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XXIX CONGRESSO NACIONAL DE PESQUISA EM TRANSPORTE DA ANPET OURO PRETO, 9 A 13 DE NOVEMBRO DE 2015 412 Logística Logística Humanitária II EMERGÊNCIAS EM LOCAIS COM REUNIÃO DE GRANDE PÚBLICO- O PAPEL DA LOGÍSTICA HUMANITÁRIA João Carlos Souza Universidade Federal de Santa Catarina RESUMO O objetivo deste trabalho foi entender o comportamento de multidões em situações de emergência ou de pânico e propor procedimentos para avaliar os espaços e garantir a saída segura das pessoas reunidas nos locais de grande público. As situações de emergência podem ser provocadas por fenômenos naturais ou por consequência de atos humanos, tais como terrorismo, vandalismo ou colapso estrutural. Para o planejamento de resposta a situações de emergência foram levados em consideração o menor tempo de resposta possível e a ajuda humanitária que os eventuais indivíduos afetados diretamente pelo desastre deveriam receber. Foi adotada uma abordagem multicritério que consiste na aplicação de modelos baseados nas Teorias dos Fluxos, Comportamento Coletivo, Pânico em Multidões, Princípios da Acessibilidade Espacial, Logística Humanitária, e Normas Técnicas relacionadas com o tema. Espera-se contribuir com a formulação de diretrizes para resposta a situações emergenciais. ABSTRACT The objective of this study was to understand crowd behavior in emergency or panic situations and propose procedures for evaluating spaces and ensuring the safe exit of the people gathered in the local general public. It is considered that emergency situations may arise or be caused by natural phenomena or as a result of human actions such as terrorism, vandalism or structural collapse. Planning for response to emergency situations must take into account the lowest possible response time and humanitarian assistance to any individuals affected directly by the disaster. One multi-criteria approach that involves the application of models based on the Flow Theory, Collective behavior, and panic in crowds, Principles of Space Accessibility, Humanitarian Logistics and Technical Standards related to the subject was adopted. It is expected to contribute to the formulation of guidelines for response to emergency situations. 1. INTRODUÇÃO O esvaziamento emergencial de um recinto é uma situação crítica e que pode se tornar muito perigosa quando se trata de locais com grande público. Um exemplo disso foi o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, RS, em 27 de janeiro de 2013, quando 242 pessoas morreram e 680 ficaram feridas procurando escapar de um local que teria capacidade para cerca de 1000 pessoas e com apenas uma porta de acesso. Outro exemplo foi a tragédia do Gran Circo Norte Americano, ocorrida em 1961, em Niterói, RJ, que vitimou 503 expectadores. Mesmo que cada pessoa tenha personalidade, gostos, modo de agir e de pensar individualizados, é característico dos seres humanos viverem, trabalharem e se divertirem em grupo. Em algumas situações, este grupo pode se ampliar para muitas pessoas, surgindo o que se conhece como multidão. Quando as pessoas reúnem em multidões parece que todas aquelas personalidades se fundem e surge outro organismo com características e comportamentos próprios. Este novo ente pode ser muito interessante, como a reunião de muitas pessoas para assistir um grande espetáculo, um evento esportivo ou uma comemoração, mas pode se tornar algo indesejado e até perigoso. Por exemplo: quando as pessoas protestam com violência contra alguma coisa, provocam vandalismos ou fazem justiça com as próprias mãos, num linchamento, por ex. No entanto, também pode acontecer uma das formas mais desastrosas do comportamento humano coletivo, que é a debandada da multidão induzida pelo pânico. Nesta situação, as pessoas alteram completamente seu comportamento habitual, surgindo o indesejado “efeito rebanho”, que pode levar a terríveis consequências, como muitas mortes, ferimentos e prejuízos materiais.

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412Logística Logística Humanitária II

EMERGÊNCIAS EM LOCAIS COM REUNIÃO DE GRANDE PÚBLICO- O PAPEL DA LOGÍSTICA HUMANITÁRIA

João Carlos Souza

Universidade Federal de Santa Catarina

RESUMO O objetivo deste trabalho foi entender o comportamento de multidões em situações de emergência ou de pânico e propor procedimentos para avaliar os espaços e garantir a saída segura das pessoas reunidas nos locais de grande público. As situações de emergência podem ser provocadas por fenômenos naturais ou por consequência de atos humanos, tais como terrorismo, vandalismo ou colapso estrutural. Para o planejamento de resposta a situações de emergência foram levados em consideração o menor tempo de resposta possível e a ajuda humanitária que os eventuais indivíduos afetados diretamente pelo desastre deveriam receber. Foi adotada uma abordagem multicritério que consiste na aplicação de modelos baseados nas Teorias dos Fluxos, Comportamento Coletivo, Pânico em Multidões, Princípios da Acessibilidade Espacial, Logística Humanitária, e Normas Técnicas relacionadas com o tema. Espera-se contribuir com a formulação de diretrizes para resposta a situações emergenciais. ABSTRACT The objective of this study was to understand crowd behavior in emergency or panic situations and propose procedures for evaluating spaces and ensuring the safe exit of the people gathered in the local general public. It is considered that emergency situations may arise or be caused by natural phenomena or as a result of human actions such as terrorism, vandalism or structural collapse. Planning for response to emergency situations must take into account the lowest possible response time and humanitarian assistance to any individuals affected directly by the disaster. One multi-criteria approach that involves the application of models based on the Flow Theory, Collective behavior, and panic in crowds, Principles of Space Accessibility, Humanitarian Logistics and Technical Standards related to the subject was adopted. It is expected to contribute to the formulation of guidelines for response to emergency situations. 1. INTRODUÇÃO O esvaziamento emergencial de um recinto é uma situação crítica e que pode se tornar muito perigosa quando se trata de locais com grande público. Um exemplo disso foi o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, RS, em 27 de janeiro de 2013, quando 242 pessoas morreram e 680 ficaram feridas procurando escapar de um local que teria capacidade para cerca de 1000 pessoas e com apenas uma porta de acesso. Outro exemplo foi a tragédia do Gran Circo Norte Americano, ocorrida em 1961, em Niterói, RJ, que vitimou 503 expectadores. Mesmo que cada pessoa tenha personalidade, gostos, modo de agir e de pensar individualizados, é característico dos seres humanos viverem, trabalharem e se divertirem em grupo. Em algumas situações, este grupo pode se ampliar para muitas pessoas, surgindo o que se conhece como multidão. Quando as pessoas reúnem em multidões parece que todas aquelas personalidades se fundem e surge outro organismo com características e comportamentos próprios. Este novo ente pode ser muito interessante, como a reunião de muitas pessoas para assistir um grande espetáculo, um evento esportivo ou uma comemoração, mas pode se tornar algo indesejado e até perigoso. Por exemplo: quando as pessoas protestam com violência contra alguma coisa, provocam vandalismos ou fazem justiça com as próprias mãos, num linchamento, por ex. No entanto, também pode acontecer uma das formas mais desastrosas do comportamento humano coletivo, que é a debandada da multidão induzida pelo pânico. Nesta situação, as pessoas alteram completamente seu comportamento habitual, surgindo o indesejado “efeito rebanho”, que pode levar a terríveis consequências, como muitas mortes, ferimentos e prejuízos materiais.

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Recentemente, aumentou muito o interesse dos pesquisadores que atuam na área da Logística Humanitária por estudos que explicassem o comportamento das pessoas quando reunidas em um local com grande público em uma situação de emergência. Constatou-se que, para conceber o projeto de estádios esportivos, áreas de exposição, terminais de transportes, locais para grandes espetáculos etc. é necessário analisar os princípios da dinâmica multidão e do comportamento humano coletivo de modo que normas de segurança sejam efetivamente respeitadas e aplicadas. Constata-se que os pedestres, ao longo de um fluxo de tráfego, não se comportam de forma uniforme uma vez que a idade, as condições físicas, os motivos do deslocamento e as diversas formas como as pessoas reagem a estímulos exteriores assim não o permitem. Até mesmo dois fluxos similares, em circunstâncias idênticas, não terão o mesmo comportamento, pois a reação dos pedestres irá variar de acordo com as características locais e os hábitos pessoais. Por esse motivo lidar com o movimento de pessoas é diferente de lidar com qualquer outro fenômeno físico, ainda mais se estes movimentos ocorrem em situações de stress, emergência ou pânico. (Quarantelli, 1975) O fluxo de água num determinado canal ou de um gás numa tubulação com características específicas terá um comportamento totalmente previsível de acordo com as leis da hidráulica e da teoria de fluidos. O mesmo já não acontecerá com um dado fluxo de pessoas circulando em ruas ou em locais fechados, pois irão ter variações de acordo com a localização e o tempo. É este mais um desafio da logística: planejar e conceber rotas e saídas para pessoas reunidas em locais com grande concentração de público possam ser evacuadas, tanto em situações normais como em situação de emergência, de forma segura e tranquila, pois isso envolve não só a consideração de restrições físicas como também características comportamentais humanas complexas. Com o intuito de reduzir os riscos, são necessárias várias medidas, tais como um bom plano de evacuação dos espectadores para áreas seguras, treinamentos especializados para o pessoal da organização do evento, previsão de locais para circulação de veículos de emergência e de rotas de evacuação livres de obstáculos. Esta pesquisa tem por objetivo orientar as intervenções que os profissionais de logística, arquitetura e engenharia possam fazer para projetarem saídas emergenciais de fácil acesso e livres de obstáculos. Para tanto, propõe-se que utilizem os princípios da Teoria dos Fluxos, Fundamentos da Acessibilidade Espacial e os conhecimentos sobre Sistemas Logísticos para Ajuda Humanitária. 2. LOGÍSTICA HUMANITÁRIA Inicialmente, conceituava-se a Logística Humanitária (LH) apenas como um ramo da logística que seria responsável por todos os processos envolvidos na mobilização de pessoas, recursos e conhecimentos para ajudar comunidades afetadas por desastres naturais ou por danos provocados pelo homem. Ou seja, uma atuação pós-desastre. Hoje existe consenso que a LH deve também atuar na preparação de procedimentos e recursos para evitar os desastres e estar pronta para atuar caso e quando estes acontecerem.

A importância do papel da logística humanitária no apoio a multidões justifica-se a partir dos grandes desastres ocorridos em estádios esportivos, em casas de espetáculos e em grandes shows e com causas diversas como brigas, incêndios, quedas de estrutura, atentados terroristas, catástrofes naturais, etc. Por isso a importância de trazer os estudos de logística

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humanitária juntamente com a arquitetura para um melhor planejamento tanto dos espaços internos como externos e com isso, auxiliar uma melhor resposta a situações de emergência nesses locais. Para Apte, (2009), na Logística Humanitária, o ciclo desastre baseia-se em três fases: preparação, resposta ao desastre e ajuda humanitária. O TRB (2010) divide o ciclo de desastres em quatro fases: preparar, responder, recuperar e mitigar. Já Fernandes (2010), informa que a Política Nacional de Defesa Civil do Brasil, também divide o ciclo de desastres em quatro fases: prevenção de desastres, preparação e alertas de desastres, atendimento à emergência e reconstrução. A Preparação refere-se à elaboração de um bom plano de emergência, fundamental atendimento de possíveis desastres, abordando os diferentes cenários, os riscos específicos e a complexidade. A Resposta refere-se às atividades relacionadas às decisões relativas às operações de socorro, transporte e evacuação das pessoas atingidas. Nesta etapa de resposta é importante ter um planejamento para evacuação das imediações do local dos próprios espectadores e administrar a presença de curiosos que acabam atrapalhando as equipes de emergência. É necessário também que se planeje o controle do movimento das pessoas, tanto das que estão no interior quanto no exterior dos locais sinistrados. Normalmente, estas pessoas apresentam comportamentos padrões e que podem ser previsíveis, pois agem como multidão. Nos próximos itens serão descritos os princípios da teoria dos fluxos, da acessibilidade e da psicologia dos grandes grupos de pessoas. 3. DEFINIÇÃO DE MULTIDÃO Uma multidão pode ser definida como a presença de muitas pessoas no mesmo local com objetivos semelhantes e com densidades nas quais o espaço pessoal, o conforto, a disposição e a liberdade dos indivíduos são influenciados pelos que os rodeiam. Uma multidão não é a mesma coisa que grande número pedestres circulando em uma rua, praça ou centro comercial. Cada pedestre têm interesses e objetivos individuais, sem relação com aos das outras pessoas que os rodeiam, já as multidões, quase sempre, tem algum objetivo em comum. Por isto, os estudos sobre as dinâmicas das multidões são similares, mas também apresentam diferenças em relação aos modelos para planejamento do fluxo de pedestres (Blumer, 1969).

Le Bon (1896) identificou quatro tipos de multidões: O primeiro tipo é o da multidão casual como, por exemplo, uma multidão de pessoas numa praça assistindo a apresentação de um artista de rua. Esse tipo de multidão é momentâneo, com uma organização e unidades fracas. Seus membros entram e saem, prestando uma atenção temporária para o objeto que provocou o interesse dos indivíduos. A interação entre esses membros não é intensa. Um segundo tipo de multidão é a multidão convencional. Um exemplo seriam os espectadores de um evento esportivo. O comportamento desse tipo de multidão é semelhante ao da multidão casual, exceto que seu comportamento é expresso e estabelecido em formas regularizadas. Todos tem ligação num interesse em comum, porém o comportamento de seus membros se apresenta de forma frouxa e com duração limitada, manifestando-se por atos habituais ou convencionais. A multidão ativa, também chamada de multidão agressiva, é o terceiro tipo de multidão. O ponto de destaque é a presença de um forte objetivo que direciona as ações das pessoas. É a

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multidão que se projeta mediante a intensa ação. Quando uma turba de linchadores, frente a um crime, procura punir o assassino, ou quando ocorrem os atos de vandalismo em manifestações públicas, direcionada a um só impulso que lhe dá um intenso sentimento coletivo, surge a multidão ativa e agressiva. São indivíduos reunidos por contiguidade física, numero limitados de membros, existência de um acontecimento que chame a atenção, o indivíduo perde a faculdade crítica e autocrítica, age irracionalmente baseado em impulsos, sendo inconstante, sugestionável e irresponsável. Le Bon (1896) e Blumer (1969) explicaram a formação das multidões ativas como um comportamento circular: Primeiro ocorre um evento chamando a atenção do indivíduo e o pressionando a agir. Em seguida há o processo de milling, que é um gesto coletivo que de desconforto ou medo, que pode ser amplificado de acordo com a sensação do indivíduo ou a agitação social. No terceiro momento, o grupo reencontra um objeto comum de atenção, de modo que o humor, o imaginário e os sentimentos das pessoas fiquem focados neste objeto. No quarto estágio, pela compreensão da situação obtida através do foco, surge uma excitação coletiva. Nesse estado, o indivíduo tende a se guiar mais pelas emoções do que pela razão é possível que o pânico venha a ocorrer. A multidão em pânico é quarto tipo de multidão descrito por Le Bon e será mais bem explicitado no item seguinte. 4. MULTIDÃO EM PÂNICO Uma das formas mais desastrosas do comportamento humano coletivo é o tipo de debandada da multidão induzida pelo pânico, muitas vezes levando a mortes e graves ferimentos, com pessoas sendo esmagadas ou pisoteadas. A Teoria do Pânico lida principalmente com os fatores que podem levara ocorrência de pânico durante emergências. A premissa básicaé que quandoas pessoas percebem perigo, suas personalidades conscientes habituais são muitas vezes substituídas por personalidades inconscientes que os levam a agir irracionalmente. Em condições normais, o pedestre se move com naturalidade, escolhendo o caminho com base emfatores relacionadosaos seus interesses e às peculiaridades do ambiente. Em geral, o comportamento de pedestresé afetado pelas suas características físicas, pelas características do movimento e pelas características do caminho. Em situações de pânico, no entanto, o comportamento humano é totalmente diferente: As pessoas ficam mais nervosas, movimentam-se consideravelmente mais rápido do que o normal, os indivíduos começam a se empurrar e as interações entre as pessoas tornam-se frequentes. Os indivíduos aglomeram-se perto de saídas e o fenômeno de arco, representado por muitas pessoas se apertando para passar numa pequena abertura, constitue uma barreira. A fuga também é retardada por pessoas caídas ou feridas que se transformam em obstáculos. Os indivíduos tendem a mostrar comportamento de rebanho, ou seja, fazer o que as outras pessoas fazem e, em situações de fuga, saídas alternativas são muitas vezes esquecidas, ou não utilizados de forma eficiente. O pânico pode ser desencadeado por diversos fatores, tais como ameaças naturais (enchentes, terremotos, erupções vulcânicas), ameaças provocadas pelo homem (fogo, atentados terroristas, perda do controle social por parte do estado, etc.). Em outros momentos, tumultos podem surgir aparentemente sem motivo, como durante a corrida para obter assentos livres. Em uma situação de pânico sempre há uma sensação de risco iminente e de urgência em agir por parte dos indivíduos. Para se compreender o pânico em multidões devem-se levar em consideração alguns fatores:

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• Em situações de pânico as pessoas geralmente percebem que sua sobrevivência é produto de tomadas de decisões rápidas;

• A personalidade individual é enfraquecida. Desta forma há uma alteração dos sistemas de valores e uma diminuição da responsabilidade, o que acarreta no comportamento imitativo, presente nos grupos;

• Pode haver a presença de palavras de ordem, emblemas, uniformes, manifestações sonoras ou rítmicas que reforçam a identidade grupal, em detrimento da individual;

• As pessoas manifestam um alto grau de irracionalidade, preocupando-se com a ideia de fugir e não considerando as consequências de seus atos.

Em pânico, as forças da multidão podem chegar a níveis quase impossíveis de resistir ou controlar. Ao contrário do que se pensa, a maior parte das mortes em multidões fora de controle acontece devido à asfixia por compressão e não por pisoteamento. Estas forças são ocasionadas pelo ato de empurrar a pessoa da frente, criando um efeito de dominó, de pessoas encostadas umas às outras. As pessoas morrem por asfixia à compressão, o torax não pode se expandir para que ocorra a inspiração. Verifica-se que muitas saídas não são utilizadas, pois, para escapar, os indivíduos tendem a usar, o mesmo caminho que foi utilizado para a entrada. 5. ABORDAGENS BÁSICAS PARA ANÁLISE DE TRÁFEGO DE PEDESTRES O estudo da dinâmica de pedestres tem sido utilizado em situações que procuram identificar ou reproduzir características do comportamento humano. Quando envolve multidões, esse estudo torna-se ainda mais complexo, visto que, as questões associadas à interação dos pedestres também deve ser considerada. A necessidade de modelar o tráfego de pedestres tem se tornado uma prioridade em ambientes por onde muitas pessoas necessitam circular. Em função disto, surgiram estudos abrangendo teorias da física e da matemática, que analisam o tráfego de pedestres através de modelos descritos por equações diferenciais e ıntegro-diferenciais. Inicialmente pensou-se em modelar o comportamento dos pedestres usando-se diretamente alguns conhecimentos consagrados da física, como, por exemplo, a equação de Bernoulli, da dinâmica dos fluidos. Esta equação que descreve o comportamento de um fluido que se move ao longo de um tubo ou conduto e afirma que para um fluxo sem viscosidade, um aumento na velocidade do fluido ocorre simultaneamente com uma diminuição na pressão ou uma diminuição na energia potencial do fluido. Imaginou-se que um grande número de pessoas se deslocando em um corredor. Ao se depararem com um gargalo, tipo uma porta, este fluxo se submeteria a algo equivalente como um tubo de Venturi. Este é um aparato usado para medir a velocidade do escoamento e a vazão de um líquido incompressível através da variação da pressão durante a passagem deste líquido por um tubo de seção mais larga e depois por outro de seção mais estreita. Este efeito é explicado pelo princípio de Bernoulli, exposto na equação 1, e no princípio da continuidade da massa. Se o fluxo de um fluido é constante, mas sua área de escoamento diminui então necessariamente sua velocidade aumenta. Para o teorema a conservação da energia se a energia cinética aumenta, a energia determinada pelo valor da pressão diminui.

+ gh + = constanteou

+ ρgh + p = constante (1)

v = velocidade do fluido ao longo do conduto

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g= aceleração da gravidade h= altura em relação a um referencial p= pressão ao longo do recipiente ρ= massa específica do fluido

As seguintes restrições precisam ser satisfeitas para que a equação se aplique: • Escoamento sem viscosidade (fricção interna = 0) • Escoamento em regime permanente • Escoamento incompressível ( ρconstante em todo o escoamento) • Geralmente, a equação vale a um conduto como um todo. Para fluxos de potencial de

densidade constante, ela se aplica a todo o campo de fluxo. Como as restrições acima não são prontamente atendidas num fluxo de pedestres, outras alternativas de modelagem foram utilizadas. Um delas, por exemplo, foi fazer uma aproximação ao comportamento ondulatório. Uma onda se propagando, ao encontrar um obstáculo, é refletida e tende a retornar, isto se conhece como reflexão de onda. Caso este obstáculo tenha uma abertura, parte da onda vai atravessá-lo, alterando sua direção, é o fenômeno da difração (figura 1).

Figura 1 – Reflexão e difração de ondas (Fonte: autor)

Também não se obteve muito sucesso com esta aproximação, porque as pessoas não se comportam de modo tão regular como uma onda de som e de luz. Caso a abertura não esteja exatamente em seu trajeto, o pedestre, por ter vontade própria, mudará sua direção de deslocamento e se dirigirá para a saída. Também não se submeterá às leis da reflexão de onda, retornando com o mesmo ângulo que atingiu a parede, e procurará a abertura para se evadir. A tendência natural dos pedestres e fazer surgir, como se observa na figura 2, o efeito de arco, congestionando as saídas. .

Figura 2- Efeito de arco nas saídas (Fonte: Helbing, D e Johansson, A (2010)). Conforme Helbing, D e Johansson, A (2010), para não colocar pessoas em risco e não ferir a ética profissional, quando se pretende simular situações de pânico utilizam-se agentes biológicos, principalmente insetos. Em situação de calma, os animais, em um recipiente

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apropriado, movem-se normalmente interagindo entre si ou procurando uma saída. Ao se introduzir algum elemento perigoso no recipiente, por exemplo: um chumaço de algodão com inseticida, os insetos entram em pânico e tentam se evadir do ambiente. Mesmo havendo duas ou mais saídas, é comum que quase todos tentem correr para a mesma abertura. Isto demostra o efeito de imitação que, como pode se observar na figura 3, também acontece com os seres humanos, ao ver algumas pessoas se dirigindo para uma determinada direção, os demais tendem a segui-los. Foi isto o que aconteceu na Boate Kiss, quando dezenas de jovens pereceram na porta do banheiro pensando que ali estaria a saída para o exterior.

Figura 3: O comportamento de pessoas em situação de pânico é similar ao de formigas na mesma situação. (Fonte Shiwakoti (2008))

Atualmente as abordagens mais comuns da análise da movimentação de pedestres são similares às utilizadas para avaliar o de tráfego de veículos: a Abordagem Macroscópica, que se preocupa em descrever o comportamento das correntes de tráfego de pessoas. A Abordagem Microscópica, que se interessa pela interação ente dois pedestres consecutivos numa corrente de tráfego. E a Abordagem Mesoscópica, cujas unidades analisadas são grupamentos de pedestres que se formam nas ruas, praças, centros comerciais, terminais de transportes, etc. Segundo Vargas et all (2012), as três escalas têm vantagens e desvantagens e precisam ser escolhidas dependendo do problema a ser resolvido. Assim, quanto à escala Microscópica

embora permita uma descrição muito mais precisa do movimento de cada pedestre, requer um grande esforço computacional quando o número considerado de pedestres é muito grande, por exemplo, no caso de multidões (um alto número de indivíduos com características distintas num mesmo ambiente). Já na escala macroscópica, ao contrário da microscópica, a principal vantagem é que se podem usar modelos hidrodinâmicos de primeira ordem, que são de grande simplicidade computacional e rapidez de processamento, entretanto é necessário introduzir uma relação empírica (fenomenológica) entre a velocidade e a densidade. 5.1 Análises Macroscópicas As análises macroscópicas do tráfego baseiam-se na consideração de que as correntes de tráfego são meios contínuos, na qual o fluxo de pedestres é comparado ao fluxo de um fluido. Para estudar seu comportamento a abordagem macroscópica lança mão da aplicação das Leis da Hidrodinâmica, motivo pelo qual a abordagem é conhecida também como Analogia Hidrodinâmica do Tráfego. Como as características do tráfego variam no tempo e no espaço, os estudos costumam adotar valores médios, sendo que estas médias podem ser temporais ou espaciais, ou seja, nesta escala o estado do sistema é descrito por quantidades médias localmente calculadas, ou seja, a

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densidade, a velocidade e o fluxo dos pedestres são considerados como variáveis dependentes do tempo e do espaço. O fluxo ou volume é o número de pedestres que passam por uma seção da pista por unidade de tempo. A unidade de comprimento deve ser considerada como a largura do passeio ou porção da pista. Em geral, usa-se ped/m/s no (SI). O fluxo de pedestre, também chamado de volume de pedestres, é representado pela variável q. Segundo a analogia hidrodinâmica, o fluxo corresponde à vazão de um fluido dentro de um duto. Durante um intervalo de tempo t são contados os n(x) pedestres que cruzem a seção.

= (2)

A Concentração, também chamada de massa específica ou densidade relativa e representada por , é uma grandeza espacial, significando o número de veículos presentes numa determinada extensão x de via. No caso de pessoas é o número de pedestres por unidade de área. Na analogia hidrodinâmica a concentração corresponde à densidade do fluido. Por isso mesmo, em se tratando de tráfego, a concentração de pessoas é também chamada de densidade. Pode-se imaginar que, numa seção da via, num determinado instante t, uma fotografia é tirada e nela é possível contar os n pedestres que se encontram naquele trecho de via. A concentração (t), em ped/m é dada pela expressão:

= (3)

A Velocidade, no estudo de pedestres, é adotada como uma média das velocidades dos pedestres que passam em um determinado intervalo de tempo. Normalmente é expressa no sistema internacional (SI) em m/s e denotada por u.

= (4)

Essas três variáveis, densidade relativa, velocidade e fluxo, são relacionados através de uma equação conhecida como a equação fundamental do tráfego e também válida para o fluxo de pedestres.

, = , , (5) A curva da relação velocidade-concentração sugerida pelos teóricos que primeiro estudaram a relação entre estas variáveis macroscópicas do tráfego está representada na figura 4. Conforme Vargas et all (2012), a teoria para o fluxo de pedestres é assumida para valores de ≤ 6/, devido à impossibilidade física de se alocar um numero maior do que esse por metro quadrado. Desta forma, as ilustrações dos resultados nas Figs. 5(a) e 5(b) seguem esse padrão. Analisando a curva que representa o fluxo, quando a densidade fica maior do que a densidade crítica o fluxo diminui, aproximando-se de zero quando = : = 2/ ≤ ≤ com = 4/ O fluxo no trecho em que > 3,7, ≤ é pequeno, entretanto ainda existe. Ao se atingir = 4/ , tem-se que a densidade é máxima, porém nota-se na Fig. 5(a) que a velocidade para = 4/ é mínima e sendo assim, o fluxo é mínimo.

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Figura 4 - Diagrama clássico representando a relação fluxo-concentração (fonte - autor)

Figura 5 – Diagrama fundamental do fluxo (fonte Vargas [2012]) 5.2 Análise Microscópica Modelos microscópicos tratam cada pedestre em uma multidão como um agente individual que ocupa um determinado espaço em um instante no tempo. Estes modelos podem fornecer informações valiosas sobre uma vasta gama de características comportamentais. Os modelos microscópicos consideram os fatores que conduzem pedestres para o destino, e também consideram as interações entre as pessoas. Esses modelos dão uma representação mais realista dos movimentos de pedestres. A posição e a velocidade de cada pedestre define o estado do sistema como variáveis dependentes do tempo. Equações diferenciais ordinárias representando as leis da mecânica Newtoniana são ferramentas para representação dos modelos referentes a essa escala. Incluso nessa escala, os modelos baseados em agentes, que utilizam conceitos de autômatos celulares via método Monte Carlo, tem trazido excelentes resultados quando se modela a dinâmica de multidões. Existem muitos fatores que precisam ser abordadas pelos modelos microscópicos para simular o comportamento de pedestres em condições de emergência. A incorporação de características microscópicas individuais como idade, sexo, variação na velocidade de caminhada, etc. e os fatores ambientais são uma prioridade para previsões realistas possam ser realizadas. No entanto, existem problemas de manipulabilidade analítica e esforço computacional e custo. Normalmente são utilizados modelos de simulação para se produzir análises microscópicas,

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isto porque, além de ser difícil a modelagem matemática, podem ser atribuídos aos indivíduos variáveis de decisão adicionais. Os componentes sócio psicológicos individuais durante as condições de pânico ou de emergência necessitam ser adequadamente tratados. Embora, talvez não seja possível representar todos os fatores associados com o pânico em um modelo, os pesquisadores se esforçam para representar os fatores dominantes.

5.3 Análise Mesoscópica Escala cinética ou mesoscópica, a identificação dos pedestres não é feita de forma individual, mas sim através de uma distribuição apropriada da probabilidade sobre o estado microscópico considerado como uma variável aleatória. As equações integro-diferenciais são base dos modelos referentes a essa escala. Quando usada para análise do tráfego de veículos a Modelagem Mesoscópica do não se concentra em um só veículo, mas considera grupos de veículos em um ambiente idêntico. Por exemplo, onde há a mesma velocidade para todos os veículos na mesma seção da estrada e isso poderia ser considerado um grupo ou pelotão. A ideia de analisar grupos de indivíduos com característica similares foi adaptada para estudo de modelos de fluxo de pedestres Em vez de modelar o comportamento um único pedestre, são considerados grupos de indivíduos e cada grupo tem as suas próprias regras de comportamento. Os principais componentes do modelo são grupos de pedestres e uma rede abstrata para representar o meio ambiente. Os grupos se movem através de uma rede que consiste em nós e links. Técnicas de modelagem mesoscópica tem aplicação específica, especialmente para o fluxo de pedestres em tempo real, para determinar o atraso e congestionamento nas áreas públicas. 5.4 Resultados: As dinâmicas de multidões incluem as relações entre a densidade da multidão, velocidade do andar, taxas de fluxo da multidão e conforto. Inclui também outros fatores que influenciam o movimento e comportamento de uma multidão como o conhecimento do local por parte dos visitantes e a informação que lhes é fornecida, bem como o seu perfil demográfico. O comportamento também pode ser influenciado por fatores externos como o tempo. Essas considerações devem ser tomadas em conta ao conceber e planejar eventos ou espaços de multidões. Os elementos importantes para evacuação são as portas e os corredores de acesso e as suas dimensões. Segundo alguns autores (Peschl, 1971), a largura da portade 1 metroé suficiente para que pelo menos 135 pessoas saiam por minuto durante o processo de escape seguro, este valor representa 2,25 p/m/s (pessoas por metro por segundo), mas é válido apenas para condiçoes normais. Este número foi discutido durante muitos anos e os Corpos de Bombeiros sugerem que se adote um valor menor, de 63 a 100 pessoas, por metro, por minuto (1,03p/m/s e1, 67 p/m/s), em função de possível estado de pânico com aumento da velocidade do movimento das pessoas, gerando o efeito de arco. As capacidades encontradas variam entre 1,03 p/m/s e 1,67 p/m/s (Daamen W. E Hoogendoorn S., 2010) sugerem que se adote para portas e para evitar os efeitos de possíveis gargalos assim, menos do que as diretrizes de concepção (2,25 p/m/s). Em muitos estudos, inclusive nas normas de prevenção contra incêdio do estado de Santa Catarina, o tamanho de portas tem sido descritas em termos de"módulos "(um módulo = 0,6 metros). Estes módulos também são conhecidos como “unidades de passagem”. As normas da ABNT consideram que

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cada unidade de passagem mede 55 cm. A largura de cada corredor, passarela, porta ou do portão deve sempre ser um múltiplo do módulo. 6. CONCLUSÃO Entender o comportamento individual de um pedestre comum já é algo complicado. Entender o comportamento de uma multidão num processo emergencial se torna algo ainda mais complexo, na medida em que as relações sociais são consideradas. Essa dificuldade pode ser a grande responsável pelo desenvolvimento relativamente lento de pesquisas que levam em consideração o comportamento humano. No entanto, essa dificuldade também pode representar um desafio para muitos pesquisadores e atrair suas atenções para esse campo de pesquisa. Dentre os possíveis comportamentos que emergem nas pesquisas destacam-se os seguintes: • Fenômeno de seguir com a multidão: também conhecido como comportamento de

manada, esse fenômeno é caracterizado pelo fato de alguém desistir de seu próprio raciocínio para seguir as ações da maioria a sua volta. Esse fenômeno é frequentemente observado em um processo de evacuação real. Durante uma evacuação as pessoas podem perder a calma e a noção da localização de saídas seguras (principalmente em caso de incêndio em que a visibilidade é baixa) e tendem a seguir outras na esperança de que elas conheçam a localização das saídas. As pessoas que têm uma tendência severa de ir com a multidão podem ser facilmente afetadas por outras pessoas ao seu redor.

• Fenômeno de reunião: durante esse fenômeno as pessoas apresentam a característica de prevenção, ou seja, sentem que podem se proteger, psicologicamente, negando situações desagradáveis, e estão dispostas a permanecer próximas à multidão em uma emergência; o que pode resultar em recolhimento dos ocupantes no interior do edifício. Além disso, os ocupantes de um edifício frequentemente evacuam em grupos e o fato de reunir-se pode aliviar as suas ansiedades. O efeito das pessoas se ajudarem mutuamente em casos de emergência é conhecido como efeitos de grupo

• Retrocesso: pode ser entendido como o fato de retornar ao local de perigo para tentar salvar pertences, em busca de parentes ou até mesmo para informar ou ajudar outras pessoas.

• Comportamento de parentesco: comportamento muito popular durante a evacuação. É caracterizado pelo fato de que familiares tendem a se reunir durante uma evacuação de emergência ou até mesmo a retroceder ao local de perigo para salvar um membro da família;

• Arqueamento: Fenômeno reproduzido na saída. É causado pelo fato de todos os pedestres se moverem em direção à saída, formando um gargalo no fluxo de pedestres, também conhecido com arco de fuga;

• Mais rápido é mais lento: caracterizado pelo fato de que quanto mais rápido as pessoas desejam se mover mais lenta pode se tornar a evacuação;

• Efeito não aventureiro: a maioria das pessoas costuma usar saídas familiares ao evacuar um ambiente;

• Pânico: caracterizado como uma reação psicológica na qual o indivíduo fica em um estado anormal de ansiedade ou estado comportamental de aceitação ao estímulo de desastre. A reação psicológica causada no desastre ambiental pode fazer a capacidade adaptativa e a capacidade de resposta ao ambiente diminuírem em pouco tempo. No pior caso, os indivíduos irão perder seus sentidos e afetar a fuga.

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É importante salientar que esses são apenas alguns fenômenos e comportamentos que podem ser observados durante uma evacuação. Visto que o foco deste trabalho não foi investigar a psicologia humana, a descrição desses fenômenos serve para mostrar que o conhecimento do comportamento humano desempenha um papel importante no processo de evacuação emergencial e, principalmente, no processo de planejamento e projeto de locais de reunião de grande público. Os estudos empíricos do comportamento de pedestres em condições de emergência fornecem ferramentas valiosas para ajudar os planejadores e gestores de locais de reunião de grande público para analisar e avaliar as precauções de segurança para estes locais. A necessidade de sistemas de informação alternativos para suprir a falta de dados, a necessidade de incorporar fatores sócios psicológicos nos modelos de evacuação emergencial. Embora não seja possível garantir a segurança ideal, há espaço para usar modelos melhorados para aumentar os níveis de segurança.

São três principais conclusões obtidas da pesquisa: a) a existência e a quantidade suficiente de rotas, passagens e portas suficentemente largas para a saída rápida é essencial para uma evacuação das pessoas de modo calmo e seguro; b) um sistema de informação e orientação bem planejado, com placas, setas e avisos sonoros, tem um grande impacto sobre a dinâmicade evacuaçãoe, consequentemente, sobre a segurança; e c) As pessoas deverão ser antecipadamente instruídos e muito bem informados sobre as rotas e saídas que deverão ser utilizadas em caso de evacuação emergencial, isto evitará o pânico causado pelo desconhecimento sobre como se salvar. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Apte, Aruna.(2009) Humanitarian Logistics: A New Field of Research and Action, Foundations and Trends in

Technology, Information and Operations Management, vol 3, no 1, pp1-100. Blumer, H.(1969) Symbolic Interactionism: Perspective and Method. : Prentice-Hall. ISBN 0-52-005676-0. Daamen W., Hoogendoorn S. (2010). Capacity of doors during evacuation conditions. First International

Conference on Evacuation Modeling and Management. Fernandes, Christiane Wenck Nogueira. O enfoque da logística humanitária na localização de uma central de

inteligência e suporte para situações emergenciais e no desenvolvimento de uma rede dinâmica. Tese de Doutorado. Depto de Engenharia de Produção, UFSC. Florianópolis, SC, 2010.

Helbing, D. Johansson, A (2010) Pedestrian, Crowd and Evacuation Dynamics. Institute for Advanced Study, Collegium Budapest, Hungary

Le Bon, G. (1896) The Crowd: A Study of the Popular Mind.:The Macmillan Co. ISBN 978-0-877-97168-9. Peschl I.A.S.Z. (1971). Evacuation capacity of door openings in panic situations. Bouw, Vol. 26, 62–67. Quarantelli, E. L. Panic behavior: Some empirical observations. American Institute of Architects Conference on

Human Response to Tall Buildings, 1975. Shiwakoti, N. M. and Rose, G. (2008) Modelling pedestrian behaviour under emergency conditions – State-of-

the-art and future directions . 31ST Australasian Transport Research Forum. TRB. Transportation Research Board. A Guide to Planning Resources on Transportation and

Hazards.http://www.trb.org/Publications/Public/Blurds/162332.aspx, acessado em 20 de maio de 2011. Vargas, M. Gramani, L. et all.(2012)Modelagem do fluxo de pedestres pela teoria macroscópica. João Carlos Souza ([email protected]) Departamento de Arquitetura e Urbanismo - Universidade Federal de Santa Catarina Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo e Programa de Pós Graduação em Gestão Territorial e Transportes Campus Universitário da Trindade – 88040-900 Florianópolis, SC, Brasil