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Ministério da Justiça - MJ Comissão Nacional de Política Indigenista 3ª Reunião Ordinária Brasília, 10 e 11 de outubro de 2007 1 Ata da 3ª Reunião Ordinária Dia 10 de outubro de 2007 Manhã Aos 10 dias do mês de outubro do ano de dois mil e sete, no auditório do Eron Hotel, Brasília, Distrito Federal, realizou-se a 3ª Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Política Indigenista, com a participação dos seguintes representantes indígenas: Jecinaldo Cabral, Ak'jabor Kayapó, Pierlângela Wapichana, Almir Suruí, Kohalue Karajá, Francisca Pareci, José Aarão Guajajara, Kleber Luiz dos Santos, Marcos Xucuru, Lindomar Xocó, Luiz Titiah Pataxó Hã Hã Hãe, Antonio Pessoa Potiguara, José Ciríaco Sobrinho, Marcos Tupã, Brasílio Priprá, Deoclides de Paula, Danilo Terena, Wilson Matos, Glicéria Jesus da Silva; representantes de governo: Celso Correa - Casa Civil, Cel. José Caixeta Ribeiro, Carlos Nogueira da Costa Junior – Ministério de Minas e Energia; Edgard Dias Magalhães - Funasa, Suzana Grillo Guimarães - MEC, Quennes Gonzaga – Secretaria Geral da Presidência; Muriel Saragoussi, Ministério do Meio Ambiente; André Araújo – Ministério do Desenvolvimento Agrário; Aderval Costa Filho – Ministério do Desenvolvimento Social; Kleber Gesteira Matos – Casa Civil; Cel. Marcondes José Tenório da Silva – Ministério da Defesa; Jorge Luiz de Quadros, Ministério da Justiça, Márcio Augusto Freitas de Meira - Funai; representantes da sociedade civil: Saulo Ferreira Feitosa - CIMI, Gilberto Azanha - CTI; convidados: Deborah Duprat - 6ª Câmara do Ministério Público da União, Alda Freire de Carvalho; assessores: Paulo Machado Guimarães - CIMI, Ricardo Verdum - Inesc, Paulino Montejo - COIAB, Ubiratan Souza Maia - Instituto Warã, Avelino Batista – COIAB. O Presidente da Comissão Nacional de Política Indigenista, Márcio Augusto Freitas de Meira, deu início aos trabalhos da 3ª Reunião Ordinária da CNPI, tratando inicialmente da pauta dos dias de trabalho, com a proposta de que começassem pela discussão sobre o anteprojeto de lei para criação do Conselho Nacional de Política Indigenista; assim, o período da manhã seria dedicado à leitura da proposta da subcomissão, aprovação e encaminhamento desta. Prosseguindo, propôs que o período da tarde do dia 10 fosse destinado à discussão dos itens 02 e 03 da pauta (apresentação da CGE/Funai sobre proposta de avaliação do PNE; Apresentação do MEC sobre o PAC/Educação, Prolind, PDE – PAR e Conferências de educação escolar indígena), que se

Ata da 3ª Reunião Ordinária - funai.gov.br · esse ponto de pauta, o presidente pediu então que os membros se manifestassem e, caso não houvesse ressalvas, que pudessem concluir

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Comissão Nacional de Política Indigenista 3ª Reunião Ordinária

Brasília, 10 e 11 de outubro de 2007

1

Ata da 3ª Reunião Ordinária Dia 10 de outubro de 2007

Manhã

Aos 10 dias do mês de outubro do ano de dois mil e sete, no auditório do Eron Hotel,

Brasília, Distrito Federal, realizou-se a 3ª Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Política

Indigenista, com a participação dos seguintes representantes indígenas: Jecinaldo Cabral,

Ak'jabor Kayapó, Pierlângela Wapichana, Almir Suruí, Kohalue Karajá, Francisca Pareci, José

Aarão Guajajara, Kleber Luiz dos Santos, Marcos Xucuru, Lindomar Xocó, Luiz Titiah Pataxó Hã

Hã Hãe, Antonio Pessoa Potiguara, José Ciríaco Sobrinho, Marcos Tupã, Brasílio Priprá, Deoclides

de Paula, Danilo Terena, Wilson Matos, Glicéria Jesus da Silva; representantes de governo: Celso

Correa - Casa Civil, Cel. José Caixeta Ribeiro, Carlos Nogueira da Costa Junior – Ministério de

Minas e Energia; Edgard Dias Magalhães - Funasa, Suzana Grillo Guimarães - MEC, Quennes

Gonzaga – Secretaria Geral da Presidência; Muriel Saragoussi, Ministério do Meio Ambiente;

André Araújo – Ministério do Desenvolvimento Agrário; Aderval Costa Filho – Ministério do

Desenvolvimento Social; Kleber Gesteira Matos – Casa Civil; Cel. Marcondes José Tenório da

Silva – Ministério da Defesa; Jorge Luiz de Quadros, Ministério da Justiça, Márcio Augusto Freitas

de Meira - Funai; representantes da sociedade civil: Saulo Ferreira Feitosa - CIMI, Gilberto

Azanha - CTI; convidados: Deborah Duprat - 6ª Câmara do Ministério Público da União, Alda

Freire de Carvalho; assessores: Paulo Machado Guimarães - CIMI, Ricardo Verdum - Inesc,

Paulino Montejo - COIAB, Ubiratan Souza Maia - Instituto Warã, Avelino Batista – COIAB.

O Presidente da Comissão Nacional de Política Indigenista, Márcio Augusto

Freitas de Meira, deu início aos trabalhos da 3ª Reunião Ordinária da CNPI, tratando inicialmente

da pauta dos dias de trabalho, com a proposta de que começassem pela discussão sobre o

anteprojeto de lei para criação do Conselho Nacional de Política Indigenista; assim, o período da

manhã seria dedicado à leitura da proposta da subcomissão, aprovação e encaminhamento desta.

Prosseguindo, propôs que o período da tarde do dia 10 fosse destinado à discussão dos itens 02 e 03

da pauta (apresentação da CGE/Funai sobre proposta de avaliação do PNE; Apresentação do MEC

sobre o PAC/Educação, Prolind, PDE – PAR e Conferências de educação escolar indígena), que se

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referem a educação. Já na manhã do dia 11 abordariam os itens 04, 05 e 06, ou seja, PAC e

empreendimentos econômicos, agenda social e apresentação da Funai sobre a proposta de

reestruturação do órgão. Quanto à tarde, seria a gente teria o item 07 e 08 (apresentação da

CGPIMA sobre o Sistema Integrado de Gestão das Terras Indígenas - SIGAT , e Conferência

Nacional de Desenvolvimento Sustentável e Solidário). Concluindo, o presidente propôs que se

estendesse os trabalhos até as 19 horas, destacando que o tema em discussão no período da tarde

demandaria bastante tempo, após o que consultou a plenária sobre a proposta, a qual defendeu

afirmando: "Eu acho que seria razoável, por conta do tempo e da quantidade dos temas que nós

temos. Eu juntei mais ou menos por grandes temas".

Marcos Xucuru, a propósito, desejou bom dia a todos, declarando sua preocupação

com o fato de que a maior parte dos membros indígenas ainda não se encontravam presentes,

afirmando: "a gente está aqui com 4 indígenas, o restante não está aqui, inclusive para a gente

discutir a pauta", de forma que, caso dessem prosseguimento à discussão, considera que os

indígenas sairiam prejudicados. "Eu gostaria que o senhor fizesse algumas ponderações nesse

sentido, aguardando mais alguns minutos para a gente poder de fato iniciar a nossa reunião", ao que

o presidente informou que os demais se encontravam a caminho e que a demora se devia ao trânsito.

Concordando, Marcos Xucuru destacou a importância do tema a ser discutido pela manhã, e que

contasse com a participação do plenário, fato que o presidente disse estar levando em consideração,

esclarecendo que apenas estava fazendo uma consulta aos que já estavam presentes, para adiantar.

Pierlângela Wapichana pediu a palavra, a seguir, com vistas a apresentar proposta de alteração da

ordem da pauta, afirmando que a seu ver não seria mudança muito problemática e explicando que se

tratava de considerar a questão do PAC - empreendimentos econômicos como um tema específico,

da mesma forma que agenda social também se tratava de outro tema bem específico, e um terceiro,

reestruturação da Funai. Além da apresentação da CGPIMA, verifica-se pela leitura dos

encaminhamentos das subcomissões que na reunião anterior faltou tratar da questão do orçamento,

sobre o qual havia sido solicitada uma explicação. A propósito, o presidente explicou que o tema

orçamento seria abordado dentro da apresentação da proposta da reestruturação da Funai, que

também incluiria PPA e outros temas relacionados. Reforçando sua fala, Pierlângela afirmou a

proposta indígena era que tratassem separadamente 1 - do PAC - empreendimentos econômicos, 2 -

agenda social e 3 - da reestruturação da Funai, separando-se pontualmente cada um desses itens.

Respondendo à proposta, o presidente afirmou que a idéia era exatamente essa, muito embora a

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ordem proposta por ele não fosse exatamente a mesma. Nesse ponto registrou-se a chegada dos

demais indígenas, aos quais o presidente saudou, passando a seguir à recapitulação quanto ao que

havia sido discutido com respeito à pauta, no sentido de que no dia 11 pela manhã primeiro

tratariam dos PAC - empreendimentos econômicos (1), depois da agenda social (2), passando à

apresentação da CGPIMA (3) e depois à apresentação sobre a reestruturação da Funai (4), lembrando

ainda que na última reunião ficara pendente, sendo transferida para a presente reunião, a

apresentação do PAC – FUNASA (5) e do PAC social (6). Quanto à apresentação da agenda social,

refere-se às medidas anunciadas pelo presidente Lula, inclusive na área da saúde, como foi definido

para a última reunião e não foi feito por não terem tido tempo suficiente. Reiterando o assunto para

a plenária, tendo em vista a chegada de outros representantes, o presidente informou que se estava

tratando da pauta, que considerou como sendo bastante extensa, e destacando que, de acordo com a

sua proposta, seria organizada em 4 tempos momentos - manhã e tarde do dia 10, manhã e tarde do

dia 11, explicando novamente a seqüência de temas a serem tratados. Caso aprovada a proposta,

disse o presidente, será possível organizar melhor o tempo disponível, reiterando a solicitação no

sentido de que se estenda as atividades até aproximadamente 19 horas, para que possam dar conta

da discussão da educação, um dos temas da tarde deste dia 10 de outubro. "Essa é uma proposta que

eu fiz", afirmou, havendo ainda as ponderações feitas por Pierlângela, no sentido de que os temas

sejam trabalhados separadamente, e esclarecendo que na proposta de reestruturação da Funai está

incluída a apresentação de todas as informações sobre o orçamento, PPA, entre outros temas que

serão esclarecidos quando da discussão desse item. Ainda com relação à pauta, Pierlângela solicitou

que fosse incluída ainda, para discussão na tarde do dia seguinte, a questão da indicação do relator

da ONU, que os indígenas gostariam de discutir na CNPI. Após concordar com a inserção de mais

esse ponto de pauta, o presidente pediu então que os membros se manifestassem e, caso não

houvesse ressalvas, que pudessem concluir a discussão sobre a pauta e dar início efetivo aos

trabalhos. A propósito, o representante indígena Arão Guajajara fez observação a respeito da

escassez de tempo para discussão dos pontos em pauta; a apresentação sobre proposta de

reestruturação da Funai era o ponto que gerava mais preocupação, por estar agendado para o dia

seguinte à tarde, coincidindo com o retorno de alguns representantes e portanto esvaziando a

plenária, em face do que solicitou ao presidente especial atenção. Esclarecendo a questão, o

presidente afirmou que sua proposta é que a reestruturação seja discutida no dia seguinte, no

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período da manhã e não à tarde, como se referira Arão Guajajara. Este tomou conhecimento da

informação e reiterou o interesse da bancada indígena com relação ao tema reestruturação.

Dando continuidade à consulta à plenária, o presidente passou à aprovação da ata

da 2ª Reunião Ordinária da CNPI, perguntando se haveria algum ajuste ou comentário a fazer

com relação à mesma, diante do que não houve manifestação da plenária. O presidente lembrou que

na pasta de cada um dos membros havia cópia da ata completa e da síntese dos encaminhamentos

aprovados na referida reunião, convidando os membros a se manifestarem com relação à ata. Nesse

ponto, o representante do MDS, Aderval Filho, pediu a palavra para apresentar sugestão,

afirmando que embora os membros tenham recebido a ata com antecedência, devido às várias

atividades desenvolvidas pelos representantes de governo em seus respectivos ministérios, podem

não ter tido tempo de analisar devidamente a ata. Nesse sentido, propõe que se altere o momento de

aprovação da ata, uma vez que, se a ata for usualmente aprovada ao término da reunião, ou nos

últimos momentos desta, teriam mais oportunidade para lê-la, durante os dois dias de reunião, em

que estão disponíveis para a Comissão. A proposta então foi colocada em votação na plenária e

aprovada sem ressalvas, ficando portanto definido que a aprovação da ata da 2ª Reunião seria feito

num momento posterior.

A seguir se passou ao primeiro ponto de pauta da reunião, qual seja, a discussão

sobre a proposta de texto para o anteprojeto de lei criando o Conselho Nacional de Política

Indigenista, conforme trabalhada pela respectiva subcomissão. Para isso, passou-se à projeção no

telão do texto, estruturado em três colunas: propostas para plenária, da representação indígena, dos

órgãos governamentais. Como metodologia, adotou-se a leitura de cada um dos artigos, abrindo-se

a palavra para ressalvas e sugestões, discutindo-se os pontos em que houvesse divergência,

aprovando ou deixando o item pendente, para definição em outra oportunidade. A discussão do

Capítulo I - Das finalidades e competências, do Capítulo II - Da composição, assim como da

Seção I - Da Representação Federal, transcorreu sem maiores divergências, aprovando-se todos os

artigos, com alterações pontuais em termos de linguagem. No entanto, houve polêmica com respeito

ao artigo 7° da Seção II, que trata sobre a representação dos povos e das organizações indígenas,

cuja redação o representante do MDS, André Araújo, solicitou que fosse melhorada, diante do que o

presidente propôs que alguém da subcomissão apresentasse proposta nesse sentido, tendo enfim se

adotado a seguinte redação: "Os povos indígenas e as organizações indígenas escolherão seus

representantes titulares e suplentes de acordo com as seguintes regiões, sendo que cada

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representante regional deverá ser de um povo indígena", aprovada pela plenária, inclusive o número

de representantes por região. Continuando a discussão da Seção II, passou-se ao parágrafo primeiro,

em que se lê: “O povo indígena que tenha tido um de seus membros eleito para um mandato no

CNPI não poderá ser reeleito para um mandato subseqüente”, foi solicitado que o plenário se

manifestasse; o representante da Funasa, Edgard Magalhães, posicionou-se afirmando que a

redação também estava truncada, não ficando claro a seu ver se quem não poderia ser reeleito era o

povo indígena ou o membro eleito para mandato. A fim de dar prosseguimento, o presidente

solicitou que esse item, assim como outros pendentes, fosse revisto pela subcomissão ou assessoria,

afirmando que, a seu ver, o conteúdo estava claro para o plenário, pela manifestação e pelo

consenso que houve, mas sugerindo que a assessoria formulasse um texto mais claro, considerando

aprovado o parágrafo. Após discussão generalizada, a representante indígena Pierlângela

Wapichana defendeu que o uso dos termos povo indígena restringia excessivamente as

possibilidades e que portanto se mudasse a redação, ao que o presidente comentou que isso

significaria mudar o conceito subjacente ao texto e não apenas a forma, e portanto o assunto teria de

ser debatido; pelo que entendia da fala de Pierlângela, prosseguiu, estaria dizendo que se poderia ter

mais de um só povo, ao que esta esclareceu que poderia ser reeleito o mesmo povo e não a mesma

pessoa. A esse respeito, o representante Jecinaldo Sateré-Mawé pediu a palavra, defendendo que se

tomasse como lição a escolha dos membros da Comissão, cujo processo de escolha considera ter

sido claro, e que se trabalhe, no anteprojeto ou por outros meios, o detalhamento do processo de

escolha dos representantes indígenas para o Conselho. Nesse sentido, propôs que em algum

momento, em determinada parte do regimento ou em outro documento mais adequado, que a

comissão delibere que o processo de seleção seja feito nas regiões e como deverá se dar tal

processo, destacando ser muito importante que se garanta a transparência do processo, sem com isso

dificultá-lo, inclusive o próprio funcionamento do Conselho Nacional. A sua proposta foi de que se

definissem as linhas gerais no anteprojeto de lei, mas que se tenha algum instrumento mais

detalhado, seja o regimento interno do Conselho outro. O presidente afirmou considerar correta a

preocupação de Jecinaldo, e que o a seção dois tratava um pouco disso; a dúvida, prosseguiu, seria

quanto a incluir o detalhamento no próprio projeto de lei ou remeter para algum outro instrumento

legal, como o regimento. Saulo Feitosa - CIMI, a esse respeito, afirmou que inicialmente entendia

que se poderia estar referindo ao representante e não ao povo, caso em que não haveria problema.

Porém, gostaria de ponderar, porque se criaria uma situação em que não seria possível dar

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continuidade aos trabalhos, pois uma vez que todos os membros houvessem concluído seu mandato

se teria uma conselho totalmente novo, desta forma não havendo ninguém que garantisse uma certa

continuidade por parte da representação indígena. A fim de evitar isso, o movimento pode avaliar

ser interessante reeleger alguém, prever um percentual para garantir essa continuidade, e se deveria

pensar sobre esse ponto. Diante dessas ponderações, concluiu o presidente, esse é um dos temas que

valeria a pena remeter ao debate em outra oportunidade, destacando-o como pendente entre os

demais e não o considerando aprovado, cabendo aos assessores e à subcomissão trabalhar propostas

para discussão.

Prosseguindo na leitura da proposta de anteprojeto de lei, bem como à aprovação dos

pontos em que havia consenso, passou-se ao 2° parágrafo, o qual dizia: “As áreas geográficas a que

se refere o caput deste artigo compreendem as seguintes unidades da Federação:

1) Amazônica: estado do Amazonas, Pará, Mato-Grosso, Maranhão, Tocantins, Rondônia,

Acre, Roraima e Amapá;

2) Nordeste-Leste: estado do Ceará, Bahia, Minas Gerais, Piauí, Pernambuco, Alagoas,

Paraíba, Rio Grande do Norte, Sergipe e Espírito Santo;

3) Sul e Sudeste: estado do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Rio de

Janeiro;

4) Centro-Oeste: estado de Mato Grosso do Sul e Goiás.

O presidente solicitou então ao plenário que se manifestasse quanto ao caput, ao que

o representante da Funasa, Edgard Magalhães, pediu a palavra para opinar que seria mais

adequado usar Amazônia ao invés de Amazônica, que seria um uso mais corrente. Porém, ao

consultar o plenário o presidente não julgou existir apoio suficiente à idéia, deliberando pela

manutenção do termo conforme proposto pela subcomissão, considerando aprovado o parágrafo 2º,

incisos de I a IV . Passando ao parágrafo terceiro, em que se lia: “Os representantes de que tratam

dos incisos I a IV do caput serão indicados em reuniões dos povos e organizações indígenas

localizados em cada uma das respectivas áreas geográficas descritas no parágrafo 2º deste artigo,

convocadas e coordenadas pelas organizações indígenas regionais, ouvidas as organizações

estaduais e locais, as quais deverão registrar em ata as escolhas dos seus representantes”. O

presidente pediu manifestação sobre o referido parágrafo, o qual destacou como sendo muito

importante, passando a palavra para a representante indígena Francisca Novantino Pareci, que

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também ressaltou a relevância do mesmo, principalmente para os estados e os povos que estão hoje

se organizando, bem como suas organizações. Francisca questionou, no entanto, a proposta de

serem ouvidas apenas, o que a seu ver não tem muito mérito, devendo-se garantir a sua participação

efetiva, inclusive das organizações estaduais, "até porque a gente de Mato Grosso sempre é

prejudicado em muitos momentos de discussões locais etc., exatamente porque ser ouvido é sempre

considerado como participação". O presidente destacou que essa ponderação dizia respeito

sobretudo à bancada indígena, em razão do que questionou se esta teria alguma sugestão de

encaminhamento. "Só para ajudar", disse o presidente, "do que entendi da fala de Francisca, a

palavra ouvidas deveria ser substituída, por exemplo, por algo como acompanhamento das

organizações estaduais". Pierlângela sugeriu então que se usassem os termos assegurar a

participação, ao que o presidente reformulou a proposta, que previa a substituição de "ouvidas" por

"assegurada participação das organizações estaduais e locais". A seguir, Saulo Feitosa opinou no

sentido de que se deveria mudar a pontuação, dividindo o período, para evitar que ficasse muito

extensa, iniciando o 4° parágrafo em "As escolhas...". A esse respeito, o presidente perguntou aos

assessores jurídicos, mais precisamente ao Dr. Paulo Guimarães, se o parágrafo terceiro, da forma

como está proposto, não estaria muito longo e deveria ser dividido, ao que este respondeu que

poderia sim ser dividido. O presidente então pediu sugestões de nova redação, mas primeiro propôs

que tratassem do conteúdo, discutindo depois a questão da divisão do parágrafo, consultando o

plenário se haveria alguma manifestação contrária a se mudar o texto para: “Os representantes de

que tratam ... convocadas e coordenadas pelas organizações indígenas regionais, assegurada a

participação das organizações estaduais e locais em todo o processo de escolha do representante”.

Jecinaldo Cabral manifestou-se, afirmando não ser contrário, mas propondo que de fato se

dividisse o parágrafo e que, além de se referir à participação "em todo o processo de definição do

conselheiro", ficando a redação da seguinte forma: “Convocadas e coordenadas pelas organizações

indígenas regionais, assegurada a participação das organizações estaduais e locais em todo o

processo de escolha do representante”. Arão Guajajara, a seguir, disse que, em relação à

continuidade, está claro, subentende-se o sentido, mas que, como foi falado anteriormente, "aqui

cada palavra muda o sentido", e portanto talvez de devesse assegurar a participação das

organizações estaduais e locais. O presidente por sua vez esclareceu que o capítulo já trata disso

em outro ponto, diante do que Arão se desculpou, enquanto o presidente prosseguiu na explicação

de que a seção dois trata da representação dos povos e das organizações indígenas. Sem mais

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ressalvas por parte dos membros da Comissão, o presidente releu o texto do 3° parágrafo da Seção

II, contendo as sugestões apresentadas: “Os representantes de que tratam dos incisos I a IV do

caput, serão indicados em reuniões dos povos e organizações indígenas localizados em cada uma

das respectivas áreas geográficas descritas no parágrafo segundo deste artigo, convocadas e

coordenadas pelas organizações indígenas regionais, assegurada a participação das organizações

estaduais e locais em todo o processo de escolha do representante”, perguntando a seguir se havia

manifestação contrária à aprovação dessa redação. Uma vez não tendo havido ressalvas, o

presidente considerou aprovado o texto, lembrando que deveria ser dividido em dois parágrafos, ao

que foi informado que já havia proposta de divisão, segundo a qual o 4° parágrafo teria a seguinte

redação: “As escolhas de seus representantes deverão ser registradas em ata”, sendo a proposta

aprovada.

Dando prosseguimento, o presidente passou à leitura do 5° parágrafo, que diz: “Os

povos e as organizações indígenas responsáveis pela realização das reuniões regionais deverão

encaminhar ao Ministro da Justiça, até trinta dias antes do término do mandato de seus

representantes, a indicação de seus titulares e suplentes, juntamente com a ata da respectiva reunião

e documentos que demonstrem a ampla divulgação do processo de escolha entre os povos e

comunidades da área geográfica pertinente”. A seguir questionou se haveria algum comentário a

fazer quanto a ele, ao que nenhum membro se manifestou, considerando-o aprovado, no entanto foi

então informado que o mesmo havia sido excluído da proposta final, uma vez que seu conteúdo já

está contemplado em outra parte do anteprojeto. Com relação ao 6° parágrafo, foi aprovado sem

ressalvas, com a seguinte redação: “Eventuais alterações de indicação representantes na CNPI, na

forma a ser prevista no Regimento, deverão ser encaminhadas formalmente ao Ministro da Justiça

com antecedência mínima de vinte dias da data prevista para a realização da reunião subseqüente,

excetuando-se o cumprimento deste prazo em face de razões de força maior”. O 7° parágrafo, após

alterações, passou a ter a seguinte redação: “As reuniões para indicações dos representantes

indígenas deverão ser acompanhadas por representante designado pela Secretaria Executiva da

CNPI, sendo obrigatório o convite para participação de membro do Ministério Público Federal”. A

propósito, Pierlângela Wapichana perguntou se não haveria problemas devido ao fato de que a

Secretaria já deverá estar em funcionamento antes do Conselho propriamente dito, sendo que, no

caso da Comissão, primeiro começou os trabalhos e depois fez a indicação da Secretaria Executiva.

"Como um representante da Secretaria Executiva vai acompanhar se ele [o Conselho] não foi nem

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formado?". Após afirmar que esta se tratava de uma boa pergunta, o presidente passou a palavra ao

representante governamental Kleber Gesteira, que sugeriu que a Comissão organizasse a primeira

eleição, daí em diante ficando por conta do Conselho, proposta esta que o presidente colocou para

deliberação da plenária. Celso Correa, da Casa Civil, opinou não haver problema em se fazer isso,

explicando que, uma vez aprovada a lei, há vários procedimentos iniciais até a implementação e

nomeação dos representantes do Conselho, e considerando que ficará vinculado ao Ministério da

Justiça, logo após a aprovação da lei o ministro da Justiça poderá designar um(a) secretário(a)

executivo para o Conselho entre os funcionários do Ministério da Justiça, o qual poderá fazer o

acompanhamento. O problema, destacou, seria vincular à CNPI, que é provisória, criada por

decreto, e até que se aprove a lei pode ter tido alguma mudança; sua posição, portanto, é que não

haveria problemas em deixar o texto como está. Pierlângela Wapichana deu continuidade à

discussão questionando quem vai escolher a Secretaria Executiva do Conselho, se está previsto no

anteprojeto que será designada pelo Ministério da Justiça. O presidente respondeu que isso deve

estar previsto em algum artigo sim, ao que foi informado que consta no 12° artigo: “O CNPI disporá

de uma Secretaria Executiva, subordinada ao seu presidente”, sendo informado ainda que em todos

os conselhos que existem, normalmente o(a) secretario(a) executivo(a) é indicado(a) pelo presidente

ou ministro ao qual o conselho é vinculado. A Secretaria Executiva, como o próprio nome diz, é

executiva, não política, e portanto cuida da execução de atividades que dizem respeito ao

funcionamento do conselho. Nesse sentido, disse Pierlângela, concorda com a ponderação de Celso

Correa. Com vistas a dar encaminhamento à questão, o presidente reiterou o que havia sido dito

pelo representante da Casa Civil, no sentido de que, aprovada a lei, o ministro da Justiça deverá

imediatamente nomear a Secretaria Executiva e esta poderá dar início aos trabalhos e

procedimentos necessários; com relação à sugestão apresentada anteriormente por Kleber Gesteira,

questionou se gostaria de colocar em votação ou retirá-la, em face das novas considerações. Kleber,

concordou que se retirasse a proposta de que o processo de escolha fosse feito pela Comissão,

restando então a ponderação de Pierlângela e a proposta do Celso Correa, no sentido de que se

mantivesse a forma do artigo, mesmo porque a Secretaria Executiva, criada pelo ministro, uma vez

aprovada a lei, deverá adotar os procedimentos necessários para o acompanhamento para a escolha

dos representantes indígenas do Conselho. Ainda a propósito dessa questão, Celso Correa afirmou

que, ao fazer os comentários minutos atrás, ainda não conhecia o teor do artigo doze e agora que já

está ciente dele considera ser necessário que se busque compatibilizar as duas redações. A melhor

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alternativa, a seu ver, é que assim que a lei venha a ser aprovada o ministro faça a designação da

secretaria executiva, que pode até ser provisória, vindo uma nova secretaria a ser designada pelo

presidente do CNPI mais tarde, algo assim. Enfim, a proposta consiste em se compatibilizar a

redação do presente artigo e do 12°. Pedindo novamente a palavra, Pierlângela Wapichana disse que

gostaria de propor uma reflexão para a representação indígena, perguntando se acreditam que

necessariamente seria preciso estar presente um representante da Secretaria Executiva na ocasião da

escolha dos membros, uma vez que já haviam definido a participação das organizações maiores e

também das organizações regionais, considerando importante a presença do Ministério Público

Federal, mas não necessariamente a de representante da Secretaria Executiva, já que se trata de um

processo próprio dos povos indígenas. Diante disso, continuou Pierlângela, gostaria de apresentar

proposta no sentido de que se excluir a Secretaria Executiva como um todo, prevendo-se apenas a

presença do Ministério Público Federal. O presidente, por sua vez, sugeriu que, considerando toda

a polêmica gerada pelo tema, fosse destacado em vermelho como indicação de que se voltasse a

discuti-lo posteriormente, para que se pudesse dar seqüência à discussão dos outros parágrafos.

Sem manifestação em contrário, passou-se então à discussão do próximo item.

Passou-se então à leitura da Seção III - Dos representantes das entidades

indigenistas, cujo artigo 8° diz: “Os representantes de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins

lucrativos, que atuam há mais de cinco anos e de forma sistemática na atenção em apoio aos povos

indígenas escolherão, por votação, seus representantes, titulares e suplentes em reunião para qual

serão convidadas todas as entidades que preenchem o requisito deste artigo”, o qual foi aprovado

sem ressalvas. A seguir, procedeu-se à leitura do § 1°, em que se lê: “As organizações indígenas

regionais e o Ministério Público Federal deverão ser convidados para acompanhar a reunião objeto

do caput deste artigo”, e a seguir à do § 2°, cuja redação é a seguinte: “No caso de vacância de

entidade indigenista com titularidade, assumirá efetiva e automaticamente a vaga a entidade

suplente mais votada em ordem decrescente nas respectivas assembléias.” Em face do

questionamento do presidente quanto a ressalvas aos parágrafos, Jecinaldo Cabral dirigiu-se ao

plenário para solicitar que fosse melhor especificada a informação constante no § 1°, esclarecendo

se a referência era a organizações indígenas de âmbito regional, estadual ou local, pois a seu ver

estava disposto de forma muito geral. O presidente, por sua vez, remeteu a questão a um

representante das entidades indigenistas, Gilberto Azanha ou Saulo Feitosa, ao que Gilberto Azanha

respondeu que seria preciso garantir a possibilidade de tornar a proposta viável, que não seria

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possível fazer uma assembléia com todas as organizações locais, assim, poderia ter um caráter

regional e nacional talvez, simplificando-se a convocatória. Aderval Filho, do MDS, afirmou que a

princípio os membros da CNPI teriam legitimidade como representantes, porque foram escolhidos

em ampla discussão, para poder acompanhar esse processo nas respectivas entidades, ao que

presidente afirmou considerar que a ponderação feita por Aderval as sugestões na prática são a

mesma coisa, pois se for feito levantamento sobre quais são as organizações de caráter regional e

nacional, poderá se verificar que são as mesmas. Portanto não vê nenhuma dificuldade de que se

acrescente as informações, conforme a sugestão da bancada das organizações indigenistas, no

sentido de que as organizações indígenas de caráter regional, nacional e o Ministério Público

Federal sejam convidados para acompanhar a reunião objeto do caput deste artigo. Desta forma, foi

colocada em votação a redação, ao que Jecinaldo comentou que ao se dizer "nacional e regional"

pode se dar o entendimento de que os dois têm estar presentes, o que para ele seria contraditório.

Assim, o presidente sugeriu que se substituí-se “e” por “ou”, lendo-se “As organizações indígenas

de carácter regional ou nacional”. Jecinaldo comentou então que seria preciso definir mais

claramente quem deve convocar essa reunião de indigenistas; comentou ainda: “conhecendo o

nosso movimento indígena, a gente tem organizações regionais que na verdade o conjunto disso é o

movimento indígena nacional. Então são as organizações regionais”, assim, propôs Jecinaldo,

deveria se referir apenas às organizações indígenas regionais. O presidente esclareceu então que a

redação proposta seria: “As organizações indígenas regionais e o Ministério Público Federal”, ao

que Jecinaldo reiterou sua pergunta sobre quem convocaria essa reunião, em face do que Márcio

Meira disse que deveriam ir por partes: primeiro, o texto do § 1°: “As organizações indígenas

regionais (suprimindo “de caráter”) e o Ministério Público Federal deverão ser convidados para

acompanhar a reunião objeto do caput deste artigo”, abrindo a palavra para manifestações sobre o

parágrafo 1°, ao que não houve ressalvas. A seguir o presidente perguntou se haveria manifestação

contrária ao restante do artigo oitavo e do § 2°, quando então Edgard Magalhães, da Funasa,

afirmou que não tinha posição contrária e sim sugestão, no sentido de que se coloque

especificamente o termo “os representantes das entidades indigenistas, entidades jurídicas de direito

privado... ”, justificando a forma utilizada está muito ampla, possibilitando que outras organizações,

inclusive não indigenistas, reivindiquem representação com base nesse artigo, por exemplo uma

entidade indígena que atende toda essa definição, mas não é indigenista e sim indígena. O

presidente no entanto esclareceu que a Seção III se refere especificamente aos representantes das

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entidades indigenistas e que portanto se estava tratando, neste momento, no artigo oitavo, parágrafo

primeiro e segundo, das entidades indigenistas, não sendo necessário explicitar mais, ao que Edgard

argumentou que a informação só constava no título, com o presidente repetindo que a seção tratava

especificamente das entidades indigenistas. Edgard Magalhães, novamente com a palavra, insistiu

que a informação constava apenas no título, e que, num caso extremo, não haveria condições de se

concretizar de fato, mas que se deveria considerar a hipótese, por exemplo, de uma entidade

indígena que não participa do movimento indigenista nacional, e tem ligação a um interesse

regional muito específico, viesse a entrar com mandato de segurança na Justiça, dizendo atender

essas condições, ou mesmo que entidades comerciais ou empresas, sendo empresa privada sem fins

lucrativos, que portanto atende a todas essas características, reivindique sua participação, entrando

com o mandato de segurança e eventualmente obtendo uma liminar da Justiça nesse sentido. Assim,

defendeu Edgard, não custaria explicitar a informação, já que o termo entidade indigenista só consta

no título do capítulo da seção. O presidente retomou a palavra, tecendo comentários sobre a

posição de Edgard, no sentido de que a informação já está no título da seção, porém, considerando a

seqüência de ponderações feitas pelo representante da Funasa, em tese podem ser feitas por

qualquer entidade, incluindo-se ou não os termos “entidades indigenistas” e qualquer entidade

poderia fazer uma manifestação judicial. Portanto a seu ver o importante seria garantir o processo

de decisão, o processo eleitoral e de escolha que será feito para a definição dessas entidades, o que

considera estar claro no artigo oitavo, afirmando ser esse o seu entendimento e a seguir abrindo para

novas manifestações. Wilson Matos dirigiu-se ao presidente afirmando que, sem querer ser

inoportuno, gostaria de perguntar se os representantes indígenas serão alternados e portanto não

poderão ser os mesmos indicados, destacando que pelo que entendeu essa é uma discussão que será

feita depois, mas que gostaria de perguntar se as entidades indigenistas também serão alternadas, se

poderão ser as mesmas. O presidente disse que não poderia responder essa pergunta e que talvez os

membros da subcomissão ou a assessoria jurídica sim, esclarecendo se, em relação à reeleição,

valeria para essa seção o mesmo que vale para as entidades indígenas. Um dos membros dirigiu-se

ao indígena Wilson Matos, afirmando que, quando se trata dos representantes indígenas, são mais

de 180 povos indígenas, enquanto que as entidades indigenistas "se contam nos dedos", pois são

entre cinco e sete, correndo-se o risco, por esse mecanismo, de não sobrar ninguém, ou se faz um

processo de escolha, para não repetir, e vão ser eleitas as mesmas entidades, esse é o problema.

Wilson Matos, por sua vez, ponderou afirmando que conhece bem mais entidades do que cinco,

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que faz estudos na área e tem certeza de que há mais entidades, inclusive em nível nacional, razão

pela qual fizera a pergunta.

Com vistas a dar encaminhamento à questão, o presidente destacou que duas

ponderações haviam sido feitas pelo plenário, sendo que, com respeito à de Edgard Magalhães, já se

posicionara, no sentido de que não se precisava necessariamente repetir o que já está no título da

seção III, uma vez que todos os pontos por ele aventados poderiam ser levantados,

independentemente de repetirem os termos propostos. Assim, o texto do artigo ficaria como estava,

ou seja: “Os representantes de pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos que atuam há

mais de cinco anos e de forma sistemática na atenção em apoio aos povos indígenas escolherão, por

votação, os seus representantes, titulares e suplentes, em reunião para qual serão convidadas todas

as entidades que preenchem o requisito deste artigo”, questionando se haveria posição contrária a

isso. Uma vez não tendo havido mais manifestações, o presidente então considerou o texto

aprovado. Com relação ao § 1°, a proposta é que o texto, com as modificações feitas, tivesse a

seguinte redação: “As organizações indígenas regionais e o Ministério Público Federal deverão ser

convidados para acompanhar a reunião objeto do caput deste artigo”, questionando se haveria

alguma objeção a respeito, após o que, uma vez não havendo, considerou o parágrafo aprovado. A

seguir o presidente colocou § 2° em votação, cujo texto diz: “No caso de vacância de entidade

indigenista com titularidade, assumirá efetiva e automaticamente a vaga a entidade suplente mais

votada, em ordem decrescente das respectivas assembléias”, tendo o mesmo sido aprovado pelo

plenário. Aprovado esses textos, o presidente disse que gostaria de chamar a atenção para as

ponderações feitas anteriormente, que estão além do que consta nos referidos artigos, as quais

remeteu à subcomissão para debate mais tarde, na seqüência. Em primeiro lugar, trata-se do ponto

levantado por Jecinaldo, com relação a quando e quem convoca esse processo, informou; o segundo

trata-se do ponto levantado por Wilson Matos com relação à questão da reeleição, sobre se caberia

colocar nessa seção o mesmo que está previsto para as organizações indígenas em relação à

reeleição. Uma vez não havendo consenso sobre esses dois pontos, o presidente remeteu-os para

debate em momento posterior, quando a subcomissão deveria também apresentar sugestões. Dando

seqüência aos trabalhos, foi solicitado agregar mais um item, considerando a analogia feita por

Wilson Matos com referência às organizações indígenas, quanto às quais se reporta à abrangência

regional, o que não é feito no caso das organizações indigenistas. Nesse sentido, foi sugerido

equiparar as exigências, com relação à questão do caráter nacional ou regional das entidades

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indigenistas.

Passou-se a seguir ao Capítulo III , Do funcionamento, artigo 9°, cujo texto

aprovado diz: “O Conselho Nacional de Política Indigenista reunir-se-á ordinariamente a cada três

meses e extraordinariamente sempre que o seu Presidente o convocar”, aprovado pelo plenário sem

que se registrasse nenhuma manifestação. O artigo 10° foi igualmente aprovado, com a seguinte

redação: “Aos representantes indígenas é assegurada a realização de pelo menos um dia de reunião

preparatória antecedente às reuniões ordinárias ou extraordinárias do CNPI”. Quanto ao artigo 11°,

em que se lê: “O CNPI será presidido pelo Ministro da Justiça”, o presidente questionou o plenário

se haveria alguma manifestação, ao que Aderval Filho/MDS, posicionou-se no sentido de que,

apesar do interesse que o Ministro tenha em presidir, seria mais adequado que este delegasse a uma

outra pessoa a função de presidente do Conselho, como por exemplo ao presidente da Funai,

questionando os demais se haveria algum empecilho para isso, ao que se destacou que, caso se

mantenha a redação, o artigo seria determinante. O presidente afirmou então que gostaria de

colocar uma questão sobre o assunto, até porque a discussão não fora aprofundada na reunião

passada. “Eu vejo que isso não é um problema, da seguinte forma”, disse, “pelo que ficou

estabelecido aqui, os representantes dos ministérios têm sempre dois suplentes, indicados pelo seu

representante titular. A única ponderação que eu faço é a seguinte: normalmente os conselhos são

presididos mesmo pelos ministros, só que ministro geralmente tem dificuldade de agenda, inclusive

para estar presidindo o conselho. Então normalmente eu vejo que, no caso do conselho, o ministro

da Justiça poderá delegar a um de seus dois suplentes a presidência do conselho, na sua ausência”.

A seguir o presidente remeteu a questão aos membros da subcomissão, em busca de um melhor

entendimento, tendo em vista uma questão prática: “o ministro da Justiça, digamos que por sua

agenda, não poderá estar presidindo a reunião do conselho. Neste caso, quem assumirá no lugar do

presidente do Conselho claro, é o suplente do presidente!”, afirmou. Nesse sentido, prosseguiu

Márcio Meira, a primeira pergunta é: “se o representante, por exemplo da Funai – porque a Funai

tem um representante no conselho – se o ministro por exemplo escolhe o presidente da Funai como

substituto dele para presidir o Conselho, no caso, o suplente do representante da Funai assumiria?

Essa é uma pergunta que eu gostaria de fazer para subcomissão, para a gente poder tratar da prática

do funcionamento do Conselho”. Aderval Filho, por sua vez, exemplificou sua dúvida citando o

exemplo do ministro Ananias Patruz, que coordena uma comissão nacional, “não conselho e sim

uma comissão nacional”, disse Aderval, “aliás, ele preside, mas quando a gente foi de fato

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considerar essa questão de que se preside ou não, [verificou-se que] presidir significa que, se ele

não estivesse presente nas reuniões ordinárias, a reunião não poderia acontecer, então havia um

impeditivo legal”. Para solucionar a questão, continuou, delegou-se a presidência a uma secretária,

ou se flexibilizou a questão, de forma que a presidência coubesse ao ministro e/ou a quem ele

delegasse. “Porque senão a reunião não acontece, se o ministro da Justiça não estiver sentado onde

você [Márcio Meira] está, a reunião do Conselho não pode acontecer em termos jurídicos, pelo que

eu entendo, agora, pode ser que haja um equívoco da minha parte”, concluiu Aderval. A seguir com

a palavra, Carlos Nogueira/MME, solicitou fazer uso da palavra a fim de fazer uma contribuição

ao que fora falado por Aderval Filho, no sentido de saber qual é a função do presidente da Funai,

citando o exemplo de seu órgão, no âmbito do qual está sendo criado o Conselho Nacional de

Política Mineral, presidido pelo ministro e de caráter consultivo, enquanto que a secretaria

executiva é ocupada pelo Secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral, e no caso de

impedimento do presidente do conselho, que seria o ministro, a reunião acontece com o secretário, o

que foi definido oficialmente. Carlos Nogueira ressaltou que sua intenção era demonstrar o quanto é

difícil a agenda de um ministro, por exemplo: “ele vai vir na abertura, cinco minutos ele vai sair,

não vai ficar um dia, dois dias, principalmente em um conselho pesado como esse aqui, que tem um

dia antecipado, dois depois, no mínimo dois dias de discussão, dos quais ele dificilmente poderá

participar”. O representante do Ministério de Minas e Energia prosseguiu destacando não ter visto a

função do presidente da Funai na proposta de conselho em discussão, e que normalmente os

conselhos têm um secretário executivo, que assume como se fosse um vice-presidente e assume o

lugar do ministro, já que “dificilmente o ministro vai ficar o dia todo aqui e quando ele tiver que se

ausentar vai ter que delegar. É o caso que a gente está pensando lá para o nosso conselho

consultivo, em que o ministro é o presidente e o secretário executivo é o Secretário de Geologia, e

na ausência do presidente o secretário assume, está escrito lá no texto que está sendo submetido à

instância competente”, ao finalizar destacando que se tratava de uma contribuição ao que Aderval

havia dito momentos atrás. A seguir, Jecinaldo Cabral pediu a palavra para fazer uma proposta à

comissão, afirmando “eu assisti e participei de um processo que eu nunca tinha visto dentro do

governo ainda, que foi o processo de eleição do Conselho Nacional de Saúde. E pela primeira vez o

Conselho Nacional de Saúde fez uma eleição com a participação de todos os membros que

compõem o conselho nacional, e eu queria fazer essa preposição ao Conselho Nacional de Política

Indigenista, que não fosse uma presidência a partir somente do governo, mas se estamos aqui em pé

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de igualdade, também os povos indígenas reivindicam a presidência, para também terem

participação na presidência desse conselho nacional”. O Presidente, retomando a palavra,

perguntou se mais alguém gostaria de fazer uso da palavra, ao que a representante da SEPPIR,

Ivonete Carvalho, pediu a oportunidade de se manifestar. A seguir, desejou bom dia a todos e a

todas, apresentando-se como sendo Chefe de Gabinete Substituta da SEPPIR e destacando sua

intenção de contribuir com este ponto, que afirmou julgar extremamente importante, assim como

todos os outros artigos que foram trabalhados até aquele ponto, ressaltando ainda que “acho que nós

estamos todos aqui vivenciando um momento histórico, de protagonismo e de demarcação política

dos direitos da população indígena no Brasil”. Com relação ao artigo, Ivonete Carvalho declarou

que gostaria deixar questões para reflexão, no sentido de que, pelo caráter que tem a presidência de

um conselho, que se reflita sobre a importância de se ter um ministro à frente da presidência,

expressando concordância com a proposta de Jecinaldo Cabral, para que se pense na questão da

pluralidade e da representação dos povos indígenas na direção do conselho, afirmando ainda ser

importante pensar na perspectiva de suplente, “porque todos nós sabemos como são realmente

complicadas as agendas dos ministros”. Ivonete Carvalho declarou ainda que o cargo de presidente

é um cargo político, diferentemente da secretaria executiva por exemplo, afirmando: “eu acho que a

secretaria executiva coordena uma reunião, agiliza uma reunião, mas o papel do presidente ou do

seu representante, seu suplente, é fundamental na coordenação de uma reunião e de um conselho”.

O presidente se manifestou a seguir, afirmando que gostaria de deixar para reflexão a questão da

importância deste formato, de se ter a figura do ministro, mas também se ter a representação dos

povos indígenas neste papel, fundamental, que é a coordenação de um conselho, desempenhar o

papel político do conselho. A seguir, foi reforçada a posição de Jecinaldo e afirmando que deveria

haver um dispositivo na lei definindo que o presidente do Conselho seria eleito na primeira seção

do Conselho. A seu ver, essa regra deveria prevalecer, declarando ainda “que o fato dos conselhos

serem tradicional e historicamente presididos por ministros é só um dado, não significa que deva ser

assim para sempre. E eu acho que da mesma forma que é importante, em caráter simbólico, político,

o fato de o ministro estar presidindo, há também um mesmo simbolismo no fato de um

representante indígena o estar presidindo. Eu acho muito interessante também, tenho acompanhado

o processo do Conselho Nacional de Saúde, acho que é um ganho, e nós estamos partindo para

políticas plurais, para órgãos de controle que tenham essa composição plural, e não há lógica em

estabelecer que a presidência deva ser necessariamente do governo”. Retomando a palavra, o

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presidente sugeriu que, diante desse debate, seguindo o mesmo critério que vem sendo seguido até

o presente momento, o artigo 11° seja destacado em vermelho, e se volte ao debate logo em

seguida, uma vez que não há consenso em relação a esse ponto.

Não havendo objeções, passou-se então para o artigo 12°, cujo texto diz: “O CNPI

disporá de uma secretaria executiva, subordinada ao seu Presidente”, após a leitura do qual o

presidente questionou se haveria alguma manifestação, e como a princípio não houve, considerou o

artigo aprovado. A seguir passando-se à leitura do artigo 13°, que diz “O CNPI será secretariado

pela Funai”, quando o representante do Ministério de Minas e Energia, Carlos Nogueira, pediu a

palavra para apresentar questionamento sobre o artigo 12°, em que se diz que o CNPI disporá de

uma secretaria executiva subordinada ao seu presidente, destacando a relação entre os artigos e as

implicações disso. Carlos Nogueira destacou afirmou ainda que, anteriormente, quando fizera sua

fala, não havia ouvido as outras posições, portanto não tinha conhecimento de que há vinte anos se

desenvolve a metodologia descrita na saúde, e que está funcionando, o que, como foi colocado pela

SEPPIR, é um exercício de democracia com o qual se precisa aprender. Com relação à secretaria

executiva, prosseguiu, gostaria de saber se o secretário executivo também seria escolhido e se isso

também seria feito na primeira reunião, assim como gostaria de voltar à pergunta feita

anteriormente, sobre qual é a função da Funai no Conselho, se o presidente teria a função de

secretário, até porque logo após se está dizendo que a Funai deveria exercer o secretariado do

Conselho, e no próximo artigo se está dizendo que deverá exercer o suporte técnico logístico, mas

não se diz que deverá exercer a presidência. Então, concluiu Carlos, eu gostaria de fazer a mesma

pergunta do item anterior neste item também, porque o secretário executivo tem uma função

importante em qualquer conselho. Jecinaldo Cabral, a seguir, afirmou concordar com o

representante do Ministério de Minas e Energia, no sentido de que deve haver quanto à necessidade

de que a secretaria executiva esteja subordinada ao seu presidente, no entanto a seu ver a discussão

dos artigos 12° e 13° deverá acompanhar a discusão do artigo 11°, que ficou destacado em

vermelho para discussão posterior. O presidente concordou que não seria possível separar a

discussão desses três pontos; quanto ao 14°, em que se diz que “A Funai exercerá o suporte técnico

administrativo ao CNPI”, defendeu que, independentemente da definição política, terá que ser feito

pela Funai, por ser o órgão indigenista no Estado que tem condições de dar esse suporte,

defendendo ainda que o artigo 12° também não traz muitos motivos para polêmica. Ainda segundo

o presidente, os principais itens a discutir seriam o artigo 11° e 13°, que precisam ser discutidos

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juntos. A posição do presidente foi contestada pelo representante do MME, Carlos Nogueira, o qual

defendeu que o artigo 12° era tão importante quanto os demais, argumentando no sentido que,

supondo-se que o 13° e 14° forem aprovados e a secretaria executiva não seja exercida por alguém

da Funai, isso pode ser um problema, burocrática e administrativamente, podendo se estabelecer

uma relação complicada nesse aspecto. O presidente propôs então que se aprovasse apenas o artigo

14°, deixando o 11°, 12°, 13° serem debatidos em conjunto. Kleber Gesteira se manifestou a

seguir, solicitando que a subcomissão informasse se há diferença clara de papéis previstos nos

artigos 13° e 14°, bem como se o papel do 13° não poderia se confundir com o do 12°, uma vez que

para ele essas divisões não haviam ficado claras; Celso Correa, por sua vez, perguntou se o artigo

14° entraria na discussão. O presidente informou então que exatamente em razão dessas questões

levantadas por Kleber é que se faria discussão; com relação ao 14°, considerava não haver dúvidas,

por se referir exclusivamente ao suporte técnico e administrativo, a seu ver não existindo dúvidas

sobre isso, diferentemente do 11° e 13°, nos quais de fato há muitas dúvidas, o que justificava que

se desse continuidade à discussão sobre eles. Aderval Filho, a seguir, dirigiu-se ao plenário para

afirmar que a dúvida de Celso era pertinente, tendo em vista a confusão que poderia ser gerada caso

se tenha uma secretaria executiva, um secretariado, que não é o secretariado executivo, e um apoio

logístico e administrativo, exercidos por órgãos diferentes, sendo que a rigor a secretaria executiva

deveria cuidar de tudo isso, desde ser secretário executivo efetivo, sob o ponto de vista político, mas

também sob o aspecto administrativo, técnico, logístico, sendo que normalmente a secretaria

executiva assume os três papéis. Diante dessas questões, disse o presidente, o artigo 14° também

seria mantido em vermelho, ficando em destaque para discussão conjunta com os demais artigos

pendentes. Passou-se a seguir para o artigo 15°, cuja proposta de redação é: “O CNPI deliberará por

maioria absoluta de votos”, procedendo-se à leitura do Parágrafo único, que diz: “Será considerada,

para efeito de votação, a paridade de representantes governamentais e não governamentais”, que

também ficou pendente para ser deliberado posteriormente. Com relação ao artigo 16°, que diz: “O

presidente do CNPI votará apenas no exercício do voto de qualidade”; artigo 17°, em que se lê: “Os

representantes da Advocacia Geral da União (AGU) e do Ministério Público Federal (MPF) terão

assento permanente nas reuniões do CNPI como convidados”; artigo 18°, que diz: “O CNPI terá 6

câmaras temáticas permanentes e paritárias para análise de assuntos específicos relacionados com as

matérias de sua competência”; artigo 19°: “Sempre que julgar necessário, o CNPI convidará

pessoas, representantes de entidades da sociedade civil ou de órgãos públicos que possam colaborar

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com o desenvolvimento dos seus trabalhos”, foram aprovados sem ressalvas.

Concluída a discussão deste capítulo, passou-se ao próximo, o Capítulo IV , Da

Conferência Nacional de Política Indigenista, cujo artigo 20° diz: “A Conferência Nacional de

Política Indigenista integra a estrutura do CNPI e constitui-se em instância de participação dos

povos indígenas na formulação da política indigenista, cujos resultados e conclusões deverão ser

considerados pelo CNPI quando da aprovação das diretrizes da política indigenista nacional”, a

respeito do qual um dos membros comentou que se deve garantir a participação majoritária dos

povos indígenas, estabelecendo as regras, com a participação governamental de um terço no

máximo, dando maioria aos povos indígenas, como se faz em todas as outras conferências. Edgard

Magalhães/Ministério da Saúde, informou que Suzana/MEC [que tivera de sair] lhe pedira para

falar sobre como é a paridade na Conferência Nacional de Saúde, na qual todas as temáticas,

inclusive as de saúde indígena, obedecem à lei 8.642, que estabelece a paridade, sendo 50% de

representantes dos usuários do sistema de saúde, 25% dos prestadores de serviços e 25% dos

trabalhadores em saúde. Nos 25% dos prestadores de serviços estão incluídos os representantes

governamentais, então, 25% são prestadores de serviço de governo, 25% trabalhadores em saúde e

50% representantes dos usuários do sistema de saúde, aí englobadas todas as associações de

usuários, e as instituições de pesquisa. Jecinaldo Cabral manifestou-se a seguir, afirmando que a

fala de Edgard deixava claro que os povos indígenas devem ser maioria na conferência, defendendo

que a paridade faria sentido apenas no âmbito da comissão organizadora da conferência, na qual

deveria haver paridade entre o governo e os membros indígenas do CNPI. Ainda segundo Jecinaldo

Cabral, questões como a participação e direcionamento deveriam ser remetidas para a discussão do

regimento interno da conferência, não sendo possível se pensar em paridade na conferência em si,

uma vez que se estaria fazendo uma consulta às populações indígenas, de forma que a participação

do governo deveria se restringir à coordenação e à composição da comissão organizadora. O

presidente Márcio Meira deu prosseguimento, afirmando que, levando em conta a proposta de

Jecinaldo, o artigo teria o seguinte teor: “A conferência nacional dos povos indígenas integra a

estrutura do CNPI e constitui-se em instância de participação de todos os povos indígenas na

formulação da política indigenista da União, cujos resultados e conclusões deverão ser considerados

pelo CNPI quando da aprovação das diretrizes da política indigenista nacional”, sendo necessária a

inclusão de um parágrafo único estabelecendo que a comissão organizadora da conferência será

paritária, estabelecendo-se, no regimento interno da conferência, ou seja, em seu regulamento,

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como será a participação de ambas as partes. Um outro membro, que não se identificou, afirmou

que gostaria também de insistir na nomenclatura, no sentido de que a conferência dos povos

indígenas é um instrumento que eles convocam no momento que quiserem, e que a seu ver haveria

um equívoco a respeito do tema. Solicitou, ainda, especial atenção para o fato de que a decisão

sobre a composição do Conselho fica prejudicada diante de não se ter chegado a conclusão sobre

quem vai presidir o Conselho, revelando dúvida sobre a questão da paridade e composição do

Conselho, ao que se informou que são 21 representantes governamentais, 18 indígenas, 2 de

entidades da sociedade civil, ao que se levantou a questão de que o pressuposto é que o presidente

do Conselho é o ministro da Justiça, que terá o voto de minerva, e se isso se altera essa paridade

também será alterada. Ou seja, se o presidente do Conselho for um representante dos povos

indígenas, que terá apenas direito ao voto de minerva, essa paridade estará alterada, o que deverá

ser mudado para garantir a equivalência. Com vistas a dar encaminhamento à votação do artigo 20°,

o presidente questionou se havia acordo com relação ao caput do artigo, ressaltando ter entendido

que sim, além de se levar em conta também a lembrança do destaque com relação ao §1°. Quanto à

definição quanto ao texto do parágrafo, o presidente solicitou ao representante da Casa Civil, Celso

Correa, que conduzisse os trabalhos por alguns minutos, pois precisava se ausentar para tratar de

um assunto urgente ao telefone com o Ministério da Justiça. Celso então se dirigiu ao plenário

questionando se havia acordo em relação ao nome, se seria consenso a opção pela troca do nome ou

se a nomenclatura seria mantida como Conferência Nacional de Política Indigenista, ficando

aprovada alteração no título do capítulo e no caput do artigo, considerado-se aprovado ainda o

artigo que definia a situação de proporcionalidade na representação. Prosseguindo, Celso declarou

concordar com a opinião de Jecinaldo Cabral com relação à comissão organizadora ser paritária, no

entanto fazendo objeção quanto a ser o caso de colocar essa informação numa lei, mas deixando

claro que se essa for a decisão tudo bem. Como encaminhamento, Celso questionou se a

subcomissão deveria apresentar uma proposta de redação para definir a situação de

proporcionalidade ou se o plenário aprovaria o parágrafo primeiro na forma em que ele estava

proposto, abrindo a palavra para ponderações do plenário. Uma vez que os presentes deram a

impressão de não terem compreendido, Celso reformulou a proposição, informando que dispunham

de duas opções: pedir para a comissão que elabore o parágrafo para estabelecer a situação de

proporcionalidade na representação da conferência ou um parágrafo simplesmente falando da

questão da proporcionalidade, que seria paritária na comissão organizadora, de forma que esse

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ponto não constaria no projeto de lei. Aderval Filho/MDS lembrou aos presentes que, para guardar

a coerência, deveriam fazer constar em lei a participação governamental e de todos povos indígenas

na formulação da política, governamental e não governamental, para que nenhum deles seja

excluído, ao que Celso Correa afirmou que a seu ver essa informação estaria subentendida, pois não

é garantir que sejam só povos indígenas e sim garantir que todos eles sejam representados, mas que

se se quiser colocar governamental, para ficar mais clara a redação, não há problemas, embora não

veja necessidade, uma vez que, se colocarem a palavra governamental também se teria que incluir

delegado de organização indigenista, e aí se poderia voltar à redação anterior. O que está se

querendo fazer no caput é garantir a participação na conferência de todos os povos, e não de tratar

da questão de proporcionalidade de representação, o que deveria ser tratado no parágrafo ou no

regimento interno, perguntando a seguir se haveria alguma objeção em aprovar o caput do parágrafo

20 do jeito em que ele está. Uma vez não havendo objeções, foi então considerado aprovado. Saulo

Feitosa/CIMI , expressou a seguir uma preocupação com a redação no que se refere à participação

de todos os povos indígenas, pois isso poderia não ser possível e portanto se deveria evitar que

viesse a ser usado como uma dificuldade, propondo então que se retirasse a palavra todos. Acatando

a sugestão, Celso passou então à leitura do texto conforme aprovado, que seria: “A conferência

nacional dos povos indígenas integra a estrutura do CNPI e constitui-se em instância de participação

de todos povos indígenas na formulação da política indigenista, cujos resultados e conclusões

deverão ser considerados pelo CNPI quando da aprovação das diretrizes da política indigenista

nacional”. Já de volta à reunião, o presidente, confirmou a aprovação do artigo e passou ao §1°: “O

CNPI definirá a comissão organizadora da Conferência, de caráter paritário, e aprovará seu

regimento interno”, a respeito da qual Jecinaldo Cabral apresentou sugestão, expressa da seguinte

forma: “Eu tenho uma proposta para essa questão... o Edgard está aqui, ele sabe que, quando a gente

organiza a conferência de Saúde, o Conselho Nacional aprova a comissão e também o regimento

interno. Acho que seria interessante também que essa plenária do Conselho Nacional viesse a

compor a comissão e também aprovar o regimento interno, então depois disso passaria a

responsabilidade para condução da comissão. Eu acho que se poderia deixar isso claro, porque aí

essas outras coisas ficariam a cargo da comissão organizadora, como também já

determinado/aprovado em plenária o regimento interno. Acho que a gente poderia só destacar que a

plenária da CNPI é que vai compor a comissão e também vai aprovar o regimento interno, de forma

paritária”. Prosseguindo, o presidente afirmou que seria necessário traduzir a proposta de Jecinaldo

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para o texto de redação, solicitando que algum integrante da subcomissão, assessor ou o próprio

Jecinaldo redigisse o texto, que deveria vir a ser um parágrafo. Jecinaldo, por sua vez, afirmou que

o teor do parágrafo seria: “A comissão organizadora da conferência será definida pelo Conselho,

bem como a aprovação do seu regimento interno da conferência”, ao que o presidente retrucou

perguntando se seria: “A comissão organizadora da conferência será definida pelo Conselho, pelo

CNPI, que aprovará também o regimento interno”. Pierlângela Wapichana questionou o uso da

palavra aprovará, afirmando que a seu ver na verdade a comissão não aprova o regimento e sim a

plenária, ao que o presidente afirmou que o CNPI, o Conselho é que o aprova, diante do que

Pierângela argumentou que nas conferências em que tem participado se faz uma plenária para a

aprovação do regimento, ao que o presidente afirmou que não neste caso, que por sua experiência

em conselhos, como esta conferência é parte do conselho, então este tem, em tese – pela

representatividade que tem – legitimidade para elaborar e aprovar o regimento da conferência.

Assim, quando se for fazer a conferência, logo no início o regimento será apresentado, para deixar

bem claras as regras da conferência para todos os participantes; “isso é o que normalmente acontece

nas conferências, o que é importante é que, quando a conferência vai ser realizada, tem que deixar

bem clara as regras desde o início, sendo que essas regras foram definidas pela instância superior,

que é o Conselho”. Dessa forma, prosseguiu o presidente, se observaria a proposta de Jecinaldo, no

sentido de que o conselho terá que aprovar o regimento interno da conferência e a comissão será

definida pelo conselho para organizar e realizar a conferência, “É assim que funciona

normalmente”, concluiu. A propósito dessa questão, Jecinaldo referiu-se ao que dissera

Pierlângela, comentando que normalmente o regimento interno da conferência, no que se refere a

como vai acontecer a conferência nacional, em geral é submetido a apreciação em várias instâncias,

sejam estaduais, municipais ou regionais, e nesse caso poderiam ser incorporadas as contribuições e

depois seria aprovado no conselho. Diante do que o presidente comentou que, no caso das

conferências de educação e de saúde, como essas políticas públicas são constitucionalmente de

competência comum da União, dos estados e municípios, obrigatoriamente são feitas dessa forma,

pois contam com a participação de municípios, estados, chegando ao âmbito nacional. Porém,

prosseguiu, no caso dessa conferência dos povos indígenas, a constituição é muito clara e ela diz

que a responsabilidade pela política indigenista, no sentido mais estrito, é exclusiva da União, sendo

complementada pelas responsabilidades de setores como educação, saúde, cultura e outras áreas.

“Então esse é um tema que permeia vários debates que vão vir depois da educação, saúde, cultura e

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outras; eu acho que ele é o tema que está por trás desta questão aqui agora. No caso da conferência

nacional de política indigenista, ela tem um caráter diferenciado na sua realização, os critérios que

serão definidos pela regimento e pela comissão em si, aprovados pelo conselho, serão critérios

diferenciados, não serão somente pautados pelo pacto federativo, porque tem que ser diferenciado.

Então esse é um ponto que não cabe discussão aqui, isso é uma discussão longa, uma discussão

tensa no âmbito do conselho, para definição do regulamento da conferência, vai entrar na pauta do

conselho. O que é importante aqui neste momento é definir o que a gente está definindo, o conselho

aprova isso mesmo, a compreensão sobre a comissão organizadora, que é partidária, e o regimento

da conferência. É isso que tem que estar estabelecido aqui, é preciso que nós tenhamos clareza, se é

isso que nós estamos definindo aqui, sobretudo estou falando com a Pierlângela que foi quem

levantou a questão.” Pierlângela, por sua vez, expressou preocupação por se deixar questões

subentendidas, pois as pessoas que lidam com a questão podem mudar e o que estava subentendido

para um pode ser não ter o mesmo significado para o que vier a sucedê-lo. Sua preocupação,

prosseguiu, é se vai haver apenas a conferência nacional ou se será precedida de conferências

regionais, o que a seu ver deve constar expressamente no regimento interno. O presidente

concordou que esse tipo de informação deve constar no regimento, uma vez que nele é que deve se

definir como vai ser a conferência, o qual por sua vez deverá ser aprovado pelo conselho.

Pierlângela retrucou então que, da forma como está escrito [no projeto de lei] está subentendido

quem vai aprovar, sendo preciso melhorar a redação, deixando claro que quem vai aprovar diante

do presidente propôs a redação: “O CNPI definirá a comissão organizadora da conferência, de

caráter paritário, e aprovará seu regimento interno”, perguntando se a redação agradava Pierlângela,

que ainda apresentava dúvidas, e reformulando para “O CNPI definirá a comissão organizadora da

conferência inferida no caput, de caráter paritário, e aprovará seu regimento interno”, questionando

a plenária se esta redação contemplava a discussão. Não havendo manifestações contrárias,

considerou então aprovado o §1°, destacando que caso haja alguma questão para a qual não

atentaram esta será apontada pela equipe jurídica.

Concluída mais essa etapa da discussão, passou-se ao §2°, que diz: “A Conferência

Nacional de Política Indigenista realizar-se-á a cada 04 (quatro) anos”, abrindo a palavra para

comentários. Nesse sentido, Celso Correa/Casa Civil afirmou que a seu ver a periodicidade estava

fixada de forma muito rígida, quando na verdade poderia se definir que a conferência deveria ser

realizada no mínimo de quatro em quatro anos, com o que poderia ocorrer em períodos menores

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também, se fosse o caso. O presidente retrucou que deveria se dizer no máximo a cada quatro anos,

ao que Celso disse que se deveria atentar para a redação, uma vez que se usarem os termos no

máximo não se obteria o sentido desejado, sugerindo que se dissesse “com periodicidade máxima de

quatro anos”, para poder ser claro na redação, deixando claro se tratar de uma proposta. A seguir,

Francisca Pareci afirmou que era preciso lembrar que, depois que for desenhada a conferência,

definindo-se se vai haver consultar em outras instâncias, ou seja, se haverão conferências em âmbito

regional, e como será o seu desenho, se por povos ou em termos de proximidade geopolítica, se

essas conferências intermediárias vão acontecer entre uma conferência nacional e outra, então ser

terá uma preparação extensa. Por isso, prosseguiu, deve se pensar nisso ao definir a periodicidade,

mesmo sendo numa instância de caráter estritamente nacional em termos de atribuição nacional,

questionando se neste momento vão definir um desenho, decidir se acontecerão conferências

regionais e como se dará a definição dessa regionalidade. O presidente afirmou que, segundo sua

compreensão, e antes de passar para as questões levantadas por Francisca, de acordo com sua

experiência em organizar uma conferência nacional, quando se faz um evento dessa natureza, é um

conjunto, “inclui a regional, as locais, é um processo ascendente que chega numa plenária nacional,

ela é um conjunto, é uma conferência que reúne tudo isso. Então eu não vejo uma regional que vai

ser num ano e a nacional vai ser em outro ano, eu não sei se foi isso que você quis dizer, mas eu

vejo que, pelo que está colocado aí, a cada quatro anos no máximo acontece, durante três ou quatro

meses, o tempo que for necessário, esse processo de discussão ascendente de consulta, até o

plenário nacional”. Após o que o presidente afirmou que essa era sua forma de ver a questão,

perguntando a Francisca se sua fala contemplava o que ela havia abordado. Francisca, por sua vez,

afirmou que precisava ter uma compreensão mais clara sobre a questão, afirmando: “o senhor sabe

que, quando isso chega nas bases, evidentemente que a turma bate o olho e vê, questiona em que

momento vai haver de fato a participação regional”. Assim, prosseguiu Francisca, é preciso fazer

uma agenda de trabalho que possa ser acompanhada pelo movimento indígena, assegurando a

realização a cada quatro anos, seja no decreto ou no regimento, apesar de não acreditar que seria

possível definir tudo no âmbito da Comissão. O presidente, por sua vez, afirmou que o

detalhamento de tudo isso estará no regimento interno, passando a palavra para Jecinaldo, que

disse ter uma preocupação, no sentido de que ainda se está em processo de aprendizagem no que se

refere à democracia, e que observando o governo se percebe que ele fica quatro anos, depois é

substituído, de forma que se as conferências forem realizadas a cada 4 anos vão coincidir com a

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troca de mandato de governo, assim, caso acontecessem de três em três anos talvez se evitasse esse

problema. Jecinaldo afirmou ainda estar confuso com relação à medição do tempo a partir do qual

seriam realizadas as conferências, se seria contado a partir da aprovação desta lei ou de outra forma,

reafirmando sua proposta de que as conferências ocorram de três em três anos. Pierlângela também

se manifestou, lembrando que no decreto que instala a Comissão Nacional de Política Indigenista

está estabelecido que esta deverá organizar a Conferência Nacional de Política Indigenista, que fez

questão de ressaltar não se tratar da Conferência Nacional dos Povos Indígenas, já que discutiram

muito sobre a nomenclatura, que segundo seu ponto de vista claramente não tem relação com a

conferência que aconteceu em 2004, a qual não entre no mérito do que foi determinado na

Comissão. A esse respeito, Pierlângela perguntou então se a CNPI vai fazer esta conferência ou se

aconteceria após a aprovação da lei que cria o Conselho, a cada 4 anos. A propósito dos pontos

destacados pelos membros da Comissão, o presidente afirmou que se tratava de uma questão

política, tanto que não seria possível definirem esses prazos na proposta de lei; respondendo em

parte às questões propostas por Jecinaldo, o presidente esclareceu que a conferência será realizada

pelo Conselho. Dando prosseguimento, foi então discutido o Capítulo V, Das disposições gerais e

finais, artigo 21°, aprovando-se sem ressalvas os artigos 21º: “As despesas com deslocamentos dos

representantes indígenas e dos representantes das entidades indigenistas no CNPI correrão por conta

do Ministério da Justiça”; artigo 22º: “As reuniões do CNPI serão registradas em atas, que deverão

ser disponibilizadas, bem como o balanço semestral de suas receitas e despesas, por meio da rede

mundial de computadores, nos sítios do Ministério da Justiça e da FUNAI, podendo ser reproduzidas

e divulgadas, na íntegra, por quaisquer meios”; artigo 23º: “A participação no CNPI será

considerada função pública relevante não remunerada”; artigo 24º: “A instalação do CNPI dar-se-á

no prazo de sessenta dias da publicação desta Lei”; e artigo 25º: “O CNPI aprovará o seu regimento

interno na primeira reunião subseqüente à sua instalação”. Foi deixado pendente, para discussão

posterior, o artigo 26º, que diz: “O art. 4º da Lei n.º 5.371, de 5 de dezembro de 1967, passa a

vigorar com a seguinte redação: 'Art. 4º A Fundação terá sede e foro na Capital Federal e se regerá

por Estatutos aprovados pelo Presidente da República, respeitadas as diretrizes aprovadas pelo

Conselho Nacional de Política Indigenista.' Quanto ao artigo 28º, que diz: “Revoga-se a expressão

'estabelecer as diretrizes' contida no inciso I e nos incisos II, IV e V, todos do art. 1º e o art. 3º da

Lei n.º 5.371, de 5 de dezembro de 1967”, foi deixado em vermelho, para discussão posterior,

aprovando-se o artigo 27º, em que se lê: “Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação”. Tendo

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se chegado ao fim do documento e dado o adiantado da hora, foi então feito o intervalo para o

almoço, devendo-se retomar a reunião às 15 horas, destinando-se ainda meia hora para que a

bancada indígena se reunisse antes do reinício da reunião.

Ata da 3ª Reunião Ordinária Dia 10 de outubro de 2007

Tarde

Aos dez dias do mês de outubro do ano de dois mil e sete, às 15 horas e 50 minutos,

foram retomadas as atividades no âmbito da 3ª Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Política

Indigenista, quando então o presidente Márcio Augusto Freitas de Meira se dirigiu à plenária

com vistas a definir a agenda de trabalho do tarde deste dia, informando que, conforme previamente

combinado, deveriam ter retomado às 15 horas, reservando-se meia hora para que os representantes

indígenas se reunissem, já se encontrando atrasados com relação a esse cronograma. A seguir, o

presidente propôs encaminhamento no sentido que, diante da importância do tema, inclusive pela

questão do tempo reduzido, iniciassem as atividades do período da tarde tratando diretamente das

questões ligadas à Educação. Quanto aos pontos pendentes no que se refere à proposta de

anteprojeto de lei para criação do Conselho Nacional de Política Indigenista – destacados em

vermelho no decorrer da manhã – propôs que se aproveitasse a noite para refletir sobre os pontos

pendentes, retomando-se a discussão e deliberando no primeiro momento do dia seguinte, a fim de

fechar a proposta do projeto de lei; a propósito, questionou o coordenador da subcomissão, Gilberto

Azanha/CTI, se concordava com o encaminhamento. Gilberto Azanha, por sua vez, informou que

teria outra proposta de encaminhamento, sugerida pela bancada não governamental: como há pontos

polêmicos, sobre os quais a bancada sentiu a necessidade de aprofundar a discussão e a sugestão de

encaminhamento é que essa discussão seja suspensa e que dê prosseguimento à pauta, por se temer

que a discussão se amplie e a pauta seja prejudicada. Nesse sentido, propõe-se que a subcomissão

faça reunião ampliada nos dias 23 e 24 de novembro, aproveitando a vinda dos representantes

indígenas para discussão do Estatuto, e que a discussão final do projeto de lei seja feita em plenária,

na reunião ordinária de dezembro, para aí então ser encaminhada à Casa Civil. O presidente

questionou então a plenária se aprovaria a proposta da bancada não governamental, afirmando que

de sua parte não via nenhuma dificuldade, sendo que se o plenário resolvesse aprová-la não haveria

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dificuldade, uma vez que ele proprio definira o prazo anterior, abrindo então a palavra. O primeiro a

se manifestar foi o Coronel Caixeta/GSI, o qual afirmou que seria importante que se definisse

como funcionaria a subcomissão ampliada, já que a subcomissão em si já discutira e apresentara

suas propostas, ao que o presidente perguntou se o que fora aprovado no decorrer dos trabalhos se

manteria como aprovado, o que foi confirmado, de forma que na reunião ampliada apenas seriam

discutidos os pontos pendentes, ou seja, aqueles que ficaram destacados em vermelho. Ademais,

destacou o presidente, a questão levantada pelo Coronel Caixeta não se refere ao mérito do

encaminhamento, concluindo portanto que o plenário aprovava a proposta em discussão, diante do

que não houve objeções. Assim, foi considerada aprovado o encaminhamento quanto à realização,

nos dias 23 e 24 de novembro, de reunião ampliada da subcomissão e aprovação final da proposta

na reunião da CNPI a se realizar no mês de dezembro. Com relação à composição da subcomissão

no que se refere à parte governamental, continuou o presidente Márcio Meira, este informou que

gostaria de sugerir que, além do representante do Gabinete de Segurança Institucional, Coronel

Caixeta, e representante do Ministério da Justiça, que a Funai possa, por meio de sua Procuradoria

Jurídica, contribuir com a discussão, propondo ainda que a Casa Civil também participe, para o que

se deveria aguardar o retorno de seu representante, Celso Correa, ausente no momento. O presidente

afirmou ainda que, a questão da composição levantada pelo Coronel Caixeta era de fato importante,

devendo se voltar a ela ao longo do dia e/ou no dia seguinte, com vistas a definir a composição da

subcomissão ampliada, consultando-se ainda a bancada não governamental com relação a quem

mais deveria integrá-la. Neste ponto, o representante do CTI, Gilberto Azanha, sugeriu que se

convidasse a Dra. Deborah Duprat/MPF, ou quem esta viesse a indicar, e a Dra. Alda Carvalho, da

Advocacia Geral da União. Diante disso, o presidente propôs que a proposta seja amadurecida e

depois se defina a composição da subcomissão ampliada, reiterando a proposta de que participem os

integrantes que já fazem parte da mesma, ou seja, representante do Ministério da Justiça, Gabinete

de Segurança Institucional, e ainda da Casa Civil, da Advocacia Geral da União, do Ministério

Público Federal, da bancada não governamental, devendo se fechar a questão no dia seguinte.

Encerrado esse ponto, o presidente informou que gostaria de passar imediatamente

para o próximo tema de pauta, uma vez que se dispunha de pouco tempo, e que se tratava de

educação, destacando se tratar de um ponto muito importante. O presidente esclareceu que no

primeiro momento seria feita apresentação pela Coordenação Geral de Educação da Funai, com

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respeito à proposta de avaliação do Plano Nacional de Educação; a seguir, seria feita apresentação

pelo MEC sobre o PAC da Educação, bem como sobre outros temas destacados pelo referido

ministério, sugerindo que primeiro fossem feitas as apresentações e depois se abrisse a palavra para

discussão, ao que não houve oposição. Definidos esses encaminhamentos, o presidente convidou

então a fazer uso da palavra Maria Helena Fialho, coordenadora da Coordenação Geral de Educação

da Funai, e em seguida a equipe do MEC. Maria Helena desejou boa tarde a todos e informou que a

apresentação da proposta de avaliação do Plano Nacional, como já falado em reunião anterior e no

âmbito da subcomissão, seria feita por Luiz Donizete, consultor responsável por elaborar o

instrumento de avaliação, a partir das informações que a coordenação destacara como sendo

interessantes, a seguir agradecendo a atenção e passando a palavra para o consultor. Luiz Donizete

desejou boa tarde a todos, informou que é antropólogo e que fora convidado pela Funai para fazer a

apresentação de uma proposta de avaliação independente do Plano Nacional de Educação, para a

qual utilizaria como recurso uma projeção em Powerpoint. Inicialmente, Donizete destacou que a

proposição da Coordenação Geral de Educação da Funai era de realizar uma avaliação independente

do Plano Nacional de Educação, que se trata de uma lei aprovada pelo Congresso Nacional que em

2001 define um conjunto de metas e objetivos para serem cumpridos em todo o país em relação à

educação nacional. E esse plano, que estava previsto na Lei de Diretrizes e Bases - LDB, que é a lei

que regula a educação do país, traz um capítulo inteiro sobre educação indígena. A oportunidade de

fazer uma avaliação dessa lei, e mais especificamente desse capítulo que trata da educação indígena,

é importante no sentido de que, de modo geral, há no Brasil carência de avaliação de políticas

públicas, de diagnósticos de políticas públicas quanto à efetividade das ações que o governo

desenvolve, principalmente relacionada aos índios, seja da Constituição, LDB e do próprio Plano

Nacional de Educação. Espera-se, com essa avaliação, que proporcione uma visão ampla da

situação da educação indígena no país, o que considera possível a partir das vinte e uma metas

constantes do plano. Com relação à abrangência da avaliação, como as metas que estão no Plano

dizem respeito ao governo federal e aos governos estaduais e indiretamente aos municípios, o

recorte analítico para se fazer a avaliação são os entes federados, então se pretende observar a quem

cada meta estava destinada, quem deveria cumpri-la, de forma que basicamente se vai focar o

governo federal e os vinte e quatro estados da federação que têm populações indígenas reconhecidas

e que têm políticas de educação indígena em curso. Estariam fora, em um primeiro desenho, o Piauí

e Rio Grande do Norte que, embora tenha demanda de populações indígenas, até esse momento não

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entraria , já que esta é uma avaliação da implementação da lei. Com relação aos avaliadores, a

proposta é que se disponha de uma equipe de avaliadores não indígenas e de especialistas, formada

por cerca de cinco a sete membros contratados, juntamente com uma equipe de professores

indígenas, ou seja, uma equipe de avaliadores indígenas. A idéia é que se tenha um por estado,

informou Donizete, então os estados teriam pesquisadores não indígenas, contando-se ainda com

um professor indígena de cada estado para compor essa equipe. No que se refere ao perfil desses

pesquisadores não índios, devem ter experiência no ensino superior e terem atuado no campo da

educação indígena, um requisito muito básico, sabendo-se das inúmeras especificidades que ela tem

e que não é possível trabalhar com alguém de fora que desconheça totalmente esse campo, sendo

desejável portanto que esse pesquisador não indígena tenha um conhecimento mínimo dos

contextos que ele vai avaliar, que conheça minimamente a situação nos estados que couberam a ele

avaliar. No caso dos pesquisadores indígenas, imaginou-se que deveriam ser professores que

tivessem conhecimento na educação indígena do seu estado, estivessem descolados do movimento

de articulação por melhorias na educação no estado em que vivem, de preferência tenham passado

pela experiência do ensino superior e sejam licenciados nas iniciativas interculturais do curso;

precisam, ainda, ter tempo para atuar nesta avaliação, sendo a principal função do avaliador e

pesquisador não indígena ajudar o pesquisador não indígena a mapear quem são os atores no campo

da educação naquele estado, quais são as situações que devem ser olhadas para mapear o rumo da

educação naquele estado, permitindo que se conheçam algumas realidades etnográficos que

merecerão ser retratados na avaliação. Espera-se que a constituição deste grupo de pesquisadores

indígenas e não-indígenas resulte na criação de uma rede de avaliadores independentes, que possa

realizar este trabalho de avaliação de modo articulado, contribuindo mutuamente e visando uma

uniformidade nos procedimentos de pesquisa e análise dos dados coletados. Espera-se que a

constituição deste grupo de pesquisadores indígenas e não-indígenas resulte na criação de uma rede

de avaliadores independentes, que possa realizar este trabalho de avaliação de modo articulado,

contribuindo mutuamente e visando uma uniformidade nos procedimentos de pesquisa e análise dos

dados coletados. O caráter simultâneo da avaliação do PNE nos diferentes Estados deverá estar

ancorado numa interação virtual da equipe de modo que os pesquisadores possam contribuir uns

com os outros em estratégias de pesquisa, contatos com atores do campo da educação indígena,

coleta e interpretação de dados e redação das conclusões.

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O caráter simultâneo da avaliação do PNE nos diferentes estados deverá estar

ancorado numa interação virtual da equipe de modo que os pesquisadores possam contribuir uns

com os outros em estratégias de pesquisa, contatos com atores do campo da educação indígena,

coleta e interpretação de dados e redação das conclusões. Espera-se que a constituição deste grupo

de pesquisadores indígenas e não-indígenas resulte na criação de uma rede de avaliadores

independentes, que possa realizar este trabalho de avaliação de modo articulado, contribuindo

mutuamente e visando uma uniformidade nos procedimentos de pesquisa e análise dos dados

coletados. O caráter simultâneo da avaliação do PNE nos diferentes Estados deverá estar ancorado

numa interação virtual da equipe de modo que os pesquisadores possam contribuir uns com os

outros em estratégias de pesquisa, contatos com atores do campo da educação indígena, coleta e

interpretação de dados e redação das conclusões. Então, prosseguiu Donizete, O grupo de

avaliadores terá total liberdade para executar os levantamentos, entrevistas e análise de documentos

coletados, devendo ao final do trabalho responder, em seus relatórios técnicos, aos quesitos

propostos para tal avaliação. A Funai não terá qualquer ingerência no processo de avaliação, nem

seus funcionários poderão participar como avaliadores. Seu papel será o de zelar pelo cumprimento

da proposta de avaliação, viabilizar os meios financeiros e administrativos necessários para sua

execução, atestar a qualidade do trabalho desenvolvido e viabilizar a publicação e difusão dos

resultados, tal como previsto na proposta. Propõe-se ainda a criação de um grupo de

acompanhamento dessa avaliação, que possa acompanhar o trabalhos a serem realizados, sendo esse

grupo formado por representantes da própria Funai, do MEC, do Conselho Nacional de Educação,

da Comissão Nacional de Educação Escolar Indígena, da CNPI, do CONSED, e da UNDIME, o

grupo então teria a função de avaliar e monitorar o desenvolvimento da proposta, corrigir, facilitar e

ajudar para que de fato a avaliação aconteça e ocorra em bom termo. Como o cronograma está um

pouco apertado, prosseguiu Donizete, a avaliação da equipe que a elabora geralmente é no sentido

de prever um tempo menor, que normalmente se amplia; assim, prevê-se um ou dois meses para a

preparação administrativa, que seria por conta da Funai, uns quatro a cinco meses para realização

do trabalho de campo, ou seja, para pesquisa e redação dos relatórios individuais e uns três meses

para finalizar esses relatórios para divulgação e difusão. Há a proposta de reunir os pesquisadores

indígenas e não indígenas em um processo de capacitação, quanto se tentaria chegar a um acordo

com relação às propostas sobre a estrutura da avaliação, meta por meta. A capacitação seria o

momento de promover um grande seminário e de se acertar exatamente o que se vai avaliar em cada

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uma das metas. Com relação às diretrizes gerais da avaliação, as vinte e uma metas seriam

avaliadas, concomitante com o plano nacional de educação, padronizando-se as questões e os

indicadores, para se chegar a resultados aferíveis para cada uma das metas e comparáveis entre os

diferentes estados, existindo duas variáveis extremamente importantes no caso de uma lei como

essa: o prazo de cumprimento da meta e a responsabilidade no cumprimento da meta. Havendo

clareza nisso, afirmou o consultor, desdobra-se um seqüencial de perguntas a partir das quais se

poderá esclarecer se as metas/ano foram cumpridas, por quem é de direito da lei estabeleceu. A

idéia é que se tenha uma evolução desses itens avaliados, tomando por base o ano 2000, que é o ano

da prorrogação da lei até 2007, pensando que a proposta será implementada em 2008, contando-se

com um intervalo para avaliar se houve alguma evolução nos itens estabelecidos na lei para cada

uma das metas. Tratando sobre o material que havia sido entregue a cada um dos membros da CNPI,

Donizete informou que da página 24 em diante havia uma proposta de estrutura padrão básica, a

respeito da qual se pretende fechar proposta definitiva da avaliação com os pesquisadores. Nela

estariam definidos temas como meta a ser avaliada, estabelecendo a responsabilidade e o prazo do

cumprimento da meta, alguns indicadores para avaliá-la, quais são as políticas existentes em relação

ao seu cumprimento ou que referências poderiam ser utilizadas para avaliá-la e mais um conjunto

de questões por meio das quais se procurou desdobrar cada meta e objetivo em uma série de

questões. Não só perguntas objetivas, afirmou, mas também qualitativas, com vistas a esclarecer e

ampliar o processo de avaliação, assim como construir informações que permitam dar respostas

qualitativas a cada uma das metas, além de simplesmente “cumpriu ou não cumpriu, como foi feito,

com que recursos, com qual iniciativa, com que fatores, com qual metodologia etc.”. Com isso

pretenderam ampliar um pouco mais o escopo, ter um conjunto de perguntas e propostas para o

governo federal e um conjunto de questões e propostas para os governos estaduais. Concluindo sua

apresentação, Donizete informou que a idéia é que os avaliadores coletem essas informações junto

às secretarias estaduais de educação, em alguns casos as secretarias municipais, que técnicos e

gestores governamentais sejam entrevistados, para compor um leque diversificado de pontos de

vista, em termos metodológicos. Para isso também é importante que sejam feitas entrevistas com

professores, lideranças e pais de alunos, não exaustivamente, mas escolhendo contextos e

representações representativos daquilo que se está querendo demonstrar. Entre os entrevistados

estarão militantes de organizações da sociedade civil, professores universitários, professores de

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cursos de formação e outros profissionais envolvidos com a educação indígena, com a

recomendação de que as entrevistas sejam gravadas, para que esse processo fique documentado.

Passando-se a outro ponto da pauta de Educação, o presidente passou a palavra ao

representante do Ministério da Educação, Armênio Bello Schmidt que iniciou sua fala

informando que, pelo que foi discutido nas duas últimas reuniões da subcomissão, deveriam

apresentar, dentro do possível, o PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação, que seria o PAC da

Educação, e dentro do PDE, mais especificamente na questão indígena, o PAR – Plano de Ações

Articuladas. Iniciando, para situar a todos, que em suas palavras têm acompanhado de uma forma

ou outra a política do Presidente Lula para a questão da Educação, que tem colocado como uma

prioridade absoluta a educação como um todo, onde há dificuldades em diversos níveis;

especificamente no nível superior, que mais especificamente cabe ao governo federal, onde há

dificuldade para o ingresso e a permanência dos alunos, primeiro porque as universidades são em

número insuficiente diante da demanda, depois devido a suas condições, mencionando a questão do

abandono, por razões diversas. Por essas razões foi montado o PDE, explicou, colocando algumas

prioridades, considerando que cada uma das ações já fazem parte das responsabilidades das

secretarias do Ministério da Educação. Destacando que o governo federal não tem a

responsabilidade pelo Ensino Fundamental e Médio, mas tem co-responsabilidade, conforme

definido na Constituição, em regime de colaboração entre os 3 entes federados – e o governo

federal disponibiliza recursos subsidiários, de complementação orçamentária. Dentro disso tem

acompanhado, prosseguiu Armênio, ciente de que a Educação ainda está longe do nível de

qualidade que dela se espera. Nesse sentido, afirmou, o governo percebeu o seguinte: sempre

disponibilizava os recursos aos municípios e estados via Resoluções, e estes apresentavam projetos,

sendo muito difícil para o MEC fazer o acompanhamento diante da extensão do território nacional; a

conclusão foi que, por mais recursos que disponibilizasse, os objetivos não estavam sendo

alcançados. Diante disso se pensou o PDE, chamado “compromisso pela educação”, ou seja, todo

governador, prefeito, para receber recursos do governo federal, obrigatoriamente tem que assinar o

Compromisso pela Educação, que é uma Resolução, de número 29, disponibilizado no FNDE, e

possui metas – o estado ou município tem que apresentar seus objetivos e metas. O sentido então é

que se possa financiar, mas que haja formalmente o comprometimento. O MEC hoje tem o IDEB,

prosseguiu Armênio, que é um Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, que funciona de 2

formas: avaliação das escolas, externa, em que se avalia o aprendizado das escolas, e se soma no

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IDEB a Prova Brasil, com o fluxo escolar dos alunos, se estão passando ou não; isso dá uma média,

que quer dizer que não dá mais para continuar como estava – se se aprovar todo mundo, não

adianta, pois quando fizerem a prova vai aparecer, baixando o resultado e a média, o contrário

também. Com isso é possível avaliar todos os anos o rendimento, tendo se avaliado que há ótimas e

péssimas escolas públicas em todo o país; a melhor escola do mundo se localiza no Piauí, para se ter

uma idéia. O PDE é isso, coloca o compromisso, que precisa ser assinado para se ter o recurso

suplementar; há o automático, como aquele destinado à merenda, transporte, livro didático, o que é

universal, mas o recurso a mais, para formação de professores, publicação de material didático e

todo o financiamento que o governo faz depende da assinatura. Segundo informou, todos os estados

já assinaram e a grande maioria dos municípios já assinou. Além disso o governo pegou os

municípios com menores IDEB, em todos os estados, pegando os 1000 mais baixo e os 20 mais

baixos; os que tem índices mais baixos são os municípios que raramente conseguem enviar projetos

para o FNDE/governo federal solicitando recursos para os seus projetos, porque não têm estrutura

nas suas secretarias. Viu-se também que mais de 50% dos recursos do governo iam para os 200

maiores municípios, que possuem estrutura. Assim, foi feita a seleção pública de técnicos, que estão

indo para esses 1242 municípios em pior situação a fim de fazer um diagnóstico da realidade local,

e a partir daí fazendo o plano de trabalho desses municípios, ou seja, os que têm piores resultados

estão recebendo atendimento específico do Ministério da Educação para que sejam contemplados

em suas ações, pois são os que mais estão precisando; o que também faz parte do PDE. Com relação

ao Ensino Básico, está sendo criado um piso salarial para os professores, que ainda não existe,

havendo diferença entre estados e municípios; outro pondo do Plano é que o governo federal passa a

assumir para si a formação dos professores, tanto a inicial como a continuada; está sendo montada a

Universidade Aberta do Brasil, para se dar formação a esses professores, já que por exemplo entre

os que atuam em escolas em áreas rurais, apenas 21% têm formação. Outro ponto é a questão da

alfabetização, sabendo-se que hoje cerca de 40% dos alunos da 4ª Série são analfabetos funcionais e

se vai iniciar uma avaliação para enfrentar a questão. Há que se ver ainda a demanda por ensino

técnico, escolas técnicas e agro-técnicas, de forma que todas as cidades-pólo do país, entre outras

iniciativas. Por último, quanto às universidades, a meta é que até 2010 se aumente em no mínimo

50% o número de matrículas/vagas nas universidades públicas, o que passa pela abertura dos cursos

à noite, já que a maioria das universidades não funciona à noite; sendo que o governo lançou o

REUNE – plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, que vai aumentar em

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20% o custeio dessas universidades, passando por aspectos como abertura de cursos à noite,

reestruturação de currículos, aumento do número de alunos por professor, taxa de conclusão de

curso pelos alunos, com a meta de se chegar a 90% de conclusão. Assim, prosseguiu Armênio, o

PDE mexe com a Educação em termos gerais, desde o Ensino Básico ao Superior. Com relação ao

PAR – Plano de Ações Articuladas, no qual se elegeu municípios prioritários, dos quais a maioria

deles já foram visitados e analisados, providenciando-se os convênios e repasse orçamentário.

Ressaltando que os demais não ficam impedidos de participar, tendo direito a acessar o

financiamento do MEC após mostrar seus diagnósticos, mostrando metas e objetivos, ressaltando

que o PAR é compromisso para 4 anos, mas planejamento anual.

Dentro disso, destacou Armênio, percebeu-se que há alguns povos, comunidades,

ações, que devem deter um atendimento diferenciado, e entre eles a questão da educação escolar

indígena. Assim, segundo relatou, o governo criou o PAR, comum a todos, e está sendo elaborado o

PAR indígena, tendo sido chamados – entre 26 e 28 de agosto de 2007 – os representantes das

secretarias estaduais de Educação, dos 24 estados que têm educação escolar indígena. Os

municípios que têm responsabilidade sobre as escolas indígenas vão poder enviar seus planos de

trabalho via PAR geral; e como os estados têm responsabilidade maior, foram chamados, citando o

exemplo do Pará, que não tem escolas indígenas, mas assume a responsabilidade de fazer a

articulação para atender essa demanda. Os técnicos foram chamados, foram colocadas planilhas e se

começou a construir o diagnóstico, durante os 3 dias, segundo essa nova metodologia, e nos

próximos dias vão dar retorno, com todas as demandas do estado, basicamente em 6 pontos:

1)formação de magistério; 2) ensino médio integrado – mais que colocar o ensino dentro das

aldeias, que tenha qualidade, atendendo as demandas de cada comunidade; 3) material didático, na

língua materna; 4) Prolind – licenciatura somente para professores indígenas, sendo que no Brasil

há cerca de 4 mil professores com condições, e há demanda, para ingressarem na licenciatura, sendo

a meta do Presidente Lula de que até 2010 todos os 4 mil esteja na universidade; 5) gestão, ou seja,

continuar a qualificação da equipe técnica que atua nas secretarias; 6) construção de escolas, tendo

sido feito levantamento pelo governo federal no sentido de que das mais de 2.400 escolas, que são

muitas diante do crescimento em 40% nos últimos 4 anos, mas poucas diante da demanda, e das

quais se verificou que 1057 não possuem nenhuma estrutura física. Sabendo-se que a educação

pública como um todo, a educação do campo e mais ainda a educação indígena estão muito frágeis.

Então recebem recursos como todas as demais, mas sem contarem por exemplo com prédios para

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funcionar, sendo a meta a construção de pelo menos 1500 escolas ainda esse ano, por meio do

Fundo Escola do FNDE, tendo os engenheiros trabalhado com plantas para sua construção, já que

muitos municípios não têm condição de construí-las e isso já será disponibilizado pronto, apesar de

terem autonomia para fazer. Conforme afirmou, querem disponibilizar aos estados, por onde o PAR

vai disponibilizar os recursos, priorizar para o campo como um todo, escolas de 5ª a 8ª Série e

Ensino Médio. A equipe da SECAD vai receber as informações, analisar o PAR dos 24 estados, ver

qual a demanda real, organizar para 4 anos, vão devolver em novembro para os estados fazerem os

ajustes. No que se refere mais especificamente às atribuições do MEC com relação à questão

indígena, afirmou Armênio, diante das demandas dos povos indígenas, a intenção, dentro da

parceria com os estados, municípios e organizações como um todo, é garantir que essas metas; ou

seja, construir com os estados que hoje têm boa parcela da responsabilidade da educação, de acordo

com a legislação, montar um plano articulado, que contemple, num todo, a maioria das ações para

quatro anos. Isso, afirmou Armênio, possibilitará garantir a conclusão e efetivação dos cursos para

os estados, professores, movimento, pois não será mais necessário fazer a apresentação ano a ano,

que estão propondo acabar. Para isso foi feito um acordo com o CONSED, no sentido de que quando

aprovado um curso, em outubro/novembro, já se garanta por quatro anos o recurso, garantindo com

isso a sua conclusão dos que estejam em andamento, e o início, meio e fim daqueles que têm

demanda para iniciar. “É um desafio grande, uma ação muito forte, um plano de ações articuladas;

nós estamos articulando internamente no governo como um todo, construindo isso com os estados,

e queremos agora, ao mesmo tempo em que com os estados e as entidades, fazer a garantia das

instituições, e fizemos reuniões com algumas nesse sentido, de que seja garantida a continuidade

para aqueles que estão trabalhando hoje, para que não aconteça nenhum vácuo, cancelamento ou

suspensão de um curso ou outro, que todo ano acontece. Então dentro do PDE tem o PAR, dentro

dele tem o PAR Indígena, justamente por o governo federal, o presidente Lula e nosso ministro

Fernando Haddad terem essa sensibilidade para a demanda e a dívida social com os povos

indígenas. Isso requer do governo uma ação mais intensa, mais específica e diferenciada; para isso

estamos construindo esse PAR. A intenção é, dentro do tempo que se tem, construir para que atenda

o máximo possível da demanda histórica que as populações indígenas têm. Temos erros, temos

acertos, mas estamos tentando, passo a passo, acertar mais do que errar”. O MEC mudou sua

maneira de atuar, sua sistemática de funcionamento, prosseguiu Armênio, e que qualquer mudança

gera instabilidade, tanto interna como externamente; o PAR está em construção, e em função disso

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julgou-se, por questão mesmo de racionalidade, priorizar a questão indígena e fazer um plano de

ações em separado para atender as demandas indígenas. Dentro disso, afirmou, tentou-se colocar em

linhas gerais como o governo federal vem trabalhando hoje nesse regime de parceria com os estados

e municípios, dentro daquilo que legalmente é responsabilidade do governo federal, da forma como

tentando construir isso com os parceiros que têm responsabilidade, e, mais que isso, têm

compromissos quanto à entrega de resultados. Então a intenção é melhorar a educação pública do

país como um todo, já que toda ela tem problema, dentro do todo se passando à especificidade que

têm os indígenas, com suas características próprias, que têm os quilombolas, também com suas

especificidades, as populações do campo. Enfim, concluindo, Armênio afirmou que o tem se

buscado fazer a concertação política de forma que as escolas passem efetivamente a atender com

qualidade a demanda dos povos indígenas dentro das aldeias, o que demanda professores indígenas

com qualidade, uma reivindicação do movimento indígena. A esse respeito, lembrou uma reunião

recente, em que ele, Kleber, Suzana estiveram presentes e onde receberam uma comitiva que

apresentou pauta de reivindicações dos professores e lideranças para ele próprio e para o ministro.

A partir disso, afirmou, estão no processo de construção de um novo marco legal – que vem sendo

acompanhado pela Dra. Deborah Duprat, uma grande parceira do MEC – para a questão indígena,

uma vez que legislação atual não atende, sendo preciso fazer concurso, ou outra forma de contrato

para os professores indígenas. Enfim, afirmou, estão buscando construir uma legislação que atenda

essa demanda por professores, já que a legislação em vigor não contempla a diversidade como um

todo. Um exemplo disso, afirmou, é visto nas comunidades remanescentes de quilombos, havendo

mais de três mil comunidades remanescentes de quilombos hoje reconhecidas no país, das quais mil

e quarenta são certificadas, mas só cinqüenta e três são tituladas; onde se vê que a legislação

brasileira não contempla a diversidade. Ou seja, há mais de três mil comunidades remanescentes de

Quilombo, no entanto só é possível construir escolas em cinqüenta e três, porque de acordo com a

legislação só é permitido construir escolas em terras públicas, e as comunidades não são

reconhecidas como públicas. “Então, só para ter uma idéia, para que a gente consiga fazer uma

escola nas comunidades remanescentes de quilombos, a comunidade tem que fazer a doação da

terra para que eles passem o m² para o município, para que o município então possa construir. As

terras das comunidades resultam de lutas de dezenas de anos, então fazer uma doação disso é

sempre um processo inverso e complicado. Então estamos mexendo na legislação de quilombola, do

campo, mas especificamente na indígena, para que ela se adeque à demanda da educação escolar

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indígena hoje, que não é mesma de 88, não é a mesma de 90, de 2000, nem será a mesma de daqui a

5, 10 anos. Então a nossa legislação também tem que sofrer as alterações que se fizerem necessárias

para atender as demandas”. Para isso, informou, foram contratados consultores, entre os quais Jamil

Kury, para que façam uma proposta e se possa discutir com as lideranças e depois ver com o

CONSED como conseguem aplicar. Finalizando, o representante do MEC afirmou que, com relação

ao PDE e PAR seria isso o que teria a dizer, colocando a equipe à disposição.

O presidente agradeceu e afirmou que, feitas as exposições, em sua opinião se

complementam, não se excluem, mas ambas trazem à tona a grande complexidade da educação

indígena, evidenciam o grande desafio que é esse tema no país e também que se trata de um tema

com grandes problemas, “como colocou Armênio, a situação é muito difícil, é uma dívida enorme, e

eu creio que essa CNPI tenha um papel importante para completar, a Funai de acompanhar, o MEC,

no âmbito do governo federal, de executar e a comissão de acompanhar de perto, de opinar sobre a

questão da educação”. Trata-se de um momento de discussão, afirmou, que não se encerra no

presente dia e sim é uma discussão longa, que pode ganhar corpo nesse momento importante da

Comissão de iniciar o debate da educação, a seguir abrindo o plenário para o debate. A primeira

inscrita, Pierlângela Wapichana, afirmou que, quanto à apresentação da avaliação, tem

acompanhado e discutido o assunto, como representante da Comissão Nacional de Educação

Escolar Indígena, considerando que a proposta foi muito bem apresentada por Luiz Donizete e

contempla o que o movimento indígena de Roraima e de outros estados quer. Gostaria de fazer

algumas perguntas a Armênio, afirmando que não ouvira em nenhum momento se mencionar como

se dará a participação dos povos indígenas, para demandar às secretarias as ações para o PAR.

Segundo relatou, ouviu que houve encontro com as secretarias, que estas vão mandar informações,

mas em nenhum momento ouviu sequer recomendação para se ouvir os povos indígenas naquela

região, sendo o prazo muito pequeno para fazer discussão; até porque há estados que não têm

condições, e “sabemos como é essa relação municípios e estados com os povos indígenas”,

conforme já denunciado várias vezes. Sua pergunta então seria em qual momento estarão sendo

chamados, foi prevista a participação dos indígenas nas discussões para o PAR, ou se é só uma

questão de secretaria e MEC. Outra pergunta seria no sentido de que se retratou muito a questão das

secretarias estaduais e municipais, então como fica o apoio àquelas organizações indígenas que

possam ter acesso à publicação de material didático, que antes se podia e agora não mais.

Pierlângela perguntou ainda sobre as organizações indigenistas, que em muitos casos estão

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oferecendo educação, no caso das localidades que o Estado brasileiro não atende, questionando se

os povos dessas regiões vão ficar dependendo de recursos de ONGs. “Como será o apoio a esses

povos indígenas, vão continuar dependendo do apoio de organizações não governamentais, como

no caso de Roraima o CCPY, que trabalha com formação de professores Yanomami, que o Estado

não quis assumir, pela especificidade”. Outra pergunta seria com relação ao valor do PAR para os

povos indígenas, explicando que Ricardo Verdum, da subcomissão de Etnodesenvolvimento,

solicitou informações sobre alguns PPAs e obteve o valor, por exemplo, do Ministério da Educação

para o ensino fundamental indígena, que foi de quatro milhões e cem mil, porém com execução

zero, e em capacitação de professores indígenas, que tem um milhão e quinhentos mil, também com

execução zero. Assim, queria saber porque os recursos estão disponíveis e no entanto a execução é

zero. E uma outra pergunta seria sobre como vai ficar o Prolind, se pelo REUNI, e como está sendo

essa discussão, que tem prazo e está sendo discutido pelas universidades federais que têm

licenciatura. Dando seqüência, o presidente passou a palavra para Francisca Pareci, que afirmou

estar não só surpresa mas muito decepcionada com a forma como vem sendo tratada a educação

indígena nessa gestão de governo. “Até pela luta da Comissão Nacional de Professores Indígenas na

época, que acompanhei; e de lá para cá me lembro de propostas, discussões, seminários,

proposições encaminhadas para o MEC, apontando demandas específicas, proposições peculiares

das realidades dos índios no atendimento, mostrando onde que está o gargalho da educação

indígena. E quando vejo a apresentação sobre o PAR, percebo que a proposta não contempla essa

diversidade, o que falo por experiência própria, com a secretaria da educação do meu estado, onde

está lá, as meninas desesperadas tentando decifrar o indecifrável, para encaixar ali as demandas dos

povos indígenas. Outra questão que eu vejo é de que quando você coloca que é um PAR indígena

de ação diferenciada, eu não consigo ver essa diferenciação, visualizar esse diferenciado; o que eu

consigo visualizar é meramente o processo de escolarização nas comunidades indígenas e ponto

final... Sem contar que a participação das comunidades indígenas como protagonistas de seu próprio

destino e principalmente propositores das ações que irão demandar, isso não aparece. Tanto é que,

por exemplo, poderiam ser citados conselhos estaduais, conselhos que se têm dentro dos municípios

em alguns estados, que as comunidades têm se organizado de forma a assegurar sua forma de

participação, e eu não vi isso... Eu queria ver uma coisa bem apresentável aí para nós, nessa coisa

de datashow, porque aí a gente consegue visualizar e até refletir sobre as questões, mas isso não

está posto”. Outra questão levantada por Francisca, mencionada por Pierlângela, seria no sentido de

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que, quando se fala de mudança de política de gestão e não se conversa com o verdadeiro

beneficiário, que são os povos indígenas, isso é comprometedor, porque em alguns momentos os

índios têm a gestão na mão, mas não são eles que têm o controle. Pelo que pôde perceber na

exposição, disse Francisca, a proposta do PNE, juntamente com o PAR, trata-se do fortalecimento e

investimento dos estados e municípios para a condução das ações da educação escolar indígena,

mas não de uma educação de fato diferenciada, com tudo aquilo que se vem discutindo ao longo

desses anos. “Então isso eu não consigo visualizar em nenhum momento e olha que eu tive acesso a

todos os formulários que foram passados para equipe de educação indígena e do MEC”, declarou

Francisca. Outra questão, a seu ver mais importante, é que em nenhum momento foi citado que a

Comissão Nacional de Educação Escolar Indígena participou, conversou, discutiu com os técnicos,

sentou com a SECAD para discutir como seria esse plano de ação articulada. “Eu considero isso

gravíssimo, porque já está se ferindo a OIT, e isso já foi colocado para mim e pelos próprios

companheiros indígenas. Outra questão que eu gostaria de salientar é em relação ao Prolind, que

para mim mesmo não está claro como fica. Vai ser no mesmo sistema anterior? Eu imagino, porque

nem todas as universidades têm um diálogo com as comunidades, está se construindo e não vi

nenhum incentivo. Então pelo que eu pude perceber é que é um verdadeiro pacotão”. Quanto à

qualificação, Francisca disse ter ficado decepcionada, entendera que na gestão de qualificação dos

técnicos estava prevista também a qualificação de todos os agentes indígenas ou não indígenas que

atuam na educação escolar indígena, então a seu ver não está claro, e só tem para os técnicos da

SEDUC. Outra questão apontada por Francisca disse respeito ao marco legal: “mais uma infração a

nós indígenas, porque você vai construir ou discutir o marco legal da educação escolar indígena sem

os índios! Também está ferindo a OIT, não está se cumprindo, ao construir uma legislação com

mudanças com essas secretarias que a gente tem, sem a participação dos índios, isso aí realmente

mostrou na verdade uma exclusão. Pelo que eu estou vendo é isso, atender demandas da realidade

dos estados e municípios, isso é que eu estou entendo do marco legal”, questionando de que forma

foi discutido e proposto com os povos indígenas, sua formação e formatação, pois se está mexendo

na LDB, nas leis que regulamentam a escolaridade indígena, o que se trata de contradição muito

grande. “Enquanto nós estamos tentando convencer a secretaria de educação de que temos que ser

parceiros e sem a participação indígena não se faz educação, o próprio MEC está mostrando o

contrário disso e de certa forma inviabiliza a participação indígena em qualquer processo

construtivo e democrático de uma política verdadeira que atende uma realidade específica”. Tendo

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em vista estar se estendendo em demasia, o presidente solicitou a Francisca que concluísse, ao que

esta afirmou “Eu sei, é muita emoção, o impacto é muito grande! Eu queria finalizar com outra

pergunta, que é em relação aos recursos financeiros: quer dizer, o MEC entra com uma contrapartida

e as secretarias, como ficam? E no caso de municípios que não têm recursos, que geralmente é mais

fácil de ser fechado e a comunidade indígena é muito maior, aonde fica a contrapartida dos gestores

estaduais ou municipais?”, finalizando sua fala. A seguir se passou a palavra a José Ciríaco,

capitão Potiguara, representante do Nordeste e Leste, que desejou boa tarde a todos e apresentou

sua pergunta, sobre qual a preocupação do MEC com os alunos que vêm abandonando seus cursos

na universidade e se o MEC tem algum projeto para a manutenção desses alunos. Agradecendo pela

objetividade, o presidente passou a palavra ao próximo inscrito, Saulo Feitosa/CIMI, que afirmou

ter tido dificuldades pelo fato de não se dispor de uma apresentação sobre o estudo ou algum

material escrito para acompanhar a exposição, por se tratar de muita informação, não sendo possível

assimilar tudo. Concluída a exposição, prosseguiu, ficou mais clara a urgência da convocação da

Conferência Nacional de Educação Escolar Indígena, ponto no qual acha que devem insistir, e que

aconteça o mais rápido possível, destacando ainda que muitas das considerações que gostaria de

fazer já foram feitas. “Eu acho que de fato há uma ausência total da participação indígena e aí nós

estamos, desde a instalação da CNPI, insistindo para que o governo brasileiro comece a exercitar

um mecanismo apresentado pela Convenção 169, que é a consulta aos povos indígenas; então de

fato é impossível se pensar num PAR indígena sem participação dos povos indígenas. E, também,

quando se fala da própria atividade direta com as secretarias estaduais ou municipais, em alguns

casos, fica difícil a gente entender: não foi apresentado um termo referência; falou-se muito em

diagnóstico, mas a partir de que e como para se chegar a propor alguma coisa. Então, primeiro eu

gostaria de ter as informações por escrito, seria uma solicitação; e a outra de que se construísse um

mecanismo de participação dos povos neste processo, voltando a insistir sobre a necessidade de que

se realize a conferência sobre educação indígena. A seguir, Kohalue Karajá, de Tocantins, o qual

reforçou a pergunta de José Ciríaco, informando que há vários universitários indígenas na

Universidade Federal de Tocantins, afirmando que faz dois anos que o estado em que trabalha, na

Secretaria de Cidadania e Justiça, abriu uma exceção, sendo alugada casa para os estudantes, assim

como a conta da luz e energia, e a Funai tem se esforçado para ajudar. Sendo que, diante das

dificuldades, alguns alunos indígenas desistiram e retornaram para a aldeia, questionando então qual

a postura do MEC diante desse fato, já que a cada ano mais alunos indígenas ingressam na

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universidade. Arão Guajajara , a seguir, disse que seria breve, primeiro ressaltando a falta de apoio

para os universitários indígenas; uma outra pergunta seria sobre o novo programa, o Prolind,

relatando que foi lançado um programa universitário para os índios, e no Maranhão houve muitos

não indígenas inscritos e até cursando, tendo se aproveitado dessa brecha de se matricular e se

inscrever pela internet e simplesmente se apresentaram como sendo indígenas e ninguém foi lá

conferir, enquanto os índios, que precisavam das vagas, ficaram de fora. “Espero que isso não

aconteça de novo e que haja uma supervisão do MEC ou de quem seja de direito. Nós temos de

cinco a dez pessoas que não são indígenas, inclusive em Sítio Novo, que nem indígenas tem, São

Luís e São José do Ribamar, que têm três, e por aí vai”. A outra questão, prosseguiu Arão, diz

respeito ao que se faz no âmbito da CNPI, pois “uma hora a gente imagina que está aqui no início

do processo para apresentar as propostas, de repente a gente chega e já tem um programa todo

montado, uma proposta já concretizada. De que forma a gente vai ter uma participação neste

processo?”, questionando se continuam discutindo, com a idéia de apresentar propostas para o

governo, ou destitui a Comissão e aguarda que o governo “determine essa situação de cima para

baixo”. O próximo a falar, Ak`jabor Kayapó , afirmou que os demais indígenas já haviam colocado

as questões que considerava mais importante; mesmo assim ia falar da história da sua região,

perguntando porque os recursos da educação não são usados, como os da saúde, para fretar aviões

para chegar na aldeia, explicando que só se chega a elas de avião. Em sua região há muito tempo

pedem para o Ministério de Educação para se ter escola dentro das aldeias com formação até a 8ª

série, mas não tem, explicando que têm medo de mandar os jovens estudar na cidade, devido ao

medo de alcoolismo, violência. A seguir, Marcus Xucuru, afirmou que se sentiu contemplado nas

falas dos demais, mas que gostaria d colocar para pensar na viabilidade, já que estão pensando na

criação do Conselho e poderiam amadurecer, discutir como implementar e a Comissão propor para

o governo a criação de um subsistema de educação escolar indígena. Outra questão, prosseguiu, é

que quando se fala em recursos, nos investimentos feitos pelo Brasil sem os resultados esperados,

isso se deve ao fato de que a educação é pensada não para atender de fato a população e sim a

interesses, inclusive políticos. Assim, os recursos vão, são destinados, mas não há fiscalização

adequada sobre sua aplicação ou não e portanto são desperdiçados, não atendem os índios nem a

sociedade como um todo. Marcos Tupã, a seguir, afirmou que cada região tem situações

específicas e diferentes, mas na sua região, no município de São Paulo, onde há 3 aldeias, há

situação específica, em que a prefeitura, a Secretaria Municipal “abraçou uma causa específica,

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criando o Centro de Educação de Cultura Indígena, onde funciona o Centro de Educação Infantil;

que é uma situação bem específica, não abrange todos os municípios no estado; mas existem outros

municípios que têm vínculos em atenção à educação no ensino de 5ª a 8ª séries, havendo confusão

com a repasse de verbas”. Nesse sentido, afirmou que seria importante haver regulamentação para

que os municípios que prestam essas ações tenham informações mais claras, e os índios também

possam acompanhar. Sentiu-se contemplado na fala de Marcus Xucuru sobre a questão de se criar

um subsistema, porque de fato os programas voltados para atender as aldeias precisam ser

discutidos junto às lideranças, com as comunidades a serem beneficiadas. Todos os povos e

comunidades estão pedindo para melhorar a qualidade, e tudo que for pensado para esses povos

deveria ser discutido com elas e suas organizações. Chamou-se então o próximo inscrito, antes do

que o presidente chamou atenção para o fato de que, até o momento, até o momento, apenas

Pierlângela fizera referência ao PAR, sendo importante que o plenário defina uma avaliação sobre a

questão. Luiz Titiar afirmou que sua preocupação disse respeito ao fato de que estão passando a

responsabilidade para os estados e municípios, afirmando que vêem o sofrimento dos professores,

que ficam meses sem receber, problemas de transporte. Gostaria saber ainda quais os

encaminhamentos para resolver essa situação e os que os demais representantes apontaram. A

seguir, a Dra. Deborah Duprat disse que teria vários pontos a destacar, iniciando pela observação

de Armênio no sentido de que são necessárias mudanças na legislação, por não ter sido feita para os

povos indígenas, concordando que de fato não é; é, sim, excludente, afirmou, tanto assim que antes

da CF 88 os índios não eram detentores de direitos, estavam sujeitos à tutela, até deixarem de serem

índios. Em sua opinião, “os gestores públicos não vão avançar em termos de política se continuarem

pensando em adaptar as políticas à legislação existente ou ficarem à espera de mudança legislativa,

que como se sabe é demorado, está aí o Estatuto dos Povos Indígenas para mostrar. O que eu acho,

e isso daí em todas as audiências, seja de índios, quilombolas, quebradeiras, tem se procurado

mostrar, que é hora do gestor enfrentar por exemplo o Tribunal de Contas e falar ‘olha, eu estou

fazendo uma interpretação dessa lei à luz da Constituição’, e não o contrário. Então não é razoável,

como a comunidade quilombola, ter que doar parte do seu território para construir uma escola; não

é razoável que, para as escolas indígenas terem o dinheiro direto na escola, a diretora tenha curso

superior, uma universidade pública funcionar só à noite por exemplo, de um desatino sem tamanho.

O primeiro ponto seria pegar a legislação existente e interpretar à luz dos princípios constitucionais

e não o contrário, e aí já se começa a avançar bastante. E é nesse sentido que nós estamos pensando

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na situação dos professores indígenas, e vem pensando junto com o movimento o tempo todo,

porque não vamos construir soluções jurídicas descolados dos movimentos. E aí entro na questão da

avaliação: quando surgiu o Plano Nacional o Ministério Público fez audiências junto com a Funai,

MEC, tentando obrigar as secretarias estaduais a cumprir as metas. O que se verificou é que, além

da falta de vontade política, em alguns casos, havia um profundo desconhecimento, que persiste até

a atualidade, daí porque o diagnóstico é de fundamental importância, tem muita coisa que não é

feita porque não se sabe como fazer, também porque se está descolado do movimento, das

populações indígenas daqueles estados. E aí fico preocupada, porque as propostas, o que o PAR

apresenta é uma relação de governo federal e secretarias estaduais de educação, que não estão

capacitadas para isso. Eu ouvi com muita apreensão a questão do Fundo Escola, que foi uma

experiência que tivemos cerca de 8 anos atrás e foi desastrosa, porque apresentava uma maquete de

escola que era impositiva, era o Batalhão do Exército que construía, entrava sem autorização na

área, enfim, em contrariedade a todos os princípios que se prega, sob a perspectiva de economia de

recursos, de racionalidade na aplicação de recursos, sem nenhuma preocupação com a questão

indígena. Eu acho que o grande problema da educação escolar indígena é que falta a ela o controle

social da origem, diferentemente da saúde, nós não temos o controle social na base, porque se assim

fosse não haveria nem um projeto a ser apresentado pelas secretarias estaduais ou municipais de

educação que não passasse pela avaliação dos usuários do serviço; isso é um problema muito grave,

imaginar que uma secretaria venha a apresentar um projeto, e o MEC a aprovar, sem que haja

controle dos usuários a respeito, o que para mim é muito grave. Eu teria outras observações a fazer,

mas acho que há um ponto que a Comissão poderia exigir do MEC, a informação mês a mês de

todos os recursos que são passados a título de educação, para os índios, para as secretarias estaduais

e municipais de educação. Porque é preciso exercer esse controle, saber o quanto se está recebendo;

digo isso porque estamos na CNPI, mas quilombolas, todos eles reclamam, por saberem que são

recebidos recursos, mas não o que é feito com eles; é preciso ter um controle desses recursos que

são repassados a título de convênio, seja o que for. E lembrar que o TCU vem dizendo, e às vezes

ficamos contra ele, às vezes a favor, que há determinadas políticas que não podem se desenvolver

pela via do convênio simplesmente, porque é um instrumento que, quando há qualquer falha na

prestação de contas, ele é interrompido; então a prestação de um serviço que é de natureza

permanente e essencial fica aos sabores daqueles que estão executando. E falo isso preocupada com

os programas de formação continuada de professores, agora estou vendo que será no período de 4

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anos, o que fica bem mais razoável, porque do jeito que estava não havia programa que andasse.

Enfim, são inúmeras as questões, quero dizer que pode até haver muito boa intenção nesse

programa que está sendo apresentado, mas ele se ressente do controle social. O presidente lembrou

que há mais uma inscrita, e depois Francisca, pedindo a ela que se possa retornar a palavra a Luiz

Donizete e Armênio, para que possa dar explicações necessárias. Renata/MEC afirmou que sua fala

se referia mais à proposta de avaliação, a qual considera estar bem sistematizada dentro dos

conteúdos, apesar de não estar dentro de sua área, para poder avaliar todas as metas. No entanto,

ressentia-se da institucionalização da pesquisa, que por ser muito ampla, lendo o que se propõe não

se vê a “amarração”, não sabendo se esse seria o espaço para isso, deixando a título de contribuição,

pois uma proposta nova de avaliação deve prever algum momento em que possa ser imediatamente

corrigida, então é preciso que seja institucionalizada; “Sei que a avaliação está sendo proposta

tentando manter a isenção dos órgãos, mas em algum momento eles devem estar presentes, devem

estar gerindo a proposta avaliação, até para se ter o controle para conduzi-la. É uma proposta ampla,

que vá atingir vários locais, e não consegui, na apresentação, perceber isso, ficando a título de

contribuição, pensar como será a institucionalização e diálogo com os órgãos, em que momento se

faz”.

O presidente retomou a condução dos trabalhos afirmando que, antes de devolver a

palavra Armênio e Luiz Donizete, para responderem aos questionamentos a eles propostos, gostaria

de lembrar algo importante, que sentiu muito fortemente nos comentários feitos pelos membros, e

se refere ao item que trata do processo; assim, gostaria de chamar a atenção para o fato de que “o

Presidente Lula, como qualquer outro presidente, graças a Deus, desde 1985, foi eleito, portanto

tem legitimidade para apresentar uma proposta de política pública. Dentre as propostas de política

pública que lançou, em que está o Plano de Desenvolvimento da Educação, e, inclusive a Agenda

Social dos Povos Indígenas que amanhã vou detalhar aqui, incluiu esta Comissão, inclusive com a

perspectiva de se criar o Conselho. Então o lugar que essa Comissão ocupa nessa política pública

que o governo lançou é como aquele em que se garante a participação dos povos indígenas para

questionar, perguntar, pedir esclarecimentos e se poder aperfeiçoar os procedimentos. Eu digo isso

para recolocar o patamar onde nós estamos, não podemos mais trabalhar na perspectiva olhando

para o retrovisor, devemos olhar para frente: hoje temos políticas públicas que envolvem uma série

de programas sociais, uma agenda social ampla que o Presidente Lula lançou, que inclui vários

temas, inclusive da educação, e que nesse complexo existe também a instância da participação e

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controle social que é esta Comissão. Portanto quero chamar atenção para isso porque acho que há

legitimidade tanto dos representantes indígenas como dos convidados para fazerem todos os

questionamentos que precisam ser feitos, mas também de compreendermos todos que o Ministério

da Educação, assim como a Funai e outros ministérios presentes, estão justamente aqui porque estão

dentro dessa política, ou seja, trazendo para o debate programas e ações que o governo federal está

construindo, do ponto de vista democrático, com participação. Então chamo atenção para isso, não

vou nem entrar no mérito da questão, antes de devolver a palavra para Armênio”, concluiu o

presidente. O representante do Ministério da Educação afirmou que passaria às respostas da “roda-

viva”, como chamou, falando de sua intenção de responder a todas, apesar de que seria preciso

muito tempo para contemplar todos os assuntos levantados. Inicialmente, na linha do que o

presidente afirmou, e levando em conta o que perguntou Titiar, da relação do governo com os

estados e municípios, se seria uma dívida ou compromisso, afirmou: “foi colocada a

responsabilidade de um gestor público, que responde por ela, se existe dívida e compromisso não

foi assumido nem assinado por nós; trabalhamos com uma legislação, à qual nós respondemos por

ela enquanto estamos e somos dirigentes, durante o que precisamos responder pelo que nos cabe

legalmente e fazer as alterações das leis que achamos que não estão atendendo. Para isso nos

baseamos no decreto 26 e 91, a LDB, a Resolução de março de 1999, o próprio PDE, os pareceres,

como o próprio Parecer 14, enfim, trabalhamos com a legislação que temos; discordando com ela,

precisamos fazer um empenho para mudar, trabalhamos dentro da legislação e o que coloca de

atribuições e responsabilidades de cada ente federado. É com isso que trabalhamos, por mais

críticas que tenhamos, para que não venhamos adiante a ter que responder por omissão ou mal uso

do recurso público”. Passando às outras questões, Armênio afirmou ter anotado 23 pontos, e que

tentaria sintetizar as respostas para contemplar todas. Dentro disso, afirmou ele, “no governo

federal, o tempo político não é o mesmo tempo civil; temos os prazos políticos, o governo tem seu

tempo para dar as suas respostas e tem os seus procedimentos formais de trabalho. Então em muitos

questionamentos o que estranho é o seguinte: o governo não mudou nada o que estava financiando,

o que o PAR quer fazer é dar responsabilidade maior aos estados e municípios, mas os 6 pontos que

serão financiados são exatamente os 4 que o governo já vinha financiando; só que ao invés de

recebermos uma resolução em separado, sem nenhuma preparação, agora estamos fazendo

discussão e organizando de uma forma que contemple a grande maioria das reivindicações só que

agora em 4 anos. Questão que foi colocada e consideramos absolutamente legítima, não fazemos

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nenhuma objeção e acolhemos sem nenhum problema, que é quanto à discussão local, com quem é

o maior interessado, que são as populações indígenas, continua da mesma forma, os estados e os

municípios estão apresentando no PAR da mesma forma que apresentavam antes, não se modificou

em nada. Isto é legalmente uma construção local, é lógico que há dificuldades, mais em uns locais,

menos em outros, mas da mesma forma que sempre foi, continua, mas a orientação do MEC é que o

máximo possível as propostas sejam consensuadas no local, com os órgãos, instâncias e

comunidades, da mesma forma como sempre foi. Então não é agora que o MEC vai fazer com os

estados e municípios – sempre foi feito, desde 1991. Em nosso entendimento, a mudança é positiva

no sentido de chamar todo mundo e construir dentre de uma realidade, até aí não mudou nada,

controle social e elaboração da mesma forma; acredito que vamos continuar tendo problemas na

questão da execução, mas para isso vamos ter uma maior responsabilização desse compromisso

assinado; nós estamos organizando esse financiamento. Quanto a ser com estados e municípios, isso

está na legislação vigente hoje, é com ela que temos de trabalhar, tentar mudar para atender a

demanda dos povos indígenas; que é positiva, pois em 4 anos aumentou em mais de 49% o número

de matrículas em escolas indígenas, volto a dizer, muitas nem escolas são, mas aumentou o número

de alunos na rede pública como um todo, e houve um acréscimo em mais de 42% do aumento de

escolas. Isto demanda dos municípios, estados, da sociedade como um todo, e também do governo

federal e dentro disso, volto a esclarecer, o PAR é plano de ações articuladas, que deverá ser

construído para dar maior organicidade. Então, por mais que eu respeite e ache legítimo, não há

discordância em relação à participação, em absoluto, o governo federal, dentro de sua legitimidade

e atribuição, tem autonomia para fazer. Pegando exemplo colocado aqui, de ação que tem execução

zero de seu orçamento, se formos reunir, falando em povos indígenas, do campo, quilombolas, se

formos parar para fazer discussão que leva muito tempo, sobre cada ponto, vamos ficar vários anos

com execução zero. Então o governo tem a legitimidade das suas ações, propostas, ideologias e

mecanismos de construção disso, uma delas é da forma que estamos trabalhando, cobrando

legalmente dos municípios e dos estados as participações e as construções na ponta; e esta , que é

legítima, tem que acontecer de igual forma no município e estado, que tem a responsabilidade. Com

relação à questão da execução que foi colocada, isso não mudou nada nos últimos anos, e com os

problemas que existem continua; para tranqüilizar, informo que esses recursos serão rigorosamente

utilizados, tranqüilizando ainda que, na construção do orçamento, é a demanda que vai dizer. Só

para construções indígenas são 20 milhões de reais, para construção de salas de aulas indígenas,

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muito mais que os 2, 3 milhões que estão previstos no orçamento; então, como vai ser pactuado, é

lógico que vai haver dificuldades. A Dra. Deborah tocou na questão do Fundo Escola – eu fiz

muitas também à época, mas era um outro momento, outros modelos, hoje os municípios vão ter

autonomia disso, para o que se fez 3 ou 4 modelos e pelas consultas que fizemos atendem a maioria,

não havendo obrigação nenhuma nesse sentido. Quando fui a Baía da Traição, vi uma escola que

parecia um disco voador, verde, redondo, desconectado da realidade, e não é essa escola que

pretendemos financiar, a custos, enfim...”. Tentando responder em linhas gerais, prosseguiu

Armênio, há ainda a questão do Prolind, que reconheceu não ter abordado, já que se concentrara no

PNE e PAR, programa de licenciaturas, informando que há 4 universidades executando, 8 em

processo de pesquisa, análise, implementação, programa que está sendo discutido no governo

federal e inclusive se está prestes a lançar edital, no mês de novembro. “Tanto as universidades

federais como estaduais têm a sua autonomia; mas como muito bem colocava o ministro Tarso

Genro o hoje ministro da Justiça quando era então ministro da Educação, muitas vezes há um

equívoco nas universidades, pois autonomia não é soberania, elas têm autonomia de seu

funcionamento, mas há um órgão gestor ao qual elas têm vínculo. Dentro disso vimos, e estamos

continuando dentro desse processo, de sensibilização das universidades públicas para a abertura de

cursos, nós queremos colocar 4 mil professores nessas universidades. Mas da forma que vínhamos

fazendo, o governo federal estava colocando 75% do orçamento do MEC, dos 12 bilhões de reais,

para as universidades federais, um outro recurso a mais, para que se abrissem esses cursos. O que

vimos, positivo, estão abertos, garantido o recurso para a formação dessas turmas que entraram,

percebemos que, se continuássemos tendo que colocar um recurso extra, por fora, nas

universidades, isso não se tornará política pública, enquanto tiver que depender de outro orçamento

não se tornará política pública, porque depende da sensibilidade do ministro de Educação, um

secretário de determinada secretaria etc. A partir de agora, portanto, vamos disponibilizar a todas as

universidades públicas, estaduais e federais, que apresentarem o seu plano de ação, uma política da

universidade – e os cursos de formação de professores indígenas têm que ser prioridade para a

universidade, que têm criação e expansão de vários cursos, e acabam não atendendo as demandas

indígenas, quilombolas, do campo. Então vamos disponibilizar recursos para a implementação

desses cursos, o que for necessário, se tiver que construir sala de aula etc., e a partir daí o custeio

desses custos deve ser da matriz das federais, pois recebem recursos em seu orçamento para a

manutenção de seus cursos. A meta do REUNE é a ampliação de 20% dos recursos para custeio, e

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nele próprio, que está em processo de implementação, está se fazendo discussão para que sejam

contempladas, em sua expansão, as temáticas e cursos de licenciaturas e especificamente da

diversidade. Então queremos, sim, colocar recursos para implementar nas universidades e a partir

daí que assumam enquanto cursos regulares, caso contrário não se efetiva enquanto política. As

estaduais, que têm muito acúmulo, muita competência, talvez muito antes das federais inclusive,

nós queremos colocar recursos para implementação, como eles não pertencem ao governo federal,

estamos discutindo como viabilizar de forma legal, para ver como fazer a manutenção desses

cursos, e por isso não saiu o edital. A discussão do Prolind portanto está bem avançada, com a

discussão aprofundada nesse ponto: mais do que sensibilizar, disponibilizar esse recurso para

implementação, e a partir daí que a universidade assuma enquanto seus cursos. Temos observado

que uma ou duas das universidades, quando o governo, o Ministério da Educação atrasa os repasses

– e é um problema – suspendem o curso ou não realizam uma etapa presencial. Então não pode ficar

assim, na dependência do governo federal, a universidade que vai se dispor a abrir curso, vai

receber recurso extra, sabe que esta assumindo a responsabilidade pela sua manutenção.

Acreditamos que vai haver uma expansão maior, e mais do que isso, que vai se ter a garantia da

continuidade desses cursos como um todo”. Com relação à gestão, Armênio explicou que, como

legalmente são os gestores de municípios e estados que têm a atribuição pela gestão, o

entendimento é que devem qualificá-los e por isso a formação das equipes técnicas, que não é

novidade. No que se refere à questão do marco legal, onde entra a questão do subsistema e outras

questões, disse que gostaria de tranqüilizar a todos, explicando que, embora já tivessem visto essa

demanda, ela foi apresentada pelas próprias lideranças indígenas, em solicitação ao ministro,

presente em documento oficial entregue a ele. Então, estão atendendo essa reivindicação, embora já

estivesse em processo, feita em audiência que os índios tiveram com o ministro. O que está sendo

feito, ressaltou, é elaborar para discussão, não foi enviado para lugar nenhum; o consultor

contratado, Dr. Jamil Cury, ainda está no início do processo de elaboração dos 6 produtos para os

quais foi contratado. Nada mais é do que uma análise legal das demandas que se têm, como a lei

atende isso, propostas e sugestões de alteração; após isso pronto, conforme afirmou, é

absolutamente tranqüilo, será colocado em processo de discussão, nas instâncias do ministério, via

Comissão, e na própria CNPI. Outra questão abordada por Armênio foi no sentido de que os

municípios e estados, quando apresentam um projeto, obrigatoriamente têm contrapartida, e da

mesma forma na construção do PPA. Assim, afirmou ele, querem saber: se o estado tem demanda

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de 100 escolas indígenas, quantas vai colocar, qual a sua responsabilidade; por exemplo,

legalmente, têm documento assinado pelo CONSED, após a Carta do Amazonas, um encontro que

reuniu todos os secretários estaduais de educação para discutir especificamente a parte indígena,

onde o estado assume o compromisso de que, a cada escola construída pelo governo federal,

deverão construir uma também, no regime de colaboração que estão tentando construir e efetivar.

Quanto à questão colocada pelo Capitão Ciríaco, continuou, trata-se de demanda muito forte, tendo

havido reuniões com vários alunos que de fato abandonaram os cursos, esclarecendo que as

universidades recebem recurso do Auxílio Estudantil, que muitas vezes não é bem trabalhado, não

atende a quem deveria atender, o que é sabido; que é questão de acompanhamento, de fiscalização

dentro das universidades para tentar saber. O governo federal tem discutido, o MEC tem tentado

garantir no âmbito das licenciaturas, tanto que no Prolind os alunos vão receber bolsa, que vai

diretamente para a conta do aluno, não será repassada para a universidade, informou, bolsa de

manutenção para o período em que estiver na cidade. Foram feitos alguns cálculos, “é lógico que

nunca atende toda a demanda, pois o Brasil é continental, mas tentamos fazer uma média de

deslocamento da aldeia até chegar ao aeroporto, passagem, manutenção... de forma que se não vai

atender de todo, subsidia para que possam se manter”. Com relação à solicitação de Saulo Feitosa,

no sentido de que seja enviado material sobre o que foi apresentado, Armênio informou não haver

problema, tudo o que falou está no site da educação, foi de lá que imprimiu, sobre o PDE, a

Resolução 29, sobre o Compromisso com a Educação; material este que é de livre acesso, público,

desculpando-se por não ter providenciado, mas se comprometendo em até o dia seguinte

disponibilizar para a organização. Com relação à realização da Conferência, tema levantado por

Saulo e, segundo Armênio, também fortemente discutido na subcomissão, já havia colocado e

reafirma que a Conferência Nacional de Educação Escolar Indígena, coordenada pelo MEC, vai

sair, está absolutamente garantida. Na próxima semana, afirmou, está prevista reunião entre Funai e

SECAD, para fazer ajustes e alguma construção política, e na semana seguinte uma reunião entre os

dois ministros, para se dar início às conferências, que serão em torno de 16 a 18 regionais

preparatórias para a Conferência Nacional do ano que vem. Assumiu que estão atrasados nos

prazos, mas que o processo está em andamento, já existindo proposta de portaria, que passou pela

Comissão, destacando, quanto aos atrasos, que para o governo realize uma conferência, são

necessários ajustes internos e isso está sendo colocado em prática. Sobre a fala de Arão sobre os não

indígenas que ocupam vagas de indígenas, explicou que ocorreu na primeira versão do Prouni,

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equivocada, a segunda já começa a corrigir isso; que esse tema passa pela questão das cotas nas

universidades públicas, que estão tentando se adequar para colocar quem legitimamente deve entrar.

Com relação à clareza dos repasses, afirmou que é do maior interesse do ministério que se tenha

fiscalização, acompanhamento e controle social dos recursos; que todo o acompanhamento é

disponibilizado no site, destacando estar ciente de que em alguns lugares não é fácil acessar, mas

informando que, além de constar no ‘Voz do Brasil’, há vários mecanismos para que as pessoas

possam acessar, concordando que se poderiam buscar outros mecanismos para acessar esses dados,

buscar logística para tal. Voltando à questão da Conferência, destacou que o MEC não tem

experiência, assim como tem a saúde, a Funai, sendo que apenas agora estará realizando sua

primeira Conferência Nacional de Ensino Básico, não tem acúmulo de experiência mas vai

construir. Concluindo, Armênio afirmou ainda que: “a forma que se tem hoje de trabalho, a forma

legal de responsabilidade dos entes federados hoje, estamos trabalhando para que os resultados se

efetivem melhor, tentando dar tranqüilidade, mais que para os gestores, para as lideranças,

professores e comunidades indígenas, dentro do que já havia sido dito: da mesma forma que deve

ser cobrado do município e estado, continua agora, deve ser consensuado no PAR como devia ser

antes, o que era antes continua. Tenho a convicção, por estar acompanhando há 4 anos, que o PAR

agora, o plano de trabalho em construção para os 4 anos deverá atender um número maior de

alunos, comunidades, povos, e com certeza representando um investimento do governo federal,

cobrando-se dos entes federados a sua cota de responsabilidade e participação”, concluindo sua fala

e se colocando à disposição.

A seguir a palavra foi passada para Luiz Donizete, que explicou, quanto à

institucionalização da pesquisa, está previsto no desenho geral da avaliação que o trabalho termina

com os relatórios individuais dos diferentes pesquisadores por estado, e esse material passa a ser

submetido à coordenação da avaliação, juntamente com uma equipe de edição; havendo ainda

momento previsto de um seminário em que se reúnem os pesquisadores, a coordenação da

avaliação, a equipe de edição e o grupo de acompanhamento com os diversos órgãos

governamentais, para finalização dos trabalhos. Não foi comentado mas há essa moldura de

conclusão do trabalho, reconhecendo que não poderia acabar simplesmente com o relatório

individual de um pesquisador, sem nenhum tipo de controle sobre a qualidade, sejam quanto aos

resultados quanto com a adequação em um formato para ser difundido. A outra questão, para

esclarecer, “é que havia uma expectativa, e eu deveria ter fechado minha fala com isso, mas entendi

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que na subcomissão de educação, quando se discutiu, ou na plenária, havia decisão de que fosse

apresentada à plenária para que fosse dado encaminhamento com relação à proposta, se a Funai

avança com isso, retrocede e aguarda o Inep elaborar proposta. Só para lembrar então que havia

proposta de encaminhamento com relação a isso”, finalizou. Em face desse último comentário, o

presidente destacou que justamente por isso havia colocado para a plenária a necessidade de se

definir um posicionamento. A seguir, informou que ainda havia as inscrições de membros, passando

a palavra inicialmente para Gilberto Azanha, que perguntou se o presidente gostaria de dar

encaminhamento à questão da avaliação, após o que se manifestaria, ao que o presidente então

pediu que Pierlângela e Francisca fizessem uso da palavra e depois daria encaminhamento. No

entanto, Gilberto explicou que não estava passando sua fala, e que se o presidente não fosse

encaminhar iria retomar a palavra. Assim, disse que teria duas observações relativas aos

esclarecimentos de Armênio e depois uma proposta de encaminhamento. “Primeiro, Armênio havia

dito que a lei o obriga a fazer as transferências de recursos para o sistema, a Seduc; mas a própria

lei que cria o Plano Nacional de Educação, a Meta 12, diz que se deveria fortalecer e ampliar as

linhas de financiamento para a ampliação dos programas de educação escolar indígena, a serem

executados pelas secretarias municipais ou estaduais, organizações de apoio aos índios,

universidades e organizações ou associações indígenas. Assim, desde 95, o MEC financia

organizações de apoio, universidades, organizações e associações indígenas para cursos de

formação e publicação de material didático. Esse ano, não teve um tostão, então alguma coisa

mudou, ao contrário do que foi dito. Em relação ao encaminhamento, pegando gancho da fala do

presidente com relação ao papel da CNPI, eu gostaria de propor encaminhamento, para que o MEC

submetesse os 24 PARs para exame e sugestões da subcomissão de Educação, porque há um prazo

para os PARs virem ao MEC, para fazer os exames, então nesse intervalo, antes de serem

retornados, proponho que passem pelo exame da subcomissão. É uma proposta de encaminhamento

para tirar resolução nesse sentido”, concluiu Gilberto Azanha. Nesse sentido, a Dra. Deborah

perguntou se não seria possível, até para cumprir a Convenção 169, que as secretarias, ao

apresentarem o seu projeto, de alguma maneira já trouxessem a evidência de que houve a consulta

prévia e o assentimento dos usuários do serviço. Do contrário, afirmou, não se terá a Convenção

atuando e é um instrumento que a Comissão cada vez mais tem que fazer cumprir, proposta esta

que, na visão de Gilberto Azanha, tinha problemas com relação ao prazo. O presidente a seguir

passou a palavra para Pierlângela, a qual afirmou que quem trabalha com a educação está em busca

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de avanços, e portanto se permanece tudo o que já existia nos últimos 4 anos, então isso não valeu

de nada. Assim, gostaria de externar seu descontentamento com a política atual do MEC para os

povos indígenas, porque já vem sendo dito que trabalhar com municípios e estados, fortalecê-los

não vai dar certo, afirmando que “não assina embaixo e paga para ver o que vai dar daqui a algum

tempo, pois vai se enterrar cada vez mais, saio daqui levando descontentamento; vai haver

seminário estadual em que estamos discutindo já um sistema de ensino para a educação escolar

indígena, e digo mais, se não houver nenhuma atitude por parte do governo, porque em nenhum

momento ouvi aqui citado que a Funai participou, os povos indígenas nem nada, foi o MEC,

simplesmente, então se continuar isso, e agora falo enquanto professora indígena de Roraima, nós

vamos fazer movimento para que nossos direitos sejam respeitados. Porque é inadmissível

continuar a situação da educação escolar indígena como está nesse país, e todo mundo que conhece

seu povo sabe como está. E mais do que nunca, a avaliação do Plano Nacional de Educação vai ser

de fundamental importância para mostrar, porque já foi feito um diagnóstico do Ensino Médio que

nunca foi publicado pelo MEC, que escancara como está a educação no país. E eu queria colocar

aqui para a Funai que não deixasse isso correr do jeito que está, porque é direito dos povos

indígenas, para a Dra. Deborah também que, como 6ª Câmara, se faça a defesa dos direitos, que os

representantes indígenas da CNPI nos posicionem, ver se a gente vai aceitar da forma que está ou se

vai ter essa resolução, se os PAR vão passar. Como professora acho impossível continuar com essa

hipocrisia, porque não dá para dizer que está melhorando, vai melhorar, há 4 anos conversamos com

a Coordenação Geral de Educação Escolar Indígena, colocando isso, vamos mudar, melhorar o

repasse a fiscalização e eu pago para ver, dou prazo de um ano para se fazer avaliação e ver se isso

é política que vai atender os povos indígenas; me preocupando a formação superior, cursos que só

acontecem porque a Funai está bancando, se não fosse ela os alunos não estariam se formando.

Como ficam as instâncias dentro do ministério da educação? As universidades não querem dialogar

com os indígenas, querem impor cursos de cima para baixo; e, ainda, é ilegal construir escolas com

uma planta. Acho que não só o PAR deve passar, porque se passar por nossa mão, eu como membro

da subcomissão estaria assinando dizendo que concordo com esse negócio, mas não sei, aqui nem

sabemos o instrumento, não foi nem apresentada a essa comissão, apenas foi relatado, não se

mostrou documento em que se apresente quais as diretrizes disso, para mim está um vazio total, e

quando chegar em Roraima vou repassar isso para os companheiros e ver o que o movimento vai

decidir, não levo nem sequer uma questão que poderia ter sido apresentada para dizermos quais são

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as diretrizes do PAR. Então, quero externar, porque são muitos povos que estão sofrendo com a

questão indígena...”, ao que o presidente chamou atenção para o fato de que Pierlângela estava se

estendendo demasiadamente, e concluísse, ao que esta concluiu afirmando que “estão há 7 anos sem

educação [naquele estado], e queria externar meu descontentamento, que enquanto CNPI se tire um

encaminhamento mais sério do que só ver os PAR e o que vai acontecer”, concluiu. A seguir,

Francisca Pareci disse que gostaria de fazer comentários sobre a apresentação a respeito do PAR,

afirmando que por exemplo em seu estado têm uma proposta de encaminhamento junto às

secretarias e organizações indígenas locais, para se tentar fazer um diagnóstico da situação da

educação indígena, pois têm trabalhado na concepção de que qualquer concepção de política

pública deve ter não só a participação indígena mas principalmente os envolvidos deverão saber a

sua realidade. Isso é necessário para que se possa elaborar política que contemple essa realidade,

tendo se percebido no entanto que muitas vezes são feitas sem estar em conformidade com isso.

Francisca afirmou ainda que a proposta de avaliação do PNE foi discutida com os índios e inclusive

muitos já conhecem, sentem que está bem próxima de sua realidade, mas teria que se ver como

atrelar essa discussão à questão do diagnóstico da situação da educação indígena. Francisca

destacou o trecho da fala de Pierlângela em que esta disse que houve uma prévia quando foi feito o

diagnóstico do Ensino Médio, mas na verdade se fez um pequeno diagnóstico da educação indígena

no restante do país, mostrando a situação drástica que está. Assim propõe que a CNPI delibere

como sendo necessária de fato a realização da avaliação, não só para o PNE, mas para qualquer

política que o governo estiver fazendo para as comunidades indígenas.

O presidente a seguir informou que gostaria, antes de dar encaminhamento, que

Armênio pudesse novamente se colocar, diante das ponderações que foram feitas. Este disse que

não teria muito a dizer, concordando radicalmente com o que foi colocado, no sentido de que é

inadmissível continuar como está, ponto em considera haver acordo sem problema, também no que

se refere à necessidade de se fazer diagnósticos, avaliações, o que a seu ver faz parte do processo

democrático, tem que haver divergências, caso contrário “não seria necessário haver esse espaço

rico e representativo de discussão”. O entendimento e intenção enquanto governo federal, afirmou,

é ter muito claro que não se pode continuar como está hoje, e exatamente é preciso implementar

essa política; “quando o governo Lula assumiu, e havia 200 mil reais no orçamento do Ministério da

Educação para educação escolar indígena, e agora há 40, 50 milhões de reais, acredito que isso seja

sinal de avanço e de início de uma mudança; quando não tinha licenciatura e passa a ter

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licenciatura, tem problemas e dificuldades, sim, mas a avaliação do governo é de estar investindo o

máximo possível e que isso se reflita permanentemente em qualidade”. Com relação à construção

de escolas, mais uma vez foi frisado que o estado vai apresentar o modelo que achar que deve

demandar de construção, não havendo obrigatoriedade de construção. Quanto à questão que foi

proposta de passar o PAR por aqui, “eu trabalho com aquilo que ordenado e determinado, quer

dizer, não sei da legalidade, do funcionamento, se houver uma determinação de passar não há

problema, não há constrangimento algum nisso, pelo contrário, a nossa intenção é a de qualificar.

Agora o porque de não passar, não passou até agora, é em função dessa autonomia e legitimidade

que os ministérios têm de tocar as suas ações. Quer dizer, vamos tocar os procedimentos como

sempre foi feito, o ministério, dentro do que lhe cabe, da sua dominialidade tanto legal como

política vem executando e essa instância que está em sua 2ª ou 3ª reunião; ou seja, não é por isso

que o ministério não atuaria. Então, como alguém colocou, acho que não é radicalizar nem de um

lado nem de outro, que teria ou que se dissolver a Comissão se os ministérios não trouxerem para cá

todas as discussões. Eu não gosto de radicalizar, já fiz isso quando mais novo, mas não gostaria de

radicalizar de outro lado: os governos e ministérios não podem ficar parados, sem executar suas

políticas, seu orçamento, esperando que tudo isso seja discutido em todos os conselhos, já que só

para ter uma idéia o governo tem mais de 600 conselhos e comissões, e eu participo de pelo menos

30. Então, nesse sentido, o governo está tentando equacionar suas políticas, como sempre foi feito,

e se tiver essa determinação de que tem que passar por aqui, e dependendo da questão legal, para

nós não há nada a esconder, muito pelo contrário, nós queremos dar resultados, e isso passa por

resultados, o que passa por qualidade, por recursos e por seriedade, e isso com certeza é uma

definição do Presidente Lula, sob coordenação do ministro Fernando Haddad, um instrumento que

nós estamos utilizando dando seqüência às funções, atribuições que cabem ao ministério.

Obrigada”, finalizou Armênio. Antes de dar encaminhamento, o presidente disse que gostaria de

fazer alguns comentários: em primeiro lugar esclarecer, até devido à ponderação feita por Armênio,

que a Comissão, pelo seu regimento, tem caráter consultivo e também de sugerir ao governo

encaminhamentos. Então, afirmou crer que, se o Ministério da Educação já se dispõe, concorda,

isso é mais uma razão para que a Comissão possa sugerir, no sentido de aprofundar essa discussão,

mas independente disso gostaria de chamar atenção para algumas coisas; “Como falei no início de

minha fala, sem dúvida nenhuma, o governo do Presidente Lula foi o que mais promoveu a

participação da sociedade civil nas deliberações sobre políticas públicas, não me lembro e acho que

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ninguém de nós pode se lembrar de outro governo que tenha feito isso. A imprensa até brinca

porque o presidente fala ‘nunca antes na história’, mas é verdade, nunca antes na história houve

uma Comissão Nacional de Política Indigenista; é a primeira vez, nunca na história um presidente

determina por decreto que a Comissão inclusive elabore um projeto de lei para criar um conselho,

por lei, já estamos na 4ª reunião para discutir e vamos encaminhar isso. Portanto acho que

precisamos compreender que essa Comissão é exatamente o lugar para que, através da participação,

direta inclusive, das lideranças eleitas, possam fazer esses questionamentos e que o governo escute.

Esse é um ponto que eu queria destacar: esse é o lugar democrático para discussão, e inclusive o

Presidente Lula, no dia da instalação dessa Comissão, lembrou publicamente que os índios

deveriam cobrar do governo o que precisa ser cobrado. O segundo ponto é que a CNPI, como outros

conselhos, são espaços de co-responsabilidade; a grande dificuldade da construção de uma gestão

democrática pública é justamente compreender cada vez mais o que significa co-responsabilidade,

entre governo e sociedade civil. O governo, a instância governamental democraticamente eleita, ela

tem autonomia, legitimidade também de apresentar propostas, programas, ações etc. Então o

Ministério da Educação está elaborando uma série de propostas, que são legítimas, na medida em

que o governo tem legitimidade para isso, foi eleito, não foi imposto, não estamos numa ditadura.

Portanto, é importante que se resgate isso, nós temos que baixar um pouco a poeira, o tema é sem

dúvida candente, mas precisamos baixar um pouco a poeira, pois há necessidade de aprofundar mais

o debate, as preocupações são legítimas, corretas, mas é preciso aprofundar. Outra questão: muitos

dos representantes indígenas levantaram a questão da relação com os estados e municípios, Titiar

inclusive levantou questão perguntando se existe divida política para se fazer isso. Então eu gostaria

de lembrar que o Brasil é um país federativo, a Constituição definiu que o Brasil é um Estado

federativo, existem estados, municípios e a União. E, assim, nós trabalhamos na gestão política do

país desta forma, os governadores, os prefeitos têm autonomia inclusive, pela Constituição de 88,

que também estabeleceu que várias das competências do Estado brasileiro são comuns à União,

estados e municípios, dentre elas a educação pública, da cultura, entre outros. Quando o MEC está

propondo desenvolver trabalhos com estados e municípios, é porque está cumprindo a Constituição,

não é uma questão de dívida política com governadores ou prefeitos. Este é um quarto ponto que eu

gostaria de lembrar, para tornar claras as várias posições aqui. Por outro lado, há um 5º ponto,

também definido pela Constituição de 1988, que também diz que os povos indígenas têm direito a

uma educação diferenciada, que é um dos direitos específicos que os esses povos têm. E na

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Constituição fica inclusive estabelecido que a União tem um papel preponderante de

responsabilidade junto aos povos indígenas, sendo que em alguns casos a responsabilidades por

alguns desses direitos é exclusiva ela, como na demarcação das terras indígenas. Ou seja, o

constituinte de 88 deixou uma perspectiva híbrida sobre o que cabe a cada um, de um lado há as

responsabilidades dos estados e municípios e por outro a especifica. E tudo o que se está discutindo

aqui também passa pela interpretação que cada um faz conforme suas leituras próprias, legítimas,

do texto constitucional. Esse é um outro ponto importante que é preciso deixar claro, pois só vamos

superar as dificuldades na medida em que isso ficar claro, a educação, como outros temas, precisa

ser tratada de forma muito transparente e clara, estabelecendo todas as posições para que se possa

dar o passo adiante, ou então fica parado. Um outro aspecto para o qual chamo a atenção diz

respeito à gestão compartilhada das políticas públicas, que foi colocada pela Constituição e

legislação posteriores, estabelecer com clareza qual é o papel da Funai, do MEC, em relação à

educação, do Ministério da Saúde, em relação à saúde, na cultura, ainda há muita poeira quando se

trata desses assuntos. Na Funai, ainda existem muitas visões de que é a responsável por tudo o que

diz respeito aos povos indígenas, e isso é totalmente anacrônico, porque na prática, na vida real já

não é assim, existem muitos outros atores governamentais em políticas públicas ou ações

especificas que atuam junto aos povos indígenas. Não é mais a única que cuida e vou tratar melhor

disso amanhã, mas falo isso porque ouço muitas opiniões e sempre há de um lado os federalistas e

de outro os do pacto federativo e acho que não é essa a discussão, o bem contra o mal, os

federalistas são do bem e os municipalistas, estadualistas são do mal. Se ficar numa discussão desse

tipo, inclusive com relação à posição que deve haver no governo federal, num órgão como a Funai,

não vamos avançar. E já disse bem claro, inclusive no dia de minha posse: à Funai cabe

acompanhar, articular e integrar melhor as ações de políticas públicas do Estado, não executar, no

caso da educação temos uma série de ações complementares importantes; ao MEC cabe também

desenvolver e apresentar as suas propostas de educação, na própria perspectiva que o Armênio já

colocou, de debate democrático. E eu acho que quando o MEC coloca aqui claramente que vai ser

realizada a 1ª Conferência de Educação Escolar Indígena, nós estamos tratando da radicalização da

democracia, pois não existe no Brasil espaço mais amplo de debate democrático que nas

conferências, que nós temos construído ao longo dos últimos anos, e a perspectiva que o MEC

coloca de realizá-las nos coloca um grande desafio pela frente, e que a Comissão possa contribuir

para que seja uma grande conferência e se possa avançar nesse debate. Minha fala aqui na verdade é

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muito mais no sentido de apontar desafios, questões, dúvidas, para ajudar um pouco a encontrarmos

um rumo nessa discussão, que é fundamental”. Dito isso, prosseguiu o presidente, com relação à

proposta de encaminhamento apresentada por Gilberto Azanha, e a qual Armênio já se posicionou

afirmando que o MEC está aberto para essa possibilidade, afirmou acreditar ser interessante que a

CNPI possa, a partir do momento em que os estados encaminhem as suas propostas, recebê-las,

participando do debate ao longo do processo; que a subcomissão e o plenário possam participar

desse debate, ter acesso a essas propostas que virão dos estados. Nesse sentido, abriu a consulta ao

plenário sobre a proposta, que considera não como sendo algo definitivo, uma solução única, mas

um encaminhamento que dá um passo a mais para se avançar no debate. Armênio no entanto

ressaltou que trabalham com orientações superiores, que a Comissão tem autonomia para tirar suas

resoluções e encaminhamentos, mas que sua fala é que saia essa orientação, seja oficializada junto

ao Ministro da Educação e partir daí se avalie a questão da legitimidade, da legalidade e se for essa

orientação, desde que oficialmente encaminhada, defina-se como proceder. Nesse sentido o

presidente colocou em votação o encaminhamento no sentido de que, quando os estados

encaminhem para os estados seus planos de trabalho no âmbito do PAR, o Ministério os submeta à

apreciação da CNPI antes de os devolver para os estados essas propostas, ao que Gilberto Azanha

destacou que se trata da proposta de uma resolução da CNPI recomendando, sugerindo ao MEC que

envie à Comissão os PARs dos estados, para sugestões. Em consulta ao plenário, verificou-se que

não haver posições em contrário, considerando-se aprovado o encaminhamento, conforme

explicado. Feito isso, o presidente afirmou considerar que no dia de hoje a pauta está encerrada, se

haveria algum comentário, ao que Wilson Matos questionou se deveria ser feita minuta a ser

submetida ao plenário, ao que o presidente afirmou que será preparada e submetida à plenária no

dia seguinte. Antonio Potiguara, a seguir, propôs ao presidente, que os índios da CNPI possam

participar da Assembléia Potiguara, arcando com as passagens dos indígenas, ao que o presidente

afirmou que se analisaria a viabilidade de atender a solicitação na Funai. Gilberto Azanha pediu

questão de ordem, lembrando que há questão do referendo da plenária com respeito à avaliação do

PNE, ao que o presidente consultou a plenária sobre o encaminhamento sugerido pela Funai para

que seja feita avaliação independente do Plano Nacional de Educação, que foi aprovado pelos

presentes. Com relação à pauta do dia seguinte, o presidente lembrou que os trabalhos do presente

dia começaram com atraso, e que no dia 11 estava prevista a apresentação, a ser feita por ele

próprio, sobre os empreendimentos econômicos do PAC, assim como sobre a Agenda Social,

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cabendo à Funasa apresentar a parte da Saúde e ao MDS o que lhe cabe, apresentação sobre o Sigat,

que faz parte da Agenda Social, reestruturação, PPA, lembrando a todos que façam esforço para

começarem às 8:30 e possam cumprir a pauta inteira, conforme estabelecido.

Ata da 3ª Reunião Ordinária Dia 11 de outubro de 2007

Manhã

Aos onze dias do mês de outubro do ano de dois mil e sete teve início o

segundo dia da 3ª Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Política Indigenista, sob a

presidência de Márcio Augusto Freitas de Meira, presidente da Comissão, o qual iniciou os

trabalhos da manhã propondo que se definisse a sistemática de trabalho, conforme a seqüência a

seguir: apresentação de um quadro geral sobre as obras do PAC que incidem nas áreas indígenas,

“que é um trabalho que a Funai está fazendo, não está concluído, mas vamos apresentar hoje aqui o

que já temos”; em seguida apresentação, por Aderval Filho/MDS, sobre a forma como o governo

decidiu que deve dar encaminhamento para a relação entre os empreendimentos e o impacto para os

povos indígenas e outros povos que também estão sendo impactados; em seguida, apresentação,

pelo presidente, da Agenda Social que o presidente Lula lançou em São Gabriel da Cachoeira, no

dia 21 último; apresentação sobre a proposta de reestruturação da Funai e depois sobre o Plano

Plurianual, informando que todos haviam recebido material farto. Nesse contexto da agenda,

prosseguiu o presidente, foram selecionados alguns pontos, destacando que tudo o que será

apresentado em termos de proposta e agendas está aberto para discussão com a Comissão. Antes de

dar início efetivo a esses trabalhos, porém, o presidente passou a palavra a Lindomar Xocó, o qual

solicitara alguns minutos para tratar de um assunto de interesse da representação indígena de sua

região. Lindomar, por sua vez, disse que antes de mais nada gostaria de registrar que neste estava

completando um ano da maior perda que o cenário político da região Nordeste vivenciara,

especialmente na sua região, Alagoas e Sergipe, que se refere à “inesquecível Maninha”,

informando que naquele dia estavam acontecendo atos públicos em sua memória, e diante do que

gostaria de contar um pouco da história dela. Nesse sentido, Lindomar informou que a história de

Maninha começava com seu pai, liderança política do Nordeste, a quem um dia pediu que a

deixasse secretariar uma reunião, vindo com o tempo a se tornar uma das maiores lideranças da

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região, fazendo da parte da comissão Leste-Nordeste. Lembrando sua importância, disse Lindomar,

gostaria de pedir a todos que se levantassem e fizessem um minuto de silêncio em sua homenagem,

em seguida acompanhado por todos os presentes. Ainda a propósito dessa questão, o presidente

passou a palavra para Saulo Feitosa; este por sua vez informou que até a presente data não consta

nada no atestado de morte de Maninha a respeito da causa de sua morte, que ninguém da cidade de

Palmeiras do Norte quis se responsabilizar, já que ela chegou ao hospital caminhando, com uma

crise respiratória, onde se alegou que não havia médicos, e esta veio a falecer. Diante disso, afirmou

Saulo, a CNPI deveria se posicionar, por meio de uma resolução, já que ela atuava na comissão de

saúde indígena, morre por falta de atendimento médico e sequer tem um atestado de óbito.

Considerando a proposta mais do que justa, o presidente posicionou-se no sentido de que a

Comissão pressionasse para que se possa saber a causa desse acontecimento junto com o hospital,

pedindo que seja providenciada a resolução.

Passando a seguir aos trabalhos pautados para o dia 11 de outubro, o presidente

informou que, conforme proposto minutos atrás, primeiro trataria do levantamento feito pela

Diretoria de Assuntos Fundiários da Funai em relação aos empreendimentos do PAC com

incidência em terras indígenas. Antes disso, destacou que se trata de uma tarefa que acreditavam

ser fácil – levantar os empreendimentos – mas que acabaram descobrindo não ser tão simples

assim, porque tiveram que levantar com detalhes e procurar todos os ministérios, principalmente

aqueles que têm responsabilidades por grandes obras, levantar obra por obra, plotar essas obras no

mapa etc. Então, prosseguiu, a perspectiva é que na verdade até o final do ano disponham de um

levantamento mais exaustivo e por isso estariam trazendo um levantamento ainda preliminar dessa

obras, sendo que para a apresentação se valeriam de quadro projetado no telão. Seguindo esse

quadro, informou, o que se vê é o resultado do levantamento dos empreendimentos que têm impacto

em terras indígenas, por região: na Amazônia Legal, noventa e cinco empreendimentos que têm

impacto nas terras indígenas; no Nordeste, vinte e nove empreendimentos; no Centro-Oeste, quinze;

no Sudeste, trinta e três, e, na região Sul, trinta e oito, resultando num total de duzentos e dez

empreendimentos. Esse levantamento, prosseguiu o presidente, como já dito, vai ser um trabalho

muito exaustivo, podendo se perceber que na Amazônia Legal está o maior volume de

empreendimentos, quase a metade dos empreendimentos do PAC. Nesses empreendimentos estão

incluídos vários tipos, desde obras grandes, como hidrelétricas, a pequenas obras de asfaltamento,

pequenas vias, que nem passam dentro de áreas indígenas, mas passam perto, então trazem um certo

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impacto. Foi considerado impacto não somente impactos diretos, informou, mas também

empreendimentos que incidam direto na terra indígena e no entorno das terras e que

consequentemente trarão conseqüências para a terra indígena. Esse é o critério utilizado para fazer

esse mapeamento, destacou o presidente, e inclusive as informações obtidas já estão sendo plotadas

no mapa, que se colocava à disposição nesse momento para que todos os interessados possam

consultar, informando que se tentou colocá-lo na tela mas não ficou muito visível. Num primeiro

momento, continuou o presidente, procurou-se inserir no mapa, por exemplo com relação a uma

estrada que será feita, as coordenadas, procuraram saber exatamente onde ela estrada iria passar,

porque caso passe dentro de uma terra indígena já se poderia identificar, e assim fizeram com todos

os empreendimentos. Portanto, frisou o presidente, esse é o primeiro levantamento que o governo

fez, de forma substancial, da incidência de empreendimentos em terras indígenas, disponibilizando

o mapa em questão. O objetivo neste momento é que até o final do ano tenha sido concluído o

trabalho mais exaustivo, inclusive separando por região, no caso da Amazônia Legal, dispondo-se

de um mapa mais detalhado para disponibilizar à Comissão. Seguindo o quadro exibido no telão,

continuou, o espera-se realizar até o final do ano o levantamento do impacto nas terras indígenas,

terra por terra, a caracterização dos empreendimentos e dos impactos diretos e indiretos e o estado

da arte no licenciamento ambiental e cumprimento de medidas. Quando a atual gestão assumiu a

Funai já existiam procedimentos, como por exemplo, o Ibama é o órgão que emite o licenciamento

ambiental e, pela legislação, é o órgão que está autorizado a fazer isso, e manda para a Funai, que

averigua se está ou não nas terras indígenas, “mas nós estamos fazendo um levantamento para saber

exatamente como está cada caso que já tinha dado parte antes da nossa chegada na Funai e para

poder ter também um levantamento exaustivo de licenciamento”, informou. Esse é o quadro geral,

continuou o presidente, informando que não faria o detalhamento obra por obra, até porque são

duzentos e dez empreendimentos; “mas o principal é que estamos de olho, e que até o final do ano

estamos, de forma exaustiva, levantando esses dados e disponibilizando para Comissão essas

informações a cada passo, a cada momento, digamos assim a cada passo do programa”. O

presidente a seguir passou a palavra para Aderval Filho/MDS, para que ajudasse a apresentar esta

parte, informando ainda que realizaram discussão dentro do governo, com a comissão que trata da

Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e de Comunidades Tradicionais,

criada pelo governo e que envolve não só os povos indígenas mas também comunidades não

indígenas, como ribeirinhos, quebradeiras de côco, que também são afetadas pelos

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empreendimentos do PAC. “Então o governo não poderia tratar desta questão do impacto só com os

povos indígenas; tem de tratar também dos outros povos, e foi discutido dentro do governo e

definido dentro desta política, a qual inclui os povos indígenas, os procedimentos e forma que

devemos atuar, estabelecendo o diálogo, a ponte entre esses povos, mas respeitando a legislação,

que é fundamental, nós temos que seguir a legislação ambiental”. A seguir o presidente convidou

Aderval Filho a fazer uso da palavra, apresentando os procedimentos que foram discutidos dentro

do governo para a abordagem que deve ser feita, para discussão posterior. Aderval iniciou

desejando muito bom dia a todos e informando que, na verdade apresentaria algumas diretrizes que

estão pactuadas com a sociedade civil, representada por diversos segmentos sociais e tradicionais

que integram a comissão. “Essas diretrizes foram pactuadas em cinco oficinas regionais e estão na

pauta da Casa Civil e outros órgãos que estão mais diretamente envolvidos com a implementação

dos empreendimentos. As oficinas ocorreram entre os dias 14 a 23 de setembro de 2006, em Rio

Branco, Belém, Curitiba, Cuiabá e Paulo Afonso, envolvendo trezentos e cinqüenta participantes,

muitos deles indígenas. Foram diretrizes pactuadas antes mesmo do PAC e isso não estava na pauta

de discussão, portanto é só uma contribuição ao nosso debate, mas isso está na pauta de discussão

da comissão com a Casa Civil e os órgãos envolvidos”. Não se procederia à exposição da política

em si, informou Aderval, porque não seria objeto naquele momento, e sim posteriormente, mas

cabe informar que ela está estruturada em quatro eixos: acesso aos territórios tradicionais, aos

recursos naturais, infra-estrutura, que envolve a questão da sobreposição de empreendimentos sobre

territórios tradicionais, mas também resolução de conflitos em decorrência da sobreposição de

unidades de proteção sobre territórios tradicionais; a inclusão social, que vai desde educação

diferenciada, fortalecimento de cidadania, atenção diferenciada à saúde, adequação do sistema

previdenciário, acesso diferenciado a políticas públicas de inclusão; as questões de gênero, acesso à

gestão de recursos públicos, segurança pública e direitos humanos e fomento à produção. Esses são

os quatros eixos da política, destacou Aderval, passando-se a seguir às diretrizes específicas, que se

tratam de: garantir o direitos desses povos indígenas e das comunidades tradicionais que sejam

afetadas diretamente ou indiretamente por projetos, obras e empreendimentos, lembrando que são

diretrizes para implementação da política que foi decretada no dia 07/02, por decreto. Trata-se

também de disponibilizar informações e garantir a participação dos povos e comunidades

tradicionais na concepção, elaboração e implementação nos planejamentos setoriais de curto, médio

e longo prazo vinculados a grandes obras de infra-estrutura, seja no campo energético, na questão

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de estradas e etc., planos diretores e zoneamentos e outros planos de uso e ocupação territorial; criar

instrumentos para que povos e comunidades tradicionais sejam consultados e participem dos

processos decisórios, quanto à alocação de obras e empreendimentos em áreas que os afetam direta

e indiretamente, mesmo antes do pedido de licença prévia; garantir a informação e o debate interno

aos povos e comunidades tradicionais acerca do processo de licenciamento ambiental, em especial

pelos impactos que poderão vir a sofrer em função de obras, que possam sofrer direta ou

indiretamente, tanto com relação ao patrimônio material quanto ao patrimônio imaterial; bem como

a garantia de participar da avaliação desses impactos e de propor alternativas aos projetos e às

medidas mitigatórias, compensatórias e indenizatórias; viabilizar a participação dos povos e

comunidades tradicionais nas audiências públicas realizadas ao longo do processo de licenciamento

de obras e empreendimentos que lhes afetem direta ou indiretamente. Um outra diretriz diz respeito

a garantir a participação dos povos e comunidades tradicionais na concepção, elaboração e

implementação, bem como na utilização de mão-de-obra local em projetos de infra-estrutura, com

base nos padrões socioculturais destes povos e comunidades; garantir aos povos e comunidades

tradicionais o direito de receber benefícios pela servidão de trechos e áreas que tenham seus

territórios cortados ou parcialmente suprimidos por empreendimentos de utilidade pública ou de

interesse social, como estradas, portos, barragens, hidrelétricas, ferrovias, linhas de transmissão,

oleodutos, gasodutos etc. Indenizar e compensar os povos e comunidades tradicionais pelos danos

causados ao ambiente e ao patrimônio material e imaterial em decorrência de projetos e

empreendimentos executados no entorno e na bacia hidrográfica onde se localizam os territórios

desses povos e comunidades tradicionais, sendo que tal critério, segundo entendimento da

sociedade civil e em negociação com o governo, é de bacia hidrográfica. Prosseguindo na

apresentação, foi listado ainda o princípio que se refere a garantir aos povos e comunidades

tradicionais afetados direta ou indiretamente por projetos e empreendimentos o acompanhamento de

órgãos técnicos e jurídicos nas esferas federal, estadual e municipal do Ministério Público Federal e

da Advocacia Geral da União; criar mecanismos que garantam o efetivo controle social do processo

de ocupação humana e da utilização de recursos naturais no entorno e na bacia hidrográfica onde se

localizam os territórios de povos e comunidades tradicionais, visando ao amortecimento e à

mitigação dos impactos negativos dos processos. Citou ainda o princípio segundo o qual se deve

criar centros de pesquisas voltados aos povos e comunidades tradicionais, de meio ambiente,

produções locais, fontes não convencionais de energia e de habitação. Sendo que, na implementação

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de empreendimentos nos territórios de povos e comunidades tradicionais, deve-se proibir e coibir o

desmatamento de vegetação nativa e viabilizar a recuperação de áreas degradadas em bacias

hidrográficas de uso destes povos e comunidades tradicionais. Enfim, o último princípio propõe que

se deve respeitar a decisão livre e soberana de povos e comunidades tradicionais sobre as citações

de intervenções próprias ou em áreas de povos e comunidades tradicionais, quanto ao impacto de

obras de infra-estrutura, barragens, hidrelétricas, ferrovias, linhas de transmissão, oleodutos,

gasodutos e etc. E, no caso de aceitação, garantir a reparação prévia de terceiros sobre as regras de

convivência estabelecidas por tais povos e comunidades tradicionais. Portanto então essas são

algumas diretrizes, concluiu Aderval, ressaltando que nem todas estão diretamente ligadas à questão

de obras e empreendimentos em terras indígenas e também em outros territórios tradicionais, que

não se procurou esgotar a questão e sim oferecer uma contribuição da comissão nacional para a

discussão no âmbito da CNPI. Retomando a palavra, o presidente agradeceu a Aderval, propondo

que se desse continuidade à apresentação, completando-a, para depois a gente abrir para a discussão

na plenária, pedindo então que se passasse à projeção relativa à reestruturação da Funai. Antes,

porém, Saulo Feitosa/CIMI, pediu questão de ordem, afirmando que a seu ver seria complicado

debater a reestruturação da Funai e empreendimentos depois, a não ser que houvesse dois

momentos de debates. O presidente, por sua vez, afirmou avaliar que a reestruturação da Funai

envolveria também uma apresentação sobre o PPA, orçamento e sistema de gestão, e que para

discussão do PPA seria importante que os representantes tivessem conhecimento sobre essas

informações gerais, sendo que muita coisa que se relaciona a como devem agir no sentindo de

enfrentar os desafios do PAC passam pela reestruturação da Funai. Por isso, continuou, avalia que

seria importante apresentar o global, para dar melhor condição aos debates, mas que se o plenário

achar que se deve fazer uma discussão sobre o PAC, os empreendimentos e a metodologia que o

governo está apresentando para o debate poderiam mudar, ao que consultou o plenário. Marcos

Xucuru desejou bom dia a todos e afirmou que a seu ver seria de fato complicado apresentar tudo

de uma vez só, até porque não tiveram tanto tempo de analisar e “aí de repente a gente pega tanta

informação que fica sem saber, com uma dificuldade de discutir e debater”. Diante disso, propõe

que os temas sejam separados, discutindo-se questão a questão, para facilitar a conclusão, inclusive

por parte dos membros que acabaram de ter contato com tais informações. Aderval Filho expressou

concordância com relação às questões levantadas por Saulo, no sentido de que seria melhor discutir

separadamente esses assuntos; Jecinaldo Cabral, por sua vez, apresentou proposta no sentido de

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que formar um bloco com o que fora visto na apresentação sobre o PAC, o que o governo está

pensando com relação ao que o Aderval apresentou, a agenda que foi apresentada em São Gabriel,

que seria um contraponto, pois não sabem do que se trata. O presidente então propôs que a seguir

se passasse à apresentação da agenda para os povos indígenas, ao invés de apresentar a

reestruturação, abrindo a discussão desse tema juntamente com o que fora apresentado até ali,

abrindo para a discussão. Wilson Matos, pediu então questão de ordem, informando que a bancada

indígena pactuara em sua reunião que houvesse limitação de tempo, pois alguns falam e outros

ficam sem participação, solicitando que neste debate, que inclui vários e complexos temas, que se

fizesse uma limitação de tempo. O presidente disse que não se tem adotado essa metodologia de

marcar tempo, porque se tem deixado um pouco a palavra mais livre, mas sim preferiria recomendar

que fossem mais objetivos diante do nosso tempo. Arão Guajajara , a seguir, levantou a questão de

que se notava a presença de muitas outras pessoas além dos membros e convidados, sendo preciso

saber quem é quem, pois havia pessoas presentes que não se tem muita clareza de quem são,

pedindo que pelo menos se identificassem, informando se vieram a convite de alguém ou apenas

como ouvintes. Em resposta, o presidente informou que as pessoas que se encontravam na plenária

eram funcionários da Funai que convidara por conta para apresentação daquele dia, solicitando a

quem fosse servidor da Funai que se apresentasse. Assim, registrou-se a presença de Iara Vasques,

Coordenadora Geral de Meio Ambiente, Dr. Salmeirão, Procurador-Chefe da Procuradoria

Especializado da Funai, Vladinei, da aérea de Planejamento e que cuida do PPA, Luiz Carlos

Levinho, Diretor do Museu do Índio, um dos responsáveis também pela produção da Agenda

Social. Ao fim da apresentação informando que haviam sido convidados pelo presidente para dar

esclarecimentos, enquanto técnicos, caso viesse a ser feitas alguma pergunta específica.

A seguir o presidente fez apresentação da Agenda Social dos Povos Indígenas,

conforme material distribuído aos membros e exibindo no telão, explicando a seleção das fotos

usadas na apresentação, que tinham a intenção de mostrar a diversidade de situações vivenciadas no

país; que foi feita uma contextualização do cenário geral das populações e terras indígenas no país;

relacionadas ações desenvolvidas junto aos povos indígenas por diversos ministérios, existindo 78

diferentes ações no PPA, no caso ressaltando que são desarticuladas entre si; propostas,

primeiramente a Agenda Social dos Povos Indígenas, a reestruturação da Funai, potencializar CNPI,

fortalecer as organizações indígenas, ponto em que o presidente ressaltou que ao fim de sua

apresentação para o Presidente da República e ministros a proposta foi aprovada integralmente.

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Prosseguindo, informou que foram apresentadas diretrizes de atuação – proteção das terras e

promoção dos direitos indígenas, que tem a ver com o PPA, fortalecimento multisetorial – ações

compartilhadas entre os entes do Estado e sociedade civil, com a Funai atuando como articuladora

dessas ações; valorização da autonomia dos povos indígenas. Conforme a apresentação, informou

que foram apresentados 3 propostas de programas: proteção, promoção e qualidade de vida dos

povos indígenas, nos quais serão desenvolvidas as ações, destacando que envolvem conceitos como

proteção, de terras e direitos, promoção, gestão compartilhada e territorialidade. Foram

apresentados ainda os objetivos dos programas, entre os quais foram destacadas ações prioritárias

de governo, aprovadas pelo Presidente Lula para serem realizadas até 2010: regularização fundiária

das terras indígenas, com as metas em diferentes estágios relativos à regulamentação; territórios

indígenas da cidadania, explicando que estão relacionados com o conceito de territorialidade,

identificando-se regiões e populações representativas para se fazer ação forte e integrada, entre

diferentes entes do governo e sociedade civil, destacando que o próprio Presidente Lula sugeriu que

se incluísse o território Guarany-Kaiowá de Mato do Sul, que não se encontrava na proposta inicial.

Esse conceito, explicou, foi trabalhado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, do qual se

“apropriaram” e trata de se desenvolver programas de desenvolvimento sustentável. A terceira ação

se refere à recuperação de áreas degradadas, pensada sobretudo para o cerrado e mata Atlântica;

fiscalização e finalmente proteção de índios isolados. Seguindo, o presidente informou sobre os

objetivos do programa de Promoção dos Povos Indígenas, explicando que no seu âmbito haviam

sido definidas 3 ações prioritárias: documentação e valorização das línguas indígenas, incluindo o

levantamento e estudo de línguas, criação de núcleos de acervos digitais, para o que seriam feitas

parcerias com diversas instituições e a ser desenvolvida por meio do Museu do Índio. Ação muito

importante, devido ao fato de muitas línguas estarem em situação de risco, não terem documentação

lingüista adequada, ao fato de os índios não estarem capacitados para a descrição dessa línguas, e

porque o Estado brasileiro nunca se dispusera a atuar nessa área, onde são missionários que têm

feito esse papel; ponto inclusive destacado pelo próprio Presidente Lula, que sugeriu que fosse

financiada diretamente por alguma estatal, de forma que naquele mesmo momento conseguiram que

o Banco do Brasil a financiasse até 2010, de forma que é uma ação que já avançou e em caso de

dúvidas o diretor do Museu do Índio encontrava-se presente para os devidos esclarecimentos. A

próxima ação, prossegui, trata-se da valorização do patrimônio indígena, que será realizada

juntamente com o Ministério da Cultura, e consiste na implantação de 150 Pontos de Cultura

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Indígena, chamando a atenção para o fato de que as ações no âmbito do referido programa serão

desenvolvidas pela modalidade edital público, de forma a manter absoluta transparência. Como vai

ser o edital vai ser definido pela CNPI, mas insistem em que seja edital para evitar questionamentos

quanto ao atendimento de um povo ou segmento em detrimento a outro. A terceira ação é de auto-

sustentação econômica, que inclui duas ações consideradas importantes: primeiro o diagnóstico da

vocação econômica por região administrativa, para se ter diagnóstico nessa área, sendo o grande

desafio, a partir do debate com os povos indígenas, diz respeito à sustentabilidade futura dos povos

indígenas, com a sua participação e, segundo, a implementação de projetos de produção auto-

sustentável e geração de renda, a ser desenvolvida em parceria com vários órgãos. Seguindo, a

apresentação tratou do Programa de Qualidade de Vida para os Povos Indígenas, que engloba duas

ações, muito importantes, a criação do Sistema de Acompanhamento e Avaliação, criando

indicadores e procedimentos, que não existem atualmente, uma ação considerada prioritária, difícil

para a qual vão precisar da ajuda do Ministério do Planejamento; e a segunda ação sendo o

Fortalecimento do Controle Social. Como conclusão, o presidente informou que defendeu a

importância das terras indígenas para a preservação do meio ambiente e inclusive no que se refere à

questão do aquecimento global, mostrando como ilustração disso imagem de satélite na qual se nota

a diferença entre um território indígena e a degradação que caracteriza as áreas vizinhas. Portanto,

prosseguiu o presidente, essa foi a agenda apresentada ao Presidente Lula e ministros, e aprovada, a

qual recebeu as sugestões a que fez referência, e com o encaminhamento do Presidente no sentido

de que ele próprio gostaria de lançar, em São Gabriel da Cachoeira, por ser uma região de presença

indígena majoritária, recomendando ainda que se fizesse a apresentação da agenda na Comissão,

aprofundando-a no diálogo com as sociedades indígenas, organizações e sociedade civil em geral. O

presidente ressaltou ainda que a agenda foi feita com o sentido de abrir uma pauta para que o

governo possa evoluir, aprofundar, discutir, dentro dessa perspectiva mais ampla e geral,

esclarecendo ainda que, quando for apresentar o PPA e reestruturação, vai ser possível perceber que

os conceitos estão articulados, destacando ainda que apresentaria o orçamento previsto na Lei

Orçamentária para cada ação, para que a Comissão acompanhe, saiba onde está sendo aplicado e

possam debater. É uma agenda própria, que não tem relação direta com o PAC, e tem o objetivo de

promover e proteger os direitos dos povos indígenas, informando que Pierlângela esteve presente no

lançamento na condição de representante da Comissão e portanto pode dar seu testemunho crítico

sobre como transcorreu tudo.

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A seguir, Edgard pediu a palavra para lembrar que deveria ser feita também a

apresentação do PAC Saneamento, para o que se encontrava presente a Coordenadora de Obras e

Edificações em Áreas Indígenas, Lucimar , ao que o presidente confirmou que tal apresentação

estava prevista desde a semana passada, sobre saneamento em terras indígenas. Assim, convidou-se

a coordenadora do COSAN, do Departamento de Engenharia de Saúde Pública da Funasa, o segundo

departamento finalístico da Funasa além do Departamento de Saúde Indígena, a qual cumprimentou

a todos e informou que na reunião passada não houve oportunidade de se fazer a apresentação

devido ao tempo, e agora portanto se faria apresentação do PAC Saúde, com recorte para

saneamento em áreas indígenas. A coordenadora iniciou sua fala destacando que a proposta não é

nova, pois trabalham no saneamento das áreas indígenas desde 99, e que com a ênfase dada pelo

governo agora a visibilidade e as cobranças são maiores, algo natural. Apresentando-se, Lucimar

informou ser engenheira e coordenadora da área de saneamento da saúde pública, destacando que

apesar de haver um departamento de saúde indígena, dentro da Funasa, existe uma coordenação

específica no departamento de engenharia de saúde pública, a qual trabalha com a área indígena, o

mesmo não se repetindo nas coordenações regionais, quer dizer, nas unidades da federação em que

há coordenações regionais não existe coordenação específica para o saneamento em áreas

indígenas; e esse seria um dos primeiros empecilhos, por não haver estrutura formal nas

coordenações regionais. Prosseguindo, Lucimar informou que as principais diretrizes do PAC da

Funasa, que não são novas, simplesmente está organizada de forma mais didática, seriam:

atendimento às áreas de relevante interesse epidemiológico, como malária, doença de chagas,

esquisostomose etc.; o atendimento a grupos sociais minoritários ou estratégicos; a melhoria da e

eficiência da gestão dos serviços; otimizar investimentos para obtenção de melhor relação entre

custo e beneficio; otimizar e fortalecer dispositivos da lei de saneamento aprovada, após 20 anos

sem lei específica; atendimento prioritário para áreas de maiores déficits; articulação com outros

programas do governo federal e atendimento aos objetivos do PAC do atual governo. Seguindo, foi

informado de quais áreas especiais se fala – populações indígenas e remanescentes de quilombos,

trabalhando ainda em assentamentos e áreas rurais. Um dos eixos de atuação da coordenação,

informou Lucimar, é o apoio de controle da água, que esse ano está muito prejudicado pela falta de

orçamento, o que está gerando muita preocupação, informando ainda sobre esse atendimento em

áreas indígenas, sendo a questão da água em comunidades indígenas também tratada nesse item,

mas em que se encontra dificuldade devido à necessidade de que seja feito um novo censo das

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aldeias indígenas, para que se tenha informações concretas sobre essa população, um indicador

mínimo nesse tipo de ação. A propósito, Lucimar mostrou os dados de que dispõe a Funasa com

relação à população indígena e aldeias atendidas por água, situação atual e proposta de aumento do

atendimento às aldeias, tendo se verificado que a maior demanda era por melhoramento dos

sistemas já implantados. Uma estratégia utilizada para implantar as ações de saneamento, conforme

informou, foi a capacitação de agentes indígenas de saneamento, da própria aldeia, sendo este um

programa muito trabalhado e avaliado, sendo este um ano atípico, pois estão sendo formados menos

agentes que o previsto, prejudicando a sustentabilidade dentro da aldeia. Quanto às metas ate 2010,

são as seguintes: elevar a cobertura de aldeias com abastecimento de água, melhorias sanitárias ou

tratamento de esgoto, onde for o caso, entre outros dados estatísticos presentes na apresentação.

Após informar sobre os recursos para tais ações, esclareceu que a estratégia de implementação dos

recursos será de forma direta; ou seja, serão licitados pela Funasa, e não por convênio, experiência

que foi desastrosa e que somente vão repetir em casos excepcionais ou se algum município solicitar

que se invista em área indígena, não se utilizando, portanto, convênios para obras em áreas

indígenas. Com relação aos atores envolvidos, informou que na Funasa é o Departamento de

Engenharia de Saúde Pública, o DSAI, os DSEIs, Conselhos Locais a Distritais e o controle social.

Quanto às dificuldades para que as obras não sejam somente obras de engenharia mas tenham o

resultado que se espera destacou o empoderamento, entendimento de que uma obra implantada em

aldeia tem todo um trabalho de responsabilização da comunidade por aquilo; na própria Funasa, os

gestores entenderem o que é implementar saneamento em áreas e para povos tão diferenciados,

entre outras. Concluindo sua apresentação, agradeceu a atenção e se colocou à disposição.

Imediatamente após a apresentação, o presidente abriu a palavra para o debate,

iniciando por Francisca Pareci, que afirmou não ter conseguido visualizar as prioridades, tendo a

impressão de que todas as ações, a Agenda Social, têm como finalidade preparar os índios para os

impactos que resultaram do PAC, algo que considera irreversível. Afirmando que ao mesmo tempo

em que contemplam reivindicações, serão acompanhadas de ações que trarão impactos negativos

para os índios, devido a todos os interesses que estão em jogo. Questionou o que foi dito sobre os

territórios indígenas, por que não incluíra o Mato Grosso, que tem o povo Xavante, que mais sofre

na área do Cerrado; por que apenas 3 áreas prioritárias; um outro ponto seria quanto à recuperação

de áreas degradas, por que não incluiu o pantanal; o terceiro ponto diz respeito ao Premio Culturas

Indígenas, do qual reconhece o mérito, mas que está envolvendo pessoas que não têm relação com a

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questão indígena. Um outro ponto disse respeito à questão da auto-sustentação e diagnóstico da

vocação econômica, que a seu ver precisa ser muito discutida com os índios, como no caso do Mato

Grosso, onde o governo é contra os índios, devendo-se ficar atento para qual o foco será dado à

questão. Pediu ainda detalhamento quanto à questão da valorização do patrimônio cultural,

afirmando que há alguns anos houve proposta de alguns lingüistas de se fazer levantamento sobre

línguas que estavam desaparecendo, destacando que essa discussão passa pela formação de

professores. Sua preocupação é que não sabem o detalhamento, até porque receberam na

subcomissão o documento de um lingüista questionando acordo entre a Funai e instituição

holandesa, sendo que quando foi feita a apresentação isso não foi mostrado, apenas se falou no

governo. Pesquisando o assunto, verificaram que foram feitos acordos e que não está prevista

parceria com os índios, tratados como meros objetos de pesquisa, a lingüística pura mesmo,

demandando que isso seja revisto, já que a língua é mais que isso, é um patrimônio; assim,

prosseguiu Francisca, gostariam de ter acesso ao acordo que foi feito, saber os detalhes, o que está

sendo feito. Finalizando, perguntou à equipe da Funasa com relação ao abastecimento de água, pois

de um lado Funasa trata para implantar saneamento, o que é pertinente, mas por outro os

empreendimentos vão explorar esse recurso; e se houve levantamento quanto às razões pelas quais

há desabastecimento de água em determinadas regiões. O próximo a se manifestar, Luiz Titiar ,

pediu que haja mais fiscalização da atuação na área da saúde e também que no caso da apresentação

sobre Agenda Social, que também sejam retratados os índios do Nordeste, mostrando a sua

realidade para que a sociedade conheça seu sofrimento, questionando ainda se a Funasa vai trazer

sua programação para ser mais discutida da CNPI. Saulo Feitosa/CIMI, a seguir, disse que gostaria

de manifestar sua frustração diante da apresentação, por ter havido inversão total da pauta original,

tendo se aguardado 3 reuniões para que isso acontecesse; sendo que o pedido original era que o

governo apresentasse um levantamento geral e preciso de todos os empreendimentos previstos no

PAC com impactos em terras indígenas, principalmente com utilização de recursos hidráulicos. No

entanto, afirmou, tiveram 5 minutos dedicados a isso e o restante da manhã dedicada às ações

corriqueiras de vários ministérios. Inicialmente, prosseguiu, tiveram como informação que 210

afetam terras indígenas, questionando o fato de que não foi informado quais são, não foi

apresentada listagem de quais empreendimentos, quais terras afetam etc., sendo essas as

informações que interessam à CNPI para poder garantir os direitos a quem será afetado,

possibilitando informar e discutir com as comunidades envolvidas. Assim, afirmou não saber se isso

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foi proposital ou não, mas o fato é que não satisfez; um exemplo do está afirmando, disse Saulo, é

uma minuta de portaria do Ministério da Justiça, disciplinando o ingresso de técnicos em terras

indígenas, para fazer levantamento, inventário sobre potencial energético existente em terras

indígenas, que mereceria ser discutido na CNPI. Tendo em vista que tal inventário é a pré-condição

para a possível exploração dos recursos hidráulicos, deveria ser feito por lei ordinária, como prevê a

Constituição Federal, ponto em que preferia deixar a questão para especialistas. Prosseguindo,

Saulo afirmou ainda que a apresentação feita por Aderval mais uma vez reforçava a necessidade de

se construir um instrumento por meio do qual se assegure o uso e o exercício do que está previsto

na Convenção 169, com relação às consultas aos povos indígenas, que acabam sendo atropelados no

processo. Saulo disse que teria muito a discutir ainda, inclusive quanto ao que foi apresentado e não

havia sido solicitado, que tem aspectos importantes que é preciso reconhecer, mas tem também

questões que são preocupantes. Foi importante o que o presidente falou no sentido de que se está

divulgando um “PAC indígena”, cuja existência o presidente não reconhece, até porque, afirmou

Saulo, é contraditório se falar em PAC e autonomia de povos indígenas, já que um PAC indígena é

uma conceituação em princípio bastante contraditória, sendo preciso se discutir só políticas para

povos indígenas mesmo, o que teria de ser discutido com mais tempo. Questionou ainda os critérios

para escolha de prioridades na Agenda Social, os quais não estariam claros, assim como chamou

atenção também o fato de que o Presidente Lula tenha chamado atenção para o fato de que os

Kaiowá não tenham sido contemplados, tendo em vista que infelizmente sua atitude, ao longo dos

anos em que está no governo, tem sido bastante questionável; em todo caso destacando a

importância da preocupação dele com o povo Guarany Kaiowá. Insistiu, enfim, que tem que ser

dada ênfase maior ao papel da CNPI, pois se lança um programa como o PAC indígena sem ouvir a

Comissão é problemático. O próximo a falar, Danilo de Oliveira, disse que as questões que haviam

sido discutidas e apresentadas pelo presidente, por Aderval e também a questão do PAC, traziam

um pouco de insatisfação, mas que ao mesmo tempo era positivo ver que a CNPI hoje é uma

realidade, é um fórum em que se discutem essas questões, ao invés de ficarem sabendo pela

imprensa. “Mas eu acho assim que a felicitação maior é porque nós podemos a partir deste

momento colocar em prática o que realmente as comunidades indígenas têm como vontade, já que

afinal de contas até agora as propostas foram criadas sempre de cima para baixo, nunca pelas

bases”, ressaltando que devem fazer valer a vontade “do nosso povo que está nas bases”. Com

relação à questão da agenda social, foi dito que, na elaboração da Agenda Social, uma das

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referências foi a Conferência Nacional; “a gente viu aí algumas questões e quando se fala na

questão territorial é uma questão muito preocupante, até porque isso nós vivemos uma realidade

bastante difícil lá na nossa base, com morte de irmãos, índios, lideranças, por conta dessa questão

de terra. E ali na parte em que o presidente coloca com relação à proposta do próprio presidente

Lula, quando diz que, no segundo item, dos territórios indígenas e cidadania, ele coloca a definição

de três territórios indígenas: Alto Rio Negro, Parque do Xingu, Raposa Serra do Sol e São Marcos,

aí o presidente disse que, pela própria sugestão do presidente Lula, contemplasse aí a etnia Guarani-

Kaoiwá, que realmente estava isento aqui”. A pergunta que gostaria de fazer é: quais foram os

critérios adotados para se estabelecer isso, porque afinal de contas Guarani-Kaiowá é premente,

como outras regiões também são. “E se pudesse ser contemplado ali, no reassentamento dessas onze

mil famílias e porque na realidade não existe um estudo referente a isso. Nós sabemos hoje que a

Funai tem deficiências de recursos humanos, é evidente e nos sabemos disso; na discussão da

subcomissão de Terra foi evidenciado que, no ano 2006, eram trinta antropólogos e que hoje esses

antropólogos não estão mais na Funai e hoje só contamos com três. Então se nos fôssemos passar

por uma definição, toda aquela discussão de demarcação e delimitação levaria anos para acontecer.

Eu acho que aquela região que está necessitando urgentemente que o governo federal e a própria

Funai dê uma atenção definitiva para aquelas questões, onde lá o clima de religiosidade é muito

grande, nós não queremos mais ver parentes nossos morrendo por uma questão que é justa, que é

nossa, afinal de contas nós lutamos, porque nós não queremos brincar de mocinho e bandido não, e

sim porque nós entendemos que é uma questão muito justa”. Com relação ao PAC, referindo-se à

apresentação de Lucimar, da Funasa, a seu ver se focou muito na questão do saneamento, que

concorda ser de grande importância, tema sobre o qual inclusive houve, no ano passado e retrasado,

enfrentamento muito importante de dirigentes de órgãos, “principalmente os da Funasa, que não sei

se era do conhecimentos de todos vocês, mas colocavam uma coisa na impressa e na realidade não

existia e a gente acredita que a partir deste momento a questão do saneamento ela vai ser realizada

com êxito”. No entanto, sua preocupação maior, entre as questões levantadas pela representante da

Funasa, foi com o fato de não ter mencionado a questão dos convênios, salvo umas questões.

Assim, “eu quero colocar para fora o meu sentimento com relação a essa questão, hoje quem trata

da saúde indígena dentro das nossas bases, falando de saúde na sua totalidade, são os médicos da

cidade que assiste ao índio, que atende duas a três vezes na semana, na minha aldeia é uma vez por

semana, quer dizer que se o índio passar mal a estrutura é muito precária. Eu acho que se a Funasa,

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juntamente com o Ministério da Educação, fizesse alguma coisa, como elaboração técnica para a

gente começar a formar índios médicos, aí nós teríamos assistência 24 horas para pessoas que

moram dentro da aldeia”. Danilo defendeu que é preciso se pensar nisso a partir deste momento,

porque “hoje, se a comunidade indígena perece, é o que nós dissemos aqui, as coisas acontecem de

cima para baixo, a partir do momento que fizemos o inverso disso temos absoluta certeza que as

coisas vão acontecer de maneira diferente, com mais êxito, porque somos nós que sabemos, nós que

necessitamos, então nós queremos ter essa participação efetiva”. Inclusive, relatou Danilo, hoje a

representação indígena comentava que “o índio também quer ter seu carro, porque hoje o índice de

miséria na nossa região leva a óbitos de pais de famílias e frustração de vida, e frustração pela falta

de terra, pela falta de oportunidade. Hoje o índio nem tem condição de trabalhar, porque não está

qualificado, eu acho que temos que bater nesta questão da qualificação, a CNPI precisa apresentar

propostas e essa seria uma das minhas, para que a própria Funai possa estabelecer essa situação,

esse sentido da verdadeira situação, de sermos contemplados, porque até o momento em que o índio

estiver vivendo desta forma é porque realmente a falta de conhecimento está muito longe. E só

assim se é o verdadeiro cidadão feliz, quando se tem uma qualidade de vida melhor, e começa

também pela educação”.

Jecinaldo Cabral, com a palavra, afirmou que gostaria de lamentar muito a

imposição que ainda é feita pelo governo para os povos indígenas, no sentido de que, apesar de se

contar com um canal de diálogo como a CNPI, o governo monta uma Agenda Social sem consultar

a Comissão. “Isso é complicado, eu chamo isso de imposição, da mesma forma também que a gente

verifica a própria implantação do PAC da infra-estrutura; quando eu vejo uma apresentação como a

do MDS, que já discute os impactos, quer dizer, antes disso, em um ponto que precisamos passar,

esse ponto se chama consulta prévia de boa fé aos povos indígenas, que nós temos diretos e isso não

está sendo feito no rio Madeira, no Santo Antônio, não foi feita na transposição do São Francisco”.

Essa seria uma primeira consideração em relação a esse contexto do PAC e da agenda apresentada

pelo governo Lula, destacou Jecinaldo. “A agenda não se constrói assim, constrói com nossa

participação! Queria deixar isso bem claro, que sirva de lição para que a gente possa amadurecer

nosso Estado democrático”. Uma outra questão, disse ele, percebida entre as questões apresentadas,

diz respeito à Política Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais, no âmbito do qual é preciso

especificar melhor a questão indígena, que a seu ver parece estar muito diluída e perdida dentro da

comissão, o que “é um desafio para todos, uma coisa que a gente está aqui nesta comissão para

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pensar; a gente não está aqui só representando a nossa região, e eu, vendo a Agenda Social do povos

indígenas, sendo da Amazônia, me sinto muito contemplado com a vontade de governo para a

região amazônica. Mas eu queria aqui dizer que se conserte e dê um verdadeiro equilíbrio na agenda

para os povos do Nordeste e do Sul do Brasil, pois eu não vi praticamente nada sobre essas questões

nestas regiões”. Então, prosseguiu Jecinaldo, “eu acho que não tem agenda, tem que ter propostas, o

presidente Márcio até falou um pouco neste sentido; essa questão das línguas também me preocupa

junto com a questão do patrimônio histórico indígena, que é essa questão do acórdão, que não é o

acórdão do TCU, então eu queria aqui reafirmar que nesta questão do PAC não está sendo levado

em consideração o direito da consulta prévia, livre e informada. E aí eu volto: nós tivemos

conhecimento de que houve algumas irregularidades, apresentadas pelo TCU, sobre as obras do

PAC, eu queria inclusive que se fizessem esclarecimentos sobre a transposição do rio São

Francisco. Creio que está faltando mais dados para nós termos uma agenda e peço reforço, que essa

questão da infra-estrutura seja mais discutida e melhor apresentada, dizendo quais são as obras de

infra-estrutura na Amazônia, que a maioria a gente vê onde está, para que a gente realmente possa

encaminhar, então, está muito superficial ainda esta questão”. No caso da Funasa, continuou

Jecinaldo, tem se enfrentado um problema de gestão, com as prefeituras, ONGs e agora na tentativa

de municipalização, e principalmente na dificuldade que percebida na maioria das prefeituras com o

regimento, que é muito rígido na municipalização, havendo realmente vontade de se eleger uma boa

bancada de prefeitos para o próximo ano. Quanto aos recursos da Funasa, prosseguiu, são muito

férteis, “por isso que a questão de controle social e a questão da gestão me parece ser um grande

desafio para nós como CNPI. Então eu queria apenas fazer essas considerações, creio que podemos

fazer uma readequação nesta agenda e tem um fator político importante, o Lula no seu primeiro

mandato e agora no segundo tem essa diferença politicamente, creio que isso é importante e para

uma agenda com questões mais concretas e na parte operacional nas nossas ações para as questões

indígenas. Obrigado!”, finalizou Jecinaldo. A seguir com a palavra, André/MDA afirmou que

gostaria de tratar de quatro pontos: rapidamente, como geógrafo, necessariamente precisava se

posicionar e solicitar à Funai que fizesse uma rediscussão do uso de critério de vocação econômica

por região administrativa, algo a que a ciência geográfica faz uma crítica profunda, sugerindo que

se aproveite o que vai ser discutido em relação a desenvolvimento em outros fóruns, delimitar uma

atividade mais coerente. O segundo ponto diz respeito aos Territórios da Cidadania, e, fazendo um

rápido esclarecimento, esta proposta começou no âmbito do Comitê do Desenvolvimento Agrário,

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mas que o governo federal, nesta nova gestão, vai transformar numa política de todo o governo,

reconhecendo os territórios que já existem; não se trata de demarcar território e sim se está

reconhecendo uma dinâmica que há ali para ter desenvolvimento social e econômico. Então, foram

elencados territórios prioritários em que o governo federal vai concentrar ações, no sentido de tentar

zerar alguns indicadores e melhorar a qualidade de vida naqueles territórios, inclusive constando

nos 30 primeiros Territórios da Cidadania prioritários a Grande Dourados, que inclui o município

de Dourados e o entorno e já foi elencado como território prioritário no MDA. Então, esclareceu,

pode ser que não estejam os três territórios que a Funai listou, mas já estava incorporado como uma

prioridade no MDA. O terceiro ponto, que é mais uma pergunta, prosseguiu, seria em relação a

como é ficam os programas e as atividades sob a coordenação da Funai, sobre a qual diz não ter

dúvidas, mas sim quanto à gestão de atividades, como por exemplo o assentamento de famílias e

outras iniciativas que se precisa pensar ao se falar em gestão. O último ponto, que seria mais uma

proposta, diz respeito às ações do PAC, visto que “não dá para fazer a apresentação de duzentos e

dez empreendimentos, a proposta é que, se a Funai já tem um levantamento, que disponibilize

imediatamente uma tabela com o local, os mapas, os nomes dos empreendimentos, qual é a empresa

que está envolvida, se houve consulta ou não à comunidade, quais são os tipos de impactos

previstos, se já teve licença ou não, e aí a gente coloca para próxima reunião da CNPI uma pauta

para discussão e não uma apresentação, porque já está aí a terceira reunião da CNPI que teria

prevista uma apresentação sobre os impactos. Então a gente coloca ao representante da Casa Civil,

caso tenha como contribuir, para que na próxima reunião todos os participantes tenham em mãos

todas essas informações, que eu não acho tão difícil assim, então a gente pula essa parte da

apresentação e vem só para o debate, com essas informações em mão, é já que a gente está aqui

prezando pela transparência e disponibilizando informações, acho que essa nova preocupação da

Funai, que é louvável, que esteja também na internet, em uma página, que seja só uma parte. São

esses os quatros pontos”, afirmou concluindo. A seguir, Marcos Xucuru afirmou concordar com

Saulo Feitosa e Jecinaldo, assim como com o companheiro André, em virtude da proposta inicial da

comissão no sentido de que fosse feita apresentação sobre o PAC; no entanto acabaram “se

perdendo um pouco nessas últimas apresentações que foram feitas, terminamos um pouco

prejudicados nesse sentido, na informação sobre esses impactos reais, que já foram ditos pelos

companheiros e não adianta repetir aqui”. A outra questão que gostaria de ver constar, prosseguiu

Marcos, diz respeito aos povos em região de fronteiras, que não foram citados em momento

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nenhum; retomando um ponto levantado por Jecinaldo, há também a questão das prioridades, já que

as três prioridades do governo se concentram na região amazônica, “e nós do Nordeste, ficamos

aonde nesta agenda social? Onde nós temos povos que estão em todo processo de reconhecimento,

demarcação, delimitação de territórios, lideranças sendo assassinadas, outras ameaçadas de morte,

como eu, solicitando ajuda policial, outros que foram assassinados pela questão da luta pela terra...

Onde é que fica essa questão dos povos indígenas no Nordeste? Por isso que eu acho que essa

iniciativa da Agenda, e aí eu concordo com o Saulo e o Jecinaldo, quero dizer que no dia da

implantação da comissão o governo disse 'vamos trabalhar juntos', se nós errarmos, erra todo

mundo junto, se acertarmos, é todo mundo junto. E onde está esse junta aí que eu não estou

percebendo? Porque uma programação, uma agenda feito essa deveria passar por esse crivo aqui, e

a partir daí nós começarmos a construir conjuntamente uma agenda que contemplasse as

diversidades regionais que existem no nosso país em termos da questão indígena. Mas espero, e aí

coloco, já enquanto proposta, que a comissão e as subcomissões possam discutir e reelaborar,

tentando discutir com as bases, envolver ao máximo as populações indígenas e organizações

indígenas nessa discussão”. Em relação à Funasa, continuou, “e aí quero dizer que eu sou do

conselho distrital de saúde de Pernambuco, lá não tem presidente, nós escolhemos uma forma mais

democrática, nós temos coordenadores, coordenadores de usuários, coordenador do gestor e

coordenador do trabalhador, e eu passei dois anos nessa coordenação e quero dizer para vocês: nós

temos uma dificuldade imensa nessa questão do controle social, em termos específicos, na

engenharia, que não se sente parte do subsistema de saúde e sim autônoma, onde muitas das vezes a

gente chama para discutir dentro do conselho e poucas explicações dão isso. É uma realidade e se

não me engano nos anos 2005-2006, em Pernambuco, voltou um milhão de reais, que não foi

investido em saneamento. E aí eu acho bonito quando apresenta o datashow, números, milhões de

reais, e a gente vê o povo Guarani-Kaiowá se acabando, desnutrido, se queixando de desnutrição;

quanto à questão do recurso, hoje ele é meramente captado e a prioridade da engenharia da Funasa

são os municípios, porque é voto, saneamento básico e empreendimentos dentro das prefeituras é

voto, e as populações indígenas representam poucos votos. Então chamo atenção, inclusive quero

que a companheira Lucimar, que além dessa distribuição do PAC para a saúde, quero que submeta

essa questão do PAC à subcomissão, para detalhar melhor e chamar representantes do órgão para de

fato esmiuçar essa questão e tentar fiscalizar, ver se a gente consegue fiscalizar essa questão dos

recursos, onde estão sendo aplicados”, finalizou. Ao final da fala de Marcus Xucuru, o presidente

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aproveitou para anunciar a chegada do Chefe de Gabinete do Ministro da Justiça, que viera fazer

visita à Comissão e trazer saudação do Ministro, propondo que após a fala do próximo inscrito

pudesse fazer uso da palavra. Nesse sentido, Pierlângela Wapichana afirmou que os

representantes que a antecederam já haviam colocado diversas questões que observaram nas

apresentações, destacando que a política nacional está sendo implantada, o que preocupa os povos

indígenas, que têm feito as reivindicações nas bases, participado das conferências, desempenhado o

seu papel, propondo que se veja a memória do que já foi discutido com as regiões, comunidades

etc., pois os representantes que estão presentes na CNPI não estão começando, têm larga

experiência com o movimento indígena, não estão começando; estão sim entrando no processo de

diálogo com o governo, sendo necessária uma concertação. Quando o presidente coloca um

posicionamento, acredita que já se trata de uma posição firmada no âmbito do governo, pois muitas

vezes os representantes do governo quase não se manifestam e só os índios fala. Por tudo o que foi

apresentado, falta um maior esclarecimento, até porque são representantes de regiões, em alguns

casos de vários estados, não havendo detalhamento das ações, informando inclusive que em

Roraima foi criada uma subcomissão da CNPI, e não se sente em condições de dar explicações

sobre o que foi proposto e questionando se serão os servidores da Funai a cumprir esse papel, por

exemplo apresentando questões como o impacto sobre os povos indígenas. Uma das preocupações

sobre a Agenda Social foi quanto à menção dos 210 empreendimentos, destacando que os índios

sabem que vão mesmo acontecer. Questiona-se, nesse ponto, como serão discutidas as medidas

compensatórias; que não pode dizer se é a favor ou contrária às propostas apresentadas, não tem

como se posicionar; que ao chegarem nas bases são cobrados para dar informações sobre as

políticas propostas. Outra preocupação levantada por Pierlângela com relação aos empreendimentos

disse respeito aos índios isolados, em áreas de fronteiras e outros, perguntando como fica a questão

da consulta prévia, quem vai autorizar isso, se a Funai tem esse poder; a questão das áreas de

fronteiras também é problemática, perguntando como se determina quem vai receber benefícios de

políticas no caso de povos que vivem em mais de um país. Pierlângela mencionou ainda os

Territórios da Cidadania, sobre os quais disse se preocupar quanto a questões como quem será

responsável pela coordenação dos mesmos dentro do território, como fica a situação do Comitê

Gestor, ligado à Casa Civil, gerando dúvida sobre o seu papel, funcionamento. Para encerrar,

perguntou sobre a proposta de documentação e valorização de línguas indígenas, afirmando que

tiveram acesso ao acordo e que, se for esse mesmo, não contempla um levantamento socio-

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lingüístico, tratando-se puramente de pesquisa lingüística, perguntando ainda quais são as 20

línguas, quem são os pesquisadores, como vai ser a capacitação de indígenas, quais as instituições,

lembrando que a língua passa muito pela formação de professores, tendo-se discutido que os

próprios índios venham a ser os pesquisadores, o que é uma forma de contemplar a autonomia. Para

a Funasa, levantou questionamento com relação ao conceito de saneamento, que deve também ser

pensado no contexto da diversidade e especificidade das culturas indígenas. Aproveitando a

presença do Dr. Ronaldo Teixeira, Pierlângela disse que gostaria de fazer solicitação em relação à

Secretaria da CNPI, no sentido de que a Secretaria Executiva pudesse ter seu trabalho mais

valorizado, pois trabalha muito e sua condição financeira é muito precária diante de tudo o que ela

faz, atende toda a Comissão e não é valorizada, ao que os demais aplaudiram em apoio a essa

solicitação.

O presidente pediu então que se pudesse ouvir rapidamente a saudação do professor

Nado, em nome do Ministro da Justiça, após o que seria dada continuidade aos trabalhos. Este

agradeceu o presidente e a todos que integram a comissão, colegas de ministérios e representantes

dos povos indígenas da CNPI, que conforme afirmou todos querem ver se tornar um conselho,

como é a intenção do Presidente Lula e Ministro Tarso. “Talvez eu devesse iniciar essa saudação

respondendo essas questões de reestruturação”, afirmou, “não só da Funai como também do

Ministério da Justiça, haja vista a reivindicação quanto à função da nossa querida Terezinha, que é

assessora para Assuntos Indígenas no Gabinete do Ministro, assim como é a Secretária Executiva da

Comissão. Coincidentemente ontem estive no Ministério do Planejamento, para discutir questões

não só dos administrativos da Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal, como também para

discutir o plano de carreira dos servidores do Ministério da Justiça, e foi inevitável tratar, como o

presidente Márcio vem tratando, da reestruturação da Funai. E eu faço referência a esse encontro de

ontem, essa reunião demorada, para dizer que a Terezinha faz parte desse horizonte, nessa

reestruturação que estamos propondo, porque o Programa Nacional de Segurança Pública com

Cidadania, o Pronace, que foi lançado pelo Ministro Tarso Genro e Presidente Lula no dia 20 de

agosto prevê também uma nova estrutura interna no Ministério da Justiça. o Ministério do

Planejamento está preparando essa reestruturação, e nós queremos crer que a partir de janeiro de

2008 teremos não só mais condições de trabalho interno no Ministério, como também condições de

contemplar o valor do trabalho de Terezinha. Mas de fato eu vim para saudá-los em nome do

Ministro Tarso Genro, que estava primeiramente agendado para vir aqui hoje, mas houve mudança

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quando o Presidente o convocou para reunião sobre América do Sul, de todas as relações de

fronteira inclusive que Pierlângela abordou em sua intervenção, que é uma preocupação não só no

âmbito do Pronace, como é obviamente uma questão de Estado em sua relação com os países

vizinhos. E por dentro disso nós queremos aqui deixar como sugestão que se faça, num dado

momento, também um esforço de relacionar o Pronace com a questão indígena, de que maneira

aprofundar essa questão, abordando então segurança aos povos indígenas. Nós sabemos que

existem conflitos, que não são poucos, demarcações recentemente foram propostas pelo próprio

ministro, e são geradoras de impasse, de conflitos fundiários, agrários e que deverão ser temas

também da Comissão. Então eu gostaria de deixar aqui essa sugestão, conectarmos o Pronace com a

questão indígena, orientação de nosso ministro. Por último dizer também, nessa breve saudação,

que a experiência que o Ministro Tarso Genro tem em relação aos povos indígenas é também

orientadora de um futuro promissor hoje com o ministro no Ministério da Justiça. Por que digo

isso? Quando estivemos também no Ministério da Educação, nós chegamos no MEC, Márcio, com

um orçamento para a educação indígena que não ultrapassava 2 milhões de reais, e quando criamos

também no MEC uma Secretaria de Alfabetização, Educação Continuada e Diversidade, a SECAD,

nós oferecemos uma coordenação especifica para a educação no campo, a educação indígena, e

ampliamos orçamento naquela oportunidade, já no primeiro ano de 2004, para mais de 11 milhões

destinados à educação indígena. Com isso eu quero dizer que o compromisso do Ministro Tarso

Genro para com os povos indígenas já começa há um bom tempo e já está explicitado em suas ações

como gestor público, como foi também na educação. A nossa expectativa é que essa Comissão,

instalada pelo nosso governo, possa de fato traçar, a partir desse debate intenso, uma política que

possa ser compartilhada, governo – povos indígenas. Acho isso essencial para que se possa falar em

preservação de seus modos de vida, falar verdadeiramente nas demarcações na certeza que estamos

acolhendo esses povos que estão obviamente na nossa origem. As decisões da Comissão têm quer

ser soberanas e orientadoras da nossa política, então a responsabilidade que todos têm na Comissão

é enorme, porque é a partir da visão da Comissão que o presidente Márcio Meira pode se mover

com mais desenvoltura na boa presidência que está fazendo, quero aqui também registrar isso,

porque assumimos a Funai numa situação bastante limitada, para usar um termo ameno, e Márcio

está com esse desafio colocado pelo Ministro Tarso Genro, de forma muito clara. Então quero

parabenizá-lo também pelas iniciativas que está tendo à frente da Funai, cumprimentar mais uma

vez todos os representantes e reafirmar o compromisso do Ministério da Justiça, do Ministro, no

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que se refere à causa indígena. Muito obrigado pela oportunidade, cumprimentos e bom trabalho”,

concluiu. O presidente agradeceu ao professor Nado, afirmando esperar que ainda se tenha uma

oportunidade, considerando que ainda há mais uma reunião da Comissão em 2007, para que se

possa contar com a presença do ministro prestigiando a Comissão, afirmando que sem dúvida seria

muito importante, no momento final do ano, na última reunião do ano, que o ministro pudesse estar

presente e se pudesse compartilhar com ele as questões da Comissão. Antes de passar a palavra a

Wilson Matos, porém, o presidente informou que passaria a palavra para a Dra. Deborah, que tinha

uma questão de ordem; esta, por sua vez, afirmou que pelo que estava vendo até o momento, todas

as falas haviam sido de críticas ao fato de que estavam sendo apresentadas políticas à Comissão sem

que ela fosse escutada previamente. No entanto, ressaltou, é preciso se entender que essas políticas

estão sendo apresentas agora, estando sujeitas a ajustes se essa Comissão assim o entender. Então

seria o caso de já passar isso para as subcomissões, como encaminhamento, de que recebe as

sugestões e vai deliberar sobre elas. “Eu fico muito preocupada, e fiquei ontem, com o MEC

também, no sentido de que a Comissão se substitua aos destinatários das políticas, que também

precisam ser ouvidos diretamente; há uma parte de política que é da Comissão, mas há uma parte

que é de usuário do serviço, que não podem ser subtraídos. E aí se está trabalhando com uma pressa

que é de governo, e eu acho que tem que se mudar isso, a Comissão assumir para si o papel de

análise, de pedido de detalhamento, de encaminhamentos, avaliar e corrigir rumos se for o caso, e

trabalhar no seu tempo, para que não haja atropelos inclusive com relação àqueles que vocês

representam aqui. Uma coisa é política, outra é a ação específica junto aos grupos. Digo isso porque

soube da deliberação a respeito da questão da educação e fiquei preocupada; tem umas coisas aqui

que, independente de todo o conjunto, têm que ter uma reflexão muito grande por parte da

Comissão, que não prescinde da consulta dos povos atingidos, que é a questão do Território

Indígena da Cidadania, que acho uma proposta interessantíssima, agora é preciso refletir... Enfim há

vários aspectos. Eu observo aqui uma coisa que não cabe propriamente a esta Comissão, é muito

maior do que ela, que é essa proposta apresentada pelo Aderval, é aí vou saudar, porque há o

reconhecimento de que há quantidade enorme de povos e comunidades tradicionais que passam a

ficar visíveis para o Estado brasileiro, e que, pelo que está aqui, não podem mais ser removidos de

seus territórios, o que é uma coisa fantástica, quero deixar esse sinal aqui. Enfim a consulta está

aqui prevista e depois retomo a palavra para as críticas e comentários que eu acho que são

merecidos”.

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A seguir a palavra foi passada para Wilson Matos, o qual, dirigindo-se ao

presidente, afirmou que gostaria de fazer suas as palavras do colega Saulo e Jecinaldo, bem como

dos colegas do Mato Grosso, que representam o Centro-Oeste, e fazer alguns lembretes; em

primeiro lugar, com relação ao comitê gestor, de seu ponto de vista pode funcionar muito bem,

“desde que ele não influencie lideranças e não tenha esse relacionamento. A Funai tem 34 anos e

esse relacionamento é muito difícil, a cultura, a liderança, a diferença, e a partir do momento que o

comitê começa a impor lideranças, reconhecer as lideranças, isso vai trazer problemas não só para

os índios, mas para a própria Funai. Então isso é só um lembrete, é a mesma problemática que

acontece na minha aldeia, quem legitima nossas lideranças é nós, índios, não cabe à Funai ou ao

comitê gestor reconhecer lideranças, cabe respeitar, porque isso está na lei que assegura aos índios

costumes, línguas e respeitos. Isso significa que o Estado tem que ter respeito com as suas relações,

então essa relação do comitê gestor, eu peço, Sr. Presidente, que peça ao comitê gestor e que ele

pode ser muito útil, mas desde que essa relação não seja feita com o índio, mas com o governo,

como é que tem que fazer”. Com relação aos Territórios Indígenas da Cidadania, foi dito na

Comissão que foi proposta sua que os Guarany-Kaiowá fosse colocado como prioridade, propondo

que se faça uma recomendação no sentido do que foi proposto por André, do MDA.

Antes de dar prosseguimento, o presidente pediu espaço para fazer um breve

informe sobre o projeto GEF Indígena, um fundo global para o meio ambiente, que financia

projetos e estudos sobre o esse tema em todo Brasil, não só na Amazônia Legal, ao qual o governo

brasileiro solicitou recursos financeiros para a realização de um grande levantamento etno-

ambiental e recentemente recebeu resposta positiva. A proposta, portanto, é que esse levantamento

seja feito com a participação dos povos indígenas, para o que gostaria que a bancada indígena

acompanhasse de perto a elaboração do projeto, inclusive indicando nomes para fazer esse

acompanhamento, o que deverá ser feito ainda no decorrer da reunião. A seguir, o presidente disse

que prosseguiriam com os comentários, passando a seguir à proposta de reestruturação da Funai e

Plano Plurianual - PPA; dando a palavra à Dra. Deborah Duprat/MPF, a qual sugeriu como

encaminhamento com relação ao detalhamento das obras do PAC ser interessante que, na

informação que o presidente se dispôs a dar posteriormente, conste também quem é o órgão

licenciador, se é o Ibama ou algum outro órgão, se há termos de referência da Funai para iniciar

algum tipo de licença, entre outros, caso todos concordem; o Ministério Público atende pedidos de

instituições que trabalham com os quilombolas e outras comunidades tradicionais, esclareceu, e

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seria importante que além do mapeamento tivessem acesso a essas informações. Com relação aos

índios isolados, sugeriu que paralisados quaisquer empreendimentos nas áreas onde a Funai tenha

mapeado a existência de índios isolados, até que haja a definição territorial, até porque o

empreendimento pode significar deslocamento territorial. A terceira sugestão disse respeito ao

convênio para pesquisa sobre línguas indígenas, no sentido de que a documentação a ser

disponibilizada para o Ministério Público também fosse entregue à comissão; finalmente, disse que

gostaria de ouvir também o pessoal da saúde e do saneamento, uma vez que gostaria de lançar uma

discussão que tem sido um ponto crucial para o Ministério Público, com relação a obras em áreas

não regularizadas. O presidente informou então que Gilberto Azanha havia se inscrito para falar e

depois abriria para os representantes do Ministério da Saúde. Gilberto Azanha, por sua vez, disse

que gostaria de fazer uso da palavra naquele momento uma vez que seu comentário se aproximava

da linha de raciocínio da Dra. Deborah, ao que chamou a atenção para a sugestão do presidente de

que sejam indicados membros para acompanhar os empreendimentos do PAC. Em suas palavras,

"desde o primeiro momento estamos solicitando formalmente em plenária a vinda de um

representante do Ministério de Minas e Energia para nos mostrar as obras de hidrelétricas previstas,

dizer onde, quais são as empresas responsáveis e em que fase está o processo de licenciamento; e

lembro também, presidente, que além desses empreendimentos de aproveitamento hidrelétrico nós

já solicitamos que o MME venha fazer essa exposição. Eu lembro também que o DNIT tem uma

série de obras em andamento, paralelas ou afetando diretamente terras indígenas, e eu proponho

aqui que a gente faça também uma resolução para convidar o pessoal do DNIT para falar sobre

essas obras, no mesmo estilo do que a gente já pediu para o MME". Carlos Nogueira/MME,

pronunciou-se afirmando que, embora não conste em ata, ele havia dito na reunião passada que,

quando fizeram a solicitação, foi realizada sim uma apresentação pela Secretaria de Geologia e

Mineração do MME, a qual pode não ter sido a contento, tendo em vista a grande dificuldade com a

Aneel, uma vez que esta não tinha como disponibilizar dados sobre aqueles empreendimentos que

ainda não tinham licenciamento na hora, estavam na fase de processo, por causa de uma série de

procedimentos. Assim, prosseguiu Carlos, "eu sugeri aqui que o presidente da Funai fizesse um

ofício, porque – tem que se colocar bem claro – o PAC é organizado e gerenciado por três

ministérios: Casa Civil, Planejamento e Fazenda, e quem fala pelo PAC não são os ministérios

executores. Então logo depois, na outra reunião, apareceu a idéia de que a Funai apresentaria, até

achei que fosse em função do contatos que tiveram, achei até que apresentação aqui seria baseada

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nas solicitações que o órgão tivesse feito oficialmente, como o Gilberto estava dizendo. Mas ele

está correto, eu só estou dando um esclarecimento, entendi que a Funai, pelos dados obtidos,

poderia apresentar um projeto, mas quem fala do PAC é a Casa Civil, que é a coordenadora do

projeto; quer dizer que o encaminhamento deve ser feito para o Comitê Gerencial do PAC, qualquer

outro órgão vai alegar isso, mas nós que somos do MME, tivemos muitas dessas obras dentro da

ANEEL com estudo, avaliação, levantamentos, e estão ainda levantando bacias, com quatro ou

cinco possibilidades e ainda não decidiram qual é, foi isso o que eles alegaram e sugeri registrar em

ata, mas eu me lembro de ter falado isso e que a Funai fizesse esse encaminhamento, pois quem fala

sobre o PAC é o Ministério do Planejamento, Fazenda e Casa Civil". A propósito, o presidente

disse que, apenas para dar um esclarecimento com relação a isso, quando falou em fazer um

levantamento exaustivo dos empreendimentos, foi exatamente por isso, porque não é o MJ nem a

Funai, nem o MME que detêm essas informações, informando ainda que têm sido feitas

solicitações, mas são muitos os empreendimentos e as dificuldades, sendo necessário se fazer

levantamentos acerca dos empreendimentos, razão pela qual se fez uma apresentação preliminar.

Ainda segundo o que informou o presidente, "nós temos condições de, até o final do ano, apresentar

um levantamento com muito mais detalhes, não todos, mas boa parte deles. Então o que eu estou

dizendo é o seguinte: temos uma grande dificuldade de levantar os empreendimentos, a Funai

solicitou aos ministérios as informações e estamos conversando com as equipes desses ministérios;

o que eu estou disponibilizando para a comissão é o que se conseguiu levantar até o momento, e, se

a comissão achar razoável e concordar", dirigindo-se a Gilberto Azanha, "podemos indicar

membros não governamentais para a comissão, para estar junto conosco nesse trabalho e

acompanharem o levantamento dessas informações". Gilberto Azanha, em resposta, afirmou que

mantinha sua proposta de votação na plenária e convocação do DNIT para uma próxima reunião. O

presidente declarou que nada impede que a Comissão possa convocar o DNIT ou qualquer outro

órgão do governo para fazer uma apresentação, que uma coisa não exclui a outra, apenas gostaria de

deixar claras essas informações, a seguir passando a palavra para Francisca Pareci e depois para os

representantes das Funasa. Francisca Pareci afirmou pensar que de certa forma Gilberto Azanha

tinha razão – quanto mais esclarecimentos a Comissão tiver melhor, para que não tenha dúvida de

nada, uma vez que "nas bases somos muito cobrados e pelo menos temos que ter alguma resposta".

Francisca questionou ainda sobre um assunto que teria sido levantado por Pierlângela em outro

momento da reunião, a respeito de estudo sobre o potencial das bacias hidrográficas, ao que o

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presidente corrigiu informando que havia sido abordado por Saulo Feitosa, do CIMI, que havia

informado sobre a iniciativa de se fazer uma portaria que autorizaria a entrada de pesquisadores de

empresas energéticas, mas que até aquele momento não havia nenhuma portaria indicada, o assunto

não havia chegado na Funai. Portanto, prosseguiu o presidente, a informação que poderia dar era

somente essa, afirmando que quando chegar à Funai esta adotará os procedimentos sobre o que tem

que ser feito. Saulo, por sua vez, afirmou que na verdade havia se referido à minuta de portaria,

oferecendo-se inclusive para fornecer cópias da mesma para o presidente da CNPI, diante do que o

presidente afirmou ter conhecimento do assunto, a seguir encaminhando a consulta à Funasa sobre

os questionamentos direcionados aos seus técnicos. Com a palavra, Lucimar, da Funasa afirmou

que foram muitas as perguntas e tentaria responder rapidamente, começando pela pergunta de um

representante do Mato Grosso que perguntara se a Funasa dispõe de algum levantamento sobre as

aldeias que não foram totalmente atendidas ainda, afirmando que as aldeias do Mato Grosso têm

água, luz, estão em melhor situação que outros estados. Informou, ainda, que existem muitas

problemas que impossibilitam a Funasa de realizar ações, como falta de verba e técnicos; que

quando se referira ao fracasso da Fundação com as organizações não governamentais e prefeituras,

isso foi muito forte em Mato Grosso e por isso atualmente estão retomando obras que já deveriam

ter sido feitas quatro anos atrás, da mesma forma que estão retomando convênios que fracassaram.

Sobre a questão da participação da comunidade, continuou, "esse é o nosso sonho e de quem

trabalha com área indígena, e quando a Funasa estiver avançando nesse ponto, de poder se afastar e

ver que a comunidade se apropriou de um benefício que foi implantado, aí sim a gente pode dizer:

´nós trabalhamos bem´" . Continuando em sua fala, a representante da Funasa referiu-se a pergunta

feita por Pierlângela, informando que, em termos de concepção sobre saneamento, acreditam que

qualquer empreendimento, qualquer implantação requer investimento, que gera impactos positivos e

negativos, que se for feito mesmo que seja um poço numa área protegida isso vai gerar impacto,

seja de comportamento, seja ambiental ou de qualquer outra natureza, destacando que no presente

anos estão implantando mais melhorias para ampliação do que sistemas novos. O ponto principal a

destacar, continuou, motivo de satisfação, disse respeito ao fato de que na Funasa estão com um

problema muito sério, "pode até parecer ironia eu estar feliz com problemas sérios [risos] no

momento em que temos o Ministério Público em defesa dos indígenas e da atuação da Funasa, nós

temos os órgãos de controle, como o TCU, e é muito forte quando eles dizem que nós só podemos

atuar ou investir em áreas que são estritamente regularizadas; em alguns locais, como áreas que são

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precárias, nós estamos orientando para que se façam investimentos que não sejam vultosos ou

permanentes, como por exemplo reservatórios móveis, que podem ser mudados de lugar se for o

caso, banheiros móveis também; nós damos essa orientação, mas às vezes não dá certo". Com vistas

a definir formas de encaminhar esse problema, continuou Lucimara, foi feita consulta à Funai sobre

em que momento a Funasa pode fazer investimentos em áreas indígenas, no entanto até a presente

data não obtiveram resposta. "Fizemos uma portaria no início do ano", prosseguiu, "quando

estávamos prestes a fazer o planejamento, orientando as coordenações com os critérios que

deveriam ser adotados e, diante da escassez de recursos da Funasa, quais eram as prioridades, o

Ministério Público fez alguns comentários pertinentes e outros nós retrucamos, para lançar outra

portaria". Com a palavar, a Dra. Deborah salientou que a referida proposta não está limitada à

questão da saúde, também tendo relação com a educação, já que também o FNDE não admite a

construção de escolas em áreas não regularizadas. Assim, disse Deborah "eu vou trazer o problema

para a comissão, o Ministério Público estava pronto para expedir uma recomendação para a Funasa

quando nós decidimos socializar essa discussão, porque ela não é uma discussão simples, eu estou

ouvindo vários representantes de órgãos de governo dizendo que não pode... Não pode em termos,

se nós estivermos numa situação como aquela em que vivem os Guarani, cercados por soja, em que

os mananciais estão totalmente comprometidos, dizer que eles não vão ter água e portanto vão

sucumbir porque não é possível liberar recursos públicos para uma área antes do processo final de

demarcação... É preciso enfrentar o TCU e hoje em dia o TCU é uma instituição aberta para essas

situações de diferenças; o que acontece nessas horas é uma inércia dos órgãos para enfrentar o

TCU, comodismo com aquilo que acontece e já historicamente não se enfrenta. A questão da saúde

é bem diferente da regularização de terra , então eu queria lembrar que não é o atendimento a saúde

que está em discussão, porque o problema do saneamento básico é inquestionável", concluiu.

Com a palavra, o presidente informou que, voltando ao início, entendera como proposta de

encaminhamento, primeiro, que o levantamento detalhado das obras do PAC surgiu como

encaminhamento, o que não exclui o convite ao DNIT e combina com o que fora proposto por

Aderval, no sentido de que a Comissão, via subcomissão, possa participar, juntamente com a Funai,

dos aprofundamentos e do levantamento sobre os empreendimentos do PAC. Em consulta à

plenária, perguntou se haveria concordância em se convidar o DNIT para apresentar a sua proposta

com relação ao PAC, na área de transportes, para a CNPI. Uma vez não havendo nenhuma

manifestação contrária, considerou como aprovada a proposta de se fazer convite para o DNIT

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apresentar sua proposta na próxima reunião da CNPI. Um outro encaminhamento teria sido

proposto no debate relacionado à questão da saúde e outro no debate da educação, "que certamente

é um debate que vai durar muito ainda na Comissão", no sentido de que se faça convite para a Sub-

chefia da Presidência da República, para que participem de reunião da Comissão a fim de ouvir sua

preocupações, principalmente da bancada indígena, em relação ao PAC, sobre pacto federativo, o

papel dos estados e município, políticas públicas voltadas para os povos indígenas e problemas que

os povos indígenas vêm enfrentando. Pierlângela, por sua vez, revelou ficar ocupada com a

definição da pauta da próxima reunião, porque vai ser a última do ano, estando sendo feitos

encaminhamentos e "daqui a pouco vai atropelar de novo e nós vamos ter uma reunião cheia, sem

muito debate, sem muita discussão; então a gente aprova esse encaminhamento até o final, não sei

quais foram os encaminhamentos das subcomissões para definir uma pauta". Sua preocupação,

portanto, é que quanto ao que será priorizado para a próxima reunião, uma vez que a seu ver

estavam sendo aprovados muitos encaminhamentos, correndo-se o risco de ficar com uma pauta que

não virá a contemplar o que realmente precisa ser discutido, de se ter muitas apresentações, a

Comissão fique apenas assistindo e não tenha tempo para debater. Diante da preocupação de

Pierlângela, o presidente reiterou a decisão quanto ao convite ao DNIT e Secretaria da Presidência

e afirmou que logo depois se discutiria a agenda da próxima reunião, colocando em discussão a

definição de prioridades de pauta da próxima reunião. Um outro encaminhamento que fica nesse

sentido, prosseguiu, é a escolha de representantes da CNPI para alguns eventos, o primeiro deles,

em face das necessidades apontadas na própria CNPI, disse respeito à escolha de quatro

representantes para representar a CNPI na Conferência de saúde, que deveria ser feita nesse mesmo

dia. Além disso, a bancada indígena precisaria escolher cinco representantes da CNPI, podendo ser

entre os suplentes, um por região, para o projeto do GEF Indígena, para o que a bancada indígena

poderia se reunir, decidir e informar a Funai. Um outro encaminhamento seria quanto aos

empreendimentos em terras indígenas previstos no PAC, tema levantado por Aderval/MDS, sobre o

qual disse ter entendido que essa escolha poderia ser combinada com a respectiva subcomissão;

com relação à Agenda Social, prosseguiu, definiu-se a necessidade de participação mais efetiva das

subcomissões com vistas ao aprofundamento e detalhamento da Agenda e, por último, mais uma

questão, sobre o aprofundamento do debate sobre as definições do reconhecimento dos povos

indígenas com vistas ao acesso às políticas públicas tema que teria ficado evidente na discussão

final sobre saúde. A respeito desse último ponto, Edgard destacou que não se trata de

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reconhecomento ao direito a políticas públicas, que reconhecem, e que no caso da saúde a questão

dúvida é o agente executor desse direito, entendendo-se que em alguns casos o executor não seria a

Funasa e sim as secretarias municipais de saúde, por exemplo para os índios que moram em áreas

urbanas, ressaltando que reconhecem o direito, não negam a condição de indígenas de forma

alguma e que inclusive a Funasa é a que mais reconhece e opera os direitos indígenas na saúde no

país. O presidente retrucou afirmando que pautara outra coisa e sim percebera do questionamento

feito que há vários casos de povos indígenas sobre os quais ainda não foram feitos estudos ou os

estudos ainda estão em estado inicial, não se tendo definido com clareza em qual momento do

processo há o reconhecimento oficial para que todos os órgãos públicos do Estado brasileiro

possam atuar. A Dra. Deborah a seguir afirmou que a questão que poderia ser posta de outra

forma, pois o que a atormente, por exemplo no caso de a Funasa ter ou não que atender índios na

cidades há inclusive uma recomendação, mas que a questão posta é em que momento é possível a

instalação de equipamentos de natureza permanente em uma área indígena ainda que não concluído

seu processo de demarcação, ao que o presidente afirmou que, de qualquer forma, havia captado a

questão. Pierlângela disse que gostaria de aproveitar para pedir que o Conselho da Funasa também

apresente uma proposta para isso, o próprio órgão se coloque ao lado dos índios para pedir

modificações, como também no Ministério da Educação e verem como trabalhar juntos quanto a

isso e resolver a situação junto ao TCU. O presidente apresentou então questão de ordem, no

sentido de que estavam definindo um encaminhamento e que a pergunta que fizera foi quanto a ter

faltado algum encaminhamento na lista que levantou, ao que Gilberto Azanha respondeu

afirmando que havia o exame do edital para contratação de lingüistas e os convênios. André/MDA,

disse ter compreendido que tendo em vista que os ministérios e órgãos finalísticos não podem

responder pelo PAC e sim o Comitê junto à Casa Civil e outros órgãos, deveriam reforçar o convite

ao Comitê, tendo já esses 210 empreendimentos levantados pela Funai, o encaminhamento que

havia proposto. Para esclarecer a questão, o presidente disse que na hora que Carlos levantou a

questão já havia informado que a Funai tem feito já os procedimentos solicitando essas

informações, mas que chegam em velocidades e volumes diferentes, e por isso estão prosseguindo

na realização do levantamento. Então, o sugestão de encaminhamento que havia ficado era que a

Comissão, juntamente com a Funai, e se sugeriu que especificamente membros da subcomissão de

etnodesenvolvimento, fariam o detalhamento dos empreendimentos, para apresentar até a próxima

reunião. Jecinaldo Cabral disse que encaminharam a questão sobre a portaria de Santa Catarina,

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afirmando que não fora revogada, e por isso via a necessidade de reforçar encaminhamento da

última reunião, em que esta decisão foi aprovada pela Comissão. A propósito, o presidente

informou que as resoluções já foram publicadas no Diário Oficial, como recomendação, e que falta

a publicação da revogação, uma decisão que cabe ao Ministro da Justiça. Jecinaldo Cabral fez um

outro destaque, considerando importante que se esclarecesse e encaminhasse para fechar a questão,

com relação às cartas que Mércio Gomes tem feito, reconhecendo que não se deveria perder tempo

com esse tema, "que não ajuda em nada no fortalecimento da luta indígena, mas duas coisas

merecem ser consideradas e esclarecidas para que não se tenha dúvidas sobre o trabalho da

Comissão. Primeiro, seria bom que a secretaria analisasse bem as três cartas do Mércio que já

saíram na internet, onde ele acusa a CNPI de não ter representatividade; isso é uma coisa grave. E a

outra coisa é a acusação de que o Presidente desta Comissão, Márcio Meira, é quem articulou a

carta para pedir a não indicação do Mércio ... então, eu li um pouco isso e eu acho que é importante

dar algum tipo de encaminhamento; é uma questão urgente e não está na pauta, porém é uma

questão que remete à Comissão, que foi citada nessas questões. Outra coisa são acusações contra as

lideranças indígenas, mas isso nós vamos encaminhar na assessoria jurídica, é importante que a Dr.

Deborah está aqui e na segunda-feira ela deve estar recebendo uma documentação da nossa

assessoria jurídica, da Coiab junto com Apoinme, entrando com uma ação contra este cidadão e já

estamos encaminhando. Mas no que se refere à CNPI acho que seria importante encaminhar, pois

tem se esforçado, feito um trabalho sério", disse Jecinaldo, concluindo sua fala. O presidente a

seguir passou a palavra para Suzana Grillo/MEC, que disse se tratar de um questão de precisão com

relação ao encaminhamento que a Dr. Deborah havia proposto. Nesse sentido, informou que o

impedimento, no Ministério da Educação, de se construir escolas em terras indígenas não

regularizadas é da Procuradoria do FNDE, foram surpreendidos com isso quando, em 2005 - 2006

tiveram um valor maior de recursos a investir; a Procuradoria do FNDE não admitiu, vários

processos tiveram que ser revogados e arquivados. Então é preciso situar bem essa questão,

referindo-se a Pierlângela, que não é uma questão só da equipe do MEC, da Coordenação [de

Educação Indígena], é um encaminhamento com relação aos órgãos, às procuradorias jurídicas do

Ministério da Educação, do FNDE, que não autorizam esse tipo de construção. O presidente

perguntou à plenária se haveria algum outro esclarecimento com relação a encaminhamento, ao que

o cacique Ak'jabor Kayapó declarou que já que estava acabando o tempo da reunião, os seus

parentes já estavam indo viajar e com isso eles não iriam ouvir nada de discussão sobre a

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reestruturação da Funai, expressando sua insatisfação devido ao fato de que essas pessoas vão voltar

para as bases sem as referidas informações, onde serão pressionados, de forma que seria melhor

caminhar logo a discussão sobre a reestruturação. O presidente afirmou que era isso o que ele

próprio queria, mas que teve de dar a palavra para todos os que se inscreveram para falar e também

queria finalizar essa parte da reunião. Lucimar - Funasa, afirmou que, segundo podia perceber, a

próxima pauta estava muito extensa para dois dias de trabalho e que, sobre o ponto que se refere à

questão das terras, para a Funasa a questão do saneamento é crucial, a educação também e lógico

saúde; mas ressaltando que trabalham com recursos e são monitorados, tem que fazer, justificar e

explicar porque não fazem. Diante dessas questões, prosseguiu, gostaria de sugerir como

encaminhamento, informando que já sugeriu, "e nesses dois últimos anos a luta foi maior, e eu digo

isso como coordenadora de saneamento em áreas indígenas, e venho para esses fóruns muito

desarmada, aceito críticos, sei que muita coisa tem que ser melhorada, mas de qualquer maneira já

caminhamos bastante; mas nós estamos nesse impasse agora todos os dias. Então eu sugiro que a

gente provoque uma reunião com o Ministério Público, TCU, jurídicas da Funasa e do FNDE, que a

gente discuta isso exaustivamente e venha para cá com pontos já enxutos para serem discutidos aqui

na Comissão, porque senão a gente não fecha nenhum ponto e o ano está acabando", concluiu. O

presidente então afirmou que, só para repetir o encaminhamento que responderia essa questão, que

o aprofundamento e o debate sobre essa questão sejam remetidos à subcomissão de Terras

Indígenas e que a mesma discuta com a Funasa, com o MEC etc., esse tema e proponha para o

plenário da Comissão. Antes de se passar à aprovação dessas questões, Edgard/Funasa, esclareceu

que a Advocacia Geral da União se encontrava presente e também se poderia encaminhar consulta a

ela sobre a matéria. A seguir o presidente disse que repetiria os encaminhamentos propostos, para

serem aprovados em bloco:

● Convite ao DNIT;

● Convite à Subchefia de assuntos Federativos da Presidência;

● Escolha, pela CNPI, de quatro representantes na Conferência Nacional de Saúde;

● Escolha de cinco representantes, por região, para o GEF indígena;

● Encaminhamento da subcomissão de Etno-desenvolvimento para o acompanhamento

detalhado, junto à Funai, dos empreendimentos do PAC;

● Que a subcomissão de Terras Indígenas discuta a questão da saúde e educação com a AGU e

o MP;

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● Que a subcomissão de Educação receba da Funai o detalhamento dos estudos sobre línguas

indígenas, cabendo à Funai elaborar o detalhamento do edital para os estudos lingüísticos

que serão realizados;

● Quanto à Agenda Social, que seja feito aprofundamento, pelas subcomissões, dessa agenda,

para posterior discussão ao longo da pauta das subcomissões;

● Escolha, pela bancada indígena, ainda neste mesmo dia, de dois representantes, um titular e

um suplente, para o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial.

O presidente consultou então o plenário quanto à sua concordância com relação a esses itens e, não

havendo nenhuma manifestação contrária, considerou aprovados os encaminhamentos elencados.

A seguir, imediatamente, passou-se então à apresentação da proposta de reestruturação da Funai.

Assim disse que tentaria apresentar a proposta com a maior objetividade possível, com vistas a que

os representantes indígenas pudessem ter acesso ao máximo de informações possíveis, e que

afirmando que, independentemente do tempo, todos os documentos sobre o tema haviam sido

entregues justamente para que pudessem terem condições de disponibilizarem todas as informações

relativas à reestruturação e Plano Plurianual etc., para suas bases. Informou que havia sido

preparada apresentação que incluía o PPA, reestruturação e Agenda Social e, como já havia

apresentado a Agenda, iria se ater exclusivamente às informações sobre aos dois temas não

abordados. A seguir então se projetou a apresentação no telão, ao que o presidente chamou atenção

para o fato de que todos haviam recebido documento contendo as informações constantes na

mesma; que o documento havia sido esforço inicial feito no sentido de detalhar todo o programa

chamado Proteção e Promoção dos Povos Indígenas, que é o novo programa coordenado pela

Funai, no Plano Plurianual 2008 - 2011, e que no documento constavam todas as ações do

programa, com os detalhamentos, conforme aprovado pelo Ministério do Planejamento, informando

que inclusive no início há um texto com todas as diretrizes programáticas que nortearam a

elaboração do Plano. Cada ação tem já para o ano que vem um orçamento encaminhado para o

Congresso Nacional, sobre as quais informou que não entraria em detalhes, uma vez que já

dispunham do documento e precisavam ganhar tempo, passando apenas à leitura do orçamento de

cada ação para o ano que vem, para anotarem, embora esses dados constassem no material. A seguir

então fez a leitura do orçamento de cada ação previsto para 2008, conforme enviado ao Congresso,

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para a Lei Orçamentária, destacando que foi o valor encaminhado, não quer dizer que já esteja

aprovado, pois pode ser maior, contando-se por exemplo com emendas que aumentariam o

orçamento. Assim, informou que constava no quadro a ação no PPA 2004 - 2007, o nome da ação e

nome da ação 2008 - 2011 e o orçamento para 2008, por exemplo a primeira ação seria

"Capacitação de servidores públicos federais em processo de qualificação e requalificação", uma

ação normal, que já existia e continua para 2008 - 2011 e cuja previsão de orçamento era de 1

milhão de reais, tratando-se de uma ação interna para capacitação dos servidores. Em seguida a

duas ações "Gestão e disseminação de informações acerca da temática indígena" e "Sistema

Censitário", duas ações que constavam no PPA anterior e no próximo passam a ser uma só ação,

que é "Gestão e disseminação das informações acerca da temática indígena", englobando as duas

anteriores e tornando mais flexível o uso e a gestão desses recursos. A previsão da ação para o ano

que vem é de setecentos e cinqüenta mil reais. A seguir, "Garantia dos Direitos e afirmação dos

Povos Indígenas" e "Fomento a Projetos Especiais Voltados a Proteção das Terras e das Populações

Indígenas", que passa a ser "Articulação das Políticas de Proteção e Promoção dos Povos

Indígenas", em que se vê zero de orçamento mas não significa que não tenha orçamento e sim

porque esta é uma ação que é de articulação de todas as ações de programa, e portanto seus recursos

virão de uma outra ação, que é de "Gestão e administração do programa", mas o Ministério do

Planejamento obriga a abrir uma ação no PPA, para se poder gastar o recurso, não há como gastar

sem se ter ação no PPA, o governo só gasta recursos se há ação no PPA. A próxima ação é

"Demarcação e Regularização das Terras Indígenas", que já havia no PPA anterior e mantiveram no

próximo, cuja previsão de orçamento é de, quarenta e quatro milhões, seiscentos e oitenta e sete mil,

quatrocentos e trinta e seis reais. O presidente prosseguiu na leitura das ações, passando à de

"Gestão ambiental e territorial das terras indígenas", que na verdade é a reunião de 4 outras ações

anteriores: "Estudos dos Impactos Ambientais e Culturais de Empreendimentos em Terras

Indígenas", "Conservação e Recuperação da Biodiversidade em Terras indígenas", "Fiscalização de

Terras Indígenas" e "Regularização e Proteção de Terras Indígenas na Amazônia Legal - PPTAL

(Programa Piloto), cujo orçamento é no valor de onze milhões e oitocentos mil reais, entrando nessa

ação o Sistema de Gestão Ambiental das Terras Indígenas, sobre o qual estava prevista

apresentação para o presente dia. Carlos Nogueira/MME, pediu a palavra para explicar, no caso de

que algumas pessoas não estivessem entendendo como várias ações se transformaram em uma, "o

PPA é meio engessado, a partir do momento que se tem onze milhões e oitocentos em gestão

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ambiental e territorial, englobando as outras 4, caso se tivesse dividido dois milhões e meio para

cada uma delas, só se poderia gastar dentro daquela rubrica, e em determinados anos a

regularização anterior não anda a contento como a outra andou e estando dentro de uma única ação

se tem a flexibilidade de mudar o recurso naquilo que seria a outra ação que aparentemente foi

apagada. Mas o texto que está englobando está contemplando isso, parece algo burro, mas é assim

que funciona o PPA", concluiu. O presidente agradeceu e explicou que, como está com pressa para

chegarem à parte da reestruturação, não parou para fazer esse tipo de esclarecimento, ressaltando

que a redução de ações não quer dizer redução de orçamento, pelo contrário, este aumentou para o

ano que vem, mas assim se tem maior capacidade de gestão e aplicação, com mais flexibilidade, nos

temas abordados. Em seguida passou à leitura das outras ações e de seus respectivos orçamentos,

conforme presentes na apresentação: "Localização e Proteção de Povos Indígenas Isolados ou de

Recente Contato", "Promoção do Etnodesenvolvimento em Terras Indígenas e Promoção do

Etnodesenvolvimento em Terras Indígenas", "Proteção Social dos Povos Indígenas" e

"Reestruturação Organizacional da FUNAI", que dentre as demais aparece como não tendo

orçamento. A esse respeito o presidente explicou que isso se deve ao fato de que, apesar de a

reestruturação ainda não ter acontecido, era necessário prever e garantir os recursos para arcar com

os respectivos gastos, como conseqüência lógica. Sobre a próxima ação, "Fomento e Valorização e

aos Processos Educativos dos Povos Indígenas", foi esclarecido que antes havia 4 ações, agora

reunidas em uma, com recursos no valor de 6 milhões e 510 mil, exclusivos para a Educação. No

novo PPA, explicou o presidente, essa ação – como as outras ações finalísticas – é destinada a ação

finalística e não meio; no caso da compra de combustível, pagamento de frete de avião, por

exemplo, o recurso deverá vir da ação de Gestão e Administração do Programa, do custeio.

Enquanto que antes, no programa anterior da Funai, as ações estavam misturadas. E por isso era

muito ruim a gestão, porque cada ação era uma pequena Funai, cada coordenador de ação podia

comprar combustível com o dinheiro da ação e fazia ação finalística, enquanto que agora não, existe

uma ação finalística e os recursos da Educação são somente para Educação. Isso significa um

aumento real para essa área e para as ações finalísticas. A próxima ação é justamente "Gestão e

administração do programa pesquisa sobre populações indígenas", que tem previsão orçamentária

para 2008 de R$ 51.500.000,00, e é a “ação-meio”, ação que continua e consolida vários itens da

ação anterior e agora é mais densa e condensada. A ação seguinte, prosseguiu, “Pesquisa sobre

populações indígenas”, com orçamento de R$ 359.000, 00, é já existia, é uma ação de

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R$ 359.000,00 para 2008; seguindo, "Preservação do conhecimento dos povos indígenas", que

substitui a ação “Funcionamento do Museu do Índio”, com previsão orçamentária para 2008 de

R$ 2.600,00, uma ação e mudança importante, porque inclui não só o Museu, mas a perspectiva de

poder fazer acompanhamento de alcance nacional.

Nesse ponto, o presidente destacou que havia concluído a apresentação sobre a

mudança do PPA: as que já existiam, as ações novas e o orçamento de cada uma delas para 2008.

Antes de passar à próxima apresentação, chamou atenção para o fato de que fora disponibilizado

material com todas as ações, assim como os valores. Sua proposta para a Comissão, declarou, é que

“se possa fazer, daqui para frente, o orçamento anual da Funai, pautar, desde o início do ano, talvez

para a primeira reunião da CNPI no ano que vem, a discussão sobre todas as diretrizes de aplicação,

desse orçamento e da política, inclusive como definido enquanto atribuição do Conselho para que

possam aplicar os recursos e prestar contas à Comissão. Fazer uma gestão transparente dos recursos

e possam acompanhar sua aplicação. Esta é a conclusão que faço em relação à apresentação do

PPA”, finalizou o presidente. A seguir, prosseguiu, passaria à apresentação sobre a reestruturação

da Funai, conforme material distribuído para os presentes. Inicialmente, o presidente destacou que

os critérios para a reestruturação repetiam um pouco os que foram na Agenda Social: superação da

relação de tutela ou da visão dos índios como relativamente capazes, substituição do modelo

assistencialista em que o Estado exerce o papel de provedor pelo modelo calcado no binômio

proteção (de direitos) e promoção (da eqüidade), onde o Estado se coloca como parceiro dos povos

indígenas, uma mudança conceitual importante para que a reestruturação acompanhe a mudança

conceitual instaurada pela própria Constituição. Outro conceito importante diz respeito à

territorialidade, em que se considerou três aspectos relevantes para a localização das unidades da

FUNAI: proximidade com as aldeias; infra-estrutura de acesso e disponibilidade de serviços

essenciais; distribuição geográfica dos povos indígenas de acordo com semelhanças culturais ou

seja um, mapeamento étnico, explicando que às vezes o que parece estranho no território, por

exemplo quanto à definição da área de jurisdição, de abrangência de uma administração justifica-se

porque as características culturais daquela população indígena são diferentes de outros e por isso é

importante considerar isso quando se pensa na definição das administrações locais da Funai. Os

principais aspectos da nova estrutura, resumidamente, dizem respeito ao fato de que hoje o órgão

conta com 3 diretorias, a proposta é manter as três, porém mudando o conceito e a nomenclatura,

sendo que hoje há a Diretoria de Assistência, Diretoria de Assuntos Fundiários e Diretoria de

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Administração. A proposta é que a de Assistência se transforme em Diretoria de Promoção, ou seja,

sair do assistencialismo para uma diretoria com perspectiva de promoção; a de Assuntos Fundiários

se transformar em Diretoria de Proteção, que inclui questão fundiária mas não fica só nisso; e a de

Administração se transformar em Diretoria de Planejamento, Orçamento e Administração, pois a

Funai precisa urgentemente de planejamento, por isso sendo importante a mudança; essas seria a

composição direção da instituição, mudando a partir dos conceitos apresentados. Além disso, a

presidência terá 4 novas estruturas de assessoria, lembrando que hoje já tem algumas assessorias: a

Procuradoria Federal Especializada, vinculada à AGU e tem presença na Funai, já existe a

Auditoria, que tem relações com a Controladoria Geral da União, só que não existe hoje Assessoria

Parlamentar, Assessoria Internacional, Ouvidoria e Corregedoria, e estão propondo criar as 4 novas

além das que existem hoje, ressaltando por exemplo a importância da questão internacional hoje,

relação com o Congresso Nacional, e não existem. Então a proposta é de reforço do comanda da

Funai em termos de assessoria e do conceito de direção. Seguindo, há ainda o Museu do Índio,

vinculado diretamente à presidência, e propõe-se ainda que a Coordenação de Assuntos Externos se

transforme em Assessoria de Comunicação, além da Chefia de Gabinete que já existe hoje. Outra

questão diz respeito à proposta de que existam 5 coordenações na atual Diretoria de Administração:

Coordenação Geral de Captação de Recursos e Acompanhamento de Convênios, que não existe

hoje e é uma coordenação importante, porque há uma perspectiva cada vez maior de parcerias,

captação de recursos, assinaturas de convênios e hoje não há estrutura própria organizada para fazer

isso, havendo muito potencial para se captar recursos; Coordenação-Geral de Logística, que não

existe hoje e é uma necessidade, sabem as dificuldades devido às terras indígenas estarem

localizadas em regiões distantes, sendo necessário lidar com questões relacionadas a transporte de

todas as naturezas, e hoje não há coordenação geral que cuide dessa logística, que envolve inclusive

segurança; a Coordenação-Geral de Recursos Humanos, que existe hoje mas misturada com outras

coisas e pela proposta será específica para isso; uma Coordenação-Geral de Planejamento e

Orçamento e uma Coordenação-Geral Documentação e Tecnologia Informação. São propostas

então essas 5 coordenações, destacando que a atividade-meio de uma instituição, que se refere a

essa diretoria, é o coração da instituição, pois as atividades finalísticas só acontecem bem se ela é

bem sólida e dá condições para a atividade fim acontecer, daí a importância da nova estrutura.

Passando à Diretoria de Promoção, propõem 4 coordenações gerais: Coordenação Geral de Proteção

Social, de Cultura, de Educação e de Etnodesenvolvimento, as quais têm a ver com os conceitos que

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estão sendo trabalhados na CNPI. A Coordenação de Proteção Social a idéia é que seja o local da

Funai onde se poderá ter técnicos – nesse ponto destacando que a reestruturação não está descolada

do Plano de Cargos e da realização de concurso público – na área de proteção que possam ter a

função de coordenação e acompanhamento das políticas públicas, assunto muito falado na

Comissão, sabendo-se que o papel da Funai não é a execução direta de ações na área de saúde,

educação etc., mas precisa ter corpo que acompanhe essas ações e faça valer os princípios da

Administração Pública. Nesse ponto, Gilberto Azanha pediu a palavra, perguntando onde se

encontrava a Coordenação Geral de Estudos e Pesquisas, ao que o presidente respondeu que a idéia

é que as atividades que a referida coordenação desenvolve atualmente sejam divididas entre outras

coordenações, uma parte delas inclusive ficando na Presidência, pois cuida por exemplo de ingresso

em terras indígenas, e que as outras atividades sejam rearranjadas em outras. A Coordenação de

Cultura é nova, gostariam de dar ênfase muito grande a essa questão, considerando que a Funai

precisa ter mais presença na questão do patrimônio cultural, em torno da qual há uma discussão

séria, porque o que garante efetivamente os direitos dos povos indígenas é a sua cultura, então por

isso é importante terem tal coordenação, inclusive vai continuar cuidando da questão do artesanato,

da Artíndia, com a idéia de que se renove o conceito de gestão do artesanato nessa coordenação.

Quanto à Coordenação Geral de Educação já existe e continuará, certamente mantendo papel

importantíssimo, em sua atuação junto ao MEC, pretendendo que seja ação de acompanhamento,

integração com esse ministério; Coordenação de Etnodesenvolvimento é nova e vai assumir tudo o

que a atual Coordenação de Desenvolvimento Comunitário faz, mas ampliando a perspectiva na

linha do que a subcomissão tem discutido, destacando que muitos termos que têm sido usados na

Comissão estão sendo utilizados na reestruturação, e o diálogo da subcomissão com a Funai se dará

certamente nessa coordenação, onde se dá a aplicação de recursos, programas de

etnodesenvolvimento. Com relação à Diretoria de Assuntos Fundiários, terá 5 coordenações: a

Coordenação Geral de Identificação e Delimitação, que já existe e continuará e cuida de toda a parte

de regularização fundiária; Coordenação-Geral de Demarcação, Coordenação Geral de

Regularização Fundiária, a novidade sendo o fato de que devolveram a esta diretoria a

Coordenação-Geral de Meio Ambiente e a Coordenação Geral de Povos Isolados e Índios Recém-

Contatados, que não são novas mas na atual estrutura são subordinadas à Diretoria de Assistência,

explicando que uma boa parte da ação de fiscalização fica dentro da coordenação de meio ambiente,

tratando-se de um redesenho para otimizar a atuação da fiscalização. O conceito proposto, explicou

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Márcio, é o de proteção, dos índios isolados, recém-contatados, meio ambiente, das terras

indígenas, a proteção norteia todo o trabalho da diretoria.

A seguir a apresentação passou a tratar da estrutura regionalizada, explicando que

atualmente a Funai conta com 45 Administrações Regionais e 337 Postos Indígenas; a nova

estrutura – ressaltando que se trata apenas de uma proposta que se está apresentando e que e está

em discussão no Ministério do Planejamento, e ainda que a questão das administrações

regionalizadas é muito complexa, já se tendo pensado sobre ela várias vezes – prevê 12

Administrações Regionais, incluindo 39 Administrações Locais e 315 Representações Locais.

Explicando do que se trata, disse que se precisa deixar claro que estão propondo um aumento geral

de administrações, pois muita gente está comentando que estão diminuindo, mas é o contrário, estão

aumentando o número de administrações, de 45 hoje para 51, afirmou o presidente. A diferença na

proposta nova é que estão preocupados com a questão territorial, um dos conceitos que estão

trabalhando, ou seja, "queremos que algumas áreas, por conta do que se falou antes, proximidade

com as aldeias, questão cultural e da logística, possam ter uma administração regional daquele

território, que possa coordenar algumas ações, sobretudo na área administrativa, mais que na

representação política. Essa escolha, de 12 administrações regionais, explica-se porque, como na

Funai, diferente dos DSEIs da Funasa, as AERs são unidades gestoras, o administrador tem acesso

ao Siafi, recursos do PPA, e o que está acontecendo é que o dinheiro muitas vezes não chega na

administração ou na aldeia, e muitas vezes os problemas são resultado de que o recurso é

descentralizado num volume em que a administração não tem condições, inclusive operacionais,

para licitar, cumprir regras da lei que rege licitações etc., e por conta disso propõem que se tenha 12

administrações regionais. "A estrutura básica que estamos propondo para uma administração

executiva da Funai é que cada uma das 12 tenha um administrador regional, como hoje, com o

mesmo DAS; um serviço técnico, um serviço administrativo e um serviço de apoio logístico, além

de uma assessoria. Quanto aos DAS, para traduzir nessa linguagem, o administrador regional e o

local têm DAS 3, assessoria, DAS 2, e os serviços técnicos DAS 1, que se trata da proposta para as

AERs, que hoje só contam com dois DAS 3 e dois DAS 1, propondo-se então aumentar. É

importante destacar ainda que estou me referindo apenas aos cargos de direção, existindo ainda os

funcionários; então essa é a estrutura proposta para reestruturação das administrações regionais, que

será melhor detalhada quando se mostrar o mapa adiante, onde a situação fica um pouco mais

difícil". No caso da administração local, explicou, não conta com o serviço logístico, que fica só na

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regional, pois querem que a logística cuide da área, do território como um todo, contando com os

outros setores que existem também nas administrações regionais. Com relação às representações

locais, que são os atuais postos indígenas, podendo-se perceber que houve redução de 337 atuais

para 316, diferença resultante de uma matemática difícil, de diálogo com o Ministério do

Planejamento, relativa aos DAS unitários, resultante da criação dos DAS 2 de assessor. Com

relação às razões pelas quais de optou por reduzir aí, o presidente justificou dizendo que: "nós

identificamos hoje na Funai que há muitos postos indígenas que estão subutilizados, muitos sem

função, inclusive a necessidade do posto – cujo denominação mudaram para representação – remete

a vigilância, fiscalização, não de proteção da terra indígena, mas da própria comunidade; posto é

uma palavra, um conceito que remete à época do Rondon, então estamos substituindo o nome posto

indígena para representação local da Funai. A proposta é que em cada caso seja pensado, e a

discussão é, por exemplo, como vai ser a representação local no povo Potiguara, vamos conversar

com a comunidade para decidir se a representação vai ficar na aldeia, cada caso é um caso. A nossa

experiência hoje diz que é melhor nós termos uma representação discutida com cada povo para ver

melhor como posicionar essa representação, porque há casos em que não faz sentido hoje ter uma

representação na aldeia, narrando terra indígena que visitou recentemente em que os próprios

caciques pediram que não mande chefe de posto para lá, porque só cria problema para eles e então

preferem que o chefe de posto fique na capital, porque quando os aposentados vão para a capital

querem que tenha alguém para ajudá-los lá. Então isso é para se ver como a lógica muda em cada

situação; por exemplo vão sentar com os Kayapó para verem como preferem e a idéia é que a

representação local seja discutida caso a caso, com cada povo. Essa é explicação com relação à

estrutura que estamos propondo de representações locais, as quais têm uma vinculação às

administrações locais às quais estão jurisdicionadas". O presidente informou que a seguir mostraria

um mapa, que foi o primeiro exercício que fizeram, mas tendo em vista comentário feito por um dos

membros antes explicou que questionaram ao Ministério do Planejamento se poderiam ter

representações locais que não precisassem de DAS, em que por exemplo um funcionário da Funai

com função gratificada pudesse ser o representante local , e parece que há essa flexibilidade, ainda

não chegaram a um acordo, mas seria positivo porque poderiam ampliar se fosse necessário, sem

precisar necessariamente de DAS, o que ainda é uma discussão em curso. Prosseguindo, o

presidente afirmou que "isso aí é uma proposta, fruto de uma discussão difícil, em que

aprofundamos o máximo possível para trazer para vocês. A proposta é que tenhamos as 12

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administrações regionais como responsáveis administrativamente, principalmente, por essas

regiões, do ponto de vista mais administrativo que político. E aí a proposta, do Norte para o Sul, é

termos uma administração regional em Boa Vista, que se ocupe do estado de Roraima; uma

administração em Manaus, que se ocupe de parte do Amazonas, pois estamos propondo que a parte

sul fique na área 12, na cidade de Rio Branco - Acre; na área do Pará, que é a 9, estamos propondo

que a administração fique em Belém e que se ocupe também do Amapá, se bem que a parte sul do

Pará ficaria na área 7, uma área do Mato Grosso em que ainda temos dúvidas sobre a localização da

administração regional", ponto em que dialogou com Francisca Pareci sobre a questão da

localização, já que ela discordava da proposta e afirmou que estava sob forte pressão em

decorrência dessa questão. Em face do que o presidente frisou que o critério utilizado pela Funai

para essa proposta havia sido a proximidade com as aldeias, mesmo no caso das regionais, a

densidade da população indígena e também a logística, e que às vezes, pelo critério, pode ser uma

cidade ou outra, afirmando que Francisca deveria dizer para seu povo que ainda estão discutindo a

questão. Voltando ao mapa, informou que na área 8 estão propondo que a administração regional

fique em Imperatriz, que está no centro e próxima da maior parte da população indígena e não em

São Luiz; com relação à área 6, a proposta é que a administração regional fique em Recife; na área

5, que pega parte de Goiás, parte do Mato Grosso, basicamente as áreas Xavante, e parte de

Tocantins, área Xerente, estão propondo que fique em Goiânia, considerando que os Xerente têm

proximidade cultural com os Xavante e outros povos, voltando a dizer que se tratava de proposta,

algo não definitivo, em discussão. Com respeito à área 4, incluiria Minas, Espírito Santo e centro-

sul da Bahia, propondo-se que se mantenha a administração em Governador Valadares, enquanto

que a área 1 – São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, propõem que

a administração regional fique em Florianópolis, onde não existe nenhuma representação da Funai

hoje e então seria preciso criar uma administração nova, explicando que seria em Florianópolis

porque está no litoral, em primeiro lugar, e porque é onde está a maior parte da população Guarany,

que é muito pouco assistida no litoral, uma vez que as administrações atuais estão no oeste de Santa

Catarina e noroeste do Rio Grande do Sul e oeste do Paraná. Então estão propondo que a

administração regional seja em Florianópolis, mas que esta também se ocupe de uma forma mais

próxima, da população Guarany e Xokleng, mais próxima da referida cidade, explicando que no

ponto de vista da direção esta é uma proposta que traz melhorias em termos da organicidade da

região sul. Ainda com relação à região 1, afirmou que poderia inclusive adiantar que há uma

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proposta, uma questão que estão encaminhando, com relação a transferir a administração local, de

Bauru para o litoral de São Paulo, Santos – o que se trata de uma reivindicação antiga dos índios,

para atender os Guarany, que estão no litoral do Rio de Janeiro e de São Paulo. Com relação à área

2, informou que é a área Guarany-Kaiowá, que inclusive foi destacada por conta da complexidade e

da gravidade da situação desse povo, com a administração regional sendo localizada em Dourados,

ressaltando que esta é a área em que a Funai já avançou mais rapidamente, já tendo sido criada a

Administração Regional da Grande Dourados, em Dourados, cuja sede já foi inaugurada, e estão

trabalhando na perspectiva da gestão territorial articulada com vários ministérios. A proposta é que

a administração fique em Dourados, trabalhando quase que exclusivamente com os Guarany-

Kaiowá. Quanto à área 3, pega quase que exclusivamente a população Terena, o Pantanal e outros, e

a proposta é que a administração regional fique em Aquidauana, porque é uma cidade que tem

condições logísticas boas e fica no centro da maior parte da população indígena do Mato Grosso do

Sul, tirando os Kaiowá, é o centro do mundo Terena, mais próxima dos Kadiwéu.

Esta é portanto uma proposta de divisão em territórios – no caso em 12 territórios

administrativos – e além desses 12 territórios há as administrações locais, cuja definição é ainda

mais difícil e não se dispõe ainda de mapa delas, até porque vão aumentar, algumas novas serão

criadas. Com relação ao critério não só para a criação de novas, mas para sua localização,

considerou-se primeiro que é preciso melhorar e marcar mais a presença do Estado de Direito

nacional, da Funai, articulando outros órgãos de governo, nas regiões onde há maior ausência do

Estado e maior pressão das frentes de expansão econômica, inclusive em função do Programa de

Aceleração do Crescimento, que é a região sul da Amazônia, que pega o sul do Amazonas, Acre,

Rondônia, norte do Mato Grosso, sul do Pará, Maranhão, onde está o "arco do desmatamento".

Então, disse o presidente: "nós consideramos como critério principal para a criação de novas

administrações locais da Funai, que se localizassem nessa área, para fortalecer a presença do

Estado, a proteção e promoção dos povos indígenas nessa área onde inclusive há uma população

indígena significativa. A partir desses critérios foi definida a criação de algumas administrações

novas, o que ainda está em fase de discussão com o Ministério do Planejamento e com a Comissão".

Mesmo assim, afirmou, iria informar que estão propondo uma administração nova em Barra do

Corda, no Maranhão, que antes tinha núcleos, que foram extintos, o que não detalharia na ocasião,

mas destacando que foram obrigados a fechar as unidades gestoras nesse estado, por razões que não

valeria detalhar no momento; sendo que a proposta seria criar essa administração quase que

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exclusivamente para cuidar dos Guajajara, uma discussão que está sendo feita com esse povo,

afirmando que Arão sabe que estão levando adiante a discussão, complicada devido a disputas

internas nessa questão. Uma questão de princípio do governo nesse caso é que tenham uma

administração local em Barra do Corda, não duas. Seguindo, informou que estão propondo uma

administração na cidade de Juína, em Mato Grosso, lembrando que basta ver o filme apresentado na

reunião anterior para justificar a criação de uma administração nessa cidade. Uma outra

administração nova que estão propondo criar é em Umaitá, no sul do Amazonas, sendo que hoje há

apenas um funcionário da Funai no local e há densidade populacional muito grande, tratando-se de

uma zona de grande pressão madeireira, de soja, expansão da frente agrícola. A proposta,

prosseguiu, é que fique subordinada à área 12, porque avaliam que a população indígena está muito

mais próxima, culturalmente, da região de Rondônia e Acre, do que dos indígenas do restante do

estado do Amazonas, mais perto de Porto Velho e muito distante de Manaus. Outra administração

local nova seria na cidade de Cruzeiro do Sul - Acre, fronteira com o Peru, sendo muito importante

e chegando à parte sul da terra Vale do Javari, que estão propondo que fique jurisdicionada a

Cruzeiro do Sul, porque Atalaia do Norte não dá conta, já que são necessários dias de barco vindo

de Atalaia, portanto levando-se em conta a questão da distância geográfica. O presidente informou

ainda que existe uma reivindicação dos índios do Ceará para que se crie uma administração local

em Fortaleza, havendo ainda o caso de algumas remoções, como de Baurú para Santos, já falada, a

proposta de remoção de duas administrações da região 1, que estão no Paraná, para outras regiões,

principalmente para a região da Amazônia, onde há maior necessidade, avaliando-se que a

administração na área de Londrina seria suficiente para dar conta da região, e já foi feita remoção

recente, prevista na proposta, necessária por questões emergenciais, que foi a criação de uma

administração local em Ji-Paraná, no centro de Rondônia, tendo se feito a transferência da

administração de Porto Velho, onde foi mantida representação local, já que a nova localização é

mais próxima da população de Rondônia, e por se tratar de um local onde há problemas sérios,

índios isolados etc., sendo que pela proposta será mantida Cacoal, até mesmo devido à questão

grave dos Cinta-Larga. Este seria um resumo das propostas, disse o presidente, a seguir abrindo a

palavra para os inscritos fazerem os respectivos comentários.

Arão Guajajara , do Maranhão, foi o primeiro a fazer uso da palavra, afirmando:

"presidente, eu sei que a intenção da Funai, do Ministério da Justiça, do Planejamento, Orçamento e

tudo deve ter sido pensado de forma a beneficiar de fato o nosso povo indígena. Mas acontece que a

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explanação que o senhor fez para os membros do CNPI nos remete a uma responsabilidade muito

grande, mesmo porque eu mesmo só tive acesso a essa proposta de reestruturação da Funai

segunda-feira, quando eu recebi essa pasta. Então, é uma questão muito delicada e uma

responsabilidade tamanha, que talvez o senhor ainda não tenha feito as adequações matemáticas das

conseqüências e pressões de cobranças que vamos ter quando a gente chegar nas bases. Porque a

ansiedade é tão grande que todo mundo pergunta, liga e pergunta como está essa reestruturação da

Funai, como se não tivesse outra pauta em discussão a não ser essa. Com base nessa situação, como

proposta de sugestão para a CNPI é que a gente leve essa proposta para as bases, para se discutir, e

se tenha uma outra discussão, mais aprofundada, numa outra reunião da CNPI, porque eu não me

contemplado com as informações dadas, de forma superficial, porque vejo que, mesmo com boas

intenções, vai ter repercussão sim nas bases, cobrança, mobilização, movimento, porque bem ou

mal as administrações que estão criadas hoje representam um ganho histórico para nossas

comunidades indígenas e isso tem que ser respeitado, não é somente com uma portaria, uma

determinação, que pode ser visto com bons olhos pelo Ministério do Planejamento, talvez pelo

senhor também, mas é preciso também que se respeite aquelas situações de base que tem que ser

consideradas, discutir incansavelmente essa situação, de preferência nas aldeias, que o senhor se

responsabilize de mandar técnicos para discutir com nossos parentes lá na ponta, para que mais

tarde eu não seja culpado por essa situação de reestruturação da Funai, como se eu viesse aqui

somente respaldar essa proposta que está pronta. Por isso eu coloco como sugestão e como

proposta para que a gente traga e a Funai pense de mandar seus técnicos para as aldeias para discutir

corpo a corpo com as nossas e nossas comunidades. Essa é a minha proposta, obrigado", finalizou

Arão Guajajara. O presidente pediu a palavra, para dar um esclarecimento antes de continuar, que

considerava muito importante, no sentido de que na próxima semana, exatamente porque estava na

agenda, foi apresentada proposta para discussão, afirmando achar mais do que justo que possam

levar para as bases a proposta, para que possam ouvir como se colocam em relação a ela, sendo que

na semana seguinte estaria sendo realizado seminário interno da Funai, com cerca de 200 técnicos

de todo o país, para os quais a proposta também seria apresentada, para que todos os funcionários

que vêm também possam voltar para as áreas, para contribuir, sabendo como é a proposta, para

poder debater nas áreas. Este seria o esclarecimento, para que possam continuar na discussão, que

não é fácil mesmo, como foi dito. A seguir foi passada a palavra para Francisca Novantino, Pareci

de Mato Grosso, que se manifestou da seguinte forma: "uma parte o Arão já falou; mas eu queria

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também dizer o seguinte: essa é uma situação que eu entendo ser de muita pressão e muito

preocupante, porque pelo que eu vi, em relação ao Mato Grosso, o senhor não entende nada, não

sabe nada sobre o Mato Grosso. Tudo bem, isso é natural...", ao que o presidente afirmou que isso

era bom, porque quer aprender, enquanto que Francisca afirmou esperar que o presidente tenha

bastante oportunidade para tal e ele retrucou dizendo que, como ela é professora, espera que possa

aprender com ela. Retomando sua fala, Francisca afirmou que "mês passado esteve uma comissão

aqui [em Brasília], diante do desespero dos índios, porque ficaram sabendo que vai fechar a Funai,

diante de todas as fofocas sobre esse assunto. A decepção deles foi no sentido de não terem sido

recebidos, mas eu gostaria de aproveitar a oportunidade para trazer um documento feito por uma

organização indígena de Mato Grosso, composta pelos povos do estado, que está fazendo um

convite para o senhor ir a Cuiabá fazer uma reunião com todas as lideranças do estado, incluindo

nisso os Kayapó de Colíder, o pessoal de Rondonópolis e outros", frisando que Rondonópolis era o

último estado em que pensavam como sede para a administração, diante do que vêem a situação

como sendo muito preocupante. Neste ponto, o presidente comentou que perspectiva de Francisca,

enquanto Pareci, certamente era muito diferente daquela dos Bororo, por exemplo, ao que esta

respondeu que Bororo é um povo, mas no estado há 42, a situação é bem mais complexa, embora

concordando que os Bororo precisam de uma representação local, pois também estão passando por

situação caótica, mantendo sua crítica quanto à localização geográfica. A proposta, portanto, é que o

presidente faça essa visita, prosseguiu Francisca, com tempo para discutir com os índios, se possível

ficando pelo menos 3 dias, a seguir fazendo a entrega do documento e esperando que o presidente

possa nesta oportunidade se comprometer a ir, ainda em novembro se possível, ao que este

respondeu que irá, depois da visita já combinada com Antonio Caboquinho 29 de outubro/30

novembro, diante do que Francisca afirmou que podem auxiliar na organização da reunião,

encerrando sua fala e agradecendo a atenção. Ao receber o documento, o presidente afirmou que

podem acertar sua agenda para ir a Cuiabá, cidade para a qual já tinha a intenção de ir e já conhece

bem. O próximo a se manifestar, Korralui Karajá , do Tocantins, expressou-se da seguinte forma:

"Eu queria ressaltar o seguinte, com relação a Palmas, onde não existe administração, de forma que

as necessidades dos Karajá são atendidas por Araguaína, Araguaia e Gurupi e quando acontece

algum problema, por exemplo com posseiros, precisamos recorrer ao Ministério Público Federal de

Palmas, a Funai tem que se deslocar de Araguaína, Gurupi para lá. Por isso, defende que se pudesse

instalar pelo menos um escritório em Palmas, inclusive para atender os universitários indígenas que

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estão lá, e também maior concentração do poder se encontram Palmas. Obrigado". A seguir, Danilo

Terena, da região centro oeste, que afirmou que, assim como os demais colegas, gostaria de

manifestar tristeza com relação a esse assunto, pois, como conversaram de manhã, falou-se em

apresentação de proposta e na realidade o próprio presidente teria de contradito quando disse que

em Mato Grosso do Sul já foi iniciado o processo, o que quer dizer que não é só proposta. "Não

estou aqui condenando, pois o senhor quando fez esse ato administrativo foi na melhor das

intenções, nenhum gestor por mais que venha para a Funai, tem a vontade de mostrar um bom

trabalho, mas, como a Chiquinha falou, é com relação à falta de conhecimento com a questão da

política indígena. E quanto a essa questão eu gostaria que o senhor levasse em consideração

também o que foi colocado em relação à administração de Aquidauana e nós tivemos essa discussão

porque há dias tivemos conhecimento dessa proposta, isso já é falado dentro das aldeias, outros já

estão dizendo que já não é mais proposta, já está até no PPA de 2008, então não é mais proposta e

sim está praticamente consolidado. E isso nós tememos, porque eu acho que tem que ser respeitada

a Convenção 169, apesar de que o senhor é o gestor, é o presidente da Funai, pode fazer tudo isso,

porque é um ato administrativo, mas acho que também deve passar pelos índios que estão lá nas

bases, sentimos a deficiência, a dificuldade, e queremos também cooperar para que o órgão que

cuida, trata dessa questão dos povos indígenas do Brasil nos consulte neste momento de bastante

importância para nós da CNPI, das bases. É isso". A seguir se passou a palavra para Brasílio, do

Sudoeste, que afirmou "eu fico até contente quando o senhor lembrou do povo Guarany, porque até

o momento não tinha sido lembrado do povo Guarany do litoral, é um pedido antigo, uma questão

de muito respeito para com esse povo, que está em todo litoral do Sul do Brasil, até o Rio de

Janeiro, e se lembrou bem. Agora eu tenho uma preocupação, apesar de minha comunidade estar

contemplada, com o Rio Grande do Sul e estado do Paraná, a reação que vai haver, mas acho que

foi uma boa colocação e correspondeu ao que o povo Guarany precisa, e em nome dele falo isso,

pelo respeito que houve e acho que fica bem colocado em Florianópolis, mas resta a preocupação

com o Rio Grande do Sul, que também tem muito povo Kaingang, e no Paraná também acho que se

tem que conversar bastante para que não se prejudique nem um nem outro". A propósito, o

presidente esclareceu que no caso do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, estamos

mantendo a Administração Local de Xapecó, Passo Fundo e Londrina, justamente para continuar

mantendo a atenção para os Kaingang. Ressaltando que a administração executiva regional e local,

do ponto de vista político, são iguais, a questão da regional é principalmente administrativa, pois é

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preciso se ter mais controle administrativo e logístico, agora por exemplo a AER Xapecó continuará

funcionando como está, atendendo os Kaingang. Repetindo, a pedido da Dra. Deborah Duprat, o

presidente repetiu que a grande maioria das administrações, da maneira que existem hoje, estão

sendo mantidas, e terão as mesmas funções que têm hoje, sendo que as administrações regionais

estão sendo criadas porque terão uma função mais ampla do ponto de vista administrativo, logístico,

geográfico, para deixar bem claro que não estão sendo extintas as administrações locais atuais,

algumas apenas que estão removidas de um lugar para outro para melhorar o atendimento, está

propondo-se isso. Seguindo, passou-se a palavra para Marcos Tupã, Guarany, da região Sudeste, o

qual afirmou que estava um pouco preocupado com essa questão da hierarquia, mas que na última

fala foi contemplado. Em sua região há muita preocupação devido às aldeias estarem no litoral,

havendo discussão séria principalmente com relação às terras, que existe em São Paulo uma

reivindicação dos Guarany de que a seja criada uma administração para os Guarany em Santos,

explicando que sua preocupação com hierarquia já fora contemplada. Wilson Matos, Centro-Oeste,

manifestou-se com as seguintes palavras: "Eu me remeto à bancada indígena e até como, não que

alguém tenha me mandado dizer isso, para mim está bem claro agora que foi explicado, que a

reestruturação visa melhorar o atendimento, disso não tenha dúvida, e como o presidente havia dito,

isso foi feito lá na minha área, eu falo com conhecimento de causa. Outra questão que a bancada

indígena tem que levar em consideração é que nós temos uma tribo aí no meio, e uma tribo

extremamente difícil de mexer, que se chama funcionários e é essa tribo que está passando essas

informações distorcidas nas aldeias, passaram na minha comunidade! Agora depois que eu tomo

conhecimento dela eu vejo que estava enganado, peço até desculpas de alguns comentários que fiz,

porque a administração de Campo Grande – vou falar de onde conheço – saindo para Aquidauana, é

uma cidade que tem estrutura, tem porte, fica no meio dos Terena e se aproxima da área Kadiwéu.

Vai contemplar os povos indígenas e é isso o que nós queremos, que seja funcional e atende o índio;

se vai ficar melhor para o funcionário, aí é outra conversa, se quer morar na capital, não quer ir para

Aquidauana, aí já é outra conversa, é a tribo dos funcionários, não dos Terena ou Kadiwéu. No

Mato Grosso do Sul até viemos pessoalmente pedir para não acabar com a administração de

Amambai, porque temos necessidade de atendimento muito premente e o presidente explicou que

não vai acabar, o que acaba é a autonomia financeira, que muitas pessoas estavam fazendo má

gestão dos recursos. Então enquanto índio fico feliz, é uma forma de controlar, mas não posso falar

pelas outras regiões, e sugiro que cada um analise, vamos gritar pelo que doer, mas acho que a

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reestruturação, depois que os funcionários tiverem conhecimento, e eles são os que têm maior

influência na comunidade, têm o dever de explicar. Na minha comunidade não tem problema, pois

já está funcionando e do meu ponto de vista deve se buscar que os patrícios índios sejam atendidos;

já quanto aos funcionários, isso não é com a CNPI, é questão de plano de cargos e salários, o que

vai ficar bom para o administrador, se ele não vai mais ser ordenador de despesas, não vai mais

poder ter mais 10% da loja que vende para ele, do posto de combustível...; isso estou falando

porque fui administrador, sei o quanto é duro trabalhar numa administração em que você trabalha

contra todos os funcionários, então o que não estão querendo perder é isso aí. E acho que o

atendimento para os índios tem que ser bem olhado", concluiu Wilson.

Carlos Nogueira, na seqüência, pediu questão de ordem, para lembrar que não se

aprovou a ata e como está havendo o esvaziamento da reunião, ao que o presidente disse que já ia

chamar atenção para esse fato, afirmando que antes de o quorum ficar esvaziado precisariam fazer a

aprovação, ao que consultou o plenário se foi feita a leitura e se poderia aprovar a ata da reunião

passada antes de passar a palavra para o próximo. Edgard Magalhães, do Ministério da Saúde,

explicou que havia feito algumas pequenas correções na síntese, apenas de redação, as quais já

haviam sido comunicadas à secretaria. A Dra. Alda Carvalho, da AGU, destacou que gostaria que

se registrasse o que falaria a seguir, com relação à ata da reunião anterior, dizendo: "aqui houve

uma colocação nossa da AGU, que já havia falado no dia anterior mas gostaria de repetir, para ficar

registrado na ata desta reunião de hoje, para a próxima, que vai ser aprovada, que é com relação à

permanência da AGU como convidada permanente, como está atualmente, foi aprovado, e como

nos manifestamos que gostaríamos de ser membro efetivo, pelas questões que já expus. Outra coisa:

eu deixei aqui claro, ficou entendido e registrado [lendo na ata anterior] que 'a Dra. Alda informou

que receberam convite para essa reunião e a anterior, para participar como convidados, que

conversaram na Advocacia e entenderam que poderiam participar como membros permanentes, este

foi o consenso da AGU', aquilo que eu falei ontem na primeira fala. 'No entanto, prosseguiu, tal

decisão dependia da vontade de todos os presentes, não podem impor a presença como membro,

convidado, etc.'. Então eu quero deixar registrado que pedi, que ao final ficou decidido que a

presidência dessa Comissão formalizaria a intenção para eu colocar ao nosso Consultor Geral da

União essa intenção de estar como membro convidado ou não, e me parece que não ficou registrado

assim bem claro, aliás, ficou registrado, mas não foi feita esta formalização e decidiu-se por

consenso da plenária que ficaria como convidado permanente. Então é apenas deixar isso

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registrado, porque futuramente pode ser que o nosso ministro venha a indagar e dizer e aí ele vai

dizer 'como é que a senhora esteve na reunião e não levantou essa hipótese'. É só por essa questão,

obrigada", concluiu a Dra. Alda Carvalho. "Está registrado", frisou o presidente, afirmando que,

diante de não ter sido feita nenhuma manifestação, considerava aprovada a ata da reunião

passada, passando a palavra para o próximo inscrito. Lindomar Xocó, de Sergipe, o qual afirmou

que se sentia contemplado com a palavra de Arão, mas gostaria de passar sua preocupação para a

plenária, com a forma como os funcionários da Funai atuam hoje nas comunidades, "hoje no

Nordeste, 50% das comunidades que são divididas a irresponsabilidade é da Funai. Por que algumas

comunidades não querem seus postos nas suas comunidades? Porque o trabalho da maioria dos

funcionários, dos chefes de postos é criar grupos, e isso tem acontecido no nosso estado do Alagoas.

E a minha maior preocupação é que se mude o pensamento, a forma desse pessoal trabalhar, porque

se pode colocar uma administração em cada cidade que tiver povos indígenas que vai continuar da

mesma forma. Eu ainda gostaria de deixar a proposta, senhor presidente, de disponibilizar recursos

para que a bancada indígena pudesse trazer as suas lideranças para que se possa discutir melhor essa

proposta de reestruturação da Funai", concluiu. O próximo a fazer uso da palavra, Antonio

Potiguara, disse que gostaria de fazer algumas observações, por conta da apresentação do

presidente, apesar de que se sentia praticamente contemplado, quanto à administração regional ser

no Recife, que já teve experiência muito grande na época das superintendências, em que existia a

ditadura, quando houve centenas de motivos para que não desse certo, como a seu ver não está

dando certo até hoje, "o que se via era que apenas um dos grupos de povos era quem dominava de

fato, junto com os próprios funcionários da superintendência, na época, e pelo meu ver ver a

administração proposta hoje parece ser mais um superintendência regional, e que principalmente o

meu povo, Potiguara, e principalmente agora com a distância, que dá quase mil quilômetros para

chegar nos povos do Ceará, para se ter essa organização de fato de acordo com essa distribuição

geográfica. Eu trago também um exemplo muito forte, como os senhores também saberão disso, da

administração de João Pessoa, onde se tem uma administração participativa, quem comanda todos

os recursos é o grupo de gestão, e aí é distribuído para todas as 26 aldeias, há uma aproximação

muito boa, uma discussão muito boa com os próprios funcionários da administração. A minha

preocupação é com o seguinte: a administração de João Pessoa continua ou sai? Uma outra coisa

que também me pediram para ver com o senhor, é quanto à administração do Ceará, parece-me que

existem 12 povos indígenas reconhecidos no Ceará e apenas um núcleo, que felizmente não foi

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extinto. Então principalmente os caciques me pediram para fazer mais essa reivindicação, para que

Fortaleza fosse contemplada com essa administração. Outra coisa que eu gostaria de saber é: se vai

aumentar os postos, como vai ficar a questão do concurso público, já que vai se precisar de mais

funcionários? Era somente isso", afirmou concluindo.

A próxima a se manifestar foi Glicéria Tupinambá, da região Nordeste/Leste, a qual

fez a seguinte fala: "Eu queria colocar a questão da região do sul da Bahia, dos núcleos que

atendem: Tamaraju e Cailhéus, queria saber como vai ficar. Outra coisa, uma preocupação minha,

se nos orçamentos está previsto, que ocorreu outro dia um fato preocupante, na aldeia de Olivença,

comunidade Sapucaieira, onde fica a escola indígena Tupinambá de Olivença, tínhamos ido para a

aldeia e ficamos sabendo que havia um índio assassinado junto da escola, a pauladas, machadadas, a

3 dias seu corpo estendido, perto da escola, com um monte de crianças estudando e ele lá e nem a

Funasa queria ir lá fazer o levantamento do corpo, nem a Funai tinha carro ou combustível para tirar

ele de lá. Tiramos do nosso bolso, locamos o carro, abastecemos e fomos procurar a polícia para

buscar o corpo e até hoje não foi dado procedimento, já tem mais de 10 parentes mortos,

assassinados nessa aldeia e nada foi feito. Hoje, na aldeia Tupinambá de Serra do Padeiro, está

ocorrendo um monte de delitos, desmatamento, por invasores, vivemos, tradicionalmente, e até hoje

não saiu a demarcação na nossa terras, a Funai atende a gente muito mal, e o Incra está fazendo

assentamento dentro de nosso território, em terra reivindicada por nós, criando assentamentos e

Funai não toma posição. Na questão da saúde, desde 2004, os recursos caem no município e o

prefeito não repassa... e quero entregar documento para o presidente da Funai que é um relatório

falando sobre Educação e Saúde e que essa nova gestão tenha um maior acompanhamento do que

está acontecendo nas nossas aldeias, e acompanhe junto à Funasa os recursos, trabalhe junto com a

comunidade". A seguir foi convidado a falar Luiz Titiar, que disse que gostaria de falar sobre a

preocupação sobre a estrutura da Funai, afirmando que é preocupante pensar quem vai levar isso

para as bases, se os técnicos ou os representantes do movimento indígena, que vão ter dificuldade

para explicar para os caciques, lideranças, patrícios o que foi apresentado. Sua maior preocupação,

afirmou, é com relação aos comentários na Funai, pessoas preocupadas em perder seus cargos, o

que já estaria atingindo as bases, e que para os índios que representam a CNPI fica difícil, acusados

de estarem querendo acabar e mudar a Funai. Assim, gostaria que se discutisse mais, colhesse

proposta das comunidades indígenas, peça principal. Novamente, afirmou que causa preocupação o

fato de que diz se tratar de proposta, mas que alguns compromissos já foram assinados, por

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exemplo na questão de Pataxó e Tupinambá, assinou ata na negociação que não ia mudar a

administração, então "é questão forte que vamos ter que levar para a região". A reestruturação da

Funai preocupa a questão da fiscalização dos territórios, por exemplo a questão dos Pataxó Hã Hã

Hãe, sugerindo que mapeasse compromisso com os povos indígenas. "E eu não quero que o senhor

compre essa agenda, não faça igual ao outro presidente que passou, até saindo na mídia sobre tantas

viagens que ele fazia aos interiores em conferências nacionais e ainda levando recado para

prejudicar as comunidades indígenas, dizendo que tinha muita terra para pouco índio, isso nunca sai

da minha mente e nem das comunidades indígenas. E o senhor fazendo a mapeação, o senhor divide

por região, tira aí uns três ou quatro dias para ficar no Nordeste e assim por diante, para visitar e dar

o recado, fazer o compromisso na base, que isso vai ajudar a gente que está aqui na CNPI. Com

relação às AERs, eu vejo assim que muitas não estão precisando mudar, elas estão precisando de

estruturar o funcionamento dela na região, aquelas denúncias que os índios sempre vêm e fazem na

Funai, todas as semanas, meses, já é rotina. E a minha preocupação e gostaria que me explicasse

com mais detalhes, quando fala que vai criar as AERs regionais. Eu tenho a preocupação que o

outro presidente, Mércio, criou política que era para evitar a presença das lideranças indígenas aqui

em Brasília, até que tumultuou tanto dentro da Casa do Índio que eu vi parente derramando sangue

do outro. Eu queria uma explicação maior porque o que entendi que se criar a AER regional evita a

gente vir até Brasília que é a sede maior. Então esse é o nosso recado e essa é uma visão minha que

eu queria um esclarecimento. E a pergunta que eu faço, senhor presidente: a Funai vai bancar as

passagens para os índios irem para a Assembléia Potiguara? A outra pergunta que eu queria fazer

diante da plenária é se tem condições, nas ações do governo, criar um artigo, junto com os

ministérios, para ajudar as AERs, nossos trabalhos de base, aos membros indígenas fazer seu

trabalho de base, prestando conta das outras 4 reuniões que teve da CNPI, e contribuir com recursos

financeiros, porque a gente, o nosso trabalho na maioria aqui é voluntário na base, tem aldeia que

nem ônibus vai, temos que andar a pé, tem essa demanda toda. E nós estamos sendo cobrados e

precisamos fazer uma articulação de base; e eu vim de uma reunião agora que surgiu essa pergunta:

será que a CNPI não pode ajudar vocês nesse trabalho de base, até para o fortalecimento da CNPI e

o programa de projeto de política do governo? Porque nós aqui queremos saber dessa realidade,

passo a passo do que está acontecendo, então essas são minhas preocupações e desde já nos Pataxó

Tupinambá queremos que o senhor vá nos visitar e fazer o nosso compromisso lá na nossa região".

Antes de concluir, Luiz Titiah propôs ainda que na próxima reunião se aumentasse um dia de

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reunião de trabalho e que se cumprisse os horários, principalmente a bancada do governo, uma vez

que a seu ver quando se chega no final da reunião o plenário já está vazio. A próxima inscrita,

Pierlângela Wapichana dirigiu-se aos presentes com as seguintes palavras: "Como o tempo está

avançado, a nossa preocupação como indígena é não passar tudo de uma vez só, e a gente

encaminhando, encaminhando... Acho que devemos ter um encaminhamento mais objetivo e como

o assunto não se esgota aqui, até porque tem muitas coisas aqui que para poder explicar para as

bases tem que ser uma questão de mais tempo, para a gente estar explicando o geral de como vai ser

a Funai a partir de agora, porque tem algumas questões que mudam. A preocupação aqui – lá em

Roraima vai ficar como está – e, pelo o que foi explicado, a gente tem uma preocupação muito

grande com quem está fazendo o trabalho lá, porque a valorização das pessoas começa de cima para

baixo, quem está lá na ponta trabalhando com os indígenas é quem recebe menos e mais trabalha. A

preocupação é que essas pessoas que estão lá trabalham diretamente, vão para o enfrentamento e

são as que menos tem valorização; não sei se no plano de cargos e salários isso está contemplado, e

a gente se preocupa com essa questão, porque às vezes o funcionário não ganha bem e acontece

aquela coisa: ele vai lá com fazendeiro, com madeireiro e ganha um pouquinho mais e aí o negócio

vai para outro lado. É igual a policial, a Funai nas regionais tem a mesma questão, o mesmo

problema que a polícia – se não há valorização há cooptação. Não estou dizendo que em todos os

casos, mas sabemos que acontece, e às vezes é por isso, o profissional não é valorizado e são eles

todos os dias que enfrentam a barra junto com os índios. Isso é um pouco do que eu queria colocar,

e dizer que isso vai ser discutido um pouco mais nas próximas reuniões e até os encaminhamentos,

porque não sou eu que vai dizer 'isso se está bom ou não está', vou levar para o pessoal e eles vão

dizer, na próxima reunião eu vou trazer a resposta deles. Eu quero perguntar também como ficou a

questão da Coordenação das Mulheres dentro desta nova estrutura, porque é uma coordenação que

foi criada recentemente, e não sei onde ficou esta ação, é um preocupação nossa, principalmente

porque estamos entrando na questão das mulheres – gênero, infância e juventude, e essa articulação.

Então, onde ficaram essas ações, das mulheres, dos jovens, que está na CGE, preocupa muito

porque a questão das mulheres é um trabalho bem específico, à parte e importante, estamos

começando este trabalho, e inclusive já informando sobre o encontro que vai acontecer de 19 a 22

de novembro em Cuiabá, realizado pela subcomissão, junto com apoio das instituições, está

realizando este primeiro encontro, de jovens e mulheres, nacional, é pequeno, mas estamos

começando este trabalho via CNPI, dando continuidade ao trabalho que a Funai já está fazendo e

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queremos dar continuidade". A título de esclarecimento, o presidente informou que a ação das

mulheres vai ficar dentro da Proteção Social dos Povos Indígenas, vai continuar na PPA. Enquanto

estrutura, informou que estão mantendo a ação e as atividades das mulheres dentro da Diretoria de

Proteção Social. Retomando a palavra, Pierlângela afirmou que outra coisa que gostaria de

perguntar seria quanto a como está a situação da desintrusão das últimas pessoas de Raposa Serra

do Sol, destacando que os preocupa muito o clima na região, que é muito tenso, estão realizando

encontros nas regiões, havendo os indígenas que estão lá defendendo, relatando ainda que

assinaram a carta compromisso. "O nosso compromisso nós estamos fazendo, agora eu quero saber

do governo federal, mesmo porque está circulando pelo jornal, e aí remeto ao Ministério da Defesa,

saiu veiculado no jornal, que não está acontecendo – e nós sabemos que a equipe da Funai está toda

lá, porque acompanhamos de perto, as reuniões também – então nossa preocupação e que essa

desintrusão não saia, e novos conflitos venham a acontecer. Assinamos carta-compromisso com o

governo federal e nossa parte estamos cumprindo, apesar de algumas lideranças contrárias, e as

notícias que estão saindo é que não há entendimento entre os ministérios para que essa operação

aconteça, então eu gostaria de ter um posicionamento", finalizou. O presidente pediu então a

palavra para dar um esclarecimento sobre esse ponto, apesar de fugir um pouco do assunto, mas

considerando ser importante. Nesse sentido, informou que existe decisão do Presidente da

República e do governo de fazer a desintrusão, que será feita, mas destacando "nós não podemos,

inclusive aqui na CNPI, falar dos detalhes da desintrusão, por questão até de sigilo desse tipo de

atividade, como outras que estamos fazendo também, mas só para informar, essa desintrusão será

feita, é uma decisão do Presidente para ser cumprida, e com o compromisso assumido junto às

organizações de Roraima", informou o presidente Márcio. Jecinaldo Cabral iniciou afirmando que

primeiro gostaria de parabenizar, considerando importante que um presidente da Funai tome a

frente na discussão de reestruturação, algo para o que é preciso ter coragem, mas também

responsabilidade, pois não é questão tão simples. "Um dia, o pessoal falando que, no governo

existia, dentro da questão social, três grandes problemas para o governo, que é a Funai, Incra e

Ibama. Mas então, ao mesmo tempo em que parabenizo, isso remete para a gente não trabalhe de

forma apressada e principalmente porque essa mudança apresentada confunde muito as nossas

comunidades, se não passar como o senhor está passando aqui, discutindo, se não fizermos isso

vamos cometer erros e nós não vamos avançar na reestruturação. Outra coisa: algumas pessoas,

dentro da Funai, acham que só eles são sabidos, só eles sabem fazer a reestruturação e dizem que

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for trabalhar com as comunidades isso vai inviabilizar a reestruturação e essas coisas tem que evitar.

Eu fiquei contente quando soube de reestruturação, mas fiquei triste por estar sendo discutido de

portas fechadas, mas agora, volto a dizer, é importante que tenha vindo para a CNPI. Então eu

queria fazer as seguintes proposições de encaminhamento: qualquer decisão a respeito da

reestruturação, eu penso que deve ter o aval da CNPI; outro, é muito importante que alguém da

CNPI acompanhe um pouco essas reuniões dentro da própria Funai ou desta avaliação; e outra, a

reposta tem que ser avaliada profundamente, não emperrar o processo e também não se aprovando

de qualquer jeito. Então eu tenho duas propostas: a primeira proposta é que, como são doze regiões

e doze administrações regionais, que a gente faça uma reunião em cada uma dessas administrações

regionais, para conversar com as organizações, com as lideranças tradicionais, para também se ter a

oportunidade de passar para eles, de colher com eles e poder consensuar isso, o que daria um

suporte muito grande, tanto para a Funai quanto tranqüilizaria também as bases. Então proponho

doze seminários, não assembléias, para que tenhamos subsídios para essa questão. E a outra

proposta é que a gente venha para uma discussão específica sobre reestruturação, numa próxima

reunião, com mais subsídios, e que isso seja contemplado numa avaliação de um ano após sobe a

reestruturação, para que se tenha tempo para avaliar o que está dando certo e não está. Isso seria a

minha proposição e minha pergunta mais específica seria com relação ao Amazonas, um estado

grande do jeito que é, Barcelos e Lábrea, principalmente esse último, eram chamados núcleos, e

não consegui entender como é que fica a situação deles, no rio Negro e Purús". O último inscrito a

falar foi Ak'jabor Kayapó, solicitando ao presidente que faça uma visita a sua área, lembrando que

quando da sua posse ele foi recebido na aldeia Kokraimoro, foi no Núcleo de Apoio de Tucumã, e

como conversaram a respeito disso, as lideranças querem ouvir dele diretamente, pressionando-o,

ao que explicou que não poderia ser naquele momento, pois estavam esperando reestruturação da

Funai, que o compromisso era que quando saísse a reestruturação o núcleo de apoio seria a ADR, e

está sendo cobrado pelo compromisso, mas segurou as lideranças lá e por isso não chegaram a

Brasília ainda. Além disso, disse terem preocupação com rio Vermelho, Moicaracô, entre outras

áreas, que não foram reconhecidas pela Funai, não têm posto certo e esse pessoal também está

cobrando, ao que tem explicado que vai ser criada a aldeia, só teriam que esperar a reestruturação.

Quer saber ainda que dia vai sair o concurso público, perguntando se seus parentes poderiam

participar também, que como os outros parentes fica preocupado com as bases, vão levar as

informações para discutir lá. Por isso reforçava o pedido para que fosse à aldeia explicar tudo, o

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mais rápido possível, explicando que já pensou até em entregar o cargo, já está cansado de viagens

e problemas e se continuar assim vai até sair da Comissão, pois já vem sofrendo muito com tantas

cobranças e responsabilidades. Então essa é a pergunta, que fale que dia vai ser a reunião na aldeia

Moicaracô, que desde a primeira reunião está pedindo que vá lá, mas até hoje estão aguardando sem

resposta, agradece por ter mostrado a reestruturação, para discutir na base e acabar com todas as

fofocas sobre esse assunto.

Tendo-se chegado ao fim dos comentários, o presidente informou que, antes de

passar às respostas, era preciso lembrar que convidaram a representante da ministra Matilde

Ribeiro, que acompanhara a reunião desde o início, e gostaria que ela pudesse fazer uma saudação

aos presentes. A propósito, informou ainda que, a pedido da ministra, dali em diante a Secretaria

Especial estaria participando da Comissão no papel de convidada, tendo em vista o interesse do

ministério em acompanhar e apoiar a Comissão, em seguida passando a palavra para a representante

da Seppir. Ivonete Carvalho afirmou primeiramente que – como militante, antes de iniciar sua

atuação no governo, onde ingressou recentemente – os dias de reunião foram uma grande aula,

porque a militância, a caminhada lhes traz experiência com comunidades quilombola no Rio Grande

do Sul, um dos motivos pelos quais estão desenvolvendo política prioritária dentro da Secretaria, o

eixo Quilombos, que é um dos focos centrais da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da

Igualdade Racial, ressaltando que a Secretaria não está descompromissada com as demais

comunidades tradicionais. Então, prosseguiu, gostaria de deixar saudação a respeito da importância

de poderem participar das reuniões e vivenciar, com a bancada indígena, a pluralidade, garra e ter a

dimensão da importância da Comissão. Saudou o presidente Márcio pela gentileza de os ter

convidado, explicando que a ministra só não esteve acompanhando a agenda por conta de uma

solicitação do Presidente, que naquele dia lançou a Agenda Social para a Criança e o Adolescente,

envolvendo uma série de agendas, mas registrando a saudação da ministra a todos os membros da

Comissão; registrou a presença também de Danilo, que trabalha na Sub-secretaria de Comunidades

Tradicionais. Ivonete disse que gostaria de registrar, ainda, a importância de terem na mesa duas

grandes guerreiras que, além de serem aliadas dos povos indígenas, também são aliadas do povo

quilombola, a Dra. Deborah Duprat e Dra. Alda Carvalho, afirmando que não é diferente, pois

participando da reunião sentiu-se em uma reunião dos quilombolas e percebeu que os problemas as

dificuldades são semelhantes. Destacando ainda que a máquina chamada Estado, governo, nunca foi

pensada para a diversidade que caracteriza a população brasileira, para assimilar as demandas das

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populações indígenas, ciganos, quilombolas, negros e negras urbanos, pescadores e todos os outros

povos tradicionais. Portanto, prosseguiu, vê como um grande avanço a existência de uma comissão

como essa, assim como ver a forma como Márcio, na qualidade de presidente da Funai e da

Comissão, conduz os trabalhos, com muita humildade, solidariedade, ouvindo e submetendo as

questões à representação indígena, a seu ver já dá um exemplo de como de fato está havendo uma

grande mudança na estrutura da Funai, o que representa um momento histórico. A representante da

Seppir registrou ainda o brilhantismo das mulheres indígenas na Comissão, que embora poucas em

termos numéricos são grandes em termos de qualidade, intervenção, qualificação. Afirmou ainda

sua imensa satisfação de ter participado durante os dois dias de reunião, que a pedido da ministra

informava que no planejamento 2008 - 2011 também contemplaria políticas para comunidades

indígenas e que seria discutido na Comissão, afirmando que estaria sugerindo isso e levando todos

os encaminhamentos da CNPI para que em reuniões futuras possam ter um momento para

apresentar proposta de planejamento, que políticas a Seppir tem e discuti-las com os membros da

Comissão. Informou que deixaram cópia do Relatório de Gestão da Secretaria 2003 - 2004, e que

por sua estrutura avaliam que avançaram, mas precisam caminhar muito mais, ressaltando que a

responsabilidade, no governo Lula, de gerenciar a política indigenista, está com a Funai e a Seppir é

parceira, acha que o órgão precisa ser fortalecido, reestruturado, mas consultando-se e dialogando-

se com as bases indígenas, e de fato é o órgão legítimo para fazer a interlocução e articulação da

política no âmbito do governo, os demais ministérios tendo de atuar como parceiros nessa

caminhada. Entendem que a Funai, por ser um órgão articulador das políticas, tem muitos desafios

pela frente, um processo de convencimento, o que não é fácil de fazer numa estrutura que nunca

pensou em incluir os diferentes, e portanto se trata de um processo no qual há toda uma caminhada

pela frente, dispondo-se de todos os elementos para tal. Para finalizar, disse que gostaria de dar

ênfase à importância de que a Comissão indique um representante indígena para fazer parte do

Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, o qual tem representatividade de todos os

povos historicamente discriminados no país, está sendo cada vez estruturado, tem voz e voto e

portanto é importante que tenham assento, que levem em consideração a cadeira que o Conselho

está disponibilizando. Despedindo-se, desejou axé para todas e força em sua luta.

O presidente agradeceu pelas palavras da representante da Seppir, afirmando que

esta deve se sentir à vontade para participar na Comissão, assim como a ministra Matilde,

ressaltando que serão sempre muito bem recebidas. A seguir, Pierlângela pediu espaço para fazer

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um convite à Secretaria, por parte da subcomissão de Gênero, Infância e Juventude, no âmbito da

qual estão tentando articular participações e estreitar a ligação com outros órgãos, e, oportunamente,

aproveitava para estender o convite para que a Seppir participe do encontro de jovens e mulheres

indígenas que estará sendo realizado em Cuiabá. Ressaltando a importância de estreitar a relação

com este órgão, informou que Léia Vale, que integra a Secretaria Executiva da CNPI, está na

organização do evento, por ser a coordenadora institucional da ação de mulheres indígenas na

Funai, convidando Ivonete a participar da organização e do debate no decorrer do Encontro, e

depois, nesse estreitamento de relação no que se refere aos temas abordados pela subcomissão.

O presidente a seguir disse que tentaria responder aos questionamentos da bancada

indígena, iniciando pelo que havia sido dito por Ak'jabor Kayapó, a respeito do que afirmou que

assumia com ele o compromisso de que, antes da próxima reunião da Comissão, fariam reunião em

sua aldeia, para conversar com os caciques sobre a proposta de reestruturação, que julgava

importante, independente da proposta de Jecinaldo, que seja feita reunião específica, por se tratar de

"especificidade dentro da especificidade", para que possam explicar melhor. "É disso que a

companheira Ivonete está falando", afirmou o presidente, "essa reestruturação é um movimento que

nós estamos fazendo no sentido de mudança nessa máquina que é o Estado brasileiro, que não foi

feita para trabalhar para os povos indígenas, foi feita para os brancos, como disse Lembo, o Estado

brasileiro foi feito para a elite branca, não para negros, indígenas etc. Então a reestruturação está

nesse contexto, e por isso é tão difícil fazer essa mudança. Então, Ak'jabor, primeiro é preciso

esclarecer que, como falei com os caciques Kayapó, nós não vamos acabar com a administração de

Redenção, que era a preocupação deles; não vamos acabar com a de Altamira, Colíder, essas

administrações vão continuar, queremos melhorar e reforçá-las, mas faço questão de poder ir lá e

explicar isso, esclarecer melhor. A proposta que eu trouxe hoje foi debatida dentro da Funai ao

longo desses últimos meses, foi discutida com o Ministério do Planejamento, para poder trazer para

a Comissão e para o corpo institucional da Funai na semana que vem, justamente para promover

esse debate. Eu concordo com o Jecinaldo, a nossa idéia é justamente essa, trouxemos para a

Comissão justamente com essa intenção, e eu aceito, acato a proposta, que era exatamente o que

tínhamos pensado, no sentido de que a CNPI seja uma instância de aprovação dessa reestruturação,

porque isso dá legitimidade inclusive para que a Funai realize, junto com o Ministério do

Planejamento, essa reestruturação. Eu só solicito que se faça essa aprovação o mais rápido possível,

ou na próxima reunião ou na primeira reunião da CNPI no ano que vem, no máximo, porque senão

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perdemos o tempo necessário para o início dos trabalhos, com o PPA que já está aí novo, ano que

vem etc. Então concordo com isso e concordo também que a própria Comissão, talvez uma das

subcomissões, possa acompanhar de perto na Funai os debates sobre a reestruturação; e aceito

também a proposta de que se faça uma reunião para cada uma dessas 12 áreas geográficas, para que

se possa fazer essa explicação. E gostaria de propor inclusive que a assembléia para a qual o

Caboquinho está convidando, que vai acontecer justamente em uma das regiões, que a gente possa

aproveitar para que seja uma primeira explicação. Para isso temos que construir essa agenda, no que

resta do mês de outubro, até o final do ano, porque não é uma agenda fácil, tem que se fazer a

reestruturação, mas ao mesmo tempo há todas as atividades normais da Funai, as reuniões todas,

não é agenda fácil, mas concordo que nós temos que fazer essas reuniões. E quero dizer que vocês

voltem para as bases com a tranqüilidade de dizer claramente que a apresentação feita pelo

presidente da Funai, na reunião da CNPI, foi planejada no sentido de que fosse apresentada hoje,

para iniciar um processo de discussão nas bases com vocês, na perspectiva inclusive, com os

instrumentos que apresentamos para vocês levarem do PPA, orçamento, das medidas e diretrizes

políticas que estamos orientando, para que possamos fazer uma mudança na estrutura da Funai que

seja realmente eficaz e responda aos interesses dos povos indígenas. Certamente nós vamos com

isso ter um resultado muito mais forte do ponto de vista da aprovação dessa reestruturação, de

legitimação dela, e ao mesmo tempo com a co-responsabilidade, que recai não só sobre o governo,

mas também todas as comunidades e lideranças indígenas, porque vamos ter uma reestruturação que

será um passo importante de uma mudança, evolução no conceito, concepção de uma política

indigenista de respeito para com os movimentos e organizações indígenas do Brasil. Então é essa a

mensagem que eu queria colocar, e nesse sentido, acato a proposta que entendo como consenso da

bancada indígena, além das questões pontuais que foram levantadas, que vai haver tempo para fazer

os esclarecimentos, que é a proposta de Jecinaldo. Então, não sei até se há quorum nesse momento

da reunião para se aprovar essa proposta, quero dizer que, diante dos membros que ainda estão

presentes, como presidente da Comissão e como presidente da Funai, acato a realização, daqui para

a frente, desses procedimentos de escuta. E precisamos então combinar – vou pedir para o meu

Gabinete para, junto com as administrações regionais, organizar essas visitas e reuniões para se

fazer o debate, inclusive essa reunião na aldeia do Ak'jabor. Esclarecendo pergunta que foi feita

fora do microfone, explicou que, quando se for fazer a reunião nas regiões, os membros da CNPI

em cada uma das regiões coordenará junto com a Funai o debate, a discussão, como representante

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da Comissão, para poder respaldá-la e fazer discussão aprofundada sobre o tema. É claro, só

fazendo um parênteses, foi comentado em várias falas, que existem funcionários da Funai que

muitas vezes fazem comentários, afirmando opiniões acerca da reestruturação. E quero dizer para

vocês o seguinte: é absolutamente legítimo, livre a opinião dos funcionários a respeito da

reestruturação, isso faz parte da nossa liberdade de expressão garantida constitucionalmente. Agora,

o que quero combinar com os membros da Comissão é que a posição oficial sobre reestruturação da

Funai é esta que foi apresentada hoje por mim, pela nossa equipe, que é fruto de uma discussão de

governo. E daqui para frente teremos esses debates, com a posição oficial que foi apresentada aqui

hoje; para isso estaremos realizando, semana que vem, reunião com mais de 200 funcionários, de

todas as regiões do Brasil, para explicar para os funcionários qual é a posição oficial da direção da

Funai, do governo sobre a reestruturação, inclusive o encaminhamentos de discussão e debate nas

regiões. Este é o esclarecimento que eu gostaria de dar para os membros da discussão", concluiu o

presidente. Com relação a um comentário feito por Caboquinho fora do microfone, e portanto

inaudível, o presidente esclareceu que, quanto às administrações regionais, esse é um debate que

será aprofundado nas regiões; quanto a outros encaminhamentos anteriores, considera como

aprovados. Quanto à definição de nomes, entendeu pelos encaminhamentos discutidos e aprovados,

que a Comissão indicará os nomes que combinaram, sendo que no caso da conferência de saúde

devem ser escolhidos 4 nomes ainda neste dia, pela bancada indígena; os outros nomes, que não

têm exigência de serem escolhidos nesse mesmo dia, considera que a bancada indígena pode

escolher e enviar para a Funai – os 5 nomes para o GEF indígena, um de cada região, para o

Conselho da Seppir, que são dois, somente isso, pois para o detalhamento do PAC e Agenda Social

ficou remetido para as subcomissões. Com relação à Conferência Nacional de Saúde,

Edgard/Funasa, explicou que estão tratando de 4 convidados, porque os delegados estão sendo

eleitos paritariamente, 50% de usuários, que tem vagas para indígenas, nos sindicatos e entre os

prestadores de serviços, em que também entram os que forem eleitos nessas instâncias, no caso da

CNPI devendo ser eleitos 4 representantes, sobre os quais afirmou não saber se deveria

obrigatoriamente ser observada a paridade, uma vez que já foi respeitada na escolha dos delegados.

Luiz Titiar , a seguir, pediu para que na Conferência de Saúde não aconteça o que houve na

anterior, podando-se as lideranças que participaram nas regionais, por terem feito cobranças aos

chefes de DSEIs que poderiam chegar à mídia. Edgard explicou que, assim como a anterior, a

presente conferência estava sendo organizada pelo Conselho Nacional de Saúde, com 6 mil pessoas

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participando, para a qual todos foram cadastrados como delegados. O presidente a seguir propôs

que se desse encaminhamento à escolha dos 4 representantes, mas Titiar antes pediu para se

registrar que as lideranças Pataxó Hã Hã Hãe encontravam-se na cidade, com um documento, que

contava com a assinatura dos membros indígenas da CNPI, em repúdio ao PAC, tendo em vista a

proposta de construção de uma barragem que segundo informou atravessaria a terra indígena,

inundando mais de 100 hectares de terra Pataxó. Pediu que fosse registrada a entrega do documento,

ao presidente e Ministério Público, informando ainda que naquele momento estava acontecendo

discussão no estado, o que é preocupante para esse povo. A Dra. Deborah Duprat neste ponto

disse que havia se levantado a questão sobre Paranatinga, perguntando se haveria alguém para

provocar a questão, informar e cobrar uma posição do presidente da Funai, quando então Francisca

Pareci afirmou que poderia falar sobre a questão, já que tem acompanhado a discussão, ao que a

Dra. Deborah perguntou como está a obra, se já acabou, com Francisca respondendo que já está

bastante adiantada, apesar das tentativas de impedir sua construção; que estão tendo muitas

dificuldades em razão de o governador ser um grande aliado do Presidente Lula, aliança que causou

problemas, afirmando ainda “quando eu coloco os problemas do estado do Mato Grosso é porque o

próprio governo lá está inviabilizando qualquer mobilização nossa; põe a própria bancada da

Câmara e do Senado a favor da questões, tornando difícil a discussão na CNPI”. A Dra. Deborah

explicou então que haviam lhe pedido informações sobre a situação, informando que juridicamente

o MP obteve vitória em Mato Grosso, primeiro uma liminar, depois ganhou a ação e aí entraram

com agravo no tribunal em Brasília, obtendo efeito suspensivo, diante do que o MP entrou com

recurso contra a decisão, o qual ainda não foi julgado. A propósito, a Dra. disse que gostaria de

tratar de um componente administrativo, afirmando que à época que Mércio era presidente houve

uma reunião na Funai em que ficou decidido um ajuste entre Funai e Ibama, segundo o qual este

último assumiria que seria o órgão a licenciar o empreendimento, os estudos não eram válidos e a

Funai iria apresentar um termo de referência; portanto estava tudo nulo e nem a ação judicial faria

sentido. Diante disso, solicitou ao presidente que informe em que pé está essa questão atualmente,

se o compromisso foi mantido, pois judicialmente estão conseguindo dar continuidade à obra;

Francisca reforçou a proposta e disse que o presidente poderia aproveitar para informar como está a

questão do estudo sobre as bacias hidrográficas, a minuta que pelo que entendeu está vindo da

Funai. O presidente afirmou que já dera informação sobre isso durante a reunião e que a minuta

que chegou à reunião não chegou formalmente na Funai, tendo inclusive ficado mal compreendido,

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devido ao fato de que há uma equipe no órgão se reunindo para discutir o estabelecimento de

procedimentos para ingressos em terras indígenas para a realização de estudos, mas não tem nada a

ver com a portaria, trata de qualquer ingresso. Com relação a Paranatinga explicou que, logo que

chegou à Funai, a primeira viagem que fez foi para Kayapó, a segunda para Xavante, onde tomou

conhecimento pela primeira vez da hidrelétrica Paranatinga, quando os próprios índios informaram

que a obra estava pronta, concluída, não havendo condições portanto de questionar a inviabilidade

do empreendimento. A discussão na aldeia girou em torno do fato de que, como a obra estava

pronta, informou Márcio, ao que no fundo a Dra. Déborah e Francisca Pareci falavam paralelamente

a ele, afirmando que este nem sequer sabia da história toda; com o que o presidente concordou,

destacando que a única informação à qual teve acesso sobre o assunto desde que chegou foi aquela

recebida na aldeia Xavante, onde pediram apoio no sentido de que a empresa responsável pela

construção da hidrelétrica viabilizasse indenizações e mitigações devido aos impactos gerados. “De

lá para cá, não tenho conhecimento, mas preciso efetivamente ter, as informações precisam chegar

até mim, e não tenho nenhum conhecimento sobre acordos anteriores e portanto não tenho como

emitir algum juízo sobre o tema”. Pierlângela Wapichana, a seguir, afirmou que, como questão de

encaminhamento, seria necessário levar em conta que a vã que deveria levar a delegação indígena já

estava esperando; que da bancada governamental apenas Suzana, do MEC, e Edgard, da Funasa,

ainda estavam presentes, e não havia sido feito o encaminhamento das subcomissões, da pauta, a

indicação dos nomes a que se referiram antes. Assim, prosseguiu, considerava a situação muito

preocupante, restando muitas questões pendências e portanto sendo preciso encaminhar alguma

coisa. Concordando com Pierlângela, o presidente afirmou que mais uma vez foram prejudicados

pelo tempo, que a pauta da Comissão é muito extensa, seu debate leva tempo, mas que, com relação

aos encaminhamentos das subcomissões, propõe que os documentos elaborados circulem entre os

membros da CNPI para que na próxima reunião dêem encaminhamento, a não ser que haja alguma

questão que deva ser encaminhada antes da reunião seguinte e neste caso as subcomissões deverão

adotar as medidas necessárias desde a presente data. O presidente afirmou ainda que gostaria de

resgatar a proposta de um dos membros, não se lembra se foi Arão, sobre a qual se comprometeu a

conversar com a Secretaria Executiva, para decidir sobre a viabilidade, no sentido de que a última

reunião da Comissão no ano de 2007 tenha duração de 3 dias, o que já adiantou não ser fácil, uma

vez que a bancada governamental tem expediente em Brasília normal, tem agenda pesada no dia-a-

dia e portanto é muito difícil disporem de mais um dia, além dos dois que já dedicam à Comissão.

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Mas se comprometeu a discutir o assunto e tentar viabilizar, para que se possa ter tempo de esgotar

todas as pendências na reunião de dezembro. Nesse sentido, Marcos Xucuru sugeriu que se fizesse a

alternância de titulares e suplentes, os quais poderiam participar na reunião nos momentos em que

os titulares não pudessem estar presentes; o presidente afirmou ser este um ponto que se pode

considerar no debate, afirmando que iria conversar com os representantes governamentais e com a

Secretaria Executiva a fim de ver se a proposta é viável. Como encaminhamento final, a bancada

indígena discutiu os nomes de representantes a participar da Conferência de Saúde; com relação aos

nomes para o GEF Indígena, Jecinaldo sugeriu que fossem mantidos os mesmos nomes que já vêm

acompanhando a discussão ao longo dos últimos anos, e, tendo sido aceita a proposta, entregou uma

relação com os referidos nomes. Diante do avançado da hora e da necessidade por parte de alguns

indígenas de seguirem para o aeroporto a fim de retornarem a suas cidades de origem, a 3ª Reunião

Ordinária da Comissão Nacional de Política Indigenista foi encerrada pelo presidente, que lhes

desejou uma boa viagem, com votos de rever a todos na próxima reunião.

Assim, aproximadamente às 20:30, foi encerrada a 3ª Reunião Ordinária da

Comissão Nacional de Política Indigenista, da qual eu, Karla Bento de Carvalho – Assistente

Técnico da Fundação Nacional do Índio e integrante da Secretaria Executiva da CNPI, lavrei a

presente ata, que segue assinada por mim e por seu presidente.

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