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COMISSÃO DE CONCURSO 57º CONCURSO PÚBLICO PARA INGRESSO NA CARREIRA DO MINISTÉRIO PÚBLICO RESOLUÇÃO Nº 007/2013 ATA DE REUNIÃO Julgamento dos Recursos da Prova Preambular Aos seis (6) dias do mês de dezembro de 2013, às quinze horas, reuniu- se, na sala de reuniões do Procurador-Geral de Justiça, no edifício sede da Procuradoria-Geral de Justiça, a Comissão do 57º Concurso para Ingresso na Carreira do Ministério Público – Promotor de Justiça Substituto. Estavam presentes, além do Presidente da Comissão do Concurso, Dr. Lauro Machado Nogueira, as Procuradoras de Justiça Estela de Freitas Rezende e Analice Borges Stefan, os Promotores de Justiça Márcio do Nascimento e Roberta Pondé Amorim de Almeida, bem como o representante da OAB-GO, Dr. Márcio Pacheco Magalhães. Iniciados os trabalhos, o Procurador-Geral de Justiça Lauro Machado Nogueira informou que seriam julgados os recursos interpostos contra o gabarito preliminar da prova preambular, publicado no dia 27.11.2013, na edição nº 1090 do DOMP. As questões impugnadas pelos candidatos foram: 3, 4, 5, 6, 10, 11, 12, 14, 15, 17, 18, 19, 21, 22, 23, 29, 30, 33, 37, 39, 46, 49, 52, 55, 57, 66, 67, 71, 72, 73, 74, 77, 80, 81, 86, 87, 90, 94, 95, 98 e 100. No total, foram protocolizados 134 (cento e trinta e quatro) recursos na Secretaria da Comissão que, atendidos os requisitos dos itens 18.1.1 e 18.1.2 do edital, foram encaminhados às respectivas bancas examinadoras para, no prazo de dois (2) dias, apresentarem as contrarrazões. Ato contínuo, a Comissão de Concurso conheceu de todos os recursos, uma vez que interpostos no prazo e na forma prescrita no edital do certame, analisou-os e deliberou na forma e pelas razões a seguir descritas: RECURSO N. 129 Questão recorrida: 21 Síntese do recurso: alega o recorrente, em suma, que a questão 1 Edição 1100 Publicação:11/12/2013 http://www.mp.go.gov.br/domp

ATA DE REUNIÃO Julgamento dos Recursos da Prova Preambular · autoriza essa investigação apenas àqueles primeiros” (SANCHES CUNHA, Rogério; BATISTA PINTO, Ronaldo, Crime Organizado

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  • COMISSO DE CONCURSO 57 CONCURSO PBLICO PARA INGRESSO NA CARREIRA DO MINISTRIO PBLICORESOLUO N 007/2013

    ATA DE REUNIO Julgamento dos Recursos da Prova Preambular

    Aos seis (6) dias do ms de dezembro de 2013, s quinze horas, reuniu-

    se, na sala de reunies do Procurador-Geral de Justia, no edifcio sede da

    Procuradoria-Geral de Justia, a Comisso do 57 Concurso para Ingresso

    na Carreira do Ministrio Pblico Promotor de Justia Substituto.

    Estavam presentes, alm do Presidente da Comisso do Concurso, Dr.

    Lauro Machado Nogueira, as Procuradoras de Justia Estela de Freitas

    Rezende e Analice Borges Stefan, os Promotores de Justia Mrcio do

    Nascimento e Roberta Pond Amorim de Almeida, bem como o

    representante da OAB-GO, Dr. Mrcio Pacheco Magalhes. Iniciados os

    trabalhos, o Procurador-Geral de Justia Lauro Machado Nogueira

    informou que seriam julgados os recursos interpostos contra o gabarito

    preliminar da prova preambular, publicado no dia 27.11.2013, na edio

    n 1090 do DOMP. As questes impugnadas pelos candidatos foram: 3, 4,

    5, 6, 10, 11, 12, 14, 15, 17, 18, 19, 21, 22, 23, 29, 30, 33, 37, 39, 46,

    49, 52, 55, 57, 66, 67, 71, 72, 73, 74, 77, 80, 81, 86, 87, 90, 94, 95, 98

    e 100. No total, foram protocolizados 134 (cento e trinta e quatro)

    recursos na Secretaria da Comisso que, atendidos os requisitos dos itens

    18.1.1 e 18.1.2 do edital, foram encaminhados s respectivas bancas

    examinadoras para, no prazo de dois (2) dias, apresentarem as

    contrarrazes. Ato contnuo, a Comisso de Concurso conheceu de todos

    os recursos, uma vez que interpostos no prazo e na forma prescrita no

    edital do certame, analisou-os e deliberou na forma e pelas razes a

    seguir descritas:

    RECURSO N. 129

    Questo recorrida: 21

    Sntese do recurso: alega o recorrente, em suma, que a questo

    1

    Edio 1100 Publicao:11/12/2013

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  • apresenta duas respostas corretas: a letra 'd', apontada pelo gabarito, e a

    letra 'a'.

    Fundamentao da banca examinadora: O item a da questo n. 21

    manifestamente incorreto, por destoar do texto do art. 10 da Lei

    12.850/13. No deve prosperar o recurso, face a ausncia de

    fundamentao lgico-jurdica. O erro a ser apontado no item a,

    justamente o fato de ter-se mencionado que a infiltrao de agentes

    poderia ser policial ou por agentes de inteligncia. Tal desacerto era

    criticado pela doutrina majoritria1, haja visto que tais agentes de

    inteligncia (por exemplo, aqueles agentes da ABIN), no possuam

    dentre as suas atribuies, o munus de produo de provas para os fins

    processuais penais. Por essncia, tais agentes deveriam se limitar a

    defesa da soberania nacional, evitando-se preventivamente, situaes que

    pudessem, porventura, colocar em risco a segurana nacional. A nova Lei

    12.850/13, justamente apresentou como uma das novidades, a definio

    de que a infiltrao de agentes somente poder se dar atravs de

    agentes policiais (art. 10). Apoiando tais assertivas, cite-se a melhor

    doutrina sobre o tema: Anote-se, de plano, que a infiltrao aqui

    examinada somente pode ser efetuada por agentes de polcia.

    Assim, ao contrrio da revogada Lei n 9034/95, que permitia essa

    infiltrao por agentes de polcia ou inteligncia, a legislao em comento

    autoriza essa investigao apenas queles primeiros (SANCHES CUNHA,

    Rogrio; BATISTA PINTO, Ronaldo, Crime Organizado. Comentrios

    nova Lei sobre o crime organizado Lei n 12.850/2013, Salvador:

    Editora Juspodivm, 2013, p. 97). Grifo nosso. Dessa forma, a nica

    alternativa correta consiste no item d, que trata da ao controlada

    quando houver transposio de fronteiras, de acordo com o disposto no

    art. 9. Diante do exposto, somos pelo improvimento do recurso.

    Deciso da Comisso de Concurso: A Comisso de Concurso acolhe,

    integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela

    banca examinadora, e nega provimento ao recurso.

    1 Vide nosso comentrio crtico a tal questo, em CARDOSO PEREIRA, Flvio. El

    agente infiltrado desde el punto de vista del garantismo procesal penal. Curitiba:

    Editor Juru, 2013, p. 346-347.

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  • RECURSO N. 28

    Questo recorrida: 23

    Sntese do recurso: argumenta o recorrente, com fundamento nos artigos

    126 e 127 da Lei de Execuo Penal, que a alternativa correta aquela

    sob a letra C.

    Fundamentao da banca examinadora: O candidato era instado a

    assinalar a alternativa correta, tendo em vista as proposies contidas nos

    itens de I a IV, todos relativos remio no processo de execuo penal.

    A alternativa correta aquela sob a letra A. A alternativa sob a letra

    C, que diz que somente as alternativas I e IV esto erradas,

    incorreta, pois a proposio sob n. II tambm est errada, pois de acordo

    com o 5 do art. 126 da Lei de Execuo, o tempo a remir em funo

    das horas de estudo ser acrescido de 1/3 (um tero) no caso de

    concluso do ensino fundamental, mdio ou superior durante o

    cumprimento da pena, e na proposio afirma-se que o tempo a remir

    ser acrescido de metade. Pelos argumentos supra, sugiro o

    conhecimento e improvimento do recurso.

    Deciso da Comisso de Concurso: A Comisso de Concurso acolhe,

    integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela

    banca examinadora, e nega provimento ao recurso.

    RECURSO N. 34

    Questo recorrida: 37

    Sntese do recurso: argumenta o recorrente, com fundamento no art. 226

    do Cdigo de Processo Penal e em lies de Aury Lopes Jnior, que a

    alternativa a ser marcada a letra A.

    Fundamentao da banca examinadora: Dentre as alternativas

    relativas ao reconhecimento de pessoas, o candidato era instado a

    assinalar a alternativa inexata. A alternativa sob a letra A correta,

    como reconhece o prprio recorrente, na insurgncia, ao citar o autor

    Aury Lopes Jr. A alternativa a ser assinalada a aquela sob a letra C,

    cuja redao era a seguinte: na fase da instruo criminal ou em plenrio

    de julgamento, se houver razo para recear que a pessoa chamada para o

    reconhecimento, por efeito de intimidao ou outra influncia, no diga a

    verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade

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    Edio 1100 Publicao:11/12/2013

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  • providenciar para que esta no veja aquela. Esta alternativa colide

    com o disposto no art. 226 do Cdigo de Processo Penal, que tem

    a seguinte redao: art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se

    o reconhecimento de pessoa, proceder-se- pela seguinte forma: I - a

    pessoa que tiver de fazer o reconhecimento ser convidada a descrever a

    pessoa que deva ser reconhecida; II - a pessoa, cujo reconhecimento se

    pretender, ser colocada, se possvel, ao lado de outras que com ela

    tiverem qualquer semelhana, convidando-se quem tiver de fazer o

    reconhecimento a apont-la; III - se houver razo para recear que a

    pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidao

    ou outra influncia, no diga a verdade em face da pessoa que

    deve ser reconhecida, a autoridade providenciar para que esta

    no veja aquela; IV - do ato de reconhecimento lavrar-se- auto

    pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para

    proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.

    Pargrafo nico. O disposto no no III deste artigo no ter aplicao

    na fase da instruo criminal ou em plenrio de julgamento. Pelos

    argumentos supra, sugiro o conhecimento e improvimento do

    recurso.

    Deciso da Comisso de Concurso : A Comisso de Concurso acolhe,

    integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela

    banca examinadora, e nega provimento ao recurso.

    RECURSO N. 112

    Questo recorrida: 37

    Sntese do recurso: argumenta o recorrente que a questo nula, pois a

    alternativa C est correta, tendo em vista o disposto no art. 226, inciso

    III, c/c art. 400, ambos do Cdigo de Processo Penal.

    Fundamentao da banca examinadora:Dentre as alternativas

    relativas ao reconhecimento de pessoas, o candidato era instado a

    assinalar a alternativa inexata. A alternativa sob a letra C incorreta. A

    redao da alternativa est assim elaborada: na fase da instruo

    criminal ou em plenrio de julgamento, se houver razo para recear que a

    pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidao ou

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  • outra influncia, no diga a verdade em face da pessoa que deve ser

    reconhecida, a autoridade providenciar para que esta no veja aquela.

    Esta alternativa colide com o disposto no art. 226, pargrafo

    nico, do Cdigo de Processo Penal. Vejamos o inteiro teor do

    artigo: art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o

    reconhecimento de pessoa, proceder-se- pela seguinte forma: I - a

    pessoa que tiver de fazer o reconhecimento ser convidada a descrever a

    pessoa que deva ser reconhecida; Il - a pessoa, cujo reconhecimento se

    pretender, ser colocada, se possvel, ao lado de outras que com ela

    tiverem qualquer semelhana, convidando-se quem tiver de fazer o

    reconhecimento a apont-la; III - se houver razo para recear que a

    pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidao

    ou outra influncia, no diga a verdade em face da pessoa que

    deve ser reconhecida, a autoridade providenciar para que esta

    no veja aquela; IV - do ato de reconhecimento lavrar-se- auto

    pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para

    proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.

    Pargrafo nico. O disposto no n o III deste artigo no ter aplicao

    na fase da instruo criminal ou em plenrio de julgamento. Tem-

    se, pois, que a alternativa sob a letra C a nica incorreta. Pelos

    argumentos supra, sugiro o conhecimento e improvimento do recurso.

    Deciso da Comisso de Concurso: A Comisso de Concurso acolhe,

    integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela

    banca examinadora, e nega provimento ao recurso.

    RECURSO N. 117

    Questo recorrida: 37

    Sntese do recurso: argumenta o recorrente que a questo exigia o

    apontamento do item correto e que o item sob letra B est correto.

    Fundamentao da banca examinadora: Dentre as alternativas

    relativas ao reconhecimento de pessoas, o candidato era instado a

    assinalar a alternativa inexata ou seja, a alternativa incorreta. De

    fato, a alternativa sob letra B est certa logo, no era a

    alternativa a ser assinalada e a alternativa sob letra C a

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  • nica incorreta. A redao da alternativa est assim elaborada: na

    fase da instruo criminal ou em plenrio de julgamento, se houver razo

    para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de

    intimidao ou outra influncia, no diga a verdade em face da pessoa

    que deve ser reconhecida, a autoridade providenciar para que esta no

    veja aquela. Esta alternativa colide com o disposto no art. 226,

    pargrafo nico, do Cdigo de Processo Penal. Vejamos o inteiro

    teor do artigo: art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o

    reconhecimento de pessoa, proceder-se- pela seguinte forma: I - a

    pessoa que tiver de fazer o reconhecimento ser convidada a descrever a

    pessoa que deva ser reconhecida; Il - a pessoa, cujo reconhecimento se

    pretender, ser colocada, se possvel, ao lado de outras que com ela

    tiverem qualquer semelhana, convidando-se quem tiver de fazer o

    reconhecimento a apont-la; III - se houver razo para recear que a

    pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidao

    ou outra influncia, no diga a verdade em face da pessoa que

    deve ser reconhecida, a autoridade providenciar para que esta

    no veja aquela; IV - do ato de reconhecimento lavrar-se- auto

    pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para

    proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.

    Pargrafo nico. O disposto no n o III deste artigo no ter aplicao

    na fase da instruo criminal ou em plenrio de julgamento. Tem-

    se, pois, que a alternativa sob a letra C a nica incorreta. Pelos

    argumentos supra, sugiro o conhecimento e improvimento do

    recurso.

    Deciso da Comisso de Concurso: A Comisso de Concurso acolhe,

    integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela

    banca examinadora, e nega provimento ao recurso.

    RECURSO N. 74

    Questo recorrida: 17

    Sntese do recurso: emana do recurso n 74 que assertiva apontada

    como correta no gabarito preliminar, letra 'a', seria incorreta em razo de

    que: [] em verdade, o Direito Penal, conforme esta concepo, estaria

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  • mais apto ao combate dos crimes de rua []. J os delitos de colarinho

    azul, segundo sentido empregado pelo Supremo Tribunal Federal,

    especialmente Ministro Luiz Fux, so os crimes que envolvem corrupo

    no mbito do Poder Pblico, os quais, diferentemente os crimes de rua,

    so praticados longe da vigilncia do Estado [...]. (sic)

    Fundamentao da banca examinadora: Nada mais equivocado. Em

    verdade, os delitos de rua2 so praticados exatamente pelos detentores de

    colarinho azul, contrapondo-se diametralmente aos crimes de colarinho

    branco. Nessa vereda, impende destacar o excerto extrado do voto p.

    1.495-1.496 do acrdo do Min. LUIZ FUX, proferido por ocasio do

    julgamento da afamada Ao Penal n 470 (Mensalo): Os 'crimes do

    colarinho branco' constituem um conceito relativamente novo, que apenas

    alcanou reconhecimento no ano de 1939, nos Estados Unidos, em um

    discurso do socilogo Edwin Sutherland na American Sociological Society,

    que criticou criminlogos da poca por atriburem a criminalidade

    pobreza ou a condies psicopticas e sociopticas. A noo de white

    collar crime particularmente importante por evidenciar a necessidade

    de considerar as infraes praticadas por indivduos ocupantes de

    posies de poder como crimes e no apenas ofensas civis. Ope-se aos

    blue-collar crimes, que so delitos perpetrados por integrantes de

    estratos sociais mais desfavorecidos. A definio de Sutherland, que

    enfatizava mais o sujeito que o delito praticado sendo, por isso, mais

    adequada a expresso 'criminosos do colarinho branco' , foi substituda

    posteriormente por uma concepo voltada para o fato. Assim, o Bureau

    of Justice Statistics (BJS) dos Estados Unidos utiliza o seguinte conceito

    de white collar crime: 'crime no violento dirigido ao ganho financeiro,

    cometido mediante fraude'. Observa-se, portanto, que no h um rol

    2 So delitos praticados pelas pessoas de classes sociais desfavorecidas, a exemplo

    dos furtos executados por miserveis, andarilhos e mendigos. Estes crimes so cometidos aos olhos da sociedade, em locais supervisionados pelo Estado (praa, parques, favelas etc.), e por esta razo so frequentemente objeto das instncias de proteo (Polcia, Ministrio Pblico e Poder Judicirio). Os crimes de rua se contrapem aos 'crimes de colarinho branco', cometidos por aqueles que gozam e abusam da elevada condio econmica e do poder da decorrente, como o caso dos delitos contra o sistema financeiro nacional, disciplinados na Lei 7.492/1986 (CLEBER MASSON. Direito Penal Parte Geral. Vol I. 7 ed. So Paulo: Mtodo, 2013, p. 212).

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  • delimitado de delitos que compem a categoria de 'crimes do colarinho

    branco', o que, todavia, no impede a represso e a punio aos autores

    desse tipo de infraes. Dentre os delitos que podem se amoldar ao

    conceito, incluem-se os crimes tributrios (tax crimes), as fraudes

    bancrias (bank fraud), os crimes de corrupo (public corruption) e a

    lavagem de dinheiro (money laundering), todos de relevantssimo

    interesse para a presente causa (PODGOR, Ellen S. White Collar Crime in

    a nutshell. Minnesota: West Publishing Co., 1993. p. 1-4). [] Os crimes

    do colarinho branco, em essncia, so condutas punveis na esfera penal,

    e no apenas civilmente irregulares; so proibies relevantssimas para o

    seio social, e no apenas restries formais e circunstanciais. Cuida-se,

    nas palavras de Abanto Vsquez, da proteo dos bens jurdicos mais

    importantes contra as aes perigosas mais graves em uma sociedade,

    motivo pelo qual a tendncia da legislao e da doutrina penal dominante

    a de recrudescer o tratamento penal conferido a condutas que afetem

    negativamente interesses sociais econmicos (ABANTO VSQUEZ, Manuel

    A. Derecho Penal Econmico consideraciones jurdicas y econmicas.

    Lima: IDEMSA, 1997. p. 37). O desafio na seara dos crimes do

    colarinho branco alcanar a plena efetividade da tutela penal dos

    bens jurdicos no individuais. Tendo em conta que se trata de

    delitos cometidos sem violncia, incruentos, no atraem [os

    crimes de colarinho branco] para si a mesma repulsa social dos

    'crimes do colarinho azul' (Go directly to jail: white collar sentencing

    after the Sarbanes-Oxley Act. In: Harvard Law Review, vol. 122, 2008-

    2009. p. 1742 e ss.). A inoperncia das instituies causa um nefasto

    efeito sistmico, que, fomentado pela impunidade, causa pobreza atrs de

    pobreza, para o enriquecimento indevido de alguns poucos. Sobre o

    ponto objeto de anlise, DANILO ANDREATO3 assevera que: Crimes do

    colarinho azul ou blue collar crime so os praticados geralmente

    por pessoas economicamente menos favorecidas, como furto,

    roubo, estelionato etc. A aluso ao colarinho azul deve-se cor da

    3 Crimes do colarinho branco e crimes do colarinho azul. Disponvel em: http://daniloandreato.com.br/2013/03/27/crimes-do-colarinho-branco-e-crimes-do-colarinho-azul/

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    http://daniloandreato.com.br/2013/03/27/crimes-do-colarinho-branco-e-crimes-do-colarinho-azul/

  • gola do macaco dos operrios e trabalhadores de fbricas. Os

    operrios eram chamados de blue-collar (colarinho azul) em razo da cor

    dos uniformes. Os executivos, por sua vez, no usavam macaces azuis,

    porm camisas brancas, com colarinhos da mesma cor, razo por que

    Sutherland ops criminalidade dos pobres (blue collar) a white-

    collar criminality. Por todo o exposto, nota-se a impertinncia da

    afirmao do recorrente segundo a qual os delitos de colarinho azul,

    segundo sentido empregado pelo Supremo Tribunal Federal,

    especialmente Ministro Luiz Fux, so os crimes que envolvem corrupo

    no mbito do Poder Pblico (sic). Como visto, os crimes de colarinho azul

    (praticados pelos maiores fregueses da Justia Criminal) so o avesso

    dos crimes de colarinho branco. Segundo a crtica formulada por ZAFFARONI,

    ALAGIA, SLOKAR e NILO BATISTA, a inevitvel seletividade operacional da

    criminalizao secundria e sua preferente orientao burocrtica (sobre

    pessoas sem poder e por fatos grosseiros e at insignificantes) provocam

    uma distribuio seletiva em forma de epidemia, que atinge apenas

    aqueles que tm baixas defesas perante o poder punitivo4. Assim, de

    acordo com essa concepo, o Direito Penal estaria de fato mais

    vocacionado ao combate dos crimes do colarinho azul. Dessarte, o

    improvimento do recurso medida de rigor.

    Deciso da Comisso de Concurso: A Comisso de Concurso acolhe,

    integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela

    banca examinadora, e nega provimento ao recurso.

    RECURSOS N. 20, 41, 82 e 107 .

    Questo recorrida: 17

    Sntese dos recursos: os quatro recursos impugnam a assertiva 'c' da

    questo 17, cujo enunciado diz: C) a outra face da teoria da

    coculpabilidade pode ser identificada como a coculpabilidade s avessas,

    por meio da qual defende-se a possibilidade de reprovao penal mais

    severa no tocante aos crimes praticados por pessoas dotadas de elevado

    poder econmico, e que abusam desta vantagem para a execuo de

    delitos. Os recorrentes buscaram demonstrar que o contedo da

    assertiva incorreto e no correto, como indica o gabarito preliminar.

    4 Direito Penal Brasileiro. vol. I. Rio de Janeiro: Revan, 2003, p. 47.

    9

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  • Ainda, emana do recurso n 82 que assertiva de letra 'b', apontada

    como correta pelo gabarito preliminar, seria incorreta em razo de que:

    [] segundo a doutrina, para denominar a diferena apresentada entre a

    criminalidade real e a criminalidade conhecida e enfrentada pelos rgos

    formais de represso, nos crimes socioeconmicos, chamada de 'cifra

    negra' e no de 'cifra dourada', como fez meno alternativa 'B'. Nesse

    sentido: 'Nem todos os fatos criminosos chegam ao conhecimento ou so

    objeto de apurao pelas autoridades competentes. Parcela dos crimes

    que passam a ser oficialmente registrados pelo sistema de Justia criminal

    chamada de criminalidade revelada. A frao que permanece oculta

    (no investigada e consequentemente impune), quando se refere

    a crimes de colarinho branco, denomina-se cifra dourada da

    criminalidade' [...]. (sic)

    Fundamentao da banca examinadora: Os recorrentes buscaram

    demonstrar que a alternativa questionada ('c') seria errada e no

    correta, como considerou a banca examinadora em razo de que,

    segundo eles, a ideia de coculpabilidade s avessas corresponderia

    exatamente ao oposto do sentido mencionado na assertiva. Para melhor

    visualizao, insta pinar alguns trechos dos recursos supramencionados:

    Recurso n 20: a assertiva diz que, pela teoria da culpabilidade sic

    s avessas, os crimes praticados por pessoas dotadas de elevado poder

    econmico merecem reprovao penal mais severa, contudo, na verdade,

    sic uma reprovao mais branda. [] Tal o que preceitua Grgore

    Moura [], para quem essa coculpabilidade s avessas se manifesta de

    trs maneiras: i) ...; ii) ; iii) como fator de aumento da reprovao

    social e penal5 (sic). Recurso n 41: [...] a teoria da co-culpabilidade

    s avessas corresponde exatamente ao oposto, ou seja, uma reprovao

    menos severa aos autores de crimes praticados por pessoas dotadas de

    elevado poder econmico. Nesse diapaso, so as lies de Grgore

    Moura, o qual preceitua ser possvel a manifestao da co-culpabilidade s

    avessas sob trs formas: a) ; b)...; c) como fator de aumento da

    5 A vertente negritada foi exatamente a cobrada na alternativa impugnada. Esse , pois, mais um recurso em que o candidato cita uma doutrina contrria a sua pretenso recursal.

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  • reprovao social e penal6 (sic). Recurso n 82: [...] o conceito de

    coculpabilidade s avessas justamente o contrrio daquilo que foi

    descrito pela alternativa, ou seja, no se fala em punibilidade 'mais severa

    no tocante aos crimes praticados por pessoas dotadas de elevado por

    econmico', mas sim em abrandamento sano de delitos praticados por

    pessoa com alto poder econmico e social, como no caso dos crimes de

    colarinho braco. [] Nesse particular, a coculpabilidade s avessas

    surge positivada na legislao de duas sic maneiras: a)

    tipificando condutas dirigidas a pessoas marginalizadas; b)

    aplicando penas mais brandas aos detentores do poder

    econmico7 (sic). Recurso n 107: [...] O conceito de coculpabilidade

    s avessas justamente o oposto do que est descrito no item 'c',

    possuindo duas vertentes (espelho de prova discursiva do Ministrio

    Pblico de Minas Gerais autoria: professor Leonardo Moreira Alves ):

    'Essa a primeira perspectiva em que pode ser analisada a

    coculpabilidade s avessas, ou seja, a identificao crtica da seletividade

    do sistema e da incriminao da prpria vulnerabilidade. Nesse

    particular, a coculpabilidade s avessas surge positivada na

    legislao de duas maneiras: a) tipificando condutas dirigidas a

    pessoas marginalizadas; b) aplicando penas mais brandas aos

    detentores do poder econmico'8[...] (sic). Fixados os lindes dos

    6 Idem a nota supra.7 O recorrente, no af de conseguir anular a questo fustigada, deturpou a doutrina de Grgore Moura ao excluir a terceira forma de manifestao na legislao da coculpabilidade s avessas, qual seja: aquela que atua como forma de aumento da reprovao social e penal (GRGORE MOREIRA DE MOURA. Do Princpio da Co-culpabilidade. Niteri: Impetus, 2006, p. 44), e que d substrato doutrinrio assertiva.

    8 O recorrente citou o espelho da prova discursiva do concurso pblico para o cargo de Promotor de Justia do MPMG com o escopo de fundamentar o alegado equvoco do gabarito da questo recorrida, e, nesse rumo, destacou duas formas pelas quais a coculpabilidade s avessas manifesta-se na legislao. No entanto, curiosamente, o recorrente omitiu o pargrafo seguinte do citado espelho de prova, donde se extrai:

    Mas h, ainda, outra perspectiva, pois se o objetivo posto no reconhecimento da coculpabilidade no Direito Penal moderno justamente o caminho contrrio (a proteo dos hipossuficientes e a busca da igualdade material sem os odiosos privilgios, ainda existentes), a ideia pode ser legitimamente manipulada para punir de forma mais severa os privilegiados, como ocorre, expressamente, na legislao penal da Argentina e de Portugal. De certa forma, tambm no Brasil, temos disposies legais que preveem a coculpabilidade s avessas para incremento da reprovao penal (...) (disponvel em: http://www.leonardomoreiraalves.com.br/system/arquivos/89/original/Grupo%20II%20-%20questao%203%5B1%5D.pdf?1322846714).

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    http://www.leonardomoreiraalves.com.br/system/arquivos/89/original/Grupo%20II%20-%20questao%203%5B1%5D.pdf?1322846714http://www.leonardomoreiraalves.com.br/system/arquivos/89/original/Grupo%20II%20-%20questao%203%5B1%5D.pdf?1322846714

  • recursos manejados contra a alternativa em testilha, passa-se a

    demonstrar, para alm do que j foi consignado nas notas de rodap de

    n 7-10, a improcedncia dos seus fundamentos. Preliminarmente, h de

    se fixar uma premissa: no foi cobrado por meio da alternativa

    impugnada o conceito de coculpabilidade s avessas, nem tampouco

    todas as suas acepes e vocaes. Afirmou-se apenas que, por meio

    dela, defende-se a possibilidade de reprovao penal mais severa no

    tocante aos crimes praticados por pessoas dotadas de elevado poder

    econmico, e que abusam desta vantagem para a execuo de delitos.

    Apenas isso. Conforme ficar demonstrado, a assertiva encontra-se em

    absoluta consonncia com a doutrina. De incio, perceba-se que a teoria

    da coculpabilidade, tal como idealizada por ZAFFARONI e PIERANGELI9,

    preconiza a possibilidade de diviso de responsabilidade entre a sociedade

    e o autor de uma infrao penal, com fundamento no reduzido grau de

    autodeterminao do indivduo. No dizer dos mestres: [...] h sujeitos

    que tm um menor mbito de autodeterminao, condicionado desta

    maneira por causas sociais. No ser possvel atribuir estas causas sociais

    ao sujeito e sobrecarreg-lo com elas no momento da reprovao de

    culpabilidade. Costuma-se dizer que h, aqui, uma 'co-culpabilidade', com

    a qual a prpria sociedade deve arcar. E arrematam aduzindo que a

    coculpabilidade faz parte da ordem jurdica de todo Estado Social de

    Direito e, portanto, tem cabimento no CP mediante a disposio

    genrica do art. 66. Com a maestria que lhe peculiar, ROGRIO GRECO10

    professa que: A teoria da co-culpabilidade ingressa no mundo do Direito

    Penal para apontar e evidenciar a parcela de responsabilidade que deve

    ser atribuda sociedade quando da prtica de determinadas infraes

    penais pelos seus supostos cidados. Contamos com uma legio de

    miserveis que no possuem teto para abrigar-se, morando embaixo de

    viadutos ou dormindo em praas ou caladas, que no conseguem

    emprego, pois o Estado no os preparou e os qualificou para que

    pudessem trabalhar, que vivem a mendigar por um prato de comida, que

    9 Manual de Direito Penal Brasileiro Parte Geral. 5 ed. So Paulo: RT, 2004, p. 580.

    10 Curso de Direito Penal Parte Geral. 6 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2006, p. 454.

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  • fazem uso de bebida alcolica para fugir realidade que lhes impingida,

    quando tais pessoas praticam crimes, devemos apurar e dividir essa

    responsabilidade com a sociedade. A seu turno, a coculpabilidade s

    avessas tem sido analisada sobre dois vieses, a saber: II.A) IDENTIFICAO

    CRTICA DA SELETIVIDADE DO SISTEMA PENAL E INCRIMINAO DA VULNERABILIDADE. Por

    esse prisma, a coculpabilidade s avessas diz respeito identificao

    crtica da seletividade do sistema penal e incriminao da prpria

    vulnerabilidade11. Nesse sentido, tendo em mira que o Direito Penal

    direciona o seu arsenal punitivo contra os indivduos mais frgeis,

    normalmente excludos da vida em sociedade e das atividades do Estado,

    possvel visualizar a adoo invertida do conceito de coculpabilidade

    pela legislao tanto na tipificao de condutas pela simples condio

    social do agente, como no exemplo da contraveno penal vertida no art.

    59 da Lei das Contravenes Penais (vadiagem), bem como nas benesses

    legais12 concedidas aos autores de crimes contra o sistema tributrio, para

    os quais o pagamento do tributo a qualquer tempo extingue a

    punibilidade. Assim, sob esse ngulo, a coculpabilidade s avessas presta-

    se a expr a perversa seletividade do sistema penal. Nas pegadas do que

    giza GRGORE MOREIRA DE MOURA13, esse mote j pode ser encontrado na

    legislao das seguintes formas: a) tipificando condutas dirigidas a

    pessoas marginalizadas14; b) aplicando penas mais brandas aos

    detentores do poder econmico15. II.B) REPROVAO PENAL MAIS SEVERA NO

    TOCANTE AOS CRIMES PRATICADOS POR PESSOAS DOTADAS DE ELEVADO PODER ECONMICO.

    A segunda acepo da coculpabilidade s avessas a que foi cobrada

    na prova, sem excluir a primeira , compreende a possibilidade de que

    sejam apenados com maior rigor os delitos cometidos por pessoas

    inseridas em um contexto social e econmico mais privilegiado, que, em

    11 CLEBER MASSON. Direito Penal Parte Geral. Vol I. 7 ed. So Paulo: Mtodo, 2013, p. 463.

    12 [...] o pagamento do tributo a qualquer tempo extingue a punibilidade quanto aos crimes contra a ordem tributria (HC n 232376/SP, 5 Turma do STJ, DJe 15.06.2012).13 Do Princpio da Co-culpabilidade. Niteri: Impetus, 2006, p. 44.14 o caso dos arts. 59 e 60 da Lei de Contravenes Penais, respectivamente, vadiagem e mendicncia.15 No Brasil temos esta hiptese no que tange aos efeitos da reparao do dano. Quanto aos ditos crimes comuns mera causa de diminuio de pena ou atenuante genrica, j nos crimes tributrios causa de extino da punibilidade, como no caso do art. 168-A do CP.

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  • razo de suas singulares condies socioculturais, possuem amplo

    discernimento para identificar condutas ilcitas e optar ou no por pratic-

    las. Assim sendo, tal como consignado na alternativa objeto de recurso, a

    outra face da teoria da coculpabilidade pode ser identificada como a

    coculpabilidade s avessas, por meio da qual defende-se a

    possibilidade de reprovao penal mais severa no tocante aos crimes

    praticados por pessoas dotadas de elevado poder econmico, e que

    abusam desta vantagem para a execuo de delitos. exatamente isso

    que defende a doutrina que se debrua sobre o tema. A propsito, com o

    objetivo de demonstrar o acerto da alternativa impugnada, cita-se o

    magistrio do doutor em Direito Penal pela PUC/SP, CLEBER MASSON16, para

    quem: A coculpabilidade s avessas tambm envolve a reprovao

    penal mais severa no tocante aos crimes praticados por pessoas

    dotadas de elevado poder econmico, e que abusam desta

    vantagem para a execuo de delitos (tributrios, econmicos,

    financeiros, contra a Administrao Pblica etc.), em regra, prevalecendo-

    se das facilidades proporcionadas pelo livre trnsito nas redes de controle

    poltico e econmico. Cuida-se da face inversa da coculpabilidade: se

    os pobres, excludos e marginalizados merecem um tratamento

    penal mais brando, porque o caminho da ilicitude lhes era mais

    atrativo, os ricos e poderosos no tm razo nenhuma para o

    cometimento de crimes. So movidos pela vaidade, por desvios de

    carter e pela ambio desmedida, justificando a imposio da

    pena de modo severo. [] Destarte, a punio mais rgida dever ser

    alicerada unicamente na pena-base, levando em conta as circunstncias

    judiciais desfavorveis [], com fulcro no art. 59, caput , do Cdigo

    Penal. Questionando os fundamentos da teoria da coculpabilidade, PAULO

    QUEIROZ17, aps dizer que que em verdade a chamada co-culpabilidade no

    seno uma dimenso do prprio conceito de culpabilidade enquanto

    circunstncia legal, a atenuar ou agravar a pena, insere em seu texto

    uma nota de rodap para ressaltar que tanto assim que se fala de

    16 Op. cit., p. 463. 17 Co-culpabilidade?. Disponvel em: http://pauloqueiroz.net/co-culpabilidade/

    14

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    http://www.mp.go.gov.br/domp

    http://pauloqueiroz.net/co-culpabilidade/

  • co-culpabilidade s avessas, situao em que a pena seria

    agravada. A possibilidade de reprovao penal mais severa no tocante

    aos crimes praticados por pessoas dotadas de elevado poder econmico

    (aventada na alternativa em anlise) foi muito bem retratada na obra de

    GRGORE MOREIRA DE MOURA18, segundo o qual a co-culpabilidade s

    avessas pode se manifestar na legislao de trs formas: a) [...];

    b) []; c) como fator de diminuio e tambm de aumento da

    reprovao social e penal. Tratando especificamente da terceira forma

    de manifestao da coculpabilidade s avessas, GRGORE MOREIRA DE MOURA19

    pioneiro na adoo da expresso coculpabilidade s avessas aduz:

    Fazendo uma interpretao literal ou gramatical do art. 41 do Cdigo

    Penal argentino, o legislador, ao tratar da co-culpabilidade,

    permite que ela sirva tanto para agravar como para atenuar a pena,

    uma vez que o art. 41 faz expressa referncia ao art. 40. O mesmo ocorre

    no Anteprojeto de Reforma do Cdigo Penal da Costa Rica, bem como no

    Cdigo Penal portugus. Da se nos afigura uma questo: possvel a

    aplicao do princpio da co-culpabilidade como forma de maior

    reprovao da conduta, isto , a reprovao penal daqueles que sempre

    foram includos socialmente e tiveram boas condies culturais e

    socioeconmicas no maior do que a dos socialmente excludos? Pela

    interpretao literal do Cdigo Penal argentino, do Anteprojeto de

    Reforma do Cdigo Penal da Costa Rica e do Cdigo Penal

    Portugus, a resposta a nossa indagao seria positiva. Utilizando

    a interpretao teleolgica, tentaremos conceber a co-

    culpabilidade para aumentar a reprovao social e, por

    conseguinte, elevar a pena. A co-responsabilidade estatal no

    cometimento de determinados delitos varia de acordo com as condies

    socioeconmicas e culturais do agende (incluso social em sentido amplo).

    Quanto menor esta (incluso social) maior aquela (co-responsabilidade

    estatal). Tomando por base o outro lado da moeda, teramos:

    quanto melhor as condies socioeconmicas e culturais do

    18 Do Princpio da Co-culpabilidade. Niteri: Impetus, 2006, p. 44-46.

    19 Op. cit., p. 45-46.

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  • agente, menor a co-responsabilidade do estado; logo, maior a

    reprovao social. No Brasil, temos disposies legais que

    prevem indiretamente a co-culpabilidade para aumentar a

    reprovao penal. Trata-se dos arts. 76, inciso IV, alnea a, da Lei n

    8.078 e do art. 4, 2, da Lei n 1.521/51. Mais adiante, ao analisar a

    doutrina de ANTNIO EVARISTO DE MORAES FILHO20 sobre o tema, GRGORE MOREIRA

    DE MOURA21 arremata dizendo que: a interpretao dada pelo estudioso

    demonstra que a co-culpabilidade tambm serviria para aumentar

    a reprovao social do agente nos casos em que ele fosse includo

    socialmente. Em concluso, para que nenhuma dvida paire sobre o

    acerto da alternativa questionada, pode-se assistir no YouTube, no

    programa Academia, da TV Justia, um interessante debate sobre a

    multicitada dissertao Do Princpio da Co-culpabilidade. Na ocasio,

    GRGORE MOREIRA DE MOURA exps taxativamente que, por meio da

    coculpabilidade s avessas, pode-se defender uma reprovao penal mais

    severa no tocante aos crimes praticados por pessoas dotadas de elevado

    poder econmico. Os vdeos seguintes falam por si: Academia Co-

    culpabilidade no direito penal (2/3) link:

    http://www.youtube.com/watch?v=0vumhQUf5Gc (trecho: 9m a

    9m25s); Academia Co-culpabilidade no direito penal (3/3) link: e

    http://www.youtube.com/watch?v=kkNmDz65VG0 (trecho: 4m32s a

    5m50s). A questo no reclama maiores digresses. Por todo o exposto,

    percebe-se com clareza solar que a afirmao segundo a qual a outra

    face da teoria da coculpabilidade pode ser identificada como a

    coculpabilidade s avessas, por meio da qual defende-se a possibilidade

    de reprovao penal mais severa no tocante aos crimes praticados por

    pessoas dotadas de elevado poder econmico, e que abusam desta

    vantagem para a execuo de delitos, encontra-se em plena sintonia com

    a doutrina especializada. Note-se, por curial, que a alternativa no

    pretendeu esgotar tudo o que j se escreveu sobre a coculpabilidade s

    avessas. O fato de o instituto tambm ser utilizado para que se promova

    uma identificao crtica da seletividade do sistema penal, no afasta a

    20 Apud NILO BATISTA. In: Introduo crtica ao Direito Penal brasileiro. 1990, p. 105.21 Do Princpio da Co-culpabilidade. Niteri: Impetus, 2006, p. 77.

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    http://www.mp.go.gov.br/domp

    http://www.youtube.com/watch?v=kkNmDz65VG0http://www.youtube.com/watch?v=0vumhQUf5Gc

  • sua inconteste vocao terico-doutrinria para se permitir uma

    reprovao penal mais severa no tocante aos crimes praticados por

    pessoas dotadas de elevado poder econmico. Assim sendo, o

    improvimento dos recursos medida de rigor. Fundamentao da

    banca examinadora quanto ao segundo questionamento do

    recurso n 82 no sentido de que assertiva de letra 'b', apontada

    como correta pelo gabarito preliminar, seria incorreta:

    Estranhamente o recorrente impugnou a alternativa fundamentando-se

    em uma doutrina contrria a sua pretenso. Em outros termos, o

    recorrente citou uma doutrina que confirma o acerto (e no o erro) da

    assertiva impugnada. No fosse apenas isso bastante, com esteio nos

    ensinamentos do prof. MARCELO ANDR22, digno membro do Ministrio Pblico

    do Estado de Gois, impende estabelecer a diferena entre cifra negra e

    cifra dourada da criminalidade. In ipsis litteris: Como as agncias de

    criminalizao no possuem estrutura para realizar o programa

    (criminalizao primria), acaba realizando apenas uma parcela, de sorte

    que surge a chamada cifra oculta ou negra da criminalidade (diferena

    dos crimes efetivamente ocorridos com a parcela que chega ao

    conhecimento das instncias penais ou que so efetivamente punidos).

    [] em relao aos crimes de colarinho branco (financeiros,

    tributrios etc.) utiliza-se a expresso cifra dourada da

    criminalidade. Na mesma linha intelectiva, colhe-se a lio de CLEBER

    MASSON23:Nesses crimes socioeconmicos, surgem as 'cifras

    douradas do Direito Penal', indicativas da diferena apresentada

    entre a criminalidade real e a criminalidade conhecida e

    enfrentada pelo Estado. Raramente existem registros envolvendo

    delitos desta natureza, inviabilizando a persecuo penal e acarretando a

    impunidade das pessoas privilegiadas no mbito econmico. Em

    arremate, ANA KARLA VIANA24 verbera: [] Mas o que a populao precisa

    precisa saber que os crimes socioeconmicos causam danos to

    22 Direito Penal Parte Geral. 3 ed. Salvador: Jus Podivm, 2013, p. 294.23 Direito Penal Parte Geral. Vol. 1. 7 ed. So Paulo: Mtodo, 2013, p. 212/213.

    24 Contributo para um incremento no combate aos crimes de colarinho branco. Disponvel em: http://profeduardoviana.wordpress.com/2010/05/17/contributo-para-um-incremento-no-combate-aos-crimes-de-colarinho-branco/

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    http://profeduardoviana.wordpress.com/2010/05/17/contributo-para-um-incremento-no-combate-aos-crimes-de-colarinho-branco/http://profeduardoviana.wordpress.com/2010/05/17/contributo-para-um-incremento-no-combate-aos-crimes-de-colarinho-branco/

  • graves quanto os crimes tradicionais. Apenas para uma referncia,

    em 2003, a sonegao estimada pelo valor no declarado de

    faturamento foi de R$ 748,35 bilhes. Para 2008, o IBPT (Instituto

    Brasileiro de Planejamento Tributrio) apontou que a soma dos tributos

    sonegados corresponde a 9% do PIB brasileiro, traduzindo em nmeros

    mais claros, a sonegao atingiu a marca de R$ 1,32 trilho. Este dado

    demonstra, no mnimo, que sobre os delitos econmicos pairam as

    'cifras douradas' da criminalidade, ou seja, a diferena entre a

    criminalidade que realmente se apresenta no mundo dos fatos e

    aquela que chega ao conhecimento e persecuo das instncias

    formais de controle social. Por todo o exposto, nota-se facilmente que

    a alternativa impugnada no merece ser reformada, sendo absolutamente

    correta a assero segundo a qual: a diferena apresentada entre a

    criminalidade real e a criminalidade conhecida e enfrentada pelos rgos

    formais de represso (Ministrio Pblico, Judicirio e Polcia), nos crimes

    socioeconmicos, chamada de cifra dourada. Assim sendo, o

    improvimento dos recursos medida de rigor.

    Deciso da Comisso de Concurso: A Comisso de Concurso acolhe,

    integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela

    banca examinadora, e nega provimento aos recursos.

    RECURSOS N. 66, 80, 97 e 113

    Questo recorrida: 18

    Sntese dos recursos: os recorrentes impugnam a assertiva 'b' da questo

    18, que diz: B) o oferecimento de dinheiro ou qualquer outra vantagem a

    perito oficial para que este falseie o contedo de seu trabalho pericial

    configura o crime previsto no art. 343 do Cdigo Penal, apelidado

    doutrinria e jurisprudencialmente de corrupo ativa de testemunha ou

    perito. Em suma, os recorrentes buscaram demonstrar que a alternativa

    questionada seria correta e no errada, como considerou a banca

    examinadora , sob os seguintes argumentos: a) para que o crime do

    artigo 343 seja configurado basta que a pessoa subornada tenha a

    qualidade de perito, testemunha, contador, tradutor, ou intrprete, no

    momento da ao (recursos n 80 e 97); b) o delito vertido no art. 343

    do Cdigo Penal tem, de fato, o apelido doutrinrio e jurisprudencial de

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  • corrupo ativa de testemunha ou perito (recurso n 66); c) no h

    qualquer erro no contedo da assertiva 'b' da questo n 18 (recurso n

    113). O recurso n.113 diz, ainda, que a assertiva tida como correta, de

    letra 'c', guarda concluso que destoa da legislao vigente e dos

    ensinamentos da doutrina: [...] mostra-se equivocada a compreenso de

    que Josef K, na situao hipottica descrita, tenha praticado apenas o

    crime delineado no artigo 157, 2, inciso V, do Cdigo Penal,

    especialmente, por ter havido a destruio do veculo []. A destruio do

    veculo no pode ser um indiferente penal ou, muito menos, um mero

    exaurimento do crime de roubo. Poderia muito bem Josef K. ter se

    limitado a subtrair o veculo, sem, necessariamente, t-lo destrudo (sic).

    Fundamentao da banca examinadora: Indo direto ao ponto, o que

    torna a alternativa em foco ('b') errada a expresso oficial. Isso

    porque, o perito a que a lei se refere [no art. 343, CP] o

    particular. Caso se trate de perito oficial, o crime o de corrupo

    ativa comum (art. 333), pois o destinatrio da oferta ou promessa

    funcionrio pblico.25 Portanto, [...] na hiptese de dinheiro ou

    qualquer outra vantagem entregue, oferecida ou prometida a perito,

    contador, tradutor ou intrprete oficial, estar caracterizado o crime de

    corrupo ativa (CP, art. 333), em face da condio funcional de tais

    pessoas.26 Fundamentao da banca examinadora quanto

    segunda irresignao do recurso n.113: Antes de mais nada, calha

    destacar que dolo a vontade livre e consciente dirigida a realizar

    a conduta prevista no tipo penal incriminador27. Ora, no exemplo

    citado na alternativa impugnada possvel notar a presena desses dois

    momentos do dolo na conduta de Josef K., quais sejam: vontade livre (de

    subtrair o veculo da vtima para si) e conscincia (dos elementos

    objetivos do tipo). A alegao recursal no sentido de que teria faltado, no

    exemplo, o elemento objetivo para si, previsto no caput do art. 157 do

    Cdigo Penal, soa, no mnimo, equivocada. Como pode-se notar pelo

    25 VICTOR EDUARDO RIOS GONALVES. Direito Penal Esquematizado Parte Especial. 2 ed. So Paulo: Saraiva, 2012, p. 803.26 CLEBER MASSON. Direito Penal Parte Especial. Vol III. 3 ed., So Paulo: Mtodo, 2013, p. 881.27 ROGRIO GRECO. Curso de Direito Penal Parte Geral. 4 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2004, p. 200.

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  • excerto infra, aps agir violentamente contra a vtima, Josef K. colocou-a

    em liberdade e fugiu com o seu veculo: [...] atacou seu inimigo com

    algumas bofetadas, subjugou-o e fez com que ele dirigisse por alguns

    quilmetros at coloc-lo em liberdade, para, ento, fugir com o seu

    veculo [...]. No se pode olvidar, ainda, que o esprito de vingana

    no desnatura a conduta criminosa do agente. De igual maneira, o fato de

    Josef K. no visar a obteno de lucro com o veculo subtrado (o que fica

    claro em razo de sua destruio) no desconfigura o crime de roubo.

    Isso porque, para a consumao do art. 157 do Cdigo Penal,

    prescinde-se da inteno de lucro (animus lucrandi). Alm disso,

    irrelevante o motivo [vingana] do crime.28 Demais disso, [...] a

    jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal no sentido de que,

    para a consumao do crime de furto ou de roubo basta a sada,

    ainda que breve, do bem da chamada esfera de vigilncia da

    vtima (v.g., HC n 89.958/SP, Rel. Min. Seplveda Pertence, 1 Turma,

    unnime, j. 03.04.2007, DJ 27.04.2007). 3. Habeas corpus denegado.

    (HC n 113.563/SP, 1 Turma do STF, Rel. Rosa Weber. DJe

    19.03.2013). Portanto, de se considerar consumado o roubo

    quando o agente, cessada a violncia ou a grave ameaa, inverte a

    posse da coisa subtrada (HC n 95.998-9/SP, 1 Turma do STF, Rel.

    Carlos Britto. DJe 12.06.2009). Assim sendo, no h como negar a

    consumao do crime de roubo, em razo de ter o agente Josef K.

    subtrado para si (fugiu com a res), mediante violncia (bofetadas), bem

    alheio (veculo). Acerca da causa de aumento de pena delineada no art.

    157, 2, inciso V (se o agente mantm a vtima em seu poder,

    restringindo sua liberdade), do Cdigo Penal, a sua incidncia decorre da

    seguinte narrativa: [...] subjugou-o e fez com que ele dirigisse por

    alguns quilmetros at coloc-lo em liberdade. Nesse sentido, citando

    exemplo assaz semelhante ao que foi cobrado na prova, CLEBER MASSON29

    apregoa: Observe-se, porm, que a espcie de extorso prevista no art.

    158, 3, do Cdigo Penal no derrogou a modalidade de roubo

    circunstanciado definida pelo art. 157, 2, inciso V, do Cdigo Penal.

    28 CLEBER MASSON. Direito Penal Parte Especial. Vol. II. 5 ed. So Paulo: Mtodo, p. 339.29 Direito Penal Parte Especial. Vol. II. 5 ed. So Paulo: Mtodo, p. 461.

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  • Estar configurado o roubo quando o agente restringir a liberdade da

    vtima, mantendo-a em seu poder, para subtrair seu patrimnio. Nessa

    hiptese, possvel o criminoso apoderar-se da coisa alheia mvel

    independentemente da efetiva colaborao da vtima. o que se d,

    exemplificativamente, quando o sujeito subjuga a pessoa que

    estava no interior do seu automvel, parado em um semforo,

    ingressa no veculo e faz com que ela dirija por alguns quilmetros

    at ser colocada em liberdade [...]. Por ltimo, no h falar em

    concurso com o crime de dano (art. 163 do Cdigo Penal) e, muito menos,

    apenas na configurao exclusiva desse delito. Entender dessa maneira

    seria ferir de morte o princpio da consuno, tantas vezes invocado

    para a soluo dos conflitos aparentes de normas. No ponto, o imortal

    mestre NLSON HUNGRIA30 lecionava que um fato, embora configure

    crime, pode deixar de ser punvel quanto anterior ou posterior

    (straflose vor und nachtat) a outro crime mais grave. Para HUNGRIA,

    a consuno por post factum impunvel poderia ocorrer, por exemplo, []

    quando a leso ao bem jurdico acarretada pelo crime anterior torna

    indiferente o fato posterior: ulteriormente ao furto, o ladro destri a

    res furtiva (responder pelo crime de furto, e no tambm pelo de

    dano). A lio supratranscrita foi apreendida por toda a doutrina. A

    propsito, didticos so os esclarecimentos do prof. MARCELO ANDR31 sobre o

    que chamou de fato posterior no punvel: [...] sempre que o fato

    posterior (eventual crime posterior) se referir ao mesmo bem jurdico e

    mesma vtima, ficar absorvido pelo primeiro (crime anterior), uma vez

    que j houve a lesividade ao bem jurdico. Ex.: o agente destri a coisa

    furtada. No responder pelo crime de dano (art. 163). Ante o

    exposto, o improvimento do recurso medida de rigor, devendo-se o

    gabarito oficial permanecer inalterado. Ante o exposto, no h como

    aparar os presentes recursos, sendo o improvimento medida de rigor.

    Deciso da Comisso de Concurso : A Comisso de Concurso acolhe,

    integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela

    banca examinadora, e nega provimento aos recursos.

    30 Comentrios ao Cdigo Penal. Vol. I, Tomo I, 5 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1977, p. 148.31 Direito Penal Parte Geral. 2 ed. Salvador: Jus Podivm, 2011, p. 114.

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  • RECURSOS N. 14, 58, 73, 106 e 116

    Questo recorrida: 18

    Sntese dos recursos: os recorrentes impugnam a assertiva 'c' da questo

    18, que diz: C) Josef K., aps ser preso injustamente, nutrindo um dio

    profundo pelo seu delator, resolveu fazer justia pelas prprias mos

    assim que foi colocado em liberdade. Dessarte, em determinada situao,

    Josef K. percebeu que seu delator conversava tranquilamente ao celular

    dentro de seu automvel que se encontrava estacionado. Nesse instante,

    de sbito, Josef abriu a porta do veculo, atacou seu inimigo com algumas

    bofetadas, subjugou-o e fez com que ele dirigisse por alguns quilmetros

    at coloc-lo em liberdade, para, ento, fugir com o seu veculo e, enfim,

    destru-lo. Nesse cenrio, Josef K. responder apenas pelo crime

    delineado no art. 157, 2, inciso V, do Cdigo Penal. Em suma, os

    recorrentes buscaram demonstrar que a alternativa questionada seria

    errada e no correta, como considerou a banca examinadora , sob

    os seguintes argumentos: Recurso n 14: A inteno de Josef era

    causar dano ao patrimnio de seu desafeto, portanto, cometera o crime

    do artigo 163, pargrafo nico, I do CP (sic); Recurso n 58: Josef K.

    no teria agido com dolo em relao ao roubo, ao contrrio, o nimo

    demonstrado foi apenas o de 'vias de fato' e constrangimento com intuito

    de vingana e, no mximo, o posterior dolo de dano coisas (sic);

    Recurso n 73: Josef K. no teria agido com dolo em relao ao roubo,

    mas somente com relao ao dano. O recorrente ainda sugere outra

    concluso: o que se poderia cogitar a existncia de delito praticado em

    concurso formal ou material a depender do entendimento do intrprete

    com o de dano qualificado, como constrangimento ilegal, ou sequestro

    (sic). Recurso n 106: Josef K. estava imbudo no esprito de vingana

    (ad vindictam), bem como destruio do veculo (animus nocendi), mas

    no teve como constatar a finalidade de subtrao (animus furandi) (sic).

    Pode-se afirmar que o Josef K aproxima-se mais do concurso material de

    crimes de sequestro (art. 148) e dano qualificado pela violncia (art. 163,

    pargrafo nico, inciso I do CP) (sic). Recurso n 116: A narrao do

    fato no destaca o dolo do agente em subtrair para si o carro da vtima,

    mediante violncia e grave ameaa. Trata-se de uma vingana, em que o

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  • agente pretendia destruir o automvel do delator. [] Embora tenha

    havido constrangimento, dano, no que se falar em roubo (sic).

    Fundamentao da Banca Examinadora: Nenhum dos fundamentos

    recursais tem fora suficiente para modificar o gabarito oficial da

    alternativa questionada. Antes de mais nada, calha destacar que dolo

    a vontade livre e consciente dirigida a realizar a conduta prevista

    no tipo penal incriminador32. Ora, no exemplo citado na alternativa

    impugnada possvel notar a presena desses dois momentos do dolo na

    conduta de Josef K., quais sejam: vontade livre (de subtrair o veculo da

    vtima para si) e conscincia (dos elementos objetivos do tipo). A

    alegao recursal no sentido de que teria faltado, no exemplo, o elemento

    objetivo para si, previsto no caput do art. 157 do Cdigo Penal, soa, no

    mnimo, equivocada. Como pode-se notar pelo excerto infra, aps agir

    violentamente contra a vtima, Josef K. colocou-a em liberdade e fugiu

    com o seu veculo: [...] atacou seu inimigo com algumas bofetadas,

    subjugou-o e fez com que ele dirigisse por alguns quilmetros at coloc-

    lo em liberdade, para, ento, fugir com o seu veculo [...]. No se

    pode olvidar, ainda, que o esprito de vingana no desnatura a conduta

    criminosa do agente. De igual maneira, o fato de Josef K. no visar a

    obteno de lucro com o veculo subtrado (o que fica claro em razo de

    sua destruio) no desconfigura o crime de roubo. Isso porque, para a

    consumao do art. 157 do Cdigo Penal, prescinde-se da inteno de

    lucro (animus lucrandi). Alm disso, irrelevante o motivo

    [vingana] do crime.33 Demais disso, [...] a jurisprudncia do

    Supremo Tribunal Federal no sentido de que, para a consumao

    do crime de furto ou de roubo basta a sada, ainda que breve, do

    bem da chamada esfera de vigilncia da vtima (v.g., HC n

    89.958/SP, Rel. Min. Seplveda Pertence, 1 Turma, unnime, j.

    03.04.2007, DJ 27.04.2007). 3. Habeas corpus denegado. (HC n

    113.563/SP, 1 Turma do STF, Rel. Rosa Weber. DJe 19.03.2013).

    Portanto, de se considerar consumado o roubo quando o agente,

    32 ROGRIO GRECO. Curso de Direito Penal Parte Geral. 4 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2004, p. 200.

    33 CLEBER MASSON. Direito Penal Parte Especial. Vol. II. 5 ed. So Paulo: Mtodo, p. 339.

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  • cessada a violncia ou a grave ameaa, inverte a posse da coisa

    subtrada (HC n 95.998-9/SP, 1 Turma do STF, Rel. Carlos Britto.

    DJe 12.06.2009). Assim sendo, no h como negar a consumao do

    crime de roubo, em razo de ter o agente Josef K. subtrado para si (fugiu

    com a res), mediante violncia (bofetadas), bem alheio (veculo). Acerca

    da causa de aumento de pena delineada no art. 157, 2, inciso V (se o

    agente mantm a vtima em seu poder, restringindo sua liberdade), do

    Cdigo Penal, a sua incidncia decorre da seguinte narrativa: [...]

    subjugou-o e fez com que ele dirigisse por alguns quilmetros at coloc-

    lo em liberdade. Nesse sentido, citando exemplo assaz semelhante ao

    que foi cobrado na prova, CLEBER MASSON34 apregoa: Observe-se, porm,

    que a espcie de extorso prevista no art. 158, 3, do Cdigo Penal no

    derrogou a modalidade de roubo circunstanciado definida pelo art. 157,

    2, inciso V, do Cdigo Penal. Estar configurado o roubo quando o

    agente restringir a liberdade da vtima, mantendo-a em seu poder, para

    subtrair seu patrimnio. Nessa hiptese, possvel o criminoso apoderar-

    se da coisa alheia mvel independentemente da efetiva colaborao da

    vtima. o que se d, exemplificativamente, quando o sujeito

    subjuga a pessoa que estava no interior do seu automvel, parado

    em um semforo, ingressa no veculo e faz com que ela dirija por

    alguns quilmetros at ser colocada em liberdade [...]. Por ltimo,

    no h falar em concurso com o crime de dano (art. 163 do Cdigo Penal)

    e, muito menos, apenas na configurao exclusiva desse delito. Entender

    dessa maneira seria ferir de morte o princpio da consuno, tantas

    vezes invocado para a soluo dos conflitos aparentes de normas. No

    ponto, o imortal mestre NLSON HUNGRIA35 lecionava que um fato, embora

    configure crime, pode deixar de ser punvel quanto anterior ou

    posterior (straflose vor und nachtat) a outro crime mais grave.

    Para HUNGRIA, a consuno por post factum impunvel poderia ocorrer, por

    exemplo, [] quando a leso ao bem jurdico acarretada pelo crime

    anterior torna indiferente o fato posterior: ulteriormente ao furto, o

    ladro destri a res furtiva (responder pelo crime de furto, e no

    34 Direito Penal Parte Especial. Vol. II. 5 ed. So Paulo: Mtodo, p. 461.35 Comentrios ao Cdigo Penal. Vol. I, Tomo I, 5 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1977, p. 148.

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  • tambm pelo de dano). A lio supratranscrita foi apreendida por toda

    a doutrina. A propsito, didticos so os esclarecimentos do prof. MARCELO

    ANDR36 sobre o que chamou de fato posterior no punvel: [...] sempre

    que o fato posterior (eventual crime posterior) se referir ao mesmo bem

    jurdico e mesma vtima, ficar absorvido pelo primeiro (crime

    anterior), uma vez que j houve a lesividade ao bem jurdico. Ex.: o

    agente destri a coisa furtada. No responder pelo crime de dano

    (art. 163). Ante o exposto, o improvimento dos recursos medida de

    rigor, devendo-se o gabarito oficial permanecer inalterado.

    Deciso da Comisso de Concurso: A Comisso de Concurso acolhe,

    integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela

    banca examinadora, e nega provimento aos recursos.

    RECURSO N. 88

    Questo recorrida: 19

    Sntese do recurso: o recorrente impugna a assertiva 'd' da questo 19,

    considerada 'errada' no gabarito preliminar, cujo enunciado o seguinte:

    "D) a participao de menor importncia e a cooperao dolosamente

    distinta so institutos adstritos aos casos de participao, no tendo

    incidncia em se tratanto de coautoria."O recorrente discordou do

    gabarito oficial afirmando que: Quanto participao de menor

    importncia, induvidosa a sua aplicao apenas ao partcipe. No tocante

    cooperao dolosamente distinta, outra soluo no parece correta [...].

    Fundamentao da Banca Examinadora: Para fundamentar seu ponto

    de vista no sentido de que a cooperao dolosamente distinta somente

    teria lugar em se tratando de participao , o recorrente citou trechos

    das obras de Mirabete e Delmanto. No entanto, como se ver, as

    mencionadas doutrinas no foram lidas em sua completude pelo

    recorrente e, assim, no tm fora suficiente para impulsionar uma

    alterao do gabarito oficial. No se discute que a "participao de menor

    importncia" (art. 29, 1, do Cdigo Penal) um instituto adstrito aos

    casos de participao, no tendo incidncia em se tratanto de coautoria

    (com isso concorda o recorrente). Por outro lado, a "cooperao

    dolosamente distinta" ou "desvios subjetivos" (art. 29, 2, do Cdigo

    36 Direito Penal Parte Geral. 2 ed. Salvador: Jus Podivm, 2011, p. 114.

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  • Penal) compatvel tanto com os casos de participao como com os de

    coautoria, como indica o dispositivo legal: "Se algum dos concorrentes

    quis participar de crime menos grave, ser-lhe- aplicada a pena deste;

    essa pena ser aumentada at a metade, na hiptese de ter sido

    previsvel o resultado mais grave." Nesse sentido, ganha especial relevo a

    doutrina de ROGRIO GRECO37, um dos maiores expoentes do Ministrio

    Pblico brasileiro: "Merece destaque o fato de que o 2 do art. 29 do

    Cdigo Penal permite tal raciocnio tanto nos casos de co-autoria

    como nos de participao (moral e material). O pargrafo comea a

    sua redao fazendo meno a 'alguns dos concorrentes', no limitando

    a sua aplicao to-somente aos partcipes. [...] Deve ser frisado,

    portanto, que a frase 'quis participar de crime menos grave' no

    diz respeito exclusivamente participao em sentido estrito,

    envolvendo somente os casos de instigao e cumplicidade, mas sim em

    sentido amplo, abrangendo todos aqueles que, de qualquer modo,

    concorreram para o crime, estando a includos autores (ou co-

    autores) e partcipes." No diverso o entendimento do magistrado

    GUILHERME DE SOUZA NUCCI38: "Particiao em crime menos grave

    (cooperao dolosamente distinta): trata-se de um benefcio criado ao

    acusado, pois, como dizia Florian, possvel haver 'desvios subjetivos'

    entre os co-autores ou partcipes. A lei utiliza o termo 'concorrente', o

    que permite supor ser possvel aplicar o disposto neste pargrafo

    tanto a co-autores, como aos partcipes." No mesmo caminho, DAMSIO

    DE JESUS39 professa: "Diz o 2 do art. 29 do CP que, 'se algum dos

    concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe- aplicada a

    pena deste; essa pena ser aumentada at a metade, na hiptese de ter

    sido previsvel o resultado mais grave'. Esse dispositivo cuida da

    hiptese de o autor principal cometer delito mais grave que o

    pretendido pelo partcipe ou co-autor." At mesmo no afamado

    Cdigo Penal Comentado citado pelo recorrente, encontra-se

    sacramentado esse posicionamento, bem defendido pelos DELMANTO40:

    37 Curso de Direito Penal Parte Geral. Vol I. 6 ed. Niteri: Impetus, 2006, p. 496-497.38 Cdigo Penal Comentado. 5 ed. So Paulo: RT, 2005, p. 251.39 Direito Penal Parte Geral. Vol. I. 28 ed. So Paulo: Saraiva, 2007, p. 431.40 Cdigo Penal Comentado. 6 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 62-63.

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  • "Tratando do concurso de pessoas, o caput deste art. 29, ao usar a

    expresso 'quem, de qualquer modo, concorre para o crime', abrange

    tanto o co-autor quanto o partcipe, que respondero 'na medida de sua

    culpabilidade'. J o 1, ao empregar o termo 'participao de menor

    importncia', est se referindo apenas ao partcipe e no ao co-autor, pois

    no pode existir 'co-autoria de menor importncia'. Por sua vez, o 2,

    embora utilize o verbo 'participar, o faz em sentido amplo,

    abrangendo tanto o co-autor quanto o partcipe, j que de sua

    redao consta expressamente o termo concorrentes ', verbis : 'Se

    um dos concorrentes quis participar ...' [...]." Noutro giro, verdade

    que o saudoso MIRABETE41 chegou a afirmar que o art. 29, 2, refere-se

    apenas ao partcipe e no ao co-autor. Todavia, o prprio mestre se

    inclinou diante do entendimento diverso ou seja, pela aplicabilidade do

    art. 29, 2, CP tanto aos casos de participao como de coautoria

    trilhado pela jurisprudncia e, em especial, vista da teoria do

    domnio do fato. A transcrio abaixo no deixa dvidas a esse respeito:

    "[...] mesmo sendo o agente co-autor, se, durante a execuo de

    um crime, afasta-se do local, deixando de colaborar com o fato

    (furto, por exemplo), no pode ser responsabilizado pelos atos

    subsequentes, para os quais no concorreu (roubo ou latrocnio).

    O mesmo se pode dizer, por exemplo, no caso do agente que, para a

    prtica de um furto ou roubo, apenas transporta os autores e co-autores

    ao local do crime, que acaba se transformando em latrocnio enquanto

    permanece de vigia. Tais solues, diante do art. 29, 2, se

    justificam se adotada a teoria do domnio do fato." Destarte, reina

    unssono da doutrina e na jurisprudncia42 o entendimento no sentido

    de que o art. 29, 2, do Cdigo Penal pode ser aplicado tanto s

    hipteses de participao como s de coautoria (da porque a

    alternativa recorrida foi considerada errada pela banca examinadora).

    41 Manual de Direito Penal. 24 ed. So Paulo: Atlas, 2007, p. 236-237.

    42 Quando se trata da hiptese em que um dos concorrentes quis participar de crime menos grave do que aquele que acabou sendo cometido pelo outro concorrente, cada qual responde de acordo com o que quis, isto , de conformidade com o seu dolo. Portanto, embora responsvel pelo fato, no est o co-autor sujeito mesma pena, que ser diferenciada pelo Juiz de acordo com a ao de cada um no evento (TJMG, Rel. Des. Costa Loures. RTJE 88/155).

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  • Ante o exposto, o improvimento do recurso medida de rigor."

    Deciso da Comisso de Concurso : A Comisso de Concurso acolhe,

    integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela

    banca examinadora, e nega provimento ao recurso.

    RECURSOS N. 13 e 130

    Questo recorrida: 22

    Sntese dos recursos: os recorrentes buscaram demonstrar que a

    alternativa 'a' seria correta e no errada, como considerou a banca

    examinadora , sob os seguintes argumentos: Recurso n 13: o

    concurso de pessoas no crime de roubo pode ser comprovado por cmeras

    de segurana, tendo em vista que se trata de prova lcita, sendo

    prescindvel a identificao do co-ru (sic). Recurso n 130: o que

    consta na assertiva 'A' tambm est correto, pois descreve uma conduta

    permitida ao magistrado, desde que observada a questo do aditamento

    da inicial acusatria, atravs da 'mutatio libelli'.

    Fundamentao da Banca Examinadora: Nenhum dos fundamentos

    recursais tem fora suficiente para modificar o gabarito oficial da

    alternativa questionada. Conforme bem disse o autor do recurso n 130,

    a possibilidade de condenao do ru (Olmpio) pela prtica de roubo

    circunstanciado, na hiptese descrita na alternativa recorrida, seria

    possvel, apenas e to somente, se observado o procedimento da

    mutatio libelli previsto no art. 384 e pargrafos do Cdigo de Processo

    Penal: Art. 384. Encerrada a instruo probatria, se entender

    cabvel nova definio jurdica do fato, em conseqncia de prova

    existente nos autos de elemento ou circunstncia da infrao

    penal no contida na acusao, o Ministrio Pblico dever aditar

    a denncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta

    houver sido instaurado o processo em crime de ao pblica, reduzindo-se

    a termo o aditamento, quando feito oralmente. [] Haveria malferimento

    ao art. 129, inciso I, da Constituio da Repblica (mola propulsora do

    sistema acusatrio), alm de ntida violao aos princpios do

    contraditrio, da ampla defesa e da correlao entre a acusao e a

    sentena se, conforme afirmado na alternativa impugnada, ao final do

    processo, plenamente convencido do concurso de pessoas, o magistrado

    28

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  • simplesmente condenasse o ru pela prtica do crime de roubo

    circunstanciado (art. 157, 2, II, do Cdigo Penal), deixando de

    observar o procedimento supracitado (mutatio libelli). Nesse sentido o

    entendimento jurisprudencial: APELAO CRIMINAL. SUPRESSO DE

    DOCUMENTO. CONDENAO PELA PRTICA DO DELITO DE FURTO.

    MUTATIO LIBELLI. VIOLAO DO PRINCPIOS DA CORRELAO ENTRE A

    DENNCIA E SENTENA. NULIDADE DA SENTENA. 1) Se o magistrado

    condena o acusado por crime no narrado na denncia, sem

    observar o disposto no artigo 384 do Cdigo de Processo Penal, a

    sentena condenatria deve ser nulificada, por evidente afronta

    aos princpios da correlao entre a denncia e a sentena, do

    contraditrio e da ampla defesa. 2) Recurso conhecido e provido,

    declarando a nulidade da sentena, a fim de que no juzo a quo sejam

    aplicadas as medidas descritas no artigo 384 do Cdigo de Processo Penal.

    (Apelao n 36741-15.2011.8.09.0006 (201190367416), 1 Cmara

    Criminal do TJGO, unnime, DJe 06.12.2012). Por fim, ao lecionar sobre

    aditamento denncia, o notvel processualista RENATO BRASILEIRO LIMA43

    exemplifica: "[...] suponha-se que determinado indivduo tenha sido

    denunciado pela prtica do crime de roubo simples (CP, art. 157, caput).

    Porm, no curso da instruo processual, descobre-se que o crime fora

    cometido mediante o concurso de outra pessoa, cuja identidade, porm,

    no foi obtida. Se, ao final do processo, o magistrado estiver plenamente

    convencido de que o delito fora cometido mediante concurso de duas

    pessoas, poder condenar o acusado pela prtica do crime de roubo

    circunstanciado (CP, art. 157, 2, II)? Evidentemente que no, sob

    pena de violao aos princpios do contraditrio, da ampla defesa

    e da correlao entre a acusao e sentena." Ante o exposto, o

    improvimento dos recursos medida de rigor, devendo-se o gabarito

    oficial permanecer inalterado.

    Deciso da Comisso de Concurso : Verifica-se que a assertiva

    questionada tem a seguinte redao: "A) Olmpio foi denunciado pela

    prtica do crime de roubo simples (art. 157, caput, do Cdigo Penal).

    43 Curso de Processo Penal. Niteri: Impetus, 2013, p. 270. Nota : o exemplo citado serviu de inspirao para a elaborao da alternativa fustigada.

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  • Todavia, no curso da instruo processual, o Ministrio Pblico juntou aos

    autos do processo penal uma mdia contendo uma filmagem captada por

    uma cmera de segurana que demonstra claramente que o crime foi

    cometido em concurso com outra pessoa, cuja identidade, porm, no foi

    obtida. Ao final do processo, plenamente convencido do concurso de

    pessoas, pode o magistrado condenar o ru pela prtica do crime de

    roubo circunstanciado (art. 157, 2, II, do Cdigo Penal)." Logo, patente

    que o enunciado no menciona a adoo do procedimento da mutatio

    libelli previsto no art. 384 e pargrafos do Cdigo de Processo Penal, no

    se podendo presumir que ele tenha ocorrido para tomar a assertiva como

    correta. Noutro vrtice, o ponto nodal da questo passa ao largo de

    validade ou no de prova e identificao de corru. Destarte, a Comisso

    de Concurso acolhe, integralmente, como razo de decidir, os argumentos

    apresentados pela banca examinadora, e nega provimento aos

    recursos.

    RECURSOS N. 07 e 128

    Questo recorrida: 29

    Sntese dos recursos: os recorrentes buscaram demonstrar que a

    alternativa 'b' guarda contedo correto e no errado, como

    considerou a banca examinadora , sob os seguintes

    argumentos:Recurso n 07: a alternativa 'b' est correta, pois trata-se

    de causa relativamente independente e concomitante a conduta do

    agente, que se encontra na linha de desdobramento da conduta, isto ,

    no exclui o nexo causal, o agente responde por seus atos praticados

    (latrocnio), tendo em vista que a morte da vtima foi provocada em

    razo da grave ameaa em que foi submetida durante o roubo (sic).

    Recurso n 128: [...] o que consta na assertiva est correto,

    porquanto, uma vez presente causa concomitante relativa independente,

    o sujeito responde pelo crime consumado. Desta forma, o autor do fato

    responde sim pelo crime de latrocnio.

    Fundamentao da Banca Examinadora: Nenhum dos fundamentos

    recursais tem fora suficiente para modificar o gabarito oficial da

    alternativa questionada, e a razo para tanto extremamente simples:

    no h falar em latrocnio quando o evento morte advm de

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  • grave ameaa, conforme o caso hipottico apresentado na alternativa

    recorrida (durante um assalto, a vtima, apavorada com a arma de fogo

    que lhe apontada, morre de ataque cardaco). Esse entendimento

    encontra substrato na prpria descrio do tipo que exige, para a sua

    configurao, que o evento morte advenha da violncia empregada: Art.

    157, 3, CP. Se da violncia resulta leso corporal grave, a pena de

    recluso, de 7 (sete) a 15 (quinze) anos, alm da multa; se resulta

    morte, a recluso de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, sem prejuzo da

    multa. Sobre o ponto, vale conferir o magistrio sempre preciso de VICTOR

    EDUARDO RIOS GONALVES44: "So requisitos do latrocnio: a) que a morte

    seja decorrente da violncia empregada pelo agente; b) que a

    violncia causadora da morte tenha sido empregada durante o contexto

    ftico do roubo; c) que haja nexo causal entre a violncia provocadora da

    morte e o roubo em andamento (violncia empregada em razo do

    roubo). [...] Ao contrrio, existem casos noticiados pela imprensa,

    em que o agente cometeu roubo exclusivamente por meio de

    grave ameaa, apontando uma arma para a vtima, que, diante do

    quadro, acabou se assuntando de uma tal maneira que morreu de ataque

    cardaco. Em tal situao, na qual a morte decorreu de grave

    ameaa, simplesmente no h enquadramento no tipo penal do

    latrocnio, devendo o ladro responder por roubo agravado pelo

    emprego da arma em concurso formal com homicdio culposo [...]."

    Na mesma direo, os Promotores de Justia MARCELO ANDR e ALEXANDRE

    SALIM45, com a didtica que lhes caracteriza, asseveram que, para haver

    latrocnio, "a morte deve resultar da violncia empregada durante a

    execuo e em razo do roubo. [...] Se a morte decorrer da grave

    ameaa, no haver latrocnio. Nesse caso, poder haver concurso de

    crimes de roubo e homicdio, doloso ou culposo, dependendo das

    circunstncias (Bitencourt, Nucci e Capez)." Em linhas conclusivas, de se

    notar que o autor do recurso n 128 citou um julgado do Tribunal de

    Justia do Paran com o escopo de fundamentar o seu ponto de vista,

    44 Direito Penal Esquematizado Parte Especial. 2 ed., So Paulo: Saraiva, 2012, p. 375-376.45 Direito Penal Parte Especial. 2 ed. Salvador: Jus Podivm, 2013, p. 319.

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  • sem perceber, no entanto, que o caso apreciado por aquela Corte de

    Justia dizia respeito a um tpico exemplo de latrocnio, ou seja: roubo

    exercido com violncia fsica (e no grave ameaa) da qual resulta

    morte (a morte da vtima em decorrncia de infarto no momento em

    que estava sendo asfixiada [violncia] pelo agente causa

    relativamente independente que no exclui o nexo causal entre a conduta

    do ru e o resultado - excertos da citada ementa). Logo, o precedente

    citado pelo recorrente infirma a sua tese e confirma a anttese

    apresentada nessas contrarrazes. Ante o exposto, o improvimento do

    recurso medida de rigor, devendo-se o gabarito oficial permanecer

    inalterado.

    Deciso da Comisso de Concurso: A Comisso de Concurso acolhe,

    integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela

    banca examinadora, e nega provimento aos recursos.

    RECURSO N. 134

    Questo recorrida: 30

    Sntese do recurso: o recorrente pretendeu demonstrar que a alternativa

    'a' da questo 30 seria correta e no errada, como considerou a

    banca examinadora , com esteio na seguinte argumentao:As

    infraes penais liliputianas (crime ano ou contraveno penal), em regra

    sofrem mesmo a incidncia dos institutos despenalizadores previstos na

    Lei 9.099/95, mas h pelo menos uma exceo: as contravenes penais

    praticadas no mbito domstico contra a mulher.

    Fundamentao da Banca Examinadora: Eis o enunciado da

    alternativa impugnada: "A) nem todas as infraes penais liliputianas

    admitem, em tese, a incidncia dos institutos despenalizadores previstos

    na Lei n 9.099/95." Em conformidade com o Gabarito Oficial divulgado

    por meio do Comunicado 007/2013-CC, a assertiva foi considerada

    errada. Por dissentir do Gabarito Oficial, foi apresentado o recurso de

    n 134. O recorrente pretendeu demonstrar que a alternativa

    questionada seria correta e no errada, como considerou a banca

    examinadora. () O raciocnio desenvolvido pelo recorrente no tem o

    condo de alterar o gabarito oficial da alternativa questionada.

    Primeiramente, insta sublinhar que infrao penal liliputiana o nome

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  • doutrinrio reservado s contravenes penais46. Apreendida esta

    conceituao, convm observar que, na esteira do art. 61 da Lei n

    9.099/95, consideram-se infraes penais de menor potencial

    ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenes penais e os

    crimes a que a lei comine pena mxima no superior a 2 (dois) anos,

    cumulada ou no com multa. Ora, por imposio legal, todas as

    contravenes penais previstas no Decreto-Lei n 3.688/41 (Lei das

    Contravenes Penais) so consideradas infraes de menor potencial

    ofensivo. Exatamente por isso, correto afirmar que todas as infraes

    penais liliputianas admitem, "em tese" (e no "em concreto"), a

    aplicao dos institutos despenalizadores previstos na Lei n 9.099/95.

    Noutro giro, absolutamente "errado" afirmar que "nem todas as

    infraes penais liliputianas admitem, em tese, a incidncia dos institutos

    despenalizadores previstos na Lei n 9.099/95", haja vista que todas as

    infraes penais catalogadas na Lei de Contravenes Penais (infraes

    liliputianas) admitem sim, em tese, ou seja, abstratamente, a

    composio civil (art. 74 da Lei n 9.099/95), a transao penal (art. 76

    da Lei n 9.099/95) e a suspenso condicional do processo (art. 89 da Lei

    n 9.099/95). No h exceo alguma. Em "concreto" (hiptese que no

    foi objeto de questionamento no certame), no entanto, vrias so as

    situaes (e no apenas a mencionada pelo recorrente) que podem fazer

    com que os institutos despenalizadores previstos pela Lei dos Juizados

    Especiais Criminais deixem de ser aplicados s infraes penais

    liliputianas. Vejamos algumas:* Por expressa previso legal (art. 76, 2,

    da Lei 9.099/95), No se admitir a proposta [de transao penal]

    se ficar comprovado:I - ter sido o autor da infrao condenado, pela

    prtica de crime, pena privativa de liberdade, por sentena definitiva;II

    - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos,

    pela aplicao de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;III -

    no indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do

    agente, bem como os motivos e as circunstncias, ser necessria e

    suficiente a adoo da medida. * O art. 89 da Lei 9.099/95 estabelece

    46 CLEBER MASSON. Direito Penal Parte Geral. Vol. 1. 7 ed. So Paulo: Mtodo, 2013, p. 213.

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  • que o Ministrio Pblico, "ao oferecer a denncia, poder propor a

    suspenso do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado no

    esteja sendo processado ou no tenha sido condenado por outro crime,

    presentes os demais requisitos que autorizariam a suspenso

    condicional da pena (art. 77 do Cdigo Penal)". A seu turno, o

    mencionado art. 77 do Cdigo Penal traz as seguintes condicionantes:

    Art. 77. A execuo da pena privativa de liberdade, no superior a 2

    (dois) anos, poder ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde

    que: I - o condenado no seja reincidente em crime doloso; II - a

    culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do

    agente, bem como os motivos e as circunstncias autorizem a concesso

    do benefcio; III - no seja indicada ou cabvel a substituio prevista no

    art. 44 deste Cdigo. Assim, no sendo observadas na anlise do "caso

    concreto" (e no "em tese", como mencionado na assertiva recorrida) as

    citadas condicionantes, no poder o autor de uma infrao penal

    liliputiana beneficiar-se do sursis processual. * O art. 41 da Lei n

    11.340/2006 estatui que "aos crimes praticados com violncia domstica

    e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, no se

    aplica a Lei n 9.099, de 26 de setembro de 1995". Dessarte, na

    apreciao do "caso concreto", restanto configurada a violncia de

    gnero praticada no mbito domstico, os institutos despenalizadores da

    Lei dos Juizados Especiais Criminais no podero ser aplicados ao autor de

    uma contraveno penal praticada contra a mulher. As trs circunstncias

    supramencionadas so reveladoras de hipteses "concretas" que esto a

    impedir a incidncia de institutos despenalizadores s infraes penais

    liliputianas. Todavia, ressalta-se uma vez mais, em obsquio ao art. 61 da

    Lei n 9.099/95, todas as contravenes penais admitem, "em tese" (em

    abstrato), a composio civil, a transao penal e a suspenso

    condicional do processo. Portanto, o gabarito oficial deve ser mantido tal

    como divulgado, por ser equivocado afirmar que "nem todas as infraes

    penais liliputianas admitem, em tese, a incidncia dos institutos

    despenalizadores previstos na Lei n 9.099/95". Ante o exposto, o

    improvimento do recurso medida de rigor, devendo-se o gabarito

    oficial permanecer inalterado.

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  • Deciso da Comisso de Concurso: A Comisso de Concurso acolhe,

    integralmente, como razo de decidir, os argumentos apresentados pela

    banca examinadora, e nega provimento ao recurso.

    RECURSO N. 127

    Questo recorrida: 33

    Sntese do recurso: o recorrente impugna a alternativa 'b', considerada

    'correta' conforme gabarito preliminar, argumentando que verdade

    que o l est registrado [na alternativa "B"] de fato o

    entendimento do Pretrio Excelso at ento utilizado sobre o tema.

    Todavia, tal en