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AUGUSTO DOS ANJOS : leitura e recepção Marcia Valeria Costa Sales 1 Maria Cristina de Souza 2 Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED [email protected] Resumo Esse artigo tem como objetivo apresentar uma intervenção realizada num colégio da rede pública estadual de ensino, baseando sua metodologia na Estética da Recepção a partir da compreensão dos livros: Eu de Augusto dos Anjos e A Última Quimera de Ana Miranda, onde as turmas 1º ano do Ensino Médio leram, pesquisaram, recepcionaram as obras literárias e chegaram à conclusão que a leitura é importante para o desenvolvimento do conhecimento e da visão de mundo. Palavras-chave: leitor; literatura; leitura; compreensão e reflexão. Abstract This article has the aim to present the study realized in a high school of the public sector , having as its methodology the ideas based on the Esthethic of Reception from the understanding of the books: Eu from Augusto dos Anjos e A Última Quimera from Ana Miranda in which the students of the 1st year read and researched the literary work and reached (came, achieved) the conclusion that reading is important to the development of knowledge and the vision of the world. Introdução O presente artigo, baseado na Estética da Recepção (1979), de Hans Robert Jauss, discute a história literária articulada com o aspecto recepcional do texto, abordando tanto o aspecto sincrônico (a recepção atual de um texto) 1 Professora da Rede Estadual de Ensino do Município de Curitiba,licenciada em Letras-Português pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1992) especialista em Literatura Universal pela Universidade Tuiuti do Paraná (1996). Especialista em Educação de Jovens e Adultos pela Universidade Curitiba (2006 ). Professora PDE ( 2008). 2 Professora Orientadora da UTFPR

AUGUSTO DOS ANJOS : leitura e recepção · AUGUSTO DOS ANJOS : ... produzido pela obra e de sua fama junto à posteridade” ... A literatura completa-se no ato de ler e não se

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AUGUSTO DOS ANJOS : leitura e recepção Marcia Valeria Costa Sales1

Maria Cristina de Souza 2

Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED

[email protected] Resumo Esse artigo tem como objetivo apresentar uma intervenção realizada num colégio da rede pública estadual de ensino, baseando sua metodologia na Estética da Recepção a partir da compreensão dos livros: Eu de Augusto dos Anjos e A Última Quimera de Ana Miranda, onde as turmas 1º ano do Ensino Médio leram, pesquisaram, recepcionaram as obras literárias e chegaram à conclusão que a leitura é importante para o desenvolvimento do conhecimento e da visão de mundo. Palavras-chave: leitor; literatura; leitura; compreensão e reflexão. Abstract This article has the aim to present the study realized in a high school of the public sector , having as its methodology the ideas based on the Esthethic of Reception from the understanding of the books: Eu from Augusto dos Anjos e A Última Quimera from Ana Miranda in which the students of the 1st year read and researched the literary work and reached (came, achieved) the conclusion that reading is important to the development of knowledge and the vision of the world. Introdução O presente artigo, baseado na Estética da Recepção (1979), de Hans

Robert Jauss, discute a história literária articulada com o aspecto recepcional

do texto, abordando tanto o aspecto sincrônico (a recepção atual de um texto)

1 Professora da Rede Estadual de Ensino do Município de Curitiba,licenciada em Letras-Português

pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1992) especialista em Literatura Universal

pela Universidade Tuiuti do Paraná (1996). Especialista em Educação de Jovens e Adultos

pela Universidade Curitiba (2006 ). Professora PDE ( 2008).

2 Professora Orientadora da UTFPR

2

quanto o aspecto diacrônico (recepção ao longo da história) e ainda a relação

da literatura com o processo de construção da experiência de vida do leitor,

pois para ele, a qualidade de um texto vem “dos critérios da recepção, do efeito

produzido pela obra e de sua fama junto à posteridade” (JAUSS apud BONNICI

& ZOLIN, 2005, p. 156). As estratégias de leitura são ancoradas no método

recepcional, descrito por Bordini e Aguiar (1993), Eliana Yunes (2002), Rubem

Alves (2002),ISER (1985) e outros que colocam o leitor como pressuposto do

texto, esses autores trazem a ideia de que a leitura é uma investigação da

tensão entregue a obra que não é um produto fixo e que nem existe público

passivo, mas as obras agem umas sobre as outras e sobre os leitores.

A leitura e comparação das obras literárias de Ana Miranda, A ÚLTIMA

QUIMERA e a de Augusto dos Anjos EU e Outras Poesias, levaram à produção

de um projeto de intervenção na escola, em que se manifestou o surgimento

de uma produção didática, conduzindo, a maioria dos alunos do primeiro ano

do Ensino Médio do Col. Protásio de Carvalho, a contemplar a leitura e a

literatura, com um outro olhar, que não fosse apenas, o da obrigação do ato de

ler. Pois, compreendo a literatura como arte, encenação da vida, prazer e a

leitura como uma janela para o mundo, pois não é apenas decodificação dos

símbolos e sim a compreensão, reflexão entre autor/texto/leitor. Por esses

motivos, é dever do professor envolver-se com a leitura, mostrar seu prazer,

em vez de simplesmente utilizá-la como instrumento de trabalho, pois a leitura

através da literatura processa o saber e desenvolve a reflexão, contudo

devemos instrumentar, a fim de assegurar o direito à leitura, podemos motivar,

mas garantir o hábito, o gosto, é impossível, por ser um momento único,

individual, todavia , temos a chance de colaborar com esse processo.

Percebendo a leitura como uma forma de descoberta de mundo, advinda

da imaginação e experiência pessoais, cumpre permitir que esse processo se

viabilize plenamente (ZILBERMAN, 1986).

Segundo Marchi a leitura só é possível se o leitor, com toda carga de

memória que tem, conseguir reconstituir o texto a partir das próprias

experiências, tornando o romance significativo. O preenchimento dos vazios

existentes, tal como Iser (1996) desenvolve na estética da recepção, é tarefa

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do leitor, auxiliado, sempre que necessário, pelo professor que assume o

compromisso de apresentar-lhe a obra (no tempo e no espaço de produção).

( ISER apud MARCHI,2004,p.164)

É sabido que crianças menores - antes da adolescência - gostam de ler,

amam livros de bruxas, fadas, histórias de bichos, mas ao entrarem para

adolescência, perdem esse gosto, porque lhes são cobrados regras, outras

propriedades que vão afastando-o do prazer da leitura. Parafraseando

(MARCHI,1999,p.161), se a leitura é uma experiência profundamente pessoal e

resulta da permanente confrontação entre narrativa do autor e as histórias de

vida do leitor, o leitor seria, portanto uma espécie de co-autor da obra literária,

mas ele perde o envolvimento com a obra, quando esta lhe é imposta, sem

uma preparação devida, motivação, como se a obra já fosse inata ao estudante

que, ao nascer é implantado um ‘chip’, onde existe até um manual e um

controle para qualquer eventualidade, e sabemos que isto, não é o caso de

nossos meninos e meninas adolescentes.

Estética da Recepção Analisar a leitura significa interrogar-se sobre a maneira de ler um texto,

ou sobre ou o que se pode ler nele e muitas vezes o estudo da leitura

confunde-se com a obra.

A Escola de Constância é a primeira grande tentativa para renovar o

estudo dos textos a partir da leitura. Esta escola de teoria literária surgiu na

década de sessenta e divide-se em dois ramos muito distintos: “ a estética da

recepção” de Hans Robert Jauss e a teoria do “ leitor implícito” de Wolfgang

Iser.

Para a estética da recepção – teoria de base para realização da

proposta analítica deste trabalho – o foco de estudo encontra-se nas relações

externas e internas entre o texto e o leitor. Segundo o teórico Hans Robert

Jauss, é importante considerar as condições históricas e as evidências (que

podem ser comprovadas) que moldam e influenciam na atitude do receptor do

texto em relação o contexto social. Nesse sentido, dentro da teoria da

Recepção, Jauss tende para uma linha de estudo que privilegia a reconstrução

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histórica como cenário para recepção do leitor. Por outro lado, Wolfgang Iser

procura aprofundar as relações interacionais entre texto e leitor, teorizando a

recepção (resposta) do leitor a partir dos pontos de indeterminação presente

nos textos e acionados pelo ato da leitura.

De acordo com Vincent Jouve:

Estética da Recepção de Jauss pensa a obra de arte, inclusive a literatura, como algo que se impõe e sobrevive por meio de um público, e que deve ser analisada por seu impacto sobre as normas sociais; Iser com a teoria do “leitor implícito”, se volta para o efeito do texto sobre o leitor (JOUVE, 2002, p. 14).

Para a estética recepcional, a concepção de arte literária está centrada

na atuação do leitor, visando fazer que o texto seja parte do processo de

conhecimento, e não uma entidade autônoma que não interage com o leitor,

isto é, como o espectador recebe a obra; deste modo, a análise torna-se viva.

Segundo Luiz Costa Lima:

A experiência estética, portanto, consiste no prazer originado da oscilação pela qual o sujeito se distancia interessadamente de si, aproximando-se do objeto, e se afasta interessadamente do objeto, aproximando-se de si. Distancia-se de si, de sua cotidianidade, para estar no outro, mas não habita o outro, como na experiência mística, pois vê a partir de si (COSTA LIMA, 1979, p. 19).

Jauss discute a história literária articulada com o aspecto recepcional

do texto, abordando o aspecto sincrônico (a recepção atual de um texto),

quanto o aspecto diacrônico (recepção ao longo da história) e ainda a relação

da literatura com o processo de construção da experiência de vida do leitor,

pois para ele, a qualidade de um texto vem “dos critérios da recepção, do efeito

produzido pela obra e de sua fama junto à posteridade” (JAUSS apud BONNICI

& ZOLIN, 2005, p. 156).

Portanto, essa experiência estética coloca-se na leitura no exato

momento em que leitor lê e esquece os problemas e preocupações de sua

vida, mas ao mesmo tempo mantém o interesse pelo destino das personagens,

modificando seu modo de ver as coisas ao confrontar com situações nunca

vistas.

Segundo Bordini & Aguiar, a teoria da Estética da Recepção desenvolve

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seus estudos em torno da reflexão sobre as relações entre narrador-texto-

leitor.(BORDINI e AGUIAR, 1993)

Método Recepcional

BORDINI e AGUIAR, utilizando-se dos pressupostos teóricos da

Estética da Recepção, elaboraram o método de ensino de leitura de obras

literárias – o Método Recepcional – que se tem revelado eficaz na formação do

leitor.

Nesse método, os alunos partem de leituras de obras próximas de seus

horizontes de expectativas para, gradativamente, ampliarem esses horizontes

de expectativas por meio de diferentes tipos de textos literários com níveis

estéticos diferenciados.

Partindo das preferências do leitor, o trabalho deve orientar-se, de

maneira dinâmica, do próximo para o distante no tempo e no espaço. Isto

significa optar, primeiramente, por textos conhecidos de autores atuais,

familiares pela temática apresentada, pelos personagens delineados, pelos

problemas levantados pelas soluções propostas, pela forma como se

estruturam, pela linguagem de que se valem. A seguir, gradativamente, vão-se

propondo novas obras, menos conhecidas, de autores contemporâneos e/ou

do passado, que introduzam inovações em alguns dos aspectos citados. Estes

procedimentos, inusitados para o leitor, rompem sua acomodação e exigem

uma postura de aceitação ou descrédito, fundada na reflexão crítica, o que

promove a expansão de suas vivências culturais e existenciais. (Bordini &

Aguiar, 1993, p.25)

A literatura completa-se no ato de ler e não se esgota no texto,

demandando a participação ativa e criativa do leitor, não reprimindo assim a

autonomia do texto literário.

Segundo Naumann, (NAUMANN apud COSTA LIMA), destrói-se o

horizonte de expectativas e oportuniza-se a leitura da literatura mais nova na

busca de um leitor ideal. Mas a releitura é muito importante.

Leitura e Leitor

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Ler é uma percepção, uma memorização de signos e depois que o leitor

percebe essa decodificação começa a compreender o texto, mas pode ser

mínima essa percepção, uma ação em curso. O texto coloca em jogo um saber

mínimo que o leitor deve possuir se quiser prosseguir a leitura.

Qualquer interação social, de modo geral, não pode prever nem

descrever exatamente a experiência recebida por seus atuantes. De igual

forma, na literatura é impossível saber qual e como cada leitor produz sentido a

partir do texto. Para Heschel, “Ser humano é ser uma surpresa, não uma

conclusão antecipada” (apud LEONE, 2002, p. 19). Essa afirmação justifica, sob o

ponto de vista humanista e filosófico, as inúmeras possibilidades de

interpretação de um texto devido às inúmeras maneiras e capacidades do ser

humano de produzir e relacionar novos elementos de forma significativa. O

ponto comum entre os leitores, enquanto seres humanos em exercício, é a

própria existência, a realidade da vida e do mundo que os cerca.

Este, porém, é apreendido de formas diferentes e não poderia ser

representado de outra forma na escrita literária se não pela própria linguagem

(signos convencionais e arbitrários). Em todo momento, a leitura exige a

interpretação por parte do leitor a fim de suprir ou preencher os espaços vazios

contidos no texto.

A leitura em sala de aula é ainda muito precária, historicamente esta

prática na escola tem sido usada basicamente como pretexto para atividades

mecânicas, não apenas em Língua Portuguesa, mas também em outras

disciplinas, desconsiderando as relações dialógicas que acontecem entre o

texto e o leitor, alguns teóricos como Backhtin formularam conceitos a respeito

da utilização da língua, como o dialogismo, que provocaram um

redimensionamento da concepção de leitura e dos elementos que ela envolve

(texto, leitor,autor). O charme da leitura provém de grande parte das emoções

que ela suscita.

Cabe ressaltar que a teoria recepcional não anula a importância da

criação literária, ou seja, o papel do autor, pois este está subentendido, centra-

se, apenas, no resultado final, o texto. As escolhas, estratégias de construção

textual e o uso que o autor faz da linguagem revelam-se no próprio texto, bem

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como os aspectos culturais, políticos, ideológicos, discursos e intertextos,

peças fundamentais para dinamicidade e estímulo ao leitor para o trabalho

interpretativo.

Os elementos presentes no texto, como um itinerário a ser seguido,

poderá romper com as expectativas do leitor, fazendo-o (re)construir, substituir

ou anular suas representações projetivas habituais. Segundo Costa Lima

(1979, p. 24), “diante do texto ficcional, o leitor é forçosamente convidado a se

comportar como um estrangeiro, que a todo instante se pergunta se a formação

de sentido que está fazendo é adequada à leitura que está cumprindo”. Os

vazios fazem parte da estrutura do texto, assim como as suas negações –

como afirma Iser, e servem para orientar ou comandar a ação projetiva do

leitor.

Consideremos o sentido da noção de leitura adotado pelas Diretrizes

Curriculares Estaduais (2006, p.25) fundamentado em estudos backhtinianos:

“Nestas Diretrizes,entende-se a leitura como um processo de produção de

sentido que se dá a partir de interações sociais ou relações dialógicas que

acontecem entre o texto e o leitor”. Nessa perspectiva, portanto, a leitura se

realiza a partir do diálogo do leitor com o objeto lido. Ler pressupõe interagir

com diferentes tipos de textos produzidos nas mais variadas práticas sociais,

percebendo que atrás de cada texto há um sujeito, há uma intenção, e

pressupõe também uma compreensão responsiva, que implica uma reação do

leitor ao texto.

Para LAJOLO ( 1991,p.59 ) ler é (...) partir de um texto, ser capaz de atribuir-lhe significação,

conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos

para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor

pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura,

ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista .

A leitura, concebida como um ato que vai além da decodificação

mecânica de sinais gráficos, passa pela questão da atitude responsiva, que por

sua vez envolve a compreensão, a interpretação e a leitura crítica, o que vai

conferir ao leitor um papel dinâmico, que o força a sair de sua passividade. O

leitor é visto como co-produtor de sentidos, vai atuar na construção de um

significado de um texto, dentre os vários que lhe podem ser atribuídos, a partir

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de sua experiência de vida e das suas relações interpessoais. O texto, por sua

vez, deve provocar mudanças na visão de mundo do leitor, alargando seus

horizontes. Como analisa SILVA (2005), a boa leitura é aquela que provoca

alguma transformação no leitor, gerando conhecimentos, propondo atitudes e

analisando valores, aguçando os modos de perceber e sentir a vida por parte

do leitor.

Bordini e Aguiar (1993) definem a leitura do texto literário da seguinte

maneira:

(...) a atividade do leitor de literatura se exprime pela

reconstrução, a partir da linguagem, de todo o universo

simbólico que as palavras encerram e pela concretização

desse universo com base nas vivências pessoais do sujeito.

A literatura, desse modo, se torna uma reserva de vida

paralela, onde o leitor encontra o que não pode ou não sabe

experimentar na realidade. (BORDINI; AGUIAR, 1993, p. 15)

Leitura de Poema Pode-se dizer que há, basicamente duas situações de leitura: uma que

se utiliza de textos não literários e outra que se utiliza de textos literários. A

leitura daqueles valem para uma situação definida, com objetivo prático,

utilitário. A leitura desses propõe outra forma de relação: são as situações ditas

de “fruição”, que ocorrem quando se lê sem cobranças, sem prazos, sem

imposições, seja quando se lê para imergir no imaginário,interagir com o outro,

imergir no estético, construir a si próprio. Inscrevem-se nesse parâmetro a

leitura de romances, ficção científica e particularmente os poemas, cuja riqueza

polissêmica possibilita múltiplas leituras.

No plano da teoria da interação, a utilização de um vocabulário novo e

desconhecido para a maioria dos leitores pode provocar “tanto uma

reorganização das estratégias de comportamento, quanto uma modificação dos

‘planos de conduta’” (ISER, 1979, p. 85). Em outras palavras, a novidade

lingüística pode desencadear reações (efeitos) ao leitor que culminam na

entrada deste no jogo da ficção ou na desistência da leitura. O aspecto

lingüístico, no entanto, pode não ser um dos aspectos de maior relevância para

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determinada comunidade interpretativa, a saber, os leitores que se utilizam da

mesma linguagem descrita no texto, porém, tal combinação meio a ficção

torna-se singular experiência.

Nota-se, ainda, que toda linguagem empregada, por se tratar de um

texto ficcional, é pseudo-referencial, ou seja, o texto não se utiliza de um

referente externo, não concebe a realidade como tal, mas a realidade outra que

se forma e existe a partir de sua internalização no próprio texto.

Segundo Costa Lima (1979,p. 34), o texto pseudo-referencial “permite ao

leitor uma manipulação nova seja dos conceitos, seja das experiências,

ocultando-lhe assim oportunidades de experiência não previstas nem pela

ciência, nem pela pragmática”. A abertura do sentido por meio das

combinações textuais proporciona ao leitor maior consciência estética, de

mundo, de referenciais, conceitos e valores. É o que a estética da recepção

chama de rompimento do horizonte de expectativa. Deste modo, no caso dos

textos (poesias) de Augusto dos anjos , a descrição do mundo não corresponde

apenas a um espaço geográfico, mas, evidentemente, a lugares-comuns

(arquétipos), ou seja, imagens presentes no inconsciente coletivo.

É importante observar que ainda que um texto como o poema possa

admitir várias leituras, não aceita “qualquer” leitura. Para FIORIN (2007,p.109 )

“A recorrência de traços semânticos é que estabelece que leituras devem ou

podem ser feitas de um texto. Uma leitura não tem origem na intenção do leitor

de interpretar o texto de uma dada maneira, mas está inscrita no texto como

virtualidade, como possibilidade.” O autor ainda ressalta que as leituras devem

estar de acordo com os traços de significado reiterados, repetidos,recorrentes

ao longo do texto, sendo inaceitáveis as leituras que não estiverem de acordo

com o texto.

Pode-se dizer que tudo o que é dito da leitura de poesia para o ensino

fundamental em geral, evidentemente, vale para a leitura de poesia para o

Ensino Médio, e uma vez que a poesia vai se perdendo até mesmo nos

caminhos da própria escola é preciso um sempre continuar, quando não um

recomeçar . Algumas diferenças, logicamente, fazem-se necessárias uma vez

que no Ensino Médio, espera-se que o aluno já tenha mais amadurecidas, suas

condições sensoriais, emocionais e racionais , tornando-se um interessante

desafio a proposta de uma leitura mais sistematizada, em que se pode propor a

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exploração de recursos formais, das figuras de linguagem, de efeitos

estéticos,das relações estabelecidas entre os níveis estruturais, que concorrem

para a construção do(s) sentido(s) do poema, bem como da relação do texto

com o contexto em que foi produzido. Enfim, uma leitura de dentro do texto,

suas linhas e entrelinhas, seus aspectos em aberto, relacionando-o com outros,

escavando significados nele e em si mesmo. A obra literária não pode ser

reduzida a uma única interpretação, mas, entretanto, não se pode interpretar

como se quer, existem critérios de validação, senão os textos correm o risco de

se tornarem sinônimos.

LAJOLO (1997, p.50) assinala que a fruição de um texto pelo leitor não

depende do reconhecimento ou da nomeação dos processos formais que o

constituem — o que seria competência ao menos do professor de literatura de

ensino médio — e sugere que as atividades de leitura de textos literários

propostas ao aluno têm de ser centradas no significado mais amplo do texto,

importando mais o” modo como o texto diz o que diz”, e não “o que o texto diz”.

O como diz respeito à manipulação lúdica das palavras pelo poeta, a seleção

vocabular, enfim, aos recursos expressivos que conferem o efeito estético a um

texto.

A leitura de um poema é uma experiência mais complexa do que a de

textos comuns, não-literários. Nestes, há uma preocupação do autor em

selecionar e combinar as palavras pela sua significação, conferindo-lhes

clareza através da obediência às normas da língua.

Segundo PAIXÃO (1984, p.13 ) o que mais distingue a linguagem de uso

prático da linguagem poética é “ a maneira como as palavras se organizam e a

energia que elas carregam”, sendo uma característica marcante da poesia a

possibilidade de recriar o significado das palavras colocando-as num contexto

diferente do normal: essa capacidade de revelar nova substância dentro de

palavras já gastas e surradas é que constitui a maior riqueza da poesia.

É a plurissignificação que possibilita a inesgotabilidade de um texto. É o

que faz de um texto escrito há séculos ser lido e apreciado em diferentes

épocas ou circunstâncias de uma existência, é o que eterniza a obra através de

suas atualizações. Além do caráter polissêmico, outras características próprias

e recursos expressivos entram no jogo constituindo o efeito poético.

11

Produção do material didático

A escolha de um material é difícil, pois, deve-se organizar em torno das

necessidades dos alunos, ao mesmo tempo deve contemplar a matéria, os

interesses e necessidades também do professor.

Primeiramente surgem muitas dúvidas:

Como trabalhar literatura? Como conquistar à atenção dos alunos? Ler?

O que é isto? Leitura, como podemos entender os conceitos? Todos leem e

compreendem da mesma forma um texto?

Então, com tantas dúvidas, a autora foi levada a ler, fazer-se

compreender, leituras sobre a Estética da Recepção, que aos poucos foi

sanando as dúvidas iniciais, não que muitas dúvidas ainda não persistam,mas

através da fundamentação teórica orientada pela professora Maria Cristina,

aconteceram grandes mudanças, por exemplo o entendimento de leitura

inocente e leitura crítica, pois segundo Jauss, o anseio de não romper com o

objetivismo da história literária, propõe levar em conta a primeira leitura da

obra. A única maneira de integrar o estudo da recepção à história literária, com

efeito, é destacar a leitura dominante na época em que o texto foi escrito:

“A análise da experiência literária do leitor escapará do psicologismo que a

ameaça. Se, para recepção da obra e o efeito produzido por essa, ele

reconstruir o horizonte de expectativa de seu primeiro público” ( JOUVE apud

JAUSS,2002, p.27). Outro fator é a releitura , importantíssima, necessária para

contemplar melhor uma obra.

Ao planejar o projeto de intervenção na escola, observou-se que os

alunos do ensino médio não liam textos literários e por isto não os

compreendiam. Visando amenizar esse problema, resolvemos elencar alguns

objetivos, para trabalhar com os primeiros anos ( 1°A,1°B,1°C, 1°D) um total de

110 alunos, do Ensino Médio do período da manhã do Colégio Estadual

Protásio de Carvalho, localizado no CIC

• Conduzir os alunos a reconhecerem a diferença entre linguagem

referencial e linguagem figurada;

• Levar os alunos a compreenderem os elementos internos que

compõem o texto literário;

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• Objetivar os alunos a buscarem entender o contexto interno e

externo à obra literária para compreendê-la;

• Formar leitores atentos e capazes de estabelecer diálogos entre

textos.

Percebe-se que, para trabalhar com o texto literário, é necessário

demonstrar para o aluno a importância da Literatura que está no fato, dela nos

levar a compreender a construção da nossa cultura, de entender as épocas

passadas, de viajar pelos outros tempos, e, assim, compreender o momento

presente, pois a Literatura é uma outra forma de expressão que deve ser

conhecida e vivenciada pelo sujeito.

Wolfgang Iser, no artigo “A Interação do Texto com o Leitor” (1979), fala

que todo texto é plurissignificativo, múltiplo, repleto de diferentes culturas e o

seu sentido é determinado pelo leitor através do preenchimento dos vazios

presentes no texto.

Trabalhamos com Augusto dos Anjos, especificamente, Eu e Outras

Poesias e com a prosa de Ana Miranda que fala sobre a vida de Augusto

(1884- 1914), o poeta que surpreendeu nosso mundo literário ao misturar a

objetividade do cientificismo com os mais profundos sentimentos do ser

humano. Além de que traça também um quadro impecável dos costumes e

principais acontecimentos da época: os descaminhos da República, as disputas

políticas, a Revolta da Chibata, a modernização do Rio de Janeiro, o duelo

entre Bilac e Raul Pompéia, e outros acontecimentos.

Começamos com a leitura das duas obras, onde foi concedido um prazo

de 30 dias, e durante este tempo fomos trabalhando pequenos textos, poesias,

tentando compreender as figuras de linguagem e a importância destas em uma

interpretação e leitura que nos deixa livre ou prisioneiros dela.

Em sequência os alunos fizeram uma pesquisa sobre o expressionismo

e começamos fazer comparações dos poemas de Augusto dos Anjos com

quadros famosos, como o de Müch, O Grito, os alunos gostaram de fazer a

comparação, onde observaram o pavor o medo, pânico e perguntaram se não

poderiam comparar com desenhos ou grafites da atualidade, neste momento a

professora já sentiu a inferência que os alunos começaram a fazer, ainda numa

leitura linear (inocente). Então resolvemos fazer uma pesquisa de campo,

13

procurando pelo bairro desenhos, grafites que poderiam participar dos

trabalhos em equipe, associados com um ou mais poemas de Augusto dos

Anjos e assim foi feito. Os alunos escolheram um poema e associaram com

figuras, fotos, grafites e realidade.

Um trabalho bastante interessante, foi a imagem mostrando felicidade,

dinheiro, passeio e logo abaixo a oposição, um indigente, pedindo esmola,

comida ( o mendigo estava sentado logo abaixo da pintura, o real contrapondo

à ficção) .

Este trabalho foi comparado a Versos Íntimos.

VERSOS ÍNTIMOS

Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua última quimera.

Somente a Ingratidão – esta pantera -

Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem, que, nesta terra miserável,

Mora, entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!

Enquanto milhares de pessoas passam fome, poucas usufruem de uma

bela casa, automóvel, dinheiro e nem mesmo possuem as mínimas condições

para sobreviver com dignidade e isto frustra nossos sonhos, nossas lutas, e

14

fazendo a comparação eles indagaram à professora, sobre a violência. Se o

Homem não mudar suas atitudes, onde iremos parar? Combater a violência

com violência; feras comendo feras? Isto terá solução? Sai século entra século

os problemas continuam os mesmos, sempre predominando a corrupção, o

desamor, e eles perguntaram o que fazer para transformar o mundo que passa

ao redor deles?

A professora realmente não tem a resposta, mas sugeriu que

assistissem ao filme “Click” e depois de assistirem ao filme, fizeram algumas

observações em relação ao “tempo”, sociologicamente pensando no tempo

como vida, porque se você tenta antecipar alguns momentos de sua existência,

você deixa de vivê-los, e foi proposto um júri simulado, dividindo a turma em

duas partes onde uns defenderiam correr com o tempo para conseguir, dinheiro

poder, com maior rapidez e a outra parte ficaria com a opção de “viver a vida”,

sem grandes preocupações, mas aproveitar o presente e não apenas planejar

o futuro, deixando de sentir os pequenos momentos significativos da vida.

Foi muito interessante e proveitosa esta tarefa, paramos para refletir a

importância de um ato simples, de cumprimentar uma pessoa, passear em um

parque com sua família, sentir o aroma de uma flor, dar um beijo em seus pais,

ganhar um beijo, um abraço. Pequenos atos que proporcionam momentos de

felicidade e por falta de tempo e sensibilidade deixamos passar, passar(...) e

quando percebemos, foi,a vida que passou. No filme o protagonista tem a

chance de recuperar o tempo perdido, ele pode fazer uma escolha, e nós se

não pararmos para pensar teremos esta chance? Uma pergunta que fica em

aberto para que possamos refletir e encontrar nossas respostas.

Epitáfio

Titãs

Composição: Sérgio Britto

Devia ter amado mais

Ter chorado mais

Ter visto o sol nascer

Devia ter arriscado mais

15

E até errado mais

Ter feito o que eu queria fazer...

Queria ter aceitado

As pessoas como elas são( ...)

Tanto no GTR3 quanto, também, algumas(uns) alunas (os) lembraram

da música Epitáfio dos Titãs, a autora já havia sugerido, no material didático,

mas a sugestão destas (es) foi muito importante,porque fizeram uma leitura

crítica, houve um amadurecimento, (um clic ). A questão: fazer hoje para não

deixar para o amanhã,deixar apenas como música,e não como comparação da

própria vida. “EU DEVIA TER AMADO MAIS...”

Resolvemos fazer uma encenação com o poema – VERSOS ÍNTIMOS –

com os alunos do 1º D, onde passava no velório de Augusto dos Anjos, onde

alguns discentes faziam parte de um coro, repetindo sempre a palavra Vês, lembrando que este coro surgiu da leitura de Édipo Rei, onde o coro

atormentava os pensamentos de Édipo para descobrir quem provocou a

desgraça no reinado deste. Começa a encenação o coro contornando o

defunto, em seguida os presentes no velório começam a recitar, como se fosse

um aviso ou uma cobrança para o morto e, concomitantemente, vai-se

projetando imagens, família, pôr-do-sol, mar, sorrisos, alegria, uma imagem do

filme Click,e finaliza com a música Epitáfio. Novamente deixa o leitor definir o

caminho de seus pensamentos de sua leitura. O final feliz ou não fica por conta

do leitor observador.

Literatura amplia o campo lexical do leitor, sua visão de mundo, sua

análise crítica e determina um novo olhar sobre os inúmeros acontecimentos

da atualidade, as instituições sociais, as diversas ideologias, permitindo-lhe

pensar um projeto de vida, estabelecer interlocução com sua comunidade,

consigo mesmo, sua família, amigos e, através do diálogo criado pelo próprio

3 Grupos de Trabalho em Rede ( GTR ) constituem-se em atividade do Os Programa de

Desenvolvimento Educacional ( PDE) e caracterizam-se pela intervenção virtual entre o

Professor PDE e demais professores de rede pública estadual. Este formato de interação,

busca efetivar o processo de formação continuada de professores, promovido pela SEED/PDE,

tendo como tutor o professor PDE conforme sua disciplina ou área de seleção no Programa.

16

texto que leva a possíveis constituições de sentido no interior da obra literária a

qual se faz ponte entre seu momento histórico e cultural. Neste contexto:

A estética da recepção pretende valorizar um elemento

pouco considerado pela texto.Assim, sem eleger uma espécie

de leitor ideal, os adeptos dessa corrente visam analisar

as múltiplas interpretações, as diversas constituições de

sentido suscitadas pelos textos, o que direciona o interesse

dessas pesquisas para questões de natureza histórica e

sociológica . (SOUZA, 1991, p. 60).

Como analisa SILVA,(2005),a boa leitura é aquela que

provoca alguma transformação no leitor, gerando conhecimentos, propondo

atitudes e analisando valores, aguçando os modos de perceber e sentir a vida

por parte do leitor.

CONTRASTES

A antítese do novo e do obsoleto,

O Amor e a Paz, o ódio e a Carnificina,

O que o homem ama e o que o homem abomina,

Tudo convém para o homem ser completo!

O ângulo obtuso, pois, e o ângulo reto,

Uma feição humana e outra divina

São como a eximenina e a endimenina

Que servem ambas para o mesmo feto!

........................................................................

Outro momento do trabalho foi o uso de dicionário para decifrar algumas

palavras cientificistas de Augusto dos Anjos e continuamos trabalhando o

sentido conotativo e denotativo das palavras, para chegar a compreensão

texto. E com o poema Contrastes, observamos a antítese, onde temos uma

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pergunta – o que o homem abomina (?) As respostas (?) Amor; Paz; Ódio;

Carnificina ( é antítese de ódio ou não?) . Analisar os poemas de Augusto dos

Anjos é maravilhoso, ele consegue usar as palavras mais estranhas para

designar o cotidiano, coisas comuns de uma maneira incomum, ao exemplo de

eximenina e endimenina que são membranas externa e interna de um grão

de pólen. Por vezes passamos os olhos por palavras e não nos identificamos e

em outros momentos, olhamos para as mesmas palavras e só falta nos

derramarmos em lágrimas, dor, alegria e, neste momento, ocorre a

identificação com o texto, com a leitura, talvez a transformação do leitor com a

morte do autor.( simbolicamente)

Outra atividade muito significativa foi a leitura dos poemas de Augusto e

a tentativa de transformar os poemas em HQ, utilizando um site em inglês

www.toondoo.com, pelo qual os alunas (os) “brincaram” com a transformação

de versos em prosa (em português). Uma equipe até transformou Augusto dos

Anjos em personagem de seus próprios poemas, como um ser angustiado pela

mudança da humanidade, que tem seus ideais, mas não luta pelo social, porém

sim pelo indivíduo acostumado a ser o centro das atenções,o umbigo do

mundo e não consegue fugir desta alienação.

Segundo BOCCEGA (2007,p.43), o homem modifica o mundo exterior e,

ao modificá-lo, modifica-se. Por isso, colocamos anteriormente que palavra não

é dado, é um dando-se, vez que ela participa desse processo de

transformações, que traz embutida a idéia de que o presente contém o futuro.

Mesmo com vários trabalhos, os estudantes sentiam-se envergonhados

na hora de falar em sala, sobre a matéria, no caso literatura e poesia,

começamos a recitar por versos, cada um lendo um verso e assim continuava a

fila e se alguém errasse começava-se tudo novamente, depois para ficar mais

interessante dividimos em dois grupos, e quem prestasse mais atenção e não

errasse ganharia o jogo em questão e poderia escolher o poema para recitar.

Depois foi sugerido por alguns alunos que ao invés de recitar poderíamos

transformar em rap. Foi feita esta tentativa, alguns conseguiram transformar

outros já não tiveram tanta habilidade, mas trabalharam oralidade.

Em outro momento assistimos o filme MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE

BRÁS CUBAS, onde a autora pediu que prestassem atenção, nos

personagens, suas ambições,imoralidades, passar por cima de normas a fim

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de conseguir o benefício próprio, e quando finaliza o defunto Brás fala sobre o

VERME e depois nós fizemos comparação com o vocábulo que Augusto dos

Anjos também usa em seus textos.

Algumas contribuições dos professores GTR, sobre a implementação na escola.

“O GTR nos propiciou novas oportunidades de aprendizagem e a interação com diversos colegas. Sobretudo a partilha sobre novas propostas de aulas no ensino médio. Parabenizo a profª Marcia que se colocou sempre disponível e companheira durante a nossa jornada no GTR. Logo, o curso do GTR nos proporciona um aperfeiçoamento prático e necessário em nossa área da educação”.(professora GTR1) "A leitura de textos literários no ensino médio é interessante, pois os alunos realmente têm que se interar dos mesmos. Está dentro do roteiro do projeto. Foi uma justificativa boa pois, realmente e o que acontece no dia a dia. Os fundamentos teóricos estão bons,estando dentro do projeto ,sendo interessante suas colocações." (professora GTR2) “O tema escolhido para a implementação de um projeto voltado para a leitura de textos literários é pertinente, pois poderá nos auxiliar nos conteúdos diários ,visto que encontramos sérias dificuldades em trabalhar este gênero literário,pois os alunos consideram os textos enfadonhos,extensos e com um vocabulário erudito.A proposta apresentada pela tutora traz uma nova perspectiva de estratégia metodológica porque instiga a intertextualidade entre textos célebres da literatura brasileira.Esse trabalho oportunizará os alunos do Ensino Médio a uma nova forma de interação com a literatura. (professora GTR3 ) “Por trabalharmos na mesma escola (Protásio de Carvalho) achei-o bem viável ao convívio que temos com os alunos, sendo a maioria de classe remediada, sem muito contato com os livros. E ainda mais que cada escola é diferente, cabendo ao professor adequar o tipo de leitura com o gosto literário de cada aluno”.(professora GTR4) “Concordo contigo, devemos apresentar ao nosso aluno uma Literatura que levar o nosso aluno a expressar pessoalmente o que sentiu e vivenciá-la em sua realidade social. Entretanto, em algumas escolas ainda presenciamos um ensino-aprendizagem tradicional , bitolando o aluno a decorebas para as provas , ou seja, transformá-lo em um número de zero a dez e classificá-lo como aprovado ou retido.Logo, esse aluno terá aversão a Literatura.”( professor GTR5)

Concluiu-se que o GTR é muito importante tanto para o tutor quanto

para os professores participantes, porque ambas as partes têm a oportunidade

de trocar informações, experiências que já foram aplicadas em sala e informar

seus resultados, tanto os positivos como os negativos.

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Confraternização com as(os) alunas(os) do Colégio Protásio de Carvalho

Após o término da aplicação da Unidade Didática com as(os) alunas(os),

resolvemos chamar os pais, o diretor, secretária, bibliotecária, enfim a

comunidade escolar para entrega de certificados de participação e mostrar

alguns trabalhos realizados, explicamos o que era o projeto realizado pelas

professoras PDE 2008 de Língua Portuguesa e Língua Inglesa o que fizeram

durante a implementação, qual a recepção das(os) discentes e como foi a

participação de todas(os) e foi intenso, maravilhoso, porque as mães

principalmente ficaram impressionadas com a desenvoltura de seus filhos e

comentamos que com o interesse e participação conseguiremos uma escola

pública melhor .

Conclusão Esta experiência com os estudantes do Ensino Médio demonstrou, que

há possibilidades e meios para levar o aluno a ler textos Literários, reconhecer

a diferença entre uma linguagem referencial e linguagem figurada;

compreender os elementos internos e externos do texto, nos quais as diversas

camadas de interpretação contribuem para a formação do leitor no sentido de

propiciar o crescimento dos seus horizontes de expectativas e houve o

rompimento, o questionamento e a ampliação do horizonte de expectativas da

(o) leitora(or)/aluna(o), que através de leituras desafiadoras, do tempo e da

experiência, que passou de leitura ingênua (linear) para a leitura crítica e isto

aconteceu, quando começaram fazer as inferências, tanto nos trabalhos,

quanto na participação da encenação do poema, não foi a grande maioria, mas

uma boa percentagem das(os) alunas(os)que participaram do trabalho.

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