Astrofísico e crítico de arte brasileiro nascido em em Recife

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Astrofsico e crtico de arte brasileiro nascido em em Recife, Estado de Pernambuco, que trabalhou com mecnica quntica, termodinmica e astrofsica e um dos grandes nomes da cincia no Brasil, autor de importantes descobertas como a do Processo Urca: fenmeno do colapso de estrelas supernovas. Seu interesse pela cincia teria incio 13 anos de idade, quando estudou fsica e geometria pela primeira vez. Ingressou na Faculdade de Engenharia do Recife, e depois se transferiu para So Paulo, para o curso de Eng. Eltrica da USP. L, cursou tambm o recm-criado curso de matemtica da Faculdade de Filosofia, e se formou em ambos os cursos (1935) . Logo, foi contratado para trabalhar como assistente do russo Gleb Wataghin. Fez uma primeira viagem profissional ao exterior (1938), iniciando pela Itlia, com o fsico Enrico Fermi e com Giuseppe Occhialini, com quem trabalhara no Brasil. Tambm trabalhou com o austraco naturalizado estadunidense Wonlfgang Pauli e passou uma temporada no Collge de France, em Paris. Esteve alguns meses em Princeton, nos Estados Unidos (1940), na companhia de grandes fsicos como o famosssimo alemo Albert Einstein e o colega indiano Subrahmanyan Chandrasekhan. Com Chandrasekhan elaborou o limite denominado Chandrasekhan-Schenberg (1941), um estudo referente evoluo do Sol e estrelas semelhantes. Professor na Universidade de So Paulo, a USP, depois seguiu para a Europa, onde realizou grandes trabalhos na rea da fsico-qumica, em Bruxelas (Blgica). De volta ao Brasil (1953), dirigiu o Departamento de Fsica da USP, onde fundou o Laboratrio de Fsica do Estado Slido. Como catedrtico na disciplina de Mecnica Superior e Celeste, desenvolveu pesquisas sobre Eletromagnetismo e Gravitao, que originou o grupo de Fsica da Matria Condensada na USP e, nos anos 60, foi professor do Centro Brasileiro de Pesquisas Fsicas, o CBPF. Na poltica elegeu-se Deputado Estadual em So Paulo, pelo Partido Comunista (1946), e ficou preso por dois meses, devido ilegalidade do partido e exilou-se na Europa (1947-1953). Pelo Partido Trabalhista Brasileiro, o PTB, elegeu-se novamente Deputado Estadual (1962), mas foi impedido de exercer seu mandato por ter sido do Partido Comunista (1964). Aposentado compulsoriamente da universidade (1969) pelo Ato Institucional Nmero 5 (AI-5), seria reintegrado USP dez anos depois, com o decreto da Anistia. Autor de 114 trabalhos sobre Astrofsica, Fsica Terica, Fsica Experimental, Fsica Matemtica, Anlise Funcional e Geometria, tornou-se Professor Emrito da USP (1987) e morreu em So Paulo, no dia 10 de novembro (1990). Nas horas vagas, era tambm crtico de arte e fotgrafo. Emitiu suas primeiras manifestaes em Crtica d'Arte (1958) e iniciou suas atividades junto da Bienal das Artes e representou os artistas trs anos depois (1961). A descoberta do processo Urca foi um de seus principais trabalhos (1940) e pode ser traduzido como uma explicao para o colapso de estrelas supernovas, estudadas pelo astrofsico russo George Gamow. e foi assim denominado por uma associao com um famoso cassino do Rio de Janeiro. Curiosamente, astrofsicos que no conheciam a histria da origem deste nome, arranjaram um significado para o que eles acreditavam ser uma sigla: Ultra Rapid Catastrophe, URCA. Foi pioneiro em vrios campos da Fsica e da Qumica, da Astrofsica e da Teoria das Partculas Elementares. Em novembro (1997) a Associao Mundial de Ecologia (AME), o jornalista W. Paioli e o escritor e editor portugus Joo Barcellos, prestaram homenagem a esse grande cientista brasileiro durante o lanamento do Manifesto Ecopoltico Fraternalismo, em So Paulo, no auditrio da Cetesb e com apoios da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e da American Mobile Medical Assistance.

E como j estou no fim de minha carreira, h um conselho que dou a vocs: no tenham medo. Porque se tiverem medo, nunca podero criar nada de original. preciso que no tenham medo de dizer alguma coisa que possa ser considerada como um erro. Porque tudo que novo aparece aos olhos antigos como coisa errada. sempre nessa violao do que considerado certo que nasce o novo e h a criao." Podemos dizer que tanto o fsico terico quanto o crtico de arte ou o poltico contestador esto em busca do novo. Este o eixo em que se moveu Mrio Schemberg. Schemberg estudou na Faculdade de Engenharia do Recife, transferindo-se depois para a Universidade So Paulo. Em 1935, graduou-se em engenharia e em matemtica pela USP. No ano seguinte, publicou um trabalho sobre eletrodinmica quntica na Itlia, iniciando sua carreira de fsico terico. Trabalhou com cientistas de renome mundial nos Estados Unidos, entre 1940 e 1942. Schemberg foi considerado um dos maiores fsicos do Brasil. Participou de vrios projetos importantes na rea de astrofsica. Foi ele quem batizou como processo Urca o ciclo de reaes nucleares na formao de estrelas supernova, pesquisa que realizou com o fsico George Gamow. Em 1942, com o cientista indiano Chandrasekhar, descobriu o limite SchembergChandrasekhar, em evoluo estelar. Mrio Schemberg redigiu mais de uma centena de trabalhos cientficos. Paralelamente, dedicou-se poltica, sendo eleito deputado pelo PCB (Partido Comunista Brasileiro) em 1946, mas teve seu mandato cassado por motivos polticos. Em 1953, retornou de seu exlio na Europa e foi nomeado diretor do departamento de fsica da Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras da Universidade de So Paulo. Comeou a atuar como crtico de arte em 1958. Trs anos depois, iniciou seu trabalho perante a Bienal das Artes. Schemberg desenvolveu uma fecunda atuao no mundo das artes plsticas. Alm de crtico, foi tambm um grande colecionador, mantendo relaes pessoais com muitos artistas, como Alfredo Volpi e Bruno Giorgi. Em 1962, Schemberg elegeu-se novamente deputado, sendo mais uma vez cassado. Representou o Brasil na conferncia de Kyoto, no Japo, em 1965, sobre partculas elementares. Com a imposio do AI-5, em 1969, Schemberg foi aposentado compulsoriamente e perdeu seus direitos polticos. Em fins da dcada de 1970, j uma figura de projeo nacional, intensificou sua atuao poltica. Denunciou o acordo Alemanha-Brasil e fez campanha contra o uso indevido de energia nuclear. Mrio Schemberg foi reintegrado Universidade de So Paulo em 1979, tornando-se, em 1987, professor emrito. Faleceu em 1990, deixando uma filha, Ana Clara.

O texto a seguir parte da introduo feita pela professora Amlia Imprio Hamburger em Dois Textos de Mrio Schenberg - Publicao da obra cientfica de Mario Schenberg, Estudos Avanados, no. 44, Janeiro/Abril, 2002, e a Apresentao do Volume I das Obras Cientficas de Mario Schoenberg, Editora da Universidade de So Paulo, EDUSP, publicado em 2009.

Mario Schenberg nasceu em Recife, estado de Pernambuco, a 2 de julho de 1914(1). Mudou-se para So Paulo, em 1933, onde faleceu a 10 de novembro de 1990, reconhecido como cidado paulistano pela Cmara Municipal. Viveu uma vida intensa, de atuao marcante nas dcadas de grande efervescncia cultural no Brasil dos anos trinta aos anos setenta, atuando diretamente na cincia, formao de cientistas e instituies, na poltica, na promoo e interpretao das artes e de artistas. Professor Catedrtico da Universidade de So Paulo, desde 1944, estabeleceu a prtica da fsica terica e matemtica no Brasil. Individualidade forte, como cientista foi professor e pesquisador, formador de ambientes e de grupos de pesquisa no Departamento de Fsica da Universidade de So Paulo. Pertenceu, tambm, ao Centro Brasileiro de Pesquisas Fsicas, CBPF, no Rio de Janeiro, nas dcadas de 1950 e 60, onde deu cursos e participou de muitos seminrios. Ao longo de carreira cientfica de mais de quarenta anos, freqentou os mais avanados centros de pesquisa na Europa de antes e ps-guerra, nos Estados Unidos, no Japo, onde deu e assistiu conferncias. Seus trabalhos cientficos so inovadores no desenvolvimento de teorias matemticas dos fundamentos da fsica, revelando novos aspectos conceituais e epistemolgicos. Seus interesses diversificados se manifestaram desde a infncia. Guardava forte impresso das viagens que fizera com os pais Europa, desde os oito anos de idade, o impacto da arquitetura gtica, das artes grficas e o despertar do interesse pela histria, que ficaram presentes e se desenvolveram durante a vida. Como jovem ginasiano j se envolvia na compreenso das condies humanas da vida social e poltica. Fez os cursos primrio e secundrio em Recife onde, em 1931, iniciou seus estudos de Engenharia. pioneiro do grupo de recifenses que se destacaram como cientistas nas reas de fsica, matemtica e qumica, no Brasil e no exterior. Eram estudantes de engenharia que representam, em sua trajetria cientfica, a orientao e estmulo do Professor Luiz de Barros Freire(2). Transferiu-se, em 1933, para a Escola Politcnica em So Paulo e a se formou Engenheiro Eletricista, em 1935. Formou-se tambm Bacharel em Matemtica, na primeira turma da Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras, em 1936. Viveu, pois, os primeiros anos da Universidade de So Paulo que se constitua ento, reunindo, em 1934, as escolas de formao de profissionais liberais e tcnicos e a Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras, lugar da pesquisa cientfica e da formao de bacharis, pesquisadores e professores dessas reas do saber. Mario Schenberg adquiriu formao matemtica excepcional, por suas tendncias e esforos pessoais e tambm pelas aulas e contatos com os professores italianos Luigi Fantappi e Giacomo Albanese, na Escola Politcnica e na Faculdade de Filosofia. Seus

trabalhos cientficos mostram poderosa percepo da fsica, intrinsecamente moldada em teoria matemtica subjacente que conceitua a apreenso e interpretao fenomenolgicas. Gleb Wataghin, da Universidade de Turim e Giuseppe Occhialini, da Universidade de Florena, foram os professores italianos que formaram o Departamento de Fsica da Faculdade de Filosofia da USP, e implantaram uma tradio de manter contnuos contatos internacionais. Alm dos Laboratrios italianos, com Enrico Fermi, G. Bernardini, B. Ferretti, ligavam-se ao Laboratrio Cavendish, de Ernest Rutherford, Inglaterra, onde eram encontrados os grandes fsicos ingleses, Powell, Blackett, Dirac, e seus visitantes, Bohr, Fermi, Pauli, Landau, Lifichtz, e outros. Os primeiros jovens colaboradores de Wataghin, Marcello Damy foi para a Inglaterra e Mario Schenberg para a Itlia, no fim dos anos de 1930. A convivncia com Wataghin e Occhialini e com lideranas das pesquisas fsicas da poca, no exterior, possibilitou a transmisso aos jovens colaboradores brasileiros do interesse competente e ousado pelo exerccio de pensamento original sobre questes fundamentais das teorias fsicas dos anos trinta: as foras nucleares e as partculas elementares que as materializam. Pode-se dizer que a familiaridade com as partculas elementares e com os fundamentos da mecnica quntica e da relatividade proporcionou a imediata ligao com os neutrinos de Pauli e de Fermi, com os recm-concebidos mesons por Hideki Yukawa, e com os mecanismos das reaes nucleares. Essas condies levaram a equipe de Wataghin e Occhialini, que se caracterizava, para o Professor Bernard Gross, do Rio de Janeiro, como a Escola de So Paulo (3) ao destaque internacional nos seus primeiros trabalhos, experimentais e tericos, com Marcello Damy de Souza Santos, Paulus Aulus Pompia, Mario Schenberg, Yolande Monteux, logo depois Csar Lattes, Walter Schtzer, Abraho de Moraes, Oscar Sala, e vrios outros. Sua carreira de docente e pesquisador se iniciou como preparador de demonstraes na Escola Politcnica e em seguida como assistente de Wataghin na Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras. A, em 1944, realizou concurso e tornou-se professor catedrtico de Mecnica Racional e Celeste. Nesse ano publicou livro de fsica elementar para o ensino mdio (4). Participou ativamente da abertura poltica do ps-guerra, tendo sido eleito suplente de deputado estadual pelo Partido Comunista Brasileiro para a Assemblia Constituinte do Estado de So Paulo, em 1946. Uma contribuio importante da bancada, liderada pelo economista e empresrio Caio Prado Jr. foi, em 1947, a proposta e aprovao do Artigo 123 da Constituio Paulista que instituiu os fundos de amparo pesquisa no Estado de So Paulo, que levou fundao da FAPESP, anos mais tarde. Revelou-se, na Assemblia Legislativa do Estado de So Paulo, onde permaneceu por perodo curto, de alguns meses, um orador de argumentao poderosa que chegava a inverter a posio dominante dos deputados(5). Juntamente com os membros de sua bancada teve seu diploma cassado, e foi perseguido na Universidade. Occhialini, que voltara para a Inglaterra e depois tinha ido, juntamente com Connie Dilworth, para o Centro de Pesquisas Nucleares da Universidade Livre de Bruxelas, Blgica, convidou-o para se juntar a eles, para trabalhar como fsico terico do grupo de raios csmicos do Laboratrio. As cartas, reproduzidas mais abaixo, mostram o perodo de sada do Brasil e os tempos de Bruxelas, muito bons para os trabalhos em fsica e para outros contatos.

Viajou muito pela Europa, ampliando seus conhecimentos no s sobre a arte europia, mas tambm sobre a arte dos pases africanos e asiticos expostas em museus europeus. Conviveu com artistas brasileiros em Paris, Candido Portinari, Mario Gruber, Carlos Scliar, Antonio Bandeira, tendo conhecido pessoalmente Picasso e Chagall(6). De volta da Blgica ao Brasil, foi Diretor do Departamento de Fsica da Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras, de 1953 a 1961, numa profcua gesto, que ficou marcada pela criao de vrios laboratrios. Organizou o laboratrio de pesquisas em Estado Slido e Baixas Temperaturas com a participao do professor John Daunt, ingls, na Universidade de Ohio, Estados Unidos, e de Newton Bernardes, Luiz Guimares Ferreira, Carlos Quadros, Jorge Sussman, Nei Fernandes de Oliveira, e Adrian de Graaf, belga. Foram importantes os apoios do Reitor da Universidade de So Paulo, Professor Antonio Barros de Ulhoa Cintra, do CNPq, da FAPESP, e dos deputados Ulisses Guimares e Lauro Monteiro da Cruz. O Laboratrio hoje diversificado nas pesquisas da Matria Condensada, como chamado o departamento. Est no prdio Mario Schenberg, na Cidade Universitria no campus de So Paulo. Faz parte do projeto de pesquisa de deteco do grviton, partcula que materializaria o campo gravitacional, em colaborao com o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), com detector de grande sensibilidade. O detector chama-se Mario Schenberg. Em 1960, convidou Csar Lattes para vir do CBPF, no Rio de Janeiro, para o Departamento de Fsica, em So Paulo, recriar um grupo da pesquisa em raios csmicos, com emulses fotogrficas expostas em Chacaltaya, Bolvia. Hideki Yukawa, prmio Nobel pela teoria que previu a existncia do meson, participou da proposta de implantao, e foi ativo no estabelecimento e nas pesquisas no projeto de Colaborao Brasil-Japo. Vieram destacados fsicos japoneses que deram importante contribuio. Matuo Taketani , Yoichi Fugimoto, Shun-Iti Hasegawa, Yasuhisa Katayama, Tatouki Miyasima, Shin-Itiro Tomonaga, Daisuki It, Jun ichi Osada, alguns dos quais deram tambm contribuio para reforar a viso, no Departamento, da Fsica sempre ligada Filosofia e Histria. Muito bem montado, com boa equipe brasileira dedicada e interessada, quando Lattes foi para Campinas, depois de 1967, alguns dos integrantes foram com ele, outros organizaram aqui seus grupos de pesquisa, com muita competncia e criatividade. O Laboratrio de Raios Csmicos na Colaborao BrasilJapo, colaborao profcua que foi com Csar Lattes para a Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, perdura at hoje. Teve atuao na compra do primeiro computador para pesquisa na Universidade, com professores da Escola Politcnica, entre eles Hlio Guerra Vieira. Deu apoio aos laboratrios de fsica nuclear de Marcello Damy e Oscar Sala, e procurou organizar um laboratrio de semi-condutores com Rogrio Cerqueira Leite que, mais tarde, se efetivou na UNICAMP. Foi um aglutinador da atuao de fsicos de outros pases que vieram a So Paulo. Promoveu a vinda de vrios deles, Mario Bunge, Guido Beck, Gert Molire, e outros, alm dos fsicos da Colaborao Brasil-Japo, com quem mantinha grande interao e colaborao. Mario Schenberg foi preso, por vrios meses, em 1964, quando da mudana de governo por golpe militar. Mas no demorou a voltar a dar aulas, dirigir seminrios e outras atividades no Departamento de Fsica. At 1968 sua presena e atuao tiveram influncia profunda, juntamente com outras lideranas universitrias, na criao de

mentalidade avanada e formadora em pesquisa e ensino, na Faculdade de Filosofia, onde se estabelecia uma convivncia e viso de universidade multidisciplinar. Teve cassados seus direitos polticos e perdeu sua posio de professor e pesquisador, por dez anos, juntamente com outras lideranas universitrias do Brasil, por decreto federal de abril de 1969. As marcas dessas ausncias so difceis de serem avaliadas. As contribuies cientficas desses pioneiros e suas propostas para a universidade, para a formao de pesquisadores, seu esprito no burocrtico, no poltico-partidrio na defesa das instituies, notadamente das universidades pblicas, so posturas e mentalidades a serem compreendidas, hoje. Certamente era sua viso que as pesquisas fossem avaliadas pelas potencialidades de transformao das condies culturais do pas, que se explicitam na prtica e nos contextos da universidade e fora dela. Depois de cassado, durante os anos de 1970, Mario Schenberg sofreu perseguies e ameaas integridade fsica, invaso sua casa, publicaes ameaadoras em jornais, que atingiam outros membros da comunidade universitria em So Paulo. Meados dos anos 70 foram de violncia explcita de rgos de segurana, ilegais, mesmo dentro do governo militar. So essas as violncias que calam fundo nas relaes sociais da convivncia diria e impedem a formao de uma conscincia coletiva livre para se manifestar. Estava, nesse perodo, impedido de freqentar a Universidade, mas dela participou com sua cincia. O endereo de referncia era o de sua residncia. Menciona seu isolamento e sua criatividade nesses anos de 1970, em carta a Clarice Lispector(7) . "Desde 1970, minha situao geral se modificou bastante, em conseqncia do isolamento em que passei a viver, como resultado de minha aposentadoria e da impossibilidade de exercer a crtica de arte militante. Foi um desafio tremendo, mas creio que pude reagir de um modo criativo, no s retomando com maior energia as pesquisas anteriores sobre teoria da Gravitao e o problema das relaes entre Fsica e Geometria, como tambm fazendo estudos filosficos mais sistemticos. Publiquei trs trabalhos longos de Fsica, e aprofundei bastante o meu pensamento sobre Arte. Agora estou escrevendo um pequeno ensaio sobre a crise atual das artes plsticas, que talvez seja um ponto de partida para um ensaio mais longo". Nessa poca, Schenberg idealizou uma instituio universitria, um Instituto de Estudos Avanados. Props que tivesse em estatuto a liberdade de produo e de interaes entre pesquisadores, nos moldes do Instituto de Estudos Avanados de Princeton, que conhecera em 1941-1942, nos Estados Unidos. Seria tambm um lugar que agregasse pesquisadores atuantes, tambm aposentados, compulsoriamente ou no. Ajudou a fundar a Sociedade Brasileira de Fsica, a SBF, em 1966, tendo sido eleito conselheiro por vrias gestes. Foi presidente da SBF, em 1978, numa gesto que enfocou a resistncia ao Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, estabelecido pelos governos militares, com premissas dbias em relao ao aproveitamento da energia nuclear para fins pacficos. Voltou Universidade em 1979 e deu alguns cursos de ps-graduao e ainda a disciplina de Evoluo dos Conceitos da Fsica, em 1983. A partir de suas aulas foi editado o livro Pensando a Fsica.(8) Essa era uma das disciplinas que atestam a

preocupao de Wataghin e Schenberg com o ensino, com a compreenso da fsica inserida na histria, nas possibilidades das tcnicas disponveis para a observao e conceituao de seus fenmenos. Ganhou, em 1983, o Prmio do Conselho Nacional de Pesquisas, para Cincia e Tecnologia. Mario Schenberg tinha claro a importncia de desenvolvimento tecnolgico. Uma sua idia, insistente, era a criao de carreira e de formao do engenheiro-fsico. Foi homenageado, em 1984, com um Simpsio Internacional, pelos setenta anos de vida. O Professor Guido Beck, seu amigo e companheiro de longa data, veio do Centro Brasileiro de Pesquisas Fsicas, no Rio de Janeiro, com a finalidade de nos alertar para a data. Reuniu-se, ento, uma comisso de ex-alunos e colaboradores para organizar vrias homenagens (9). O momento do Simpsio em Homenagem aos 70 Anos de Mario Schenberg nos pareceu que o Instituto de Fsica recuperava uma verdadeira vida acadmica e se unia na atividade que o caracteriza, juntamente com colegas do Rio de Janeiro, Pernambuco, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, e outros estados brasileiros. A obra de Mario Schenberg e seu papel na origem na fsica brasileira se fez sentir com fora nas apresentaes por jovens e antigos pesquisadores, feitas 50 anos aps a criao do Departamento de Fsica. Os debates e mesas redondas com outros pioneiros da fsica brasileira foram sensibilizadores desse momento de retomada e de reconstruo da memria. Alm do Simpsio, cujas atas foram publicadas pela Universidade de So Paulo, foi tambm organizado um Nmero Especial da Revista Brasileira de Fsica da Sociedade Brasileira de Fsica(10) com contribuies de muitos alunos e colaboradores, nacionais e estrangeiros. Outras publicaes foram organizadas. H muitas entrevistas com pessoas que conheceram Mario Schenberg, colegas, amigos, estudantes, artistas, escritores, que do interessantes vises de sua personalidade. H tambm registro de Dilogos com Mario Schenberg que tambm tm essa inteno, e a de homenage-lo por ocasio dos setenta anos(11). Depois de 1990, foi realizada, em So Paulo, uma Exposio "O Mundo de Mario Schenberg" sobre sua vida e suas atividades, de grande abrangncia e significado (12). Atualmente h ncleos universitrios de estudos sobre Mario Schenberg (13).

(1) H informao segura depoimento, documentos (Arquivo Mario Schenberg, Departamento de Fsica Geral, Instituto de Fsica, USP) e informao da famlia (a Dina Kinoshita) que Mario Schenberg nasceu em 1916. Seu pai alterou a data de nascimento para 1914 para que o menino pudesse entrar na escola mais cedo do que a idade obrigatria. (2) Luiz Freire foi um dos pioneiros da prtica de um pensamento prprio sobre as modernas teorias da fsica e da matemtica, fundador de instituies que hoje do sustentao pesquisa cientfica no Brasil, o CNPq, e o Instituto de Fsica da Universidade Federal de Pernambuco. Ver S. Schwartzman, Um Espao para a Cincia: A Formao da Comunidade Cientfica no Brasil, Ministrio de Cincia e Tecnologia, Conselho de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico, e Centro de Estudos Estratgicos, Braslia, 2001, pp. 229-230; Ivone Freire M. e Albuquerque e Amlia Imprio Hamburger Retratos de Luiz de Barros Freire Como Pioneiro da Cincia no Brasil, Cincia e Cultura, 40, 9; 857-881, 1988. (3) Bernard Gross em O Desenvolvimento da Fsica em So Paulo, Revista de Qumica Industrial, So Paulo, 1954. (4) Fsica para o 1. Ano do Curso Colegial, 1944, Editora Nacional (5) Projeto de Dina Lida Kinoshita. 1. Coletnea de intervenes de Mario Schenberg, Assemblia Legislativa, 1947-1948; 2. Entrevistas com companheiros de partido: gravadas, transcritas. Cpias no Arquivo Mario Schenberg, Departamento de Fsica Geral, IFUSP. (6) Currculo Artstico (Autobiogrfico): Encontro com Mario Schenberg, (MEC/Secretaria da Cultura, Fundao Nacional de Arte e Instituto Nacional de Artes Plsticas, [1983] Arquivo Mario Schenberg, Departamento de Fsica Geral, IFUSP. (7) Carta a Clarice Lispector, Arquivo Mario Schenberg, Departamento de Fsica Geral, Instituto de Fsica, USP.

(8) Pensando a Fsica - Mario Schenberg; Organizado e editado por Amlia Imprio Hamburger e Jos Luiz Goldfarb, com a participao de alunos do curso e reviso do Professor Schenberg. Inicialmente pela Editora Brasiliense (1. e 2. Edies), pela Editora Nova Stella (3. e 4. Edies), e em 5. Edio pela Editora Landy, em 2002. (9) Comisso Organizadora da Homenagem: Alberto L. da Rocha Barros, Amelia Imperio Hamburger, Carmen L.R. Braga, Elly Silva, Ernst W. Hamburger (Coordenador), Gita K. Guinsburg, Ivan Ventura, Kazuo Ueta, Mauro S. D. Cattani, Normando C. Fernandes, Silvio R. A. Salinas, Jos L. Goldbarb (estudante). (10) Perspectivas em Fsica Terica, Anais do Simpsio de Fsica, Homenagem ao 70o. Aniversrio do Professor Mario Schenberg, Alberto L. Rocha Barros (Org.) Ed. Instituto de Fsica, Coordenadoria Cultural da Universidade de So Paulo, 1987. Revista Brasileira de Fsica, Volume Especial, Os 70 Anos de Mario Schnberg, Sociedade Brasileira de Fsica, julho, 1984 Comisso Editorial N.C.Fernandes (Coordenador) M. Cattani, I. Ventura, K. Ueta e S.R.A.Salinas (11) Mrio Schenberg: Entre-Vistas, Gita K. Guinsburg e Jos Luiz Goldfarb (Org.), Instituto de Fsica/USP e Editora Perspectiva, S.P.,1984, pg.75 e Dilogos com Mario Schenberg, J.L. Goldfarb (Org.) Ed. Nova Stella (12) A Exposio da Casa das Rosas, sob a coordenao de Jos Roberto Aguilar se constituiu como um retrato de Mario Schenberg a muitas dimenses. Ver O Mundo de Mario Schenberg, Catlogo de Exposio na Casa das Rosas, So Paulo, s/d [1998] Alguns documentos dessa exposio esto guardados no Arquivo Mario Schenberg do Departamento de Fsica Geral do Instituto de Fsica. (13) Departamento de Histria da Cincia, na Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, sob a direo de Jos Luiz Goldfarb; Centro de Pesquisa em Artes, da Escola de Comunicao e Artes da Universidade de So Paulo, sob a direo de Elza Ajzemberg.

Retirado de http://pion.sbfisica.org.br/pdc/index.php/por/Fisicos-do-Brasil-Mem acessado dia 30/10.