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ATIVIDADE GARIMPEIRA E O IMPACTO AMBIENTAL NOS RIOS DO AMAZONAS ADRIANA ALMEIDA LIMA 1. INTRODUÇÃO A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, assim estabelece no item IX, do artigo 20: São bens da União: (...) IX os recursos minerais, inclusive os do subsolo.Os bens por serem da União, não necessariamente estão excluídos de exploração por outras entidades. Segundo o item XXV do art. 21 da CF/88, a exploração pode ser definida pela União; pois é de competência da União: “estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa. Este artigo é eminentemente teórico, pautado na análise da literatura que se relaciona ao tema. A técnica utilizada se define pelo método hipotético-dedutivo com a finalidade de entendimento da regra normativa exarada pela Constituição Federal, a qual aponta a atividade garimpeira em conjunto com o aproveitamento dos potenciais minerais com a autorização da União, assegurando a participação dos trabalhadores na lavra. Inicialmente, é importante destacar que a atividade garimpeira causa graves problemas e impactos socioambientais.na região do Amazonas e adjacências. O Código de Mineração, Decreto-Lei N° 227/67, em seu artigo 70, considera a garimpagem como: O trabalho individual de quem utiliza instrumentos rudimentares, aparelhos manuais ou máquinas simples e portáteis, na extração de pedras preciosas, semipreciosas e minerais metálicos ou não metálicos, valiosos, em depósitos de aluvião ou aluvião, nos álveos de cursos d'água ou nas margens reservadas, bem como nos depósitos secundários ou chapadas (grupiaras), vertentes e altos de morros, depósitos esses genericamente denominados garimpos. Mestre em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas. Professora da Universidade do Estado do Amazonas e da Faculdade Metropolitana de Manaus. Especialista em Processo Civil pela Universidade Federal do Amazonas.

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ATIVIDADE GARIMPEIRA E O IMPACTO AMBIENTAL NOS RIOS DO

AMAZONAS

ADRIANA ALMEIDA LIMA

1. INTRODUÇÃO

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, assim estabelece no item IX,

do artigo 20: “São bens da União: (...) IX – os recursos minerais, inclusive os do subsolo.“

Os bens por serem da União, não necessariamente estão excluídos de exploração por

outras entidades. Segundo o item XXV do art. 21 da CF/88, a exploração pode ser definida

pela União; pois é de competência da União: “estabelecer as áreas e as condições para o

exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa”.

Este artigo é eminentemente teórico, pautado na análise da literatura que se relaciona

ao tema. A técnica utilizada se define pelo método hipotético-dedutivo com a finalidade de

entendimento da regra normativa exarada pela Constituição Federal, a qual aponta a atividade

garimpeira em conjunto com o aproveitamento dos potenciais minerais com a autorização da

União, assegurando a participação dos trabalhadores na lavra. Inicialmente, é importante

destacar que a atividade garimpeira causa graves problemas e impactos socioambientais.na

região do Amazonas e adjacências.

O Código de Mineração, Decreto-Lei N° 227/67, em seu artigo 70, considera a

garimpagem como:

O trabalho individual de quem utiliza instrumentos rudimentares,

aparelhos manuais ou máquinas simples e portáteis, na extração de

pedras preciosas, semipreciosas e minerais metálicos ou não

metálicos, valiosos, em depósitos de aluvião ou aluvião, nos álveos de

cursos d'água ou nas margens reservadas, bem como nos depósitos

secundários ou chapadas (grupiaras), vertentes e altos de morros,

depósitos esses genericamente denominados garimpos.

Mestre em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas. Professora da Universidade do

Estado do Amazonas e da Faculdade Metropolitana de Manaus. Especialista em Processo Civil pela

Universidade Federal do Amazonas.

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A atividade garimpeira tem como favorecimento ideal a prática de incentivo à

“organização da atividade garimpeira em cooperativas”, conforme o planejamento elaborado

pelo poder público, delimitado pelo art. 174, §3º e 4§ da CF/88. O texto constitucional se

evidencia por restar entendido que as competências estaduais e municipais de proteção

ambiental terão repercussões na atividade mineraria em parceria com as associações.

A regra normativa exarada pela Constituição Federal encontrada ainda em seu artigo

176, incisos1º, 2º e 3º é que a forma do desenvolvimento da atividade garimpeira requer o

aproveitamento dos potenciais minerais com a autorização da União, assegurando a

participação dos trabalhadores na lavra, e levando em consideração que as autorizações

podem ser parciais ou totais, sem intervenção do poder concedente.

No entanto, é importante destacar que a atividade garimpeira causa impactos ambientais

e sociais, em especial na Amazônia Brasileira. Nesta expectativa, o artigo em questão busca

demonstrar que a atividade garimpeira como aspecto econômico não supre a degradação do

meio ambiente. Desse modo, se fazem necessárias a elaboração e aprovação de programas de

sustentabilidade para conservar o meio ambiente e valorizar a vida humana, considerando que

a vida num garimpo é insalubre e perigosa. Os garimpeiros vivem no local, em comunidades

que são deliberadamente áreas degradadas, criadas por eles mesmos enquanto escavadores de

ouro, que misturam mercúrio na água, no solo e no ar, formando-se verdadeiras grotas e

igarapés contaminados que atingem de forma predatória os rios do Amazonas.

2. MINERAÇÃO

Mineração é o termo utilizado para a extração e beneficiamento de minerais que se

encontram em estado natural sólidos (carvão), líquidos (petróleo bruto) e gasosos (gás

natural). Numa visão mais abrangente, inclui a exploração de minas subterrâneas e a céu

aberto, pedreiras e poços, e todos os processos complementares para beneficiar e preparar

minérios e outros materiais brutos para que sejam comercializados.

Os recursos minerais são bens não renováveis, portanto esgotam-se. Eles tendem à

escassez à medida em que é feita sua exploração.

Os métodos de lavra são:

1. a céu aberto: método de bancos em cava ou encostas dependentes das condições

topográficas do terreno;

2. subterrânea: lavra desenvolvida no subsolo em função de dois condicionantes, um é a

geometria do corpo (inclinação e espessura) e o outro são as características de resistência e

estabilidade dos maciços que constituem o minério e suas encaixantes. As variações do

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método ocorrem sob a forma de abertura de poços, túneis e galerias nos maciços das

encaixantes ou aplicação de métodos ou técnicas mais sofisticadas como: realce auto-

portantes, câmaras e pilares, subníveis, VCR - Recuo por Crateras Verticais, suporte das

encaixantes, recalque, corte e enchimento e abatimento:

3. garimpagem manual: método onde o processo se dá pela lavagem do cascalho com

equipamentos rudimentares e ferramentas manuais,

4. garimpagem mecânica pelo desmonte hidráulico e seleção granulométrica

/gravimétrica.

3. CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA ATIVIDADE GARIMPEIRA

A atividade garimpeira no Brasil está reservada a 16 áreas reconhecidas pelo

Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), órgão do Ministério de Minas e

Energia. Deste total, nove são garimpos de ouro, dois de diamantes, dois de esmeraldas e o

restante de outras gemas. De 1990 a 1992, o DNPM registrou uma produção de 163 toneladas

de ouro nos 16 garimpos. Esta produção, no entanto, apresentou um decréscimo neste período.

Em 1990, foi de 71 toneladas, em 1991 de 55 e, em 1992, caiu para 37 toneladas.

No caso específico da mineração, conforme descreve Barreto (2000), a visão estratégica

voltada para o desenvolvimento nacional teve por base inicialmente, políticas e legislações

destinadas apenas ao fomento e ao incentivo da exploração mineral, podendo identificar-se a

evolução da incorporação da dimensão ambiental primeiramente sob uma perspectiva

fragmentada, caracterizada por uma proteção voltada para a saúde humana, como o controle

de água potável e das condições do ambiente de trabalho, para posteriormente abranger uma

visão holística do meio ambiente, preocupada com a poluição ambiental e com o

desenvolvimento sustentável, objetivando equacionar desenvolvimento econômico e social

com preservação do ecossistema.

De forma lenta, mas com praticidade no entendimento da sustentabilidade e para que

não se agrida o meio ambiente, alguns autores buscam penalizar aqueles que degradam o meio

ambiente com a necessidade de impedir e obstaculizar as oportunidades fáceis de exploração

do ouro sem qualquer requisito ou manuseio cuidadoso.

No cenário nacional, segundo Rezende (2000), a ideia de instrumento econômico de

controle ambiental para a recuperação das áreas degradadas funciona em esquema de garantia

de performances, por intermédio de uma caução em dinheiro ou outra forma de garantia

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financeira, no qual os depósitos são devolvidos ao minerador de acordo com o atendimento do

cronograma de execução do projeto de recuperação.

É importante destacar que os princípios em direito ambiental são fontes inesgotáveis de

busca pela melhoria da qualidade do procedimento ambiental utilizado pelos garimpeiros e

proprietários do garimpo. E de outro modo, na exigência de recuperar a área degradada, estes

princípios são consagrados pela Constituição, quais sejam: o princípio do poluidor pagador, o

princípio da cooperação e o princípio da prevenção.

Neste sentido, de acordo com Machado (2000) a recuperação da área degradada entrosa-

se com o dever de não poluir, que atua de forma permanente na atividade, com implicação na

execução da recuperação. Diante desta problemática, a Constituição Federal de 1988 busca

paralelamente acrescentar de forma sustentável a mineração com a forma de exploração

determinado pelo artigo 225, § 2º, impondo a obrigação daquele que explorar os recursos

minerais de recuperar o meio ambiente degradado.

Essa definição está em consonância com a garantia para contribuição fundamental de

um meio ambiente ecologicamente equilibrado com a perspectiva de um novo modelo de

desenvolvimento econômico que tem como objetivo não somente produzir, mas também a

preservação do meio ambiente como desafio da mineração como um todo.

Importante observar que o Brasil, no mesmo entendimento que outras nações,

vislumbrou a proteção ambiental, idealizando o meio ambiente como equilibrado e fonte de

um direito fundamental de valor inesgotável, o que reflete na obrigatoriedade do Estado e da

coletividade em defendê-lo para a preservação para as futuras gerações.

Segundo CPRM (2002), os principais problemas oriundos da mineração podem ser

englobados em cinco categorias: poluição da água, poluição do ar, poluição sonora,

subsidência do terreno, incêndios causados pelo carvão e rejeitos radioativos.

De fato, a ideia de que toda exploração de recurso natural se encontra fadada a

consequências pelos impactos que a atividade de mineração provoca, seja no que diz respeito

à exploração de áreas naturais ou mesmo à geração de resíduos sólidos e efluentes..

No âmbito nacional existem diversas áreas, localizadas nos estados de Minas Gerais e

Bahia, que historicamente possuem atividades garimpeira, por exemplo. Os principais

impactos ambientais decorrentes dessa atividade estão relacionados a seguir: a)

desmatamentos e queimadas; b) alteração nos aspectos qualitativos e no regime hidrológico

dos cursos de água; c) queima de mercúrio metálico ao ar livre; d) desencadeamento dos

processos erosivos; e) turbidez das águas; f) mortalidade da ictiofauna; g) fuga de animais

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silvestres; h) poluição química provocada pelo mercúrio metálico na biosfera e na atmosfera

(IPT, 1992).

A importância da preservação ambiental no que tange à atividade garimpeira

exploratória ultrapassa o que podemos dizer sobre políticas públicas, porque a preocupação é

recente com a profunda degradação que causa esse tipo de atividade.

Segundo Bacci (2006), os efeitos ambientais estão associados, de modo geral, às

diversas fases de exploração dos bens minerais: como abertura da cava, (retirada da

vegetação, escavações, movimentação de terra e modificação da paisagem local), o uso de

explosivos no desmonte de rocha (sobre pressão atmosférica, vibração do terreno, ultra

lançamento de fragmentos, fumos, gases, poeira, ruído), o transporte e beneficiamento do

minério (geração de poeira e ruído), afetando os meios como água, solo e ar, além da

população local. A proteção ambiental das áreas garimpeiras é de cunho social, político e

legislativo, mas precisa-se fazer uso dos bens minerais proporcionando um meio ambiente

adequado a toda a sociedade pensando num futuro.

A atividade garimpeira deve estar tutelada de acordo com as normas jurídicas

ambientais, mas deve ser assegurado que a sociedade possa participar cada vez mais forte do

desenvolvimento sustentável, como forma de melhoria do meio ambiente e qualidade de vida

com a eficiente programação de disposição de resíduos que são consequência do mau uso do

solo nas áreas de mineração.

No entanto, para efeito de constituição de exploração e aproveitamento ambiental, os

recursos minerais e a água são propriedades que se diferenciam do solo, pertencem à União e

garantem o produto da lavra a quem explora; a definição dessa garantia está determinada pelo

artigo 176, da CF/88.

A competência constitucional da União é estabelecer as áreas e as condições para a

atividade garimpeira, seja de forma associativa ou de forma cooperativa, mas não se pode

esquecer a proteção ao meio ambiente e a questão socioeconômica dos garimpeiros, o art. 174

da CF/88 define esta possibilidade. Vê-se, pois, que a União tem competência para legislar e

os Estados e município para registrar, acompanhar e fiscalizar todas as concessões que forem

dadas aos garimpeiros para que eles possam explorar os recursos hídricos minerais.

A garimpagem, segundo estabelecido no art.10 da Lei nº 7805 de 18/06/89, é definida

como “uma atividade de aproveitamento de substâncias minerais executada no interior de

áreas estabelecidas para este fim, exercidas por brasileiro, por cooperativa de garimpeiros,

autorizada a funcionar como empresa de mineração, sob o regime de permissão de lavra

garimpeira”. O parágrafo segundo do mesmo artigo enuncia que “o local em que ocorre a

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extração de minerais garimpáveis, na forma deste artigo, será genericamente denominado

garimpo”.

O Código de Mineração, Decreto-Lei N° 227/67, em seu artigo 70, define a

garimpagem da seguinte forma:

O trabalho individual de quem utiliza instrumentos rudimentares, aparelhos

manuais ou máquinas simples e portáteis, na extração de pedras preciosas,

semipreciosas e minerais metálicos ou não metálicos, valiosos, em depósitos de

aluvião ou aluvião, nos álveos de cursos d’água ou nas margens reservadas, bem

como nos depósitos secundários ou chapadas, vertentes e altos de morros, depósitos

esses genericamente denominados garimpos.

A atividade garimpeira nunca teve compatibilidade com a legislação em relação à

pratica exercida, muito embora as autoridades procuram tolerar o trabalho, por vezes por falta

inclusive de contingenciamento fiscalizador da própria administração pública. As bombas e

dragas são materiais utilizados em garimpos que estão dotados de grande possibilidade de

atividade predatória, por serem modificados de um lugar para o outro, caracteriza um trabalho

coletivo de um grupo de garimpeiros que não têm conhecimento de todas as técnicas

ambientais para um melhor aproveitamento do material em prol do meio ambiente.

4. O INTERESSE ECONÔMICO COMO ELEMENTO PROPULSOR DA

RETIRADA DO OURO NA AMAZÔNIA

A intensidade da circulação do ouro provocou uma alteração nos estilos de vida em toda

a vida amazônida, conforme os dados abaixo. O identificador estatístico direciona o plano

nacional de mineração como um todo na crescente valorização sistemática do ouro.

Segundo o Plano Nacional de Mineração 2030, (PNM-2030 2010, pg.42),

desde o início de 2005, a produção de ouro no Brasil tem crescido a partir do

desenvolvimento de novos projetos e expansões das minas em atividades, chegando a

uma produção de 57 t em 2009. Desde então, a crescente valorização das cotações

deste bem mineral tem estimulado o crescimento dessa produção. Em 2001, a cotação

média foi de US$273/oz, em 2008, US$872/oz, em 2010, atingiu a marca de

US$1.300/oz revelando a expressiva preferência pelo ouro como um ativo de

segurança, em momentos de crise financeira. O ouro também tem sido a substância

mineral mais procurada no Brasil, com investimentos para a pesquisa mineral da

ordem de R$580 milhões entre 2004 a 2008. No entanto, conforme estima o PNM-

2030 (2010, p.88), essa produção irá dobrar até o ano de 2017, consolidando o ouro,

como segundo bem mineral em valor de exportação, depois do minério de ferro, desde

que as cotações vigentes se mantenham.( MACHADO, 2014, .13).

Trata-se de um contexto onde a cultura da exploração do ouro que não poderia se

dissociar da valoração econômica.

Neste contexto, a atual fronteira de expansão da mineração no Brasil é a

Amazônia PNM-2030 (2010, p.57-60), onde ocorrem extrações irregulares, que se

instalaram por anos, como por exemplo, ouro no Tapajós, Serra Pelada e Madeira

(PA). Portanto, por suas especificidades geológicas, ambientais, territoriais (a difícil

acessibilidade) e condição histórica, a exploração mineral na Amazônia impõe um

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desafio adicional às políticas minerais para a região, pois além de visar à

competitividade do setor mineral como um todo, deve-se considerar fortemente o

contexto socioeconômico regional. Nesse sentido, o PNM (2010) destaca quatro

importantes desafios para a implementação de políticas públicas para a região:

primeiramente a execução do Macrozoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia

Legal, consolidando os diferentes acessos e usos do solo e subsolo; o segundo desafio

é considerar a mineração como vetor de desenvolvimento regional, em harmonia com

os compromissos formalizados por cada um dos seus estados, assegurando que os

benefícios provenientes da extração mineral sejam revertidos em prol do

desenvolvimento da região; o terceiro desafio é a regulamentação da mineração em

terras indígenas (CF de 1988, Artigo 231); o quarto desafio, muito importante para a

região dessa pesquisa, reside na legalização da atividade garimpeira, promovendo o

aproveitamento dos bens minerais que ocorrem em depósitos passiveis de extração

por meio de Permissão de Lavra Garimpeira. (MACHADO, 2014, p.13)

Atender ao sentido de preservação ambiental estaria longe da expectativa maior que

seria enriquecer na atividade garimpeira.

Portanto, verifica-se que as políticas governamentais intervencionistas

proporcionaram o maior impulso à dinâmica migratória dessa região, influenciando

a configuração espacial do povoamento, considerando que o deslocamento deixou de

ser pela rede fluvial e passou a ser pelas estradas pioneiras, tanto para os fluxos

imigratórios dirigidos como para as correntes imigratórias espontâneas. O processo

efetivo de povoamento foi produto de uma ordem espontânea, resultante do

imbricamento das atividades do sistema de povoamento e a ação das instituições

governamentais (Idem ibidem MACHADO, 1999, p.116-138).

O que se busca demonstrar nesse estudo é deve ser obrigatório que a questão econômica

aliada à sustentabilidade poderá ser adotada como medida eficaz na proteção do meio

ambiente e da sadia qualidade de vida.

Em notícia veiculada pelo portal da Amazônia, a justiça determinou a suspensão de

trabalhos em garimpo do Amazonas em caráter liminar de qualquer atividade de pesquisa

mineral ou de extração de ouro na área do garimpo Rosa de Maio. Levando em consideração

que este garimpo foi identificado pela Polícia Federal em 2009, o campo está localizado no

rio Parauari, localizado ao sul do município de Maués (distante a 268 quilômetros de

Manaus). A exploração ilegal do minério na região ocorreu por mais de 30 anos e resultou em

danos ambientais. Segundo a notícia a acusação contra o dono e proprietário do garimpo dá

conta de que a pratica ilegal de extração de minérios teve início desde a década de 70, que

causaram danos ambientais visíveis como desmatamento de vegetação em área de preservação

permanente à margem dos rios e ao redor de nascentes e assoreamento de igarapés, entre

outros.

O garimpo Rosa de Maio foi identificado pelo setor técnico-científico da Polícia Federal

no Amazonas, em 2009, como um dos dois garimpos que ainda estavam em operação na

região. Ao todo, foram apontadas cinco frentes de lavra de minérios na área deste garimpo,

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bem como, foram detectados danos ambientais como desmatamento de vegetação em área de

preservação permanente à margem dos rios e ao redor de nascentes e assoreamento de

igarapés, entre outros. Durante a visita ao local do garimpo, naquele ano, a Polícia Federal

apurou que o garimpo Rosa de Maio pertencia a Francisco Assis, conhecido como “Zezão”,

morador da cidade de Itaituba, no Pará, e que o garimpo teve início por volta de 1975

(AMAZONIA, 2013).

No auge das atividades, segundo os relatos colhidos pela Policia Federal, a área

chegou a reunir 200 garimpeiros e nove maquinários. Na época das diligências realizadas pela

PF, a produção informada foi de 1,5 quilos de ouro por mês, sendo que 70% ficava para o

dono do garimpo e 30% para os garimpeiros. Na conclusão do relatório técnico, os peritos da

PF confirmaram a existência de extração mineral de ouro recente no garimpo Rosa de Maio e

constataram que a área degradada pela atividade nos últimos 50 anos era de aproximadamente

1.065 hectares.

As investigações listam ainda duas empresas que teriam se beneficiado das pesquisas

minerais e da exploração ilegal de ouro no garimpo Rosa de Maio por mais de dez anos. Nos

pedidos finais, o MPF/AM requer a condenação dos processados à recuperação, compensação

dos danos ambientais e a devolução ao patrimônio da União, em valor a ser apurado pelo

Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e corrigido monetariamente, o

correspondente à extração de ouro realizada na área. Sem sombra de dúvidas, a referida ação

se tornou parte integrante da condição efetiva e sistemática da atuação direta de autoridades

no Estado do Amazonas, sendo as circunstâncias definidas por uma integração entre a polícia

e o Poder Judiciário.

O próprio processado Francisco Assis Moreira chegou a admitir ser o responsável pela

extração mineral no garimpo Rosa de Maio durante aproximadamente 30 anos, em

interrogatório realizado na Delegacia de Polícia de Itaituba, como parte de um inquérito

conduzido pela Polícia Federal do Amazonas. Com base nas investigações, ele foi denunciado

criminalmente pelo MPF/AM em junho desse ano por crime contra o patrimônio, pela

usurpação de bens da União sem autorização legal. A ação penal tramitava na 7ª Vara Federal

do Amazonas, sob o nº 10744-72.2012.4.01.3200 (AMAZONIA, 2013).

Em reportagem publicada pelo jornal Folha de São Paulo, datada de 24 de novembro de

1991, Francisco Assis Moreira da Silva, o “Zezão do Abacaxi”, foi apontado como o

garimpeiro mais rico do Brasil, com uma fortuna avaliada à época em US$ 20 milhões, a qual

ele administrava pessoalmente e sem a mediação de bancos. A reportagem afirma também

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que a produção do Rosa de Maio – que ele teria comprado do primeiro proprietário por 20

quilos de ouro, chegou a 110 quilos de ouro por mês (AMAZONIA, 2013).

O registro determina que atualmente a atuação das autoridades em prol da preservação

do meio ambiente e na situação da atividade garimpeira, encontra-se fortemente punitiva, haja

vista ser percebido quanto tempo já se fazia da atividade ilegal acima mencionada. Essa

atuação impede de forma necessária a exploração da atividade garimpeira sem a exata

possibilidade de aplicação dos princípios constitucionais e obediência à legislação especifica.

O garimpo no Amazonas é uma atividade que se utiliza de uma prática de forma

mecanizada, com exploração de forma manual sendo desenvolvida em lugares a céu aberto,

mais precisamente em aluviões, montanhas, rochas ou rios com grandes escavações, que

precisam ser refeitos após sua utilização sob pena de causarem um grande impacto na

natureza, mas na realidade não acontece por não ter planejamento de sustentabilidade ou de

reconstrução do meio ambiente. Água e solo são os principais mecanismos da atividade

garimpeira, o que ocorreu por longos anos sem qualquer planejamento de homens eufóricos

pelo encontro com a tão sonhada riqueza que seria encontrada, ou seja, o meio ambiente ficou

esquecido e sem qualquer expectativa de planejamento preventivo ou reconstrutivo.

A estrutura do garimpo se vincula à busca de riquezas minerais, bem como sua

ocupação pelo encontro de informações que se destaca, perece de planejamento ou qualquer

tipo de gestão apresentada para a melhoria e qualidade do meio ambiente no contexto geral, o

que se pode observar que a atividade garimpeira acaba por traduzir-se em degradação e

atividade predatória que toma rumos desproporcionais e a cada investigação se conclui que

desde o início da atividade mineral, a preocupação não é necessariamente a natureza e o meio

ambiente como um todo. Os garimpos se distribuem por quase todo o território nacional,

porém sua maior concentração ocorre nos 5 milhões de km2 da Amazônia Legal,

reconhecidos pela exuberância de seus recursos naturais e por sua potencialidade mineral.

Embora a região apresente o mais baixo índice demográfico nacional, nela trabalham cerca de

230.000 operários garimpeiros, e mais de um milhão de pessoas associadas em atividade de

apoio.

O garimpo na fronteira amazônica se estruturou de forma diferente do extrativismo

tradicional. Embora não seja uma atividade tipicamente urbana, estabeleceu os contornos de

um padrão de urbanização específicos, exercendo intenso efeito direto e indireto de

urbanização, uma vez que todos os subsetores dependentes da renda gerada pelo garimpo se

localizam em polos urbanos (PEREIRA.1990). Desse modo, várias pequenas localidades

também surgiram como apoio secundário à atividade garimpeira, possuindo geralmente

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acesso fluvial e infraestrutura mínima somente para apoio imediato aos garimpos próximos, e

a que posteriormente pode-se acrescentar uma pista de pouso.

Observando, portanto, que novos rumos estão surgindo e de forma esperançosa, os

garimpos devem passar por um planejamento, no qual a sustentabilidade possa ser o objeto de

fundo de um novo modelo de gestão paradigmática para outros estados.

CONCLUSÕES

A mineração, evidentemente, causa um impacto ambiental considerável. Ela altera

consideravelmente a área minerada, a vizinhança por intermédio da água que se manuseia e,

onde são feitos os depósitos de rejeitos. Entretanto, a presença de substancia química favorece

a degradação ambiental sem o mínimo de condições sustentáveis ou renovação do solo e da

água, podendo causar uma grande lesão ao meio ambiente. A criação de instrumentos de

sustentabilidade tais como medidas eficazes e penalizadoras podem fazer a diferença,

intervindo na condição financeira do poluidor.

É urgente e necessário aliar as medidas legais protetivas à adoção de ações de que

incluam a sustentabilidade com o objetivo de implementar políticas que possam reestruturar a

água e o solo que são fontes principais atingidas, além de melhorar de forma positiva a

conservação e preservação do meio ambiente e a sadia qualidade de vida. A poluição aparente

é o primeiro efeito com visibilidade da mineração ao meio ambiente. A erosão transforma

áreas verdes em áreas devastadas pela mecanização e maquinas e são produtos da mineração

que impedem a composição da prática da reestruturação do local, que por não se tratarem de

recursos renováveis, impedem a posterior utilização.

REFERÊNCIAS:

AMAZONIA. Garimpo no Amazonas tem as atividades suspensas por determinação da

Justiça Federal. Disponível em: <http://amazonia.org.br/2013/02/garimpo-no-amazonas-tem-

as-atividades-suspensas-por-determina%C3%A7%C3%A3o-da-justi%C3%A7a-federal/>.

Acesso em: 07 dez 2016.

AMAZONIA BRASIL. Secretaria de recursos minerais pretende ordenar garimpos do

Amazonas. 29 de janeiro 2011.

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