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489 Rev.Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.43, n.73 p.489-542, jan./jun.2006 RELATÓRIO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO - PROCURADORIA REGIONAL DA 3ª REGIÃO - OFÍCIO DE UBERLÂNDIA ajuizou AÇÃO CIVIL PÚBLICA em face de POSNET ASSISTÊNCIA TÉCNICA LTDA., alegando, em síntese, que a reclamada tem contratado trabalhadores para prestarem serviços diretamente ligados à sua atividade-fim, sob o fraudulento título de “prestadores de serviços”, apenas no intuito de não arcar com a responsabilidade pelos direitos trabalhistas decorrentes do pacto empregatício. Aduz que os “contratos de prestação de serviços”, na realidade, possuem o único propósito de causar profundos danos aos trabalhadores, obstruindo a aplicação de normas sociais e convencionais vigentes. Afirma, também, que a terceirização de atividade-fim é vedada pelo atual entendimento jurisprudencial. Declara, ainda, que a conduta ilícita praticada pela reclamada gera danos à própria sociedade, que devem ser ressarcidos. Em conseqüência, postula a condenação da empresa ré em obrigação de não-fazer consistente na abstenção de contratar trabalhadores por empresa interposta, quando os serviços estiverem ligados diretamente à atividade-fim, ou atividade-meio, na hipótese de estarem presentes os requisitos da pessoalidade e subordinação jurídica; determinar que a empresa efetue o imediato registro de todos os seus empregados; fixação de astreintes e dano moral coletivo a ser revertido ao FAT.Atribuiu à causa o valor de R$120.000,00 (cento e vinte mil reais). A reclamada apresentou regular defesa escrita, contestando os pedidos formulados pelo parquet e pugnando, ao final, pela improcedência das pretensões deduzidas. Juntaram-se, no momento oportuno, os documentos. Dispensado o depoimento pessoal das partes. Oitiva de 03 (três) testemunhas, pela reclamada. Requerida, pelo MPT, a antecipação dos efeitos da tutela (f. 215/ 223), deferida parcialmente (f. 224/226). Encerrada, em seguida, a instrução processual. Razões finais orais. Infrutíferas as propostas conciliatórias. É o relatório. FUNDAMENTAÇÃO I. Mérito ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 00967-2005-104-03-00-1 DATA: 08.05.2006 DECISÃO DA 4ª VARA DO TRABALHO DE UBERLÂNDIA - MG Juiz Substituto: Dr. MARCO AURÉLIO MARSIGLIA TREVISO Aos 08 dias do mês de maio do ano de 2006, às 16h30min, na sede da 4ª VARA DO TRABALHO DE UBERLÂNDIA - MG, tendo como titular o MM. Juiz do Trabalho, MARCO AURÉLIO MARSIGLIA TREVISO, realizou-se a audiência de julgamento da ação civil pública movida por MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO - PROCURADORIA REGIONAL DA 3ª REGIÃO - OFÍCIO DE UBERLÂNDIA contra POSNET ASSISTÊNCIA TÉCNICA LTDA., ocasião em que foi proferida a seguinte SENTENÇA: Partes ausentes. Vistos, etc.

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 00967-2005-104-03-00-1 … · sobremaneira, da regra inscrita no artigo 459 da CLT. Por alteridade do contrato de emprego, entende-se que a ... (artigo

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RELATÓRIO

MINISTÉRIO PÚBLICO DOTRABALHO - PROCURADORIAREGIONAL DA 3ª REGIÃO - OFÍCIO DEUBERLÂNDIA ajuizou AÇÃO CIVILPÚBLICA em face de POSNETASSISTÊNCIA TÉCNICA LTDA.,alegando, em síntese, que a reclamadatem contratado trabalhadores paraprestarem serviços diretamente ligadosà sua atividade-fim, sob o fraudulentotítulo de “prestadores de serviços”,apenas no intuito de não arcar com aresponsabilidade pelos direitostrabalhistas decorrentes do pactoempregatício. Aduz que os “contratos deprestação de serviços”, na realidade,possuem o único propósito de causarprofundos danos aos trabalhadores,obstruindo a aplicação de normassociais e convencionais vigentes.Afirma, também, que a terceirização deatividade-fim é vedada pelo atualentendimento jurisprudencial. Declara,ainda, que a conduta ilícita praticadapela reclamada gera danos à própriasociedade, que devem ser ressarcidos.Em conseqüência, postula acondenação da empresa ré emobrigação de não-fazer consistente naabstenção de contratar trabalhadores

por empresa interposta, quando osserviços estiverem ligados diretamenteà atividade-fim, ou atividade-meio, nahipótese de estarem presentes osrequisitos da pessoalidade esubordinação jurídica; determinar que aempresa efetue o imediato registro detodos os seus empregados; fixação deastreintes e dano moral coletivo a serrevertido ao FAT. Atribuiu à causa o valorde R$120.000,00 (cento e vinte milreais).

A reclamada apresentou regulardefesa escrita, contestando os pedidosformulados pelo parquet e pugnando, aofinal, pela improcedência daspretensões deduzidas.

Juntaram-se, no momentooportuno, os documentos. Dispensadoo depoimento pessoal das partes. Oitivade 03 (três) testemunhas, pelareclamada. Requerida, pelo MPT, aantecipação dos efeitos da tutela (f. 215/223), deferida parcialmente (f. 224/226).Encerrada, em seguida, a instruçãoprocessual. Razões finais orais.Infrutíferas as propostas conciliatórias.É o relatório.

FUNDAMENTAÇÃO

I. Mérito

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 00967-2005-104-03-00-1DATA: 08.05.2006DECISÃO DA 4ª VARA DO TRABALHO DE UBERLÂNDIA - MGJuiz Substituto: Dr. MARCO AURÉLIO MARSIGLIA TREVISO

Aos 08 dias do mês de maio do ano de 2006, às 16h30min, na sede da 4ªVARA DO TRABALHO DE UBERLÂNDIA - MG, tendo como titular o MM. Juiz doTrabalho, MARCO AURÉLIO MARSIGLIA TREVISO, realizou-se a audiência dejulgamento da ação civil pública movida por MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO- PROCURADORIA REGIONAL DA 3ª REGIÃO - OFÍCIO DE UBERLÂNDIA contraPOSNET ASSISTÊNCIA TÉCNICA LTDA., ocasião em que foi proferida a seguinteSENTENÇA:

Partes ausentes.Vistos, etc.

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a) Terceirização ilícita -Atividade-fim

Afirma o Ministério Público doTrabalho, na exordial, que instaurouprocedimento administrativo contra aempresa reclamada, em razão dorecebimento de ofício enviado por estaVara do Trabalho que, num casoconcreto, reconheceu a existência devínculo empregatício entre o reclamantee a ré, embora a relação jurídicaestivesse “acobertada” por um contratode prestação de serviços firmado entreas partes litigantes, naquele feito. Aduz,também, que a reclamada tem lançadomão do “herético expediente de seutilizar prestadores de serviços com opropósito único de reduzir custos,precarizando condições de trabalho deseus empregados, ali jando-os dedireitos coletivos duramenteadquiridos”. No caso concreto,assevera, ainda, que a ré está“terceirizando”, por meio destesprestadores de serviços, atividadesdiretamente ligadas ao seu objetivosocial, o que é vedado.

A reclamada, por sua vez, emdefesa, questiona frontalmente osdepoimentos prestados pelastestemunhas ouvidas no procedimentoinvestigatório, notadamente no que dizrespeito às alegações de coação,quando da audiência de instruçãorealizada perante o parquet. Declara,ainda, que não é possível o ajuste determo de conduta, porque a sua condutaestá perfeitamente enquadrada noordenamento jurídico, já que inexistequalquer pacto de natureza trabalhistaentre a ré e os prestadores de serviços.

Pois bem. Embora a empresareclamada questione, pontualmente, osdepoimentos das testemunhas ouvidasem procedimento investigativoinstaurado pelo Ministério Público do

Trabalho, inclusive as afirmações nosentido de que foi determinada aexpedição de ofícios à OAB e aoMinistério Público Federal, entendo,data maxima venia, que tais pontosdevem ser objeto de discussão peranteos outros órgãos judiciários. Sãocondutas que, a serem efetivamentecomprovadas, devem ser prontamenterepelidas, tanto pela sociedade comopelo Poder Judiciário.

No entanto, o que se busca nestaJustiça Especializada é averiguar se aatitude praticada pela empresa ré,consistente na contratação de“prestadores de serviços”, encontra,efetivamente, respaldo jurídico. E, nesteponto, em particular, entendo que arazão está com o parquet trabalhista.

O documento de f. 182/190(contrato social) demonstra que oobjetivo principal da empresa reclamadaé a “prestação de serviços de instalaçãoe manutenção de equipamentos”. Estaé, portanto, a sua atividade-fim, contraa qual é proibida, pelo atualentendimento do TST, a terceirização.

É possível constatar, pelasimples leitura dos contratos deprestação de serviços (documentos def. 103/108), firmados pela empresareclamada, a terceirização de suaatividade principal. A cláusula 2ª doreferido pacto declara que o “presentecontrato tem como objetivo a Prestaçãode Serviços de INSTALADORREPARADOR de terminais eletrônicosde captura de dados - POS E LEITORDE TRILHA”. Dispõe, ainda, a cláusula3ª que “todos os serviços designadoscomo INSTALAÇÕES...”.

Percebe-se, como se vê, pelaanálise dos “contratos de prestação deserviços terceirizados” que as atividadesprestadas pelos contratantes consistemna INSTALAÇÃO de terminaiseletrônicos, ao passo que a empresa ré

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foi constituída, exatamente, parapromover a INSTALAÇÃO destesequipamentos. E não é só, já que oobjetivo social da reclamada estende-se à MANUTENÇÃO de taisequipamentos, cujo conceito engloba,sem sombra de dúvidas, a suaREPARAÇÃO.

No entendimento deste juízo, aleitura atenta das cláusulas contratuaisfirmadas naqueles pactos, em confrontocom o objetivo social da empresa ré, émais do que suficiente para o deslindedo feito. Constata-se, também, aexistência de elementos intrínsecos aoconceito de relação de emprego, taiscomo, a onerosidade, a subordinaçãojurídica e a alteridade do contrato, senãovejamos.

Os serviços prestados peloscontratantes, de acordo com osreferidos contratos, eram pagosmensalmente até o 10º dia útil do mêssubseqüente ao da prestação deserviços, o que se aproxima,sobremaneira, da regra inscrita no artigo459 da CLT. Por alteridade do contratode emprego, entende-se que aprestação de serviços de naturezaempregatícia se dá por conta e riscoalheio, ou seja, o empregador assumetodos os riscos advindos da atividadeeconômica. E, neste ponto, a cláusula5.1 comprova a presença desterequisito. Há, ainda, extensos traços desubordinação jurídica, já que todas asatividades deveriam ser executadas,obrigatoriamente, conformedeterminado nas chamadas “ordens deserviços”, sob pena de imediatarescisão do pacto; a reclamada possuíavasta ingerência nas atividadesexecutadas, seja por contatostelefônicos, seja através de e-mail (videcláusula 3.2 - f. 103). Soma-se, ainda,a existência de decisões judiciaisexaradas nesta cidade, reconhecendo

o vínculo empregatício entre os“prestadores de serviços” e a empresaré.

Entendo, por todas as razõesacima expostas, que a terceirização ematividade-fim está, robustamente,demonstrada. No que diz respeito àsalegações defensivas, no sentido deque a relação civil firmada com osprestadores de serviços estáresguardada pelo ordenamento jurídicopátrio, trago à baila, no intuito de refutá-las, as lições do jurista JOÃO DE LIMATEIXEIRA FILHO, in verbis:

Contratos regidos pela legislaçãocivil, como os de empreitada e ode prestação de serviços lato

sensu, por si só, não secomisturam com o contrato detrabalho nem invadem o campode atuação do Direito doTrabalho, apesar da existência -sob o enfoque tipicamentetrabalhista - de uma terceirapessoa entre quem contrata aprestação de serviços e quem aexecuta. Mas, ao Direito doTrabalho interessa o modo peloqual a obrigação avençada ésatisfeita.Fundamental, destarte, perquirirse o enlace contratual éconsistente na forma e naessência ou se apresentadistorções que, na execução dopactuado, desvendem autênticocontrato de trabalho sob a capade negócio jurídico admitido peloCódigo Civil.[...]Com total propriedade, ArnaldoSüssekind distingue “oscontratos de prestação deserviços e de empreitada,legitimamente ajustados para aexecução de tarefas que não

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correspondem a atividadesnecessariamente ligadas aoempreendimento do contratante,daqueles cujo objetivo é asubstituição de mão-de-obranormal e permanente daempresa, sem a qual não seconcebe o respectivoempreendimento econômico.Outrossim, ainda que oscontratos previstos no CódigoCivil hajam sido celebrados paratarefas estranhas às atividadesnormais da empresa contratante,caberá verificar, em cada caso,se os empregados da firmacontratada trabalham, de fato,subordinados ao poder decomando da referida empresa.Em caso afirmativo, haverá nítidasimulação em fraude à leitrabalhista (artigo 9º da CLT),configurando-se o contrato-realidade de trabalho entre aempresa contratante e ostrabalhadores formalmentevinculados à firma contratada(artigo 422, combinado com osartigos 2º e 3º da CLT).(in Instituições de direito do

trabalho. São Paulo: Ed. LTr,2000, p. 280/281)

E, arremata o ilustre jurista, in

verbis:

Ao Direito do Trabalho importaque a empresa desenvolva comempregados próprios asatividades que explicam suaexistência e lhe dão perenidade.A fraude não está em ser estecontingente de pessoal enxutoem relação ao número deempregados que um dia aempresa já ostentou. A fraude àlegislação do trabalho reside em:

I) seccionar atividades realmenteessenciais da empresa como sefossem acessórias,terceirizando-as; eII) independentemente daatividade desmembrada,superpor a um contrato civil ostraços fáticos definidores daspartes no contrato de trabalho(artigos 2º e 3º da CLT).(op. cit., p. 285)

A conduta praticada pela ré estáenquadrada naquelas rechaçadas poresta Justiça Especializada. A fraude àlegislação trabalhista, através dacontratação de pessoal para realizaratividades diretamente ligadas aoobjetivo principal da empresa reclamadadeve ser prontamente rechaçada peloPoder Judiciário. Este é, inclusive, oentendimento que se extrai da Súmulan. 331 do TST.

E, sendo assim, mantenho econfirmo a decisão antecipatóriadeferida às f. 224/226 para determinarque a empresa reclamada ABSTENHA-SE de contratar trabalhadores porintermédio de pessoa física ou jurídicaou através de contrato de prestação deserviços ou sob qualquer outradenominação jurídica, a não ser porcontrato de emprego, para a execuçãode serviços ligados à atividade deinstalador reparador de terminaiseletrônicos de captura de dados, ouqualquer outra função que se insira emseu objetivo social, bem como serviçosligados às atividades-meio, desde quepresentes os requisitos da subordinaçãoe pessoalidade direta.

Condeno a reclamada, ainda,com fulcro na previsão contida no § 4ºdo artigo 461 do CPC, de aplicaçãosubsidiária ao Processo do Trabalho, aopagamento de multa diária no valor deR$1.000,00 (mil reais) para cada

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trabalhador encontrado em situaçãoirregular, em caso de descumprimentodo comando acima exarado (obrigaçãode não fazer), a contar da data dapublicação desta decisão.

Determino, ainda, que a empresareclamada efetue o imediatoREGISTRO e ANOTAÇÃO da Carteirade Trabalho e Previdência Social detodos os trabalhadores encontrados emsituação irregular, em respeito àdeterminação contida nos artigos 29 e41 da CLT. O descumprimento daobrigação de fazer também acarretaráo pagamento de multa diária fixada emR$1.000,00 (mil reais), para cadatrabalhador encontrado em situaçãoirregular, cujos valores também serãodevidos a contar da data da publicaçãodesta decisão.

Com vistas a se evitar futurosembargos declaratórios sobre o tema,esclareço, desde já, que a fixação deastreintes não se confunde com a multaprevista no artigo 920 do Código Civil(cláusula penal), já que diversas são assuas hipóteses de incidências, como jáesclarecido pelo Eg. TRT da 3ª Região:

ASTREINTES. As astreintes seprestam para garantir a eficáciada sentença, inibindo o devedorde descumpri-la. Nessediapasão, o tratamento legal damulta é diferente das astreintes.A multa é estabelecida pelaspartes, com a limitação do art.920 do CCb, repetida no novotexto do Código Civil, vigente,pelo art. 412, de subsidiáriaaplicação, enquanto que asastreintes são fixadas pelo juiz,daí por que este pode reduzi-lasou aumentá-las, a teor dadisposição do § 6º do art. 461 doCPC.(TRT-AP-482/03 - n. único

02373-1999-079-03-00-0 - 5ª T.- Rel. Juiz Eduardo AugustoLobato - Publ. MG 29.03.03)

Não se há de falar, portanto, emlimitação das astreintes impostas àempresa reclamada, já que inaplicável,nesta seara, a regra inscrita no artigo412 do Código Civil.

b) Dano moral coletivo

Postula o Ministério Público doTrabalho, por fim, a condenação dareclamada no pagamento deindenização por danos morais coletivos,cujos valores deverão ser revertidos aoFAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador.

Razão assiste ao representantedo Ministério Público do Trabalho. Aatitude praticada pela reclamada, aoterceirizar atividades diretamenteligadas ao seu objetivo principal, trouxeenormes prejuízos a todos ostrabalhadores, que se viram alijados dosdireitos trabalhistas assegurados pelalegislação pátria ou normas coletivasregentes. Tal conduta possui o únicointuito de fraudar a aplicação dospreceitos contidos na CLT e disposiçõescoletivas, o que merece, também, serreparado sob o prisma coletivo.

O que foi afetado, neste caso, éo patrimônio valorativo da comunidadede trabalhadores, quais sejam, osverdadeiros empregados da reclamada.A agressão se deu em decorrência daatitude contrária aos preceitos de ordempública contidos na legislaçãotrabalhista, absolutamente injustificáveldo ponto de vista jurídico.

A conduta antijurídica praticadapela reclamada é, no entendimentodeste juízo, incontestável. Da mesmaforma, a ofensa significativa aos direitosindisponíveis dos trabalhadores, o que,sem dúvida, acarretou um dano para a

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coletividade. E, por fim, o nexo decausalidade entre a atitude praticadapela ré e o dano de natureza coletiva éincontroverso.

Estão presentes, como se vê,todos os elementos necessários para acaracterização da responsabilidade,ainda que subjetiva, da empresareclamada. O dano de natureza coletivamerece ser reparado, por meio deindenização. Nos termos dasdisposições contidas nos artigos 948,949 e 953, parágrafo único do nCC,cabe ao juiz analisar a extensão dosdanos e arbitrar os respectivosmontantes, levando-se emconsideração a capacidade econômicade quem paga e de quem recebe, a fimde que se traduza em compensaçãopara o lesado (neste caso, acoletividade) e um desestímulo para olesante (a reclamada).

Arbitro, com base nas referidasnormas legais, a indenização por danosmorais de natureza coletiva emR$5.000,00 (cinco mil reais), uma vezque reputo ser o montante razoável parao presente caso, já que a reclamada,como se percebe pelos seus estatutossociais, possui um pequeno níveleconômico (cláusula 3ª do contratosocial - f. 183).

Determino, ainda, que aindenização por dano moral coletivoseja revertida ao FAT - Fundo deAmparo ao Trabalhador, criado pela Lein. 7.998/90, já que a sua finalidade estáem sintonia com os interesses geraisda classe trabalhadora, uma vez que orespectivo fundo destina-se ao custeiodo programa de seguro-desemprego,pagamento de abono salarial ef inanciamento de programas dedesenvolvimento econômico.

c) Juros e correção monetária

Os juros serão contados a partirda data do ajuizamento da ação (artigo883 da CLT), calculados na base de 1%,pro rata die, incidentes sobre o valor jácorrigido monetariamente (Súmula n.200 do TST). Para o cálculo da correçãomonetária deverá ser observado oíndice do mês subseqüente ao daprestação de serviços, a partir do dia 1º,conforme o disposto na Súmula n. 381do TST. Para o cômputo de juros ecorreção monetária, observar-se-á odisposto na Súmula n. 15 do TRT da 3ªRegião, in verbis:

EXECUÇÃO - DEPÓSITO EMDINHEIRO - ATUALIZAÇÃOMONETÁRIA E JUROS. Aresponsabilidade do executadopela correção monetária e jurosde mora incidentes sobre odébito exeqüendo não cessacom o depósito em dinheiro paragarantia da execução, mas simcom o seu efetivo pagamento.

DISPOSITIVO

Ante o exposto, nos termos dafundamentação supra, o Juízo da 4ªVara do Trabalho de Uberlândia resolvejulgar PROCEDENTES os pedidosformulados na AÇÃO CIVIL PÚBLICAmovida pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DOTRABALHO - PROCURADORIAREGIONAL DA 3ª REGIÃO - OFÍCIO DEUBERLÂNDIA para:

a) determinar que a reclamadaPOSNET ASSISTÊNCIA TÉCNICALTDA. ABSTENHA-SE de contratartrabalhadores por intermédio de pessoafísica ou jurídica ou através de contratode prestação de serviços ou sobqualquer outra denominação jurídica, anão ser por contrato de emprego, paraa execução de serviços ligados à

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atividade de instalador reparador determinais eletrônicos de captura dedados, ou qualquer outra função que seinsira em seu objetivo social, bem comoserviços ligados às atividades-meio,desde que presentes os requisitos dasubordinação e pessoalidade direta;

b) determinar, ainda, que aempresa POSNET ASSISTÊNCIATÉCNICA LTDA. efetue o imediatoREGISTRO e ANOTAÇÃO da Carteirade Trabalho e Previdência Social detodos os trabalhadores encontrados emsituação irregular, em respeito àdeterminação contida nos artigos 29 e41 da CLT;

c) condenar a reclamada, ainda,com fulcro na previsão contida no § 4ºdo artigo 461 do CPC, ao pagamentode multa diária no valor de R$1.000,00(mil reais) para cada trabalhadorencontrado em situação irregular, emcaso de descumprimento de cada umdos comandos acima exarados(obrigação de não fazer e obrigação defazer), a contar da data da publicaçãodesta decisão;

d) condenar a reclamada nopagamento de indenização por danosmorais coletivos, no importe deR$5.000,00 (cinco mil reais), a serrevertido ao FAT - Fundo de Amparo aoTrabalhador.

Os valores serão apurados emregular l iquidação de sentença,respeitando todos os limites eparâmetros estabelecidos nafundamentação, parte integrante destedispositivo.

Os juros serão contados a partirda data do ajuizamento da ação (artigo883 da CLT), calculados na base de 1%,pro rata die, incidentes sobre o valor jácorrigido monetariamente (Súmula n. 200do TST). Para o cálculo da correçãomonetária deverá ser observado o índicedo mês subseqüente ao da prestação deserviços, a partir do dia 1º, conforme odisposto na Súmula n. 381 do TST. Parao cômputo de juros e correção monetária,observar-se-á o disposto na Súmula n.15 do TRT da 3ª Região.

Tendo em vista a natureza dasparcelas deferidas nesta decisão, nãose há de falar em recolhimentos denatureza fiscal ou previdenciária.

Atentem as partes para a previsãocontida nos artigos 17, 18 e 538, parágrafoúnico do CPC, não cabendo embargosde declaração para rever fatos, provas ea própria decisão ou, simplesmente,contestar o que foi decidido.

Custas pela reclamada noimporte de 2% (dois por cento),calculadas sobre o valor da condenação,ora arbitrado em R$5.000,00 (cinco milreais). As partes deverão ser intimadasdesta decisão, sendo que a intimação aoMPT será pessoal. Nada mais.

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 00151-2006-085-03-00-5DATA: 22.05.2006DECISÃO DA VARA DO TRABALHO DE DIAMANTINA - MGJuiz Presidente: Dr. VALMIR INÁCIO VIEIRA

Aos vinte e dois dias do mês de maio do ano de 2006, às 15h31min, nasede da MM. Vara do Trabalho de DIAMANTINA - MG, tendo como titular o MM.Juiz do Trabalho, Dr. VALMIR INÁCIO VIEIRA, realizou-se audiência de julgamentoda ação ajuizada por VICENTE DE PAULO SOUZA LIMA em face de SÔNIA

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I - RELATÓRIO

VICENTE DE PAULO SOUZALIMA ajuíza ação indenizatória em facede SÔNIA CRISTINA CORDEIRO DEOLIVEIRA, ambos qualificados nosautos. Sustenta, em síntese, que: foiadmitido pela ré em 02.01.2004 nafunção de motorista, embora tenhainiciado o trabalho a título de experiênciaem 13.11.2003, recebendo comoderradeiro salário a importância deR$543,52; no dia 24.09.2004 foi vítimade acidente do trabalho; na referida datacumpriu a rotina diária de conduzir oaçougueiro da empresa, no veículo daré, para a fazenda Santa Maria, situadano município de Água Boa - MG; já nareferida fazenda, ao auxiliar oaçougueiro no abate de um boi, comoera de costume, laçando o animal eamarrando o laço num tronco, teve odedo preso entre a referida corda e otronco, com o esmagamento do mesmoe conseqüente amputação; o abate degado na região não é realizado em localapropriado, ou seja, matadouro público,o que colocou em risco sua integridadefísica, em flagrante culpa da ré; foisocorrido, na ocasião, no hospital deÁgua Boa, tendo sido levado peloaçougueiro que o acompanhava, sendoque, passados 11 dias, teve o referidodedo amputado; após o acidente dotrabalho teve sua capacidade para otrabalho reduzida, dificuldades nasatividades, além de se sentirenvergonhado de exibir a mão paraterceiros, fato este que lhe tem afetadoo estado psíquico, deixando-o

intranqüilo, mormente quando se deparacom o dano estético sofrido; a rédescreveu na CAT acidente diverso doque realmente aconteceu, sendo que oora autor, no dia dos fatos, não foi ouvidopelo Órgão competente sobre oacidente do trabalho; após o acidentedo trabalho passou a exercer funçãodiversa da anteriormentedesempenhada; foi dispensado emdezembro de 2005, sem receberqualquer reparação dos danos sofridosno referido acidente do trabalho, o queo deixou em sérias dificuldadesfinanceiras; recorre à Lei Civil, àConstituição Federal e demaisdispositivos legais como amparo do seudireito à indenização por danosmateriais, morais, estético, psíquico epermanente, e a uma pensão mensalpelos danos sofridos em decorrência doacidente do trabalho. Em conseqüência,requer o pagamento de indenizaçãomaterial no valor de duzentos saláriosmínimos e também indenização moral,estética, psíquica e permanente, cujovalor deverá ser fixado pelo Juízo, alémde pensão mensal correspondente adois salários mínimos, tudo a partir dadata do acidente do trabalho, ou seja,24.09.2004. Atribui à causa o valor deR$60.000,00. Junta aos autos osdocumentos de f. 07/27.

A ré, regularmente notificada,apresenta defesa escrita, nos termos def. 32/52. Alega, em suma, que: o autorfoi realmente admitido na categoria demotorista, desenvolvendo normalmenteseus serviços, transportandomercadorias, transportando outros

CRISTINA CORDEIRO DE OLIVEIRA, relativa a indenização material etc., no valorde R$60.000,00.

Aberta a audiência foram, de ordem do MM. Juiz Titular, apregoadas aspartes. Ausentes.

A seguir, o Juiz Titular prolatou a seguinte decisão:Vistos, etc.

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empregados e fazendo entregas, sendoque estes eram os seus deveres, sendoesta sua rotina de trabalho, ou seja, tão-somente dirigir; em 24.09.2004, apóstransportar um açougueiro até aFazenda Santa Maria, onde oaçougueiro abateria um boi, o autor,extrapolando suas obrigações, resolveu,por sua conta e risco, de formairresponsável, e sem que outrofuncionário visse, segurar e amarrar umboi num tronco, acabando por prendero dedo no laço, esmagando-o,necessitando parte do mesmo seramputada em decorrência doesmagamento; dita atividade em nadacondizia com a função do autor; nenhumcomando no sentido de amarrar um boifoi dado ao autor pela contestante, porser tarefa distinta daquela desenvolvidapor um motorista; o abate de boi nãopode ser visto como atividade quecolocaria em risco a integridade físicade um motorista, uma vez que aomesmo cabe tão-somente dirigir, sendoo abate tarefa única e exclusiva defuncionários diversos; não há que sefalar em culpa da contestante, porque oautor, no dia do acidente, agindo por suaconta e risco, em localidade distante80Km da empresa, resolveu praticar atocompletamente estranho às suasfunções, sendo o resultado atribuível asua própria culpa; após o acidente, oautor voltou a exercer suas atividadesnormais, desempenhando a mesmafunção, ou seja, direção de veículoautomotor; a rescisão do contrato nãoteve qualquer vinculação com oinfortúnio sofrido pelo autor, sendo queeste mantinha atitude desleixada edescuidada para com os veículos daempresa, tendo sido a rescisãomotivada por conveniência da empresa,tendo sido feitos todos os acertos epagas as devidas verbas rescisórias; oautor jamais ficou impossibilitado de

exercer permanentemente suasfunções, ou mesmo teve suacapacidade laborativa reduzida; emrelação à CAT, é de se ressaltar que aempresa descreveu o acidente da formacomo foi relatado pelo autor, o qualmentiu na ocasião, temendo medidapunitiva por parte da empresa quandosoubesse que o acidente teria ocorridoquando o autor estava desempenhandofunção diversa daquela para a qual forarealmente contratado; para a existênciado acidente do trabalho é necessárioque exista um tríplice nexo entre otrabalho e o efeito do acidente,envolvendo o trabalho, o acidente e alesão, além da incapacidade resultante;no caso dos autos, o acidente sofridopelo autor não se enquadra em nenhumdispositivo legal, pois em nenhum deleshá a disposição de se equiparar aacidente do trabalho ato do empregadoque por conta e risco vem a se ferirpraticando atividade que não seria desua alçada, sem determinação de quemquer que seja; não se vislumbra dolo doempregador no resultado que sofreu oautor, muito menos culpa grave, umavez que o autor, no desempenho dafunção para a qual havia sidocontratado, possuía equipamento detrabalho com equipamentos desegurança e EPIs indicados pelalegislação competente, sendo certo quenão sofreu qualquer infortúnio nodesempenho da função para a qual foicontratado; se o empregado pratica umato totalmente estranho às suasfunções, sem que qualquer superiordeterminasse, por sua conta e risco,como no caso em tela, não há amparoinfortunístico a ser prestado peloempregador, fazendo jus o autor tão-somente ao benefício previdenciário; oacidente ocorreu por culpa exclusiva davítima; não havia risco à integridadefísica do autor, pois não se pode

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imaginar risco à integridade física deum motorista, advindo do abate degado; no caso dos autos não seconfigura culpa in vigilando, uma vezque a contestante sempre procurouvigiar e fiscalizar o cumprimento dasnormas de segurança do trabalho,estando sempre atenta e diligente nosentido de coibir atos que resultassemem risco aos trabalhadores; não há,como nunca houve, matadouro públiconas cidades de Capelinha, Água Boa,ou qualquer cidade num raio de 100kmda sede da empresa; não merecesequer ser mencionado o dano moral,diante da ausência de culpa daempresa, além de ser o valordespropositado e indevido; o acidentenão foi sofrido pelo autor no exercíciode sua função, tendo ocorrido emdecorrência de conduta imprudentesua, por ato que resolveu realizar porsua conta e r isco, sem qualquercomando da requerida, sendo que taisatos não decorreram de atos ilícitos,comissivos ou omissivos praticadospela ré, senão por culpa exclusiva davítima; existia orientação da empresa nosentido de que somente os açougueirosparticipassem da amarração e abate desemoventes, sendo que, se tal normativesse sido observada pelo autor, osinistro não teria acontecido; requer,portanto, a improcedência de todos ospedidos constantes da inicial, bem comoreconhecimento da ocorrência deevento danoso por culpa exclusiva davítima, com a condenação do autor aosefeitos da sucumbência.

A ré junta aos autos osdocumentos de f. 53/54, acerca dosquais se manifesta o autor às f. 57/63.

Colhem-se os depoimentos daspartes e de 03 testemunhas (f. 64/70).

Encerrada a instrução, as partesaduzem razões finais orais.

Não há acordo.

II - FUNDAMENTOS

1 - Da ocorrência de acidentedo trabalho

Em um primeiro momento, háque se pontuar que, no caso dos autos,a ocorrência do acidente do trabalho foiadmitida pela ré, tendo esta emitido aCAT cuja cópia está à f. 14.

De qualquer forma, relevadestacar que os elementosconfiguradores de acidente do trabalho,o qual, aliás, ocorre, à luz do dispostono art. 19 da Lei n. 8.213/91, dentreoutros, pelo exercício do trabalho aserviço da empresa, provocando lesãocorporal ou perturbação funcional quecause a perda ou redução, permanenteou temporária, da capacidade para otrabalho, estão, salvo melhor juízo,comprovados nos autos como tendoocorrido com o autor na data alegadade 24.09.2004.

Com efeito, a ocorrência deevento súbito danoso durante o trabalhoou em razão dele, a existência de lesãocorporal ou perturbação funcional e,finalmente, a ocorrência de perda,mesmo que parcial, da capacidadelaborativa de que o empregado eraanteriomente detentor estãocomprovadas, claramente, por meio dodepoimento do preposto (f. 65/66),segundo o qual “...no dia do acidente oreclamante dirigiu a caminhonete até olocal do abate junto com o açougueiroDenílson e chegando lá a caminhonetefoi estacionada frente ao curral, sendoque o açougueiro começou a exercer afunção dele, prendendo o animal,laçando-o e puxando-o até o tronco; quecomo a corda é muito grande, extensa,quando o animal foi puxado até o tronco,o açougueiro percebeu que oreclamante tinha pegado o restante dacorda e enrolado ao tronco e estava com

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o dedo preso à corda; que o açougueironaquele momento puxava a corda bempróximo ao animal e o animal deu umsolavanco para trás e o açougueirosoltou a corda para não se machucar,momento em que ouviu o grito doreclamante e percebeu que oreclamante tinha ficado com o dedopreso ao tronco...; ...que no momentodo acidente estavam presentes oreclamante, o açougueiro Denílson e ofuncionário da fazenda que fazia apesagem, mas esta pessoa não estavano local no exato momento doacidente...; ...que na ocasião o dedopolegar da mão esquerda do reclamantefoi esmagado pela corda, tendo sidoconduzido ao hospital e lá foi retirada aparte do dedo que foi esmagada, emtorno de 15% do dedo polegar...”.

Ademais, tem-se como notório(com a aplicação em concreto dodisposto no inciso I do art. 334 do CPC)o fato de que existiu redução dacapacidade laborativa do autor, uma vezque, por ter passado à condição deportador de deficiência no dedo polegarda mão esquerda, ficou ele sujeito alimitações relativamente a atividadesque exijam plena destreza de todos osdedos das mãos, sendo que, emboranão exista incapacidade para todas asatividades laborativas, não mais dispõeo obreiro das mesmas condições quedetinha antes de sofrer o acidente, o quecorresponde a fato que mereceadequado tratamento jurídico diante dodifícil e concorrido mercado de trabalhobrasileiro.

Cabe assinalar, por derradeiro,que as conclusões supra em nada sealteram em razão do fato de osbenefícios previdenciários porincapacidade serem concedidossomente quando o INSS reconhece queo acidente do trabalho acarretou,segundo critérios exclusivamente

administrativos, total incapacidadelaborativa ou redução da capacidadelaborativa do empregado. Isso porqueo juízo trabalhista pode,autonomamente, à luz da legislaçãoaplicável à espécie, reconhecer aexistência de incapacidade laborativa,mesmo que parcial, decorrente deacidente do trabalho ou de doençaocupacional ao mesmo equiparável, emespecial porque, como é de sabençaelementar, o prévio requerimento na viaadministrativa não é pressuposto paraque o trabalhador ingresse em juízo comação relativa a acidente do trabalho. Noaspecto, salienta-se que a interpretaçãosistemática dos arts. 129 e 22, ambosda Lei n. 8.213/91, e da Súmula n. 89do Superior Tribunal de Justiça nãoadmite conclusão diversa. Ademais,vale rememorar que as conseqüênciasdo acidente do trabalho podem serdistintas nas searas trabalhista,previdenciária e cível.

2 - Da indenização por danosmateriais e morais em decorrência deacidente do trabalho

A reparabilidade de danosdecorrentes de acidente do trabalho temfundamento na teoria daresponsabilidade civil segundo a qualquem causa dano a outrem tem o deverde indenizá-lo e está prevista em váriostextos legais, em especial na CartaMagna (artigo 5º, incisos V e X), com oobjetivo precípuo de garantir que todosos seres humanos se respeitem entresi. Ademais, segundo dispõe o art. 186do Código Civil em vigor “Aquele quepor ação ou omissão voluntária,negligência ou imprudência, violardireito e causar dano a outrem, aindaque exclusivamente moral, comete atoilícito”, ficando, pois, obrigado a repararo dano.

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Os pressupostos daresponsabilidade civil no pertinente adanos morais e materiais decorrentesde acidente do trabalho, caracterizando-o como ato ilícito, como é cediço emdoutrina, são a existência de erro deconduta do agente (ação ou omissãoinjusta), a ofensa a um bem jurídico oudano (ferimento de componente daesfera do patrimônio moral ou materialda vítima) e a relação de causalidadeentre a antijuridicidade da ação e o danocausado.

No caso dos autos, salvo melhorjuízo, estão presentes ditospressupostos. Por partes:

O prejuízo financeiro decorre, àevidência, da redução da capacidadelaborativa do obreiro, uma vez que, porter passado à condição de portador dedeficiência no dedo polegar da mãoesquerda, ficou ele sujeito a limitaçõesrelativamente a atividades que exijam oemprego da extensão total de todos osdedos das mãos, sendo que, emboranão exista incapacidade para todas asatividades laborativas, não mais dispõeo obreiro das mesmas condições quedetinha antes de sofrer o acidente, o quecorresponde a fato que mereceadequado tratamento jurídico diante dodifícil e concorrido mercado de trabalhobrasileiro. Nesse sentido porque,logicamente correto e juridicamentejusto, prevalece o entendimento de quenão se pode, por justiça, equiparar, notocante ao desenvolvimento deatividades que exijam o emprego daextensão total de todos os dedos dasmãos, o operário que tem perfeitascondições e aquele cuja capacidadelaboral, no aspecto, restou diminuídapor apresentar apenas parte do dedopolegar esquerdo. Houve, pois,diminuição da capacidade laborativa doautor e ainda que tal decréscimo, émister repisar, não acarrete total

impossibilidade de execução de toda equalquer tarefa laboral, impõe-se sejarestabelecido o equilíbrio jurídico que foirompido e isso se realiza com opagamento de indenizações, uma vezque não pode haver retorno ao estadoanterior.

A culpa da ré, por sua vez, estáclaramente demonstrada nos autos.Senão vejamos:

A tese empresária de que estariacompletamente delimitada a função doautor, ao argumentar que “...orequerente curiosamente eextrapolando de suas obrigações...”,“...tal atividade não coaduna com aatividade que o requerente contratoucom a requerida em exercer suasfunções, pois, nada tem haver dirigirveículo com amarrar animais...”, “...deforma irresponsável tentou amarrar umboi em um tronco sem que qualquercomando nesse sentido fosse proferidopela requerida, ademais por ser tarefacompletamente diversa da praticada porum motorista...”, não está comprovadanos autos, sendo que em concreto, pois,aplica-se o teor do parágrafo único doart. 456 da CLT, segundo o qual “à faltade prova ou inexistindo cláusulaexpressa a tal respeito, entender-se-áque o empregado se obrigou a todo equalquer serviço compatível com a suacondição pessoal”. Nesse sentido, instasalientar que não há notícia nos autosde que o obreiro tenha sido claramenteproibido de, em qualquer situação,ajudar o açougueiro no momento doabate de reses.

Outrossim, não prevalece a tesede que a requerida “...nem imaginariaque o motorista se aventuraria emfunção que não lhe dizia respeito, daqual não possuía qualquertreinamento...”. Ao contrário, a prova dosautos demonstra que na atividade deabate de gado levada a efeito pela ré

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existia, dentre tantas variáveis, aseguinte: o abate da rês, dependendodo tamanho da mesma, poderia serefetuado por uma pessoa oudemandaria, necessariamente, mais deuma pessoa. Com efeito, do depoimentoda testemunha Denílson MartinsPereira, às f. 68/70, infere-se claramenteque: “conforme o tamanho do boiqualquer açougueiro pode abater o boisozinho...”, sendo que “...quando é umboi grande o vaqueiro ajuda oaçougueiro a abater...”. Nesse diapasão,como no mesmo depoimento estáesclarecido que o açougueiro da ré, porocasiões de abates, somente levava oajudante Sr. Jeremias nos dias em queseriam abatidas mais de uma rês, aempresa podia e devia prever a seguintesituação: o único boi a ser abatido nodia era grande e não havia qualquervaqueiro disponível no momento paraajudar o açougueiro, o que poderiaensejar, estando o autor no local doabate, a possibilidade concreta de eleajudar o açougueiro. Imaginável, sim,pois, essa provável situação, a respeitoda qual, aliás, a ré não comprovou terdado qualquer orientação ao obreiro, oumesmo tê-lo proibido de, em qualquersituação, auxiliar o açougueiro no abatede reses. Um empregador diligente, aocontrário, teria a preocupação ou detreinar o empregado motorista para queeste pudesse prestar, com segurança,essa provável necessária ajuda para oabate, ou, segundo seus critérios, proibirde forma peremptória e clara dita ajuda.Semelhante atitude não foidemonstrada nos autos comocoincidente com a adotada pela ré. Aocontrário, ela própria admitiu, na peçacontestatória, que o obreiro não tinha otreinamento necessário para prestarsemelhante ajuda. Ademais, a empresanão comprovou, ônus que lhe cabia (art.818 da CLT e inciso II do art. 333 do

CPC), a veracidade das suas teses deque, ao tentar amarrar o boi no tronco,no dia do acidente, o autor teriacontrariado orientações empresarias,que todos os procedimentos desegurança teriam sido rigorosamenteobservados, que o serviço erapotencialmente isento de perigo mesmoque realizado por profissional játreinado, que “a requerida possui váriosprofissionais habilitados para exercer atarefa, e ainda não permitia quequalquer outro funcionário, contratadopara função diversa, tivesse qualquercontato com semoventes ouparticipasse do abate dos mesmos”, que“existia orientação da empresa nosentido de que somente os açougueirosparticipassem da amarração e abatedos semoventes”.

Ora, o abate de rês, ao contráriodo que equivocadamente entende a ré,pode e deve ser visto como atividadeque coloca em risco a integridade físicatanto do açougueiro como daqueles quepossam, no ímpeto de ajudar, intervir aqualquer momento na atividaderespectiva ou mesmo das pessoas queestejam próximas ao local, o motoristaque transporta o açougueiro, inclusive.Indaga-se: quantos acidentes deverãoocorrer para que a reclamada seconscientize disso?

Nenhuma, absolutamentenenhuma, prova há nos autos, é misterrepisar, a demonstrar que a reclamadatenha proibido o reclamante de ajudaro açougueiro no momento do abate degado, medida essa que se impunha paraque se verificasse a necessáriasegurança no trabalho. Não se trata de“vigiar” o empregado em todos osmomentos, ou mesmo de entender-seque a relação jurídica empregatícia temcaráter de “custódia”, mas deconscientizar o empregado, determinare fazer cumprir, dia a dia, medidas

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efetivas tendentes a evitar, quantopossível, a ocorrência de acidentes dotrabalho.

Nesse diapasão, tem-se quesomente fatos ou circunstâncias queescapam a qualquer controle oudiligência do empregador é que nãogeram a responsabilidade deste ejamais aqueles fatos que exigem,porque previsíveis, a adoção demedidas preventivas.

No aspecto, ademais, comoespécie de pano de fundo para odeslinde das questões trazidas àcolação na presente ação, impõe-setrazer a lume o teor do entendimentoconsubstanciado na Súmula n. 289 doC. TST:

O simples fornecimento doaparelho de proteção peloempregador não o exime dopagamento do adicional deinsalubridade. Cabe-lhe tomar asmedidas que conduzam àdiminuição ou eliminação danocividade, entre as quais asrelativas ao uso efetivo doequipamento pelo empregado.

Dita súmula traduz matéria quese refere à saúde e à segurança dotrabalho.

Em semelhante matéria olegislador exige do empregador açõesde orientação, além de fiscalizaçãoefetiva e continuada, à semelhança doque se espera de um bonus pater

familias. No aspecto, aliás, poder-se-iaindagar “Quem imaginaria que umtrabalhador recebesse o EPI e mesmoassim não o usasse?” Pois a súmula emtela, justamente para marcar aobrigação do empregador no aspecto,tem-no como responsável, se não existira necessária orientação e fiscalizaçãoquanto ao efetivo uso de EPI. Tudo

porque não se pode considerar oempregado como um robô que nuncafalha, distante da própria naturezahumana impregnada da probabilidadenormal do cometimento de deslizes.

Como bem ensina OswaldoMichel:

O empregador tem uma série deobrigações com relação àsegurança e medicina dotrabalho, sendo que as principaissão as seguintes:a) o empregador fica obrigado acumprir e fazer cumprir asnormas de segurança e medicinado trabalho. Isto significa quenão basta que ele cumpra asreferidas normas, mas deve,também, exigir que seusempregados as cumpram. Épossível concluir-se que oempregador poderá ser autuadopela fiscalização, caso fiqueconstatado estar seu empregadodesrespeitando uma norma desegurança do trabalho, poisnesse caso ele, empregador, nãoestava vigilante àquela suaobrigação legal de fazer cumpri-la;b) o empregador fica obrigado ainstruir os empregados, atravésde ordens de serviço, quanto àsprecauções a tomar no sentidode evitar acidentes do trabalhoou doenças ocupacionais: éconveniente que a instrução aosempregados se faça através deordens de serviço por escrito,para evitar, no futuro, discussõesacerca da existência ouinexistência de uma orientaçãoespecífica sobre a medida quedeveria ter sido tomada paraevitar o acidente do trabalho oua doença ocupacional; [...].

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(In Acidentes do trabalho edoenças ocupacionais. SãoPaulo: LTr, 2001, 2. ed. p. 111)

Em matéria de saúde esegurança do trabalho, portanto, agecom culpa a empresa que deixa deorientar e alertar continuadamente oempregado para os riscos de acidentedo trabalho, seja não o preparandoadequadamente para situações derisco, seja deixando de proibi-lo clara eperemptoriamente relativamente àprática de atos que possam ensejarrisco de acidente do trabalho. A empresaé quem tem a obrigação legal de adotarsemelhantes medidas preventivas,criando em seus empregados, tantoquanto possível, uma consciência desegurança, de tal sorte que a prática dasegurança, na vida destes, transforme-se em um verdadeiro hábito. Não basta,portanto, não existir ordem para quedeterminado empregado trabalhe emdesvio de função. Se existirem funçõesna empresa que exponham oempregado a risco de acidente dotrabalho, deve, necessariamente, haverordem clara e indubitável para que osempregados não treinados jamais aexecutem.

No caso concreto, o autor nãotinha qualquer treinamento para aexecução da atividade de ajudar aabater gado no dia do acidente, sendoque não há prova de que no momentodo acidente estaria infringindo préviaordem proibitiva clara emanada daempresa de não ajudar seu colega detrabalho. Ainda, pois, que a iniciativapara fazê-lo tenha sido do autor, aresponsabilidade pela fiscalização eprévia orientação era de quem assumiuos riscos da atividade econômica, ouseja, da empresa. É ela quem respondepelos atos praticados por seus agentes,como diz a lei, incluindo-se nessa

premissa o próprio empregado vitimado.O empregador, é mister repisar, tem odever de, dia a dia, adotar e fazercumprir, com a aplicação dos podereshierárquico e disciplinar de que édetentor, ações continuadas com o fitode garantir a segurança de seussubalternos. Nessa linha de raciocínio,aliás, é mister salientar que até mesmopara imobilizar uma rês precisa-se deum mínimo de especialização, desde aforça até a técnica especial para fixar acorda utilizada a determinado ponto fixo.Essa especialização o autor não tinhapor ocasião do acidente e isso ficouevidenciado nos autos. De igual forma,como acima reconhecido, não lhe foidada, anteriormente, ordem proibitiva deque não ajudasse o açougueiro porocasião do abate de rês.

Fixadas, pois, essas premissas,tem-se que a ré obrou com culpa pornão ter, de forma peremptória e clara,proibido previamente o autor de praticarato de auxiliar no abate de rês, sob riscode acidente do trabalho, semtreinamento para tal, quando ali sepoderia ou deveria prever apossibilidade de acidente tal qualaconteceu.

Dita culpa, embora no grau leve,ou seja, a que, no magistério do ilustreSebastião Geraldo de Oliveira,caracteriza-se quando ocorrer infraçãoque o empregador médio teria evitado,ou seja, aquele patrão que adota o nívelde atenção ordinária, o equivalente aobonus pater familias (in Indenizações

por acidente do trabalho ou doença

ocupacional. São Paulo: LTr, 2005, p.173), enseja, em concreto, aresponsabilização da ré. Não se deveesquecer, no particular, de que o incisoXXVIII do art. 7º da Constituição Federalhoje não mais exige a culpa grave comopressuposto da indenização a que estáobrigado o empregador na hipótese de

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acidente do trabalho, como previa a jásuperada Súmula n. 229 do ExcelsoSTF, mas apenas culpa leve ou atélevíssima. Releva destacar, aindaacerca do tema, que na relação deemprego constitui obrigação precípuado empregador zelar pela saúde eintegridade física dos seus empregados,em especial diante do disposto nosincisos III e IV do art. 1º da CF. É oempregador, e não o empregado, queescolhe o local de trabalho, os métodosde produção, o mobiliário, asferramentas utilizadas, o ritmo daprodução, a forma de treinamentos etc.e por isso tem ele o dever de garantir odireito ao ambiente de trabalho saudávele à redução dos riscos inerentes aotrabalho, sendo que o pagamento doseguro social obrigatório não o eximedesse dever. Deve ele, ainda sob oenfoque ora debatido, contratar, se nãoestiver seguro a respeito, especialistashabilitados para manter o ambiente detrabalho seguro e saudável. A condutaexigida do empregador é a de adotar,com seriedade, medidas preventivasefetivas para afastar os riscos inerentesao trabalho, valendo-se dosconhecimentos técnicos disponíveispara eliminar as possibilidades deacidentes do trabalho e doençasocupacionais. Daí ilícita sua condutaquando se omite no particular.

Neste passo, é mister trazer alume, novamente, os ensinamentosministrados pelo autorizado JuizSebastião Geraldo de Oliveira:

Estudos recentes estãodemonstrando que há umatendência consolidada no Brasilde atribuir a culpa dos acidentesa “falhas humanas” ou a “atosinseguros” da própria vítima(culpabilização da vítima),desprezando todo o contexto em

que o trabalho estava sendoprestado. Quando ocorre umacidente, as primeirasinvestigações, normalmenteconduzidas por prepostos doempregador, sofrem forteinclinação para localizar um “atoinseguro” da vítima, analisandoapenas o último fatodesencadeante do infortúnio,sem aprofundar nos demaisfatores da rede causal, atémesmo com receio dasconseqüências jurídicas.Essa visão já ultrapassada estáimpedindo que haja progressonas políticas de segurança esaúde do trabalhador, bastandomencionar que os índices deacidente do trabalho estão nomesmo patamar há mais oumenos dez anos, conformeanotamos no capítulo 1. Ora, setodos adotássemospermanentemente um nívelextraordinário de atenção,praticamente não ocorreriamacidentes do trabalho ou mesmoacidentes de trânsito. Nenhumplanejamento sério podeconsiderar o empregado comose fosse uma figura robótica quenunca comete deslize, distantede sua natureza humana efalível.(Obra citada, p. 177/178)

O nexo causal está, igualmente,demonstrado nos autos.

Com efeito, segundo o já citadodepoimento do preposto, o autor, emhorário de trabalho, teve o dedo polegarda mão esquerda esmagado, “tendosido conduzido ao hospital e lá foiretirada a parte do dedo que foiesmagada, em torno de 15% do dedopolegar”.

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De qualquer forma, relevadestacar que, como é cediço, o deverde indenizar não exige nexo decausalidade exclusivo, sendo que apresença de um só elemento deresponsabilidade do empregador acausar dano é suficiente aoreconhecimento do nexo causal e dodever de indenizar. No caso sub judice,a atitude omissa da ré seja em nãotreinar o empregado motorista para queeste pudesse prestar, com segurança,uma previsível necessária ajuda aoaçougueiro no momento do abate dereses, ou proibir de forma prévia,peremptória e clara dita ajuda atuoucomo concausa para o acidente dotrabalho verificado.

Colhe-se, a propósito, parte dosensinamentos dos ilustres juristasCarlos Alberto Menezes Direito e SérgioCavalieri Filho a respeito do temaconcausas (à evidência aplicável nopertinente a acidentes do trabalho):

As concausas preexistentes nãoeliminam a relação causal,considerando-se como taisaquelas que já existiam, quandoda conduta do agente, que sãoantecedentes ao própriodesencadear do nexo causal.(Cf. Comentários ao novo Código

Civil, v. XIII, 2004, p. 83-84. Apud

OLIVEIRA, Sebastião Geraldode. Indenizações por acidente do

trabalho ou doençasocupacionais. São Paulo: LTr,2005, nota de rodapé, p. 141/142)

Fixadas essas premissas, ouseja, porque no caso dos autos existiramo erro de conduta do agente (omissãoinjusta), a ofensa a um bem jurídico(ferimento de componente da esfera dopatrimônio material da vítima,consistente na sua redução de

capacidade laborativa) e, finalmente,relação de causalidade entre aantijuridicidade da ação e o danocausado, procede o pedido formuladopelo autor de pagamento deindenização por danos materiais,impondo-se, nestas circunstâncias, fixaro valor respectivo.

Pois bem: o quantum deve serapurado com o fito predominante desatisfazer o prejuízo experimentado pelavítima (extensão do dano), tendo-sepresentes, porém, consoante oentendimento doutrinário ejurisprudencial dominantes, aspeculiaridades do caso e a capacidadede prestação do responsável. No casosub judice a culpa da ré foi leve; aextensão do dano ou prejuízoexperimentado pelo autor, no entanto,foi e continua sendo grande, tendo emvista que, embora não existaincapacidade para todas as atividadeslaborativas, não mais dispõe o obreirodas mesmas condições que detinhaantes de sofrer o acidente, o quecorresponde a fato que mereceadequado tratamento jurídico diante dodifícil e concorrido mercado de trabalhobrasileiro; quanto à capacidade deprestação da ré, tem-se que constituiempresa de porte médio (fato esserevelado por meio do depoimento dopreposto, às f. 65/66), sendo que,sopesados tais elementos, conclui-seque resulta suficientemente remuneradoo dano material com o pagamento deindenização no importe de R$1.000,00(a fim de cobrir os gastos que o autorpor óbvio teve com a aquisição demedicamentos, porque de sabençageral que o sistema público de saúdebrasileiro não fornece, de ordinário, aintegralidade de medicamentos aosseus beneficiários), além de pagamento,sob a forma de pensão mensal vitalícia(mais do que o ressarcimento de ordem

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econômica deve-se ter presente, aqui,que constitui também objetivo daindenização o de compensar a vítimapela lesão física causada pelo ato ilícitodo empregador que reduziu suacapacidade laboral em caráter definitivo,inclusive pelo inelutável e naturalobstáculo de ensejar a busca pormelhores condições e remuneração namesma empresa ou no mercado detrabalho), sendo que se fixa como termoinicial da pensão a data do acidente dotrabalho, ou seja, 24.09.2004,equivalente a 30% do salário mensallíquido do autor vigente em tal data,reajustável nos termos e nas condiçõeslegais ou decorrentes de convênioscoletivos aplicáveis à categoriaprofissional. Os valores respectivosserão depositados mensalmente, até oúltimo dia de cada mês com expedienteexterno deste juízo trabalhista, emestabelecimento bancário à escolha doreclamante (a ser por este indicado nafase de liquidação). O pensionamentoora deferido é mensal, considerando-seque o pagamento de salário ao autortambém ocorria mensalmente e évitalício, uma vez que houvepermanente redução da capacidadelaborativa. As parcelas vencidas serãocorrigidas monetariamente desde ovencimento, sendo a primeira a partir de24.09.2004 (a correção monetária, porrepresentar apenas atualização do valordevido e não natureza de sanção, deveser calculada a partir dessa data, sendoirrelevante qualquer demora noajuizamento da demanda, já que oadimplemento da obrigação deve serfeito pelo valor realmente devido, o quesó pode ser obtido com a correçãosendo calculada a partir do momento emque sabidamente já existia dano),observados os teores das Súmulas n.562 do STF e 43 do STJ, e acrescidasde juros moratórios a partir da data do

ajuizamento da presente ação, nostermos da legislação aplicável àespécie.

Sobre a matéria, aliás, dispõe oart. 950 do Código Civil brasileiro de2002 (art. 1.539 do CCb/1916) que:

Se da ofensa resultar defeito peloqual o ofendido não possaexercer o seu ofício ou profissão,ou se lhe diminua a capacidadede trabalho, a indenização, alémdas despesas do tratamento elucros cessantes até ao fim daconvalescença, incluirá pensãocorrespondente à importância dotrabalho para que se inabilitou,ou da depreciação que elesofreu.

No aspecto, cumpre trazer àcolação a seguinte manifestaçãojurisprudencial, emanada do EgrégioSuperior Tribunal de Justiça:

I - Diversamente do benefícioprevidenciário, a indenização decunho civil tem por objetivo nãoapenas o ressarcimento deordem econômica, mas,igualmente, o de compensar avítima pela lesão física causadapelo ato ilícito do empregador,que reduziu a sua capacidadelaboral em caráter definitivo,inclusive pelo natural obstáculode ensejar a busca por melhorescondições e remuneração namesma empresa ou no mercadode trabalho.II - Destarte, ainda queeventualmente prosseguisse aempregada nas mesmasfunções - o que sequer é o casodos autos - o desempenho dotrabalho com maior sacrifício emface das seqüelas permanentes

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há de ser compensado pelopagamento de uma pensãoressarcitória, independentementede ter ou não havido perdafinanceira concretamenteapurada.(RESP n. 588649/RS, QuartaTurma, Rel. Ministro AldirPassarinho Júnior, julgado em02.09.2004)

Ademais, deverá a ré, à luz dodisposto no art. 602 do CPC, constituircapital necessário para assegurar ocumprimento da condenação relativa àindenização por lucros cessantes a serpaga mensalmente, indenização essaque, embora não tenha a naturezajurídica de prestação alimentícia emsentido estrito, corresponde àconcessão de alimentos sob a forma depensionamento decorrente de ato ilícito,capital esse ora arbitrado emR$40.000,00 se o for em dinheiro (ditocapital poderá ser constituído em títulosde dívida pública ou caderneta depoupança colocado à disposição destejuízo trabalhista junto a banco oficial).Se houver, para tal fim, penhora demóveis, semoventes ou imóveis, o valorcorresponderá a no mínimoR$80.000,00 (uma vez que, ao contrárioda constituição de capital em dinheiro,de fácil conversibil idade e comrendimentos garantidos, a constituiçãode capital em móveis, semoventes ouimóveis dependerá de uma eventualliquidação, razão pela qual se mostrade todo adequada a garantia a seroferecida no dobro do valororiginariamente apontado comosuficiente em garantia de dinheiro), casoem que sobre ditos bens incidirão ascláusulas de inalienabilidade eimpenhorabilidade, não se podendoesquecer, no particular, de que ditaeventual penhora, destinada à

constituição de capital nos termos do art.602 do CPC, não se prestará àsegurança do juízo para o fim deoferecimento de embargos. Registre-se,ainda, que essa constituição de capitalindepende da solvabilidade da empresae é decorrência obrigatória dacondenação em indenização por atoilícito, a qual poderá, seja na fase deliquidação, seja na execução, sersubstituída na forma do § 2º do art. 602do CPC, atendidas as condiçõesrespectivas.

Noutro giro, cumpre salientarque, segundo a doutrina e ajurisprudência dominantes, a reparaçãopor danos materiais não supre aquelarelativa aos danos morais, nos mesmosincluídos os abalos psíquicos eestéticos, sendo que, segundo oentendimento consubstanciado naSúmula n. 37 do STJ, “são cumuláveisas indenizações por dano material edano moral, oriundos do mesmo fato”,devendo buscar-se restabelecer oestado anterior, inexistindo base para aafirmação de que os valores respectivosdevam guardar correspondência ou umadeva ser maior ou menor que a outra.Vale salientar, a propósito, que a perdade parte do dedo polegar representou,consoante revelado por meio dosdepoimentos das testemunhas MáximaDamião de Souza Oliveira (f. 67) eVanusa Alves de Melo (f. 68),dificuldades para o autor no tocante asua interação social.

Pois bem: em linhas gerais,pode-se dizer que o dano moral violadireitos inerentes à personalidade,sendo que, consoante ensina o mestreCaio Mário da Silva Pereira, dito danoconsiste em

ofensa a direitos de naturezaextrapatrimonial - ofensas aosdireitos integrantes da

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personalidade do indivíduo,como também ofensas à honra,ao decoro, à paz interior de cadaum, às crenças íntimas, aossentimentos afetivos de qualquerespécie, à liberdade, à vida, àintegridade.(Apud CAMPOS, Maria Luiza deSabóia. Publicidade:responsabilidade civil perante oconsumidor. São Paulo: CulturalPaulista, 1996, p. 254)

Também nas relações laborais,especialmente em razão do caráterduradouro do vínculo jurídico, qualqueruma das partes pode ofenderlesivamente a outra em seus direitosimateriais, causando-lhe angústia edesequilíbrio em seu bem-estar.

Cumpre acentuar, a propósito: areparabilidade do dano moral estáfundada também, como já expostoanteriormente, na teoria daresponsabilidade civil, sendo que nocaso sub judice os pressupostos dessaresponsabilidade estão presentes.

Com efeito, o sofrimentopsicológico do autor decorrente daperda de parte do dedo polegar da mãoesquerda não pode ser colocado emdúvida, diante do já referido depoimentoda testemunha Vanusa Alves de Melo ediante, também, do teor do depoimentoda testemunha Máxima Damião deSouza Oliveira (f. 67), além de, àevidência, ter passado ele e estar sujeitoa limitações relativamente a atividadesque exijam o emprego da extensão totalde todos os dedos das mãos, sendoque, embora não exista incapacidadepara todas as atividades laborativas,não mais dispõe o obreiro das mesmascondições que detinha antes de sofrero acidente, com reflexos altamentenegativos para seu bem-estar e pazinterior.

No caso, o dano moralcorresponde a essa lesão a interessesnão patrimoniais do obreiro, sendo que,embora se saiba que o sentimento dohomem seja algo intangível, a despeitode não ser palpável, é tutelado peloDireito (nos incisos V e X do art. 5º daConstituição Federal, estão protegidosos valores da intimidade).

Impera lembrar, no aspecto, quea necessidade da reparação nasce umavez verificado o evento danoso, não secogitando a comprovação do prejuízo,pois considerado derivado do próprioinfortúnio. Cita-se, a propósito, oseguinte julgado:

para caracterizar-se o danomoral, motivado por acidente dotrabalho, basta comprovar-se ofato do qual decorre, pois seentende que uma vezdemonstrada a ofensa, ipso facto

estará demonstrado o danomoral. Ocorre que, considera-seo dano moral uma presunçãonatural, oriunda das regras daexperiência comum.(AC 70009557729, NonaCâmara Cível, TJRS, Relatora:Íris Helena Medeiros Nogueira,julgado em 08.09.2004)

Por fim, resta apreciar a difícilquestão de definir o valor daindenização por danos morais devida aoautor.

A lei é omissa acerca doscritérios que devem ser adotados a fimde que se fixe valor justo e razoável,deixando ao prudente arbítrio do juizfixar tal valor, em cada caso concreto.

Não se deve esquecer, noparticular, de que a referida indenizaçãonão pode servir de pretexto para oempobrecimento de um eenriquecimento de outro. Não obstante

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isso, deverá ser fixada da forma o maissevera possível, com três finalidadesprincipais: a finalidade punitiva, uma vezque o dano moral é um delito comoqualquer outro, de modo que quem opraticou se sinta castigado pela ofensaque perpetrou; a finalidade preventiva,servindo para desestimular qualquerpessoa, independentemente de suacondição econômica, a praticarsemelhante ofensa; a finalidadecompensatória, tendente a constituirremédio para propiciar à vítima umsentimento de que a justiça foi feita emseu favor.

Nesse diapasão, ensina oconceituado CARLOS ALBERTOBITTAR (in Reparação civil por danos

morais, 1994, p. 197 e seguintes) oseguinte:

Impera, aliás, a respeito: a) oprincípio da responsabilidadeintegral, consoante o qual sedeve atender, na fixação daindenização, à necessidade deplena satisfação do lesado,buscando-se no patrimônio doslesantes valores que, semlimites, a tanto correspondem; eb) a técnica da atribuição de valorde desestímulo, ou de inibição,para que se abstenha o lesantede novas práticas do gênero,servindo a condenação comoaviso à sociedade; com isso, aomesmo tempo em que sesancionar os lesantes eoferecem-se exemplos àsociedade, a mostrar-lhe quecertos comportamentos, porquecontrários a ditames morais,recebem a repulsa do Direito.

No caso dos autos:- Considerando a dor moral

sofrida pelo autor em razão de ter

passado a estar sujeito a limitaçõesrelativamente a atividades que exijam oemprego da extensão total de todos osdedos das mãos, sendo que, emboranão exista incapacidade para todas asatividades laborativas, não mais dispõeo obreiro das mesmas condições quedetinha antes de sofrer o acidente, comreflexos altamente negativos para seubem-estar e paz interior;

- considerando os abalospsíquicos e estéticos à evidênciasofridos em razão da perda de parte dodedo polegar, o que, à luz dosdepoimentos das testemunhas MáximaDamião de Souza Oliveira (f. 67) eVanusa Alves de Melo (f. 68),representou dificuldades para o autor notocante a sua interação social;

- considerando que existiu culpada ré no grau leve, o que implicaresponsabilização porque a legislaçãoatual não mais exige dolo ou culpa graveno aspecto;

- considerando o princípio darazoabilidade;

- considerando, por fim, o portemédio da empresa,

Impõe-se arbitrar o valor daindenização por dano moral sofrido emR$20.000,00, atualizáveis a partir dadata do evento danoso, ou seja,24.09.2004, até a data do efetivopagamento, acrescido de juros simplesa partir da data da citação.

3 - Honorários advocatícios

A condenação ao pagamento dehonorários advocatícios no Processo doTrabalho tem cabimento restrito e nãodecorre pura e simplesmente dasucumbência, consoante as Súmulas n.219 e 329 do C. TST, sendo que não sevislumbram, nos autos, os requisitosque configuram hipótese de cabimento.

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Em concreto, aliás, como se tratade lide decorrente da relação de empregohavida entre as partes, incide o dispostono art. 5º da Instrução Normativa n. 27do C. TST (Res. 126/2005, publicada noDJU de 22.02.2005).

Improcede, destarte, o pedidosob o título acima.

4 - Contribuições previdenciárias

Não há recolhimento decontribuições previdenciárias a serdeterminado, em razão da evidentenatureza indenizatória dos valoresdeferidos na presente.

5 - Justiça gratuita

Prejudicado o pedido, uma vezque nenhum ônus pecuniário foiatribuído ao reclamante no processo.

III - CONCLUSÃO

Ante o exposto, julgoPROCEDENTE, EM PARTE, a ação,para condenar a ré a pagar ao autor, emvalores a serem apurados em liquidaçãode sentença, com juros e correçãomonetária, na forma da lei, observadosos parâmetros fixados nafundamentação supra:

a) indenização por danosmateriais decorrentes de acidente dotrabalho no importe de R$1.000,00,além de pensão mensal vitalícia a partirde 24.09.2004, equivalente a 30% dosalário mensal líquido vigente em taldata, pensão essa reajustável nostermos e nas condições legais oudecorrentes de convênios coletivosaplicáveis à categoria profissional,sendo que os valores respectivos serãodepositados mensalmente em conta

bancária, até o último dia de cada mêscom expediente externo deste juízotrabalhista;

b) indenização por dano moraldecorrente de acidente do trabalho noimporte de R$20.000,00, atualizáveis apartir da data do evento danoso, ou seja,24.09.2004, até a data do efetivopagamento, acrescido de juros simplesa partir da data da citação.

Ademais, deverá a ré, à luz dodisposto no art. 602 do CPC, constituircapital necessário para assegurar ocumprimento da condenação relativa àindenização por lucros cessantes a serpaga mensalmente, indenização essaque, embora não tenha a naturezajurídica de prestação alimentícia emsentido estrito, corresponde àconcessão de alimentos sob a forma depensionamento decorrente de ato ilícito,capital esse ora arbitrado emR$40.000,00 se o for em dinheiro, sendoque, se houver, para tal fim, penhora demóveis, semoventes ou imóveis, o valorcorresponderá a no mínimoR$80.000,00, caso em que sobre ditosbens incidirão as cláusulas deinalienabilidade e impenhorabilidade,não se podendo esquecer, no particular,de que dita eventual penhora, destinadaà constituição de capital nos termos doart. 602 do CPC, não se prestará àsegurança do juízo para o fim deoferecimento de embargos.

Custas, no importe de R$640,00,calculadas sobre o valor ora arbitrado àcondenação em R$32.000,00, pela ré.

Cumpra-se em 48 horas, após otrânsito em julgado e liquidação.

Publicada em audiência. Cientesas partes e seus procuradores (Súmulan. 197 do C. TST).

Nada mais.

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1 - SÍNTESE POSTULATÓRIA EPROCEDIMENTAL

JOSÉ DOMINGOS SOBRINHOaforou a presente ação trabalhistacontra COMPANHIA ENERGÉTICA DEMINAS GERAIS - CEMIG, ambosqualificados nos autos, alegando, emresumido, que trabalhou para areclamada, no período de 09 denovembro de 1987 até quando seafastou do serviço em decorrência deacidente laboral que sofreu, estandocom seu contrato de trabalho suspensoem virtude de aposentadoria porinvalidez que, em razão do mencionadoacidente, foi-lhe concedida; que,embora estivesse sujeito à jornadadiária de oito horas e semanal dequarenta horas, sempre a extrapolou,segundo registros em boletim semanalde transporte, espelhadores da efetivajornada cumprida, sem, contudo,receber, corretamente, pelas horasextras prestadas, média de três por dia;que sempre recebeu o adicional depericulosidade calculado sobre osalário-base, quando, na verdade,deveria recebê-lo sobre a remuneração,como estabelecido na Súmula n. 191 do

TST, pelo que faz jus a diferenças noadicional e consectários delasdecorrentes; que a reclamada nãoincluía, no cálculo das horas extraspagas, o total do valor pago a título deadicional de periculosidade, o mesmoocorrendo com as horas de sobreaviso,causando, assim, prejuízos aoreclamante, que devem ser reparados,como demonstrou; que, emconseqüência do acidente do trabalhoque sofreu (inconteste porque areclamada emitiu a CAT), sofreu danosmateriais, representados por despesasde tratamento e impossibilidade doexercício de seu ofício, e morais, comofundamentou, que devem serindenizados; que, além disso, tendofalhado na contratação do seguro contraacidente do trabalho, que culminou pornão ser indenizado em razão da não-inclusão, nele, da hérnia discaltraumática, deve a reclamada arcar,também, com a indenização de valorigual ao que seria devido pelo seguro,R$47.912,00 em setembro de 2001,quando aconteceu o acidente com oreclamante. Dizendo, assim, que temdiversos direitos trabalhistasinsatisfeitos, pleiteou, ao final, as verbas

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 1260/2005DATA: 15.05.2006DECISÃO DA 2ª VARA DO TRABALHO DE GOVERNADOR VALADARES - MGJuiz Presidente: Dr. HUDSON TEIXEIRA PINTO

Aos 15 (quinze) dias do mês de maio do ano de dois mil e seis (2006), às16h58min, na sede da 2ª Vara do Trabalho de Governador Valadares - MG, ondese encontrava presente o seu titular, o MM. Juiz do Trabalho Dr. HUDSON TEIXEIRAPINTO, realizou-se audiência de decisão da reclamação trabalhista ajuizada porJOSÉ DOMINGOS SOBRINHO contra COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINASGERAIS - CEMIG, relativa a horas extras etc... , no valor de R$200.000,00.

Aberta a audiência, foram, de ordem do MM. Juiz do Trabalho, apregoadasas partes, constatando-se a ausência das mesmas.

Em seguida, pelo MM. Juiz, foi proferida a seguinte decisão:SENTENÇAVistos etc...

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elencadas na peça de intróito (f. 21/23).Trouxe a cotejo os documentos

de f. 24/265.Na audiência inaugural (f. 309/

310), foi deferida a retificação do pólopassivo para CEMIG DISTRIBUIÇÃOS.A., ressalvando-se, porém, apossibilidade de responsabilizaçãotanto da cindenda quanto da cindida,caso, futuramente, essa retificaçãovenha a obstar, de algum modo, asatisfação de obrigações decorrentesdeste processo.

Defendeu-se a reclamada (f. 311/328), negando tenha submetido oreclamante a alegada sobrejornada esustentando que a efetiva jornada domesmo se encontra registrada nosboletins de freqüência pelo mesmopreenchidos, não havendo horas extrasa serem pagas; que sempre calculou ashoras extras pagas de acordo com asnormas coletivas, sendo correta a não-inclusão do adicional de periculosidadeem sua base de cálculo, pelo que nadaé devido a título de diferenças, aoreclamante; que, estando o RSRincluído nas 220 horas mensais doreclamante, não há que se falar emreflexos das horas extras sobre aparcela, até porque, para isso, oreclamante teria que trabalhar, emregime de horas extraordinárias, quinzedias corridos ou alternados, conformenormas coletivas que citou, requisitonão cumprido pelo referido; que pagavao adicional de periculosidade sobre osalário-base porque isso estava previstonos acordos coletivos, inexistindo,portanto, diferenças em prol doacionante; que pagava as horas desobreaviso sobre as parcelas salariais(e não, como pretende o reclamante,porque indevido, sobre asremuneratórias, distintas daquelas); quenão praticou qualquer ato ilícito que lhepudesse ensejar condenação por danos

materiais ou morais; que, de qualquermodo, recebendo o reclamanteaposentadoria do INSS, não estásofrendo danos materiais; que nãotendo concorrido para o acidente e nãosendo obrigado a pagar seguro por umfato por ele não coberto, indevida é aindenização pretendida pelo acionante,quanto a isso. Asseverando, destaforma, nada dever ao acionante,requereu, alfim, a total improcedênciados pleitos autorais.

Carreou, aos autos, osdocumentos de f. 329/738.

Houve réplica à defesa (f. 746/752).

Determinada perícia médica paraapuração do alegado acidente dotrabalho e/ou de doença ocupacional noreclamante, bem como existência denexo causal ou concausal de eventualdoença/lesão no mesmo e suasocupações na reclamada, conformelaudo pericial de f. 773/791, parecer doassistente técnico da reclamada de f.792/797 e esclarecimentos periciais def. 817/819, de tudo ouvindo-se as partes.

Na derradeira audiência (f. 830),indeferidos, sob protestos, novosesclarecimentos periciais, pretendidospela reclamada, e não havendo maisprovas a serem produzidas, foiencerrada a instrução, seguindo-se asrazões finais orais e a designação destejulgamento.

Infrutíferas foram todas astentativas de conciliação.

Eis, em síntese, o relatório.DECIDO A SEGUIR.

2 - FUNDAMENTOS ENSEJADORESDA DECISÃO

2.1 - Prescrição qüinqüenal

Com a promulgação daConstituição Federal, a prescrição dos

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créditos trabalhistas passou a ser de 05(cinco) anos no curso da relaçãoempregatícia, contada a partir da lesãodos direitos e limitada a 02 (dois) anos,contados da extinção do contrato detrabalho, como previsto no inciso XXIXdo art. 7º da referida Constituição.

Na espécie em julgamento, aação foi ajuizada em 31 de outubro de2005, o que significa que, retroagindo-se a contagem prescricional, tem-secomo dies ad quem 31 de outubro de2000.

Como o reclamante pleiteiaparcelas a partir de 1987, conclui-se queas vencidas até a data sobreditaencontram-se atingidas pela extintivatemporal suso referenciada, passandoa constituir patrimônio jurídico daprescribente, em forma de direitoadquirido.

Por isso, reconhecendo aprescrição dos possíveis direitos cujalesão ocorreu antes de 31 de outubrode 2000, declaro extinto o processo,com julgamento do mérito, em relaçãoaos mesmos, nos termos do inciso IVdo art. 269 do Código de Processo Civil.

2.2 - Horas extras

Na petição inicial, o reclamantesustentou que os seus horários detrabalho eram, fielmente, registrados nodocumento denominado boletimsemanal de transporte e que, em média,excedia em três horas por dia a jornadade oito horas.

Na contestação, a reclamadanegou a fidedignidade dos registrosexarados no boletim semanal detransporte e afirmou que anotaçõeshorárias de labor fiéis à realidadeestavam inseridas no documentodenominado “registro de freqüência”.

Diante da controvérsia sobrequal seria o documento espelhador da

real jornada cumprida pelo reclamante,este juízo determinou que ambosfossem anexados aos autos paraconfronto e, se fosse o caso, provaadicional quanto a qual deles refletiriaa realidade, da seguinte forma:

No prazo assinado parajuntada de novos documentos, areclamada carreará, aos autos,os documentos de ponto doreclamante, bem como osboletins semanais de transporte,sob pena de confissão quanto aoque, por eles, se haveria deprovar (ata de audiênciainaugural, f. 309).

Entretanto, a reclamada, noprazo concedido - até o dia 02 dedezembro de 2005 (a audiência estavasendo realizada em 23 de novembro) -não trouxe aos autos nem um nem outrodocumento. Com isso, diante daexpressa intimação e do que orienta eestabelece a Súmula n. 338 do ColendoTribunal Superior do Trabalho, tornou-se confessa quanto à matéria fática queseria provada por qualquer dosdocumentos não anexados, outro nãopodendo ser o entendimento destaJustiça, porquanto, com sua condutaomissiva, a acionada fez atrair apresunção de credibilidade da versãoautoral, no tocante à alegadasobrejornada.

Tais as circunstâncias, condenoa reclamada ao pagamento de trêshoras extras por dia, até 21 de setembrode 2001 (quando houve afastamento doreclamante do trabalho), a seremapuradas, com o divisor 220, sobretodas as parcelas de caráter salarial(Súmula n. 264 do TST), acrescidas dosadicionais previstos nos acordoscoletivos ou, na falta, do legal de 50%,com os conseqüentes reflexos sobre

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repousos semanais remunerados(domingos e feriados) e daquelas edestes sobre férias com 1/3, 13º saláriose FGTS.

2.3 - Diferenças de adicional depericulosidade

Pelo que se vê da peçadefensiva, o cálculo do adicional depericulosidade tão-somente sobre osalário-base tinha como fundamento aexpressa previsão dessa base calcularnos acordos coletivos de trabalho dacategoria.

Contudo, a antítese enfocadanão merece prosperar.

A determinação de que oadicional de periculosidade doseletricitários seja calculado sobre todasas parcelas salariais tem fundamento naLei n. 7.369/85.

Assim, no conflito entre asnormas, deve prevalecer o princípio danorma mais benéfica, no caso, a legal,sob pena de a negociação coletiva vir ase transformar em meio de reduzir omínimo garantido ao trabalhador.

Mais se reforça, ainda, esseentendimento, quando se nota que essabase de cálculo do adicional depericulosidade - sobre toda aremuneração - está sedimentada najurisprudência, não sendo de se olvidarde que o Colendo Tribunal Superior doTrabalho, tratando do tema, editou aSúmula n. 191, dizendo que “em relaçãoaos eletricitários, o cálculo do adicionalde periculosidade deverá ser efetuadosobre a totalidade das parcelas denatureza salarial” e, reforçando seuentendimento, por sua SDI-I, editou aOrientação Jurisprudencial n. 279, como seguinte teor:

ADICIONAL DE PERICULOSIDADE.ELETRICITÁRIOS. BASE DE

CÁLCULO. LEI N. 7.369/85. ART.1º. INTERPRETAÇÃO. Oadicional de periculosidade doseletricitários deverá sercalculado sobre o conjunto deparcelas de natureza salarial.

Em suma, o adicional sobcomento deveria ter sido calculado,também, sobre outras parcelaspercebidas pelo reclamante, comoanuênio, gratif icação especial de16,67%, gratif icação linha viva,gratif icação eletric./motorista egratificação por função acessória. Nãoo sendo, ao reclamante haverão de serdeferidas as diferenças decorrentes dainclusão delas na base de cálculo doadicional enfocado.

Diante disso, condeno areclamada ao pagamento de diferençasno adicional de periculosidade, emrazão da inclusão em sua base decálculo de todas as parcelas salariais(dentre elas anuênio, gratificaçãoespecial de 16,67% e gratificação porfunção acessória), mais coroláriosreflexos em horas extras, férias com1/3, 13º salários e FGTS.

2.4 - Diferenças de horasextras

No particular, o punctum saliens

da demanda reside em se estabelecerse as horas extras devem ou não,também, ser calculadas sobre oadicional de periculosidade.

A questão, atualmente, estápacificada pelo Colendo TribunalSuperior do Trabalho, através daSúmula n. 264, que manda incluir, nabase de cálculo das horas extras, todasas parcelas salariais, e por meio daSúmula n. 132, em que se lê, em seuinciso I, que “O adicional depericulosidade, pago em caráter

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permanente, integra o cálculo deindenização e de horas extras”(enfatizei).

Desta forma, razão assiste aoreclamante, na pretensão de incluir, nabase de cálculo das horas extras pagas,o adicional supramencionado.

His dictis, condeno a reclamadaao pagamento de diferenças nas horasextras pagas, em razão da inclusão, emsua base de cálculo, do adicional depericulosidade, com as conseqüentesreverberações sobre repousossemanais remunerados e reflexosdaquelas e destas sobre férias com1/3, 13º salários e FGTS.

2.5 - Diferenças em horas desobreaviso

No concernente à acalentadadiferença em horas de sobreaviso, oreclamante só tem razão em parte.

É que o adicional depericulosidade não pode servir de basede cálculo das aludidas horas,precisamente porque, enquanto desobreaviso, o obreiro não estava sujeitoa qualquer risco ensejador do direito aoreferenciado adicional, devendo seraplicado, aqui, o item II da Súmula n.132 da Superior Corte Trabalhista,verbis:

II - Durante as horas desobreaviso, o empregado não seencontra em condições de risco,razão pela qual é incabível aintegração do adicional depericulosidade sobre asmencionadas horas.

O mesmo, entretanto, não valecom referência a outras parcelas denatureza salarial, como gratificaçãoespecial de 16,67%, gratificação linhaviva, gratificação eletric./motorista e

gratificação por função acessória, quedevem integrar a base de cálculo dashoras extras de sobreaviso,entendimento jurisprudencialsedimentado na Súmula n. 229 doColendo Tribunal Superior do Trabalho,que guarda o seguinte teor:

SOBREAVISO. ELETRICITÁRIOS.Por aplicação analógica do art.244, § 2º, da CLT, as horas desobreaviso dos eletricitários sãoremuneradas à base de 1/3sobre a totalidade das parcelasde natureza salarial.

Isso posto, acolhendo, em parte,o pleito autoral, condeno a reclamadaao pagamento de diferenças nas horasde sobreaviso, em razão da inclusão,em sua base de cálculo, de todas asparcelas de caráter salarial, comogratif icação especial de 16,67%,gratificação linha viva, gratificaçãoeletric./motorista e gratificação porfunção acessória, mais conseqüentesreverberações sobre os repousossemanais remunerados e reflexosdaquelas e destas sobre férias com1/3, 13º salários e FGTS.

2.6 - FGTS com 40% sobreparcelas

Incidindo FGTS sobre todas asverbas salariais, inclusive quandoforem reverberações de outrasparcelas, a teor do que dispõe o art. 15da Lei n. 8.036/90, acolho o pedido denúmero 4 da petição inicial e condenoa reclamada a pagar o correspondenteà incidência do mesmo sobremencionadas, inclusive sobre osreflexos de outras parcelas em RSRse 13º salários, indeferindo, porém, amulta de 40% sobre o total apurado,em razão de o reclamante não ter sido

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imotivadamente dispensado e, assim,não fazer jus ao acréscimo, consoantese infere do § 1º do art. 18 dosupracitado Diploma Legal.

2.7 - Acidente do trabalho esuas conseqüências - Nexo causal ouconcausal entre a invalidez doreclamante e o acidente ou suasocupações na reclamada

A ocorrência do acidente dotrabalho é incontroversa, máximeconsiderando que a reclamada emitiu aCAT alusiva ao mesmo, segundodocumentos incrustados nos autos.

Resta estabelecer como se deue se houve ou não culpa empresária emsua ocorrência e seu nexo causal ouconcausal com a posterior invalidez doreclamante, até para se poder dizer sea reclamada tem ou nãoresponsabilidade pelos danos que oreclamante lhe imputa na exordial.

Pela elogiável apuração pericial,consistente em detida análise de todosos documentos médico-laborais ehistórico clínico do reclamante e emcompleto exame físico no referido, maiscotejo de tudo com a sintomatologiavisualizada e as conseqüências nelenotadas e a narração, do reclamante ena CAT, a respeito do incontroversoacidente ocorrido, não é difícil concluirque a reclamada foi, sim, culpada, pornegligência, pela sua ocorrência.

Do que se depreende dasconstatações do perito oficial, duasversões existem para o acidente laboral:a primeira, de que “ao mudar de posiçãosobre a torre número 01B da LTCaratinga-Ipanema, torceu a coluna” e,a segunda, de que “no dia do acidente,03 funcionários novatos na equipeestavam segurando uma cruzeta (quepesa aproximadamente 150kg -informação do reclamante), utilizando-

se de um moitão (dispositivo de traçãocomposto de corda e roldanas) e, àsolicitação do encarregado, malcompreendida pelos 03 funcionários,soltaram a corda, fazendo cair a pesadapeça sobre o seu ombro direito,ocasionando uma dor aguda na colunacervical e lombar com irradiação paraos membros superiores e inferiores,respectivamente” (f. 781).

Analisando o acidente, o peritoassevera que a ausência de umainvestigação do acidente, pelareclamada (imperativo de algumas NRsdo Ministério do Trabalho), impede umaconclusão definitiva sobre comoaconteceu, mas ressalta que oreclamante, até então ativo nos seusmisteres funcionais, não mais pôdelaborar, passando a ficar acometido porosteartrose de coluna cervical, patologiadegenerativa, de evolução bem lenta egradual.

Respondendo aos quesitos, operito, dentre outras respostas,esclareceu que o reclamante, com oacidente, “teve uma crise aguda delombalgia provocada por compressãode raízes nervosas secundárias eprotrusão de discos invertebrais L3-L4e L4-L5, tendo, também, umacervicobraquialgia aguda provocada porpinçamento de raízes nervosassecundárias aos bicos de papagaio nasvértebras cervicais”, não tendo, mais,retornado ao trabalho e aposentando-se dez meses após o afastamento.

Profunda análise do laudopericial que, profundamente, também,examinou a situação do reclamantedesde antes de sua admissão noemprego, conduz à certeza de que,qualquer que tenha sido o modo doacidente, o mesmo só ocorreu porquea reclamada ou foi negligente em apuraras condições físicas do reclamante paraaquela atividade (subir em uma torre),

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decorrentes de sua saúde cervical, oufoi imprudente em escalar pessoasnovatas que, desatentas à ordem doencarregado, culminaram por fazer comque um objeto de cerca de 150kgbatesse no ombro do reclamante, comas conseqüências visualizadas nolaudo.

Seja como for, o reclamante,sadio ao tempo de sua admissão,afastou-se da reclamada inválido e comnítidas seqüelas, não sendo fastidiosodizer que, se a empresa não provou quefoi dele a culpa pelo acidente, é de sepresumir que foi dela, ainda mais que,mais uma vez negligente, sequerdiligenciou investigação de como sedeu, até para prevenir a ocorrência deoutro similar.

Ante o expendido, atento,principalmente, à excelente apuraçãopericial, declaro, para todos os fins eefeitos, que a reclamada, pornegligência e imprudência, foi culpadapelo acidente sofrido pelo reclamante,aquela representada por não levar emconta os sintomas de problemascervicais no obreiro, e próprios para aatividade que estava a exercer, e esta,em sendo afastada aquela, por escalartrês novatos para acompanhar oreclamante que, desatentos à ordem doencarregado, deixaram com que umapeça de cerca de 150kg caísse sobre omesmo.

2.8 - Indenização por danosmorais e materiais

A pretensão do reclamante versasobre reparação de danos morais emateriais, estes pela não-percepção devalores que, segundo ele, deixou dereceber desde seu afastamento edeixará de receber até os setenta anosde idade, levando-se em conta que ficouinválido para o exercício de sua função.

Na hipótese vertente, não hádúvida, analisando os documentosmédico-laboratoriais do reclamante e olaudo pericial, que a invalidez resultou,cumulativamente, do acidente por elesofrido e do trabalho com sintomatologiade problemas cervicais. Ou seja, tevecausa e concausa nas ocupações porele desenvolvidas na acionada.

Quanto à incapacidadelaborativa do reclamante é a mesmainquestionável, haja vista que o INSS lhedeferiu auxílio-doença, e,posteriormente, visualizando impossívela recuperação de sua aptidão laboral,deferiu-lhe aposentadoria por invalidez,tudo conforme se depreende dedocumentos previdenciários incrustadosnos autos. Logo, não está passível dequestionamento, salvo se, futuramente,vier o Órgão a dizer o contrário, o queainda não aconteceu.

Por outro lado, como já ditoalhures, a reclamada foi negligente eimprudente, resultando de sua condutanão só o agravamento da doença de quejá estava acometido o reclamante,como, também, por causa dela, ainvalidez, gerada com o que aconteceuno incontroverso acidente laboral. Logo,deve reparar os danos sofridos por esta,como bem elucida o ilustre Juiz e juristaSebastião Geraldo de Oliveira, Proteção

jurídica à saúde do trabalhador, p. 185,cujos ensinamentos tomo como razõesde decidir.

O seguro socialobrigatório, entretanto, nãoexime o empregador do dever dediligência, de garantir o direito aoambiente de trabalho saudável eà redução dos riscos inerentesao trabalho, por meio de normasde saúde, higiene e segurança.Assim, quando o empregadordescuidado de seus deveres

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concorrer para o evento doacidente com dolo ou culpa, poração ou omissão, ficacaracterizado o ato ilícito,gerando o direito à reparação denatureza civil, independente dacobertura acidenciária. A rigor, acausa do acidente, nessahipótese, não decorre dotrabalho, mas dodescumprimento dos devereslegais atribuídos ao empregador.

Sabe-se, por curial, que quemcaracteriza se uma determinada doençaé ou não equiparada a acidente dotrabalho, nos termos do art. 122 da Lein. 8.213/91, é o INSS e este, quandoemitida a CAT, não teve dúvida emconcluir pela existência de nexo causalentre a doença/lesão que porta oreclamante e seu trabalho nareclamada, tanto que o benefícioprevidenciário concedido foi de caráteracidentário. De qualquer modo, se areclamada emitiu a CAT e nãodiligenciou uma ampla investigação doacidente, fez presumir sua ocorrência eo nexo entre este e a invalidez doreclamante.

A negligência patronal é nítida,não sendo fastidioso dizer que este foium dos acidentes ocorridos comempregados da reclamada ematividades similares às do reclamante.

Somando-se tudo isso ao fato deque o reclamante é empregado dareclamada desde 1987, quando erasadio; que não há, no histórico doreclamante, queixas quanto a eventualincapacidade laborativa e, finalmente,que foi aposentado por invalidez, dúvidanão tenho de que sua doença/lesão éfruto de negligência empresária, e que,portanto, é a reclamada, sim, culpadapela incapacidade laborativa do autor edas seqüelas físicas e psíquicas que

carrega em conseqüência da moléstia,por descuramento dos deveres legais deassegurar bom ambiente e segurançano trabalho de seu empregado.

Sendo certo que essedescumprimento dos deveres legais deempregador constitui culpa strictosensu, capaz de gerar direito àreparação dos danos sofridos, a teor dodisposto nos artigos 186, 927, 949 e950, todos do Código Civil, mormenteporque induvidoso o nexo causal entrea injuricidade da omissão patronal e omal sofrido pelo reclamante, não hádúvida de que deve a reclamada sercompelida a fazê-la, como bemdigressado por brilhantes acórdãos doEg. TRT Doméstico, que peço vêniapara colacionar, também, como razõesde decidir:

ACIDENTE DO TRABALHO -INDENIZAÇÃO POR DANOSMATERIAIS E MORAIS -NEGLIGÊNCIA DOEMPREGADOR. Aresponsabilidade civil doempregador pelo acidente dotrabalho está prevista no incisoXXVIII do artigo 7º daConstituição da República queassegura ao empregado o direitoao seguro contra acidente dotrabalho, a cargo do empregador,sem excluir a indenização a queeste está obrigado, quandoincorrer em dolo ou culpa. Deonde se extrai que o dever deindenizar decorre daresponsabilidade subjetiva doagente, seja por dolo, seja porimprudência, negligência ouimperícia. Ressalte-se que odispositivo constitucional acimareferido não distingue grau deculpabilidade do empregador,sendo devida a indenização

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comum por acidente do trabalhoainda que levíssima a culpa dopatrão. Apenas nas hipóteses doacidente ocorrer por culpaexclusiva da vítima, por casofortuito ou força maior, não cabereparação civil por parte doempregador.(AC. do TRT da 3ª Região no RO00636-2003-031-03-00-4, 1ªTurma, Rel. Juiz MauricioGodinho Delgado, in Revista n.

70 do TRT 3ª Região, p. 202)

RESPONSABILIDADE CIVIL -CULPA - RISCO PROFISSIONAL- NEXO DE CAUSALIDADE. Asteorias a respeito daresponsabilidade civil peloacidente do trabalho evoluíramda responsabilidadeextracontratual ou aquiliana paraa responsabilidade contratual,onde raramente o trabalhadorconseguia desincumbir-se deseu encargo probatório. Depois,evoluiu-se para a teoria daresponsabilidade objetiva(sempre prevista em lei) e,finalmente, para a teoria do riscoprofissional, estágio em que hojenos encontramos e que ganhourealce com o parágrafo único doart. 927 do Código Civil de 2002,que estabelece aresponsabilidade decorrente dorisco normal que oferece aatividade normalmentedesenvolvida e que gera riquezaao empregador. A leitura doinciso XXVIII do art. 7º da CR,portanto, faz-se à luz da teoriada culpa e do risco e, sob talenfoque, deve ser apreciada apretensão dos trabalhadores,ainda mais quando se cuida deacidente do trabalho que retira a

incapacidade laborativa dotrabalhador e solapa o trabalhodo primado a que foi erigido pornorma constitucional, conformenossa Ordem Social (artigo 193da CR). A teoria do riscoprofissional, assim, transfere aoempregador o ônus da prova dainexistência de culpa quanto aodano sofrido pelo trabalhador noexercício normal de suasatividades a quem se atribui, porseu turno, a prova do nexo decausalidade e do dano verificado.(AC. do TRT da 3ª Região, no RO00683-2004-043-03-00-9, 5ªTurma, Rel. Juiz Emerson JoséAlves Lage, in Revista n. 70 do

TRT 3ª Região, p. 203/204)

Presentes, no caso, os requisitosconfiguradores da responsabilidade civilda acionada, quais sejam, a ocorrênciado dano, a relação de causalidade entreo trabalho desenvolvido pelo reclamantee a culpa da empregadora, a obrigaçãode indenizar é lógico corolário daaplicação do art. 186 do Código Civil.

Resta, por conseguinte,estabelecer-se o quantum pecuniário dareparação dos danos sofridos peloreclamante e se serão consideradostanto os de ordem material quanto osde caráter moral.

No concernente aos alegadosdanos materiais, os sofridos peloreclamante, se parametrados no quedetermina o art. 932 do Código Civil, sãoapenas as diferenças entre os valoresmensais de seu benefício previdenciáriode aposentadoria por invalidez e o quereceberia da reclamada, se continuassea prestar-lhe serviços, enquanto vidativesse ou até que completasse setentaanos de idade, como, aliás, parece sera pretensão deduzida na peça deexórdio.

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Quadra registrar que os danosmorais são perfeitamente cumuláveiscom os materiais e não sãocompensáveis com quaisquer valorespercebidos pelo reclamante daPrevidência Social, frente àsdisposições ínsitas na Súmula n. 229 doSupremo Tribunal Federal e na Súmulan. 37 do Colendo Superior Tribunal deJustiça. Contudo, tendo em vista quenão pode uma ação servir paraenriquecimento sem causa, a deduçãodo que o reclamante recebe e receberádo INSS, a título de aposentadoria porinvalidez, por se tratar de efetivaremuneração em seu prol, do totaldeferido a título de indenização pordanos materiais, deve ocorrer.

É que sempre se deve terpresente que a indenização, nessescasos, serve para reparar o que oofendido perdeu ou deixou de ganhar(no caso, o que deixou de ganharmensalmente, em razão de aaposentadoria ter valor menor que aremuneração mensal auferida nareclamada).

Quanto aos danos morais,sabidamente imensuráveis, tomam-seemprestados os seguintes parâmetros,insertos em decisão do Egrégio Tribunalde Alçada mineiro, da lavra do Juiz PárisPena:

Em matéria de dano moral, ovalor da indenização há de sersuficiente tanto para facilitar aque o ofendido obtenha lenitivospara sua dor, não pelaquantificação em termosmateriais, como, também,porque, mercê da indenizaçãorespectiva, poderá cercar-se decondição de sobrevivência comsua dignidade de pessoahumana, tornando-a mais aptaao enfrentamento diuturno de

sua deficiência. Além disso, talcondenação tem o efeitopedagógico, no sentido de tornara sociedade efetivamente maishumana, colocando-a sob aégide dos princípios éticosimpedientes e dissuasivos decondutas quais a que teve a ré.(TAMG, 1ª Cam. Cível, na AP.Cível n. 213.381-9, Rel. JuizPáris Pena, DJMG de13.06.1996)

Ou, de igual modo, as preciosaslições de Caio Mário da Silva Pereira:

...na reparação por dano moralestão conjugados dois motivos,ou duas concausas: I) puniçãoao infrator pelo fato de haverofendido um bem jurídico davítima, posto que imaterial; II) pôrnas mãos do ofendido uma somaque não é o pretium doloris,porém o meio de lhe oferecer aoportunidade de conseguir umasatisfação de qualquer espécie,seja de ordem intelectual oumoral, seja mesmo de cunhomaterial [...] o que pode serobtido “no fato” de saber que estasoma em dinheiro pode amenizara amargura da ofensa e dequalquer maneira o desejo devingança. A isso é de acrescerque na reparação por dano moralinsere-se a solidariedade socialà vítima [...].(In Responsabilidade civil. Ed.Forense, 6. ed. p. 317 usque

318)

Importante salientar e relevarque a reparação do dano moral ocorrepela indenização, não se tratando deestabelecer um preço para a dor sofridapela vítima, mas de criar possibilidades

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para que esta desenvolva novasatividades ou entretenimentos paravencer as recordações dolorosas esuperar a dor.

Dir-se-á, no caso em apreço, queo reclamante pode ter uma vida quasenormal, segundo detectado pela perícialevada a cabo, e que, por isso, pelomenos em parte, estariam superados osmotivos determinantes para umaindenização; contudo, a dor que lhedilacerou a alma, por sentir-se um inútile incapaz, evidentemente ainda invadeo seu íntimo, até porque jamais poderáexercer as atividades de seu ofício, nãosendo fastidioso afirmar que, jovemainda (quarenta e dois anos, na época),passou a ser um aposentado porinvalidez. O sofrimento, nesse caso,deriva muito mais de saber que uma dascausas de inatividade resultou deomissão e negligência de suaempregadora de mais de treze anos.

Considerando, para arbitramentoda indenização por danos morais, o graude culpa da empregadora como omédio, já que, a par de não ter levado aefeito nenhuma ação para prevenir oacidente (poderia ter deixado de escalaro reclamante para o serviço em razãode seus problemas cervicais anteriores),ainda escalou novatos para trabalharemcom o autor, que, segundo a versãodeste, causaram o acidente do trabalho;os danos sofridos pelo reclamante,como graves, uma vez que está inválidopara o trabalho, em especial para o seuofício e, finalmente, as condiçõeseconômicas do reclamante e dareclamada, aquelas as de uma pessoade classe média baixa e desta uma dasmaiores empresas de energia elétricado País, tudo sob as luzes dossupracitados dispositivos do CódigoCivil em vigor, invocados por analogia,entendo de bom alvitre em arbitrar odano moral em R$75.000,00 (setenta e

cinco mil reais), a serem pagos emparcela única como forma de amenizaro sofrimento do reclamante e propiciar-lhe alguma melhora de vida.

Ex positis, condeno a reclamadaa indenizar os danos materiais e moraissofridos pelo reclamante, estes com asupra-arbitrada quantia de R$75.000,00e aqueles mediante o pagamento dasdiferenças entre os valores que oreclamante receberia na sua função nareclamada (considerando como base aúltima remuneração efetivamenterecebida, com as devidas atualizações)e o que recebeu e está recebendo atítulo de aposentadoria por invalidez,enquanto vida tiver ou até quandocompletar setenta anos de idade, tudocomo se apurar em liquidação.

2.9 - Despesas de tratamento

Reconhecida a culpa dareclamada pela doença do reclamantee sendo certo que essa doença exigetratamento, inclusive para se manter aqualidade de vida de seu portador, tantode natureza conservadora quantofisioterápica, atento ao que estabelecemos artigos 949 e 950 do Código Civil,condeno aquela a arcar com asdespesas de tratamento deste, não sóressarcindo as já, comprovadamente,efetuadas, como aquelas que,indispensavelmente, necessitarem deser feitas com pagamento, devendo oquantum de umas e outras ser apurado,mediante liquidação, se necessário porarbitramento, levada a cabo com auxíliode um médico.

Ressalte-se que a necessidadeou não de médico, psicólogo, psiquiatra,terapeuta, exames em geral emedicamentos será levada na apuraçãomédica suso aludida, ficando claro quesomente serão cobertas pela reclamadaas despesas de tratamento

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relacionadas, ainda queconcausalmente, com a doençareconhecida por esta sentença.

2.10 - Seguro contra acidentedo trabalho

Acoimando a reclamada de terfalhado ao contratar seguro contraacidente do trabalho sem incluir nacobertura a hérnia discal e, com isso,dando azo a que a seguradora senegasse a lhe pagar a indenizaçãorelacionada com o acidente que sofreu,o reclamante pleiteia a condenação dareferida ao pagamento a que faria jusse o seguro tivesse, segundo ele, sidocorretamente contratado.

Conquanto impressione, e bem,este Magistrado a fundamentação fáticalançada na peça exordial a respeito dothema decidendum, óbice intransponívelimpede o acolhimento da postulação.

É que ante o princípio dalegalidade, pelo qual ninguém éobrigado a fazer ou não fazer algumacoisa senão em virtude da lei, segundoo mandamento constitucional ínsito noart. 5º da Lei Maior, a reclamada, àmíngua de norma legal ou convencionalestabelecedora da obrigação, nãoestava obrigada a contratar o seguroque se inquina falho. Destarte, fazendo-o por presumida mera liberalidade, nãoestava, também, obrigada a contratarampla cobertura para o seguro.

Lembre-se de que o segurocontra acidente do trabalho,determinado no art. 7º da ConstituiçãoFederal, está regulado pelos artigos 18e 19 da Lei n. 8.213/91, estando,portanto, a cargo da Previdência Social,precisamente para que esta possa,como tem feito, pagar as vítimas deacidentes do trabalho benefícios devalores superiores aos benefíciosprevidenciários comuns.

Por conseguinte, não sendorazoável exigir-se da reclamadacobertura ampla em um seguro paraacidente do trabalho que sequer estavaobrigada a contratar, o caminho do pleitoautoral em apreço é dodesagasalhamento, como lógicocorolário.

Isso dito, julgo improcedente opedido de número 7, do elenco da peçavestibular.

2.11 - Correção monetária ejuros

As prestações de tratosucessivo, vencidas ou que sevencerem até as suas satisfações,serão corrigidas a partir do sexto dia útilsubseqüente ao mês de exigibilidade,por aplicação, ainda que analógica, daSúmula n. 381 do Colendo TribunalSuperior do Trabalho, esclarecido quea indenização por danos morais éconsiderada exigível na data destasentença, visto que o valor fixado serefere ao dia do julgamento.

As mesmas prestações, emsendo vincendas, serão corrigidas nadata-base da categoria profissional doreclamante, pelo índice de reajustesalarial a ela aplicável, ou, na falta dedefinição do percentual de reajuste, pelode oscilação do IPC no anoimediatamente antecedente.

Os juros serão devidos, quantoa todas as parcelas, menos àsvincendas, sobre o principal corrigido,a partir do ajuizamento desta ação,incidindo, no mais, se houverinadimplemento, a partir dos respectivosvencimentos, assim considerado,sempre, o quinto dia útil de cada mês.

2.12 - Compensação

Por repúdio ao enriquecimento

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sem causa, determino compensaçãodos valores comprovadamente pagos aidênticos títulos, desde que a origemdos pagamentos efetuados seja amesma que ensejou condenação nesteprocesso.

3 - CONCLUSÃO DISPOSITIVA

PELO EXPOSTO e mais que dosautos consta, RECONHECENDO APRESCRIÇÃO QÜINQÜENAL, notocante a todos os direitos cuja lesãotenha ocorrido até 31 de outubro de 2000,e, conseqüentemente, DECLARANDOEXTINTO O PROCESSO, COMJULGAMENTO DO MÉRITO, quantoaos mesmos, no mais, JULGOPROCEDENTE EM PARTE a pretensãoautoral para o fim de CONDENAR areclamada CEMIG DISTRIBUIÇÃO S.A.a pagar ao reclamante JOSÉDOMINGOS SOBRINHO, ambosqualificados nos autos, conforme seapurar em liquidação, o seguinte:

a) três horas extras por dia, até21 de setembro de 2001 (quando houveafastamento do reclamante do trabalho),a serem apuradas, com o divisor 220,sobre todas as verbas de caráter salarial(Súmula n. 264 do TST), acrescidas dosadicionais previstos nos acordoscoletivos ou, na falta, do legal de 50%com os conseqüentes reflexos sobrerepousos semanais remunerados(domingos e feriados) e daquelas edestes sobre férias com 1/3, 13º saláriose FGTS;

b) diferenças no adicional depericulosidade, em razão da inclusãoem sua base de cálculo de todas asparcelas salariais (dentre elas, anuênio,gratificação especial de 16,67% egratificação por função acessória), maiscorolários reflexos em horas extras,férias com 1/3, 13º salários e FGTS;

c) diferenças nas horas extraspagas, em razão da inclusão, em suabase de cálculo, do adicional depericulosidade, com as conseqüentesreverberações sobre repousossemanais remunerados e reflexosdaquelas e destas sobre férias com1/3, 13º salários e FGTS;

d) diferenças nas horas desobreaviso, em razão da inclusão, emsua base de cálculo, de todas asparcelas de caráter salarial, comogratif icação especial de 16,67%,gratificação linha viva, gratificaçãoeletric./motorista e gratificação porfunção acessória, mais conseqüentesreverberações sobre os repousossemanais remunerados e reflexosdaquelas e destas sobre férias com1/3, 13º salários e FGTS;

e) FGTS sobre todas as verbassalariais, inclusive reflexivas de outras,como repercussões de outras parcelasem repousos semanais remunerados eem 13º salários;

f) indenização por danos moraisno valor de R$75.000,00 (setenta ecinco mil reais) na data desta sentença;

g) indenização por danosmateriais, mediante o pagamento dasdiferenças entre os valores que oreclamante receberia na sua função nareclamada (considerando como base aúltima remuneração efetivamentepercebida, com as devidasatualizações) e o que recebeu e estárecebendo a título de aposentadoria porinvalidez, enquanto vida tiver ou atéquando completar setenta anos deidade;

h) indenização correspondenteàs despesas de tratamento doreclamante, não só ressarcindo as jáefetuadas (como se apurar emliquidação), como aquelas que,indispensavelmente, necessitarem deser feitas, devendo a necessidade ou

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não de médico, psicólogo, psiquiatra,terapeuta ocupacional, exames em gerale medicamentos, bem como o quantum

de tais despesas ser levantada emliquidação, por arbitramento, levada acabo com auxílio de um médiconomeado pelo juízo.

Compensar-se-ão, a favor dareclamada, os valores comprovadamentepagos, observado, porém, o quedetermina a fundamentação (subitem 2.12supra).

Determino a incidência decorreção monetária sobre os valoresresultantes da condenação e juros legais,sobre o principal corrigido, na formaprevista na fundamentação (subitem 2.11supra), bem assim a dedução dascontribuições previdenciárias a cargo doempregado, incidentes, mês a mês,sobre as verbas salariais, observados ospercentuais e o teto determinados peloDecreto n. 3.048/99. Transitada emjulgado a sentença de liquidação, àreclamada caberá diligenciar o imediatorecolhimento das contribuições devidasao INSS, partes patronal e doempregado, sobre todas as verbassalariais condenatórias (todas elencadasacima, exceto indenizações por danosmorais e materiais e a tratamento de

saúde e reflexos em férias indenizadascom 1/3 e FGTS), sob pena de suaexecução, nestes mesmos autos, nostermos do art. 114 da ConstituiçãoFederal, devendo observarem-se,oportunamente, todas as disposiçõesceletárias advindas com a vigência daLei n. 10.035, de 25 de outubro de 2000.

Autorizo o desconto do Impostode Renda na Fonte, nos termos do art.46 da Lei n. 8.541/92, observando,porém, que não haverá sua incidênciasobre indenização por danos morais,conforme reiteradas decisões doColendo Superior Tribunal de Justiça.

Considerando a util idadeprobatória, o excelente trabalhoprestado e as despesas ocorridas pararealização da perícia, arbitro oshonorários do Dr. Marcus ViníciusGonzaga em R$1.250,00, valor que,corrigido, a partir desta data, pelosíndices determinados pelo Regulamentoda Lei n. 6.899/81, será suportado pelareclamada, como sucumbente no objetoda perícia.

Custas, pela reclamada, sobre ovalor de R$100.000,00, ora arbitrado àcondenação, no importe de R$2.000,00.

Sentença publicada emaudiência, dela já cientes as partes.

NADA MAIS.

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 01133/05DATA: 17.04.2006DECISÃO DA VARA DO TRABALHO DE ALFENAS - MGJuiz Presidente: Dr. FREDERICO LEOPOLDO PEREIRA

Aos dezessete dias do mês de abril do ano de 2006, às 17h56min, em suasede, a Vara do Trabalho de Alfenas - MG, sob a Presidência do MM. Juiz doTrabalho, Dr. FREDERICO LEOPOLDO PEREIRA, deu início à audiência dejulgamento da ação ajuizada por SANDRA MARA RELÍQUIA DOS SANTOS emface de UNIFI DO BRASIL LTDA.

Aberta a audiência foram, de ordem do MM. Juiz Presidente, apregoadasas partes, ausentes.

A seguir foi proferida a seguinte decisão:

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RELATÓRIO

SANDRA MARA RELÍQUIA DOSSANTOS ajuizou ação trabalhista emface de UNIFI DO BRASIL LTDA.,aduzindo, em suma, que: foi admitidaaos serviços da reclamada aos treze deagosto de 1998; que foi dispensadainjustamente aos dezesseis de julho de2005; que quando de sua dispensa,encontrava-se inapta para o trabalho;que sua última remuneração foi noimporte de R$883,06; que sua demissãofoi arbitrária, já que acometida dedoença denominada neoplasia do reto;que quando de sua dispensa,encontrava-se em acompanhamentopós-operatório e impedida de trabalhar;que no dia vinte de julho de 2005,submeteu-se à consulta com a médicada reclamada, a qual atestou seu estadode incapacidade para o trabalho; que orelatório, o laudo e o ASO comprovamsua incapacidade laborativa; querequereu a conversão do auxílio-doençaem aposentadoria por invalidez, já quese encontra incapacitada para otrabalho; que contribuía para um fundode previdência privada e seguro de vidaem grupo quando se encontravavinculada à reclamada; que quandoestava afastada, a reclamada lhedescontou, em sua rescisão contratual,o valor de R$1.907,97, sob o argumentode se tratar de “ajuste/insuf.saldo”; quepor ser ilegal e arbitrária deverá ter suarescisão contratual anulada; quecumpria jornada de segunda a sexta-feira, das sete às dezenove/vinte horas,com intervalo de uma hora para almoçoe dez minutos para lanche e aossábados, das sete às doze horas; que,diante da perda de sua capacidade, fazjus ao pensionamento como forma decompensar a depreciação das suascondições de trabalho, uma vez que suadispensa constitui ato ilícito do

empregador por não se encontrar aptaao trabalho. Pleiteia a condenação dareclamada ao cumprimento dasobrigações relacionadas às f. 14/15.Com a inicial vieram os documentos def. 16/90.

Às f. 93/94, restou indeferido opedido de concessão de tutelaantecipada.

A reclamante trouxe, aos autos(f. 99/102), pedido de emenda à inicial,alegando que: trabalhava em sistema deturnos, sendo que, em determinadasépocas, laborava das seis às quatorzehoras sem que lhe fosse concedida umahora de intervalo para alimentação; quealmoçava no refeitório da própriaempresa; que eram consumidosaproximados trinta minutos paraalimentação; que, por algumas vezes,seu turno era transferido, passando alaborar das quatorze às vinte e duashoras; que, para cobrir férias, chegou atrabalhar das vinte e duas às seis horas;que chegou ainda a trabalhar no horáriodas sete e trinta às dezessete e trintahoras, de segunda a sexta-feira, comuma hora de intervalo para alimentação;que, por motivos de saúde, afastou-sedos serviços em fevereiro de 2003; quegozou todos os períodos de férias; quenão recebeu os reflexos do adicionalnoturno em repousos semanais, férias,gratificações natalinas, FGTS e avisoprévio, pleiteando os pedidos elencadosàs f. 101/102.

Frustrada a primeira tentativaconciliatória (f. 117), apresentou areclamada defesa escrita às f. 118/176,aduzindo, em suma, o seguinte: que ospedidos iniciais não se encontramliquidados; que é parte ilegítima parafigurar no pólo passivo da presente lide;que a petição inicial é inepta, uma vezque dos fatos narrados na inicial nãodecorre logicamente a conclusão, e opedido de arbitramento do dano não

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guarda proporção ou correlação comnenhuma causa de pedir; que o pedidode indenização dos danos morais éimpossível; que inexiste aresponsabilidade civil da reclamadadiante da ausência dos elementoscaracterizadores do ato ilícito; que entrevinte de fevereiro de 2003 e trinta dejunho de 2005 a reclamante esteveafastada de seus serviços, recebendoauxílio-doença; que não pode sercivilmente responsabilizada por nãohaver ocorrido culpa da empresa nadoença que acometeu a reclamante;que a reclamante não é portadora deestabilidade; que na ocasião dahomologação de sua rescisão contratualperante o sindicato de classe, nenhumaressalva foi efetuada pela reclamante;que todos os direitos da reclamanteanteriores a dois de setembro de 2000estão prescritos; que, em havendocondenação, deverão ser compensadosos pagamentos já efetuados pelareclamada. Contestam às f. 151/176todos os pleitos firmados pelareclamante.

A defesa veio acompanhada dosdocumentos de f. 177/414.

Sobre os documentos,manifestou-se a reclamante às f. 416/421.

À f. 422, o juízo determinou aemenda da petição inicial para fazerconstar a liquidação dos pedidosformulados na ingressual.

A reclamante apresentou petiçãoàs f. 423/425, atendendo àdeterminação judicial.

Audiência de instrução realizadaàs f. 427/428, com o registro dosdepoimentos pessoais recíprocos,frustrada a segunda tentativaconciliatória, deliberou o juízo oencerramento da instrução processual,registrando o protesto das partes quepretendiam a oitiva de suas

testemunhas, restando designadojulgamento para a presente data.

É o relatório, em apertadasíntese.

Fundamentos

Ausência de quantificação dospedidos para qualificação do rito

Pretende a reclamada a extinçãodo feito sem a apreciação do mérito porhaver a reclamante formulado pedidosilíquidos.

A omissão foi sanada às f. 423/425, restando prejudicada a pretensãoempresária.

Rejeita-se.

Ilegitimidade de parte

A reclamada alega ser parteilegítima para figurar no pólo passivo dapresente lide, aduzindo ser do InstitutoNacional do Seguro Social aresponsabilidade pelos danosdecorrentes de acidente do trabalho.

Contudo, é parte legítima no feitoaquele a quem se atribui a condição desujeito passivo da obrigação deduzidaem juízo e isto ocorre em relação àqueladefendente.

A apreciação quanto à suaresponsabilidade é matéria de mérito,descabida a discussão em prefacial.

Rejeita-se.

Inépcia da inicial - Pedidos quenão decorrem logicamente daconclusão e falta de critériosfundamentados para o arbitramento dosdanos

A reclamada pretende a extinçãodo feito sem a apreciação do mérito, aofundamento de inépcia da peçaingressual.

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A inicial, no processo trabalhista,não pode ser tratada com o mesmo rigorque no Processo Civil, dada a redaçãomenos exigente do artigo 840 da CLT ea informalidade que deve imperar nestaEspecializada que admite até o jus

postulandi das partes.Assim, preenchendo a inicial os

requisitos do artigo 840 da CLT epossibilitando a defesa de mérito da ré,não se há de falar em inépcia, conformemostra a ementa a seguir transcrita:

A inépcia da inicial é medidaexcepcionalíssima no Processodo Trabalho, devendo serdeclarada apenas quando a peçaexordial não permitir à partecontrária articular sua defesa,contrariando, assim, o princípiodo contraditório, o qual deveembasar todo o procedimentoprocessual.(TRT 3ª Região, RO-0271/98,Rel. Juiz José Eustáquio deVasconcelos, publ. 23.03.99)

Rejeita-se.

Impossibil idade jurídica dopedido

A preliminar de impossibilidadejurídica do pedido não merece guarida.

Pedido juridicamente impossívelé aquele não previsto ou vedado peloordenamento jurídico pátrio.

As pretensões enfileiradas nainicial têm na CLT e na legislaçãocomplementar a sua fonte de direito.

Assim, juridicamente possíveissão os pedidos da inicial.

A procedência ou não dospedidos traduz necessidade deenfrentamento da questão de fundo dolitígio, não sendo possível opronunciamento em sede de preliminar.

Horas extras

Narrou a reclamante à f. 07 queseu horário de trabalho era de segundaa sexta-feira das sete às dezenove/vintehoras com uma hora de intervalo paraalimentação, pleiteando à f. 14 (letra “e”)o recebimento das horas extraslaboradas.

Já à f. 100, aduz a reclamanteque trabalhava em sistemas de turnos,sendo que, em determinadas épocas,sua jornada de trabalho era das seis àsquatorze horas, com intervalo de umahora para alimentação, o qual não eragozado em sua totalidade, requerendo,à f. 102 (item IV), o recebimento diáriode trinta minutos pela supressão parcialdo intervalo intrajornada.

À f. 102, ao final da peça assimse manifestou a reclamante: “Quantoaos demais pedidos e tópicos jálançados na inicial, devem ser mantidosna sua integralidade.”

Pelo acima exposto, o que seextrai do, data venia, tumulto feito pelareclamante, é sua pretensão em receberhoras extras por determinado horário detrabalho e receber horas extrasdecorrentes da supressão do intervalointrajornada em outro horáriotrabalhado. Ora declina a autora gozarde uma hora de intervalo paraalimentação (causa de pedir relativa àshoras extras), ora afirma ela não gozardaquele intervalo (causa de pedirrelativa à supressão do intervalointrajornada). Ressalte-se que mantevea reclamante todos os pedidos e tópicoslançados na inicial, conforme alhurestranscrito.

Pelo acima exposto, resta claroe evidente a incompatibilidade entre ospedidos formulados, restando extintossem a apreciação do mérito, por inépcia,os pleitos de recebimento de horasextras formulados à f. 14 e recebimento

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de horas extras decorrentes dasupressão do intervalo intrajornadaformulado à f. 102, nos termos do incisoI do artigo 267 do CPC, dos incisos I eIV do parágrafo único do artigo 295 edo artigo 769 da CLT.

Inépcia

Formulou a reclamante à f. 101os pedidos de números I e III,destituídos de causa de pedir.

Pedido sem a correspondentecausa de pedir é inepto, nos termos doinciso I do parágrafo único do artigo 295do CPC, restando extintos, sem aapreciação do mérito, referidos pedidos,à luz do inciso I do artigo 267 do CPC.

Reintegração ao emprego

A reclamante manifestou-se à f.431 requerendo a desistência do pleitoinicial de reintegração ao emprego.

Quanto ao pedido de desistêncianão se opôs a reclamada, conformepeça de f. 435/436.

Homologa-se a desistênciarequerida, extinguindo-se sem aapreciação do mérito, nos termos doinciso VIII do artigo 267 do CPC (artigo769 da CLT), o pedido de reintegraçãoao emprego, assim como o de anulaçãoda rescisão contratual efetuada e o depagamento dos salários desde adispensa até a efetiva reintegração.

Prescrição

Devidamente argüida peladefesa, há que se declarar a prescriçãodo direito de ação da reclamanterelativamente aos pleitos anteriores aquatorze de setembro de 2000, nostermos do inciso XXIX do artigo 7º daConstituição Federal, uma vez queatesta o protocolo de f. 03, a propositura

da presente ação em quatorze desetembro de 2005.

Dos danos morais

O que se percebe, em análise àenleada narração dos fatos relativos aodano moral perseguido, é a pretensãoda reclamante em ver-se ressarcidapelo dano moral advindo da doençaadquirida e de sua dispensa arbitrária.

Sob a ótica do artigo 186 da LeiCivil, apenas a ocorrência deresponsabilidade civil subjetiva (culpa)obriga o demandado ao ressarcimentode perdas e danos de caráter materialou moral, em face da prescriçãoconstitucional emergente do incisoXXVIII do artigo 7º da Carta Magna,afastando-se a pretensão da reclamantede vir a juízo bater-se por umaresponsabilidade patronal objetiva.

Dessarte, há que se indagarquanto à existência da trípode sobre aqual se assenta o evento ensejador dodireito à indenização perseguida: dano,nexo de causalidade e culpa.

É incontroverso o fato de ser areclamante portadora de patologia, qualseja, neoplasia maligna, conformeevidencia o laudo médico trazido à f. 25.

Antes de adentrarmos à análiseda existência ou não do nexo decausalidade, há que se abrir umparêntese para se fazer registrar quedoença profissional é aqueladesencadeada pelo exercício dotrabalho peculiar a determinadaatividade ou aquela adquirida oudesencadeada em função de condiçõesespeciais em que o trabalho é realizadoe com ele se relacione diretamente.

Nada obstante não se tenhadeterminado a realização da provatécnica para a averiguação do nexo decausalidade entre o trabalhodesenvolvido pela reclamante e a

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doença diagnosticada, é fato notório queas moléstias oncológicas têm suaorigem em fatores orgânicos, emespecial o genético, cuja influência domeio não tem o condão de desencadeá-las, salvo o contato diário com algunsprodutos considerados cancerígenos, oque não é o caso da reclamante, quelaborava na linha de produção de umaindústria de filamentos.

Não existindo nexo decausalidade entre a moléstia adquiridae o trabalho executado pela reclamante,afastada resta sua pretensão àindenização por danos moraisdecorrentes do evento doença.

Não só pelo acima exposto háque se repelir a pretensão obreira.Pautou o pedido inicial naresponsabilidade objetiva da reclamadaquanto à moléstia adquirida, a qual,conforme alhures examinado, restouafastada por este juízo.

Porém, quanto ao ato dadispensa, razão assiste à reclamante.

O documento de f. 25 demonstraclaramente a evolução do quadro clínicoda autora e o tratamento empregado natentativa de conter o avanço damoléstia.

A reclamante foi submetida aprocedimento cirúrgico em abril de2003, o que culminou com seuafastamento do emprego e gozo doauxílio-doença pela Previdência Socialaté o dia trinta de junho de 2005(documento de f. 44), ocasião em queretornou ao trabalho, sendo dispensadainjustamente dezesseis dias após,mesmo atestando a médica da empresaseu estado de incapacidade laborativa(f. 16).

A questão a ser indagada é:poderia a reclamada proceder àdispensa imotivada da reclamantemesmo atestando o exame demissionalsua incapacidade laborativa?

No entendimento da reclamada,fez ela uso de seu poder diretivo,dispensando a reclamante que não eraportadora de estabilidade no emprego.

Não é bem assim que entendeeste juízo.

Em recente conferência no“Encontro sobre as novas competênciasda Justiça do Trabalho após a EmendaConstitucional de n. 45”, o EminenteMagistrado e Professor MÁRCIO TÚLIOVIANA chamou a atenção para o fatode que a modernidade alberga novostipos de atividade, inclusive industrial,tais como a reciclagem.

E, com seu peculiar toque defilósofo e poeta, traçou um paralelosobre a instabilidade dos trabalhadoresno emprego, dizendo que o laborista éhoje um metalúrgico, amanhã umcatador de papel, depois um alcoólatraou mendigo, justamente porque ostempos hodiernos são também depessoas sujeitas ao descarte.

Coisas de um capitalismo sempeias, que trafega a cavaleiro de umideário neoliberal que suprimequaisquer óticas de cunho humanista oude objetivo social em função do lucro,do maior ganho, automatizando e, piorainda, “reificando” pessoas.

Não deve o empregador,objetivando assegurar a produção,descartar o empregado como se meracoisa o fosse.

O ordenamento jurídico pátrioassegura aos indivíduos direitosfundamentais, e quaisquer condutas quevisem transgredi-los devem ser coibidas.

O contrato de trabalho, comonegócio jurídico que é, na sua execução,deve-se observar o disposto nos artigos113, 187, 421 e 422 do Código Civilbrasileiro, por força do disposto no artigo8º da CLT, que consagram a funçãosocial dos contratos e o princípio daboa-fé contratual:

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Art. 113. Os negócios jurídicosdevem ser interpretadosconforme a boa-fé e os usos dolugar de sua celebração.

Art. 187. Também comete atoilícito o titular de um direito que,ao exercê-lo, excedemanifestamente os limitesimpostos pelo seu fim econômicoou social, pela boa-fé ou pelosbons costumes.

Art. 421. A liberdade de contratarserá exercida em razão e noslimites da função social docontrato.

Art. 422. Os contratantes sãoobrigados a guardar, assim naconclusão do contrato, como emsua execução, os princípios deprobidade e boa-fé.

Em prestígio ao princípio darazoabilidade, não poderia a reclamadaefetuar a dispensa arbitrária dareclamante que se encontravadebilitada, em tratamento de saúde,ainda que a enfermidade não sejacorrelata ao trabalho, no momento demaior necessidade de manutenção doemprego e de sua fonte de renda.

Os dispositivos legais em telaencontram-se em perfeita sintonia comos princípios norteadores do Direito doTrabalho e princípios fundamentais daConstituição Federal, que preconizama proteção da dignidade da pessoahumana, dos valores sociais do trabalho(artigo 1º, incisos III e IV), a construçãode uma sociedade justa e solidária,erradicação da pobreza e dasdesigualdades sociais (artigo 3º, incisosI e III), devendo a atividade econômicaprimar pela valorização do trabalhohumano e assegurar a todos existência

digna, conforme os ditames da justiçasocial (artigo 170, caput), destacando-se ainda a função social da propriedadee a redução das desigualdades sociais(artigo 170, incisos III e VII).

A conduta da reclamada foiarbitrária, discriminatória, abusiva, anti-social, contrária ao ordenamentojurídico e à função social dos contratos,constituindo ato ilícito (artigo 187 doCC), donde emana o direito àindenização pretendida.

Os critérios para a fixação dovalor estão ligados aos aspectossubjetivos das partes envolvidas noevento danoso.

Observando-se a condição daautora, vê-se que se trata de mulherpróxima da maturidade, já fragilizadapela doença e com menor possibilidadede obter nova colocação.

A ré é empresa de grande portecujo capital social e da cifra deR$136.985.050,00.

Tanto pela condição depequenez da autora quanto pelagrandiosidade organizacional epatrimonial da ré, a fixação de“indenização simbólica” frustraria oobjetivo do princípio de tutela da honrasubjetiva e mais ainda diminuiria a auto-estima da demandista. Além do que, nãoatingiria o caráter educativo da puniçãoimposta.

Sendo assim, arbitro aindenização em dez mil reais, valorsujeito à atualização de moeda e jurosde mora a contar desta data.

Adicional noturno

Formula a reclamante à f. 102 oseguinte pedido: “diferenças oriundasdos reflexos do adicional noturno nasverbas rescisórias e no salário daobreira, nos períodos em que trabalhavaà noite, a ser apurado em liquidação de

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sentença, conforme acimamencionado”.

A reclamada se defende,alegando a correção dos cartões deponto e a devida paga do adicionalnoturno e seus reflexos, trazendo aosautos os referidos documentoscomprobatórios.

Em impugnação aosdocumentos, limitou-se a autora ahostilizá-los somente no tocante àincorreção da paga das horas extras.

Competia à reclamante apontar,ao menos por amostragem, conformeela mesma mencionou à f. 101, aexistência das diferenças pretendidas enão lançar sobre os ombros já calejadosdeste Magistrado o encargo de analisara farta documentação trazida à colação.

O pedido improcede.

Restituição de descontos

Insurge-se a reclamante contrao desconto da importância deR$1.907,97 efetuado em sua rescisãocontratual sob a rubrica ajuste/insufic.saldo (TRCT de f. 17).

Alega a reclamada a inépcia dopleito em decorrência da ausência decausa de pedir.

A pretensão obreira encontraagasalho na causa de pedir exposta à f.07, da exordial, quedando improcedentea pretensão da ré de ver o pedido extintosem a apreciação do mérito.

A reclamada se defendeaduzindo, ainda, a legitimidade dosdescontos autorizados pela reclamante,e correspondente a custeio de seguro devida, cooperativa de crédito (empréstimoe capital), farmácia, assistência médica,Clube SESI/Alfenas e que a reclamanteassentiu com o desconto, tanto que suarescisão contratual foi homologada porseu sindicato de classe sem qualquerressalva.

Não existe a anuência tácitavincada pela contestação, já que amelhor exegese da dicção do Verbetede n. 330 do Colendo TST estabelece alimitação relativamente à quitação dosvalores discriminados, não impedindoque o empregado se insurja contradescontos indevidos, o que aliás seriapretender fazer tábula rasa do incisoXXXV do artigo 5º da ConstituiçãoFederal.

O valor do desconto de um milnovecentos e sete reais e noventa e setecentavos estampado no termo derescisão de f. 17/18 peca inicialmentepelo seu caráter aleatório, já que odocumento de f. 256 (recibo salarial domês de dezembro de 2003) estampa umsaldo negativo da autora no importe deR$590,05 o qual foi majorado paraR$1.619,61 no mês seguinte(documento de f. 258).

Por outro lado, a autorizaçãosobre a qual se estriba a defendentepara perpetrar descontos (f. 179/182)remete ao desconto mensal em folha depagamento.

Porém, alterando de formaunilateral e daninha os termos docontrato de trabalho no momento de suarescisão, o que não deixa de arranharcom nulidade plena o artigo 468 da CLT,a reclamada fez incidir o desconto sobreverbas de caráter rescisório e não sobrea contraprestação de trato sucessivo, oque fere de morte a liceidade dadedução.

Desconto ilegal merecerepetição.

O pedido procede.

Da assistência judiciária gratuita

Deferem-se à reclamante osbenefícios da assistência judiciáriagratuita, uma vez que requeridos atempo e modo (f. 15 e 91).

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CONCLUSÃO

Ante o exposto, resolve o juízoda Vara do Trabalho de Alfenas - MGrejeitar as preliminares de ausência dequantificação dos pedidos, ilegitimidadepassiva, inépcia da inicial,impossibilidade jurídica do pedidoopostas pela demandada; declarar ainépcia dos pedidos de recebimento dehoras extras e horas extras decorrentesda supressão do intervalo intrajornadae dos pedidos de número I e III de f.101, extinguindo-os sem a apreciaçãodo mérito, nos termos do inciso I doartigo 267 do CPC; homologar adesistência manifestada pelareclamante quanto ao pedido dereintegração, extinguindo o feito, noparticular, nos termos do inciso VIII doartigo 267 do CPC; declarar prescrito odireito de ação da autora quanto aospedidos anteriores a vinte de setembrode 2000, para julgar PROCEDENTES,EM PARTE, os pedidos da açãotrabalhista intentada por SANDRA

MARA RELÍQUIA DOS SANTOS emface de UNIFI DO BRASIL LTDA.,condenando a reclamada a pagar àreclamante, no prazo de oito dias, oseguinte: a importância de dez mil reais,a título de danos morais emergentes desua dispensa abusiva, atualizáveis apartir desta data e com juros moratóriosa contar da data da propositura da ação;restituição do desconto ilegal efetuadoem ocasião de sua rescisão contratual,no importe de R$1.907,97, com jurosmoratórios desde a propositura dapresente e atualização monetária apartir do ato lesivo.

Não há que se falar emrecolhimentos previdenciários, em facedo caráter indenizatório da condenação.

Custas processuais deR$238,15, calculadas sobreR$11.907,97, valor da condenação, pelareclamada.

Cientes as partes da publicação.Ciência ao INSS.Nada mais havendo, encerrou-

se.

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 95.2005.082.03.00-0DATA: 10.04.2006DECISÃO DA VARA DO TRABALHO DE MONTE AZUL - MGJuíza Substituta: Drª HELEN MABLE CARREÇO ALMEIDA RAMOS

Aos 10 dias do mês de abril de 2006, às 15h57min, a Juíza do TrabalhoHelen Mable Carreço Almeida Ramos publicou nos autos do presente processo aseguinte SENTENÇA:

Vistos, etc.

RELATÓRIO

ÁUREA BATISTA DA SILVA DIAS,devidamente qualificada nos autos,ajuizou reclamação trabalhista em facede EMPRESA DE PESQUISAAGROPECUÁRIA DE MINAS GERAIS -EPAMIG, também qualificada,

pretendendo, em suma, sua reintegraçãoe o conseqüente pagamento de saláriosvencidos e vincendos, bem como opagamento de indenização por danosmorais, ao argumento de que suadespedida foi discriminatória. Requereu,por fim, os benefícios da assistênciajudiciária gratuita.

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Atribuiu à causa o valor deR$30.000,00.

Juntou documentos às f. 6/34.Realizada audiência inaugural (f.

38), na qual restou rejeitada aconciliação, tendo sido colhida a defesa(f. 39/45) e documentos (f. 46/68).

A autora manifestou-se às f. 69/72 quanto aos documentos juntadospela ré.

Em audiência a reclamadajuntou documentos (por determinaçãodo juízo, contida à f. 73), e foramcolhidos os depoimentos das partes eouvida uma testemunha.

Sem mais provas, encerrou-se ainstrução processual.

Razões finais e última propostaconciliatória prejudicadas.

Tudo visto e relatado, decide-se:

FUNDAMENTAÇÃO

I - Despedida discriminatória

Pretende a reclamante serreintegrada no emprego, ao fundamentode que sua demissão se deu em razãode ser mulher. Afirma que não obstantetenha sido aprovada em concursopúblico de provas e títulos para o cargode Oficial de Serviços (vigia), foisumariamente despedida, sem qualquermotivação, dois meses após efetivar-seno cargo, “por pura perseguição da chefiaimediata... pelo fato de ser mulher, nãopassando a atitude da reclamada dediscriminação sexual, o que é defesopelo nosso sistema jurídico”.

A reclamada, por sua vez, afirmaque a reclamante foi demitida após umabaixa avaliação de desempenho. Alega,ainda, que “sendo celetista o regime decontratação de empregados da EPAMIG,a reclamante poderia ser dispensada aqualquer hora, pois não existeestabilidade no emprego neste caso”.

A prova da discriminação, comotêm afirmado os doutos, é indiciária.Com efeito, ante a expressa vedaçãoconstitucional a atitudes discriminatórias(as quais, em algumas hipóteses, sãoconsideradas fato gerador de crimes),a discriminação não é praticada comclareza suficiente para a produção deuma prova exata quanto a esse fato.

Na hipótese dos autos adiscriminação em razão do gênero, ouseja, em razão do fato de ser areclamante mulher, almejando um cargoantes e até o presente momentosomente ocupado por homens naempresa reclamada (serviços devigilância), demonstrou-se por váriosveementes indícios que, juntos, levamà conclusão de que, de fato, a autorafoi despedida de forma discriminatória:

1. A reclamante foi a única vigiaa trabalhar no local:

...que a reclamante foi a primeiramulher a trabalhar como vigia nolocal; que há no local 08 vigias...(depoimento do preposto da ré).

2. Não obstante o fato de sermulher, a reclamante, ao ser contratada,laborou apenas duas semanas naportaria da empresa, tendoposteriormente sido colocada paralaborar no lugar mais ermo e afastadodas dependências centrais da ré:

...que a reclamante trabalhoucerca de 15 dias na portaria eposteriormente foi transferidapara o galpão, no campo; que naportaria o setor de ronda é menorque no campo; (depoimento dopreposto da ré).

...que por ser mais escuro otrabalho no campo é mais

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perigoso; (depoimento do Sr.Clemente).

3. A reclamante não foi advertidapela suposta prática de atos desidiososou desleixados na execução de seuserviço, jamais tendo seus superioressequer lhe chamado a atenção ousolicitado que ela mudasse a forma deproceder no trabalho:

...que o Sr. Clemente (vigilante)informou ao depoente que areclamante não ficava em seuposto de trabalho; que o depoentenão aplicou advertências àreclamante; que o depoente erao chefe imediato da reclamante;(depoimento do preposto da ré).

4. A avaliação de desempenhoda reclamante não foi realizada com suapresença, ou seja, não teve ela qualquerdireito de defesa (CF, art. 5º, inciso LV):

...que a reclamante não seencontrava presente nomomento da avaliação de f. 62,nem tampouco o Sr. Clemente;(depoimento do preposto da ré).

Ora, não se pode negar que aavaliação de desempenho constitui-seem verdadeiro processo administrativo,de suma importância para a vidaprofissional da reclamante, pois dissodependia a manutenção de seuemprego. Não obstante, à autora nãofoi dado qualquer direito de defesa.

5. A reclamante, ao contrário dosdemais vigias, possui alto grau deescolaridade, o que leva à conclusão deque se trata de pessoa culta eplenamente consciente de suasobrigações. Tal fato também põe emdúvida a avaliação de f. 62, segundo a

qual a reclamante recebeu quatro notas“insuficiente”, duas notas “regular” e trêsnotas “bom”:

...que há no local 08 vigias,sendo que aproximadamente ametade deles possui o 2º grau eos demais ensino fundamental;[...] que a reclamante faziafaculdade durante o dia, razãopela qual foi designada paratrabalhar no período noturno(depoimento do preposto da ré).

6.A avaliação de f. 62 foi realizadapor pessoas que, em sua maioria, sequertinham contato imediato com o serviçorealizado pela reclamante:

...que a avaliação de f. 62 foirealizada pelo depoente, por seuchefe imediato, Sr. Marco Antonio(chefe do centro tecnológico),pela chefe do setor de pessoal epelo vigilante Orlando;(depoimento do preposto da ré).

7. Durante a prestação deserviços pela autora não ocorreuqualquer tipo de furto ou acontecimentoque pudesse demonstrar a desídia dareclamante em sua prestação deserviços:

...que no período em que areclamante trabalhou não houvefurto ou tentativa de furto em seulocal de trabalho; (depoimento dopreposto da ré).

8. Ao contrário do que consta noparecer de f. 62, a reclamante nuncafaltou ou chegou atrasada ao serviço:

...que a reclamante entrava esaía nos horários corretos; quea reclamante fazia a ronda no

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início da jornada; [...](depoimento do Sr. Clemente).

9. À reclamante não foi entreguea chave do banheiro do galpão, razãopela qual ela precisava util izar obanheiro da portaria:

...que não sabe informar se areclamante possuía a chave dobanheiro do galpão; [...](depoimento do preposto da ré).

...que a reclamante utilizavasempre o banheiro da portaria;[...] que todos os vigias possuema chave do banheiro do galpão;que sabe informar que no galpãohá banheiros masculino efeminino, mas não sabe dizer sea autora possuía a chave(depoimento do Sr. Clemente).

10. Todas as avaliações dedesempenho juntadas aos autos pela rérevelaram desempenhos em níveis de“bom” e “muito bom”. Somente a autorafoi avaliada como tendo desempenho“insuficiente” (4 itens), “regular” (2 itens)e “bom” (4 itens).

Considerando a escolaridade daautora em relação aos demaisvigias, o desempenho a elaatribuído não é razoável. Alémdisso, competia à ré, numaespécie de gradação das penas,primeiramente recomendar quea autora mudasse sua postura notrabalho, para, somente depois,se a suposta falta persistisse,emitir avaliação nos moldes dade f. 62.

Não se olvida de que areclamante não possui estabilidade noemprego. Contudo, há de se ter que a

ré, embora tenha sido constituída sob aforma de empresa pública, não sesubmete ao regime das demaisempresas privadas, nos termos doartigo 173 da Constituição Federal, vistoque ela não explora atividadeeconômica.

E ainda que assim não fosse, háque se observar que tal dispositivoconstitucional não chancela a prática deatos discriminatórios, até porque aConstituição deve ser interpretada numtodo harmônico.

Ora, tanto a legislaçãointernacional como a Carta Maior daRepública e diversas normasinfraconstitucionais vedam a prática deatos discriminatórios contra a mulher nomercado de trabalho.

O art. 1º da Convenção sobreEliminação de todas as formas deDiscriminação contra a Mulherconceitua a discriminação contra amulher como “toda distinção, exclusãoou restrição baseada no sexo e quetenha por objeto ou resultado prejudicarou anular o reconhecimento, gozo,exercício pela mulher,independentemente de seu estado civil,com base na igualdade do homem e damulher, dos direitos humanos e dasliberdades fundamentais nos campospolítico, econômico, social, cultural ecivil ou em qualquer outro campo”.

Visando coibir as várias espéciesde discriminação nas relações detrabalho, foi aprovada pela OIT aConvenção n. 111, na 42ª reunião daConferência Internacional do Trabalho(Genebra - 1958), que entrou em vigorem 15.06.60.

No Brasil essa Convenção, deenorme valia para o combate às práticasdiscriminatórias no âmbito das relaçõesde trabalho, foi aprovada pelo DecretoLegislativo n. 104, de 24.11.64, ratificadaem 26.11.65, com promulgação através

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do Decreto n. 62.150, de 19.01.68,estando em vigência desde 26 denovembro de 1966.

Refletindo a orientação doaludido pacto a Constituição de 88alargou, sobremaneira, as medidasproibitivas de práticas discriminatóriasno âmbito do direito laboral.

Essas medidas encontram-seprevistas - na grande maioria - nos arts.5º e 7º da Constituição e abarcam nãosomente a relação de emprego, mastambém outras situações mais gerais.

O art. 3º da Carta Magna prevêcomo um dos objetivos da RepúblicaFederativa do Brasil, “promover o bemde todos, sem preconceitos de origem,raça, sexo, cor, idade e quaisquer outrasformas de discriminação”; e no art. 5º,inciso XLI, promete punir “qualquerdiscriminação atentatória dos direitos eliberdades fundamentais”.

Assim, a Constituição de 88 deforma corajosa eliminou do direitobrasileiro qualquer práticadiscriminatória contra a mulhertrabalhadora, na medida em querevogou todo o arcabouço legislativoque, embora se apresentasse com asvestes de generosidade ou de tutela, narealidade produzia um evidente efeitodiscriminatório em relação à mulhertrabalhadora. Nesse aspecto vale citarque o caput do art. 5º da Suprema Carta,ao estabelecer que “todos são iguaisperante a lei, sem distinção de qualquernatureza” e que “homens e mulheressão iguais em direitos e obrigações, nostermos desta Constituição”, acabou coma odiosa discriminação que havia entreo homem e a mulher no âmbito jurídico.

E, para enfatizar seu firmepropósito antidiscriminatório, o TextoMaior no inciso XXX do art. 7º proíbeexpressamente a diferença de salários,de exercício de funções e critério deadmissão por motivo de sexo, idade, cor

ou estado civil. Vale lembrar que o incisoXX daquele preceito estipulou a“proteção do mercado de trabalho damulher, mediante incentivos específicos,nos termos da lei”.

Aqui parece ter o constituinteadmitido uma prática diferenciada,porém não discriminatória, mas deproteção ou ampliação do mercado detrabalho da mulher trabalhadora, peloque inválidas normas jurídicas ou atosadministrativos e particulares queimportem, direta ou indiretamente,desestímulo à garantia ou abertura domercado de trabalho da mulher.

Também, no campo de proteçãoda mulher trabalhadora contra atosdiscriminatórios, encontramos as Leis n.9.029/95 e 9.799/99.

A primeira proibiu a “adoção dequalquer prática discriminatória elimitativa para efeito de acesso à relaçãode emprego, ou sua manutenção, pormotivo de sexo, origem, raça, cor, estadocivil, situação familiar ou idade” (art. 1º),considerando ainda como práticadiscriminatória a exigência dedeclarações, exames e medidascongêneres relativas à esterilização ouestado de gravidez (art. 2º).

Veda, ainda, a citada Lei aindução ou instigamento ao controle denatalidade, mas deixa de considerarcomo tal “o oferecimento de serviços deaconselhamento ou planejamentofamiliar” desde que realizados atravésde instituições públicas ou privadas,submetidas às normas do SUS -Sistema Único de Saúde (art. 2º).

Como forma de punição àspráticas discriminatórias elencadas noseu art. 1º, a Lei n. 9.029/95, no art. 3º,estabelece penalidades de ordemadministrativa.

Estabelece ainda a mesma Lei,no artigo 4º, que, no caso derompimento do contrato por ato

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discriminatório, a empregada poderáfacultar entre a reintegração, com“ressarcimento integral de todo operíodo de afastamento, mediantepagamento das remunerações devidas,corrigidas monetariamente, acrescidasde juros legais”, e a “percepção emdobro, da remuneração do período deafastamento, corrigida monetariamentee acrescida dos juros legais”.

Insta salientar que a práticadiscriminatória nos moldes previstos noart. 2º da Lei n. 9.029/95 se constitui emcrime, cuja pena é de detenção de um adois anos e multa, sendo sujeito passivoda punição “a pessoa físicaempregadora, o representante legal doempregador, como definido emlegislação trabalhista, e o dirigente, diretoou por delegação, de órgãos públicos eentidades das administrações públicasdireta, indireta e fundacional de qualquerdos Poderes da União, dos Estados, doDistrito Federal e dos Municípios”.

De seu turno, a Lei n. 9.799/99tornou explícitos os parâmetrosantidiscriminatórios, proibindo, salvo asdisposições legais destinadas a corrigiras distorções que afetam o acesso damulher ao mercado de trabalho e certasespecificidades estabelecidas nosacordos trabalhistas, a publicação deanúncios de empregos nos quais hajareferência ao sexo, à idade, à cor ou àsituação familiar, ressalvando quando anatureza da atividade a ser exercida,pública e notoriamente, assim exigir;recusar emprego, promoção ou motivara dispensa do trabalho em razão dosexo, idade, cor, situação familiar ouestado de gravidez, salvo quando anatureza da atividade seja notória epublicamente incompatível; consideraro sexo, a idade, a cor ou a situaçãofamiliar como variável determinantepara fins de remuneração, formaçãoprofissional e oportunidade de ascensão

profissional; exigir atestado ou exame,de qualquer natureza, paracomprovação de esteril idade ougravidez, na admissão ou napermanência no emprego; impedir oacesso ou adotar critérios subjetivospara deferimento de inscrição ouaprovação em concursos, em empresasprivadas, em razão de sexo, idade, cor,situação familiar ou estado de gravidez,vedando ainda ao empregador ouprepostos, as revistas íntimas nasempregadas ou funcionárias.

Desse modo, tendo sidodemonstrado nestes autos que areclamante foi demitida em atodiscriminatório, tendo-lhe sido negadaa manutenção do emprego pelo simplesfato de ser mulher, o que é vedado pelaordem jurídica como um todo, e tambémexpressamente pelo artigo 1º da Lei n.9.029/95, há que se aplicar à hipóteseo disposto no artigo 4º da mesma Lei.

Ante o exposto, condena-se areclamada a proceder à reintegração daautora no emprego, bem como a pagar-lhe os salários básicos e demaisparcelas salariais (gratif icaçõesnatalinas, férias acrescidas de 1/3 eFGTS), vencidos e vincendos, sob penade multa diária no importe de R$35,00(trinta e cinco reais), nos termos do § 5ºdo artigo 461 do CPC.

II - Indenização por danosmorais

Pleiteia ainda a reclamante opagamento de indenização por danosmorais, ao argumento de que ademissão discriminatória por ela sofridalhe causou constrangimento e danos àsua intimidade, honra e boa fama.

Conforme a teoria daresponsabilidade subjetiva abraçadapelo nosso Código Civil, areparabilidade do dano causado à moral

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condiciona-se diretamente àconcorrência de um ou mais atos(comissivos ou omissivos), um dano, umnexo causal e a culpa do causador (emqualquer de suas modalidades). Aausência que qualquer desteselementos, por inteligência do art. 186do novo Código Civil brasileiro e dosincisos V e X do art. 5º da CF/88, afastaa possibilidade de reparação.

Em se tratando de ação deindenização com fulcro no art. 186 donovo Código Civil, é indispensável quea parte autora demonstre cabalmente aocorrência dos três elementoscaracterizadores da responsabilidadecivil, quais sejam: o dano, a culpa e onexo de causalidade entre o dano e aculpa, pois a simples alegação deocorrência de dano não é suficiente paraa obtenção de indenização.

Como em qualquer área daresponsabilidade civil, põe-se emevidência, como pressuposto daobrigação de reparar o dano moral, onexo de causalidade entre a ação ouomissão voluntária e o resultado lesivo;neste sentido, aliás, a regra geral do art.186 do novo Código Civil. Tratando-sede responsabilidade civil com base noDireito Comum, incumbe ao autor oônus da prova quanto à culpabilidadedo réu, nos termos do inciso I do art.333 do CPC.

Na hipótese ora analisada,restou configurada a responsabilidadecivil justificadora da condenação da réa proceder à composição de danosmorais.

Com efeito, a simples despedidadiscriminatória é prova da ação da ré, quecausou danos à autora não somente deordem material, mas também moral.

Assim, condena-se a reclamadaa pagar à reclamante indenização, noimporte de dez vezes o salário da autora

(10 x R$392,32), ou seja, R$3.923,20(três mil, novecentos e vinte e três reaise vinte centavos).

III - Justiça gratuita

À vista da declaração de pobrezacontida na petição inicial, deferem-se àreclamante os benefícios da justiçagratuita, com fundamento no § 3º doartigo 790 da CLT.

DISPOSITIVO

Por todo o exposto, julgoPROCEDENTES EM PARTE os pedidosformulados por ÁUREA BATISTA DASILVA DIAS, para condenar a EMPRESADE PESQUISA AGROPECUÁRIA DEMINAS GERAIS - EPAMIG - a reintegrara reclamante, sob pena de multa diáriade R$35,00, bem como a pagar-lhe ossalários vencidos e vincendos, incluindoférias acrescidas de 1/3, gratificaçõesnatalinas, e indenização por danosmorais no importe de R$3.923,20 (trêsmil, novecentos e vinte e três reais evinte centavos), tudo na forma dafundamentação supra.

Deferem-se à autora osbenefícios da justiça gratuita.

Custas de R$50,00 (cinqüentareais), calculadas sobre R$10.000,00(dez mil reais), pela reclamada.

Juros e correção monetária naforma da lei, sendo esta calculada a partirdo primeiro dia útil do mês subseqüenteao mês da prestação de serviços.

Sobre as parcelas relativas aopresente acordo não incidem descontosfiscais e previdenciários, eis que se tratade parcelas meramente indenizatórias.

Cumpra-se.Partes cientes, na forma da

Súmula n. 197 do Colendo TribunalSuperior do Trabalho.

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1 - RELATÓRIO

Dispensado o relatório, nostermos do artigo 852-I da CLT,acrescentado pela Lei n. 9.957/2000.

2 - FUNDAMENTAÇÃO

2.1 - Preliminares

2.1.1 - Incompetência em razãodo lugar

Tradicionalmente, diz-se quecompetência é a medida da jurisdiçãode cada órgão judicial. É a competênciaque legitima o exercício do poderjurisdicional.

Com razão Marcelo AbelhaRodrigues, ao afirmar que “todo juizcompetente possui jurisdição, mas nemtodo juiz que possui jurisdição possuicompetência.” (destaque nosso)

É, pois, do exame dessa medidada jurisdição que se saberá qual o órgãojudicial competente para julgardeterminada causa.

Com base na teoria geral do direitoprocessual, é possível formular inúmeroscritérios para determinar a competência,levando-se em conta a matéria, aqualidade das partes, a função ou ahierarquia do órgão julgador e o lugar.

Data maxima venia, não se há defalar em desaforamento do feito em razãodo lugar, por conter este feito causa depedir e pedidos diversos daquelesvertentes da reclamatória trabalhista RT289/05, que tramita perante a MM. 1ªVara do Trabalho de Pouso Alegre, nãosendo o caso de aplicar-se nenhuma dashipóteses vertentes do artigo 651 daConsolidação das Leis do Trabalho.

Outrossim, não se há de falar noacolhimento da conexão de ações pordiversos os objetos de pedir, como jádito alhures, conforme preceituado noartigo 103 do Código de Processo Civil.

No mesmo diapasão a possívelcontinência prevista no artigo 104 doCódigo de Processo Civil, igualmente nãosocorre ao reclamado, a uma, ante adiversidade da causa de pedir e, a duas,por serem diversas as partes litigantesneste processo e no que tramita perantea MM. 1ª VT de Pouso Alegre, emparticular no que tange ao pólo passivo.

Assim, por derradeiro, aplicar-se-á, s.m.j, a regra geral prevista no artigo94 do Código de Processo Civil, já queeste feito, reprise-se, tem por objeto depedir reintegração de posse de imóvellocalizado no Município de Natércia, oqual é integrante da jurisdição destaVara do Trabalho.

Rejeita-se.

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 00020-2006-061-03-00-8DATA: 17.03.2006DECISÃO DA VARA DO TRABALHO DE ITAJUBÁ - MGJuiz Presidente: Dr. GIGLI CATTABRIGA JÚNIOR

Aos dezessete dias do mês de março de dois mil e seis, às quinze horas etrinta e cinco minutos, na sede da MM. Vara do Trabalho de Itajubá - Minas Gerais,na presença do seu Titular, o MM. Juiz Federal do Trabalho, Dr. GIGLI CATTABRIGAJÚNIOR, foram apregoadas as partes: DAIR DA SILVA CARVALHO, DALTON SILVAGOULART DE CARVALHO, MARLON SILVA GOULART DE CARVALHO e HUDSONSILVA GOULART DE CARVALHO, autores, e ANTÔNIO ALVES DA SILVA, réu.

Ausentes as partes.Submetido o processo a julgamento, proferiu-se a seguinte DECISÃO:

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2.1.2 - Competência da Justiçado Trabalho após a EC n. 45/2004

Apesar de não argüida pelaparte, observo, ex officio, a competênciadesta Justiça Especializada paraconhecer e dirimir o presente feito, portratar-se de pedido de reintegração deposse de imóvel, matéria, originalmente,sujeita à apreciação da Justiça Comum.

De plano, destaca-se que ofundamento da competência da Justiçado Trabalho reside no próprio textoconstitucional (art. 114).

Com a promulgação da EmendaConstitucional n. 45, publicada no DiárioOficial de 31.12.2004, houvesignificativa ampliação da competênciada Justiça do Trabalho.

Com o advento da EC n. 45/2004,o art. 114 da CF passou a ter a seguinteredação:

Art. 114. Compete à Justiça doTrabalho processar e julgar:I - omissis

II - omissis

[...][...][...][...]IX - outras controvérsiasdecorrentes da relação detrabalho, na forma da lei.

A competência em razão damatéria no Processo do Trabalho édelimitada em virtude da natureza darelação jurídica material deduzida emjuízo.

Tem-se entendido que adeterminação da competência materialda Justiça do Trabalho é fixada emdecorrência da causa de pedir e dopedido.

Parece-nos estar assentada quea fixação da competência material da

Justiça do Trabalho dependeexatamente daquilo que o autor levapara o processo, isto é, repousa nacausa de pedir e no pedido deduzidosem juízo, mesmo se a decisão de méritoque vier a ser prolatada envolver aaplicação de normas de Direito Civil oude outros setores do edifício jurídico.Esse entendimento restou explicitado novoto do relator, Ministro SepúlvedaPertence, segundo o qual, para seestabelecer a competência, o

fundamental é que a relaçãojurídica alegada como suporte dopedido esteja vinculada, como oefeito à causa, à relaçãoempregatícia, como me pareceinquestionável que se passaaqui, não obstante o seuconteúdo específico seja o deuma promessa de venda,instituto de direito civil.

Na mesma esteira obtemperaJoão Oreste Dalazen, para quem

o que dita a competênciamaterial da Justiça do Trabalhoé a qualidade jurídica ostentadapelos sujeitos do conflitointersubjetivo de interesses:empregado e empregador. Seambos comparecem a juízocomo tais, inafastável acompetência dos órgãos desseramo especializado do PoderJudiciário nacional,independentemente de perquirir-se a fonte formal do Direito queampara a pretensão formulada.Vale dizer: a circunstância de opedido alicerçar-se em norma doDireito Civil, em si e por si, nãotem o condão de afastar acompetência da Justiça doTrabalho se a lide assenta na

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relação de emprego, ou deladecorre. Do contrário, seriainteiramente inócuo o preceitocontido no art. 8º, parágrafoúnico, da CLT, pelo qual a Justiçado Trabalho pode socorrer-se do“direito comum” como “fontesubsidiária do Direito doTrabalho”. Se assim é, resultaevidente que a competência daJustiça do Trabalho não se cingea dirimir dissídios envolvendounicamente a aplicação doDireito do Trabalho, mas todosaqueles, em que a disputa se dêentre um empregado e umempregador nesta qualidadejurídica.

Assim, ante o exposto, entendoser esta Justiça Especializadacompetente, ex ratione materiae, paraconhecer e decidir o presente caso,rejeitando a preliminar em apreço.

2.2 - Mérito

2.2.1 - Reintegração de posse- Liminar - Efeitos

Em apertada síntese, versam osautos sobre pedido de reintegração deposse de imóvel ora ocupado peloreclamado, dado-lhe em razão do seucontrato de trabalho, quando o mesmoencontrava-se em vigência.

Sua vigência, não só já alcançouseu norte, como, atualmente, é objetode ação que tramita perante a MM. 1ªVT de Pouso Alegre, como jámencionado, onde há requerimentosvários acerca de direitos trabalhistasnão adimplidos a tempo e modo.

De proêmio, observo que osdocumentos de f. 19 e seguintesnoticiam a lavratura de termo de“meação e heranças”, figurando o

imóvel objeto da lide situado noMunicípio de Natércia, pertencente àjurisdição desta Vara do Trabalho.

Ademais, citado fato sequer ématéria de contraditório entre as partes,sendo observado apenas por excessode zelo.

Salta aos olhos, ainda, oconstante dos documentos de f. 90usque 106, procedimento criminal emcurso perante a Justiça Especializada,dando conta de não ser pacífica a possedo imóvel ocupado pelo reclamado.

O certo é que o presente feitotem por pano de fundo pedido dosreclamantes para que o reclamado sejaobstado a desocupar o imóvel depropriedade daqueles no qual reside, hámais de ano, apesar de já alcançado otérmino do seu contrato de trabalho.

Pode-se dizer ser o reclamadomero detentor do imóvel nos moldes doartigo 1.198 do Código Civil, não lheassistindo, contudo, nenhum direito depropriedade.

Neste particular o artigo 1.205 domesmo comando legal é taxativo,impondo-se destacar, ainda, o direito dolegítimo proprietário, no caso osreclamantes, a restituí-lo conformepreceituado no artigo 1.228.

Ainda que assim não fosse, hána esfera trabalhista legislação própria,no caso a Lei n. 5.889, de 08.06.1973,a normatizar o trabalho rural, em cujoartigo 9º há a previsão da possibilidadedo empregador rural proceder adesconto nos salários dos seusempregados à título de moradia.

E mais, o mesmo DispositivoLegal, em seu § 3º, é enfático e cogenteao determinar que findo o contrato detrabalho, caso dos autos, terá otrabalhador rural 30 (trinta) dias paradesocupar o imóvel em que reside.

Citado prazo legal já derruiu hámuito, visto que o contrato de trabalho

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firmado pelas partes alcançou seutérmino em 09.02.05, nos termo da r.sentença de f. 163, por sinal aindapadecente de recurso apropriado.

Mas, ainda que a mesma jáhouvesse transitado em julgado,formalizaria a dispensa do reclamado nodia 09.02.05, data a partir da qualoperar-se-ia a contagem do prazo detrinta dias já mencionado paradesocupação do imóvel, hipótese nãolevada a cabo até estes dias.

Outrossim, se tudo acima nãofosse suficiente, o próprio reclamado emsua defesa (f. 158) é taxativo ao afirmarque “pretende o demandado desocuparo imóvel em questão, até porque sabedos seus compromissos, ... omissis ...”(destacamos).

E nem podia ser diferente, poisjá na Lei de Introdução ao Código Civilhá norma de caráter expresso, cogentee constituidora de regra de Direito, peloqual, ninguém pode alegardesconhecimento da lei.

Assim, entendo assistir razãoaos reclamantes, deferindo o pedidoconstante da peça de ingresso econvalidando a liminar outorgada à f.143, para determinar que o reclamadodesocupe o imóvel em 48 (quarenta eoito) horas, sob pena de despejocompulsório.

Por derradeiro, observo inexistirna defesa (f. 156/159) qualquer pedidode apreciação do pálio da justiça gratuitae suas conseqüências.

3 - DISPOSITIVO

Diante do exposto, resolve estaMM. Vara do Trabalho de Itajubá - Minas

Gerais rejeitar as preliminares argüidase julgar PROCEDENTES os pedidosiniciais, convalidando a liminar deferidaà f. 143, condenando o reclamadoANTÔNIO ALVES DA SILVA adesocupar o imóvel de propriedade dosreclamantes DAIR DA SILVACARVALHO, DALTON SILVA GOULARTDE CARVALHO, MARLON SILVAGOULART DE CARVALHO e HUDSONSILVA GOULART DE CARVALHO, quehabita, no prazo de 48 (quarenta e oito)horas, sob pena de despejo compulsóriopromovido por esta Especializada, naforma dos fundamentos retro queintegram o decisum para todos osefeitos legais.

Juros ex vi legis e correçãomonetária do mês subseqüente ao daprestação de serviços, na forma daSúmula n. 381 do TST.

Ficam autorizados os descontosprevidenciários e fiscais, devendo oreclamado comprovar nos autos orecolhimento das parcelas sob suaresponsabilidade, com observância aodisposto na Emenda Constitucional n.20/98, bem como do IRRF, sob pena deexecução quanto àqueles e ofícioquanto aos últimos.

Custas no importe de R$10,64,calculadas sobre R$1.000,00,observando-se, no caso, o valor mínimoestabelecido no caput do artigo 789 daConsolidação das Leis do Trabalho,suportadas pelo reclamado, semisenção.

Partes cientes, nos termos daSúmula n. 197 do C. TST.

Nada mais, encerrou-se.