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XXIX CONGRESSO NACIONAL DE PESQUISA EM TRANSPORTE DA ANPET OURO PRETO, 9 A 13 DE NOVEMBRO DE 2015 2771 Mobilidade e Acessibilidade I Planejamento Territorial do Transporte A ACESSIBILIDADE E DESENVOLVIMENTO URBANO: O CASO DE CAMPOS DO JORDÃO Juliana da Camara Abitante Raquel Regina de Oliveira Martins Félix Josiane Palma Lima Mestrado em Desenvolvimento Tecnologias e Sociedade Universidade Federal de Itajubá RESUMO O desenvolvimento urbano das cidade pós-modernas gera maiores distâncias entre locais de habitação e as oportunidades da cidade, interferindo na acessibilidade dos indivíduos os equipamentos urbanos. Desta forma, o trabalho apresenta um diagnóstico da acessibilidade e do desenvolvimento urbano por meio de interpretações de registros documentais históricos e dados socioeconômicos do município de Campos do Jordão – SP. O estudo de caso contou com análise de dados auxiliado por um Sistema de informação geográfica (SIG), o qual aborda a configuração urbana e a acessibilidade aos equipamentos públicos e privados da cidade. Desta maneira, foi possível identificar espacialmente as localizações de maior carência de equipamentos e prever investimentos públicos na área de infraestrutura urbana, sistemas de transporte e instalação de novos equipamentos. Entretanto, os resultados apresentados são o diagnóstico de uma situação que corroboram em decisões na área de acessibilidade urbana. ABSTRACT The urban development of postmodern cities creates longer distances between housing sites and city's opportunities, affetcing the accessibility of individuals to urban equipment. Thus, this paper presents a diagnosis of accessibility of individuals and urban development through interpretations of historical documentary records and socioeconomic data of the city Campos do Jordão, SP. The case study includes data analysis support by a geographic information system (GIS), wich deals with urban configuration and accessibility to public and private facilities in the city. However, the results shown are the diagnosis of a situation that corroborates decisions for the accessibility in urban area. In this way, it was possible to identify spacial locations of greatest need equipment and forecast public investment in urban infrastructure area, transportation systems and the installation of new equipment. 1 INTRODUÇÃO O desenvolvimento urbano nas cidades pós-modernas trouxe consigo uma maior ocupação do território, uma crescente necessidade de deslocamentos e maiores distâncias entre os locais de habitação e as oportunidades da cidade. De acordo com Arruda e Lima (2013), a acessibilidade universal trata da equiparação das oportunidades de forma geral, logo, do acesso de todos as funções sociais da cidade de forma igualitária. O Ministério das Cidades (2006) no seu documento “Brasil Acessível” reforça que a acessibilidade deve ser vista como parte de uma política de mobilidade urbana com inclusão social, equiparação de oportunidade e o exercício da cidadania das pessoas com deficiência e idosos, com respeito aos seus direitos fundamentais. Neste sentido, compreender a importância da acessibilidade urbana é fundamental na busca de soluções mais eficientes para um desenvolvimento sustentável. As questões de uso do solo, localizações das habitações, configurações espaciais, oportunidades da cidade, crescimento urbano e ainda políticas públicas nacionais e locais são fatores relativos às questões de acessibilidade e estão na pauta das discussões do urbanismo contemporâneo. Desta forma, o trabalho apresenta um diagnóstico da acessibilidade e do desenvolvimento urbano por meio de interpretações de registros documentais históricos e dados socioeconômicos do município de Campos do Jordão – SP. O estudo de caso contou com análise de dados auxiliado por um Sistema de informação geográfica (SIG), o qual aborda a configuração urbana e a acessibilidade aos equipamentos públicos e privados da cidade. Com a intenção de fazer uma análise interpretativa, foram desenvolvidos alguns Buffers partindo dos equipamentos, definindo um raio de influência.

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2771 Mobilidade e Acessibilidade IPlanejamento Territorial do Transporte

A ACESSIBILIDADE E DESENVOLVIMENTO URBANO: O CASO DE CAMPOS DO JORDÃO

Juliana da Camara Abitante

Raquel Regina de Oliveira Martins Félix Josiane Palma Lima

Mestrado em Desenvolvimento Tecnologias e Sociedade Universidade Federal de Itajubá

RESUMO O desenvolvimento urbano das cidade pós-modernas gera maiores distâncias entre locais de habitação e as oportunidades da cidade, interferindo na acessibilidade dos indivíduos os equipamentos urbanos. Desta forma, o trabalho apresenta um diagnóstico da acessibilidade e do desenvolvimento urbano por meio de interpretações de registros documentais históricos e dados socioeconômicos do município de Campos do Jordão – SP. O estudo de caso contou com análise de dados auxiliado por um Sistema de informação geográfica (SIG), o qual aborda a configuração urbana e a acessibilidade aos equipamentos públicos e privados da cidade. Desta maneira, foi possível identificar espacialmente as localizações de maior carência de equipamentos e prever investimentos públicos na área de infraestrutura urbana, sistemas de transporte e instalação de novos equipamentos. Entretanto, os resultados apresentados são o diagnóstico de uma situação que corroboram em decisões na área de acessibilidade urbana. ABSTRACT The urban development of postmodern cities creates longer distances between housing sites and city's opportunities, affetcing the accessibility of individuals to urban equipment. Thus, this paper presents a diagnosis of accessibility of individuals and urban development through interpretations of historical documentary records and socioeconomic data of the city Campos do Jordão, SP. The case study includes data analysis support by a geographic information system (GIS), wich deals with urban configuration and accessibility to public and private facilities in the city. However, the results shown are the diagnosis of a situation that corroborates decisions for the accessibility in urban area. In this way, it was possible to identify spacial locations of greatest need equipment and forecast public investment in urban infrastructure area, transportation systems and the installation of new equipment. 1 INTRODUÇÃO O desenvolvimento urbano nas cidades pós-modernas trouxe consigo uma maior ocupação do território, uma crescente necessidade de deslocamentos e maiores distâncias entre os locais de habitação e as oportunidades da cidade. De acordo com Arruda e Lima (2013), a acessibilidade universal trata da equiparação das oportunidades de forma geral, logo, do acesso de todos as funções sociais da cidade de forma igualitária. O Ministério das Cidades (2006) no seu documento “Brasil Acessível” reforça que a acessibilidade deve ser vista como parte de uma política de mobilidade urbana com inclusão social, equiparação de oportunidade e o exercício da cidadania das pessoas com deficiência e idosos, com respeito aos seus direitos fundamentais.

Neste sentido, compreender a importância da acessibilidade urbana é fundamental na busca de soluções mais eficientes para um desenvolvimento sustentável. As questões de uso do solo, localizações das habitações, configurações espaciais, oportunidades da cidade, crescimento urbano e ainda políticas públicas nacionais e locais são fatores relativos às questões de acessibilidade e estão na pauta das discussões do urbanismo contemporâneo. Desta forma, o trabalho apresenta um diagnóstico da acessibilidade e do desenvolvimento urbano por meio de interpretações de registros documentais históricos e dados socioeconômicos do município de Campos do Jordão – SP. O estudo de caso contou com análise de dados auxiliado por um Sistema de informação geográfica (SIG), o qual aborda a configuração urbana e a acessibilidade aos equipamentos públicos e privados da cidade. Com a intenção de fazer uma análise interpretativa, foram desenvolvidos alguns Buffers partindo dos equipamentos, definindo um raio de influência.

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Os conceitos de mobilidade e acessibilidade possuem definições distintas, no entanto são complementares e estão relacionados. A acessibilidade possui uma relação direta ao indivíduo em relação ao alcance de as suas atividades e sua necessidade de deslocamento. O trabalho aponta o eixo conceitual dos termos de acessibilidade e a legislação nacional pertinente. Demonstra a configuração espacial urbana brasileira atual e a tendência aos subcentros, bem como sua relação com a acessibilidade. 2 ACESSIBILIDADE – LEGISLAÇÕES E CONCEITOS As discussões de mobilidade e acessibilidade no âmbito da legislação brasileira derivam da Constituição Brasileira de 1988. Em seu artigo 182, que rege sobre Política Urbana, determina que o Poder Público Municipal tem como função elaborar o Plano Diretor que é obrigatório para cidade com mais de 20.000 habitantes. Somente em 2001, foi sancionada a Lei n° 10.257, Estatuto da Cidade, que regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal. Em relação a Política Urbana Municipal, coloca o Plano Diretor como instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana. A Lei n°12.587, de 2012, foi mais um avanço no que tange a legislação e atribui às cidades a responsabilidade de repensar as questões de mobilidade nos municípios. Esta lei institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana. A acessibilidade parece estar muito vinculada aos critérios de desenho universal, orientadas ao livre deslocamento das pessoas com mobilidade reduzida. No entanto, a acessibilidade abrange à toda a sociedade e não apenas aos que possuem esta dificuldade. As barreiras podem ser econômicas, sociais, físicas e até mesmo culturais. Morris et al. (1978) define acessibilidade como uma medida de separação espacial das atividades humanas. A acessibilidade definida por Geurs e Wee (2004) trata-se da relação entre o uso do solo e os sistemas de transporte que permitem (grupos de) indivíduos o alcance às atividades e destinos através de combinações de modos de locomoção. Vasconcellos (2000) define acessibilidade como facilidade de atingir os destinos desejados. Já para Raia (2000), acessibilidade é uma medida de esforço para se ultrapassar uma separação espacial, levando em conta as oportunidades e o sistema de transporte. Complementando, Litman (2014) define acessibilidade como a capacidade geral das pessoas para atingir aos serviços e atividades (oportunidades), portanto inclui o tempo e o dinheiro, que os indivíduos e empresas devem aplicar ao transporte.

A partir destas definições, pode-se afirmar que a distância entre a origem do indivíduo e o destino ou oportunidade é componente para mensurar a acessibilidade, portanto, é considerável a ocupação do solo como posicionamento das atratividades e localização das habitações. Por meio dos conceitos discorridos, destaca-se a relação entre o uso do solo e a acessibilidade, sendo ambos mutuamente dependentes. Pois, se o uso do solo da área habitacional permite com que os moradores desta região acessem, com pequenas distâncias, as oportunidades com menores deslocamentos a acessibilidade é garantida. Sendo a ocupação horizontal do território um fenômeno intrínseco ao crescimento urbano, fornecer equipamentos urbanos em diferentes localizações é atender as demandas da população desta nova região. Neste sentido, os subcentros geram menores distâncias da habitação aos pontos de destino.

O crescimento das cidades e a ocupação do território, no período pós-industrialização pelas habitações, gera demandas de oportunidades em diferentes locais. Com a oferta de oportunidades próxima às habitações é possível suprir as necessidades num menor raio de distância, criando-se subcentros. Kneib (2008) demonstra que os centros possuem como característica a acessibilidade privilegiada e são locais de atração de pessoas, viagens, diversos tipos de atividade e construções. Estas qualidades valorizam a área até que entrem em um processo de saturação, na qual a acessibilidade é diminuída. Então a área entra em decadência

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e gera um novo processo de descentralização. Outras áreas são providas de investimentos locais e acessibilidade, gerando novas centralidades.

O Brasil na década de 1980 apresentou um acentuado empobrecimento aliado a urbanização (Caldeira, 1997). A população de menor poder aquisitivo se inseriu no espaço urbano em loteamentos a margem da legalidade, ora nas periferias causando uma expansão da cidade, ora em favelas e cortiços nas áreas centrais das cidades. Segundo Caldeira (1997), as classes média e alta são atraídas pelos enclaves fortificados, que são espaços privados, fechados e monitorados com a finalidade de residência, consumo, lazer ou trabalho. A divisão social do espaço urbano nas cidades latino-americanas com a reclusão de certos bairros é destacada por Janoschka (2002), que aponta este fenômeno como uma forma de desintegração social mediante as barreiras físicas e de acessos. Assim, se faz necessário o entendimento da forma como a cidade cresce e os locais onde se concentram os equipamentos públicos e privados. Os equipamentos mais procurados são aqueles que merecem maior atenção por parte da gestão pública para tornar a cidade acessível para todos.

De forma a melhor realizar a interpretação de distribuição espacial dos equipamentos públicos e privados na área urbana e como esta localização interfere na acessibilidade recorre-se ao uso de um Sistema de Informação Geográfica (SIG). O SIG fornece o suporte necessário para a análise espacial da acessibilidade. Segundo Câmara et al. (2014), o SIG possibilita traduzir o mundo real para o ambiente computacional. As representações dependem de como o observador percebe o espaço, de sua experiência e necessidade específica. O uso de Sistemas de Informação Geográfica no estudo da acessibilidade é largamente difundido no meio acadêmico, verificado nos trabalhos de Tobias et al. (2012), Raia (2000), Lima et al. (2004), Kneib (2012). A utilização de um SIG permite uma melhor interpretação do território por possibilitar o manejo de dados e destacar as informações necessárias para a análise de acessibilidade. Aspectos como sistema viário, caracterização dos aspectos do meio físico como relevo e hidrografia, uso do solo e equipamentos de educação, saúde, comércio, serviços municipais e bancários serão analisados neste trabalho com o uso de um SIG. 3 O CASO DE CAMPOS DO JORDÃO O município de Campos do Jordão está inserido na Região Metropolitana do Vale do Paraíba, Litoral Norte e Serra da Mantiqueira, que possui atração turística regional e nacional (Emplasa, 2011). Possui integração territorial com fluxos de deslocamentos com as cidades do Vale do Paraíba, Serra da Mantiqueira e sul do estado de Minas Gerais. Estes deslocamentos geram uma integração regional em busca de destinos como saúde, educação e emprego. De acordo com dados levantados em 2010 pela Emplasa (2011), Campos do Jordão possui taxa de urbanização de 99,4%, com 47.789 habitantes. A área do município é de 290,05 km² (IBGE, 2010), com densidade habitacional de 164,49 hab/km² (habitantes por quilometro quadrado).

O estudo expõe uma pesquisa qualitativa do fenômeno urbano, em especial a questão da acessibilidade com enfoque descritivo e interpretativo. Inicialmente, realizou-se uma investigação da evolução temporal do crescimento urbano, aliado a história do município através de uma pesquisa documental. O conjunto de documentos utilizados para a verificação do desenvolvimento urbano contou com mapas cadastrais, fotografias aéreas, imagens de satélites, coletadas Secretarias de Planejamento, Meio Ambiente e Educação da Prefeitura Municipal de Campos do Jordão, Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), IG (Instituto Geológico) e Embrapa (Miranda, 2005). Deste modo, concebeu-se uma série histórica da dinâmica de ocupação e morfologia urbana contextualizada com a cronologia de fatos. Em

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um segundo momento, realizou-se uma análise espacial de interpretação de dados georreferenciados através de mapas sendo processados no SIG ArcGis. 3.1 Registros históricos de crescimento e desenvolvimento urbano do município Ao final do século XIX, por seus aspectos do meio físico, Campos do Jordão já atraia doentes afetados pela tuberculose em busca da cura por climatoterapia. Iniciou-se o ciclo de cura e o desenvolvimento urbano realizou-se através de modelos higienistas. As diretrizes urbanísticas eram orientadas ao crescimento da cidade com baixa densidade habitacional, ocupação territorial de forma dispersa e linear no eixo do rio, sendo um aspecto de expansão determinante na setorização de classes sociais definindo bairros para a população residente e turistas. Os acessos à cidade eram através de trilhas ou pela estrada de ferro concluída em 1919. Na década de 1930 foi construída a atual rodovia SP-50, que liga o município a São José dos Campos. Entretanto, na década de 1950 a cura por climatoterapia perdeu o significado científico no país (Bertolli Filho, 2001) e a cidade deixou de investir no turismo de tratamentos de tuberculose, instituindo-se o ciclo de turismo na cidade, com o começo da instalação da estrutura hoteleira existente e incentivada até os dias de hoje.

Na década de 1970 a cidade recebeu estudos urbanísticos como o Código de Diretrizes do Sistema Viário, Código de Usos do Solo e Proteção a Paisagem, Código de Edificações (Lei nº 1097 de 1978) e Código do Parcelamento do Solo (Paulo Filho, 1986). Em 1978, o Governo do Estado de São Paulo, passou o município de estância hidromineral para estância turística, o que restabeleceu a autonomia política administrativa. Segundo Paulo Filho (1986), na década de 1980 a cidade sofreu uma alta especulação imobiliária, através da implantação indiscriminada de loteamentos. Este fato, segundo o autor, foi ocasionado pela expressão turística do município.

A primeira centralidade constituída na cidade foi a Vila Jaguaribe. Atualmente, a cidade tem como centralidades as Vilas Abernéssia, Jaguaribe e Capivari, conforme é apresentado na Figura 1, distribuídas ao logo de um eixo articulador funcionando como um cruzamento linear e sequência de nós da malha urbana secundária.

Figura 1 – Bairros de Campos do Jordão com destaque para o eixo viário principal

Em 2003 foi sancionada a Lei n° 2737/03 que dispõe sobre a aprovação do Plano Diretor Estratégico de Campos do Jordão. Institui os objetivos estratégicos da Administração pública que inclui aspectos acerca da mobilidade urbana sustentável, tais como, a melhoria da fluidez

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do tráfego, ciclovias na área urbana para serem utilizadas não apenas como esporte e lazer, mas para estimular o uso da bicicleta como meio de transporte, adequação da circulação e estacionamentos para turistas, vias panorâmicas Norte e Sul e um Perimetral Norte. O Plano Diretor aborda a necessidade de uma política direcionada para repensar as questões do tráfego na cidade através de um Plano Municipal de Transporte, inclusive considerando os bairros periféricos. A preocupação com a mobilidade urbana existe e foi explicitada em lei municipal desde 2003, antes mesmo da regulamentação da Lei federal n° 12.587. No entanto, após doze anos de concepção do Plano Diretor, como na maioria das cidades brasileiras, poucas intervenções foram realizadas e com relação à acessibilidade, as estratégias são voltadas na sua maioria para intervenções em regiões mais centrais.

Em 2007, foi promulgada a Lei nº 3.049/07 que dispõe sobre o Zoneamento de Uso e Ocupação do Solo, enfatizando que a vocação do município é o Turismo. Portanto, verifica-se através da análise das diretrizes do Plano de Urbanização de Campos do Jordão, projeto de lei n° 193, desde a primeira metade do século XX, a intencionalidade do desenvolvimento urbano. As orientações são voltadas ao crescimento da cidade com baixa densidade habitacional, com a ocupação territorial de forma dispersa e linear, o espraiamento do tecido urbano e a setorização. A segregação espacial de classes sociais é existente e define de forma determinante os bairros para a habitação da população residente e os locais para a construção de casas para turistas, prejudicando a acessibilidade da área urbana de forma homogênea. 3.2 Características geomorfológicas do município O rio Sapucaí é o principal rio da cidade, nasce a 1620 metros de altitude, é também o principal rio da Bacia Hidrográfica do Rio Sapucaí (COPASA, 2010). A Bacia Hidrográfica do Rio Sapucaí engloba 51 municípios paulistas e mineiros, atendendo um total de 770.491 habitantes (COPASA, 2010).

a- Sistema hídrico b- Altimetria

Figura 2 – Caracterização dos aspectos geográficos e do meio físico de Campos do Jordão

A figura 2 apresenta os aspectos geográficos e do meio físico. A figura 2a mostra o rico sistema hídrico da cidade e na figura 2b é possível verificar o gradiente de altitude de mais de 1000 metros no interior do município e o seu ponto culminante que é de 1989 metros. Ambos aspectos foram importantes no desenvolvimento urbano e ocupação territorial, o recurso hídrico do rio Sapucaí e sua leito de relevo ameno facilitaram a ocupação urbana de forma linear que se estende paralelo ao rio.

A partir de dados do Instituto Geológico (IG), (2014) foi elaborada a figura 3 com o uso e cobertura do solo. Verifica-se que o município possui grande área com cobertura vegetal o que favorece o turismo ecológico e ao mesmo tempo urbano na região. A área urbanizada possui

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uma configuração amorfa, com formas orgânicas, pouco ortogonais. O traçado urbano possui um eixo linear, porém não é regular e intercalam áreas ocupadas e vazios urbanos. As vias não foram projetadas de modo retilíneo, não seguem um padrão pré-estabelecido, mas foram se adequando a topografia, como pode ser observado na Figura 4.

a- Uso e cobertura do solo b- Destaque para a área urbanizada

Figura 3 – Uso e cobertura do solo de Campos do Jordão.

a- Caracterização do relevo e sistema viário. b- Classes de declividade do relevo

Figura 4 – Relevo e Declividade do terreno no município de Campos do Jordão.

O relevo da superfície do município e o sistema viário da cidade são apresentados na figura 4a. Foi feito um recorte que aparece apenas a área urbana do município. O mapa do relevo com a elevação foi desenvolvido com o auxílio do ArcScene (o ArcScene é uma extensão do ArcGis que inclui visualização 3D). A figura 4b foi reclassificada em porcentagem de inclinação de acordo com a Embrapa (2006). A partir desta classificação verifica-se que o território urbano de Campos do Jordão possui sua topografia com declividade predominante entre 8% e 45%, ou seja, prevalecem as taxas de classificação, entre ondulado e fortemente ondulado.

3.3 Acessibilidade – uma interpretação por meio de distribuição espacial e dados socioeconômicos Diferentemente do final do século XIX e início do século XX em que a população procurava o município para tratamentos de saúde, atualmente há uma grande quantidade de turista que buscam o contato com a natureza e o requinte dos serviços gastronômicos e hoteleiros oferecidos na cidade. Este fato colabora com a expansão da área urbana, com cada vez mais instalações de restaurantes, hotéis e residências para atender aos turistas. Além do turismo que busca o frio da montanha, o conforto urbano de restaurantes, comércio e hotelaria sofisticada, Campos do Jordão também se diversificou em diferentes segmentos: (i) O turismo ecológico e campestre com atrações de reservas florestais, hípicas e atividades out door; (ii) o turismo de negócio, com diversas opções de salas de convenções na estrutura hoteleira, neste sentido

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congressos e feiras são realizados na cidade; e o (iii) turismo cultural, atraído pelo festival de inverno, importante evento nacional de música clássica.

No decorrer do crescimento do traçado urbano e para atender uma demanda imobiliária foram criados loteamentos de alto padrão nas áreas periféricas, alguns próximos à reservas florestais principalmente para atender a oferta turística. Para o turista, a cidade tem um significado bucólico, de estar no campo, por outro lado, os moradores fixos destas residências estão isolados e distantes dos equipamentos e serviços oferecidos pela cidade. Os loteamentos turísticos possuem características monofuncionais, residenciais, ou seja, não oferecem serviços, nem tanto pelo impedimento do funcionamento de comércio pela regulamentação do uso do solo, mas sobretudo pela falta de adensamento humano necessária para o consumo. Além da dispersão geográfica, ainda estão na maior parte dos dias desocupados, pois são casas de veraneio. Em termos de infraestrutura urbana, áreas mais afastadas do centro tiveram que ser providas de rede viária (figura 4) e do sistema de transporte público, deslocando os recursos disponíveis para suprir as necessidades específicas dessa região. A manutenção destas vias, mesmo que pouco utilizadas geram uma demanda orçamentária constante ao poder público. A situação dos loteamentos dispersos contribuiu para uma grande quantidade de vazios urbanos, decorrentes da escolha de melhores terrenos pelo aspecto geomorfológico (terrenos menos acidentados).

a- Autosegregação e composição do território b- Evolução da mancha urbana com o sistema viário

Figura 5 – Autosegregação e evolução da mancha urbana Campos do Jordão

A Figura 5 apresenta a autosegregação e evolução da mancha urbana em Campos do Jordão. Esta foi elaborado para identificar as extensões territoriais que restringem a circulação pública. A partir do mapa de divisão de lotes da Prefeitura Municipal de Campos do Jordão em arquivo dwg., criou-se no SIG polígonos, delimitando as áreas, em torno dos locais de condomínios e loteamentos fechados de maior porte. A partir da figura 5a identificamos as zonas urbanas, rurais e áreas de reserva, o que permite identificar as zonas urbanas, rurais e áreas de reserva ambiental.

A partir de duas fotografias aéreas de 1977 e de 2013, fornecidas pela Secretaria de Planejamento de Campos do Jordão, foi elaborado a figura 5b da evolução da mancha urbana. Pode-se verificar, nos dois momentos, preenchidos com as cores vermelha e laranja respectivamente, que o crescimento foi predominantemente linear. Os vazios urbanos também são evidenciados.

A Figura 6 apresenta a densidade demográfica e a distribuição de renda no município. A figura 6a apresenta a densidade demográfica por setor censitário, elaborado com base em informações

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do Censo Demográfico de 2010 (IBGE, 2010) utilizando os dados de “Moradores em domicílios particulares permanentes ou população residente em domicílios particulares permanentes”. Desta forma, identificou-se a densidade demográfica por setor censitário, considerando o nº de habitantes por quilometro quadrado e a classificação foi feita em 9 classes. A zona urbana do município não possui densidade habitacional homogênea em todo o território, a população reside em torno do eixo principal da cidade. A população residente está concentrada e há áreas com um o sistema viário extenso e de forma espraiada.

a- Densidade demográfica, definidos na unidade de hab/km² b- Renda definido pelo salário mínimo

Figura 6 – Densidade demográfica e renda. A figura 6b apresenta a distribuição de renda por setor censitário. Foi considerado “Valor do rendimento nominal médio mensal das pessoas responsáveis por domicílios particulares permanente (com ou sem rendimento)”. As variáveis monetárias da planilha disponibilizada pelo IBGE estão em unidades de reais e foram classificadas em função do salário mínimo. O valor do salário mínimo é de R$788,00 (setecentos e oitenta e oito reais), válido a partir de janeiro de 2015 (Ministério do Trabalho e Emprego, 2015). Observa-se que o valor de renda mensal máximo é de 4 salários mínimos por setor censitário e apenas dois setores possuem médias de 3 a 4 salários mínimos, por setor censitário. A cidade possui uma média baixa de rendimento mensal e aqueles que possuem um rendimento maior não estão alocados de forma concentrada para aumentar a média por setor. Os dados não permitem identificar as residências de turistas, pois a coleta de dados é feita pelos habitantes locais. Observa-se que a população residente de maior renda está alocada no centro. E independentemente da renda a maior densidade habitacional possui acessibilidade através da localização central da residência. A periferia de Campos do Jordão não é necessariamente a localização da população de baixa renda. Vários setores censitários que possuem baixas rendas são bairros de classes sociais elevadas, bairros de turista, mas os proprietários não residem no local, de modo que os dados do IBGE não conseguem demonstrar, uma vez que trabalham apenas com a população residente.

Foram selecionados e georreferenciados os equipamentos públicos e privados que mais se destacam em termos de importância quanto à utilização e que, sua localização contribui para a melhoria da qualidade de vida da população, ou seja, os equipamentos de saúde, educação, serviços municipais, serviços bancários e comércio, disponíveis na cidade. Com a intenção de fazer uma análise interpretativa, foram desenvolvidos alguns Buffers partindo dos equipamentos. Os buffers de até 2 quilômetros foram considerados distâncias possíveis de serem alcançadas a pé. Considerando o tempo médio de caminhada de 5 km/h, a distância de 1 quilometro é percorrida em torno de 12 minutos.

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Os dados, de localização das escolas, foram obtidos na Secretaria Municipal de Educação, a qual forneceu informações das escolas de educação infantil e escolas do ensino médio. O buffer em torno dos pontos das escolas de educação infantil por se tratar de crianças menores que muitas vezes precisam de acompanhamento, foi definido com a distância de 1 km como apresentado na figura 7a. O buffer para escolas de ensino médio, na figura 7b, foi de 2 km, por se tratar de adolescentes que possuem maior autonomia e liberdade de deslocamento. Os locais com maiores densidades demográficas estão atendidos pelas escolas públicas municipais. Áreas mais distantes do centro não estão cobertas de uma forma homogênea, deste modo o aluno precisa recorrer ao transporte público para ter acesso a escola.

a- Equipamentos de educação de ensino infantil com

buffer de 1 quilômetro b- Equipamentos de educação do ensino médio com

buffer de 2 quilômetros Figura 7- Localização dos equipamentos de educação e área de influência

A prefeitura possui o auxílio de transporte ao estudante, por meio do passe escolar à todos os alunos da rede pública do ensino fundamental, médio e particular com desconto de 50% da passagem. Alguns alunos recebem a quantia integral dependendo da distância da residência até a escola. Segundo IBGE (2010) o município possui 46% da população entre 18 e 24 anos com pelo menos o ensino médio completo, esta taxa está bem abaixo da média do estado que é de 57,89%. A taxa de analfabetismo é de 4,42 % na cidade, ligeiramente mais alta do que do Estado de São Paulo, que é de 4,33% (IBGE, 2010). Neste sentido, é válido questionar se um dos motivos pela baixa escolaridade tem relação com a acessibilidade às escolas no município. A lista dos estabelecimentos de saúde foi coletada do CNESNet, Secretaria de Atenção à Saúde, do Ministério da Saúde do Governo Federal. O buffer em torno dos postos de saúde, foi definido com a distância de 1 km como apresentado na figura 8a, visto que são locais usualmente frequentados por moradores cadastrados nas regiões próximas onde residem. Esses utilizam com maior continuidade os postos de saúde, por se destinarem exclusivamente para consultas de caráter de prevenção. Entretanto, nos hospitais de pronto atendimento são recebidos os casos mais graves e/ou urgências, emergências, justificando uma área maior de atendimento (buffer de 3 km) na figura b, principalmente por se tratarem de casos nos quais os deslocamentos são realizados por ambulâncias ou outros tipos de veículos motorizados.

Verifica-se que as áreas centrais com maior adensamento populacional estão sendo assistidas pelos equipamentos de saúde. Porém, nos locais mais distantes desse centro verifica-se uma carência no atendimento, deste modo o paciente necessita percorrer grandes distâncias para ter acesso às unidades de saúde, tanto para emergências quanto para prevenção. Há no município o transporte realizado por ambulâncias até o hospital de pronto atendimento. Também, outro obstáculo à rapidez no auxílio dessas áreas mais distantes é o tipo de via, com a diminuição da velocidade nas vias não pavimentadas afetando a qualidade do serviço.

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a- Postos de saúde com buffer de 1 quilômetro b- Hospitais com buffer de 3 quilômetros

Figura 8- Localização dos equipamentos de saúde e área de influência Quanto aos serviços municipais, foram localizadas e georreferenciadas as secretarias municipais e a prefeitura municipal onde se localiza o gabinete do prefeito, coletadas no site da Prefeitura Municipal de Campos do Jordão. Os serviços bancários foram identificados com inspeção in-loco e identificação através do Google Maps. O comércio principal da cidade é concentrado nas avenidas Dr. Januário Miraglia e Frei Orestes Girardi e, para identificá-lo, gerou-se um ponto simbólico no local do Mercado Municipal da cidade que está localizado na Vila Abernéssia.

Deste modo, foi representado o acesso dos moradores ao centro principal do comércio da cidade. A figura 9a apresenta a área urbana do município e a espacialização dos serviços públicos e privados, citados anteriormente. Na figura 9b foi feito uma aproximação do mapa na área que apresenta o maior número dos equipamentos de serviços bancários, o principal comércio da cidade e todos os serviços municipais. O eixo viário principal foi destacado com uma linha em negrito, são as Avenidas Januário Miráglia e Frei Orestes Girardi, que se inicia no portal da cidade e atinge a Vila Capivari.

O buffer, elaborado na figura 9, foi linear em torno do eixo principal com uma distância de 2 quilômetros. Desta forma, evidencia-se através do detalhe da figura 10b, que a localização de todos os pontos de serviços municipais, bancários e o comércio principal estão próximos ao eixo articulador da cidade. A área urbanizada do município não possui equidistância dos pontos, estes estão concentrados em conjunto com a população residente.

a- Serviços municipais, bancários e comércio

com buffer de 2 km no eixo viário principal b- Destaque para área central

Figura 9- Localização dos serviços municipais, bancários e comércio e destaque para o eixo principal

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A utilização do SIG foi determinante na geração das figuras, possibilitando a análise espacial com a abstração e visualização dos dados tais como, evolução de áreas urbanizadas, distribuição espacial da população e localização de equipamentos. A análise espacial por meio de buffers, considerando a distância como parâmetro de acessibilidade, associado a densidade populacional se mostra importante para uma primeira avaliação, desde que se entendam as suas limitações. Nos próximos estudos deve-se considerar a rede viária, o relevo, o tipo de pavimento e o sistema público de transporte para um cenário mais completo. Entretanto, os resultados apresentados são o diagnóstico de uma situação que corroboram em decisões na área de acessibilidade urbana. Desta maneira, foi possível identificar espacialmente as localizações de maior carência de equipamentos e prever investimentos públicos na área de infraestrutura urbana, sistemas de transporte e instalação de novos equipamentos.

O eixo principal da cidade composto pelas Avenidas Januário Miráglia e Frei Orestes Girardi além de ser o articulador dos fluxos do município, é também o local de referência de concentração dos equipamentos públicos, logo é necessário ser acessado por toda a população. A densidade demográfica é maior ao logo desta linha, mas não contempla a extensão que toda a população tem sua moradia. A localização em torno do centro da maioria dos habitantes da cidade facilita seu acesso aos destinos da cidade. No entanto as localizações dos habitantes em regiões mais afastadas não possuem facilidades de acesso, pois o uso do solo comercial é extremamente concentrado na área central, além das áreas periféricas estarem em regiões com maiores declividades e com vias não pavimentadas.

Com o uso da metodologia instrumental, foi constatada a auto segregação espacial em áreas circunscritas pelos condomínios fechados, que restringem a circulação pública. Foram identificados loteamentos abertos que apesar de não limitar o acesso, possuem alto valor imobiliário, o que determina uma classe social composta por turistas, como é o caso de bairros como o Capivari, Alto do Capivari, Pedra de Fogo e outros. Estes bairros possuem moradores residentes, que são em geral, os caseiros das propriedades. A situação destas famílias em relação à acessibilidade deve ser priorizada, visto que estão fixados em locais de distantes dos equipamentos públicos da cidade e restritos ao transporte público. Agradecimentos

Os autores agradecem ao CNPQ, à FAPEMIG e a CAPES pelo apoio financeiro concedido aos projetos que subsidiaram o desenvolvimento deste trabalho.

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Juliana da Camara Abitante ([email protected]) Raquel Regina de Oliveira Martins Félix ([email protected]) Josiane Palma Lima ([email protected]) Mestrado em Desenvolvimento Tecnologias e Sociedade, Universidade Federal de Itajubá Av. BPS, 1303, Bairro Pinheirinho, Itajubá - MG