canto e dizer, está bem ficar aqui. A tristeza do Chet é muito mais expressiva para mim do que a dor gritada. Ele e o João Gilberto têm esta capacidade de levar você para um lugar da canção, um novo espaço, sem ornamento. É como se os dois aspirassem todo o ar e ficasse só o som deles e você não se desprende até a canção acabar.

Uma faixa que ilustra o que

você diz é Forgetful. A impressão que dá é que você está testando a resistência das notas. O resultado é hipnótico.

Sim, acho que estou testando também a paciência de quem ouve! Passamos 3 dias só gravando balada no estúdio, a gente ia reduzindo o metrônomo. O único overdub de bateria foi gravado ao vivo. O Larry dava instruções claras sobre os arranjos. O desafio é contar a história com menos recursos. E o Larry dizia "menos, menos ainda." Em Forgetful, o guitarrista Larry Koonse faz acompanhamento arpegiado, é um ostinato que parece uma cadeira de balanço. E me traz de volta à bossa nova.

O Estado de S.Paulo – Ernesto Superstar

Bem antes de Ai Se Eu Te Pego, o maxixe Dengoso fazia o mundo cair na dança. Seu provável autor? Ernesto Nazareth

Bolívar Torres (14/07/2012) Ela surgiu como um maxixe qualquer. Publicada em 1907, no Rio de Janeiro, sob o nome de Dengoso e autoria do desconhecido Renaud, passou de um modesto sucesso no Brasil a um hit internacional sem precedentes na Europa e Estados Unidos. Muito antes de Aquarela do Brasil ou Garota de Ipanema, ganhou mais de 100 gravações e até mesmo uma aparição em um musical hollywoodiano. Mas, o primeiro e improvável reconhecimento brasileiro no exterior é, também, um dos maiores enigmas da nossa música. Afinal, quem era este misterioso Renaud? Como sua música chegou aos salões burgueses de Paris e pistas de dança americanas? Um século mais tarde, uma pesquisa em andamento há oito anos confirma uma suspeita antiga: o verdadeiro autor de Dengoso seria nada menos do que o compositor e pianista carioca Ernesto Nazareth (1863-1934).

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"É curioso, mas as edições estrangeiras passaram a creditar a autoria a Nazareth, ao passo que no Brasil continuou conhecida pelo pseudônimo, chegando inclusive a ser gravada anos mais tarde apenas com o crédito a Renaud", conta o pesquisador e pianista Alexandre Dias, autor da pesquisa, que está detalhada no site do Instituto Moreira Salles dedicado ao compositor (www.ernestonazareth150anos.com.br ). "O fato é que, até agora, se sabia muito pouco sobre a composição. Tínhamos as evidências sobre a autoria, graças à excelente pesquisa ainda não publicada do biógrafo Luiz Antonio de Almeida, e uma ou outra capa das edições americanas que circulavam pela internet. Mas creio que não tínhamos ideia da verdadeira magnitude do fenômeno que foi, até vermos a quantidade de edições e a quantidade de gravações que consegui compilar".

Na época em que Dengoso foi composta, o maxixe era um gênero excomungado, conhecido no Brasil como "a mais baixa das danças". Evitando associações com uma música tida como vulgar, Nazareth, um dos grandes nomes do tango brasileiro, teria se escondido por trás do pseudônimo. Ele certamente não esperava que, poucos anos depois, o maxixe virasse uma febre no exterior - e, sua composição, uma das principais expoentes do gênero.

Segundo Dias, Dengoso chegou primeiro a Paris, onde a procura por maxixes era crescente, e só depois se espalhou pelo resto do mundo, recebendo mais gravações e edições do que qualquer música brasileira na primeira metade do século 20. Em 1914, durante o ápice da dança no exterior, a melodia que primeiro vinha à mente quando se falava em maxixe era Dengoso, fosse nos Estados Unidos ou Paris. Depois de um período sem gravações, foi dançada por Fred Astaire e Ginger Rogers no musical A História de Vernon e Irene Castle, de 1939. Tocada por big bands nos anos 40, produziu um hibridismo inédito, o 'boogie woogie maxixe'. Dentro do novo ritmo e arranjo, e com letras em inglês, chegou outra vez às paradas dos Estados Unidos. Recentemente, Woody Allen usou-a na trilha de seu filme Scoop - O Grande Furo, de 2006.

Resta saber por que no exterior se conhecia o nome do verdadeiro compositor e no Brasil não. A melhor hipótese é que a informação tenha sido passada por Mário de Andrade. Em seu livro Música, Doce Música, o autor afirma que mandou diversas partituras de Nazareth e Marcello Tupynambá para amigos nos Estados Unidos e Europa.

Apesar do nome de Nazareth aparecer nas partituras de Dengoso lá fora, ainda não se pode afirmar com certeza que a música tenha sido composta por ele, já que não existe manuscrito que prove a autoria. Há, porém, diversas evidências que levaram Dias a esta conclusão.

"Uma delas é o catálogo de 1912 da gravadora Columbia, que lista Dengoso como "tango E. Nazareth". Já no catálogo de 1938 do editor Ernesto Augusto de Mattos, a autoria vem de modo híbrido: "Renaud Nazareth". O pseudônimo possivelmente foi inspirado, conscientemente ou não, em uma edição dos Exercícios Diários de Charles Tausig, traduzida para o francês por Albert Renaud, que está presente no espólio de Nazareth. "Dengoso é o único maxixe na obra de Nazareth e, não por acaso, a única peça em que escondeu seu nome, embora no final da década de 1920 tenha ensaiado outro pseudônimo: Toneser, que não chegou a sair dos manuscritos", diz o pesquisador.

Outro aspecto a ser analisado é a estrutura musical de Dengoso, que conta com um acompanhamento típico de Nazareth. "O acompanhamento é o que ele costumava usar, cujo padrão é o do tango brasileiro, isto é: semicolcheia, colcheia, semicolcheia, duas colcheias", explica Dias. "São três partes, assim como a maioria das músicas de Nazareth. É verdade que ela possui uma linguagem harmônica mais simples, mas Nazareth tem várias obras com a mesma simplicidade. Há de se considerar também que, sendo um maxixe explicitado, o autor teria tentado imprimir uma linguagem levemente diferente dos tangos brasileiros".

Se imaginasse o sucesso que Dengoso alcançaria, Nazareth não teria se escondido por trás do afrancesado Renaud. Em tempos sem internet, TV e rádio, no entanto, é possível que o próprio compositor nunca tenha descoberto a repercussão mundial de Dengoso.

O Globo – As canções de sofá do casal Nina e Callado

Dupla lança o disco ‘Gambito Budapeste’, um mapa de sua intimidade, com gravações caseiras, apelidos e versos de saudade

Leonardo Lichote

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O sofá em que Nina Becker e Marcelo Callado posam para a foto ao lado, na sala deles, é testemunha, parceiro e personagem de “Gambito Budapeste” (Yb/ Bolacha) — CD que o casal assina junto e que será lançado com shows no Rio (25 de julho, no Sérgio Porto) e em São Paulo (12 de agosto, no Auditório Ibirapuera). Testemunha porque as gravações foram quase todas feitas no apartamento. Parceiro porque algumas canções foram compostas nele. E personagem porque é citado em “Cadê você” (“O braço do sofá me diz”). A forte presença de uma peça de mobília no álbum soa natural quando se percebe que, do início ao fim, é de intimidade que se fala no disco.

O nome e a capa já indicam isso. “Gambito Budapeste” é o nome de uma jogada de xadrez, mas não foi por aí que ele chegou ao título do CD:

— Gambito é perna fina, um apelido mútuo nosso. Tenho até um cordão... — diz Callado. Sentada a seu lado, Nina — grávida de sete meses de Cora, a quem o CD é dedicado — sugere uma mudança de rumo:

— Mas contar essas coisas não vai parecer meio cafona? Callado diz que não e continua a história, antes observando que “é um disco de casal, ela tem que falar uma coisa, eu discordar, senão não é casal”:

— E peste também é um apelido que usamos. “Gambito Budapeste” junta os dois. A imagem da capa vem na mesma sintonia de intimidade. Os dois numa foto de viagem feita por ela mesma. Como de costume no típico registro- de-férias-pro-Facebook, a ausência de glamour carrega em si um ar cool — duas faces que o disco harmoniza.

“Gambito Budapeste” nasceu num desses momentos de viagem de casal. No réveillon de 2010 para 2011, Nina e Callado foram para Brejal (distrito de Itaipava), levando a ideia de fazerem músicas juntos e um computador com o Garage Band (programa de gravação).

— Levamos o computador para experimentar, gravar o que fosse saindo — conta Nina. — Não havia a ideia de um disco.

Era a primeira vez que Callado gravava algo no computador. Mas três daquelas bases registradas lá ficaram no CD, assim como as vozes de “Nuvem”. De volta, Callado seguiu gravando com uma precariedade artesanal. Foi esse clima que conquistou o produtor Carlos Eduardo Miranda, para quem o casal pediu uma opinião. “Vocês deviam fazer um CD”, ele disse.

Depois, quando já tinham estúdio marcado para refazer tudo (“Víamos nossas gravações como uma demo”, diz Nina), Miranda, que assina a produção do CD com Callado, foi mais radical.

— Às vésperas de entrarmos em estúdio, ele falou: “Tá tudo errado, vocês têm que gravar em casa, manter esse clima” — recorda Nina. Callado completa:

— Lembro de uma frase do Miranda: “Esse disco tem que ter o cheiro da casa de vocês.” Mesmo as participações de amigos como Leticia Novaes e Lucas Vasconcellos (do Letuce), Mariano Marovatto, Asbjørn Nørgaard, Rubinho Jacobina, Pedro Sá e Daniel Gnattali foram gravadas em casas, deles ou dos convidados.

Além do cheiro de casa, as canções carregam lamentos de saudade e solidão — efeito das viagens constantes dele (baterista da Banda Cê e do grupo Do Amor) e dela (que lançou dois discos solo em 2010 e canta com a Orquestra Imperial).

A história do casal, portanto, está entranhada nas faixas — das 13, só uma não é deles, “Armei a rede”, de Assis Valente e Arsênio Ottoni. Ela usou os acordes e a batida simples do chacundum que ele ensinou, e ele explorou os acordes de bossa nova que ela apresentou. E os temas documentam a relação.

— “Marco Zero” é uma música antiga que eu tinha — diz Callado. — Nina fez a letra sobre o início de nossa história, no carnaval de Recife, no Marco Zero.

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Na tradição dos discos de casal, “Gambito Budapeste” (que passa por samba descaracterizado, balada sixties, psicodelia à la “Geraldo & Alceu”) se alinha mais ao pop experimental de John & Yoko do que ao romantismo puro de Leno & Lilian:

— “Cadê você?” abre o CD bem canção e logo depois vem a estranheza de “Blues” — descreve Callado. — É uma puxada de tapete proposital. Nina sorri, cúmplice.

Correio Braziliense – Canções do mundo

Músico de Taguatinga, Dillo Daraújo experimenta a força do compartilhamento do novo álbum na internet e comemora a marca de dois mil downloads em três dias

GABRIEL DE SÁ e MARIANA MOREIRA

(15/07/2012) No meio da tarde da terça-feira, dia 26 de junho, o músico Dillo Daraújo abriu o Facebook e notou, cabreiro, uma movimentação incomum. Em meia hora, ele recebeu mais de 50 marcações em sua página pessoal, todas com o mesmo teor: o terceiro disco, batizado de Jacaretaguá, estava circulando na internet à sua revelia. A primeira reação foi pensar: se vazou, está vazado. Aproveitem e indiquem aos amigos. O mais surpreendente veio depois. Em apenas três dias, o álbum registrou pouco mais de 4.200 compartilhamentos e ultrapassou a marca de dois mil downloads, feitos em computadores instalados desde a vizinhança do guitarrista, morador de Taguatinga, a lugares distantes, como França e Argentina.

Sua tranquilidade diante do vazamento se revelou uma estratégia acertada: antes mesmo do lançamento propriamente dito, Jacaretaguá virou assunto de páginas eletrônicas especializadas em música. O blog Eu ovo destaca o amadurecimento e o dedilhado diabólico do artista. Já o Diversidade Brasil classifica Jacaretaguá como “místico, ácido, cruel e inspirado, um disco para desmoronar o cansaço dos ouvidos”. “Por mais que essa ação não estivesse desenhada no plano original de lançamento, ela acabou sendo positiva. Propagou a notícia com antecedência, permitindo que as pessoas conheçam o repertório antes do shows. Já tem gente me pedindo músicas do disco novo”, afirma Dillo.

Mas por que então artistas como Madonna e Luan Santana esperneiam quando seus novos singles vão a público antes do previsto? “Os artistas com acesso ao público de massa têm o apoio de grandes corporações que ainda tentam controlar seus produtos para potencializar o lucro. Como a Ivete Sangalo, que conta com estrutura gigantesca de produção, existem mais 10. A grande maioria, hoje, atua de forma independente, está abaixo do radar da grande mídia e, para esses, as novas plataformas tecnológicas são um agente de manutenção da carreira”, explica Dillo.

Geração correriaEle faz parte do que chama de geração correria: com os pés fincados na autogestão, os artistas em voga na atualidade tocam, compõem, cuidam dos detalhes da carreira, inscrevem seus projetos em editais, manipulam softwares complexos e tocam projetos múltiplos e simultâneos, no bom e velho conceito de “assobiar e chupar cana”. “Antigamente, as gravadoras tinham seus próprios estúdios e departamentos de divulgação e distribuição, mas isso acabou. Hoje, são salinhas pequenas e poucas apoiam os representantes da geração do compartilhamento”, compara.

Um dos músicos mais atuantes da geração on-line, Lucas Santtana também experimentou os dois lados da moeda. Lançou seus dois primeiros discos por gravadoras, mas percebeu que não se encaixava no formato. A partir do terceiro trabalho, elegeu a internet para disseminar suas composições. “Foi muito importante para a minha música chegar aos quatro cantos, já que o Brasil é um país continental”, observa. O quinto disco, O Deus que devasta mas também cura, foi liberado para download no Facebook em fevereiro e, em um mês, registrou cerca de 10 mil downloads. “Além de mostrar seu trabalho, a tecnologia te dá a oportunidade de conhecer muitas outras coisas que, sem essas plataformas, a gente nem conheceria. Se eu baixo música de graça, compartilho arquivos, por que não fazer o mesmo com a minha música?”, questiona ele.

Cartão de visitasEssa nova realidade desmaterializa a importância do disco como meio físico. “Ele é meu cartão de visitas. É o material que envio para as redações de jornal, para os críticos. Hoje, o artista ganha

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dinheiro com os shows”, ensina. É justamente nessas ocasiões em que os fãs podem comprar CDs e material de divulgação. Segundo Dillo, as fontes de renda do músico hoje são: a receita dos shows, os produtos vendidos e, por fim, a propriedade intelectual, pelo tortuoso caminho do direito autoral.

Na nova cadeia de consumo, a distribuição perdeu uma grande fatia importância. Os dois trabalhos anteriores do músico foram entregues a uma grande empresa, mas a mordida no lucro não compensou. Nesse modelo, 50% do dinheiro que entra é retido pelo distribuidor e 25% vai para o bolso editor. “É muito bom ver meus discos anteriores (ambos esgotados) listados nos sites de venda, mas como a margem de lucro é baixa, não penso em prensá-los novamente, nem em repetir o modelo”, conta o guitarrista. Além de espalhar riffs de guitarra pela rede mundial, ele sonha em criar uma rede local de vendas, envolvendo bancas de revista e carrocinhas autorizadas, para divulgar o trabalho de artistas genuinamente brasilienses.

Homem bandaFruto de suas composições mais recentes, Jacaretaguá é uma brincadeira com regiões do Rio de Janeiro e de Brasília, cidades onde o músico morou. “Nessas composições, falo de coisas atuais, como Fundo Monetário Internacional (FMI), Twitter e globalização”, afirma o guitarrista, que ainda tocou violão, baixo, sanfona, teclado, bateria eletrônica, clavinete e fez os scratches durante as gravações. Todo gravado no estúdio Orbis, em Taguatinga, o álbum deverá ser lançado em Brasília, no dia 10 de outubro, antes de seguir para turnê no Rio, em São Paulo, Belo Horizonte, Goiânia, Anápolis, Pirenópolis, Recife, Curitiba e Porto Alegre.

Criação compartilhadaA adesão crescente à internet e, consequentemente, às redes sociais mudou completamente as relações entre os meros mortais e seus ídolos. Pela internet, músicos, atores e escritores dividem confidências, divulgam trabalhos e dialogam de igual para igual com anônimos. Uma boa forma de utilizar essa ferramenta e estreitar ainda mais os vínculos com o mar de fãs foi dar a eles o poder de se intrometerem na criação artística. Sim, várias bandas fizeram isto. Uma das iniciativas mais interessantes partiu dos mineiros do Skank, que possibilitou que os admiradores “participassem”, como músicos, de um de seus videoclipes.

O grupo criou uma plataforma chamada de SkankPlay (skankplay.com/play), em que o público poderia enviar vídeos tocando ou cantando a canção De repente. A ideia era montar clipes colaborativos, em que os usuários recombinariam as partes e dariam origem a outros vídeos. A empreitada resultou em um total de 70 mil versões de clipes diferentes e rendeu ao grupo um Leão de Ouro em Cannes, na categoria melhor uso de mídia social. “A gente utiliza esse tipo de comunicação não apenas como novidade, mas como uma ferramenta de trabalho, que seja de divulgação seja de solução”, disse Henrique Portugal, tecladista do grupo,.

Outro exemplo ainda mais recente é o do grupo americano The Smashing Pumpkins, que encontrou uma forma bastante criativa de projetar o álbum Oceania bem antes do lançamento. Eles pediram, em maio, que o público criasse imagens inspiradas no título de alguma das 13 faixas do disco. Os fãs poderiam compartilhá-las na rede, via Instagram, Pinterest e Deviantart, citando a hashtag #SPoceania. A banda, por sua vez, compartilhou o material, e algumas foram parar no site oficial dos Pumpkins.

O disco chegou às lojas no mês passado, mas os fãs continuam infestando a net com contribuições. Parte desse material está disponível em uma galeria na página da trupe no Facebook (/smashingpumpkins). Outros vários grupos já pediram uma mãozinha do tipo para seus seguidores; mas, neste caso, eles contam com o respaldo dos anos de carreira. Para um iniciante, a falta de projeção pode tornar tais empreitadas furadas. Fica a dica, contudo, de que a busca por estar cada vez mais próximo da plateia deve ser uma meta. Afinal, existe artista sem público, mas não há ídolo sem fã.

O Globo - Harpas, violinos e pianos embalam os cafezais

Décima edição do Festival Vale do Café homenageia Luiz Gonzaga com concertos nas cidades da região até o dia 29

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TURÍBIO SANTOS e Cristina Braga: festival terá sua abertura hoje.

Catharina Wrede

(16/7/2012) Igrejas, fazendas, casarões, praças, em qualquer lugar se ouvirá música no Vale do Paraíba a partir de hoje, quando a Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio abre, às 11h, o Festival Vale do Café, no Cine 9 de abril, em Volta Redonda. Idealizado pela harpista Cristina Braga e com direção

artística do violonista Turíbio Santos, o evento — que já recebeu mais de 650 mil pessoas desde a sua criação — chega à décima edição homenageando Luiz Gonzaga, de hoje até o dia 29.

— Percebi que o festival ganha muita força gando temos um tema — conta Turíbio. — Mas isso não significa que todo mundo só vá tocar Gonzagão. Pedi apenas que todos dessem um passeio por sua obra. Com uma programação que se espalha por 15 cidades do interior fluminense, como Vassouras, Paty do Alferes, Valença, Barra do Piraí e Miguel Pereira, o festival — que inclui aulas de música gratuitas nas escolas locais — ganha em 2012 uma nova praça, Resende, onde a Orquestra Sinfônica Brasileira se apresenta na próxima quinta-feira. O conjunto, que vai ter Turíbio como solista, vai tocar pela primeira vez a “Suíte Concertante para Violão e Orquestra”, criada especialmente para o violonista por Edino Krieger.

Os shows e concertos voltados para o repertório do rei do baião ficam por conta de Cristina, que no próximo sábado, às 11h, se apresenta na fazenda Cananéia, em Vassouras, com o espetáculo “Os pássaros de Luiz Gonzaga”, apenas com as músicas que fazem referências a aves na obra do compositor. A soprano norte-americana Carol McDavit é a estrela do dia 28 em Massambará, onde canta, ao lado de Turíbio, em outro tributo ao homenageado. Já a Orquestra Sinfônica de Barra Mansa faz uma miniturnê pelas cidades do festival tocando clássicos de Gonzagão, com Elba Ramalho à frente.

Outro destaque do festival é o pianista e arranjador Cesar Camargo Mariano, que toca no próximo sábado, às 16h, na fazenda São Luiz da Boa Sorte, em Vassouras.

Folha de S. Paulo - Guitarrada, gênero tradicional do Pará, reforça status cult aos 50 anos

Ritmo precursor da lambada se reinventa com nomes da nova geração, filmes e discos ao vivo

Mestre Vieira, criador da música com ênfase em solos de guitarra, é tema de documentário sobre história da cena AGUIRRE TALENTO

Mestre Vieira, criador da guitarrada, posa para foto no Theatro da Paz, em Belém.

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Gênero musical que mistura ritmos caribenhos e da região Norte do Brasil, a guitarrada comemora 50 anos em 2012 e tenta romper de vez as fronteiras do Pará.

Documentários, um DVD ao vivo e CD duplo estão sendo produzidos sobre o estilo, criado a partir da lambada, com uma guitarra improvisada com cordas de violão em plena Amazônia.

O criador da guitarrada, Joaquim Vieira, 77, conhecido como mestre Vieira, será o centro de um longa sobre a efeméride e gravará seu primeiro DVD ao vivo.

Já Pio Lobato, 40, responsável por tornar a guitarrada cult ao resgatar o legado de mestre Vieira nos anos 2000, será protagonista de outro filme e vai gravar seu primeiro disco autoral de guitarrada.

O ritmo tem se tornado conhecido fora do Pará graças aos acordes da banda de Gaby Amarantos, cujo guitarrista Félix Robatto é um dos principais nomes da geração da guitarrada dos anos 2000.

O início remonta à década de 1960, quando Vieira, músico no município de Barcarena (a 50 km de Belém), foi ao cinema na capital.

"Vi um filme que tinha uma guitarra e fiquei doido. Consegui uma guitarra quebrada, botei cordas de violão e fiz um amplificador com bateria de carro", conta Vieira.

A jornalista e produtora cultural Luciana Medeiros, responsável pelo documentário e pelo DVD de Vieira, diz que não foi possível descobrir qual era o filme. "Ele não se lembra do nome. Só sabemos que foi na década de 60."

Vieira, que tocava chorinho, transportou esse estilo musical para a guitarra e formou uma banda, em um ritmo que ficou conhecido inicialmente como lambada.

A banda de Vieira fez sucesso nas décadas de 1970 e 1980, tocando em vários Estados e gravando seis discos com a formação original.

Graças a ele, vieram nomes tradicionais da lambada que estouraram no país, como Beto Barbosa e Márcia Ferreira.

Na década de 1980 surgiu o nome "guitarrada", criado por um locutor de rádio paraense e que marcaria a diferença entre o som feito por Vieira e pelos grandes nomes da lambada: a ênfase na guitarra, com solos e improvisos.

O filme "Coisa Maravilha", que está em fase de edição, contará essa história e mostrará a influência de Vieira sobre a atual música do Pará.

O DVD reuniu a antiga banda, "Mestre Vieira e os Dinâmicos", para shows em Belém. Ambos os produtos serão lançados em outubro.

As obras de Pio Lobato ainda estão em fase inicial e só devem sair no próximo ano.

O documentário ainda capta recursos. O CD já começou a ser gravado. "Havia um preconceito com a guitarrada por ser um estilo musical surgido na classe pobre. O mérito de Pio foi obter uma aceitação por uma camada social mais elitizada", diz o responsável pelo filme, Ismael Machado.

The New York Times - A Two-Step Invasion of Brazilian Energy

By LARRY ROHTER, July 12, 2012

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Dancing to the band Brazooka at this week’s forró dance party at Cafe Wha? inGreenwich Village.

(12/07/2012) On Friday the Midsummer Night Swing series at Lincoln Center will present a “Mestres do Forró Nordestino” show at Damrosch Park, preceded by dance lessons. That will be followed on Saturday by a forró show at Battery Park, with even more forró in store at the annual Brasil Summerfest, which this year runs from July 21 through 28. All of that is in addition to half a dozen clubs in Manhattan, Brooklyn and Queens that now regularly feature live forró (pronounced for-HOE) music.

“This genre is just blowing up in New York right now,” said Hap Pardo, the office manager and booking agent for the Cafe Wha? in Greenwich Village, which this spring instituted a forró night on Mondays. “It’s a younger, up-and-coming thing, and we wanted to be part of it. Some of my friends have been doing capoeira,” a Brazilian art form that mixes dance and martial arts, “and that branched them out into this new scene. They see forró as a form of exercise while also having fun.”

A forró party at Miss Favela Brazilian Botequim in Williamsburg, Brooklyn. Some New Yorkers seem to find this traditional music new and exotic but danceable in an old-fashioned way.

The centennial of the birth of Luiz Gonzaga, forró’s biggest star, helps explain part of the burst of interest, and the Lincoln Center show is a tribute to him. A dynamic performer who played accordion and sang in full Brazilian cowboy regalia, Gonzaga, who died in 1989, was also an author of compositions like “Asa Branca,” or “White Wing,” a song about a peasant driven from his land by drought, so popular in Brazil that it is sometimes called the country’s alternate national anthem.

“Luiz Gonzaga was one of those groundbreaking figures, like Elvis Presley,” said the percussionist Mauro Refosco, a founder of the New York-based band Forró in the Dark, which has recorded or performed several of Gonzaga’s songs. “He was the whole package: great lyrics and melodies combined with a strong, appealing voice and a fantastic presence onstage, with all that incredible gear. He was absolutely a showman, and he knew it.”

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But the boomlet in New York also seems propelled by the desire of young music consumers for something that sounds new and exotic but which you can still dance to in the old-fashioned way — close and tight. That parallels the genre’s evolution in Brazil, where about a decade ago sophisticated college-age urbanites adopted and adapted the old, rough-hewn sound, polishing it into a style now known as “university forró.”

“This is really vivacious music, fun and easy to dance to,” Michelle Gelker, 28, a first-time visitor to the Cafe Wha?, said this month as the band Forró Forevis played a driving, energetic two-step. “Anybody can do it. I will definitely come back and bring friends with me.”

The classic forró ensemble, in the format that Gonzaga popularized, is a trio of accordion, triangle and a bass drum called a zabumba, sometimes augmented with a type of fiddle called a rabeca and a kind of fife called a pífano. Younger forró bands will often feature an electric guitar and trap drums, occasionally leaving out the accordion, and that forms one of the principal divisions between the old guard and the new wave, both of which will be represented in Friday night’s Lincoln Center show.

“Forró has to have that accordion, because without it it’s simply not forró,” the traditionalist singer Walmir Silva, 63, said in a phone interview last week, then broke into one of his hit songs: “ ‘Forró without an accordion, don’t even bother to call me, because I won’t go.’ That’s the real thing, the kind of music that will make you dance until your shoes fly off your feet.”

Dancers at Miss Favela Brazilian Botequim.

But joining Mr. Silva at the Lincoln Center show will be the Quarteto Olinda, which plays some electric instruments and has no accordion player. That group will also perform at Joe’s Pub on July 22 as part of its first American tour.

“In our region of Brazil you grow up hearing this music, so it’s in our blood, our DNA, even if you’re a rock ’n’ roller,” said the group’s leader, Cláudio Rabeca, 37. “But we can’t deny that we live in a city where we’ve come into contact with modern music from all over the world. We’ve all heard the Beatles, heavy metal and Afropop, so it’s impossible to make music that does not have those influences.”

As a dance form, forró is descended from the quadrille, a medieval French style that later made its way to Portugal. “But Brazil being Brazil, it became more sensual in its movements” once it arrived there, said Liliana Araújo, a forró singer and dance teacher who offers instruction before her monthly performances at S.O.B.’s and will also be giving the lesson at Friday night’s Lincoln Center show.

“People danced closer,” she explained. “It was still a two-step here and a two-step there, but many other movements and maneuvers were added.”

Forró also bears a superficial resemblance to salsa, Ms. Araújo added, in that both genres are meant to “make you move your body, raise some dust and leave you sweaty and smiling.”

But Mr. Refosco, whose band has a Wednesday night residency at Nublu in the East Village whenever he’s not on the road playing percussion for Red Hot Chili Peppers or Thom Yorke’s band Atoms for Peace, stressed that forró is more inclusive and informal than salsa, and easier to dance.

“In salsa, if you don’t dance well, people are likely to make fun of you,” he said. “That’s not the case with forró, which doesn’t have those hierarchies. Sometimes, when we shift into a really fast double-

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time piece, people will even start pogoing on the dance floor. No one minds, and certainly not us in the band.

“We gauge the success of what we’re doing by whether people are up and dancing or not. If they are, it tells us the music is working. And if they aren’t, it tells us it isn’t.”

To the American ear forró may seem to have some affinities with Cajun music, especially zydeco, in part because the accordion and the fiddle reign supreme in both genres. Scott Kettner, an American percussionist who leads the Brooklyn-based band Nation Beat, which specializes in music from Northeast Brazil, even talks about a “fusion of the Mississippi and the Capibaribe,” the river that flows through the heart of Recife, the city that is the capital of Brazil’s forró scene.

“While I was studying in Recife, I started to realize there were a lot of connections with the music I grew up hearing from Louisiana,” he said. “But it’s not just me who thinks that. When I played a festival in Lafayette a couple of years ago, the audience was dancing Cajun style to our forró. It was amazing to see how well they accepted it, and how familiar it all seemed to them, especially the button accordion stuff.”

In a telephone interview from Recife, during a break in rehearsals for Friday’s show, Cláudio Rabeca said he was worried about only one thing in his band’s American debut. Nobody in Quarteto Olinda speaks English, he said, so he was going to have to take extraordinary measures to assure that his message gets across to New Yorkers.

“Forró is music that was originally played in homes, at parties, in small places where people who were farm laborers, bricklayers or maids were encouraged to dance,” he said. “You can’t dismember the music from the dancing, they’re totally linked, and we want to communicate that to American audiences. So we’re going to bring along big placards with messages to that effect written out in English, and show them from the stage. It can’t be just the thing of the music. It has to have the dance too.”

LIVROS E LITERATURA

Folha de S. Paulo - Os eleitos(16/07/2012) Escolha, pela revista britânica "Granta", dos 20 "melhores jovens escritores brasileiros" reaviva debate sobre critérios e marcas para definir gerações literárias

Antes e depois da divulgação dos 20 "melhores jovens escritores brasileiros" da revista "Granta", autores selecionados e preteridos evocaram um poemeto de Francisco Alvim, chamado "Luta literária": "Eu é que presto".

Uma das principais revistas literárias do mundo, que ajudou a impulsionar a carreira de nomes como V.S. Naipaul, Ian McEwan e Salman Rushdie, a publicação britânica acaba de lançar uma edição brasileira reunindo 20 escritores com menos de 40 anos, selecionados por um júri de sete especialistas.

Os textos (contos ou trechos de romances), eleitos entre os de 247 inscritos, serão publicados pela "Granta" em inglês, espanhol e chinês.

Como em seleções semelhantes, esta levanta velhas questões. Serão esses os melhores? O que os aproxima, além do recorte cronológico?

Parece impossível divisar uma convergência estética ou temática entre os 20.

Mas há traços em comum. Um deles é o estudo da literatura, como exercício ou reflexão acadêmica: 14 deles fizeram oficinas literárias ou estudam literatura na universidade. A dedicação ao ofício distingue essa geração das que a precederam, cheias de autores funcionários públicos ou profissionais liberais.

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"Não sei se oficinas são o melhor modelo, mas me parece evidente que o escritor precisa de formação, que se trata de uma profissão como tantas outras. É uma pena que aqui o escritor seja sempre concebido como autodidata", diz o paulistano Julián Fuks, 30, ex-aluno de oficina.

O escritor Luiz Antonio Assis Brasil, que em 28 anos já deu aulas a cerca de 600 alunos, principalmente em Porto Alegre (entre os quais quatro selecionados da "Granta", Carol Bensimon, Daniel Galera, Luisa Geisler e Michel Laub), vê como marca predominante nesta geração a escrita em primeira pessoa.

"É quase hegemônico de uns 15 anos para cá. É uma literatura muito confessional."

Outro aspecto é a presença maciça de autores-editores, seja em selos artesanais ou em grandes casas (caso de Leandro Sarmatz, da Companhia das Letras, ou Emilio Fraia e Miguel del Castillo, da Cosac Naify).

A exemplo de Daniel Galera, 33, que em 2001 lançou seu primeiro romance, "Dentes Guardados", pela própria editora, a Livros do Mal, Antonio Xerxenesky, 29, estreou por uma editora aberta com um grupo de amigos.

"Isso foi em 2007, quando o Rio Grande do Sul não tinha editoras pequenas interessadas em publicar jovens. Conseguimos, na Não Editora, fazer livros de desconhecidos, como eu, aparecerem nas estantes e na mídia."

A lista mostra o monopólio de autores do Centro-Sul do país (18 são de SP, RS e RJ, dois são Nordeste). Cristhiano Aguiar, paraibano radicado no Recife, disse que a disparidade o incomoda. "Embora a literatura não seja definida pelo lugar biográfico do escritor, garanto que há muita produção instigante em outras regiões."

Há um francês (o paulistano nascido em Paris Chico Mattoso), uma portuguesa (a carioca nascida em Lisboa Tatiana Salem-Levy) e quatro "latino-americanos": Fuks (filho de argentinos), Carola Saavedra (chilena), Javier Arancibia Contreras (filho de chilenos) e Miguel del Castillo (pai uruguaio). Dois, Fuks e Castillo, levam a herança cultural-familiar a seus textos.

Folha de S. Paulo - Iniciativa desperta críticas e livro com "adorados pelos leitores"

(16/07/2012) Antes mesmo de sair a "Granta", veio a resposta. O escritor Felipe Pena lançou na Flip seu "Geração Subzero" (Record, R$ 39,90, 322 págs.), cuja orelha critica a seleção da revista britânica.

"A 'Granta' teve a pretensão de apresentar os 20 melhores autores. Mas que critérios definem os melhores? E quem define esses critérios? Figurinhas carimbadas pela 'mídia especializada' e referendadas pelas panelas literárias levam vantagem."

Alegando ter escolhido nomes "congelados pela crítica, mas adorados pelos leitores", Pena uniu best-sellers como André Vianco e Eduardo Spohr a apostas próprias, como Eric Novelo e Cirilo Lemos.

"A 'Granta' se leva a sério demais. Quando um editor disse que aqueles autores vão construir o mapa da literatura brasileira, falei pro meu sobrinho de 5 anos: 'Melhor começar a ler todos, esses caras vão cair no vestibular!'"

O fato é que 247 autores levaram a "Granta" a sério e concorreram. Na semana passada, após discussões na internet, um leitor criou a página offgranta.wordpress.com para receber os escritos dos "227 rejeitados". Até sexta, cinco tinham enviado.

Por outro lado, alguns escritores sempre lembrados em antologias nacionais, como Veronica Stigger e Andrea Del Fuego, nem se inscreveram. Del Fuego diz que estava "grávida demais" e perdeu o prazo; Veronica afirma que não viu sentido em submeter texto à avaliação.

"A 'Granta' brasileira é um projeto equivocado, se não deletério, desde o princípio: trata-se da importação de um modelo de revista, que não leva em consideração as especificidades do nosso sistema literário", ela diz, não sem ressaltar que admira vários dos selecionados.

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Santiago Nazarian, um dos poucos brasileiros selecionados em 2007 pelo concurso "Bogotá 39", com 39 autores latino-americanos de até 39 anos, usou o bom humor para admitir que é "difícil superar" a ausência na "Granta".

Postou em seu blog conversa com uma amiga, na qual elogiam alguns eleitos, criticam outros e arriscam teses para a seleção. Ele conclui: "Parabéns sinceros a eles [os selecionados]. E tudo de pior aos jurados (quando vocês estiverem sofrendo, pensem que ficarei feliz em saber)".

O Estado de S.Paulo – Estudo brasileiro ganha edição internacional

Maria Fernanda Rodrigues

(14/07/2012) O livro Dez Lições Sobre Estudos Culturais (Boitempo) foi publicado em 2003 por Maria Elisa Cevasco, doutora em Letras pela USP e professora da mesma universidade. Dez anos depois, ele será editado simultaneamente em quatro países da América Latina. A obra foi escolhida pela Aliança Internacional de Editores Independentes, sediada em Paris, para ser traduzida e coeditada com o apoio do holandês The Prince Claus Fund Award. Participam da coedição a Lom (Chile), Lamarca (Argentina), Trilce (Uruguai) e Era (México). O livro mostra as origens das pesquisas culturais, suas relações com os estudos literários, as primeiras conquistas teóricas e o projeto intelectual, que inclui a análise da cultura popular e dos fenômenos da vida cotidiana. Aborda ainda um novo modo de ler a cultura erudita. A qualidade do material e a adequação ao tema do concurso - Cultura e Desenvolvimento - foram alguns dos critérios de escolha, mas saiu na frente a obra que despertou o interesse de mais editoras entre as associadas.

O Estado de S. Paulo – A realidade pelo avesso, na alegoria / Entrevista

Antonio Gonçalves Filho

(14/07/2012) A presença da morte é marcante na ficção do mineiro Carlos de Brito e Mello, de 37 anos, finalista dos prêmios São Paulo de Literatura, Portugal Telecom e Jabuti de 2010 pelo livro A Passagem Tensa dos Corpos. (Companhia das Letras). Prestes a entregar os originais de seu novo romance, A Cidade, O Inquisidor e os Ordinários à mesma editora, o autor concedeu uma entrevista ao Sabático, na qual revelou ter se livrado da "mais indesejável das gentes". A morte, garante, não é mais a protagonista da história, como em A Passagem Tensa dos Corpos.

Se, no elogiado livro, ela é uma entidade alegórica que ronda a casa de um patriarca envenenado por um de seus familiares, aqui cede lugar a um inquisidor que investiga a vida dos cidadãos "ordinários". Ele é ao mesmo tempo juiz e algoz nesse pesadelo em que a noção de homem e cidadania cai por terra.

Há uma fixação na morte em seus dois livros. Em A Passagem Tensa dos Corpos, ela se manifesta já na evocação inicial a Lúcio Cardoso, outro mineiro que escreveu sobre o tema. Afinal, Minas Gerais é o território da morte na literatura brasileira?

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É verdade. Esse universo cultural, muito próprio do interior do Estado de Minas Gerais, não é exatamente soturno, mas tem um certo clima de pesar que vem das festas populares religiosas. O livro deve muito ao clima sombrio de Crônica da Casa Assassinada, o que justifica a referência a Cardoso. Na verdade, eu costumava ter até certa implicância com essa redução do mineiro a um clichê. De qualquer maneira, há um modo de ser que corresponde, no livro de Cardoso, ao do interior mineiro, predominando um clima de luto.

A morte marca presença no novo livro?

Então, ela sai de cena. Estava com receio de me repetir. Além disso, as pessoas já se aproximavam de mim anunciando enterros na rua ao lado (risos). Se há alguma coisa que morre neste terceiro livro, A Cidade, O Inquisidor e os Ordinários, talvez seja certa noção do que é ser um homem, um cidadão. São essas denominações que começam a caducar no livro. Esses ordinários são figuras que não dão conta de sustentar as representações construídas acerca deles. Há como uma falência dessas denominações e o inquisidor seria um personagem que tenta recuperar isso. Ele vai atrás daqueles que considera infratores, hereges - não em relação a Deus, mas a um conjunto de referências do que era ser todas essas coisas há tempos. É menos a morte efetiva de um corpo físico e mais a de um universo de representação que perde o sentido.

Então, esses personagens são alegóricos, como a morte que espreita a família de A Passagem Tensa dos Corpos?

Quando percebi o caminho da narrativa, ela já tinha um tom alegórico, com os personagens entrando nela a serviço de suas denominações. Eles não têm nome nem endereços como nós temos.

Essa metaforização seria uma reação ou uma aversão ao realismo?

Não é uma posição de saída. Quando começo a escrever, essa direção já se impõe, não como oposição a um certo tipo de narrativa, incluindo a realista. Até comecei essa narrativa com referências realistas. A cidade seria mesmo Belo Horizonte, mas em algum momento isso me pareceu um tanto artificial. Era mais leal abandonar essas referências, mantendo uma outra.

No final de A Passagem Tensa dos Corpos, o narrador anuncia que vai parar de narrar, pois se prepara para entrar num corpo físico. Essa tentativa de incorporação não seria uma maneira de parar de nomear e admitir os limites da linguagem, à maneira da filosofia do austríaco Wittgenstein?

Não sou leitor direto de Wittgenstein, mas a maneira contundente como a linguagem ocupou certo debate chegou até mim pela leitura de Lacan, pois tenho formação psicanalítica. A incapacidade de a linguagem recobrir a experiência real me fascina. Gosto da exposição do fracasso da linguagem, pois sempre haverá uma zona de indeterminação, de incompletude. A morte estará sempre à espreita, porque é a linguagem que a carrega dentro de si.

Em A Passagem Tensa dos Corpos há um contraponto entre as observações minimalistas, telegráficas, como se fossem faits divers, colocadas ao lado de textos verborrágicos de um narrador que extrapola o uso da linguagem. Como é o estilo narrativo do novo livro?

Tive uma preocupação em A Passagem... de mostrar que essa entidade - talvez seja melhor não usar a palavra, pois o livro não tem nada de espírita - precisa da linguagem para ganhar um corpo, o que justifica essa verborragia. No novo romance, há uma diversidade maior de vozes e as intervenções são mais curtas. Não tenho maior interesse em trabalhar de uma maneira dissertativa.

Essa polifonia não atrapalha?

Existe o narrador principal, o inquisidor, que se serve de dois outros narradores. Quis garantir a onisciência desse narrador, mas também que vozes clandestinas, profanas, abusadas, perturbassem essa voz.

Em A Passagem..., a morte não aparece como oposição, mas complemento da vida, como diria Philippe Ariés. Assim, ela penetra transfigurada na intimidade dos personagens, testemunhando a sexualidade perturbada, necrófila, do garoto recluso em seu quarto. Como você trata o sexo no novo livro, como celebração vital ou culto funerário?

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Estou me lembrando de determinados personagens para os quais a questão sexual é crítica. Não necessariamente por causa da prática sexual, mas talvez porque não sejam capazes ainda de dizer do que eles gostam. Acho que se fala mais de sexo do que efetivamente se faz. As pessoas transam das formas mais estranhas, particulares. Os corpos são deliciosamente usados das mais diversas maneiras, mas não sei se isso é feito com grau desejável de liberdade e autonomia. Talvez sobre culpa demais. Acho que o crossdressing do cartunista Laerte é uma aparição política exemplar, pois ele mostra que talvez sejamos todos "montados" como homens e mulheres. Afinal, não nascemos com essa determinação, que vem da cultura. Quando Laerte se veste de mulher, ele tensiona isso num nível que é de uma perturbação subjetiva e política.

Quais são seus mitos?

Tenho tentado não recorrer à crença religiosa, ainda que em algum momento eu possa vir a ser presenteado com o reencontro. Considero muito aquilo que é da ordem da pequena e valiosíssima construção humana dos meus pais, essa nossa capacidade ordinária de construir sentidos para nós mesmos. Já fui mais exigente. Tenho tentado ser mais realista. Minha mãe morreu em janeiro e, no hospital, ela me disse: "Quando acontecer o amor, se apresente." Gostei dessa ideia de me apresentar às coisas desejadas, aos encontros transformadores, de uma maneira mais leve, sem contar com nenhuma transcendência.

Edgar Allan Poe parece uma presença permanente em sua literatura, um doppelgänger do qual não consegue se livrar. O que Poe significa para você?

Você tocou num autor que é também outra referência. Lúcio Cardoso era o fantasma de minha predileção quando comecei a escrever A Passagem Tensa dos Corpos. Eu não tinha consciência de que Poe fosse aparecer, mas ele apareceu. Poe não é assombrado por uma coisa que vem de fora, mas por algo que vem de dentro. É aí que me identifico com Poe, pois meus terrores são todos internos.

Além de escritor você é artista, fazendo até mesmo parte de um grupo de intervenção urbana, o que é inimaginável para um tipo não exatamente extrovertido. Isso é uma forma de violentação?

(Rindo) Pois é, talvez seja. Fiz parte do coletivo Xepa, mas no ano passado viajei com minha mulher para a Índia e o Nepal e acabei me distanciando.

Conte uma intervenção urbana da qual participou.

Essa intervenção (Edificação e Queda dos Corpos) foi feita no Recife. Compramos 10 mil tijolos e descarregamos no centro. A ideia era erguer uma parede até seu ponto máximo de tensão, até que caísse. Era um espaço de passagem, numa praça, em frente a uma igreja. Aconteceram coisas muito engraçadas, como um pedreiro tentando nos ensinar como construir uma parede mais sólida, ou transeuntes revoltados por estarmos bloqueando sua rota de trabalho.

O Globo – Outras palavras

DULCE MARIA Cardoso, Angela Dutra de Menezes e Ana Maria Machado: mesa no Cantagalo, quarta-feiraA Flupp, uma Flip nas favelas, acaba de levar consagrados escritores brasileiros e estrangeiros a comunidades pacificadas do Rio — e esse é só o começo da história

Alexandra Lucas Coelho

Em julho de 2010, Julio Ludemir estava na pior. O que daí resultou, dois anos depois, é que centenas de cariocas das periferias acabam de conversar com escritores como o inglês Hanif Kureishi, a cubana Zoé Valdés e o indiano Suketu Mehta, além de vários autores brasileiros e do editor da mais célebre revista literária do mundo, a “Granta”.

Tudo culminou, na última quarta-feira, num dia tão cheio no Morro do Cantagalo que mal se deu pelo secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, no palco. E a história ainda só está a aquecer para novembro, quando estreia a primeira Flupp: Festa Literária das UPPs.

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Então, o que é que em 2010 aconteceu a Julio Ludemir, jornalista e escritor, pernambucano e carioca, sobretudo flamenguista? — Fiz 50 anos. E um livro meu que conta a história do crime no Complexo do Alemão encalhou na editora: iam queimá-lo. Foi um golpe duro. Recolhi mil exemplares e saí quase como um camelô. Julio era fã da Flip, daqueles de assistir de fora, do telão, sempre que não tinha convite.

— Minha primeira Flip foi uma experiência quase extraterrestre, e passei a ir sempre. Agarrou-se ao livro encalhado, foi para Paraty vender.

— E, quando abordava as pessoas, era tão maltratado: “Não incomode os clientes.” Quer dizer: “Não interrompa a minha conversa.” Eu sei como o chão é duro, sei quantas vezes caí, e foi nessa Flip que me arranhei muito, no meio da crise dos 50, a lidar com o fracasso do livro mais bem urdido que já fiz, as pessoas que conheço quase me evitando. Uma amiga me chamou delicadamente num canto e disse: “Você está pagando mico.”

E no meio de tudo veio esse fado de transformar sua dor. Veio assim, ideia, nome, local: Festa Literária das UPPs, Flupp. Ao voltar, falou da ideia ao amigo Ecio Salles, com quem trabalhava na secretaria de Cultura de Nova Iguaçu.

— Achei fantástico — lembra Ecio. — Mas para algo dessa magnitude precisávamos de mais gente, pessoas de referência que pudessem ajudar.

Foram buscar a ensaísta Heloísa Buarque de Hollanda, o antropólogo Luiz Eduardo Soares e, para curador, o velho camarada de Julio no “Jornal do Brasil”, Toni Marques, hoje editor de texto no “Fantástico”, além de escritor.

— Eles me fizeram um briefing da ideia, que eu transformei em temas — conta Toni. O British Council leu a notícia, quis associar- se, convidou Toni para um festival literário em Norwich, na Inglaterra, com gente de todo o mundo. Ele voltou de lá com uma lista de autores e um novo conceito: — Integrar performances, shows, entrevistas abertas. A Flupp só vai funcionar se os temas tiverem alguma ponte com a realidade das favelas. O objetivo é pegar quem já tem uma vocação, mostrar-lhe que pode ser uma voz vinda desse mundo, o que não quer dizer que tenha de escrever sobre isso, dar-lhe acesso a escritores internacionais.

Aconteceu já esta semana, logo depois da Flip. Várias estrelas de Paraty subiram os morros do Rio. Mas a Flupp estava se mexendo há meses, numa série preparatória de oficinas e palestras em 12 favelas, sempre aos sábados. Prosadores e poetas do Complexo do Alemão ou de Nova Iguaçu iam se reencontrando em comunidades onde nunca tinham entrado. Como o nome desta série era Fluppensa, passaram a ser chamados de Fluppenseiros. Textos deles foram debatidos por escritores e acadêmicos brasileiros que se dispuseram a lê-los previamente. Cada sessão fechou com um autor consagrado falando do seu percurso.

Bloomberg / Blog World View - Jonathan Franzen Visits Brazil, Puzzles Nation

By Dom Phillips, Jul 12, 2012

In its 10th year, Brazil's biggest literary festival, held in Paraty on the coast, attracted 25,000 visitors, nearly as many people as live in the picturesque colonial town. They came for the celebrity authors and films, sure, but mostly for an intimacy with books.

That's no small thing in a country where few novelists make a living, where illiteracy rates are around 12 percent, and where the newspaper with the largest circulation, Folha de Sao Paulo, sells around 300,000 copies to a population of 203 million.

Posting on Twitter, someone identifying as the entertainer Rafael Cortez enthused, “It's the first time I see books used as something other than a table wedge!”

"I was ecstatic," festival-goer Sheila Lustosa commented on Facebook: “To sit together with each author, to participate a little in their world, in the creative process, amid the anguishes and desires of each author -- it encourages us to read, so we can live longer lives and understand more lives.”

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Naturally, some appearances produced more ecstacy than others. Brazilian author Zuenir Ventura was a big hit with the audience, winning laughs when he read a passage from his new book, "Holy Family," in which he relates his first lesson about sex, having stumbled as a child upon his aunt having relations with a man in the back of a pharmacy. Britain's Ian McEwan and America's Jennifer Egan received a standing ovation for their joint session.

On the other hand, the festival's headline act, the American novelist Jonathan Franzen, fizzled. His drawn-out pauses and doses of Midwestern humor confounded the Brazilian crowd. On her blog for Folha de Sao Paulo, literary critic Joselia Aguiar wrote that Franzen was capable of "brilliant phrases" but appeared tense and timid. In a later post, she said, "Franzen, who almost came across as a freak, could also be uplifting."

The newspaper O Globo was less balanced, declaring in a blog post:

The biggest disappointment in the program was the American Jonathan Franzen, one of the most anticipated attractions of the event, whose session dragged at prime time.

There were a few other complaints about the event, officially called the Paraty International Literary Festival, or FLIP, in Portuguese. In a blog post on the Folha website, writer and filmmaker Andre Barcinski said the city of Paraty could not handle the crowd, its guest houses charged outrageous prices, and its overflowing restaurants meant interminable queues. He also lamented that the festival relies heavily on publishers:

I know that FLIP depends on publishers and serves as a vehicle for them to launch their books. But there is a mass of authors without publishers out there, and a debate on how to publish a book independently would have enormous appeal.

Writing on the website of Germany’s international broadcaster Deutsche Welle, Berlin-based Brazilian poet Ricardo Domeneck criticized the festival for including only seven women among the 44 featured poets and writers this year. “Is it necessary to be a literary character for a woman to have a better chance of participating?” he asked.

In the Estado de Sao Paulo newspaper, however, literary critic Ubiratan Brasil concluded that the festival was an overall success: “FLIP closed its 10th edition with its usual ups and downs but left the impression that its hits were more decisive than its errors.” He especially praised the festival's celebration, 110 years after his birth, of Carlos Drummond de Andrade, one of Brazil's most important writers. Drummond's words were projected on the wall of a church in a city square, and his poems were recited before each author session.

John Freeman, editor of the British literary magazine Granta, which helped launch the careers of McEwan and Franzen, attended the festival to launch Granta’s first collection of pieces by young Brazilian writers. In an interview with BBC Brasil, he was asked about the perception of Brazilian literature abroad. “Actually there is no perception,” he replied, lamenting that so much is said overseas about Brazil’s economic development and nothing about its literature.

a

For five sweet days on the Brazilian shore, at least, the home crowd had its say.

(Dom Phillips is the Rio de Janeiro correspondent for World View. The opinions expressed are his own.)

ROMANCES GRÁFICOS

O Globo - O Brasil de Stefan Zweig em versão HQ

Sucesso na Europa, ‘graphic novel’ recria últimos dias do escritor austríaco

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O GIBI de Guillaume Sorel e Laurent Seksik reconstitui a vida de Zweig e sua mulher no Rio e em Petrópolis

(16/7/2012) Paisagens quadrinizadas de um Rio de Janeiro em ritmo de fervura, embalado no carnaval de 1942, têm feito da HQ franco-belga “Les derniers jours de Stefan Zweig” algo mais do que um best-seller nas livrarias da Europa. O álbum virou uma iguaria antropológica para alimentar o lugar ocupado pelo Brasil no imaginário do Velho Mundo. Lançada há cerca de dois meses na França, pela Casterman, mesma editora de cults como “Corto Maltese”, a graphic novel desenhada por Guillaume Sorel e roteirizada pelo escritor Laurent Seksik recria a geografia brasileira pelos olhos do judeu austríaco Stefan Zweig (1881–1942). Um dos maiores nomes da literatura mundial à sua época, graças a livros como “24 horas na vida de uma mulher” e “O mundo que eu vi”, Zweig tem sua agonia existencial relatada no gibi, preocupado em investigar os encantos geográficos que fascinaram o autor de “Brasil, o país do futuro”.

— Eu nunca tive o prazer de visitar o Brasil. Por isso, tive que recorrer a toda a sorte de documentação pictórica do seu país, incluindo filmes como “Orfeu Negro”, de Marcel Camus, e “É tudo verdade”, o documentário inacabado de Orson Welles sobre as paisagens brasileiras de 1942. Na internet, eu passei horas pesquisando a vista do Rio dos anos 1940 no site da Casa Stefan Zweig (o memorial do autor, em Petrópolis).

A dificuldade foi evitar anacronismos — explica por e-mail ao GLOBO o ilustrador Guillaume Sorel, lamentando o fato de o álbum ainda não ter uma tradução em português anunciada. Autor de HQs prestigiadas na França como “Mother” e “Mens Magna”, Sorel entrou no projeto a convite da editora Nadia Gibert. Ela precisava de um desenhista interessado em reconstituições de época para traduzir o roteiro de Seksik em imagens capazes de biografar os últimos dias de Zweig. Horrizado com o

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cerco antijudeu armado pelos nazistas em solo germânico, o austríaco refugiou- se no Brasil de 1936 até 23 de fevereiro de 1942, data em que cometeu suicídio ao lado da mulher, Lotte, em sua casa em Petrópolis. Na graphic novel, Seksik, que há dois anos lançou o romance “Les derniers jours de Stefan Zweig”, concentrou-se nas aventuras cariocas do austríaco, recriando seus encontros com intelectuais no Copacabana Palace e idas ao Teatro Municipal.

— Já faz tempo que visitei o Brasil, mas lembro de ter sentido uma grande emoção na visita a Petrópolis, no local onde ele encerrou seu destino — diz Seksik, também por e-mail. —

De alguma forma, as memórias que guardei da visita e as lembranças da leitura dos romances, ensaios e correspondências de Zweig permearam a criação do quadrinho. Mas não trabalho com referências visuais, nem recorri a filmes sobre o Brasil. A tarefa de um romancista é preencher ausências, acrescentando um ponto de vista que falta à História.

Delicadeza feminina HQs biográficas ocupam espaço no mercado de quadrinhos da Bélgica e da França desde os anos 1940. Há dois anos, um exemplar do gênero chegou a se tornar campeão de vendas: “Nietzsche — Se créer liberté” (Les Éditions du Lombard), de Michel Onfray e Maximilien Le Roy. Mas “Les derniers jours de Stefan Zweig” busca ir além do relato histórico, incorporando conceitos da literatura de Zweig em sua estrutura.

— Construímos este álbum tendo a morte do casal Zweig como eixo de nossa narrativa, por sua força trágica. Mas existe algo na maneira como Stefan retratava as mulheres em sua literatura que era importante ser retomado: a delicadeza com que ele analisa seus sentimentos.

O destaque que dava às personagens femininas tornava prioritário o papel de Lotte na trama — explica Sorel.

A reboque do sucesso comercial de “Les derniers jours de Stefan Zweig”, que já desponta na lista dos sites europeus de HQ como uma das melhores de 2012, Seksik já prepara uma peça teatral sobre a vida do escritor.

— A peça vai estrear em setembro, em Paris, recriando o destino de um homem consagrado na arte da palavra como um humanista. O papel de Lotte é decisivo, pois ele forma com ela uma espécie de casal lendário para sua época — diz Seksik. — E nessa história, a passagem pelo Brasil torna a história de amor entre eles ainda mais fascinante, seja para ser contada como romance ou na forma dos balõezinhos de uma história em quadrinhos. (Rodrigo Fonseca)

FOTOGRAFIA

Folha de S. Paulo - Série do argentino Horacio Coppola sobre a obra de Aleijadinho ganha mostra em SP

(17/07/2012) Nas palavras de Mário de Andrade, Aleijadinho "era já um produto da terra, e do homem vivendo nela, e era um inconsciente de outras existências melhores de além-mar: um aclimado na extensão psicológica do termo".

Nada mais moderno, no pensamento de Andrade, do que a mestiçagem por trás da produção deste que foi maior nome do barroco brasileiro.

Também cruzando consciências, interessado pela origem das coisas, Horacio

Coppola, fotógrafo argentino morto há um mês, aos 105 anos, registrou as esculturas de Aleijadinho em imagens agora expostas no Instituto Moreira Salles, em São Paulo.

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São fotografias que contrastam com a obra que consagrou Coppola, suas vistas modernas de uma Buenos Aires em plena bonança econômica e transformação urbanística na década de 1930.

Coppola, que estudou na escola Bauhaus, centro que irradiou a partir da Alemanha pré-nazismo a depuração das formas no design, na arquitetura e no mobiliário, não podia ver em Aleijadinho algo mais distante de suas próprias noções de moderno.

Mas, lendo esse ensaio de Andrade sobre o mestre barroco, numa tentativa de aproximação com os modernistas brasileiros, Coppola interpretou a obra de Aleijadinho em suas cerca de 300 imagens.

"Ele consegue dar vida a essas estátuas", diz Luciano Migliaccio, curador da mostra no IMS. "Coppola transforma figuras em silhuetas, às vezes em formas plenas, como se pintasse uma tela."

Um caderno de anotações, em que Coppola especifica o tipo de objetiva, negativo e câmera que usou em cada imagem, também será exposto junto de imagens da série.

"Ele vai buscando a cultura do tempo dele, das vanguardas", diz Migliaccio. "O encontro com a obra de Aleijadinho não é por acaso." (SM)

O Estado de S. Paulo – Atol: explosão de vida

Livro, que será lançado hoje, recupera em textos e imagens história da reserva marinha

(18/7/2012) CAMILA MOLINA - No Atlântico, localizado a 269,5 quilômetros de Natal (Rio Grande do Norte) ou a 148 quilômetros do arquipélago de Fernando de Noronha, o Atol das Rocas é a primeira reserva biológica marinha criada no Brasil. Um anel no meio do oceano, com diâmetro de pouco mais de 3 quilômetros e com cerca de 1,5 quilômetro de praia, a reserva, que recebe apenas cientistas, vai até mil metros de profundidade, preservando exemplos raros da biodiversidade marinha. Para se chegar até Rocas, é necessário pegar um barco em Natal e viajar por um dia. "Temos de levar tudo o que precisamos e lá ficamos isolados", conta a bióloga Alice Grossman, que foi pela primeira vez ao atol em 1994, como estagiária do projeto Tamar, dedicado às tartarugas marinhas.

Lugar isolado do público, com um abrigo para acolher os cientistas em suas expedições, a reserva marinha é apresentada de forma abrangente no livro Atol das Rocas 3.º 51'S 33.º 48'W, organizado por Alice Grossman e com imagens realizadas por Marta Granville e Zaira Matheus, ambas especializadas em fotografia submarina. Obra editada pela Bei, Atol das Rocas tem seu lançamento hoje, às 18h30, na Livraria Cultura. As autoras, que vivem em Fernando de Noronha, autografam a edição, lançada, anteriormente, em Natal.

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A reserva biológica foi instituída em 1979 por meio de um decreto-lei, mas sua implantação somente se deu a partir de 1991. "A história do Atol das Rocas estava pulverizada até a realização deste livro, pela primeira vez ela aparece de forma concisa e linear", diz Alice. A edição, assim, conta também com textos de Maurizélia de Brito Silva, chefe da reserva marinha, e do historiador e almirante Max Justo Guedes. Trabalhos cartográficos e fotografias antigas, muitas delas inéditas, pertencentes ao arquivo da Marinha do Brasil, resgatam a importância do Atol das Rocas desde o primeiro mapa no qual a localidade aparece, em 1605.

"É uma explosão de vida, com toda a beleza cênica, mas no meio do nada", afirma Marta. Na rota de embarcações, Rocas foi palco de naufrágios no século 19. Transformou-se, também, durante tempos, em abundante pesqueiro em alto-mar, mas essa atividade foi desativada com a criação da reserva biológica protegida para a ciência. "Rocas é a segunda maior colônia de tartarugas no Atlântico", afirma Alice Grossman, que se especializou na pesquisa de uma espécie em extinção dos répteis aquáticos, a das tartarugas verdes. Elas fazem desova no Atol das Rocas, mas a reserva ainda conserva infinidade de objetos de estudos, como colônias de corais, algas, esponjas, crustáceos, peixes, polvos, cerca de 150 mil aves e exemplares da flora. "Recentemente, foi publicada uma pesquisa na qual é citada uma alga de Rocas com forte tendência de cura do vírus HIV", conta a bióloga.

"Levar todo o equipamento fotográfico para o atol não é nada fácil", diz Zaira Matheus, também formada em biologia. Tanto ela quanto Marta Granville acompanharam Alice Grossman durante muitas expedições à reserva, além de participarem de outros estudos no local - contabilizam que reúnem, afinal, um arquivo de mais de 60 mil imagens. As fotografias presentes no livro não são apenas submarinas - segmento no qual são especializadas, mas apresentam a beleza do Atol das Rocas pela magnitude de sua paisagem como também de seus detalhes.

GASTRONOMIA

O Estado de S. Paulo - Bahia abriga pela 1ª vez o principal evento chocolateiro do mundo

Cíntia Bertolino - Por três dias a Bahia atraiu a atenção de chocolateiros do mundo todo. Dezenas de milhares de pessoas participaram do Salon du Chocolat Bahia, de 6 a 8 de julho. A programação incluiu visitas à região de Ilhéus e Itacaré, no sul da Bahia, conferências no fórum que discutiu o futuro do cacau e do chocolate no mundo (leia mais abaixo), palestras e workshops.

Foi a primeira vez que o maior evento de chocolate do mundo foi realizado em um país produtor de cacau. E aproveitando o ditado "baiano não nasce, estreia", o Salon du Chocolat Bahia nem bem começou já virou marco e entrou para o calendário de atividades de Salvador. O coordenador do evento, Diego Badaró, do chocolate Amma, tem contrato para mais cinco edições do evento por aqui e já marcou a data do encontro no ano que vem: de 11 a 14 de julho.

A estreia baiana foi bem longe do ambiente climatizado dos centros de convenções, com uma volta às origens que levou um bocado de gente para a lavoura. A ideia era ficar frente a frente com o cacaueiro e ver onde é que começa a história de um bombom fino, a vida da barra de chocolate assinada por aquele chocolatier tão bom.

Na lavoura. Durante a visita às fazendas, mas também em todos os momentos do evento, prevaleceu o mesmo tom: a despeito do abandono da lavoura cacaueira por muitos anos no Sul da Bahia, há um movimento muito claro para que a região volte a produzir - e com mais qualidade.

O Salon foi uma oportunidade para muita gente conhecer o chocolate artesanal. E para muitos chocolatiers serem apresentados ao cacau. Um dos pontos altos, a visita à fazenda Santa Cruz, causou surpresa até mesmo a profissionais experientes, como o francês Sébastien Bouillet. Com lojas em Lyon e Tóquio, ele nunca tinha estado numa fazenda de cacau. "Foi uma experiência memorável, vai mudar a forma como faço chocolate", disse.

A especialista em chocolate e autora do livro The Chocolate Connoisseur, Chloé Doutre-Roussel, foi além: "Levar as pessoas para conhecer as fazendas de cacau é algo inédito num evento como o

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Salon du Chocolat. Além de ser uma oportunidade para que chocolatiers encontrem novos fornecedores, é também a realização de um sonho para quem trabalha com chocolate".

No dia da visita às fazendas, a chuva deu uma breve trégua para que chocolateiros, palestrantes e visitantes pudessem se misturar à paisagem, caminhar sob o sol forte e provar o fruto tantas vezes descrito na obra de Jorge Amado - no ano em que se comemora o centenário de nascimento do escritor, nada mais apropriado do que começar a conversa sobre chocolate em uma fazenda de cacau.

Pela estrada da fazenda Santa Cruz, em Taboquinhas, cidade próxima a Itacaré na direção do interior, cercada de cacaueiros a perder de vista, com frutos de diferentes cores e tamanhos, uma romaria caminhou por alguns quilômetros até a plantação.

Ali um grupo de funcionários da fazenda abria os frutos, retirava a polpa de cacau e separava a cibira (parte fibrosa que prende os gomos) para fazer doce.

O cacau é um desses frutos pródigos dos quais tudo se aproveita: a casca vira adubo e a montanha branca de polpa antes de ser levada para fermentar verte um líquido quase transparente de doçura e sabor ainda mais delicados que a polpa do cacau. E quem trabalha na lavoura sabe e vai logo avisando: não se pode exagerar na polpa, toda essa doçura dá um sono danado.

Depois de tanto cacau e mel, era hora de encarar os corredores abarrotados do Centro de Convenções da Bahia, em Salvador, que em três dias recebeu 30 mil visitantes, segundo a organização do evento.

OUTROS

O Globo - Nova feira de arte quer atrair classe média

(12/07/2012) Obras de arte ao alcance da classe C. Essa é a proposta da Artigo Rio, feira de arte contemporânea que terá a sua primeira edição em novembro, no Centro de Convenções Sul América, na Cidade Nova. Criada pelo produtor e curador carioca Alexandre Murucci, a feira pretende atrair 30 galerias cariocas com trabalhos até R$ 17 mil e alcançar um público que geralmente não frequenta os corredores badalados das grandes feiras de arte do país, como a ArtRio e a SP Arte.— O objetivo é atingir uma classe média que não tem um poder aquisitivo tão grande para consumir arte, mas que sente vontade de começar uma coleção, por exemplo — diz Murucci.— Quero que quem mora no Méier, Tijuca, Duque de Caxias, se sinta à vontade em uma feira de arte contemporânea. A democratização do acesso é o maior intuito da Artigo. Vamos ter uma maior clareza nas informações e nos preços. Quem vier à feira tem que ter certeza de que não há preços flutuantes: é tudo como numa vitrine de shopping.

Preço médio de R$ 3 mil De acordo com ele, a Artigo, marcada para ocorrer de 7 a 11 de novembro, tem o compromisso de expor 70% das obras à venda com preço médio entre R$ 500 e R$ 3 mil, mesmo que se possa encontrar obras até 17 mil, o teto da feira. O curador conta que quis criar o evento de olho em um nicho de mercado que cresce exponencialmente, inspirado em feiras internacionais com o mesmo perfil, como a Affordable Art Fair, que desde 1999 vende obras de arte a preços mais acessíveis em 15 cidades pelo mundo, como Nova York, Londres, Roma, Cingapura, Cidade do México e Estocolmo— onde vai acontecer a próxima edição, de 4 a 7 de outubro.O modelo da Artigo se assemelha à feira paulistana Parte Arte Contemporânea, este ano em sua segunda edição (de 17 a 21 de outubro), em que os preços não passam de R$ 18 mil.— Existe uma demanda no mercado que não é apenas o alto consumo — sublinha Murucci.— Enquanto isso, há um grande número de artistas, jovens ou em meio de carreira, com trabalhos de qualidade mais em conta que muitas das obras meramentedecorativas, fadadas a desvalorização, à venda em lojas de decoração. Eu comprei Vik Muniz quando era barato e apenas oito anos depois, vale 4.000% a mais do que paguei.As inscrições para a feira começam na próxima terça-feira e vão até o dia 8 de agosto, mas algumas galerias já se mostraram interessadas, como Artur Fidalgo, Coleção de Arte, Cosmocopa e Múl.ti.plo:

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— É mais um acontecimento no Rio, o que só reforça a cidade e o mercado de arte aqui — avalia Artur Fidalgo, dono da galeria que leva seu nome. — Ainda não li os termos de participação, por isso ainda não posso confirmar se vou entrar, mas a proposta é muito interessante. Os preços mais baixos são um grande atrativo para quem está começando uma coleção.Cristina Magalhães Pinto, da Múl.ti.plo, também se sentiu atraída e concorda com Fidalgo. — Ainda não li a application, mas acho que vale a pena.Quanto mais eventos de arte por aqui, melhor — opina. — Gosto muito do Alexandre. Ele tem feito propostas interessantes para a arte na cidade.Atualmente curador da Galeria Vertical, no Solar de Botafogo, Murucci é responsável por mostras como “Nova escultura brasileira” (2011), na Caixa Cultural; e a coletiva “Panorama Terra”, em cartaz no consulado argentino, que reúne obras de nomes como Simone Michelin, Rosana Ricalde e Bruno Miguel.O curador afirma que os valores mais baixos das obras não interferem na qualidade:— Quero ter galerias com artistas valorizados no mercado, mas que ainda não atingiram um preço tão alto. Muitas vezes, nas grandes feiras, não vale a pena levar um artista iniciante porque o preço da obra não pagaria os custos do galerista, por isso só levam pesos pesados.Uma das organizadoras da ArtRio, que acontece de 13 a 16 de setembro no Píer Mauá, Brenda Valansi vê com bons olhos a iniciativa de Murucci: — Não estava sabendo, mas achei ótimo! Quanto mais eventosde arte no Rio, melhor. Murucci diz ainda que quer negociar com o governo do Rio a mesma isenção de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) que a ArtRio e a SP Arte tiveram.

Agência Brasil - Encontro de arte digital reúne artistas internacionais em São Paulo

Flávia Albuquerque

(15/07/2012) São Paulo – Artistas de diversas partes do mundo estarão reunidos a partir do próximo dia 17 para o maior encontro de arte digital feito no país. Até o dia 19 de agosto o Centro Cultural Fiesp – Ruth Cardoso sediará a terceira edição do Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (File) que trará animações, instalações interativas, aplicativos para tablets, games, performances, workshops, mesas-redondas, encontros com artistas internacionais e jogos produzidos com estética cinematográfica.De acordo com o organizador do festival, Ricardo Barreto, a estrada será gratuita e o evento, elaborado pelo Serviço Social da Indústria (Sesi-SP), ocupará também duas estações de metrô (Consolação e Trianon-Masp) e o Museu da Imagem e do Som (MIS). “Nessas duas estações de metrô haverá intervenções públicas de um grafiteiro digital que vai projetar suas arte nas paredes”.

Barreto disse que o festival cresceu desde que começou a ser feito há 13 anos e que no começo era apenas na internet. “Hoje o File é o alinhamento de vários eventos digitais e trabalha com a arte eletrônica, usando todas as tecnologias e inovações que a evolução digital proporcionou”.

Segundo ele, o festival passou a ser um complexo de eventos porque o mundo digital é interconectivo, pois tudo de alguma maneira tem uma interface digital. “Isso propicia que todas as artes, que antes eram separadas, comecem a convergir. A digitalidade possibilita essa conexão entre elas, porque todos trabalham com algorítimos, com linguagem digitais”.

O festival foi dividido em polos temáticos: instalações interativas, games, maquinema, anima+, tablet, media art, hipersônica e symposium e workshop. Os destaques ficam para o Paradoxal Sleep, um cubo que flutua no espaço; Túnel, que é uma escultura cinética, imersiva e interativa que se movimenta durante a passagem dos visitantes pelo seu interior; What a Loving, and Beautiful World, uma projeção interativa com caracteres da caligrafia japonesa.

No File Anima+ serão exibidos diferentes gêneros de animação, curtas e longas-metragens experimentais até filmes de grandes estúdios. A seleção conta com trabalhos de alguns dos maiores festivais internacionais de animação e traz atrações da Grécia, França, Hungria/Alemanha.

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No File Tablet serão mostrados mais de 30 aplicativos nas categorias de livros eletrônicos, jogos e entretenimento com dois sistemas operacionais diferentes. Destacam-se aplicativos desenvolvidos em Hong Kong, no Brasil, e na Rússia.No FIile Hipersônica o público terá acesso a diversas produções sonoras que usam as ferramentas digitais. Participam artistas do Chile, da Alemanha e de Hong Kong. No FILE Symposium, os artistas falarão sobre os processos criativos e as novas tendências do setor. E nos Grupos de Trabalho o público terá a oportunidade de conhecer e aprender sobre as técnicas utilizadas por grupos do Chile, Brasil e da Itália.

O Globo - Brasil e Portugal detalham seu intercâmbio cultural Programação ocorre simultaneamente nos dois países a partir de setembro

Silvio Essinger

(18/7/2012) Foi lançada ontem, oficialmente, com uma solenidade no Consulado Geral de Portugal, a parte principal da programação do Ano Brasil Portugal, que se estende de 7 de setembro a 10 de março de 2013 e ocorre simultaneamente nos dois países. Diante da presença de vários artistas e autoridades, o presidente da Funarte e Comissário do Ano do Brasil em Portugal, Antonio Grassi, anunciou as atrações brasileiras de música, artes plásticas, teatro, cinema, dança, literatura, gastronomia, circo e outras expressões culturais que ocuparão as cidades de Lisboa, Guimarães, Porto, Coimbra, Sintra e Faro ao longo do Ano. E anunciou a abertura de um edital para os projetos artísticos que virão a ocupar o Espaço Brasil a ser instalado em um galpão em Lisboa. Os detalhes estarão no site www.anobrasilportu gal.com.br.

Ney e Monobloco abrem a festaCom abertura marcada para 22 de setembro, em Lisboa, com um show de Ney Matogrosso e Monobloco - dois artistas que já se apresentam em terras lusitanas com regularidade -, a programação brasileira em Portugal inclui janelas para a música instrumental (Naná Vasconcelos, Hamilton de Holanda), a poesia (Ferreira Gullar e Arnaldo Antunes, Elisa Lucinda), o teatro (espetáculos de Bibi Ferreira e Marília Pêra), o humor (stand-up de Fernando Caruso com comediantes portugueses), as exposições (Millor Fernandes, Lygia Clark, Bispo do Rosário), uma homenagem ao centenário de Jorge Amado e mostras de filmes. No Espaço Brasil, a programação musical prevê encontros representativos dos estados (Pernambuco, com a orquestra do maestro Spok, Lia de Itamaracá e Lirinha; Pará, com Gabi Amarantos, Pinduca e Fafá de Belém, entre outros) e uma série de concertos-tributos a grandes nomes da música brasileira - entre os quais um a Chico Science, por Otto e Mundo Livre S/A.

Ao anunciar a programação de Portugal no Brasil, o comissário do país europeu, Miguel Horta e Costa, reconhecia haver "imagens e estereótipos a ultrapassar", mas sem esquecer o "vasto patrimônio histórico". A agenda começa no dia 7 de setembro, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, com um show reunindo a fadista Mariza, a cantora Roberta Sá e a Orquestra Sinfônica da capital. Mariza repete a dose com Milton Nascimento nos dias 9 (em Belo Horizonte, no Palácio das Artes) e 12 (no Rio, no Teatro Municipal).

Programa luso ainda abertoEntre as atrações portuguesas anunciadas para o Brasil estão também a Orquestra da Fundação Calouste Gulbenkian (em espetáculos itinerantes), exposições da pintora Vieira da Silva (no MAM), do designer Fernando Brízio (no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo) e a participação de filmes lusos no Festival Internacional do Rio e na Mostra de Cinema de São Paulo. Em parceria com a editora Leya, está programada a edição de livros de 10 escritores portugueses jovens, além de um volume das cartas de Ophelia ao poeta Fernando Pessoa.

- É um programa aberto, ainda estamos no início - disse Horta e Costa.

O encerramento do anúncio da programação foi feito pela ministra da Cultura, Ana de Hollanda, que discorreu sobre o Ano Brasil Portugal.

- Esperamos que essa celebração resulte em benefícios concretos para nossos povos e nossas culturas - disse a ministra.

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