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Atualização da matriz nutricional como fator de redução no custo de
produção
Nei André Arruda Barbosa1 e Carlos De La Cruz2 1 América Latina - Evonik Degussa Brasil Ltda. Email: [email protected]
2 Expert Egg Production - Evonik Industries AG – Hanau. Email:[email protected]
1- Introdução
A demanda por alimento aumenta, mediante ao crescimento projetado da população
mundial em 2050 para 9,1 bilhões pessoas (FAO, 2009), onde-se estima que o consumo de
cereais será de 3 bilhões de toneladas em 2050 (MIELE et al., 2011), e consumo de carne
passará de uma demanda mundial de 305 milhões de toneladas estimadas em 2015 para
463 milhões de toneladas em 2050, sendo uma taxa de crescimento anual de 1,5% entre
2015 e 2030 e de 1,0% entre 2030 e 2050, representando um aumento mundial de 9 kg no
consumo de carne per capita, atingindo 52 kg em 2050 (ALEXANDRATOS, 2009).
O foco na produção de carnes e derivados para elevar oferta de alimentos a essa
demanda, proporciona constante busca na melhora da eficiência produtiva, com foco no
aumento de produtividade e baixo custo de produção. Em se tratando da cadeia produtiva
para carne e derivados, o custo alimentar tem uma significante participação dos custos
finais, sendo na alimentação de aves e suínos, responsáveis por cerca de 70%. Com base
da alimentação no milho e farelo de soja, onde representam em torno de 50-60% e 20-
30% respectivamente nas formulações, os custos por tonelada produzida das rações têm
aumentado em função do mercado dessas commodities.
Para melhor a eficiência e eficácia produtiva, os nutricionista trabalham para balancear
as dietas, com objetivo de atender estritamente as exigências nutricionais nas diferentes
fases de produção. Um tema muito abordado é o emprego da nutrição de precisão, onde o
conhecimento do valor nutricional dos alimentos é de fundamental importância
nutricional e econômica, para a formulação de rações (SAKOMURA e ROSTAGNO, 2007).
2- Milho e Soja: Alimentação Animal
O milho e a soja tem elevada importância pelo amplo uso na fabricação de rações
animais como fontes principais de proteína e energia, em especial para aves e suínos. É
expressiva a participação destes dois insumos nos custos de produção e no desempenho
animal. A importância econômica do milho se caracteriza pelas diversas formas de
utilização, onde que como ingrediente de ração animal representa 70% do consumo desse
cereal no mundo, segundo dados do departamento de agricultura dos Estados Unidos
(USDA), no qual o Brasil destina de 60 a 80% de sua produção para essa atividade.
Dados citados por DUARTE e JUNQUEIRA (2013) mostram que Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a ração representa 67,0% do custo de produção de
frangos vivos e 55,0% do custo do frango abatido, sendo que o milho corresponde a 67,0%
da ração, e o farelo de soja, a 33,0%, sendo outros ingredientes apenas marginais. Por
outro lado, a avicultura comercial representa ao redor de 30,0% a 40,0% do consumo de
milho do país, sendo dois terços usados para frangos de corte e um terço para a produção
de ovos.
3- Mercado das commodities
Nos últimos anos, a indústria de carne e derivados tem sinalizado frente aos grandes
impactos em custo e produção, uma vez que o aumento dos preços da soja e do milho a
níveis recordes elevou os custos de ração animal. As oscilações constantes de preços
dessas commodities representam um fator de insegurança no controle de custos de
produção de carne e derivados no Brasil.
De acordo com LIBERA (2009), essas oscilações nos preços de milho e da soja, tanto no
mercado físico como no mercado futuro, reflete possivelmente a integração entre os dois
mercados, onde estas relações podem ter característica de substituição (em termos de
oferta, considerando a opção de plantar uma ou outra cultura) ou ser complementarem,
dependendo do mercado analisado. O mesmo autor reporta dados de pesquisas que se
refere à redução dos estoques mundiais de milho e soja, em que Estados Unidos e China
sinalizaram aumento no consumo de milho, na medida em que a produção de álcool a
partir do milho nos Estados Unidos aproxima-se do planejado e que seja mantido o
crescimento de renda da China. No caso da soja, os estoques mundiais estão se reduzindo
devido à conjugação dos dois fatores: aumento no consumo mundial e redução da área
cultivada com a cultura.
Também no mercado de soja, a formação de preço ocorre a partir de preços em
mercados internacionais e de fatores internos, como condições de oferta e demanda,
diferenças qualitativas principalmente ligadas a teores proteicos do farelo, eficiência do
porto exportador, disponibilidade do produto em armazéns portuários, greves portuárias,
chuvas, etc.
Os recentes aumentos nos custos da cadeia produtiva de aves e suínos em decorrência
da alta nos preços dos ingredientes utilizados na alimentação animal demandam a adoção
de estratégias nutricionais que resultem em melhor aproveitamento dos nutrientes com
consequente aumentando da eficiência produtiva (COSTA et al., 2012).
4- Estratégias de redução de custo alimentar
4.1 - Alternativas
Pesquisas mostram diversos estudos de ingredientes alternativos às dietas com os
insumos tradicionais. A questão chave nesses estudos, ainda incipientes, é a combinação
com outros grãos que possibilitem o aporte adequado de nutrientes (proteínas, minerais,
vitaminas, aminoácidos, entre outros) e de energia para a expressão do potencial genético
dos animais de produção e ao longo de todos os seus estágios de desenvolvimento.
Diversos dados já foram apresentados para a avaliação de alimentos alternativos,
como fosfatos (COUTO et al., 2008) e alimentos proteicos (MANTOVANI, et. al. 2000);
subprodutos, como farinhas de carne (GRAVENA 2012); aditivos, como enzimas (BARBOSA,
et. al. 2008); planos de alimentação por fases (BUENO 2014) e sexo e avaliação de
parâmetros nutricionais, como energia metabolizável (NASCIF et al. 2004); determinação
de exigências nutricionais utilizando equações de predição (SAKOMURA et al., 2005) e,
formulação de rações baseada na digestibilidade de aminoácidos (ROSTAGNO et al., 2011),
entre outras linhas.
4.2 – Aminoácidos cristalinos nas formulações
Recentes avanços da nutrição animal foram desenvolvidos, e uma prática muito
comum e adotada pelos nutricionistas para reduzir a proteína bruta e atender os níveis de
aminoácidos desejados, graças à inclusão dos aminoácidos cristalinos nas formulações. De
acordo com RODRIGUEIRO (2011), o fortalecimento da nutrição de aminoácidos, com
certeza, basearam-se na produção dos aminoácidos suplementares em escala comercial,
gerando uma nova era da nutrição onde surgiu o conceito da proteína ideal, permitindo ao
nutricionista balancear as rações adequadamente com o objetivo de atende as exigências
nutricionais das diferentes fases de cada espécie animal para o máximo aproveitamento
dos nutrientes.
Por outro lado, a inclusão de aminoácidos industriais, entretanto, dependerá dos
custos da fonte de aminoácidos, dos principais macroingredientes (farelo de soja, milho,
sorgo, etc.) e da diferença de preço (spread) entre a fonte proteica (farelo de soja) e a
fonte energética utilizada (milho, sorgo, etc.), que substituirá o farelo de soja, quando da
sua redução na dieta (ABREU et al., 2013).
Com isso, um tema atual ganha muito espaço no cenário da nutrição. Com foco de
buscar o equilíbrio dos aminoácidos, surgiu o conceito da proteína ideal, definido como o
balanço exato de aminoácidos que é capaz de prover se excesso ou a falta, os
requerimentos de todos os aminoácidos necessários para a manutenção e a máxima
deposição de proteína corporal. Tais relatos já foram demonstrados em diversas
pesquisas, como os achados nos trabalhos de CHENG et al., (1997), SABINO et al., (2004),
DEAN et. al., (2006) e CHO (2011).
Uma aplicação prática resultante disto é o estabelecimento de dietas com menor nível
de proteína bruta e sem queda de desempenho, trazendo na cadeia produtiva reduções
significativas no custo de formulação além de uma série de benefícios relacionado ao
impacto ambiental.
4.3 – Indicativo no mercado: Spread (Soja e Milho)
A entrada dos aminoácidos cristalinos nas formulações proporcionou reduzir a
proteína bruta, podendo atender com os cristalinos as exigências dos aminoácidos sem
elevar a proteína da dieta. Com isso, tornou-se possível reduzir a entrada de farelo de soja
(ingrediente proteico) nas formulações.
Um exemplo prático disso seria uma formulação para poedeiras leves com uma
exigência de 16,5% de proteína bruta. A utilização de aminoácidos cristalinos nas
formulações em uma dieta basal de milho e soja resultaria em uma utilização de 26 a 28%
de farelo de soja na formulação, dependo do teor de proteína bruta contida na fonte de
farelo de soja utilizado. Nesse mesmo exercício, uma formulação sem aminoácido
cristalino, resultaria em uma dieta ao redor de 30% de proteína bruta (onde buscar
atender as exigências de aminoácidos requeridas) e uma inclusão acima de 40% de farelo
de soja.
Por esse lado, essas commodities se tornaram um indicativo da oferta e demanda
desses produtos, o que resultaria no preço deles no mercado. Um indicativo muito bem
trabalhado no passado foi o spread da soja e do milho para determinar a oferta e demanda
do consumo dos aminoácidos lisina e treonina, sendo um excelente driver na formação de
preços (gráfico 1). A palavra spread (inglês) nada mais que a diferença entre o preço do
farelo de soja e do milho/ou sorgo/ou outro ingrediente energético.
Essa prática ficou conhecida pelo melhor indicativo de quando se é ou não
interessante utilizar lisina industrial ao observar o spread. Com isso, quanto maior o
spread, maior oportunidade para lisina baixar os custos, sendo assim mais alto seria o
preço de equilíbrio da lisina industrial. Todavia, atualmente com grande número de players
no mercado que oferecem esses aminoácidos cristalinos acabam se tornando os drivers
nos preços, ficando ao spread determinar a demanda desses produtos.
Gráfico 1. Spread do farelo de soja e milho com base de preços de Campinas/SP de
safras e mercados (consulta Janeiro de 2015).
Fonte: http://www.safras.com.br/produtos/safrasnet/index.asp
4.3 – Qualidade da matéria-prima
Um fator muito importante é qualidade de matéria-prima. Os ingredientes utilizados
nas formulações podem sofrer grandes variações em suas composições nutricionais, em
virtude de inúmeros fatores, como genética do grão, adubação, armazenamento, época do
ano, entre outros.
Tais variações existentes, se não identificadas e ajustadas causam grandes impactos no
desempenho animal com perdas econômicas significativas. A desuniformidade e as
alterações da qualidade da maioria das matérias-primas existentes no mercado brasileiro
são alguns dos principais problemas enfrentados pela indústria de alimentação animal, no
Brasil e, segundo PENZ JR. (1995), afetam a qualidade da ração, comprometendo o
desempenho animal.
Portanto, é muito importante a existência de um padrão de qualidade para o
aferimento dos valores e da qualidade dos produtos utilizados, estabelecido e adequado às
condições pré-estabelecidas. BARBARINO Jr (2001) em sua tese de doutorado reporta
muito bem em relação aos ingredientes, que devem ser continuamente monitorados, para
assegurar-se que apresentam consistência com seu perfil nutricional e a ausência de
contaminações potenciais. O mesmo autor ressalta um ponto importante no controle de
qualidade é a avaliação criteriosa dos fornecedores dos diferentes ingredientes. Novos
fornecedores devem ser testados com maior frequência e atenção. Além disso,
BARBARINO Jr (2001) menciona que a frequência e o número de amostras dependem da
importância do ingrediente na ração e, uma vez que tenha sido possível obter um histórico
consistente de análises, a frequência pode ser reduzida.
Em outras palavras, um bom fornecedor é um fornecedor monitorado. Com isso, a
seleção de fornecedores que têm a competência de oferecer matérias-primas com menor
variabilidade auxilia no procedimento de separação de ingredientes e reduz a variabilidade
das formulações.
Para mais um exemplo prático, apresentamos os dados de proteína bruta, metionina e
lisina (tabela 1) de amostras de milho nos anos de 2013 e 2014 (2500 amostras para cada
ano) retirados do banco de dados da Evonik Degussa que são gerados pelas análises
bromatológicas e aminoácidos realizadas em seus laboratórios satélites e através do
serviço AMINONIR ADVANCED utilizando o equipamento NIR para diversas matérias
primas por todo Brasil.
Tabela 1. Comparação entre as analises de NIR provenientes de 2500 amostras de milho
para os anos de 2013 e 2014 no Brasil.
2013 2014
PB Met Lis PB Met Lis
Média 7,65 0,15 0,23 7,70 0,15 0,23
DP 0,64 0,01 0,01 0,64 0,01 0,02
CV 8% 8% 6% 8% 7% 7% Fonte: AminoNir Advanced/Evonik Degussa
Pode-se observar que a diferença dos nutrientes entre os anos de 2013 e 2014 não
apresentam grandes problemas. Todavia, cabe-se ressaltar que o espaço amostral é de 2500
amostras para cada ano. No gráfico 2 e 3, podemos observar a grande variação das amostras
quando comparado com a linha da média para cada nutriente. Assim, a informação torna-se
importante e fundamental.
Gráfico 2. % de metionina total, proteína bruta e lisina total em 2500 amostras de
milho coletadas de distintos clientes no Brasil no ano de 2013.
0,1
0,15
0,2
16
41
27
19
02
53
31
63
79
44
25
05
56
86
31
69
47
57
82
08
83
94
61
009
10
721
135
11
981
261
13
241
387
14
501
513
15
761
639
17
021
765
18
281
891
19
542
017
20
802
143
22
062
269
23
322
395
24
58
Metionina (%) - Milho Brasil 2013
Fon
te: Am
ino
Nir A
dvan
ced/Evo
nik D
egussa
Gráfico
3. %
de m
etion
ina to
tal, pro
teína b
ruta e lisin
a total em
2500
amo
stras de
milh
o co
letadas d
e distin
tos clien
tes no
Brasil n
o an
o d
e 2014
.
Fon
te: Am
ino
Nir A
dvan
ced/Evo
nik D
egussa
6 7 8 9
10
11
162
123184245306367428489550611672733794855916977
103810991160122112821343140414651526158716481709177018311892195320142075213621972258231923802441
Pro
teín
a B
ruta
(%) -
Milh
o B
rasil 2
01
3
0,1
8
0,2
3
0,2
8
1
64
127
190
253
316
379
442505
568
631
694
757
820
883
946
1009
10721135
1198
1261
1324
1387
1450
1513
1576
1639
17021765
1828
1891
1954
2017
2080
2143
2206
2269
23322395
2458
Lisina
(%) -
Milh
o B
rasil 2
01
3
0,1
0,1
5
0,2
169
137205273341409477545613681749817885953
1021108911571225129313611429149715651633170117691837190519732041210921772245231323812449
Me
tion
ina
(%) -
Milh
o B
rasil 2
01
4
6 7 8 9
10
11
1
71
141
211
281
351
421
491
561
631
701
771
841
911
981
1051
1121
1191
1261
1331
1401
1471
1541
1611
1681
1751
1821
1891
1961
2031
2101
2171
2241
2311
2381
2451
Pro
teín
a B
ruta
(%) -
Milh
o B
rasil 2
01
4
0,1
8
0,2
3
0,2
8
1
6…
1…
1…
2…
3…
3…
4…5…
5…
6…
6…
7…
8…
8…
9…
1…
1…1…
1…
1…
1…
1…
1…
1…
1…
1…
1…1…
1…
1…
1…
2…
2…
2…
2…
2…
2…2…
2…
Lisina
(%) -
Milh
o B
rasil 2
01
4
Hipoteticamente, sua empresa recebeu as 2500 cargas durante um período. Observe
em cada figura que alguns pontos (nesse caso as cargas) estão longe da média geral.
Da mesma maneira, vamos fazer o mesmo exercício para o farelo de soja, utilizando a
mesma base de dados e número de amostras, conforme apresentados na tabela 2 e nos
gráficos 4 e 5.
Tabela 2. Comparação entre as analises de NIRS provenientes de 2500 amostras de
farelo de soja para os anos de 2013 e 2014 no Brasil.
2013 2014
PB Met Lis PB Met Lis
Média 46,87 0,63 2,84 46,92 0,63 2,84
DP 2,84 0,04 0,16 1,81 0,02 0,12
CV 6% 7% 6% 4% 4% 4% Fonte: AminoNir Advanced/Evonik Degussa
Gráfico 3. % de metionina total, proteína bruta e lisina total em 2500 amostras de
farelo de soja coletadas de distintos clientes no Brasil no ano de 2013.
Fonte: AminoNir Advanced/Evonik Degussa
0,450,500,550,600,650,700,750,80
16
71
33
19
92
65
33
13
97
46
35
29
59
56
61
72
77
93
85
99
25
99
11
057
11
231
189
12
551
321
13
871
453
15
191
585
16
511
717
17
831
849
19
151
981
20
472
113
21
792
245
23
112
377
24
43
Metionina (%) - FS Brasil 2013
3033363942454851545760
1
66
13
1
19
6
26
1
32
6
39
1
45
6
52
1
58
6
65
1
71
6
78
1
84
6
91
1
97
6
10
41
11
06
11
71
12
36
13
01
13
66
14
31
14
96
15
61
16
26
16
91
17
56
18
21
18
86
19
51
20
16
20
81
21
46
22
11
22
76
23
41
24
06
24
71
Proteína Bruta (%) - FS Brasil 2013
1,82
2,22,42,62,8
33,2
1 66
13
11
96
26
13
26
39
14
56
52
15
86
65
17
16
78
18
46
91
19
76
10
411
106
11
711
236
13
011
366
14
311
496
15
611
626
16
911
756
18
211
886
19
512
016
20
812
146
22
112
276
23
412
406
24
71
Lisina (%) - FS Brasil 2013
Grafico 4 . % de metionina total, proteína bruta e lisina total em 2500 amostras de
farelo de soja coletadas de distintos clientes no Brasil no ano de 2014.
Fonte: AminoNir Advanced/Evonik Degussa
Existem algumas notas importantes nesse contexto apresentado: A empresa está
perdendo dinheiro, onde não aproveita oportunidade de utilizar o real valor da matéria-
prima; Perda de desempenho, por trabalhar com uma matriz nutricional inadequada. Além
disso, erros como a classificação na etiqueta da matéria-prima. Podem observar que
algumas amostras estão com uma média de proteína de 33%, que leva a uma hipótese que
essa amostra foi classificada como um farelo de soja e não como uma soja integral, por
exemplo. Esse é um detalhe pequeno, mas um simples erro na nomeação do ingrediente
pode não ajudar no entendimento da média, dificultando a analise do nutricionista com os
dados avaliados.
E a escolha do fornecedor de matéria-prima é importante? Como tem sido relatada, a
composição de nutrientes das matérias-primas podem apresentar diferenças significativas
e impactar diretamente no custo de formulação e desempenho animal. Por mais um
exemplo prático, tomamos dois fornecedores de farelo de soja, conforme são
apresentados os resultados nos gráficos 5 e 6 . O nutricionista em questão trabalhava com
uma matriz nutricional para o farelo de soja com 46,8% PB e 2,84%, e tem nesse exemplo o
fornecimento de 2 provedores de farelo de soja, com variações diferentes.
0,450,500,550,600,650,700,750,80
16
61
31
19
62
61
32
63
91
45
65
21
58
66
51
71
67
81
84
69
11
97
61
041
11
061
171
12
361
301
13
661
431
14
961
561
16
26
16
911
756
18
211
886
19
512
016
20
812
146
22
11
22
762
341
24
062
471
Metionina (%) - FS Brasil 2014
3033363942454851545760
16
41
27
19
02
53
31
63
79
44
25
05
56
86
31
69
47
57
82
08
83
94
61
009
10
721
135
11
981
261
13
241
387
14
501
513
15
761
639
17
021
765
18
281
891
19
542
017
20
802
143
22
062
269
23
322
395
24
58
Proteína Bruta (%) - FS Brasil 2014
1,82
2,22,42,62,8
33,2
16
61
31
19
62
61
32
6
39
14
56
52
15
86
65
17
16
78
1
84
69
11
97
6
10
411
106
11
711
236
13
011
366
14
31
14
961
561
16
261
691
17
561
821
18
86
19
512
016
20
81
21
462
211
22
762
341
24
062
471
Lisina (%) - FS Brasil 2014
Gráfico 5. Quantidade de lisina total em % no farelo de soja de um fornecedor 1
(desvio padrão calculado de 0,04).
Fonte: AminoNir Advanced/Evonik Degussa
Gráfico 6. Quantidade de lisina total em % no farelo de soja de um fornecedor 2
(desvio padrão calculado de 0,08).
Fonte: AminoNir Advanced/Evonik Degussa
A variação apresentada pelo fornecedor 2 deve ser vista com muita atenção. Observe
que o conteúdo de lisina tem uma variação maior com esse fornecedor em questão em
relação ao fornecedor 1. As explicações podem ser diversas, desde fraude, processo,
variedade de cultura, problemas no cultivo entre outros. Cabe ressaltar mais uma vez, a
importância do monitoramento da matéria prima e adequada utilização nas formulações.
Nesse caso, o nutricionista adotou retirar ½ desvio padrão de cada partida de farelo
para ser adotada na matriz nutricional do programa de formulação como é mostrado no
gráfico abaixo.
Nesse cenário teríamos 3 formulações, onde seria adotado para o farelo de soja uma
matriz de 2,84 (média adotada pelo departamento de nutrição); 2,82 (média – ½ desvio
padrão do fornecedor 1) e 2,80% (média – ½ desvio padrão do fornecedor 2) de lisina para
cada formulação. Essas 3 formulações, considerando as diferentes matrizes nutricionais,
apresentaram diferenças nos custos de formulações, dependendo do preço das matérias
primas, podem ser pequeno ou até expressivos. No entanto, cabe relembrar alguns
centavos reduzidos no custo por tonelada métrica produzida torna-se significativo quando
avaliadas o total de ração produzida mensalmente.
Todavia, os nutricionistas trabalham com as margens de segurança. Essa prática é
muito trabalhada no mercado. Qual a melhor maneira de trabalhar com o desvio padrão?
Na prática, seria recomendado observar o coeficiente de variação (CV) dos nutrientes e
assim, adotar a maneira de trabalhar com o desvio padrão (DP) na margem de segurança.
Por exemplo:
- CV > 10%, recomenda-se reduzir a média em 1 DP (para margem de segurança);
- CV > 5%, recomenda-se reduzir a média em 0,5 DP (para margem de segurança);
- CV < 5%, não teria a necessidade de aplicar a margem de segurança.
Existem dois importantes pontos a serem considerados: a aplicação correta na
atualização da matriz nutricional do ingrediente pode acarretar na manutenção de
desempenho e redução de custo de formulação; e aplicação incorreta resulta além da
queda de desempenho das aves, aumento no custo de ração, e consequentemente com
esses dois fatores, aumenta mais o custo final de produção.
WU et at., (2007) avaliaram o desempenho de poedeiras comerciais (21 a 36 semanas )
alimentadas com 3 dietas com diferentes níveis de energia, aminoácidos, cálcio e fósforo
disponível, intituladas como baixa (2747 kcal EM; 3,86% de Ca, 0,41% Pd; 0,98% de Lis e
0,73% de M+C), média (2874 kcal EM; 4,00 % de Ca; 0,42% Pd; 1,02 % de Lis e 0,77% de
M+C) e alta (3002 kcal EM; 4,18 % de Ca; 0,44% Pd; 1,07 % de Lis e 0,80% de M+C). Esses
autores, apresentaram (tabela 3) as diferenças no desempenho das aves comparando as 3
dietas, evidenciando a melhora na produtividade à medida que aumenta a densidade
nutricional.
Tabela 3. Efeito de diferentes níveis de energia, aminoácidos, cálcio e fósforo
disponível no desempenho de poedeiras comerciais no período de 21 a 36 semanas.
Densidade Nutricional
Cons. (g/ d)
Peso Ovo (g)
Massa de ovo (g ovo/av d)
CA (g cons/g ovo)
Grav. Esp.
Peso (kg)
Baixa 109,9 a 57,76
c 51,87
b 2,12
a 1,0881
a 1,65
b
Média 105,7 b 58,46
b 52,82
a 2,00
b 1,0876
b 1,68
b
Alta 101,1 c 59,08
a 53,28
a 1,91
c 1,0870
c 1,74
a
Letras nas colunas apresentam as diferenças estatísticas.
Adaptado de WU et al., (2007).
Com esses resultados apresentados, podemos imaginar as consequências com o
desempenho das aves, caso venha ocorrer uma redução da densidade nutricional em uma
dieta comercial oriunda de uma formulação que a matriz nutricional dos ingredientes não
foi corrigida, ou até mesmo os dados das analises não foram muito bem interpretados.
4.4 – Qualidade de matéria-prima
4.4.1: Avaliação
O setor de qualidade torna-se a barreira de entrada da matéria prima, e serve de base
de dados para atualização das matrizes nutricionais nos programas de formulação. Em
geral, quando dependemos de análises convencionais de laboratório, o tempo de resposta
chega a mais de uma semana e, na maioria das vezes, quando o resultado chega, o
produto já foi utilizado na produção ou o alimento já foi consumido nas dietas.
Na busca por um serviço rápido e preciso, os equipamentos NIR (Near Infrared
Spectroscopy) tem sido importante na mensuração da qualidade. Isso porque essa
ferramenta proporciona precisão e reprodutibilidade da análise, rapidez, baixo custo,
podendo analisar vários nutriente ao mesmo tempo, maior controle de processo e muito
importante, que permite uma tomada de decisão imediata.
Além de permitir monitorar o fornecedor de matéria prima, auxiliando na fabrica de
ração até uma segregação de produtos conforme um padrão estabelecido pela empresa, o
que permite obter melhor desempenho dos animais, pois as variações na qualidade das
matérias-primas são ajustadas regularmente.
Dados reportados por TAHIR et al. (2012) já mencionam sobre a implantação dos
sistemas de avaliação imediata por esse equipamento, o que tornou o processo mais fácil a
análise de recepção e a estimativa dos valores nutricionais dos ingredientes em uma ração,
todavia os mesmos autores ressalvam que o nutricionista utilize essas informações de
forma segura. Tais informações, que corroboram com SOTO et. al. (2013), onde não
apenas testaram dietas formuladas com aminoácidos digestíveis e energia metabolizável
determinadas com o NIR como encontraram incremento no desempenho geral e da
qualidade da carcaça de frangos em que o equipamento estimou os níveis nutricionais das
dietas.
Já os autores STRIGHINI et al. (2014) elucidaram a importância de obtenção de dados
muito interessante e a utilização dessas informações obtidas no NIRS podem ser um
excepcional meio de conseguir atualizar a composição dos ingredientes e, com isso,
permitir uma formulação mais precisa. Porém, os dados precisam ser trabalhados de
forma adequada, e em seguida, será apresentado um exemplo dessa aplicação de dados
do NIR para composição de uma equação para correção de dados do milho.
4.4.2: Impacto da atualização da matriz nutricional em custos
Foram adotados valores de R$ 28,00 a saca de milho, R$ 1030,00 a tonelada de farelo
de soja, taxa de cambio de 1 USD = R$ 2,69 coletados da fonte Safras & Mercado
(www.safras.com.br) de Janeiro 2015, com base de preço São Paulo. Os demais
ingredientes foram de acordo com os preços de mercado no período de Janeiro do mesmo
ano. Os requerimentos nutricionista foram de acordo com as recomendações de
ROSTAGNO et.al. (2011) para Poedeiras Leves com consumo de 100g/dia.
Partindo do pressuposto uma dieta padrão onde o nutricionista em questão adota as
matrizes nutricionais para milho e farelo de soja com 8 e 46% de proteína bruta
respectivamente, o custo de formulação seria de R$ 681,82/tonelada de ração. Todavia,
em outro caso hipotético, o produtor recebeu uma carga de farelo de soja com 44% de
proteína (todavia o mesmo preço do farelo de soja 46%, ou seja, nesse caso de R$
1030,00), e o nutricionista teve tempo de ajustar a formulação para que as aves recebam
os requerimentos esperados e não tivesse prejuízo no desempenho. Todavia, observou
que o custo da ração subiu para R$ 712,46/tonelada com a redução de 2% de proteína
bruta proveniente da diferente carga de farelo de soja.
Porém, muitas vezes isso não acontece, e descobre que teve algum problema na
matéria prima quando a ração já está no campo, ou até muitas vezes com o desempenho
das aves. Nesse mesmo caso hipotético, que muitas vezes é real, o desenho da formulação
foi proposto com uma matriz de farelo de soja com 46% de proteína. A utilização de
maneira errada com um farelo de soja com 44% de proteína, e isso deixa muito claro que a
ração não terá os níveis nutricionais desejados para atingir o desempenho projetado.
Consequentemente, queda de produção, aumento da conversão alimentar e
consequentemente aumento no custo de produção.
Com uma ferramenta rápida na tomada de decisão poderá auxiliar de uma maneira
mais eficiente. Partindo desse mesmo raciocínio, uma dieta para atender as mesmas
exigências do exemplo anterior, porém formulada com um farelo de soja com 44% e milho
a 8%, e, recebeu as cargas de farelo mensuradas pelo NIR reportam uma proteína de 46%,
ou seja, com 2% a mais de proteína pelo mesmo preço do farelo 44%. Uma excelente
oportunidade para reduzir o custo da dieta.
BARBARINO Jr (2001) cita em sua tese que melhores rações são produzidas quanto de
melhor qualidade e menor variabilidade dos ingredientes, com isso o conhecimento dos
valores nutricionais, resulta em resultados zootécnico mais próximo dos esperados.
5- Conclusões
Com a alta demanda mundial no consumo de carne e derivados, a constante busca
para reduzir custo de formulação é primordial para garantir as margens de lucro pelos
produtores. As novas tendências de nutrição, assim como controle de qualidade e
atualizações das matrizes nutricionais acompanhadas de ferramentas como NIR, serão
fundamentais para nutricionistas e produtores alcançar a máxima eficiência produtiva e
reduzir o custo de formulação.
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