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Atividades Paleontológicas de Llewellyn Ivor Price (1905 - 1980) em Peirópolis, Município de Uberaba (MG), de 1948 a 1960 Rita de Cassia Tardin Cassab 1 Diogo Jorge de Melo 2 Introdução Ainda são modestos os estudos históricos voltados para a Paleontologia brasileira. Entre as atividades do século XIX, destacamos a contribuição de diversos pesquisadores estrangeiros, como o dinamarquês Peter Wilhelm Lund (1801-1880) que descobriu ossadas pleistocênicas em grutas de Minas Gerais, o inglês Arthur Smith Woodward (1864-1944), dedicado ao estudo dos peixes fósseis e os americanos, Charles Frederick Hartt (1840-1878) idealizador da Comissão Geológica do Império e seu discípulo Orville Adalbert Derby (1851-1915), que mais tarde tornou- se o primeiro diretor do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil (CASSAB, 2010 3 ). No entanto, são bem menores os estudos que se reportam ao desenvolvimento da Paleontologia ao longo do século XX e a personagem histórica de Llewellyn Ivor Price (1905- 1980), alvo específico deste trabalho, se enquadra nesse contexto. No momento em que a Paleontologia se institucionalizou no Rio de Janeiro, representava-se em duas instituições, o Museu Nacional, atualmente pertencente a Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, que em 1934 deu origem ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Nesta última, constava no organograma uma Divisão de Geologia e Mineralogia (DGM) e nesta, uma Seção de Paleontologia, onde se formou a primeira geração de profissionais brasileiros, iniciando um momento próspero e significativo para esta ciência no Brasil. Este trabalho possui como objetivo apontar um pouco da trajetória profissional de Llewellyn Ivor Price na Seção de Paleontologia do DNPM, na qual trabalhou longos anos de sua vida, desenvolvendo pesquisas com vertebrados fósseis. Foram destacadas as atividades realizadas por Price no distrito de Peirópolis, município de Uberaba, em Minas Gerais, iniciadas historicamente na década de 1940. 1 Paleontóloga aposentada do Departamento Nacional de Produção Mineral e Pesquisadora vinculada ao Instituto de Geociências da UFRJ. [email protected] 2 Professor da Universidade Federal do Pará. [email protected] 3 CASSAB, Rita de Cassia Tardin. Histórico das pesquisas paleontológicas no Brasil. In: Paleontologia. Carvalho, Ismar de Souza (Ed.). 3ª Ed. Rio de Janeiro, Ed. Interciência. 2010, p 13-18.

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Atividades Paleontológicas de Llewellyn Ivor Price (1905 - 1980) em Peirópolis,

Município de Uberaba (MG), de 1948 a 1960

Rita de Cassia Tardin Cassab1

Diogo Jorge de Melo2

Introdução

Ainda são modestos os estudos históricos voltados para a Paleontologia brasileira. Entre

as atividades do século XIX, destacamos a contribuição de diversos pesquisadores estrangeiros,

como o dinamarquês Peter Wilhelm Lund (1801-1880) que descobriu ossadas pleistocênicas em

grutas de Minas Gerais, o inglês Arthur Smith Woodward (1864-1944), dedicado ao estudo dos

peixes fósseis e os americanos, Charles Frederick Hartt (1840-1878) idealizador da Comissão

Geológica do Império e seu discípulo Orville Adalbert Derby (1851-1915), que mais tarde tornou-

se o primeiro diretor do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil (CASSAB, 20103).

No entanto, são bem menores os estudos que se reportam ao desenvolvimento da

Paleontologia ao longo do século XX e a personagem histórica de Llewellyn Ivor Price (1905-

1980), alvo específico deste trabalho, se enquadra nesse contexto. No momento em que a

Paleontologia se institucionalizou no Rio de Janeiro, representava-se em duas instituições, o

Museu Nacional, atualmente pertencente a Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Serviço

Geológico e Mineralógico do Brasil, que em 1934 deu origem ao Departamento Nacional de

Produção Mineral (DNPM). Nesta última, constava no organograma uma Divisão de Geologia e

Mineralogia (DGM) e nesta, uma Seção de Paleontologia, onde se formou a primeira geração de

profissionais brasileiros, iniciando um momento próspero e significativo para esta ciência no

Brasil.

Este trabalho possui como objetivo apontar um pouco da trajetória profissional de

Llewellyn Ivor Price na Seção de Paleontologia do DNPM, na qual trabalhou longos anos de sua

vida, desenvolvendo pesquisas com vertebrados fósseis. Foram destacadas as atividades

realizadas por Price no distrito de Peirópolis, município de Uberaba, em Minas Gerais, iniciadas

historicamente na década de 1940.

1 Paleontóloga aposentada do Departamento Nacional de Produção Mineral e Pesquisadora vinculada ao

Instituto de Geociências da UFRJ. [email protected] 2 Professor da Universidade Federal do Pará. [email protected] 3 CASSAB, Rita de Cassia Tardin. Histórico das pesquisas paleontológicas no Brasil. In: Paleontologia.

Carvalho, Ismar de Souza (Ed.). 3ª Ed. Rio de Janeiro, Ed. Interciência. 2010, p 13-18.

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Trajetória acadêmica e vida profissional

Llewellyn Ivor Price nasceu na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em nove

de outubro de 1905. Seus pais eram norte-americanos que vieram ao Brasil trabalhar como

missionários metodistas. Viveu em Santa Maria até os seus onze anos de idade, quando então foi

para os Estado Unidos estudar, graduando-se em Geologia pela Universidade de Oklahoma no

final da década de 1920. Iniciou sua vida profissional nesta mesma universidade, tornando-se em

1930 assistente da cadeira de Paleontologia. Em seu curso de pós-graduação foi orientado por

Alfred Sherwood Romer (1894-1973), um renomado paleontólogo de vertebrados da época.

Foi a partir desse curso que os dois cientistas foram colaboradores em muitos trabalhos e

iniciaram uma longa amizade. Ambos, em 1932, foram trabalhar na Universidade de Chicago e

mais tarde, em 1934, contratados pela Universidade de Harvard, desenvolvendo suas pesquisas

no Museum of Comparative Zoology. Nesta instituição, Price ocupou o cargo de pesquisador

assistente até 1944 e simultaneamente, foi pesquisador associado do Carnegie Institute of

Washington de 1940 a 1942. Ao longo de sua carreira realizou em conjunto com Alfred Romer,

vários trabalhos, destacando-se o primeiro, realizado em 1940, denominado “Review of the

Pelycosauria” (CAMPOS, 19804).

Nos anos de 1936 e 1937, Price esteve no Brasil chefiando a Harvard Brazilian

Paleontological Expedition. Nesta ocasião, foi convidado pelo diretor da DGM do DNPM para

desenvolver pesquisas na área de Paleontologia de Vertebrados. Essas atividades só puderam ser

iniciadas em 1940, pois contavam com o apoio financeiro de instituições norte-americanas,

inicialmente o Carnegie Institution of Washington e depois, do Bureau of Inter-American Artistic

and Intellectual Relations. Essas atividades o levaram a ser convidado para fazer parte do quadro

de paleontólogos do DNPM em 1944, ficando lotado na Seção de Paleontologia. Nesta instituição

desenvolveu sua bela trajetória, até o fim de sua vida profissional aos 70 anos. Após sua

aposentadoria continuou trabalhando e desenvolvendo suas pesquisas. (CAMPOS, 1980).

Price foi um profissional bastante dedicado e minucioso no estudo dos vertebrados

fósseis. Chegou a publicar ao longo de sua vida mais de 50 trabalhos sobre a Paleontologia e

Estratigrafia do Brasil. Treinou uma equipe de técnicos capazes de lidar com os fósseis desde a

retirada dos mesmos no afloramento, quando eram acondicionados para o transporte até as

atividades de preparação no laboratório do DNPM, no Rio de Janeiro. No laboratório eram limpos

e acomodados em estojos de gesso, que são verdadeiras artesanias (Figura 1). Price era um

talentoso desenhista. Ele mesmo ilustrava seus trabalhos e deixou um legado de belas ilustrações

4 CAMPOS, D. A. Llewellyn Ivor Price (1905-1980). Jornal do Geólogo, Sociedade Brasileira de Geologia,

set-out-nov., p. 12. 1980

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científicas como mostra o esquema do crânio de Araripesuchus gomesii descrito por ele, em 1959.

(Figura 2). Destaca-se também a organização de uma coleção osteológica de répteis recentes, feita

com extremo capricho, para ser utilizada em estudos comparativos com os exemplares fósseis.

Participou ativamente da criação da Sociedade Brasileira de Paleontologia, em 1957 (PORTO

ALEGRE, 20095) e era sócio da Sociedade Brasileira de Geologia, sendo homenageado em 1978

e em 1980 com a Medalha de Ouro “José Bonifácio de Andrada e Silva” SBG 6. (Figura 2)

Com base nos materiais didáticos produzidos e diversas outras atividades realizadas ao

longo de sua carreira, entendemos que a metodologia utilizada por Price estava de acordo com as

correntes científicas, paleontológicas e museológicas, mais avançadas da época. Como era um

observador meticuloso, suas anotações são consultadas até hoje, sendo capazes de esclarecer

sobre o modo de ocorrência in situ dos fósseis no afloramento e em qual etapa foram coletados.

A figura 3 demonstra o mapa resultante do principal afloramento estudado, conforme o desmonte

dos sedimentos era realizado (Kellner & Campos, 19997). Informações que foram preciosas para

estudos posteriores, como visto na tese de mestrado de Marcelo N.F. Trotta (20028) e nos artigos

de Trotta et al. (20029) e Kellner et al. (199810). (Figura 3)

Price foi casado com Maria da Glória Tavares Price, que além de sua companheira era

também bibliotecária do DNPM e o ajudava na busca de trabalhos em outras bibliotecas nacionais

e estrangeiras. Price organizou uma biblioteca pessoal, que hoje leva seu nome e integra o acervo

do Museu de Ciências da Terra do DNPM-RJ. Constava de livros, separatas e diversas

publicações muito utilizadas na época, com livre acesso aos pesquisadores. Em entrevista, a

paleontóloga Marise Sardenberg Salgado de Carvalho, ao comentar sobre Price, cita que utilizava

muitas informações contidas na sua biblioteca.

5 PORTO ALEGRE. Sociedade Brasileira de Paleontologia: 50 anos: uma homenagem aos seus

fundadores. Paleontologia em Destaque: Boletim da SBP, 24 (Edição Especial), 2009. 6 SOCIEDADE BRASILEIRA DE GEOLOGIA. Disponível em: < http://www.sbgeo.org.br/home/awards.

Consultado em 14/08/2016. 7 KELLNER, Alexander Armin William; CAMPOS, Diógenes de Almeida. Vertebrate paleontology in

Brazil - a review. Episodes, Beijing, v. 22, n.3, p. 238-251, 1999. 8 TROTTA, Marcelo Newton Ferreira. Estudo do esqueleto pós-craniano de Titanosauridae; 2002; 240 f.

Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas (Zoologia)) – Museu Nacional/Universidade Federal do Rio

de Janeiro.

9 TROTTA, M. N. F.; CAMPOS, D. A.; KELLNER, A.W. A. Unusual caudal vertebral centra of

titanosaurid (Dinosauria: Sauropoda) from the continental Upper Cretaceous of Brazil. Boletim do Museu

Nacional, Nova Série, Geologia, v.64, p.1-11, 2002.

10 KELLNER, Alexander W. A.; CAMPOS, D.A.; TROTTA, M.N.F. Description of a Titanosaurid caudal

series from the Bauru group, Late Cretaceous of Brazil. Arquivos do Museu Nacional, Rio de Janeiro, v.

63, n. 3, p. 529-564, 1998

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“O Price era muito sério, mas era muito simpático. Ele listava a

bibliografia, porque tinha uma bibliografia enorme e a gente tinha muita

dificuldade com bibliografia na época porque, a xerox era uma coisa

difícil e a biblioteca do DNPM tinha algumas coisas. Era uma biblioteca

boa, mas não tinha muitas coisas... algumas coisas que você queria você

tinha que escrever para alguma pessoa, que tivesse para mandar uma

cópia e o Dr. Price tinha muitos contatos e muita bibliografia boa, que a

gente precisava... ele era muito organizado. Ele tinha um fichário super

organizado. Era casado com a Dona Glorinha, da biblioteca. Ela também

organizava muitas coisas para ele da biblioteca” (Entrevista Marise

Carvalho 27/01/2012).

A paleontóloga Vera Medina da Fonseca também em entrevista se referiu a Price

e a biblioteca:

“Tinha muito mais que aquilo. Ele colecionava tudo o que dizia a respeito

a fóssil do Brasil, fosse o que fosse. Apesar dele ser especializado em

vertebrado, ele colecionava qualquer coisa. Ele tirava xerox e colocava

numas pastinhas, não era nada muito sofisticado não, mas era o acervo

com muita informação. Eu me lembro que a gente usou muito essa

biblioteca para fazer o levantamento do RADAM, porque ele tinha muita

coisa, interessante. Eu me lembro que eu estava fazendo a folha Belo

Horizonte e eu cheguei a pegar uns volumes em dinamarquês do Museu

Lund, lá da Dinamarca, que ele tinha, uns 3 ou 4 volumes, belíssimos!

Todos bem encadernados, bem desenhados... Então ele tinha desde essas

coisas até o xerox que ele tirava, colocava uma capinha da papelão, ele

mesmo. Naquela época nada estava informatizado, era tudo mesmo na

mão, era tudo manual, mas ele tinha tudo organizadinho. Ele foi sempre

uma pessoa delicada, e ele dizia pra gente: pode pegar o que quiser, desde

que coloque um papelzinho aqui dizendo que levou. A minha relação com

ele era muito boa. ” (Entrevista Vera Fonseca 14/01/2011).

Grande parte do material dessa biblioteca foi obtida durante uma viagem de estudos

realizada entre agosto de 1951 e setembro de 1952, quando recebeu uma bolsa da John Simon

Guggenheim Memorial Fundation, sediada em Nova York. Nessa ocasião ele obteve da

Geological Society of America, cerca de 20.000 páginas de microfilmes de trabalhos científicos,

com os quais poderia dar continuidade às pesquisas em andamento no Brasil. Esta biblioteca foi

absorvida pela instituição e hoje está parcialmente representada em uma exposição sobre o

paleontólogo.

Neste ano em que esteve fora do Brasil, Price permaneceu os sete primeiros meses em

Nova York visitando instituições, examinando coleções, fazendo intercâmbio de espécimes

fósseis e de literatura cientifica. Após essa temporada, recebeu auxílio financeiro do Conselho

Nacional de Pesquisa (CNPq), e pode então realizar alguns trabalhos de campo e visitar outras

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instituições nos Estados Unidos. Seguiu depois para a Europa, contatando pesquisadores na

França, Inglaterra e Portugal, antes de retornar ao Brasil.

Price faleceu no dia 14 de março de 1980, ainda em pleno vigor de sua capacidade física

e intelectual, no mesmo dia em que recebia a Medalha José Bonifácio, da Sociedade Brasileira de

Geologia, como prêmio pela contribuição prestada a Geologia brasileira. Vera em entrevista

comentou um pouco o episódio do falecimento de Price e neste comentário percebemos que ele

se dedicou à Paleontologia até o fim.

“Eu me lembro do Dr. Price dele se despedindo da gente... ele chamava a gente de escrrravas.

Ele dizia assim: Até logo escrrrravas, até amanhã. No dia seguinte a gente soube que ele tinha

tido um enfarte e morreu na casa dele. ” (Entrevista Vera Fonseca 14/01/2011).

Dentre as suas produções científicas encontramos trabalhos sobre répteis e mamíferos

fósseis, dos quais se destacam a descrição de dinossauros e crocodilianos. Uma das atividades

mais expressivas na trajetória profissional de Price, foi a descoberta de jazigos fossilíferos do

Cretáceo no município de Uberaba, em Minas Gerais. Esse momento ficou marcado, após a

descoberta de fósseis nesta região, em 1945. Caracteriza-se em uma localidade extremamente

fossilífera, de onde foram extraídos diversos ossos de animais de pequeno, médio e grande porte,

destacando-se os restos de dinossauros saurópodos, do grupo dos titanossauros.

Estas descobertas acabaram gerando a criação em 1991 do “Museu dos Dinossauros” e

do Centro de Pesquisas Paleontológicas Llewellyn Ivor Price. Atualmente ambos se integram à

Fundação Municipal de Ensino Superior de Uberaba (FUMESU), mantenedora do Centro de

Ensino Superior de Uberaba (CESUBE).

Primeiras notícias sobre os fósseis da Região de Uberaba

Os primeiros fósseis da região de Peirópolis, distrito de Uberaba, foram encontrados em 1945,

por Luiz Francisco Feijó Bittencourt, engenheiro da Estrada de Ferro Mogiana. Os operários

realizavam escavações para retificação de alguns trechos da ferrovia, nas proximidades de

Mangabeira, ao norte da cidade de Uberaba. Entre os ossos encontrados, destacava-se um fêmur

de dinossauro com 1,3 m de comprimento, atribuído a família Titanosauridae. (Figura 4)

Os sedimentos onde os fósseis da região de Peirópolis são encontrados pertencem ao

Grupo Bauru. Os primeiros achados de fósseis nesta unidade geológica foram registrados no

início do século XX e consistem de uma extensa sequência sedimentar continental, encontrada

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em Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul, estendendo-se até o território

do Paraguai. Pertencem a esta unidade as formações Caiuá, Santo Anastácio, Adamantina, Marília

e Uberaba. São depósitos de arenitos e siltitos, de ambiente semiárido com sistemas de rios

meandrantes, datados do Cretáceo Superior (KELLNER, 199611). Price (195312) cita que Orville

Derby, em 1893, teria encontrado restos de quelônios em sedimentos, que hoje são considerados

como pertencentes do Grupo Bauru e Ihering, 1911 (apud Kellner, 1996) refere-se a fósseis

encontrados na região de São José do Rio Preto, em São Paulo.

No ano de 1946, ocorreu um novo achado de fósseis na área de Peirópolis. Desta vez eram

fragmentos de ossos, aparentemente sem importância, mas entre eles estava um ovo de dinossauro

com forma esferoidal de 15 cm de diâmetro, que foi descrito oficialmente por Price, em 1951.

Segundo consta, foi primeiramente utilizado como uma bola de bocha, o que lhe causou a

destruição da camada externa da casca (PRICE, 195113).

No entanto, somente em 1947, a notícia dos achados chegou ao Dr. José Felicíssimo

Júnior, do Instituto Geográfico e Geológico de São Paulo, e este repassou a informação ao DNPM.

Em junho do mesmo ano, Price solicitou aos geólogos Kenneth Edward Caster, Fernando Flávio

Marques de Almeida, Otávio Barbosa e Setembrino Petri, que visitassem as localidades com as

ocorrências fossilíferas, uma vez que estavam a caminho de Mato Grosso para trabalhos de

campo. Em sete de julho deste mesmo ano, Price fez sua primeira visita ao afloramento,

determinando o jazigo principal e coordenando como seria realizado o desmonte do afloramento.

Pesquisas sistemáticas na região de Peirópolis

A partir de 1948, Price passou a realizar uma exploração sistemática e cuidadosa naquela

região, coletando muitos e excelentes exemplares de fósseis. Em Peirópolis contou com o apoio

de dois auxiliares técnicos do DNPM, que o ajudavam no desmonte e no preparo dos fósseis para

transporte até o laboratório, eram Alberto Lopa, feitor de campo, e após a morte deste, foi

substituído por Langerton Neves. No laboratório de preparação, no DNPM, Rio de Janeiro, faziam

parte de sua equipe os preparadores Júlio de Sousa Carvalho, Otávio da Silva Santos e Luiz Júlio

da Silva e no laboratório fotográfico, Mário Carnaval.

11KELLNER, Alexander W. A. Remarks on Brazilian dinosaurs. Memoirs of the Queensland Museum, v.39,

n.3, 1996, p.611-626. 12 PRICE, Llewellyn Ivor. Os quelônios da Formação Bauru, Cretáceo terrestre do Brasil Meridional.

Departamento Nacional da Produção Mineral, Divisão de Geologia e Mineralogia, 9 p. (Notas

Preliminares e Estudos 57).1953, 34 p. 13 PRICE, Llewellyn Ivor. Um ovo de dinossáurio na Formação Baurú, do Cretácico do Estado de Minas

Gerais. Notas Preliminares e Estudos, Departamento Nacional da Produção Mineral, Divisão de Geologia

e Mineralogia, n.53, 1951.

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De 1948 a 1969, Price realizou diversas viagens de campo na região, portanto, foram 21

anos de dedicação e estudo desses jazigos fossilíferos. Diversos trabalhos foram publicados por

Price, sobre os fósseis dessa unidade geológica, a Formação Bauru e dessa localidade como

mostra a Tabela 1. O primeiro foi aquele em que descreveu um ovo de dinossauro da família

Titanosauridae, catalogado sob o número DGM 348-R do catálogo de Répteis Fósseis da DGM

(PRICE, 1951).

Tabela 1 - Publicações de Llewellyn Ivor Price correlacionadas ao Grupo Bauru. Baseado em

Iglesias e Meneghezzi (1957a14; 1957b15; 196416).

ANO Título Publicação

1945 A new reptile from the Cretaceous of Brazil Notas Preliminares Estudos, nº

25

1950 On a new crocodilian, Sphagesaurus, from the

Cretaceous of the State of São Paulo, Brazil

Anais da Academia Brasileira de

Ciências,

v. 22, nº 117

1950 Os crocodilídeos da fauna da Formação Baurú, do

Cretáceo terrestre do Brasil Meridional

Anais da Academia Brasileira de

Ciências, v. 22, nº 4 18

1951 Um ovo de dinossáurio na Formação Baurú, do

Cretácico do Estado de Minas Gerais

Notas Preliminares e Estudos, 53

1953 Os quelônios da Formação Bauru, Cretáceo

terrestre do Brasil Meridional

Boletim DNPM DGM, nº 147

14 IGLESIAS, Dolores; MENEGHEZZI, Maria de Lourdes. Bibliografia e índice da Geologia do Brasil:

1945-1950. Boletim, DNPM, DGM, n.164, 1957a. 15 IGLESIAS, Dolores; MENEGHEZZI, Maria de Lourdes. Bibliografia e índice da Geologia do Brasil:

1951-1955. Boletim, DNPM, DGM, n.177, 1957b 16 IGLESIAS, Dolores; MENEGHEZZI, Maria de Lourdes. Bibliografia e índice da Geologia do Brasil:

1960-1961. Boletim, DNPM, DGM, n.220, 1964. 17 PRICE, Llewellyn Ivor. On a new crocodilian Sphagesaurus, from the Cretaceous of the State of Sâo

Paulo, Brazil. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 22, nº1. 1950a. 18 PRICE, Llewellyn Ivor. Os crocodilídeos da fauna da Formação Baurú, do Cretáceo terrestre do Brasil

Meridional. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 22, nº 4, p.473-490, 1950b.

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1955 Novos crocodilídeos dos arenitos da Baurú,

Cretáceo do Estado de Minas Gerais

Anais da Academia Brasileira de

Ciências, v. 27, nº 419

1959 Sobre um crocodilídeo notossúquia do Cretácico

brasileiro

Boletim DNPM DGM, nº 18820

1961 Sôbre os dinossáurios do Brasil Anais da Academia Brasileira de

Ciências v. 33 (3-4)21

1973 Iguanid lizard from the Upper Cretaceous of Brazil Science, v. 18022

A produção científica pode parecer acanhada, principalmente pelo grande volume de

tempo que ele dedicou ao estudo dessa localidade, mas deve-se ressaltar que o grande legado às

gerações futuras, foi sem dúvida, o cuidado na coleta e a preparação deste material. Atividades

que demandam tempo, desde a limpeza dos fósseis, com a retirada cuidadosa da matriz, a colagem

das partes quebradas, a cama de gesso em que eram acondicionados e ainda, o tempo de

treinamento de uma equipe que pudesse desempenhar bem tal atividade

O paleontólogo por diversas vezes contou com o apoio do Conselho Nacional de Pesquisa

(CNPq) para as suas viagens. Inicialmente o encontro dos fósseis mobilizou muito a comunidade

científica e também a leiga, como atesta o artigo do Deputado Mário de Ascensão Palmério

(1956)23, que falou sobre as verbas designadas pelo Ministério da Agricultura para incremento

das pesquisas no Brasil Central.

Atividades de Price em Peirópolis

Para se ter uma ideia do desenrolar das atividades de Price em Peirópolis, transcrevemos

a seguir as informações que constam no Relatório Anual do Diretor da DGM do DNPM, de 1945

a 1960. Esses relatórios infelizmente foram interrompidos no ano de 1960, pois contém muitos

registros das atividades dos pesquisadores, com detalhes, de grande importância histórica.

19 PRICE, Llewellyn Ivor. Novos crocodilídeos dos arenitos da Baurú, Cretáceo do Estado de Minas Gerais.

Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 27, nº 4, p.487-498, I955. 20 PRICE, Llewellyn Ivor. Sôbre um crocodilídeo notossúquio do Cretácico brasileiro. Bol. DNPM DGM,

nº 188, 1959 21 PRICE, Llewellyn Ivor. Sôbre os dinossários do Brasil. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 33

(3-4) p. xxviii-xxix. I961. 22 ESTES, R. & PRICE, L. I. Iguanid lizard from the Upper Cretaceous of Brazil. Science, 180, p. 748-751.

1973. 23 PALMERIO, M. A. 1956. Para incentivar as pesquisas paleontológicas no Brasil Central. Engenharia,

Mineração e Metalurgia, 23 (133) 19 –20

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1945 - Price fez uma curta viagem a Uberaba para visitar os cortes recentes feitos pela

Estrada de Ferro Mogiana e examinar os jazigos de répteis cretáceos encontrados. Segundo ele, a

área era de grande interesse para o estudo da formação Bauru. Destacou que entre o material

analisado havia um fêmur de “dinossaurídeo”.24

1947 - Em junho deste ano retornou ao Triângulo Mineiro. Devido ao tempo chuvoso não

pode examinar as ocorrências de fósseis que estavam localizadas nos cortes da estrada de ferro e

algumas outras de fácil acesso. Em seu relatório ressaltou que a ocorrência que apresentava

melhores probabilidades de pesquisa, estava na localidade de Peirópolis, embora necessitasse de

um desmonte antes do início dos trabalhos.

1948 - Na viagem feita a Peirópolis, prosseguiu com a coleta de fósseis no talude, abaixo

do nível do jazigo em que se dava o desmonte. O nível principal do afloramento ficava na encosta

da chapada, na Serra da Ponte Alta. Em seu relatório destacou que aquele jazigo fossilífero

merecia uma atenção especial, pois estava em vias de extinção – uma caieira instalada nas

proximidades utilizava o calcário para queima.

A repercussão do encontro desses jazigos fossilíferos na época foi de tal importância, que

o diretor da DGM, Matias Gonçalves de Oliveira Roxo, visitou Price durante os trabalhos de

campo e muito se interessou pelo sucesso da pesquisa.

De volta ao laboratório do DNPM, orientou a preparação dos fósseis coletados. Nessa

etapa predominavam restos de quelônios do gênero Podocnemis, mas havia também algumas

peças de dinossauros do grupo dos saurópodos.

1949 - Em outubro de 1949 iniciou os trabalhos em Peirópolis. Dois meses antes, enviou

o feitor de campo para iniciar o desmonte de solo e rocha necessários para retirada e limpeza dos

fósseis. O desmonte consistia da remoção de 4 a 18 metros de arenitos e conglomerados, que se

sobrepunham à camada fossilífera. Essa remoção era feita por meios naturais, utilizando às vezes

tiros de pólvora para os sedimentos mais resistentes. A remoção do último metro da capa sobre o

leito fossilífero era sempre feita na presença de Price, que fazia primeiramente o estudo dos

fósseis in situ, registrando as observações necessárias que resultariam no esquema da figura 3.

Após essa etapa procedia-se então ao acondicionamento dos fósseis para transporte até ao DNPM,

no Rio de Janeiro.

A área horizontal explorada (até 1958) era de 185 m2, numa frente de 30 m. A escavação

penetrou numa extensão máxima de 14 m, e este também era o ponto de maior espessura,

atingindo 18 m.

24 ROXO, Mathias Gonçalves de Oliveira. Relatório Anual do Diretor – ano de 1945. Departamento

Nacional da Produção Mineral. Divisão de Geologia e Mineralogia, Rio de Janeiro. 1947. 82 p.

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Segundo ele, o trabalho aquele ano havia sido altamente compensador. A coleção

organizada representava o melhor conjunto faunístico conhecido até então na formação Bauru.

Foram retirados fósseis de dinossauros, crocodilídeos, grandes tartarugas, cascas de ovos de

répteis, escamas de peixes, tubos de vermes, alguns moluscos e fragmentos de vegetais. Destaca

ainda que no futuro esse empreendimento dará muitos esclarecimentos sobre a Geologia do

Cretáceo continental do Brasil.

1950 - Dando prosseguimento às pesquisas sobre essa fauna da formação Bauru, Price

permaneceu em Peirópolis de 21 de junho a 22 de julho de 1950, orientando o desmonte

necessário à retirada dos fósseis. Dessa vez coletou um grande número de ossos isolados de

quelônios pleurodiros de grande porte, ossos espalhados de um crocodilídeos que mais tarde foi

descrito como Itasuchus jesuinoi, de celurossauros e algumas vértebras de um dinossauro da

família Titanosauridae. Em outro local, 1 km ao norte da jazida, foram encontrados fósseis de

uma nova espécie de crocodilídeo da subfamília Sebecosuchia descrito como Peirosaurus

tormini.

1951 - No primeiro trimestre de 1951 viajou à Peirópolis para orientar o trabalho dos

técnicos no campo. No laboratório, 24 ossos de dinossauros foram limpos e preparados para

estudo.25

1952 - Em virtude de sua viagem de estudos ao exterior, realizada (agosto de 1951 e

setembro de 1952), Price não esteve em Peirópolis no ano de 1952, supervisionando apenas no

laboratório a preparação dos répteis trazidos nas viagens anteriores.26

1953 - No trabalho de campo realizado em 1953 coletou um magnífico espécime de

quelônio Pleurodira, no mesmo local onde há quatro anos vinha efetuando o desmonte do arenito.

Percorreu também a região de Mangabeira, ao norte de Uberaba, delimitando a área fossilífera

onde procederia futuras escavações.27

1954 - Continuou com o desmonte em Peirópolis. No laboratório, os fósseis coletados no

ano anterior foram preparados por Otávio da Silva Santos, destacando-se entre eles um exemplar

completo de uma tartaruga do gênero Podocnemis, cuja carapaça media 70 cm de comprimento

por 50 cm de largura.28

1955 - Em 1955, dando continuidade aos trabalhos, retirou a melhor coleção de ossos de

saurópodos conhecida até então no Brasil. Esta coleção incluía partes de dois dinossauros de porte

25 LAMEGO, A. R. Relatório Anual do Diretor – ano de 1951. Departamento Nacional da Produção

Mineral, Divisão de Geologia e Mineralogia, Rio de Janeiro. 1952, 60 p. 26 LAMEGO, A. R. Relatório Anual do Diretor – ano de 1952. Departamento Nacional da Produção

Mineral, Divisão de Geologia e Mineralogia, Rio de Janeiro. 1953, 80 p. 27 LAMEGO, A. R. Relatório Anual do Diretor – ano de 1953. Departamento Nacional da Produção

Mineral. Divisão de Geologia e Mineralogia, Rio de Janeiro. 1954, 93 p. 28 LAMEGO, A. R. Relatório Anual do Diretor – ano 1954. Departamento Nacional da Produção Mineral,

Divisão de Geologia e Mineralogia, Rio de Janeiro. 1955, 119 p.

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mediano, com cerca de 12 m comprimento, sendo que em um dos espécimes a coluna sacrodorsal

estava articulada. Segundo Price, estes exemplares permitiam definir com maior segurança as

caraterísticas da família Titanosauridae. Ressaltou que a preservação era excepcional, não tendo

conhecimento de material melhor em nenhuma outra instituição de pesquisa brasileira. Ainda no

Triângulo Mineiro, verificou duas outras localidades fossilíferas nos arredores da cidade de

Campina Verde, município de mesmo nome.29

Nesse mesmo ano, Price publicou um trabalho sobre duas espécies de crocodilos

provenientes de Peirópolis, cujos nomes científicos homenageiam o lugar ou pessoas, que de

alguma forma estão ligadas aos fósseis. São Itasuchus jesuinoi, em homenagem Jesuíno

Felicíssimo Júnior, responsável pelas primeiras notícias sobre os fósseis do local das pesquisas.

Peirosaurus torminni, em homenagem a Peiró, antiga família que se estabeleceu no local e que

hoje dá nome a localidade e ao Sr. Hermann Torminn, que muito o ajudou no decorrer dos

trabalhos de campo (PRICE, 195530).

1956 - Fez nova viagem para observar o andamento dos trabalhos naquele local. No

laboratório orientou a preparação da maior parte dos saurópodos coletados no ano anterior. Para

divulgar o jazigo fossilífero de Peirópolis organizou um painel fotográfico demonstrativo dos

trabalhos, que foi exibido na reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

(SBPC) em julho, na cidade de Ouro Preto, MG.31

1957 - Price passou três dias do mês de agosto em Peirópolis, orientando o desmonte.

Retornou em 24 de outubro e permaneceu até 23 de novembro. Durante esse tempo coletou outros

fósseis de saurópodos, destacando-se uma série de 19 vértebras caudais, perfeitamente

articuladas, com seus respectivos chevrons e a última vértebra sacral.

1958 - Price passou de 15 de outubro a 14 de novembro em Peirópolis. Os fósseis

coletados eram na sua maioria restos de quelônios do gênero Podocnemis, mas havia também

alguns ossos de crocodilídeos e de dinossauros. Confeccionou um mapa para registrar a geologia

local.

1959 - Price (1959) publicou no Relatório Anual do Diretor da DGM/DNPM ano de 1958

um resumo de seus 10 anos de atividades na região de Uberaba. Pelas suas previsões tão cedo não

iriam cessar os trabalhos naquela área, devido à riqueza de fósseis e aos trabalhos de desmonte

necessários para retirá-los.32

29 LAMEGO, A. R. Relatório Anual do Diretor – ano de 1956. Departamento Nacional da Produção

Mineral, Divisão de Geologia e Mineralogia, Rio de Janeiro. 1956b, 137 p. 30 PRICE, Llewellyn Ivor. Novos crocodilídeos dos arenitos da Série Baurú, Cretáceo do Estado de Minas

Gerais. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v.27, n.4, 1955, p.487-501. 31 LAMEGO, A. R. Relatório Anual do Diretor – ano de 1955. Departamento Nacional da Produção

Mineral, Divisão de Geologia e Mineralogia, Rio de Janeiro. 1956a 125 p. 32 PRICE, L. I. 1959. Seção de Paleontologia. In. LAMEGO, A. R. Relatório Anual do Diretor – ano de

1958. Departamento Nacional da Produção Mineral, Divisão de Geologia e Mineralogia, Rio de Janeiro. p.

178-183.

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Realizou nova coleta de fósseis entre 15 de agosto e 22 de outubro. Uma coleção bastante

rica foi removida, destacando-se o encontro do primeiro crânio de um quelônio, a região sacro-

pélvica articulada de um saurópodo e numerosos ossos de dinossauros. Nesta data a área

desmontada e explorada já ultrapassava de 200 m2. Examinou também restos de dinossauros no

Morro da Galga, 20 km ao norte de Uberaba, em um corte de uma nova rodovia.33

1960 - Preparou o crânio do quelônio coletado no ano anterior, e só em 1961 prosseguiu

com a exploração do jazigo fossilífero em Peirópolis. Pesquisou outros afloramentos da Formação

Bauru, explorando cerca de 20 km a leste, até Ponte Alta e 6 km para o norte, indo até Monte

Alegre. No laboratório, preparou dois ossos pélvicos articulados de dinossauros.34

Pelos detalhes das atividades apresentadas de Llewellyn Ivor Price podemos observar que

foi um pesquisador com muitas habilidades, um homem com uma visão bem avançada das

práticas da Paleontologia, desde a coleta até a publicação do artigo. Suas habilidades manuais

acrescentaram bastante qualidade às suas pesquisas. Ainda hoje sua metodologia de preparação

de fósseis é seguida por muitos seguidores atuais.

33 LAMEGO, A. R. Relatório Anual do Diretor – ano de 1959. Departamento Nacional da Produção

Mineral, Divisão de Geologia e Mineralogia, Rio de Janeiro. 1960, 240p. 34 LAMEGO, A. R. Relatório Anual do Diretor – ano de 1960. Departamento Nacional da Produção

Mineral, Divisão de Geologia e Mineralogia, Rio de Janeiro. 252p. 1961

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Figuras

Figura 1 – Llewellyn Ivor Price – no laboratório de preparação de fósseis

Figura 2 – Ilustração de um crocodilídeo fóssil feito por Price.

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Figura3 – Esquema dos fósseis de acordo com as coletas feitas

Figura 4 – Fêmur de dinossauro com 1,3 m de comprimento.