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XXIX CONGRESSO NACIONAL DE PESQUISA EM TRANSPORTE DA ANPET OURO PRETO, 9 A 13 DE NOVEMBRO DE 2015 2844 Mobilidade e Acessibilidade II Planejamento Territorial do Transporte ATRIBUTOS E INDICADORES DA QUALIDADE DE SERVIÇO PARA CADEIRANTES Lorena de Freitas Pereira Marcelino Aurélio Vieira da Silva Licinio da Silva Portugal Universidade Federal do Rio de Janeiro Programa de Engenharia de Transportes RESUMO O presente artigo visa compreender os atributos e respectivos indicadores do ambiente de caminhada que se mostram mais relevantes na circulação de cadeirantes. Para tanto, busca confrontar a literatura referente a Qualidade de Serviço (QS) com a opinião de cadeirantes residentes na Cidade do Rio de Janeiro e especialistas. Este trabalho pretende desenvolver, nestas bases, uma proposta de atributos e indicadores afinadas as características do grupo estudado, almejando contribuir em processos de planejamento territorial. Destaca-se também a apresentação de um procedimento passível de ser replicado em outros modos de deslocamento ou grupos específicos. A aplicação deste procedimento trouxe como resultados a proposição de 8 atributos e 39 indicadores, além da hierarquização de ambos no intuito de destacar as ações prioritárias. Palavras-chave: Cadeirante, acessibilidade, mobilidade, qualidade de serviço. ABSTRACT This article aims to comprehend the attributes of the walk environment that are more relevant on the circulation of wheelchair users. For this, it confront the literature about service quality with the opinion of the wheelchair users who lives in city of Rio de Janeiro and specialists. This study want to develop, on this basis, a proposal of attributes and indicators referring to the characteristics of the group studied, trying to contribute like proposal to be considered in territorial planning process. Stands out the showing of a procedure that can be played with others modes and specific groups. The application of this procedure has as result the proposal of 8 attributes and 39 indicators, in addition to the hierarchization of both in order to detach the priority actions. Keywords: Wheelchair users, accessibility, mobility, servisse quality 1. INTRODUÇÃO As condições de mobilidade nos espaços urbanos podem influenciar no deslocamento de seus citadinos por diversos motivos (como renda e local de residência). Ao se considerar o grupo das Pessoas com Deficiência (PcD), Bromley (2007) aponta o impacto do ambiente construído na mobilidade dos indivíduos. De acordo com Cohen (2006), as dificuldades oferecidas pelos espaços que não seguem a premissa do Desenho Universal repercutem no acesso às atividades e diretamente na qualidade de vida desta parcela da população. Neste sentido, estudos de Qualidade de Serviço (QS) mostram que a aproximação do usuário final no processo de planejamento de determinado serviço pode torná-lo mais perceptivo e participativo. Desta forma, sendo um viés interessante ao se buscar afinar os espaços urbanos de circulação aos desejos das PcD. Assim, o artigo parte da hipótese de que os atributos da qualidade de serviço podem ser aplicados no estudo da circulação de cadeirantes. Acredita-se que os atributos clássicos podem ser adaptados à realidade do grupo, e que novos atributos podem ser incorporados, com o objetivo de melhor atender às necessidades dos usuários de cadeira de rodas. Neste sentido, outra hipótese é de que a autonomia pode ser contemplada como atributo, uma vez que é um fator balizador da acessibilidade com a qual os lugares podem ser vivenciados pelos indivíduos, considerando suas características físicas e orgânicas dentro do espaço disponível (Pinto, 2012; Aguiar, 2010; Jones 1981 apud Aguiar, 2010; Dias, 2008; ABNT, 2004; Brasil, 2004). Considerando ainda outra especificidade do grupo, acredita-se que a incorporação da segurança

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ATRIBUTOS E INDICADORES DA QUALIDADE DE SERVIÇO PARA CADEIRANTES

Lorena de Freitas Pereira Marcelino Aurélio Vieira da Silva

Licinio da Silva Portugal Universidade Federal do Rio de Janeiro Programa de Engenharia de Transportes

RESUMO O presente artigo visa compreender os atributos e respectivos indicadores do ambiente de caminhada que se mostram mais relevantes na circulação de cadeirantes. Para tanto, busca confrontar a literatura referente a Qualidade de Serviço (QS) com a opinião de cadeirantes residentes na Cidade do Rio de Janeiro e especialistas. Este trabalho pretende desenvolver, nestas bases, uma proposta de atributos e indicadores afinadas as características do grupo estudado, almejando contribuir em processos de planejamento territorial. Destaca-se também a apresentação de um procedimento passível de ser replicado em outros modos de deslocamento ou grupos específicos. A aplicação deste procedimento trouxe como resultados a proposição de 8 atributos e 39 indicadores, além da hierarquização de ambos no intuito de destacar as ações prioritárias. Palavras-chave: Cadeirante, acessibilidade, mobilidade, qualidade de serviço. ABSTRACT This article aims to comprehend the attributes of the walk environment that are more relevant on the circulation of wheelchair users. For this, it confront the literature about service quality with the opinion of the wheelchair users who lives in city of Rio de Janeiro and specialists. This study want to develop, on this basis, a proposal of attributes and indicators referring to the characteristics of the group studied, trying to contribute like proposal to be considered in territorial planning process. Stands out the showing of a procedure that can be played with others modes and specific groups. The application of this procedure has as result the proposal of 8 attributes and 39 indicators, in addition to the hierarchization of both in order to detach the priority actions. Keywords: Wheelchair users, accessibility, mobility, servisse quality 1. INTRODUÇÃO As condições de mobilidade nos espaços urbanos podem influenciar no deslocamento de seus citadinos por diversos motivos (como renda e local de residência). Ao se considerar o grupo das Pessoas com Deficiência (PcD), Bromley (2007) aponta o impacto do ambiente construído na mobilidade dos indivíduos. De acordo com Cohen (2006), as dificuldades oferecidas pelos espaços – que não seguem a premissa do Desenho Universal – repercutem no acesso às atividades e diretamente na qualidade de vida desta parcela da população. Neste sentido, estudos de Qualidade de Serviço (QS) mostram que a aproximação do usuário final no processo de planejamento de determinado serviço pode torná-lo mais perceptivo e participativo. Desta forma, sendo um viés interessante ao se buscar afinar os espaços urbanos de circulação aos desejos das PcD. Assim, o artigo parte da hipótese de que os atributos da qualidade de serviço podem ser aplicados no estudo da circulação de cadeirantes. Acredita-se que os atributos clássicos podem ser adaptados à realidade do grupo, e que novos atributos podem ser incorporados, com o objetivo de melhor atender às necessidades dos usuários de cadeira de rodas. Neste sentido, outra hipótese é de que a autonomia pode ser contemplada como atributo, uma vez que é um fator balizador da acessibilidade com a qual os lugares podem ser vivenciados pelos indivíduos, considerando suas características físicas e orgânicas dentro do espaço disponível (Pinto, 2012; Aguiar, 2010; Jones 1981 apud Aguiar, 2010; Dias, 2008; ABNT, 2004; Brasil, 2004). Considerando ainda outra especificidade do grupo, acredita-se que a incorporação da segurança

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nas calçadas como atributo pode preencher uma lacuna percebida na literatura destinada à cadeirantes. Logo, este artigo pretende apresentar os atributos e indicadores mais relevantes para os cadeirantes a partir da aplicação de um procedimento metodológico, aplicável a outros grupos e contextos. 2. BREVE REVISÃO DA LITERATURA Atualmente, em diversos contextos de gestão, é observada a tentativa de melhorar o espaço urbano, alterando suas características físicas – baseando tais modificações em estudos de especialistas. Entretanto, por mais modernos e bem intencionados que os instrumentos de planejamento possam vir a ser, sua importância só pode ser ressaltada quando em todo seu processo é considerada a participação ativa dos cidadãos e usuários dos serviços discutidos, tendo o anseio da sociedade como cerne (Souza, 2006). Usualmente, o que se observa é a imposição de programas, planos e projetos “de cima para baixo” onde a participação popular, ainda que em um regime democrático, é ínfima. E ao papel dos especialistas, nesta perspectiva (autonomista, conforme apontado pelo próprio autor), caberia à orientação para se seguir os caminhos mais interessantes com vistas ao atendimento das demandas populares. Uma iniciativa básica é, assim, conhecer as aspirações e as reais necessidades da sociedade (de forma geral, e também em grupos específicos, considerando a diversidade dos cidadãos). Nessa linha, Carreno et al. (2002), ao abordarem a qualidade dos ambientes para caminhada, assumem que para se ter uma “alta qualidade” é necessário que haja alguma forma de interação visando conhecer os aspectos problemáticos, e possibilitando o desenvolvimento de propostas afinadas às expectativas. Lapierre et al. (1996) sinalizam que mesmo com a utilização de metodologias distintas, trabalhos voltados à avaliação da qualidade de serviço concluem que a mensuração de performance baseada nas experiências pode conduzir a resultados consistentes. Para o Transit Capacity and Quality of Service Manual (TRB, 2003), a Qualidade de Serviço é a mensuração ou percepção global do passageiro, refletindo na forma como o mesmo encara a performance do sistema. Existe, em termos comparativos, uma relação de superioridade entre determinados bens (Martínez e Martínez, 2010). Assim como com produtos, os serviços têm sua qualidade quando aquilo que o usuário recebe está de acordo com suas necessidades e vontades. Neste contexto, se torna imprescindível estreitar a relação entre o pesquisador e o consumidor (do espaço, do serviço ou do produto). As experiências destes indivíduos são únicas, particulares e intangíveis (Lapierre et al., 1996). Esta aproximação permite ao estudioso conhecer os principais atributos do espaço, a avaliação que determinado grupo faz deles e, consecutivamente, apontar medidas de melhorias. Os estudos de qualidade de serviço tradicionalmente consideram a noção de atributos. Tais atributos se expressam a partir das percepções do grupo estudado, sinalizando para a (in)satisfação do mesmo (Neves et al., 2013). São aspectos qualitativos de difícil mensuração devido a sua intangibilidade (abordagem subjetiva). As características da infraestrutura e do ambiente associadas a esses atributos são aqui denominados indicadores.

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Os atributos se constituem a partir das “sensações” (percepções) – oriundas das experiências em determinada condição – que refletem no padrão de viagens. Expressam as dimensões do ambiente de caminhada que são percebidas pelo grupo estudado, afetando em suas vivências e, consecutivamente, na percepção relativa a estes atributos. Já os indicadores são as características nas quais é possível realizar intervenções a fim de melhorar a avaliação do atributo e, consecutivamente, a qualidade do serviço oferecido. Estes atributos são amplamente discutidos na literatura mundial, especialmente com foco nos meios de transporte motorizados. No tocante à PcD, porém, ainda é um tema incipiente. Foi percebido durante o processo de pesquisa bibliográfica aqui desenvolvido, a carência de estudos desta natureza voltados para o deslocamento em cadeira de rodas, especialmente no Brasil, onde as condições de circulação são precárias em muitas cidades. Isto levou o artigo a considerar outras formas de deslocamento, assumindo que, com as devidas adaptações, os atributos utilizados para estas outras modalidades podem ser utilizados. Considerou-se, portanto pedestres e transportes motorizados (o último em menor grau). Assim, considerando o exposto, o presente trabalho desenvolveu um procedimento que permitisse conhecer de uma forma mais profunda os anseios e necessidades do grupo alvo. 3. PROCEDIMENTO PROPOSTO No procedimento aqui apresentado (figura 1) foi inicialmente realizada uma busca por trabalhos científicos que abordassem a qualidade de serviço para cadeirantes (também considerando os modos a pé e transporte motorizado, conforme já mencionado). As informações obtidas foram sistematizadas para formação de uma base conceitual, e utilizadas como referência para a criação das entrevistas realizadas, como mostram os quadros 1 e 2. Posteriormente, para a discussão dos atributos e os indicadores da qualidade de serviço, foi aplicado o método das entrevistas em profundidade envolvendo 6 cadeirantes e 8 especialistas, número compatível com o recomendado pela bibliografia consultada (Galvão & Paiva, 2011; Lopes, 2005; Magalhães et al, 2013; Maia et al, 2011; Marques et al, 2009; Moraes et al, 2011; Oliveira et al, 2012; Oliveira-Cardoso et al, 2010; Schrader et al, 2012; Silva et al, 2012; Silva et al, 2013), devido ao tempo e custo que demanda (Malhotra, 2006). Com base nas informações obtidas nas entrevistas foram definidos os indicadores trabalhados. Através de um material complementar os especialistas contribuíram para a proposta conceitual dos atributos. Assim, os atributos e suas respectivas conceituações foram definidos para esta proposta. Foi realizada a avaliação da importância dos atributos (com especialistas e cadeirantes) e dos indicadores (somente com especialistas). Esta averiguação se deu por meio de material complementar que apresentava os atributos e indicadores pedindo uma nota de 1 a 5 para a importância de cada um, onde 1 representa “sem importância” e 5 “muito importante”. A escala escolhida é uma adaptação da escala de concordância (com cinco possibilidades) utilizada por Stradling et al. (2007), por se tratar de um estudo de referência na mensuração da satisfação e importância de/para os usuários de determinado serviço. Assim, de acordo com Malhotra (2006) e, levando-se em consideração o público entrevistado, buscou-se uma abordagem mais simples e direta.

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Figura 1: Procedimento adotado Sobre os resultados do levantamento realizado, foram inicialmente consideradas 32 publicações científicas. Contudo, destes foram filtrados somente os artigos científicos publicados em periódicos. Ao final, trabalhou-se com 20 artigos, dos quais 2 são específicos de PcD, 17 sobre pedestres e 4 sobre transportes motorizados. Com base nos trabalhos consultados, foram elencados oito atributos que apresentaram relevância para o estudo de cadeirantes. O quadro 1 sinaliza uma predominância dos atributos referentes a segurança e o conforto. Considerando os estudos consultados (não somente os artigos científicos anteriormente mencionados), foram elaboradas definições preliminares dos atributos para serem submetidas ao crivo dos especialistas, e complementadas com as discussões realizadas. Nos trabalhos consultados diversos indicadores foram compilados (como mostra o quadro 2). Contudo, foi percebido que alguns destes tratavam da mesma coisa utilizando nomenclaturas diferentes. Para viabilizar o trabalho, tais indicadores foram unidos em uma única nomenclatura. No entanto, deve-se esclarecer que no processo de levantamento da literatura um novo atributo mostrou sua relevância e abrangência. A “Agradabilidade” (NZ TRANSPORT AGENCY, 2009) tem um significado mais abrangente quando comparado com a “atratividade”, englobando-a em si. A atratividade encontra-se mais relacionada às questões estéticas, enquanto

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a agradabilidade acrescenta o convívio social. Assim, mesmo que com menor ocorrência nos trabalhos consultados, optou-se pela alteração do atributo utilizado. Quadro 1: Atributos e autores que os citam

Onde: 1- Acessibilidade; 2- Atratividade; 3- Conforto; 4- Confiabilidade; 5 - Conveniência; 6 – Rapidez; 7-

Segurança de Tráfego; e 8- Segurança Urbana.

1 2 3 4 5 6 7 8Theodorakis et al , 2013 X X XLam, 2012 X X XMaghelal e Crapp, 2011 X XParra et al , 2011 X X X XKelly et al, 2011 XGomes, 2011 X XMontemurro et al , 2011 X X X XHallal et al , 2010 X X XKeppe Jr., 2008 X X XStaddling et al, 2007 X X X X XLeslie et al , 2005 X X X XOwen et al, 2004 X X X XHumpel et al , 2004 X X X XHumpel et al , 2004b X X XKirtland et al , 2003Carreno et al, 2002 X X X X XFerreira e Sanches, 2001 X X XPercentual 60 73,33 26,67 6,67 26,67 6,67 80,00 73,33

AutoresAtributos

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Quadro 2: Indicadores mencionados pelos autores

Autores: 1 – Acker et al., 2003; 2 – Carreno et al., 2002; 3 - Gomes et al., 2011; 4 - Guo e Loo, 2013; 5 - Hallal et al., 2001; 6 - Humpel et al., 2004 (a); 7 - Humpel et al., 2004 (b); 8 – Kelly et al., 2011; 9 – Keppe Jr., 2008; 10 – Kirtland et al., 2003; 11 – Kocleman et al, 2000; 12 – Leslie et al., 2005; 13 – Maghelal e Capp, 2011; 14 – Montemurro et al., 2011; 15 – Owen et al., 2004; 16 – Parra et al., 2011; 17 – Salvador et al., 2010; 18 – Stradling et al., 2007; 19 – Theodorakis et al., 2013; 20 – TRB, 2003; e 21 – Wee, 2011. 4. AMBIENTES DE CAMINHADA NA VISÃO DOS CADEIRANTES E ESPECIALISTAS Como mencionado no item 3, a pesquisa junto aos cadeirantes e especialistas foi realizada por meio de uma entrevista em profundidade e do preenchimento de material de apoio impresso. Esta pesquisa teve como objetivo central aproximar os atributos da qualidade de serviço

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21Diversidade e proximidade de estabelecimentos e atividades (comércio, residencias, lazer, escola etc) X X X X X X X X X

Proximidade com travessias XConectividade dos caminhos (rotas acessíveis, rotas alternativas) X X X X X X X

Facilidade de atingir os destinos desejados X X X X X X XPlacas e sinais legíveis e bem localizadas (fácil visualização) X X

Limpeza X X X X X XPoliciamento X X X X X X X X XIluminação X X X X X X X X X XEstética X X X X X X X XClima X X X X X X XTopografia X X XArborização X X X X X XProteção contra o sol/chuva X XPoluição do ar e/ou sonora X X X X XExistência de calçada X X X X X X X X X XLargura da calçada (espaço de circulação) X X X X X XInclinação da calçada X X X XPerfil longitudinal (perfil ao longo da calçada) X X XMaterial da superfície da calçada (Placas de concreto, pedra portuguesa,asfalto etc).

X X X X X X

Manutenção da calçada X X X X X X X XPresença de obstáculos na calçada X XEntrada de estacionamentos XCalçada insegura (risco de queda) XExistência de animais XAdequação das travessias (Sinalização, faixa de pedestres, lombadas nivelando a pista de rolamento à calçada etc)

X X X X

Largura da pista de rolamento XFluxo de veículos na interseção X X X X X X X X X XVelocidade média dos veículos X X X X XDistância da separação Calçada / Veículos X X XExistência de ciclovias X X XPresença de pessoas nas ruas X X XExistência de áreas de convívio social X X X XPrevisibilidade do tempo necessário XPrevisibilidade das barreiras ou rotas acessíveis X

IndicadoresAutores

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compilados na literatura com as necessidades do grupo alvo do estudo. Foi mostrado também que 8 atributos clássicos da QS (modos motorizados e pedestres) se mostraram interessantes e adequáveis à realidade dos cadeirantes. As entrevistas foram realizadas com 6 cadeirantes e com 8 especialistas. Nas entrevistas realizadas foi discutida a relevância de cada um dos atributos. E, dois dos atributos clássicos considerados tiveram sua relevância questionada: A confiabilidade e a rapidez. Partindo da análise do discurso dos cadeirantes foi constatado que a confiabilidade é um atributo com menor relevância frente as dificuldades impostas no atributo acessibilidade. E, por sua vez, a rapidez está diretamente associada às condições físicas do espaço. Cadeirantes e especialistas convergem na ideia de que não pode haver rapidez sem que haja acessibilidade.

Portanto, com base na análise das transcrições das entrevistas optou-se por não considerar estes dois atributos na proposta aqui desenvolvida. Este trabalho questiona também a necessidade da adoção de atributos diretamente relacionados com as necessidades de PcD (neste caso específico: cadeirantes). E, partindo do estudo de trabalhos direcionados a tal população (tais como: ABNT 2004, 2005 e 2006; Aguiar, 2010; Bromley et al., 2007; Cohen, 2006; Cosenza e Resende, 2006), considerou-se a adoção de dois novos atributos: a Autonomia e a Segurança nas Calçadas. A análise dos discursos demonstrou a importância destes atributos. No que tange a segurança nas calçadas, tanto especialistas quanto cadeirantes destacam que más condições nas calçadas podem promover acidentes sérios, e, em decorrência, interferem na segurança de tráfego por induzir os cadeirantes a transitarem na pista de rolamento. Assim, deve ter atenção similar à destinada a segurança de tráfego.

Já a autonomia é entendida como promotora de igualdade e inclusão, e deve ser tratada considerando a liberdade e a independência. Para Lopes et al. (2011) “A palavra autonomia é entendida como sinônimo de liberdade, de ações e de pensamento, é condição que toda pessoa necessita para utilizar os elementos necessários para desenvolver meios que possibilitem compreender melhor a relação com a sociedade.” (Lopes et al., 2011, p. 18). Souza (2006) relaciona o conceito ao respeito à diferença e à igualdade no oferecimento de oportunidades. Este atributo foi mencionado espontaneamente em todas as entrevistas realizadas com os cadeirantes. É visto como um dos pilares da qualidade de vida do grupo. Trata-se de um direito assegurado por lei, de grande representatividade na qualidade de vida (e na sensação de Felicidade, conforme destacado por alguns entrevistados). O quadro 3 apresenta as notas obtidas por cada atributo na visão dos especialistas, dos cadeirantes e no geral. E no segundo momento a variação destas notas (dentro de cada grupo e no geral) expressas pelo Desvio Padrão (DP). Pode ser observado que as notas médias mais altas (no total) são relativas aos atributos “Acessibilidade” (tópico principal da maior parte das discussões que envolvem o grupo estudado), “Autonomia” e “Segurança nas calçadas”. Esta informação somada a análise dos discursos já mencionada justificam a inserção dos novos atributos no quadro direcionado a QS para cadeirantes. Com base no quadro 3 é possível notar uma maior convergência no grupo dos cadeirantes quanto as notas atribuídas. Observa-se também que no grupo dos cadeirantes as notas foram mais altas quando comparadas as dos especialistas. Isso pode se dar em função da maior

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vivência (e percepção mais apurada) dos atributos, os fazendo ter uma sensação de maior importância. Como mencionado, na nota total os atributos “acessibilidade”, “autonomia” e “segurança nas calçadas” obtiveram as melhores avaliações de importância. No entanto, para os especialistas, somente esses três atributos tiveram a pontuação máxima na média, já para o grupo dos cadeirantes a “agradabilidade”, a “segurança de tráfego” e a “segurança urbana” também obtiveram todas as notas 5. Sobre esse resultado é possível inferir que para o grupo alvo a sensação de bem-estar está diretamente relacionada com a qualidade de vida. No entanto, a “agradabilidade” obteve a nota média mais baixa dos especialistas, o que fez com que a média total fosse 3,8 – mas com a maior discordância (total), com desvio padrão 1,77 (o mais alto). E devido aos riscos enfrentados por transitar na pista de rolamento (condições ruins das calçadas) e a sensação de insegurança (considere-se que todos os entrevistados residem em uma cidade com altas taxas de criminalidade de acordo com Santos, 2012) as três formas de segurança foram consideradas muito importantes. A “conveniência” foi o atributo com menor avaliação de importância, recebendo a segunda nota mais baixa no grupo de especialistas e a nota mais baixa no grupo de cadeirantes. Contudo, no caso do segundo é verificada uma maior dispersão nas notas, sinalizando que não houve convergência nesta avaliação. O mesmo ocorre com as notas dos especialistas. Por fim, o “conforto” não obteve boa avaliação de importância em nenhum dos dois grupos (comparativamente), demonstrando que na realidade do grupo é um atributo menos relevante, mas ainda importante no estudo da qualidade de serviço para os cadeirantes. Desta forma, buscando-se hierarquizar os atributos de acordo com suas importâncias temos: No mesmo nível de importância os atributos “Acessibilidade”, “Autonomia” e “Segurança nas calçadas”; seguidos por “Segurança de Tráfego” e “Segurança Urbana”; no terceiro patamar de importância está o “Conforto”; seguido da “Agradabilidade”; e o atributo considerado menos importante “conveniência”. Quadro 3: Notas de importância para os atributos considerados relevantes para cadeirantes

5. PROPOSTA DE ATRIBUTOS E INDICADORES PARA CADEIRANTES Os indicadores levantados na revisão foram (com as devidas adaptações – ver item 3) submetidos aos especialistas para que os mesmos atribuíssem uma nota para cada indicador (considerando o atributo). É necessário frisar que novos indicadores foram agregados após a análise das entrevistas, e também foram realizadas algumas adequações nos nomes de alguns indicadores existentes, com vistas a facilitar a compreensão dos mesmos. Desta forma os

Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão Média Desvio PadrãoAcessibilidade 5 0 5 0 5 0Agradabilidade 2,5 0,71 5 0 3,8 1,77Autonomia 5 0 5 0 5 0Conforto 3,5 0,71 4,5 0,84 4 0,71Conveniência 3 1,41 4,2 1,33 3,6 0,82Seg. de Tráfego 4,5 0,71 5 0 4,8 0,35Seg. Urbana 4,5 0,71 5 0 4,8 0,35Seg. nas calçadas 5 0 5 0 5 0

TotalAtributos Especialistas Cadeirantes

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indicadores foram ranqueados de acordo com as notas atribuídas pelos especialistas, como mostra o quadro 4. As posições do quadro 4 foram definidas unificando os indicadores que obtiveram a mesma nota média. Esta hierarquia se mostra interessante uma vez que estabelece uma relação de prioridade entre as características do ambiente que interferem mais fortemente na percepção de cada atributo. Na opinião dos especialistas a maior parte dos indicadores possui uma importância de média a grande para os respectivos atributos. Destacam-se como aqueles menos relevantes: (presença de) ”Animais” para “segurança nas calçadas”, e “Poluição sonora” tanto para “agradabilidade” quanto para “conforto”. Do total de aparições dos indicadores (68, considerando as repetições), 43 obtiveram nota superior a 4, e 19 obtiveram nota igual a 5. O que sinaliza que, em linhas gerais, os indicadores compilados são relevantes. E, uma vez exibidos os resultados das coletas, faz-se interessante apresentar a proposta de atributos e indicadores, destacando suas relevâncias. Como descrito nos itens 3 e 4, a base bibliográfica foi complementada com as entrevistas realizadas com cadeirantes e especialistas. Com base nessas discussões e no material complementar aplicado com os especialistas foi desenvolvida uma definição de cada atributo listado nesta proposta. As definições, propostas pela presente pesquisa, são: Acessibilidade: Conceito amplo que, ao considerar o ambiente de caminhada destaca a acessibilidade arquitetônica. Se refere à possibilidade de locomoção e acesso em espaços de circulação funcionais, e sem obstáculos (fixos ou temporários). Trata de ambientes que viabilizem a participação e o respeito à dignidade. É o atributo responsável por reduzir a vulnerabilidade, aumentar a funcionalidade, a sensação de confiança e a rapidez das viagens. Bem como ampliar a praticidade e a eficiência na circulação. Agradabilidade: Relaciona-se fortemente com o elemento social, prezando um ambiente inclusivo e companhias agradáveis. Em outro plano, uma vez viabilizado o acesso, se relaciona com as características estéticas do lugar. Autonomia: Noção que se relaciona com os demais atributos, trazendo em seu corpo a importância da liberdade, da independência e da participação, influenciando na qualidade de vida do grupo, e na sensação de felicidade. Conforto: Trata das características que podem gerar desconforto como a trepidação e o esforço excessivo (além do que o percurso pretendido requer). Contempla o domínio do corpo e da cadeira de rodas. Por isso está relacionado à acessibilidade arquitetônica. Possui relação com a inclusão, no âmbito social (tratamento digno). E no aspecto ambiental abrange a geração de um microclima agradável e a não exposição à poluição do ar e sonora, e às condições climáticas. Conveniência: Se relaciona com rotas eficientes (menor tempo com maior segurança). Converge com a noção de acessibilidade, considerando as possibilidades da PcD. O aspecto social é, talvez, o mais específico do grupo estudado. Considera a inclusão, o tratamento não diferenciado.

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2853 Mobilidade e Acessibilidade IIPlanejamento Territorial do Transporte

Quadro 4: Relevância dos indicadores para os atributos

1º2º3º

2º3º1º2º3º

5º61º2º3º

2º3º4º5º1º2º3º1º2º

5º6º

Calçadas inseguras (risco de quedas)Animais

Proteção contra o sol/chuva / Perfil longitudinal / Distância entre principais pontos / Informação

Rebaixamento (meio fio) / Não existência de acúmulo de água ao longo da calçada e/ou rampas

Perfil longitudinal (perfil ao longo da calçada) / Espaço livre para circulação

Segurança nas calçadas

Material da superfície da calçada / Manutenção da calçadaExistência e Facilidade de utilização das Rampas

Fluxo de veículos na interseção / Velocidade média dos veículosExistência de ciclovias

Segurança Urbana

IluminaçãoPoliciamentoPresença de pessoas nas ruas

Limpeza / Ambiente social inclusivo

Segurança de Tráfego

Respeito nas travessias / Adequação das travessias / Existência de calçadasEspaço livre para circulaçãoPlacas e sinais legíveis e bem localizadas (fácil visualização)

Ambiente social inclusivoPoluição (do ar ou sonora)

ConveniênciaRotas acessíveis / Presença de obstáculos na calçada (Barreiras) Espaço livre para circulação

Conforto

Manutenção da calçada / Existência e Facilidade de utilização das Rampas Material da superfície da calçada Inclinação da calçada / Trepidação

Perfil longitudinal (perfil ao longo da calçada)

Rotas acessíveis / Existência de calçada / Material da superfície da calçada / Existência e Facilidade de utilização das Rampas / Adequação das travessias

Topografia / Largura da calçada / Inclinação da calçada / Rebaixamento (meio fio) / Presença de obstáculos na calçada (Barreiras)

Proximidade com travessias / Facilidade de atingir os destinos desejados (distância) / Restrição de estacionamento nas calçadas

Placas e sinais legíveis e bem localizadas (fácil visualização) / Perfil longitudinal (perfil ao longo da calçada)

Estética / Clima / Presença de pessoas nas ruas / Existência de áreas de convívio social

Presença de obstáculos na calçada (Barreiras) / Existência e Facilidade de utilização das Rampas / Rotas acessíveis

Poluição sonora

Autonomia1º

Rebaixamento (meio fio) / Espaço livre para circulação

Agradabilidade

Espaço livre para circulaçãoLimpeza / Acessibilidade Assistida Arborização

Acúmulo de água ou lama ao longo das calçadas e/ou rampas

Atributos Nível de Importância (do mais importante para o menos importante)

Acessibilidade

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2854 Mobilidade e Acessibilidade IIPlanejamento Territorial do Transporte

Segurança de Tráfego: Refere-se ao risco de conflito com veículos, potencializado pela necessidade de transitar na pista de rolamento (devido as condições das calçadas), considerando, assim, não somente as travessias. Segurança Urbana: Riscos provenientes de atitudes antissociais, tais como assaltos, tiroteios, homicídios, dentre outros. Segurança nas Calçadas: Está relacionada com o risco de quedas, contaminação ou quebra da cadeira de rodas no espaço de caminhada. 6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES O presente artigo traz uma contribuição sobre o potencial do uso do conceito da qualidade de serviço na aproximação do usuário com o planejamento, apresentando um procedimento replicável para outros grupos e/ou formas de deslocamento. Além de sugerir a definição dos atributos e respectivos indicadores para cadeirantes. O trabalho apresentou uma proposta de 8 atributos validados por cadeirantes e especialistas, e definidos com base na literatura e nas opiniões destes dois grupos. Tem-se que a “acessibilidade” juntamente com a “autonomia” e a “segurança nas calçadas” são os atributos mais importantes. Acredita-se que este resultado denote que as possibilidades de acesso e independência são mais relevantes ao se trabalhar com cadeirantes, enquanto que o bem-estar e o ambiente (estético e social) ficam em segundo plano. As más condições de acesso observadas em diversas cidades ao redor do mundo (incluindo a dos entrevistados), conforme destaca Bromley et al (2007), podem ressaltar a relevância de tais atributos. A hierarquização dos indicadores também traz uma contribuição no sentido de orientar projetos de construção e alteração do ambiente de caminhada. No entanto, o baixo retorno por parte dos especialistas consultados pode ser apontado como uma limitação deste trabalho. Por fim, recomenda-se ampliar a discussão com usuários e especialistas, no sentido de lapidar os resultados aqui apresentados. Sugere-se também a aplicação do procedimento proposto com outros grupos, além de confrontar os atributos aqui definidos com outros grupos de deficiências (considerando a necessidade de adequação dos mesmos). Agradecimentos Os autores agradecem o apoio do CNPq e da Rede Ibero-Americana de Estudo em Polos Geradores de Viagens (http://redpgv.coppe.ufrj.br). REFERÊNCIAS ABNT (2004) NBR 9050 – Acessibilidade a Edificações, Mobiliário, Espaços e Equipamentos Urbanos.

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