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ASSOCIAÇÃO DO HLA COM O TRANSPLANTE ALOGÊNICO DE CÉLULAS-TRONCO HEMATOPOIÉTICAS Mendonça, L.A.M. 1 Ferreira, M. 2 Resumo: O presente trabalho visa na abordagem do transplante alogênico de células- tronco hematopoiéticas, explicitando de forma geral os testes de compatibilidade realizados previamente ao procedimento. Teve como objetivo explorar, dentro desse contexto, a associação das moléculas de HLA (Antígeno Leucocitário Humano) com este tipo de transplante, uma vez que a reposta imunológica intermediada por estas moléculas determina o êxito do transplante. Foi possível perceber a importância e necessidade da combinação do HLA do receptor com o do doador, a fim de evitar complicações como a rejeição do enxerto. Para tanto a metodologia utilizada foi revisão bibliográfica, tendo como referência, principalmente, artigos atuais. Palavras-chave: Transplante alogênico de células-tronco hematopoiéticas. HLA. Testes de compatibilidade. ABSTRACT This paper presents the approach on allogeneic hematopoietic stem cells transplantation, explaining in general the compatibility tests previously performed to the procedure. The goal was to explore, within this context, the association of HLA (Human Leukocyte Antigen) molecules with this type of transplantation, since the immune response mediated by these molecules determines its success. It has been possible to understand the importance and necessity of matching the receiver with the HLA of the donor, avoiding complications such as graft rejection. The methodology used was a literature review, based mainly on current articles. Key-words: Allogeneic hematopoietic stem cells transplantation. HLA. Compatibility tests. ____________________ 1 Acadêmica do curso de farmácia do Centro Universitário Newton Paiva. 2 Professora da disciplina de Análises Clínicas do Centro Universitário Newton Paiva.

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ASSOCIAÇÃO DO HLA COM O TRANSPLANTE ALOGÊNICO DE

CÉLULAS-TRONCO HEMATOPOIÉTICAS

Mendonça, L.A.M. 1

Ferreira, M.2

Resumo: O presente trabalho visa na abordagem do transplante alogênico de células-

tronco hematopoiéticas, explicitando de forma geral os testes de compatibilidade

realizados previamente ao procedimento. Teve como objetivo explorar, dentro desse

contexto, a associação das moléculas de HLA (Antígeno Leucocitário Humano) com

este tipo de transplante, uma vez que a reposta imunológica intermediada por estas

moléculas determina o êxito do transplante. Foi possível perceber a importância e

necessidade da combinação do HLA do receptor com o do doador, a fim de evitar

complicações como a rejeição do enxerto. Para tanto a metodologia utilizada foi revisão

bibliográfica, tendo como referência, principalmente, artigos atuais.

Palavras-chave: Transplante alogênico de células-tronco hematopoiéticas. HLA. Testes

de compatibilidade.

ABSTRACT

This paper presents the approach on allogeneic hematopoietic stem cells transplantation,

explaining in general the compatibility tests previously performed to the procedure. The

goal was to explore, within this context, the association of HLA (Human Leukocyte

Antigen) molecules with this type of transplantation, since the immune response

mediated by these molecules determines its success. It has been possible to understand

the importance and necessity of matching the receiver with the HLA of the donor,

avoiding complications such as graft rejection. The methodology used was a literature

review, based mainly on current articles.

Key-words: Allogeneic hematopoietic stem cells transplantation. HLA. Compatibility

tests.

____________________

1 Acadêmica do curso de farmácia do Centro Universitário Newton Paiva.

2 Professora da disciplina de Análises Clínicas do Centro Universitário Newton Paiva.

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1 INTRODUÇÃO

O transplante de células-tronco hematopoiéticas é uma modalidade de tratamento

que consiste na infusão de células precursoras hematopoiéticas indiferenciadas (células-

tronco) capazes de reconstituir a medula óssea previamente acondicionada pela

quimioterapia e/ou radioterapia e, posteriormente, normalizar a produção dos elementos

do sangue (LÉNGER & NEVILL, 2004). É utilizado, principalmente, para o tratamento

de doenças hematológicas, embora outros tipos de doenças sejam também tratados

(Tabela 1) (KERBAUY & RIBEIRO, 2010).

Tabela 1 - Principais indicações do transplante de células-tronco

Doenças neoplásicas Outras doenças

Leucemia mielóide aguda Anemia aplásica

Leucemia linfóide aguda Hemoglobinúria paroxística noturna

Leucemia mielóide crônica Anemia de Fanconi

Leucemia linfóide crônica Anemia de Blackfan-Diamond

Doenças mieloproliferativas Anemia falciforme

Linfoma de Hodgkin Talassemia maior

Linfoma de não-Hodgkin Imunodeficiência grave combinada

Síndromes mielodisplásicas Síndrome de Wiskott-Aldrich

Mieloma múltiplo Erros inatos do metabolismo

Fonte: KERBAUY & RIBEIRO, 2010 (adaptação do autor)

De acordo com o tipo de doador de células-tronco (CT), o transplante pode

receber as respectivas denominações: transplante autólogo, quando as CT

hematopoiéticas infundidas provêm do próprio paciente, ou transplante alogênico de

células-tronco hematopoiética (TACTH), neste caso as células são provenientes de outra

pessoa que não o próprio receptor. Este pode ser realizado com CT obtidas de um

doador familiar (TACTH aparentado) ou não (TACTH não-aparentado). Há, também, o

transplante chamado singênico, neste caso é quando o doador é um irmão gêmeo

univitelino do receptor (KERBAUY & RIBEIRO, 2010; LÉNGER & NEVILL, 2004).

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Anualmente, são realizados em todo o mundo mais de 15 mil transplantes de células-

tronco autólogos e 30 mil alogênicos (KERBAUY & RIBEIRO, 2010).

O número de transplantes de células-tronco, no Brasil, vem crescendo a cada

ano. Em 2006, foram realizados 1.349 procedimentos. Entre 2000 a 2006 foram

realizados mais de 7 mil transplantes. Entretanto, de acordo com o Ministério da Saúde,

por ano surgem cerca de 10 mil novos casos de leucemias no país e, destes, cerca de

5.600 precisam de transplante, sem considerar aqui os pacientes portadores de outras

doenças que também necessitam do transplante para o tratamento. O grande problema é

que a maioria deles não encontra doador compatível na família. Ficam, portanto, na

dependência da sorte na fila do Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula

Óssea (REDOME) e do Banco de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário (BSCUP)

(INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2010).

O transplante de células-tronco é um procedimento caro, exige importante infra-

estrutura, com cuidados de suporte avançado, além disso, deve contar com equipe de

multiprofissionais da área de saúde altamente qualificada para garantir que o

procedimento seja bem sucedido e o risco de complicações correlacionadas ao mesmo

sejam menores. Ainda assim, o transplante permanece associado à significante

morbidade e/ou mortalidade após o mesmo (BALDOMERO et al., 2010; GIEBEL et

al., 2010).

A morbidade esta muitas vezes relacionada ao surgimento das complicações

após o transplante. Passa a ser necessário o tratamento adequado destas por muitos

meses ou anos principalmente se tratando do TACTH, o qual apresenta como uma

grande limitação ao seu êxito, a resposta imunológica ao tecido doado (ABBAS et al.,

2008 a; GIEBEL et al., 2010). Esta resposta tem início quando os linfócitos T do

receptor reconhecem como não próprios os antígenos HLA (Antígeno Leucocitário

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Humano) do doador expressos no enxerto, são ativados desencadeando mecanismos

efetores celulares e humorais da rejeição (ABBAS et al., 2008 a; ROCHA, 2003).

O objetivo dessa revisão é relatar a associação do sistema HLA com o TACTH,

mostrando a sua importância para o sucesso do transplante, bem como explicitar, de

forma geral os testes de compatibilidade realizados previamente ao procedimento, bem

como as etapas do TACTH.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 HLA

Em 1940 George Snell e colaboradores criaram técnicas genéticas para analisar a

rejeição de outros órgãos transplantados entre linhagens diferentes de camundongos.

Experiências com enxertos de pele mostram que os tecidos transplantados entre animais

de uma mesma linhagem endogâmica são bem sucedidos, enquanto enxertos entre

animais de linhagens endogâmicas diferentes são rejeitados (Figura 1). Observou-se que

o reconhecimento de um enxerto como próprio ou estranho é um traço herdado. Os

genes responsáveis pelo reconhecimento de um enxerto como semelhante (transplante

bem sucedido) ou diferente do tecido do hospedeiro (rejeitados) foram chamados de

genes de histocompatibilidade, ou MHC (do inglês Major Histocompatibility Complex)

(ABBAS et al., 2008 b; CANGUSSU, 2008).

Durante quase 20 anos após a descoberta do MHC, a sua única função

documentada foi em relação à rejeição de transplantes. Foi descoberto posteriormente

que os genes MHC eram fundamentais para todas as respostas imunológicas a antígenos

protéicos. Em 1960, Baruj Benacerraf, Hugh McDevitt e colaboradores descobriram que

linhagens endogâmicas de cobaias de camundongos diferiam na sua habilidade em

produzir anticorpos contra polipeptídios sintéticos simples. Os genes relevantes foram

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denominados de genes da resposta imune, e todos foram encontrados no mapa do MHC

(ABBAS et al., 2008 b; CANGUSSU, 2008).

FIGURA 1 – Os genes MHC controlam a rejeição de enxertos. As duas linhagens de camundongos

exibidas são idênticas, exceto pelos alelos MHC (chamados aqui de a e b).

Fonte: ABBAS et al., 2008 b.

O desenvolvimento das transfusões sanguíneas e, especificamente, dos

transplantes de órgãos como métodos de tratamento na medicina clínica, forneceu

estímulo para detectar e definir os genes que controlam as reações de rejeição, dessa

vez, nos seres humanos (ABBAS et al., 2008 b). Em 1958, Dausset e colaboradores

demonstraram que pacientes que apresentavam rejeição de rins transplantados ou reação

a transfusões de leucócitos, geralmente, tinham anticorpos circulantes reativos aos

antígenos presentes nos leucócitos do sangue ou do órgão do doador. Foi concluído que

a transfusão ou o transplante era responsável pela geração de anticorpos contra os

antígenos leucocitários do doador (aloantígeno) que resultava em uma resposta imune

contra as células do doador (ABBAS et al., 2008 b; CANGUSSU, 2008; TANI, 2006).

Presumiu-se que esses aloantígenos fossem o produto de genes polimórficos

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(posteriormente descoberto agregado em um locus do cromossomo 6) capaz de

distinguir tecidos estranhos de tecidos próprios. Como os aloantígenos eram expressos

em leucócitos humanos, eles foram chamados de antígenos leucocitários humanos

(HLA, do inglês Human Leukocyte Antigen) os quais são equivalentes as moléculas de

MHC descobertas a principio em camundongos (ABBAS et al., 2008 b; VELICKOVIC,

[200-? a]).

Esses avanços tornaram os estudos sobre MHC prioritários, e as descobertas

levaram à conclusão de que genes do MHC controlam não apenas a rejeição de

transplantes, mas também as respostas imunológicas a antígenos protéicos, uma vez que

determinados genes do sistema HLA codificam proteínas apresentadoras de antígenos

na superfície celular (ABBAS et al., 2008 b; ALVES et al., 2005 a; TANI, 2006).

Entretanto, o papel do HLA como molécula apresentadora de antígeno só foi

esclarecido na década de 80 e grande parte do avanço no estudo dessas moléculas foi

resultante dos esforços internacionais de pesquisadores que organizaram sucessivos

encontros a partir 1972. Atualmente, é sabido que a função biológica das moléculas

HLA é associar a pequenos peptídeos na sua fenda, sendo estes reconhecidos como não

próprios, carregá-los para a superfície e apresentá-los aos linfócitos, desencadeando a

resposta imune (TANI, 2006; TORRES, 2010).

O sistema HLA é, portanto, um nome geral dado a um grupo de genes de uma

região conhecida como complexo principal de histocompatibilidade localizada no

cromossomo 6 humano, sendo que os loci genéticos envolvidos na rejeição de tecidos

estranhos ou não próprios e também nas respostas imunológicas constituem esse grupo

de genes (ALVES et al., 2005 a; TANI, 2006).

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O sistema HLA (figura 2) foi dividido didaticamente em três regiões: classe I, II

e III (DONADI, 2000).

FIGURA 2- Estrutura gênica do MHC humano, identificando os genes HLA de classe I (HLA-A, B e C),

de classe II (HLA-DR, DQ e DP) e os de classe III.

Fonte: SILVA et al., 2008.

Os genes de classe I na região do MHC, consideradas principais agentes da

resposta imune, são apenas três, HLA-A, B e C, e são os chamados clássicos

(CANGUSSU, 2008). Estes genes codificam glicoproteínas, consideradas as moléculas

clássicas de histocompatibilidade de classe I, são expressas na superfície de todas as

células nucleadas e são responsáveis por apresentar os peptídeos endógenos ou virais às

células T CD8 positivas (DONADI, 2000; TORRES, 2010). Há outros genes da classe I

conhecidos, mas estes não estão envolvidos nas rejeições dos transplantes.

Na região de classe II, são reconhecidos diversos genes, sendo que os loci HLA-

DR, DQ e DP codificam glicoproteínas expressas na superfície de células do sistema

imune, neste caso as células apresentadoras de antígenos (APCs); linfócito B,

macrófago e células dendríticas. São as moléculas clássicas de histocompatibilidade de

classe II, estão envolvidas na rejeição contra enxertos e na apresentação de peptídeos

exógenos aos receptores dos linfócitos T CD4 positivas (CANGUSSU, 2008; DONADI,

2000; TORRES, 2010). Além desses, também são conhecidos vários outros genes de

classe II que não codificam as moléculas apresentadoras de antígenos, mas codificam

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outras que podem participar de alguma forma da resposta imune do individuo

(DONADI, 2000).

Os genes de classe III não codificam moléculas apresentadoras de antígenos,

dessa forma, ao contrário das moléculas de clássicas de classe I e II, não controlam

diretamente o processo de rejeição de transplantes. Portanto, apenas as moléculas de

HLA de classe I e II são capazes de apresentar antígenos aos linfócitos T (JANEWAY

et al., 2002).

O sistema HLA é a região do genoma que apresenta maior densidade de genes e

esta região possui os genes mais polimórficos quando comparado com todo o genoma.

O polimorfismo, ou seja, o grande número de alelos (variedade de genes que podem

ocupar, alternativamente, um locus), garante uma enorme variedade de moléculas de

HLA no indivíduo e nas populações. O HLA é tão polimórfico que a maioria dos

indivíduos deverá ser heterozigótica em cada locus (CANGUSSU, 2008).

Os produtos gênicos do HLA são expressos de forma co-dominante, sendo que

cada indivíduo expressa dois antígenos por locus uma vez que cada pessoa expressa

ambos os alelos que foram herdados dos pais (Figura 3). Para o indivíduo, a co-

dominância maximiza o número de moléculas de HLA disponíveis para ligar peptídeos

a fim de serem apresentadas às células T (ABBAS et al., 2008 b; JANEWAY, 2002).

FIGURA 3 - A expressão dos alelos HLA é co-dominante.

Fonte: JANEWAY et al, 2002

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A devido à co-dominância, a probabilidade de dois irmãos serem HLA idênticos,

HLA haplo-idênticos ou HLA distintos, isto é, compartilharem dois, um ou nenhum dos

haplótipos parentais, é de 25%, 50% e 25%, respectivamente. Uma consequência disso é

a dificuldade de encontrar doadores adequados para um transplante, uma vez que as

diferenças nos alelo HLA entre as pessoas são importantes na determinação da rejeição

de transplantes (CANGUSSU, 2008).

Quanto à estrutura das moléculas de histocompatibilidade de classe I e II, são

glicoproteínas de superfície que apresentam em comum três porções: cistólica (voltada

para o interior da célula, responsável pela transdução de sinais intracelulares); a

transmembrana (mantém a molécula acoplada à bicamada lipídica) e a extracelular

(responsável pela apresentação de peptídeos aos linfócitos T (Figura 4) (DONADI,

2000).

FIGURA 4 - Estrutura do MHC de classe I e II Fonte: JANEWAY et al., 2002

As moléculas HLA de classe I são heterodímeros compostas por uma cadeia

constituída por três domínios: 1, 2 e 3 associada à 2-microglobulina, a qual é

codificada no cromossomo 15, portanto não está localizada na região do MHC

(ABBAS, 2008 b). As moléculas de classe II também são heterodímeros, são compostas

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por uma cadeia constituída por 1 e 2 e uma cadeia constituída por 1 e

(TORRES, 2010).

2.2 Imunologia do transplante e teste de compatibilidade

A resposta imunológica após o TACTH, a qual leva à rejeição do enxerto ocorre

devido a uma reatividade cruzada dos receptores das células T do hospedeiro que

normalmente reconhecem peptídeos estranhos ligados ao HLA (também do hospedeiro),

que ao reconhecer uma molécula de HLA estranha (doador), a célula T é ativada,

ocasionando a rejeição do enxerto (JANEWAY et al., 2002). Este evento é conhecido

por aloreconhecimento e pode ocorrer pela via direta ou indireta (Figura 5),

simultaneamente ou não (HERNANDEZ-FUENTES, WARRENS, LECHLER, 2003).

Na via direta, linfócitos T do receptor reconhecem como não próprio o complexo

peptídeo-molécula HLA expressos na superfície das células do doador, iniciando o

mecanismo primário de indução de citotoxicidade. Na indireta, os linfócitos T do

receptor reconhecem os aloantígenos processados e apresentados na forma de peptídeos

presentes na superfície celular das APCs do receptor, geralmente junto à molécula de

HLA classe II (AFZALI et al., 2007; SAYEGH & TURKA, 1998).

Tanto os linfócitos T CD4+ quanto os linfócitos T CD8+ são capazes de mediar

a rejeição, induzindo-a através de mecanismos distintos. Os linfócitos T CD4 auxiliares

se diferenciam em células efetoras produtoras de citocinas que irão lisar o enxerto e

também ativar os linfócitos B e produzem anticorpos anti-HLA. Os linfócitos T CD8+

se diferenciam em linfócitos T citotóxicos com potencialidade de destruir as células do

enxerto que expressam as moléculas de HLA classe I (KOUWENHOVEN et al., 2000).

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FIGURA 5 - Alorreconhecimento

Fonte: ABBAS et al., 2008

Uma vez que se tornou claro que o reconhecimento das moléculas HLA

estranhas é uma determinante importante da rejeição do enxerto, bem como, da DECH

(Doença do Enxerto-versus-hospedeio) (uma importante complicação do TACTH),

consideráveis esforços devem ser feitos para combinar o HLA entre o receptor e doador

(ABBAS et al., 2008 a; JANEWAY et al., 2002).

2.3 Testes de compatibilidade

A escolha de um doador para um determinado receptor de CT envolve várias

etapas, entre elas, a realização de testes imunológicos de compatibilidade, os quais são

fundamentais no intuito de minimizar as diferenças alogênicas entre ambos e dessa

forma, diminuir o risco de rejeição do enxerto no TACTH e suas complicações

(ABBAS et al., 2008a; ROSA et al., 2007). Dentre os testes laboratoriais rotineiramente

realizados destacam-se a tipagem sanguínea ABO, a tipagem HLA do doador e do

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receptor, a prova cruzada pré-transplante e a pesquisa de anticorpos de anticorpos pré-

formados contra um painel de antígenos HLA (ABBAS et al, 2008a).

A tipagem sanguínea ABO é uniformemente usada em todos os transplantes,

apesar de não ser consensual em TACTH (NACIMENTO, TORRES, CARVALHO,

2004). Antígenos ABO são expressos em todas as células, incluindo hemácias.

Indivíduos que não apresentam um antígeno particular de grupo sanguíneo podem

produzir anticorpos IgM naturais contra aquele antígeno. Estes anticorpos são

específicos contra antígenos dos grupos sanguíneos ABO e causarão rejeição

hiperaguda (caracterizada pela oclusão trombótica). A tipagem sanguínea é realizada

misturando-se as hemácias de um paciente com soros padronizados que contenham

anticorpos anti-A ou anti-B. Se o paciente expressar qualquer um desses antígenos, o

soro específico para aquele antígeno aglutinará as hemácias (ABBAS et al., 2008 a).

No transplante de medula óssea, a compatibilidade de HLA é essencial para

reduzir o risco de complicações. Portanto, o receptor e o doador devem ter sua

compatibilidade cuidadosamente testada (ABBAS et al., 2008 a). Estes antígenos

podem ser tipificados por dois métodos: o sorológico e o molecular por DNA (ABBAS

et al., 2008 a; ALVES et al., 2006; NACIMENTO, TORRES, CARVALHO, 2004).

Estes métodos podem ser de baixa resolução, a qual define antígenos de

determinado locus e equivale, em geral, ao método sorológico ou alta resolução, neste

caso são definidos os alelos de determinado antígeno. Atualmente o último é

imprescindível no TACTH (NACIMENTO, TORRES, CARVALHO, 2004).

Dentre os sorológicos estão a microlinfotoxicidade de Terasaki e a cultura mista

de linfócitos (CML) (ALVES et al., 2005 b). O primeiro método detecta os antígenos

leucocitários através de citotoxicidade mediada por anticorpo e depende do

complemento (ALVES et al., 2005 b). Este procedimento se baseia em coleções

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padronizadas de plasmas de múltipos doadores previamente sensibilizados para

diferentes moléculas de HLA por gestações ou transfusões. Cada um desses plasmas

com um anticorpo anti-HLA conhecido é misturado com linfócitos de uma pessoa em

diferentes fendas de uma placa de cultura de tecidos. Uma fonte de complemento

(oriundo do soro de coelho) é adicionada às fendas, assim como um corante fluorescente

que penetra somente nas células mortas. Após um período de incubação, as fendas são

examinadas sob um microscópio fluorescente buscando-se a presença de células mortas,

as quais indicam reação positiva. Com base nos antisoro que causaram lise, o haplótipo

de HLA do indivíduo pode ser determinado. Um tipo de HLA é definido quando a

reação com um anticorpo específico da especificidade HLA conhecidas produzidos lise

em 50% ou mais das células do paciente. Uma vez que os plasmas tipados não podem

ser específicos para um único alelo, a tipagem sorológica não pode sempre definir

exatamente quais alelos estão presentes (ABBAS et al., 2008 a; VELICKOVIC, [200-?

b]). Este ensaio é realizado em placas de Terasaki, que permite o uso de um pequeno

volume, tanto das amostras quanto dos reagentes. A vantagem do ensaio é que ele é

rápido e fácil de executar, mas proporciona baixa resolução (VELICKOVIC, [200-? b]).

Entretanto, atualmente esta metodologia tem sido pouco aplicada devido às limitações

da técnica, que requer células viáveis, dependentes do aloantisoro, de complemento e da

expressão dos antígenos, além disso, as técnicas de biologia molecular (descritas

posteriormente) vem apresentando vantagens por ser mais sensíveis e específicas

(ALVES et al., 2005 a; DONADI, 2000; TORRES, 2010).

A CML utiliza células com fenótipo conhecido para chegar à definição de

especificidades HLA (ALVES, 2005 b). Um método bastante utilizado nos anos 70 e 80

para seleção de doadores de medula óssea (DONADI, 2000). Na CML os linfócitos do

doador e do receptor são co-cultivados por 5 dias. Os linfócitos do receptor e/ ou do

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doador quando estimulados entram em proliferação. A proliferação é usualmente

medida pela incorporação na cultura de um precursor para DNA marcado com um

radioisótopo e incubado por mais 18 horas. Quanto maior a proliferação, mais DNA

será sintetizado e mais radioatividade será incorporada, medindo, então, a resposta

proliferativa (NACIMENTO, TORRES, CARVALHO, 2004). Se houver proliferação

significativa de linfócitos, entende-se que existem diferenças antigênicas entre os dois

indivíduos, ao passo que a não proliferação indica total semelhança entre os antígenos

HLA do receptor e do doador (ALVES et al., 2006; DONADI, 2000; VISENTAINER

et al., 2002). Os resultados da CML são expressos como índice de estimulação e

porcentagem de resposta relativa, indicando que quanto menor estes valores, maior a

semelhança entre doador e receptor. A CML também proporciona baixa resolução

(NACIMENTO, TORRES, CARVALHO, 2004).

No final dos anos 80 houve um grande avanço nos procedimentos de tipificação

dos alelos HLA, utilizando-se o DNA genômico. O RFLP (Restriction Fragment Length

Polymorphism) foi o primeiro método com base em tipagem de HLA. Consiste na

avaliação dos tamanhos dos fragmentos de DNA, produzidos pela digestão com

endonucleases de restrição. O DNA é extraído de células nucleadas, digerido com

enzimas de restrição e os fragmentos gerados são separados, de acordo com o seu

tamanho, em géis de agarose por eletroforese. Para identificar o alelo HLA, os seus

fragmentos de DNA gerados são hibridados com sondas (marcadas com isótopos

radioativos) de DNA complementar para o locus a ser estudado. Os fragmentos são

transferidos do gel para membrana de nitrocelulose ou nylon e posteriormente incubada

com a sonda. O padrão de hibridização é visualizado no filme de raio-X e o alelo HLA

identificado. O padrão de bandas obtidas define a especificidade. O RFLP prevê pela

primeira vez, o genótipo HLA, contrastando com o método sorológico que fornecia

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dados fenotípicos do HLA. O método RFLP é de baixa resolução e de execução

demorada (DONADI, 2000; VELICKOVIC, [200-? b])

Passou, então, a serem usados os métodos moleculares os quais utilizam o DNA

amplificado pela reação em cadeia da polimerase (Polymerase Chain Reaction, PCR),

para permitir a tipagem mais completa do HLA, substituindo os métodos sorológicos

(ABBAS et al, 2008 a; TORRES, 2010). A PCR tem como princípio a produção em

grande quantidade de cópias de fragmentos de DNA, obtida a partir de uma fita de DNA

de sequência conhecida, visando à produção de milhões de cópias desta. Esta técnica

explora a capacidade de duplicação do DNA. Uma fita simples de DNA á usada como

molde para a síntese de novas cadeias complementares sob a ação da enzima polimerase

do DNA, capaz de adicionar os nucleotídeos presentes na reação, segundo a fita molde.

A polimerase do DNA requer, entretanto, um “ponto de início” ligado à fita molde que

servirá de apoio para que os nucleotídeos subsequentes sejam adicionados. Este ponto

de início da síntese é fornecido por um oligonucleotídeo que se hibridiza (se anela) á

fita molde simples, o qual é denominado de primer. Ambas as fitas simples iniciais

servem de fita molde para a síntese, desde que se forneça primers específicos a cada

uma delas. Dessa forma a região do DNA genômico a ser sintetizada é definida pelos

primers, que se anelam especificamente às suas sequências complementares na fita

molde, delimitando o fragmento de DNA que se deseja amplificar (FARAH, 2000).

Na prática o que se faz é adicionar em um tubo de ensaio uma quantidade muito

pequena de DNA genômico, mais os quatro nucleotídeos que compõe a cadeia de DNA,

e enzima DNA polimerase, os oligonucleotídeos que serviram de primers e a solução

tampão que fornecerá as condições de pH e salinidade para que a síntese se processe

(FARAH, 2000). A fim de que a amplificação ocorra, inicialmente o tubo de ensaio é

aquecido a uma temperatura que varia de 94ºC a 96ºC, por aproximadamente 5 minutos,

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para provocar o rompimento das ligações de hidrogênio entre ambas as cadeias de

DNA, causando sua desnaturação. Os oligonucleotídeos iniciadores são posteriormente

alinhados em suas sequencias-alvo a 30-65ºC por 30 segundos. Finalmente a

temperatura é colocada em torno de 72ºC (por 2 a 5 minutos), temperatura ideal para

que a DNA polimerase atue. A DNA polimerase, a partir dos desoxiribonucleotídeos

trifosfato (dNTPs) adicionados ao sistema, sintetizam o fragmento de DNA desejado

(ALVAREZ et al., 2004; FARAH, 2000). A repetição dessas etapas por 20 a 30 ciclos

permite a amplificação de um segmento de DNA milhares de vezes, uma vez que o

número de copias cresce de modo exponencial a cada ciclo. O perfil genético é obtido

por meio de enzimas de restrição, as quais clivam o DNA em sítios específicos. O

material genético clivado é então analisado e comparado em gel de eletroforese. Um

resultado produzido pela PCR pode ser observado como uma banda única que

corresponde ao tamanho da sequencia amplificada (FARAH, 2000; SIEVERT et al.,

2008).

Os métodos moleculares mais usados são:

PCR-SSP (Sequence-specific primers) no qual são realizadas várias reações

de amplificação com iniciador específico para um alelo ou grupo de alelos;

PCR-SSOP (Sequence-specific oligonucleotides probes) amplifica-se um

locus que é hibridizado com um conjunto de sondas marcadas por um grupo

de alelos ou de um alelo específico;

SBT (Sequence based typing): o locus amplificado é sequenciado e

determina-se o alelo específico (TORRES, 2010).

A PCR-SSP e a PCR-SSO permitem que a tipagem possa ser realizada em dois

níveis de resolução dependendo do conjunto de primers ou de sondas utilizado,

respectivamente. Na tipagem de baixa resolução, somente os dois primeiros dígitos são

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identificados, indicando a que grupo os alelos pertencem, grupos esses que, em geral,

correspondem às especificidades sorológicas: A*03 (A3), B*07 (B7), DRB1*03 (DR3),

etc. A análise de alta resolução, que utiliza um conjunto adicional de primers (SSP) ou

sondas (SSO), permite a identificação dos alelos propriamente ditos: A*0302, B*0702,

DRB1*0301, etc. Contudo, o método mais adequado para a tipificação de alta resolução

é o sequenciamento direto do DNA ou a PCR-SBT. O desenvolvimento da metodologia

molecular de alta resolução possibilitou a identificação dos alelos e, consequentemente,

desvendou incompatibilidades não reveladas pelos métodos sorológicos ou moleculares

de baixa ou “média” resolução (NOEMI et al., 2010).

Os pacientes que esperam pelo transplante também são triados em busca da presença

de anticorpos pré-formados reativos contra moléculas HLA alogênicas. É importante

ressaltar que esta avaliação não é consensual em transplante de medula óssea, uma vez

que o sistema imune do receptor estará debilitado pela quimioterapia (NACIMENTO,

TORRES, CARVALHO, 2004). Quando presentes, estes anticorpos podem fixar-se na

superfície das células do enxerto e provocar a fixação do complemento, com a

consequente lise celular. Estes anticorpos podem ser produzidos como resultado de

gestações, transplantes ou transfusões anteriores, podem identificar o risco de reação

hiperaguda. (ABBAS et al, 2008 a; ROSA et al, 2007).

Pequenas quantidades do plasma do paciente são misturadas em fendas separadas,

com células de um painel de 40-60 doadores diferentes, representativo da população

doadora de órgãos (ABBAS et al., 2008 a). O método se baseia na possível ligação dos

anticorpos do paciente às células de cada doador do painel. É determinada a presença de

anticorpos anti-HLA pré-formados no soro do receptor, dirigidos contra antígenos HLA

presentes nos linfócitos do potencial doador, por meio da lise mediada pelo

complemento adicionado ao sistema (ALVES et al., 2006; ROSA et al, 2007). Os

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resultados são relatados como PRA (porcentagem de anticorpos reativos), que é a

porcentagem do reservatório de células do doador com a qual o plasma do paciente

reage (ABBAS et al, 2008 a).

Se um doador potencial é identificado, o teste de compatibilidade cruzada

determinará se o paciente tem anticorpos pré-formados que reagem especificamente

com as células do provável doador (ABBAS et al., 2008 a). A prova cruzada realizada

por citotoxicidade dependente de complemento tem sido a metodologia clássica a mais

de trinta anos para detecção de anticorpos anti-HLA (DUBOIS et al., 2002;

MCKENNA, TAKEMOTO, TERASAKI, 2000). O método se baseia na incubação de

células mononucleares (linfócitos), coletadas do sangue periférico do potencial doador,

com o soro do receptor (ABBAS et al, 2008 a). Após a incubação, é acrescentado soro

de coelho como fonte de complemento. Caso tenha havido reação antígeno-anticorpo na

superfície das células do doador, o complemento será ativado provocando a lise da

célula, considera-se a prova cruzada positiva (ALVES et al, 2006; ROSA et al, 2007).

O resultado da reação é evidenciado pela adição de um corante vital, geralmente eosina,

que penetra nas células mortas, mas é incapaz de penetrar nas células com membrana

íntegra. A leitura ao microscópio invertido permite quantificar a proporção de células

mortas, entre 0 a 100% (ABBAS et al., 2008 a). Qualquer quantidade de células, mortas

acima de 10% do controle negativo, é considerada positiva (MARTIN et al., 1987). A

vantagem deste ensaio é a capacidade de mimetizar o que ocorreria in vivo, e a grande

desvantagem é a necessidade da fixação do complemento para medir a reatividade dos

anticorpos, alem de que a morte espontânea de células pode causar um resultado falso

positivo (CAI & TERASAKI, 2005).

2.4 Associação do HLA com transplantes

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Para a realização do transplante alogênico, deve-se procurar por um doador

(Figura 6) que apresente o HLA mais semelhante ao do receptor (PETERSDORF,

2007).

FIGURA 6: Estratégia da pesquisa de doadores para o transplante de células tronco

hematopoiéticas.

Fonte: TORRES, 2010.

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A pesquisa de doadores deve ser iniciada na família, entre os irmãos, porque há

25% de possibilidade de se encontrar um doador genótipo idêntico, que caracteriza um

doador ideal (TORRES, 2010), uma vez que os genes do HLA são herdados como

haplótipos (ABBAS et al., 2008 a).

Não encontrando um doador HLA idêntico, deve-se estender a pesquisa na

família (pais, avôs, tios e primos). A pesquisa, também segue o fluxo anterior, ou seja,

tipificação HLA classe I, seguida de classe II nos doadores identificados na fase I

(TORRES, 2010).

Na ausência de um doador compatível dentro da família, podem ser utilizadas

células-tronco hematopoiéticas de doadores não-aparentados (GREWAL et al., 2003).

Portanto, simultaneamente as pesquisas de doadores na família, o paciente deve ser

inscrito no Registro Brasileiro de Receptores de Medula Óssea (REREME), para a

busca de um doador compatível no REDOME e no BSCUP, e se necessário, nos bancos

internacionais (TORRES, 2010). As chances de um brasileiro localizar um doador em

território nacional é trinta vezes maior que a chance de encontrar o mesmo doador no

exterior, segundo pesquisa realizada pelo REDOME. Isso ocorre devido às

características genéticas comuns à população brasileira (INSTITUTO NACIONAL DO

CÂNCER, 2010). O NMDP (National Marrow Donor Program) recomenda

compatibilidade alélica para HLA-A, B, C, DRB1 e se possível para DQB1. Não existe

uma norma para selecionar incompatibilidades permissíveis, no entanto devem-se

limitar o número de incompatibilidades (TORRES, 2010).

O sangue de cordão umbilical é uma das fontes de CT e apresenta maior

disponibilidade, com mediana de tempo para identificação de potencial doador menor

que um mês, enquanto a mediana de tempo para medula óssea ou células-tronco

periféricas (duas outras fontes) é de aproximadamente quatro meses segundo dados

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americanos (GREWAL et al., 2003). A menor exigência de compatibilidade HLA do

cordão umbilical em relação às outras fontes de células torna sua busca mais fácil, uma

vez que a imaturidade das células do sangue de cordão umbilical permite maior

tolerância e disparidade HLA (TORRES, 2010). É a fonte de CT escolhida para

pacientes sem doadores HLA-idênticos que necessitam de TACTH rapidamente. A

utilização de mais de um doador vem sendo empregada com sucesso, uma vez que a

disparidade do sistema de histocompatibilidade humano é um fator de prognóstico de

menor importância quando comparado ao número de CT infundidas (KERBAUY &

RIBEIRO, 2010). Outro contribuinte para opção das CT do sangue de cordão umbilical

é que 30% dos doadores registrados como potencialmente compatíveis não se

encontram disponíveis quando recrutados. Isso ocorre devido à dificuldade de

localização do doador por mudança de nome ou endereço, perda de motivação para

doação, desqualificação devido à idade ou motivos médicos e óbito (GREWAL et al.,

2003).

No caso do doador parcialmente compatível, o HLA do doador apresentará

alguns locus diferentes do paciente, podendo ter um ou mais antígenos diferentes. É o

caso do haploidêntico, o doador tem o haplótipo 50% compatível com o receptor

(SABOYA et al., 2010). É realizada como última opção de tratamento e ainda assim é

desaconselhável, o TACTH que se utilizam as células-tronco de um doador

haploidêntico, uma vez que é um procedimento que envolve riscos consideráveis ao

paciente (KERBAUY & RIBEIRO, 2010; SABOYA et al., 2010).

Quando o doador e o receptor são idênticos para o HLA, mas diferem em outros

loci genéticos, pode haver rejeição do enxerto, embora lentamente. Assim, os antígenos

polimórficos responsáveis pela rejeição de enxertos HLA idênticos são denominados

antígenos de histocompatibilidade menores ou antígenos H menores. As respostas a um

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único tipo de antígenos H menores são muito menos potentes do que as respostas a

diferenças de HLA, pois a frequência de respostas das células T é muito menor

(JANEWAY et al., 2002).

Sabe-se atualmente que os antígenos H menores são peptídeos derivados de

proteínas polimórficas, que são apresentados pelas moléculas MHC do enxerto. As

moléculas MHC de classe I ligam-se e apresentam uma seleção de peptídeos derivados

de proteínas formadas na célula, e se o polimorfismo nessas proteínas significa que

diferentes peptídeos são produzidos em diferentes membros de uma mesma espécie,

essas podem ser reconhecidas como antígenos H menores. Um conjunto de proteínas

que induz respostas H menores é codificado no cromossomo Y do macho. As respostas

induzidas por estas proteínas são conhecidas coletivamente como H-Y. Uma vez que

esses genes específicos do cromossomo Y não são expressos na fêmea, ocorrem

respostas H menores da fêmea contra o macho; porém, respostas do macho contra a

fêmea não são observadas, pois ambos expressam o cromossomo X. A natureza da

maioria dos antígenos H menores, codificados nos genes autossômicos é desconhecida

(JANEWAY et al., 2002). Portanto, a não ser que o doador e o receptor sejam gêmeos

idênticos, todos os receptores de enxerto devem receber drogas imunossupressoras para

evitar a rejeição (JANEWAY et al., 2002; ABBAS et al., 2008 a).

2.5 Fases do transplante TACTH

O TACTH pode ser dividido em quatro etapas: condicionamento, infusão de

células tronco-hematopoiéticas, recuperação hematopoiética e imuno-reconstituição,

como mostra a figura 7(LÉNGER & NEVILL, 2004).

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FIGURA 7- Curso dos eventos associados com transplante alogênico.

Fonte: LÉNGER & NEVILL, 2004

A primeira etapa do TACTH é o condicionamento, o qual consiste na preparação

do receptor para o transplante. Como o condicionamento tem como objetivo erradicar a

doença maligna subjacente, bem como suprimir o sistema imunológico do receptor de

modo que não rejeite as CT do doador. O receptor é preparado com altas doses de

quimioterapia e, em alguns casos radioterapia com duração variável (LÉNGER &

NEVILL, 2004).

Os regimes de condicionamento mais utilizados incluem irradiação corporal total

(“total body irradiation”- TBI) ou bussulfano associados à ciclofosfamida (JAMES &

SOLOVE, 2006). Em geral, estes regimes duram cerca de uma semana. Os esquemas de

condicionamento podem produzir efeitos colaterais hematológico como a pancitopenia e

não-hematológicos como a mucosite orofaríngea (LÉNGER & NEVILL, 2004).

Atualmente, tem sido utilizados esquemas de condicionamento menos intensivos

procurando assim minimizar o grau de lesão tecidual. Esse esquema é conhecido como

condicionamento não-mieloablativo ou de intensidade reduzida, tendo como

características uma mielossupressão reversível o suporte de CT. Esse tipo de

condicionamento permite a realização do transplante em pacientes que, devido à idade

avançada ou à presença de co-morbidades, teriam uma mortalidade relacionada ao

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procedimento inaceitável com o esquema de condicionamento convencional, conhecido

como mieloablativo, o qual objetiva na destruição completa da medula (GIRALT,

2005).

A segunda etapa consiste na infusão das células-tronco hematopoiéticas através

de um cateter venoso central. A seguir, ocorre uma aplasia intensa da medula óssea

ocasionada pelo condicionamento, com neutropenia importante e necessidade frequente

de transfusões de hemoderivados decorrente de trombocitopenia e anemia. Nessa fase, o

paciente encontra-se susceptível a infecções bacterianas, fúngicas e virais (JAMES &

SOLOVE, 2006; LÉNGER & NEVILL, 2004). Dessa forma devem ser utilizados

antibióticos de amplo espectro, bem como antifúngicos e profilaxia antiviral,

rotineiramente. E durante este período, o ideal seria manter o paciente confinado

isoladamente em um quarto equipado com um filtro HEPA a fim de promover um

ambiente seguro (LÉNGER & NEVILL, 2004).

Durante mais de 20 anos, a medula óssea foi a única fonte disponível de células-

tronco hematopoiéticas, e até hoje se utiliza o termo transplante de medula óssea (TMO)

como sinônimo de transplante de células-tronco hematopoiéticas (GRATWOHL et al.,

1996). Entretanto, utilizam-se como fonte de CT além da medula óssea, as células-

tronco provenientes do sangue periférico ou do sangue de cordão umbilical

(KERBAUY & RIBEIRO, 2010; LÉNGER & NEVILL, 2004). Cada uma dessas fontes

hematopoiéticas possui características próprias (STEM CELL TRIALISTS´

COLLABORATIVE GROUP, 2005). A coleta das CT provenientes da medula óssea é

realizada com sucessivas punções aspirativas das cristas ilíacas posteriores, onde se

encontra a medula óssea do doador. Embora traga um desconforto ao doador, é

considerado um método seguro (KERBAUY & RIBEIRO, 2010). Apesar de a

recuperação hematopoiética ser mais lenta, há menor incidência do receptor apresentar a

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DECH, quando comparado ao transplante no qual se utiliza células-tronco do sangue

periférico (STEM CELL TRIALISTS´ COLLABORATIVE GROUP, 2005).

As células-tronco do sangue periférico (CTP) foram introduzidas no final dos

anos 80 (TSE & LAUGHLIN, 2005). A técnica de obtenção consiste na mobilização

das células-tronco hematopoiética com fatores de crescimento ou inibidores de

receptores de citocinas, que promovem circulação de grande quantidade de CT no

sangue periférico. A constante circulação de CT da medula óssea para o sangue

periférico possibilita sua coleta pela aférese do doador. É um método rápido, que

possibilita a coleta de grande quantidade de CT, conferindo recuperação hematopoiética

rápida. Por outro lado, o produto final apresenta maior quantidade de linfócitos T em

relação ao produto coletado diretamente da medula óssea, levando a maior incidência de

DECH. (KERBAUY & RIBEIRO, 2010; STEM CELL TRIALISTS´

COLLABORATIVE GROUP, 2005). É um método bastante conveniente e de escolha

para o transplante de medula óssea autólogo e para a maioria dos alogênicos

(KERBAUY & RIBEIRO, 2010).

O sangue de cordão umbilical foi utilizado pela primeira vez em 1988, é rico em

CTH e possui as vantagens de ser facilmente obtido (KERBAUY & RIBEIRO, 2010;

TSE & LAUGHLIN, 2005)). Suas desvantagens são a recuperação hematopoiética mais

lenta entre as três fontes de células e o pequeno número de células coletadas em cada

unidade, o que implica em limitar sua utilização a pacientes de menor peso, usualmente

crianças (SCHOEMANS et al., 2006). Recentemente, o uso de mais de uma unidade de

sangue de cordão umbilical simultaneamente parece contornar o problema da baixa

quantidade de células disponíveis em apenas uma unidade (BARKER et al., 2005).

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A terceira etapa do transplante consiste na recuperação hematopoiética ou “pega” do

enxerto. A “pega” do enxerto é quando as células-tronco do doador começam a produzir

os componentes sanguíneos dentro da cavidade da medula óssea do receptor, e

geralmente ocorre de duas a quatro semanas após a infusão das células. Na prática, é

dito que ocorreu a recuperação hematopoiética quando a contagem absoluta de

neutrófilo excede a 0,5x109/L (LÉNGER & NEVILL, 2004). Nessa fase, espera-se a

melhora da mucosite e resolução progressiva dos processos infecciosos (LÉNGER &

NEVILL, 2004).

A recuperação do sistema imune a com restauração da função das células B e T é

considerada a última etapa. A mesma pode levar 12 meses ou mais, sendo mais lento na

presença da DECH crônica, tanto pela doença em si como pelo uso de

imunossupressores para o seu tratamento (CUTLER & ANTIN, 2005; LÉNGER &

NEVILL, 2004).

2.6 Complicações do TACTH

Pacientes submetidos ao TACTH estão predispostos a diversas complicações,

algumas delas com grave potencial evolutivo. Essas complicações são normalmente

decorrentes do regime de condicionamento e da incompatibilidade antigênica

(SOUBANI, 2006).

A mucosite é uma das complicações mais frequentes no transplante,

especialmente os que utilizam regime de condicionamento mieloablativo (KERBAUY

& RIBEIRO, 2010). Este age principalmente nas células com alta atividade mitótica, de

forma que a mucosa é intensamente afetada, perdendo a capacidade de superar o

processo normal de esfoliação. Ela pode apresentar-se com graus variados, e de acordo

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co o estágio é caracterizada por esbranquiçamento da mucosa, eritema, descamamento

das camadas superficiais da mucosa e úlcera. É necessário o uso de analgesia contínua e

nutrição enteral ou parenteral em alguns casos (ALBUQUERQUE & CAMARGO,

2007; JAMES & SOLOVE, 2006).

Outra complicação que pode ocorrer principalmente nos primeiros 20 a 30 dias

pós TACTH é a síndrome de obstrução sinusoidal (SOS), também conhecida por doença

veno-oclusiva hepática (VOD) (CARRERAS, 2000). Sua causa primária é a terapia

citorredutora utilizada na etapa de condicionamento que leva ao dano de células

endoteliais sinusoidais e esta, por sua vez, à obstrução da circulação hepática. Esta

oclusão acarreta em um refluxo de sangue ao interior do fígado, reduzindo o suprimento

de sangue ao hepatócitos casando lesão hepatocelular (KERBAUY & RIBEIRO, 2010,

CARRERAS, 2000). É caracterizada por hepatomegalia dolorosa, retenção de líquido

com ganho de peso e icterícia. Na maioria dos casos, as manifestações clínicas

desaparecem após alguns dias, mas 20% a 25% dos pacientes com VOD podem evoluir

para o óbito (CARRERAS, 2000; JAMES & SOLOVE, 2006). Como não existem

tratamentos da VOD eficazes, estes são essencialmente de suporte, com manutenção do

equilíbrio hidro-eletrolítico e restrição sódica (PATON et al., 2000). Entretanto,

previamente deve-se considerar a profilaxia por meio da seleção cuidadosa do regime e

condicionamento que deve ser preconizada (KERBAUY & RIBEIRO, 2010).

Os receptores de CT tornam-se suceptíveis a infecções, especialmente por

citomegalovírus, sendo necessário o uso profilático de antibióticos, bem como a terapia

anticitomegalovírus antes do transplante, uma vez que os receptores de medula óssea

podem ser incapazes de regenerar um repertório novo e completo de linfócitos. A

radioterapia e a quimioterapia usadas para preparar os receptores para o transplante

tendem a esgotar a células de memória e as células plasmáticas de vida longa do

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paciente, e pode ser necessário um longo tempo para regenerar estas populações

(ABBAS et al., 2008 a). Embora os pacientes após transplante apresentem imunidade

quase normal, é comum persistir hipogamaglobulinemia (alteração da imunidade

caracterizada por baixos níveis séricos de anticorpos), a imunidade celular deficiente,

hipofunção esplênica, o que contribui para um risco aumentado de infecção por até

cinco anos após o TACTH. Infecções recorrentes sinopulmonares (por exemplo,

sinusite, pneumonia, bronquite) são comuns nos primeiros dois anos depois do

transplante (LÉNGER & NEVILL, 2004).

Apesar das melhorias no transplante alogênico, a DECH (Doença do Enxerto

Contra Hospedeiro) complicação continua sendo um problema significativo após o

transplante, e ainda é uma das principais causas de mortalidade pós-transplante

(JAKSCH & MATTSSON, 2005). A mesma ocorre quando as células T

imunocompetentes do doador reconhecem o aloantígeno do hospedeiro como estranho,

iniciando reações imunes que levam a denominação de doença do enxerto contra o

hospedeiro (LÉNGER & NEVILL, 2004). Portanto, a gravidade da DECH vai depender

principalmente do grau de incompatibilidade entre doador e receptor, sendo relacionada,

sobretudo, aos antígenos de histocompatibilidade maior, presentes nas moléculas do

HLA (JAMES & SOLOVE, 2006). Entretanto na maioria dos casos, a reação

imunológica doador-receptor é dirigida contra os antígenos de histocompatibilidade

menores do hospedeiro, uma vez que o TACTH não é geralmente realizado quando o

doador e o receptor apresentam diferenças em suas moléculas de HLA (ABBAS et al.,

2008 a). Como os antígenos de histocompatibilidade menor são codificados por genes

presentes em cromossomos autossômicos (cromossomo Y), torna-se possível observar

maior incidência da DECH em receptores do sexo masculino com doadoras do sexo

feminino (JANEWAY et al., 2002; RIDDELL et al., 2003).

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Para a prevenção desta complicação, o paciente deve utilizar imunossupressores por um

período prolongado (meses), iniciando o seu uso antes mesmo do TACTH, como

profilaxia. A associação da ciclosporina com o metotrexato é o esquema de

imunossupressão mais utilizado (ABBAS et al., 2008 a; HOLLER, 2007; LÉNGER &

NEVILL, 2004).

A DECH é classificada em aguda quando ocorre nos primeiros 100 dias e

crônica quando as manifestações clínicas se iniciavam após esse período (LÉNGER &

NEVILL, 2004). Entretanto, a classificação atual baseia-se mais nas manifestações

clínicas do que no tempo, ou seja, distingue aguda de crônica de acordo com a etiologia,

órgãos alvos, respostas ao tratamento e sequelas diversas (BLAZAR & MURPH, 2005)

A DECH aguda é responsável por 15% a 40% de mortalidade (SUN et al.,

2008). É desencadeada por linfócitos T citotóxicos alorreativos do doador. A DECH

aguda é caracterizada por morte de células epiteliais na pele, no fígado (sobretudo o

epitélio biliar) e no trato gastrointestinal (TGI). Quando a morte celular é extensa, a pele

ou a mucosa intestinal pode se desprender sendo fatal. A DECH manifesta clinicamente

por exantema, icterícia, diarréia e hemorragia gastrointestinal (ABBAS et al., 2008 a).

Atinge cerca de 50% dos pacientes a despeito de profilaxia, e o principal fator de

imunossupressão realizada com corticóides (KERBAUY & RIBEIRO, 2010).

A DECH crônica ocorre, geralmente, depois do centésimo dia após do TCTH.

Acomete 30 a 60% dos transplantados (STEM CELL TRIALISTS´

COLLABORATIVE GROUP, 2005). È caracterizada por fibrose e atrofia de um ou

mais dos mesmos órgãos acometido pela DECH aguda, sem evidências de morte celular

aguda (ABBAS et al., 2008 a). Os principais fatores de risco são: idade avançada; fonte

de células-tronco hematopoiéticas de coleta periférica; doadores não-relacionados e

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presença de DECH aguda. Decorre da perda de autotolerância e, muitas vezes,

assemelha-se a doenças auto-imunes, como esclerodermia e síndrome de Sjögren. Pode

acometer um ou mais órgãos, como pele, olhos glândulas salivares, boca, TGI, fígado e

pulmões. Pacientes com doença extensa necessitam de imunossupressão prolongada,

levando a complicações crônicas secundárias, como diabete, osteoporose e infecções.

Está associada ao efeito conhecido como enxerto-versus-tumor, uma vez que pacientes

acometidos por DECH crônica apresentam menor taxa de recidiva da doença de base

(KERBAUY & RIBEIRO, 2010).

CONCLUSÃO

Esta revisão mostra a associação entre o sistema HLA e o transplante alogênico

de células-tronco. O TACTH de um doador para um receptor não idêntico

geneticamente leva a uma resposta imunológica específica (ocasiona rejeição). Os

principais alvos na rejeição são as moléculas de HLA alogênicas (aloantígeno) de classe

I e II, logo é o fator que exerce grande influência no resultado deste tipo de transplante.

Portanto, a seleção do doador com grau adequado de compatibilidade

representa uma das estratégias essenciais para o sucesso do TACTH. Dessa forma para

minimizar o risco de rejeição imunológica no TACTH são realizados testes de

compatibilidade doador-receptor antes do mesmo. Os testes buscam identificação das

variantes alélicas dos genes HLA ou de seus produtos, no receptor e nos seus potenciais

doadores, sendo que esta informação tem permitido a escolha criteriosa de doadores.

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