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CURSO ON-LINE – LEGISLAÇÃO ESPECIAL P/ ANALISTAS – TJDFT PROFESSOR: MARCOS GIRÃO www.pontodosconcursos.com.br 1 AULA – 05 Olá caro aluno e mais do que nunca FUTURO ANALISTA DO TJDFT !! Essa será uma aula bastante objetiva, tranquila e fácil de ser estudada. Trata-se do estudo da Lei n. 7.716/89, a famosa Lei de Discriminação e Preconceito. É uma norma pequena, de simples compreensão e de entendimentos doutrinários bastante interessantes. Pena que é uma lei pouco cobrada em provas de concursos e, confesso, tive que tirar leite de pedra para achar questões a respeito. Em quase todas as bancas não questões sobre o assunto e as existentes do CESPE não são em grande número. Nosso intuito aqui será clarificar alguns pontos e direcioná-lo objetivamente para resolver e acertar questões de sua prova sobre esses temas. Vamos direto ao assunto, pois estamos entrando na reta final de nosso curso e agora, mais do que nunca, é hora de encher-se de fôlego rumo a mais um passo nesse caminho para a sua vitória!! Em frente!!

Aula 05

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Legislação Especial para Analistas do TJDFT

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AULA – 05

Olá caro aluno e mais do que nunca FUTURO ANALISTA DO TJDFT !!

Essa será uma aula bastante objetiva, tranquila e fácil de ser estudada. Trata-se do estudo da Lei n. 7.716/89, a famosa Lei de Discriminação e Preconceito.

É uma norma pequena, de simples compreensão e de entendimentos doutrinários bastante interessantes. Pena que é uma lei pouco cobrada em provas de concursos e, confesso, tive que tirar leite de pedra para achar questões a respeito. Em quase todas as bancas não questões sobre o assunto e as existentes do CESPE não são em grande número.

Nosso intuito aqui será clarificar alguns pontos e direcioná-lo objetivamente para resolver e acertar questões de sua prova sobre esses temas.

Vamos direto ao assunto, pois estamos entrando na reta final de nosso curso e agora, mais do que nunca, é hora de encher-se de fôlego rumo a mais um passo nesse caminho para a sua vitória!!

Em frente!!

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LEI N. 7.716/89 – CRIMES CONTRA O PRECONCEITO

1. CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

Para o direito penal brasileiro, os crimes resultantes da prática da discriminação e do preconceito por raça, etnia, cor, religião ou procedência nacional estão previstos na Lei n. 7.716/89, alterada pela lei 9.459/97. As referidas normas foram promulgadas em consonância com o art. 5º, inciso XLII, da Constituição Federal de 1988, que assim estabeleceu:

CF/88

Art. 5º. (...)

XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito a penas de reclusão na forma da lei.

Mas aí você me pergunta: professor, como devo entender, à luz do direito, o significado das palavras: racismo, raça, etnia, cor, religião, discriminação e preconceito?

De fato, para entendermos melhor o regramento trazido pela Lei 7.716/89, é preciso adentrarmos um pouco nos conceitos doutrinários dos termos acima citados.

Vamos lá:

� Preconceito

Conforme o dicionário Aurélio, o termo preconceito possui os seguintes significados:

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� conceito ou opinião formados antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimentos dos fatos (ideia preconcebida);

� julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que os conteste - prejuízo;

� superstição, crendice e;

� por extensão: suspeita, intolerância, ódio irracional ou aversão a outras raças, credos, religiões etc.

Os doutrinadores Fabio Medina Osório e Jairo Gilberto Schafer conceituam dentro do direito positivo que:

“o preconceito representa uma ideia estática, abstrata, pré-concebida, traduzindo opinião carregada de intolerância, alicerçada em pontos vedados na legislação repressiva”.

IMPORTANTE

� Só será possível a punição do agente se houver a exteriorização do preconceito, sendo a mera elaboração intelectiva (motivação interna) um indiferente penal.

� Discriminação

A discriminação é diferente de preconceito e racismo, pois é uma palavra derivada de discriminar, que significa diferenciar, discernir.

Ser discriminado, portanto, não quer dizer algo negativo, pois alguém pode ser diferenciado em um grupo por suas características positivas. Por isso, tem-se adotado a expressão discriminação positiva para explicar as medidas especiais e temporárias, tomadas ou determinadas pelo Estado, com o objetivo de eliminar as desigualdades historicamente acumuladas, garantindo a igualdade de oportunidades e tratamento.

A Convenção internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial, que foi ratificada pelo Brasil em 27 de março de 1968, previu em seu art. I, item 4 (quatro), que :

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“não serão consideradas discriminação racial as medidas especiais tomadas com o único objetivo de assegurar o progresso adequado de certos grupos raciais ou étnicos ou de indivíduos que necessitem de proteção que possa ser necessária para proporcionar a tais grupos ou indivíduos igual gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades fundamentais, contanto que tais medidas não conduzam, em consequência, à manutenção de direitos separados para diferentes grupos raciais e não prossigam após terem sido alcançados seus objetivos”. (LEX federal, v.33, p. 2545-2557, nov./dez.1969.)

IMPORTANTE

� Segundo a Lei n. 7716/89, o elemento discriminação deve ser interpretado como espécie de segregação negativa, dolosa, comissiva ou omissiva, adotada contra alguém por pertencer, real ou supostamente, a uma raça, cor, etnia, religião, contrariando o principio constitucional da isonomia.

� Racismo

Podemos entender o racismo como a doutrina que:

� sustenta a superioridade de certas raças;

� tese que admite o predomínio de certas raças humanas;

� teoria que tende a preservar a unidade de raça numa nação.

Alguns doutrinadores definem o racismo como muito mais que apenas discriminação ou preconceito racial. É uma doutrina que afirma haver relação entre características raciais e culturais e que algumas raças são, por natureza, superiores a outras. O racismo deforma o sentido científico do conceito de raça, utilizando-o para caracterizar diferenças religiosas, linguísticas e culturais.

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No Brasil, a classificação das raças é a seguinte: Branca, Negra e Vermelha. Já as os frutos da miscigenação ente essas raças formam as seguintes: Mameluco (vermelha x branca); Mulato (branca x preta); e Cafuzo (vermelha x preta).

Outros critérios já foram utilizados para classificar a raça de um indivíduo. Um exemplo é que nos EUA, indivíduos já foram classificados como negros ou índios por terem um dezesseis avos de sangue índio ou sangue negro, ou seja, quando um de seus dezesseis ancestrais foi um negro ou índio, pouco importando se fosse um indivíduo com a cútis branca, e cabelos loiros lisos e olhos azuis.

Essas classificações não poderiam pretender delimitar a humanidade em categorias rigorosamente separadas e, em virtude da complexidade da historia humana, é difícil estabelecer o lugar de certos grupos, numa classificação racial, especialmente o de certas populações que ocupam uma posição intermediária.

Com relação à interpretação da expressão raça no direito penal, devem ser levadas em conta as classificações usualmente consagradas, na prática, basear seu entendimento de acordo com a expressão usada pelo agente delitivo, que externa não gostar de tal raça. Cabe ao operador do direito adequar as expressões.

� Cor

É um termo empregado para definição da pigmentação epidérmica dos seres humanos, sentindo que deve ser dado efeito de interpretação da Lei n. 7716/89. A expressão cor é até mesmo referida pela ONU, na redação de Convenções. Para o direito positivo e para o senso comum, cor deve ser entendida como tonalidade da pele, não havendo correspondência exata entre as cores, amplamente, e as cores da epiderme.

� Etnia

O Aurélio define a expressão como:

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“grupo biológico e culturalmente homogêneo, relativo ou pertencente a povo ou raça. A nacionalidade não se confunde com a etnia, mas pode ocorrer em países onde há homogeneidade cultural, linguística etc”.

� Imprescritibilidade

Como acabamos de ver, na Constituição Federal consta no rol de crimes imprescritíveis o racismo (art. 5º, inciso XLII). Imprescritível, como você já bem sabe, significa que o crime não prescreve, que o agente pode ser denunciado e consequentemente julgado até a sua morte.

Esta matéria ainda traz muita polêmica, já que a maioria dos juízes brasileiros não acredita na existência desta característica em nenhum caso penal. Muitos alegam ser esse dispositivo constitucional ser “inconstitucional”. Como é meio irracional considerar essa hipótese, o próprio STF já determinou que tal norma é aplicável, não cabendo prescrição do delito.

Nos últimos anos essa característica especial ganhou força no cenário internacional, principalmente nos países que adotam o sistema da common law, países na maioria colonizados pela Inglaterra, e também nos tratados internacionais, protegendo as vítimas de genocídio, racismo e outros crimes contra a prescrição dos delitos.

IMPORTANTE

� A imprescritibilidade só é válida para os crimes de discriminação de RAÇA, COR e ETNIA. Os injustos culpáveis referentes a origem nacional, religião e o de injúria qualificada continuam prescritíveis.

� Inafiançabilidade

Você e eu sabemos que ser inafiançável não significa dizer que o agente deve ficar preso durante o processo.

O acusado de crime preso em flagrante pode receber liberdade por três motivos principais relatados no Código de Processo Penal e no Código Penal, uma dessas possibilidades é o pagamento de fiança.

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IMPORTANTE

� O crime de preconceito é INAFIANÇÁVEL, isto é, o acusado não pode receber liberdade provisória através do pagamento de fiança, mas pode ser solto se cumprir providência cautelar determinada no art. 319 ou no art. 321 do Código de Processo Penal.

Não podemos esquecer que ainda há também a possibilidade de prisão domiciliar, comparecimento noturno a delegacia e outras possibilidades.

Pois bem, feita essa introdução, é hora de analisarmos à luz da doutrina (e quando cabível da jurisprudência) cada um dos crimes tipicicom bases

2. OS TIPOS PENAIS TRAZIDOS PELA LEI 7.716/89

Antes de começarmos, vamos rever o art. 1º da lei em estudo:

Art. 1º- Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação e de preconceito de RAÇA, COR, ETNIA, RELIGIÃO ou PROCEDÊNCIA NACIONAL.

Esse dispositivo, repito, estabelece que as condutas acima descritas são consideradas crimes de discriminação ou de preconceito. Portanto estão proibidas sob pena do infrator estar sujeito a um processo criminal que será movido pelo Ministério Público. O bem jurídico protegido pela lei é o direito ao tratamento igualitário.

Com base no que estudamos até aqui, já podemos resolver com tranquilidade a nossa primeira questão:

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01. [CESPE – AGENTE DE POLICIA – PC/RN – 2008] A Lei n.º 7.716/1989 não considera crime de racismo o ato preconceituoso contra homossexual praticado em razão da opção sexual da vítima.

Questão 01: Verdade!! Um dos grandes buracos nominais na lei de discriminação é o direito do homossexual. Nela, os homoafetivos não são citados. Vimos que segundo a Lei n. 7716/89, o elemento discriminação deve ser interpretado como espécie de segregação negativa, dolosa, comissiva ou omissiva, adotada contra alguém por pertencer, real ou supostamente, a uma raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Em toda a sua literalidade não há menção ao preconceito homossexual.

Gabarito: CERTO

Cara aluno, a fim de facilitar o seu entendimento e consequentemente uma melhor memorização, dividi os crimes em tópicos e os listei de forma diferente daquela prescrita na norma, ordenando-os em ordem crescente de duração das penas privativas de liberdade. Assim ficou bem melhor!!

Vamos lá!!

Preconceito em ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS

��� Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador:

Pena: reclusão de 01 a 03 anos.

Permitir o ingresso, mas não o atender, servir, ou receber, calcado em preconceito ou discriminação, também caracteriza o crime. Cometerá o crime o preposto, o dono ou o empregado do estabelecimento. O dispositivo visa proteger o tratamento igualitário nos estabelecimentos comerciais.

A doutrina o entende como um crime próprio e material.

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� O sujeito ATIVO do crime é o comerciante ou comerciário. Também comete o crime o delito o proprietário, sócio, gerente, etc, que determina a seus subordinados a atuação criminosa.

� O sujeito PASSIVO é o cliente ou comprador.

� É cabível o crime na modalidade tentada.

Por imprecisão do legislador, e estabelecimento comercial deve ser entendido em seu sentido vulgar, não técnico, ou seja, como loja, local onde se comercia.

Preconceito em RESTAURANTES, BARES e SIMILARES

��� Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes, abertos ao público.

Pena: reclusão de 01 a 03 anos.

Devemos entender por atendimento a mais ampla disponibilização dos serviços e bens colocados pelo estabelecimento ao alcance dos clientes ou fregueses, de modo que nada que seja servido ou colocado às ordens de um ou alguns possa ser recusado a outros, por discriminação ou preconceito.

O crime é material na modalidade de IMPEDIR O ACESSO, sendo exigido o resultado naturalístico para a consumação do delito. Quanto a RECUSAR ATENDIMENTO, contudo, trata-se de crime formal, de consumação antecipada.

O delito é consumado quando se impede o acesso ou recusa-se o atendimento a alguém nos locais previstos em lei.

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� Não é possível a tentativa na modalidade de RECUSAR O ATENDIMENTO, mas é cabível no caso de IMPEDIR O ACESSO ao inteiro do estabelecimento ou a alguma de suas dependências, como o banheiro, por exemplo.

� O sujeito ATIVO é qualquer pessoa que praticar o delito, quando o núcleo é o ato de impedir. Quando se recusa o atendimento, o sujeito ativo é o proprietário, sócio, gerente ou empregado do estabelecimento.

� O sujeito PASSIVO é qualquer pessoa que pretenda ingressar ou ser atendida em restaurantes, bares, confeitarias ou locais semelhantes abertos ao público.

Quanto ao núcleo IMPEDIR, qualquer pessoa pode praticar o delito, motivo pelo qual o crime é comum. No que tange ao núcleo RECUSAR O ATENDIMENTO, somente o comerciante ou o comerciário pode praticá-lo, motivo pelo qual é crime próprio.

Veja como foi cobrado:

02. [CESPE – AGENTE DE POLICIA – PC/RN – 2008] Não constitui crime de racismo a simples recusa de atendimento a uma pessoa, na mesa de um bar, em razão a cor de sua pele.

Questão 02: Muito fácil, não é mesmo? Recusar atendimento não só em bares, como também em restaurantes, confeitarias, ou locais semelhantes, abertos ao público é sim crime previsto no art. 8º da Lei n 7.716/89.

Gabarito: ERRADO

Preconceito em ESTABELECIMENTOS ESPORTIVOS OU DE LAZER

��� Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos esportivos, casas de diversões, ou clubes sociais abertos ao público:

Pena: reclusão de 01 a 03 anos.

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Para a caracterização do delito faz-se necessário que o acesso ao local não seja restrito a associados. Caracterizará crime a recusa de ingresso aos quadros associativos ou listas de acesso de qualquer pessoa por discriminação ou preconceito, já que admite dupla acepção: entrada nas dependências físicas ou admissão no quadro associativo.

Chamo a atenção para o sistema de restrição de acesso que algumas casas noturnas dos grandes centros urbanos do país têm imposto a frequentadores. Porteiros ou encarregados são previamente orientados a somente permitir a entrada de pessoas que atendam a critérios vagos e imprecisos, supostamente de beleza ou adequação ao vestuário. Quanto à adequação de vestuário, há a necessidade de exposição de critérios objetivos, devidamente expostos, que permitam aos interessados o cumprimento das regras.

� O sujeito ATIVO é qualquer pessoa que praticar o delito, quando o núcleo é o ato de impedir. Quando se recusa o atendimento, o sujeito ativo é o proprietário, sócio, gerente ou empregado do estabelecimento.

� O sujeito PASSIVO é qualquer pessoa que pretenda ingressar ou ser atendida em estabelecimentos esportivos, casas de diversões ou clubes sociais abertos ao público.

� Não é possível a tentativa na modalidade de RECUSAR O ATENDIMENTO, mas é cabível no caso de IMPEDIR O ACESSO ao inteiro do estabelecimento ou a alguma de suas dependências, por exemplo.

Da mesma forma que o crime explicado no tópico anterior, o crime é comum quanto ao núcleo IMPEDIR e próprio no que tange ao núcleo RECUSAR O ATENDIMENTO, pois nesse caso somente o comerciante ou o comerciário pode praticá-lo.

O crime é material na modalidade de IMPEDIR O ACESSO, sendo exigido o resultado naturalístico para a consumação do delito. Quanto a RECUSAR ATENDIMENTO, contudo, trata-se de crime formal, de consumação antecipada.

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Preconceito em SALÕES DE CABELEREIROS E SIMILARES

��� Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros, bares, termas ou casas de massagem ou estabelecimentos com as mesmas finalidades:

Pena: reclusão de 01 a 03 anos.

Nesse crime, aplicaremos a mesma lógica do crime explicado no tópico anterior: é crime comum e material quanto ao ato de IMPEDIR e próprio e formal quanto ao ato de RECUSAR ATENDIMENTO.

Consuma-se o delito quando se impede o acesso ou recusa-se o atendimento a alguém nos locais previstos em lei e não é possível a tentativa na modalidade de RECUSAR O ATENDIMENTO, sendo, contudo, cabível no caso de IMPEDIR O ACESSO ao interior do estabelecimento ou alguma de suas dependências, por exemplo.

Antes de prosseguirmos, duas informações importantíssimas:

IMPORTANTE

� Para todos os crimes citados até este tópico, constitui efeito da condenação a suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior 03 meses.

� A suspensão do funcionamento do estabelecimento particular não é automática, devendo ser MOTIVADAMENTE DECLARADA EM SENTENÇA.

Este dispositivo expande os efeitos das condenações chamadas tradicionais (multa, penas restritivas de liberdade e/ou direito), lembrando que na jurisprudência se entende que no caso de estabelecimento privado comercial é necessário ter sido cometido o crime de preconceito por parte dos proprietários ou por anuência dos mesmos. Se, por exemplo, tratar-se de um funcionário, não poderá o juiz determinar o cumprimento do disposto acima.

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Preconceito no acesso às ENTRADAS DE EDIFÍCIOS

��� Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou escada de acesso aos mesmos:

Pena: reclusão de 01 a 03 anos.

Consuma-se o crime ao se IMPEDIR QUALQUER PESSOA de ter acesso a esses locais, determinando-lhe uma entrada específica e causando-lhe constrangimento e vergonha. O dispositivo visa proteger o tratamento igualitário no acesso às entradas sociais em edifícios públicos e privados.

Trata-se, diga-se de passagem, de um delito praticado largamente em nosso país, embora as estatísticas revelem poucos casos registrados, revelando que a falta de conhecimento dos ofendidos e o desconhecimento, até, de que a conduta caracteriza crime.

� É CRIME COMUM, pois qualquer pessoa pode praticá-lo, tanto funcionário ou empregado do edifício como o usuário de elevador ou transeunte.

� O delito também é classificado como CRIME MATERIAL.

Cabe ainda ressaltar que a infração penal é consumada quando se dá o impedimento ao acesso, admitindo-se a tentativa.

Preconceito no acesso aos TRANSPORTES PÚBLICOS

��� Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios, barcos, ônibus, trens, metrô, ou qualquer outro meio de transporte concedido:

Pena: reclusão de 01 a 03 anos.

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Quando se fala em impedir O ACESSO, significa atrapalhar a entrada no trem, metro, etc. Quando se prevê impedir O USO, diz respeito a edificultar o inicio ou o prosseguimento da viajem de quem já teve acesso ao meio de transporte.

É bom que se diga que, em relação aos transportes públicos, o termo destacado “como” indica que o rol previsto no artigo é exemplificativo, de tal sorte que o transporte pertença ao poder público. Assim, incide também o tipo penal em restrições ao acesso ou uso de helicóptero, táxi aéreo, charrete, táxi, motocicleta-táxi. O dispositivo visa proteger o tratamento igualitário no acesso aos meios de transportes.

Tanto o sujeito ATIVO quanto o PASSIVO pode ser qualquer pessoa.

� O crime é comum, pois qualquer pessoa pode praticá-lo, e material, por ser necessário o resultado naturalístico à sua consumação.

� O crime é consumado quando se dá o impedimento ao acesso ou ao uso e admite-se a tentativa.

Preconceito no acesso ao serviço nas FORÇAS ARMADAS

��� Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças Armadas:

Pena: reclusão de 02 a 04 anos.

As Forças Armadas constituem-se da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. O dispositivo visa proteger o tratamento igualitário dos postulantes, devidamente capacitados, no acesso ao serviço das Forças Armadas. Por IMPEDIR OU OBSTAR O ACESSO de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças Armadas entende-se qualquer conduta que dificulte, atrapalhe ou de fato impeça alguém de exercer funções civis ou militares nas Forças Armadas.

As polícias militares e os corpos de bombeiros, como forças auxiliares e reserva do Exército, não escapam a essa norma, assim como, também é crime obstar ou impedir o acesso ao serviço dessas corporações.

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� O sujeito ATIVO é qualquer pessoa que impedir ou obstar o acesso ao serviço em qualquer ramo das Forças Armadas.

� O sujeito PASSIVO é qualquer pessoa que atenda aos requisitos para realizar serviço em qualquer ramo das Forças Armadas.

� Trata-se de crime comum, já que não se exige nenhuma qualificação pessoal do sujeito ativo, ou seja, qualquer pessoa pode praticá-lo e é admitida a forma TENTADA.

É um delito formal (ou de consumação antecipada), por bastar ao agente atrapalhar ou dificultar o acesso ao serviço. Assim é possível a caracterização da infração mesmo quando a vítima, ao final, vencido as injustas barreiras, ter conseguido prestar o serviço militar.

O CASAMENTO e a CONVIVÊNCIA FAMILIAR ou SOCIAL

��� Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou convivência familiar ou social:

Pena: reclusão de 02 a 04 anos.

Entende-se por meio o recurso empregado para atingir um objetivo. Já a forma é a maneira, o jeito, o modo. O dispositivo visa proteger o convívio familiar e social e a liberdade para contrair núpcias entre os indivíduos.

Em nosso país laico, o ordenamento jurídico ainda entende como casamento apenas como:

“(...) o vínculo entre o homem e a mulher que visa o auxílio mútuo material e espiritual, de modo que haja uma integração fisiopsíquica e a constituição de uma família legitima.”

Faz referência, portanto, apenas ao casamento previsto no direito positivo (casamento civil) e também ao casamento religioso realizado com efeitos civis.

A convivência familiar tem significado de união estável gravada apenas pela cerimônia religiosa e a convivência social significa qualquer forma de

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contato mais próximo, fora do âmbito familiar. Tem uma expressão e alcance mais amplo que a familiar.

� O sujeito ATIVO é qualquer pessoa, embora normalmente os pais acabem tendo maior influência para cometer o delito quanto a seus filhos.

� O sujeito PASSIVO é qualquer pessoa.

� Trata-se de crime comum e material.

Preconceito no acesso ao SERVIÇO PÚBLICO

��� Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a QUALQUER CARGO da Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos.

Pena: reclusão de 02 a 05 anos.

O dispositivo visa proteger o tratamento igualitário entre os postulantes devidamente capacitados a cargos no serviço público. Impedir, é criar obstáculo, proibir, obstruir, estorvar, embaraçar, de qualquer maneira, o acesso de alguém, que esteja habilitado, a qualquer cargo, nas entidades descritas. Obstar é opor-se, causar embaraço.

Estar devidamente habilitado significa atender aos requisitos formalmente exigidos de todos os pretendentes do cargo. Quanto ao cargo, ele pode ser uma ocupação, um posto de trabalho ou uma função.

� O SUJEITO ATIVO é qualquer pessoa que impedir ou obstar o acesso ao cargo de alguém por preconceito ou discriminação.

� O SUJEITO PASSIVO é qualquer pessoa considerada habilitada a ocupar o cargo, ou seja, que preencha as características tidas como essenciais em edital do concurso público ou processo seletivo, ou então no rol de requisitos para cargos de livre provimento.

� Trata-se de crime formal e admite a forma tentada.

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A Lei ainda versa que incorrerá nas mesmas penas quem, or motivo de discriminação da raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, obstar a PROMOÇÃO FUNCIONAL. Não esqueça!!

IMPORTANTE

� Constitui efeito da condenação a PERDA do cargo ou função pública, para servidor público.

� A perda de cargo ou função pública não é automática, devendo ser motivadamente declarada em sentença.

Veja como o CESPE cobrou:

03. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/PI – 2007] Nos crimes resultantes de preconceito de raça ou cor, constitui efeito automático da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor público no exercício da função que for sujeito ativo do delito.

Questão 03: Acabamos de estudar que constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública para o servidor público que é sujeito ativo de crime de preconceito ou discriminação (art. 16 da Lei 7.716/89). Acontece essa perda de cargo ou função pública não é automática, devendo ser motivadamente declarada em sentença. (art. 16 da Lei 7.716/89).

Gabarito: ERRADO

O preconceito na vida das EMPRESAS PRIVADAS

��� Negar ou obstar emprego em empresa PRIVADA.

Pena: reclusão de 02 a 05 anos.

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Podemos definir o emprego como a ocupação de alguém em decorrência de contrato de trabalho, estabelecendo-se a relação entre empregado e empregador. A empresa privada é a pessoa física ou jurídica que exerce atividade em âmbito não-público, de cunho econômico e voltada à produção ou circulação de bens ou serviços.

O tipo penal visa proteger o tratamento igualitário ao acesso a vagas de trabalho oferecidas pelas empresas da iniciativa privada. Basta a negativa ou impedimento para que se materialize o crime. São figuras semelhantes (esta e a hipótese infra) tratadas de forma diversa.

� O SUJEITO ATIVO é qualquer pessoa que se coloque na situação de poder interferir na contratação de empregado em empresa privada. Na modalidade de obstar emprego, qualquer pessoa, mesmo sem possuir vinculo com a empresa, que atrapalhe o exercício do empregado.

� O SUJEITO PASSIVO é qualquer pessoa que se candidate a emprego (na modalidade do delito de NEGAR emprego) ou que já seja empregada em empresa privada (na modalidade delitiva de OBSTAR emprego).

� Trata-se de crime comum e material e NÃO admite a forma tentada.

É importante destacar que é pacífico o entendimento jurisprudencial nos tribunais de que esse delito não deve ser interpretado restritivamente e que há, por exemplo, o crime mesmo no caso de emprego em condomínio residencial, no qual não se exerce atividade econômica.

Um exemplo disso é uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo sobre a Apelação Criminal n. 141.820-3:

“EMENTA: RACISMO - Caracterização - Anúncio de emprego em condomínio denotando preconceito racial - Alegação de que aquele não exerce atividade econômica, não podendo ser incluído na expressão empresa privada da Lei 7.776/89 - Hipótese em que a norma não deve ser interpretada para fins meramente econômicos - Condenação mantida - Recurso não provido. A hermenêutica menos restritiva da Lei 7.776/89 leva à ilação de que em nenhum lugar, sob quaisquer hipóteses, pudesse ter alguém conduta discriminante por raça, cor ou credo, sendo inócuos para a interpretação da norma, conceitos particulares aplicáveis a determinados ramos do Direito, obstando sua salutar aplicação. (Apelação Criminal n. 141.820-3 - Araçatuba - Relator: FRANCO DE GODOY - CCRIM 3 - v.u. - 10.02.95)”.

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IMPORTANTE

� Incorre na MESMA PENA quem, por motivo de discriminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica:

� deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em igualdade de condições com os demais trabalhadores;

� impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de benefício profissional;

� proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de trabalho, especialmente quanto ao salário.

E a Lei n. 7.716/89 ainda nos diz mais:

Além de incorrer nas mesmas penas (02 a 05 anos), ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços à comunidade, incluindo atividades de promoção da igualdade racial, quem, em ANÚNCIOS ou QUALQUER OUTRA FORMA DE RECRUTAMENTO DE TRABALHADORES, exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas atividades não justifiquem essas exigências.

Vamos exercitar com o CESPE:

04. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/SE – 2008] O agente que reduz alguém a condição análoga à de escravo, sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, terá sua pena aumentada se o crime for cometido por motivo de preconceito de raça ou cor.

05. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/PB – 2011] Suponha que o diretor de recursos humanos de uma concessionária de serviço público obste, por discriminação religiosa, a promoção funcional de um subordinado seu. Nesse caso, o referido diretor não praticará conduta penalmente típica, mas infração, a ser apurada no âmbito administrativo.

Questão 04: Isso mesmo, mas quem nos diz isso não é a Lei 7.716/89 e sim o nosso Código Penal Brasileiro, em seu art. 149. Veja:

Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de

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dívida contraída com o empregador ou preposto: (Redação dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)

Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

(...)

§ 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:

I – contra criança ou adolescente;

II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.

Resolvi inserir essa questão no intuito de também lembrar-lhe desse tipo penal. Como você pode constatar, a questão acerta ao afirmar que o agente que reduz alguém a condição análoga à de escravo, sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, terá sua pena aumentada se o crime for cometido por motivo de preconceito de raça ou cor.

Gabarito: CERTO

Questão 05: Pelo que acabamos de estudar, é óbvio que esta assertiva está equivocada. Vimos que incorre na mesma pena de quem obsta ou nega emprego em empresa privada (02 a 05 anos) quem, por motivo de discriminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica impede a ascensão funcional do empregado ou obsta outra forma de benefício profissional. Se incorre na mesma pena, temos um tipo penal e não uma infração administrativa.

Gabarito: ERRADO

Preconceito no ingresso às ESCOLAS PÚBLICAS ou PRIVADAS

��� Recusar, negar, ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de ensino PÚBLICO ou PRIVADO de qualquer grau.

Pena: reclusão de 03 a 05 anos.

A inscrição é o ato pelo qual o pretendente a uma vaga na escola formaliza sua intenção. O ingresso possui tanto o significado de ter aceita a

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inscrição, a matrícula, quanto o de adentrar corporalmente nas dependências do estabelecimento de ensino.

RECUSAR e NEGAR têm o mesmo sentido: opor-se, rejeitar. É bastante a recusa de inscrever ou impedir o ingresso de aluno em estabelecimento de ensino, não importa se público ou privado, nem o grau em questão. O dispositivo visa proteger o tratamento igualitário no acesso aos estabelecimentos de ensino.

� O sujeito ATIVO é qualquer pessoa que se coloque na situação de poder interferir na inscrição ou ingresso ou ingresso de aluno.

� O sujeito PASSIVO é qualquer pessoa que se que se encontre na condição de aluno em estabelecimento de ensino.

� Trata-se de crime comum e material e NÃO admite a forma tentada.

� Se esse crime for praticado contra menor de 18 anos a pena é AGRAVADA de 1/3 (um terço).

Preconceito no acesso ou hospedagem a HOTEIS e SIMILARES

��� Art. 7º - Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento similar.

Pena: reclusão de 03 a 05 anos.

Não importa onde estejam localizados esses estabelecimentos. O simples obstáculo ou a oposição à hospedagem é indicativo do crime.

Permitir o ingresso, mas recusar hospedagem configurará o crime, porque de nada adiantará o ingresso nesses locais se houver recusa em hospedar a pessoa.

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� O sujeito ATIVO quanto ao núcleo IMPEDIR, qualquer pessoa pode praticar o delito. No que tange a RECUSAR A HOSPEDAGEM, o proprietário, sócio, gerente ou empregado do estabelecimento,

� O sujeito PASSIVO é qualquer pessoa que pretenda ingressar ou hospedar-se em hotel, pensão, estalagem ou estabelecimento similar.

� Trata-se de crime comum e material e NÃO admite a forma tentada.

� Se esse crime for praticado contra menor de 18 anos a pena é AGRAVADA de 1/3 (um terço).

Quanto ao núcleo IMPEDIR, o crime é comum, pois qualquer pessoa pode praticar o delito. No núcleo RECUSAR hospedagem, o crime é próprio, por ser somente o proprietário, sócio, gerente, empregado do estabelecimento ou pessoa que ali preste serviço que pode praticá-lo.

O crime é material nas duas formas previstas na norma penal incriminadora (impedir e recusar) e não é possível a tentativa na modalidade de recusar a hospedagem, mas é cabível no caso de impedir o acesso ao saguão de hotel, por exemplo.

A PRÁTICA, a INDUÇÃO ou INCITAÇÃO ao preconceito

��� Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de RAÇA, COR, ETNIA, RELIGIÃO ou PROCEDÊNCIA NACIONAL.

Pena: reclusão de 01 a 03 anos + multa.

O dispositivo penal visa proteger o tratamento igualitário que todos os cidadãos possuem como direito subjetivo independente de raça, cor, etnia ou procedência nacional. Percebe-se nitidamente que se trata de um tipo com maior abrangência, criado para aumentar o alcance da Lei n. 7.716/89, ante a dificuldade pratica de enquadramento das condutas nos tipos anteriormente existentes.

Trata-se, portanto, de um crime de ação múltipla ou de conteúdo variado, por possuir três núcleos do tipo; aplicável quando não possível o

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enquadramento de conduta preconceituosa ou discriminatória nos tipos anteriormente previstos.

Praticar o crime é realizá-lo com esforço próprio. O próprio agente o comete.

Induzir é persuadir, aconselhar, argumentar. Pressupõe a iniciativa à prática, que pode ocorrer por qualquer meio.

Incitar é instigar, provocar a prática do crime, por qualquer meio ou de qualquer forma, sem necessidade de que isso aconteça através de meios de comunicação social ou publicação.

Segundo entendimento jurisprudencial (detalharemos mais em outro tópico), não há que se falar em crime de racismo previsto na Lei n. 7.716/89 quando a suposta ofensa se dirige contra o agente considerado individualmente, hipótese em que se configura a infração penal de injúria prevista no art. 140, § 3º do Código Penal Brasileiro, abaixo transcrito:

Código Penal:

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

(...)

§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:

Pena - reclusão de 01 a 03 três anos e multa.

O entendimento acima citado é extraído de alguns acórdãos, a exemplo de um do Tribunal de Justiça do Pará:

“EMENTA: PROCEDIMENTO CRIMINAL - IMPUTAÇÃO A MAGISTRADO DE CRIME DE RACISMO – DESCABIMENTO – FATOS NARRADOS DA PEÇA INICIAL QUE NÃO CARACTERIZAM CRIME PREVISTO NA LEI Nº 7.716/89 – OCORRÊNCIA EM TESE DE CRIME DE INJÚRIA – ART. 140 § 3º DO CPB CUJA AÇÃO PENAL É DE INICIATIVA PRIVADA [...]” (AC n. 55138, de Abaetuba - PA, rel. Des. Nunes, j. 09.12.04).

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Vale lembrar que, para a configuração de um dos núcleos do tipo em questão, há a necessidade que o agente tenha vontade consciente dirigida no sentido de estimular a discriminação ou preconceito racial. Exige o dolo direto ou mesmo o eventual.

Confirmando essa ideia temos um acórdão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais:

“EMENTA: CRIME DE RACISMO - LEI 7.716/89 - COLUNISTA DE JORNAL - CONDENAÇÃO MONOCRÁTICA - PRELIMINAR DE NULIDADE - INDEFERIMENTO DE PERGUNTAS NO JUÍZO DEPRECADO - REJEITADA - POLITICAMENTE CORRETO - TEXTO HUMORÍSTICO - DOLO INEXISTENTE - ABSOLVIÇÃO - RECURSO PROVIDO” (Processo n. 1.0000.00.229590-5/000(1), de Belo Horizonte - MG, rel. Des. Santiago, j. 28.05.02).

IMPORTANTE

� Se qualquer dos crimes previstos acima (praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito) é cometido por intermédio dos meios de comunicação ou publicação de qualquer natureza a pena será de reclusão de 02 a 05 anos e multa.

O termo publicação de qualquer natureza significa material informativo, com circulação aberta ao público, comercial ou não. Trata-se de matéria escrita, ilustrada, falada, impressa ou não, tendo em vista a expressão utilizada, destinada a servir de suporte para verbos do tipo incriminador.

Esse dispositivo decorre da hipótese de presunção de que por tais meios o dano social seria maior, face ao presumível aumento do número de pessoas que por eles teriam conhecimento das condutas preconceituosas ou discriminatórias. Veja como julgou o Tribunal de Justiça de São Paulo:

“EMENTA - RACISMO - Caracterização - Discriminação e incitação contra a raça negra em meio radiofônico - Comentário que, dirigido a um número muito grande de ouvintes, produz seus efeitos deletérios (nocivos) ou, pelo menos, reunia potencial suficiente e era meio idôneo para tanto - Hipótese de delito formal, sem resultado – Recurso não provido. (Apelação Criminal n. 153.122-3 - São Carlos - 5ª Câmara Criminal de Férias - Relator: Celso Limongi - 30.08.95 - V.U.)”.

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Em se tratando desse crime, o juiz poderá determinar que seja ouvido o Ministério Público, ou que, a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência:

� o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo;

� a cassação das respectivas transmissões radiofônicas ou televisivas;

� a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede mundial de computadores (internet).

� Os sujeitos ATIVO e PASSIVO são qualquer pessoa.

� Trata-se de crime formal e a tentativa é teoricamente possível na forma escrita quando esta não chega a atingir a vítima.

� Constitui efeito de condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do material apreendido.

Em se tratando dos efeitos de condenação acima mencionado, essa norma é aplicável pelos tribunais apenas nos casos onde os bens a serem destruídos tratam-se de panfletos, impressos, e outros materiais semelhantes.

Há casos onde as apreensões encontram materiais eletrônicos, computadores, aparelhos de rádio, etc., neste caso a justiça retira destes equipamentos o que lembra a propagação do preconceito e os torna utilizáveis pelo setor público.

Uma questão bastante interessante:

06. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TRF 5ª – 2005] Consoante entendimento do STF, constitui crime de racismo escrever livro fazendo apologia de ideias preconceituosas e discriminatórias contra a comunidade judaica, no sentido de que os judeus seriam raça inferior, nefasta e infecta, características suficientes para justificar a segregação e o extermínio.

Questão 06: Essa questão refere-se a uma grande polêmica no meio jurídico, no início da década de 2000, por conta de publicações anti-semitas (contra os judeus) do editor de livros Siegfried Ellwanger. Condenado pelo Tribunal de

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Justiça do Rio Grande do Sul a dois anos de reclusão pela incitação ao racismo em suas publicações, o referido editor entrou com habeas-corpus no STJ para que fosse retirada a condenação.

O Superior Tribunal de Justiça julgou a incitação ao preconceito ou à discriminação de raça uma prática racista e manteve a condenação do editor de livros por editar e vender tais obras de conteúdo racista. A defesa sustentou que Ellwanger não poderia ser condenado pela prática do racismo, pois o "incitamento contra o judaísmo", do qual foi acusado, não teria conotação racial. Entretanto, disse o relator do habeas-corpus, ministro Gilson Dipp, no voto adotado pela maioria do colegiado da Quinta Turma: “penso que deve ser ressaltado que a condenação do paciente se deu por delito contra a comunidade judaica, não se podendo abstrair o racismo de tal comportamento". A decisão do TJ, segundo ele, "foi suficientemente clara e motivada nesse sentido, sendo descabida a pretendida reavaliação de seus fundamentos". Eis então a ementa da decisão do STJ:

Ementa - CRIMINAL. HABEAS CORPUS. PRÁTICA DE RACISMO. EDIÇÃO E VENDA DE LIVROS FAZENDO APOLOGIA DE IDÉIAS PRECONCEITUOSAS E DISCRIMINATÓRIAS. PEDIDO DE AFASTAMENTO DA IMPRESCRITIBILIDADE DO DELITO. CONSIDERAÇÕES ACERCA DE SE TRATAR DE PRÁTICA DE RACISMO, OU NÃO. ARGUMENTO DE QUE OS JUDEUS NÃO SERIAM RAÇA. SENTIDO DO TERMO E DAS AFIRMAÇÕES FEITAS NO ACÓRDÃO. IMPROPRIEDADE DO WRIT. LEGALIDADE DA CONDENAÇÃO POR CRIME CONTRA A COMUNIDADE JUDAICA. RACISMO QUE NÃO PODE SER ABSTRAÍDO. PRÁTICA, INCITAÇÃO E INDUZIMENTO QUE NÃO DEVEM SER DIFERENCIADOS PARA FINS DE CARACTERIZAÇÃO DO DELITO DE RACISMO. CRIME FORMAL. IMPRESCRITIBILIDADE QUE NÃO PODE SER AFASTADA. ORDEM DENEGADA.

A defesa do autor não de deu por vencida e impetrou recurso ao STF.

Em 17/09/03, o Habeas Corpus foi definitivamente julgado pelo Supremo Tribunal Federal que manteve, pela maioria de sete a três, a condenação do editor Siegfried Ellwanger.

Caro aluno, diante de todo o exposto, há ainda alguma dúvida de que ao enunciado da questão referia-se a esse julgado? E mais: você tem alguma dúvida de a afirmativa da questão está correta? claro que não. Está certíssima!!

Não esqueça: se a pratica, a indução ou a incitação à discriminação ou ao preconceito forem cometidas por intermédio dos meios de comunicação ou publicação de qualquer natureza a pena será de reclusão de 02 a 05 anos e multa.

Gabarito: CERTO

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E por fim temos o seguinte, e um dos mais graves, delitos:

��� Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do NAZISMO.

Pena: reclusão de 02 a 05 anos + multa.

Caro aluno, o crime por si só se explica. Sem comentários!!

Veja como foi cobrado:

07. [UEPB – DELEGADO DE POLÍCIA – PC/PB – 2003] A Lei nº 9.459, de 13 de maio de 1 997, que modificou a Lei nº 7.716, de 05 de janeiro de 1 989 (Lei definidora dos crimes de raça ou de cor), determina a punição de todos os delitos resultantes da discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Nesse contexto se acha tipificada figura relativa ao fabrico, à comercialização, à distribuição ou à veiculação de símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda, que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo, exceto quando o responsável, penalmente imputável, for membro registrado de partido político.

Questão 07: Tudo certinho na questão, não fosse pela afirmação errada de que o membro registrado em partido político não pode ser condenado pelo crime nela citado. Esse crime está previsto no art. 20, §1º da Lei 7.716/89 e não prevê exceções quanto ao sujeito ativo.

Gabarito: ERRADO

3. A LIBERDADE DE EXPRESSÃO

É corrente alguém acusado de cometer crime de preconceito alegar liberdade de expressão. Por certo este é um princípio constitucional, mas da mesma forma o é a igualdade e a dignidade humana. Sabemos que os princípios se chocam e em alguns casos um é renegado por ser, naquela situação, menos valioso que o outro.

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O direito de se expressar não é superior a tudo, principalmente a dignidade do outro, não pode ele assim ferir a todos sem medir consequências. Vê-se, então, que a liberdade de expressão alcança seu limite quando passa a propagar determinada conduta ilícita como correta.

O art. 20 da lei 7.716/89 (praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito por intermédio dos meios de comunicação ou publicação de qualquer natureza) é o que melhor define os casos onde a imprensa pode provocar preconceitos.

3. DISTINÇÃO: RACISMO x INJÚRIA POR PRECONCEITO

Assunto que o CESPE gosta muito, vamos falar mais um pouco sobre a diferença legal entre racismo e injúria por preconceito. A Lei n. 7.716/89 define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Isso você já sabe!!

Já a Lei n. 9.459/97, alterou o art. 140 do Código Penal, que trata do crime de injúria. Vamos revê-lo novamente:

Código Penal:

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

(...)

§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:

Pena - reclusão de 01 a 03 três anos e multa.

Essa nova redação do art. 140, alterada pelo art. 2º da Lei n. 9.4459/97, acrescentou um tipo qualificado ao delito de injúria, impondo penas de reclusão, de um a três anos, e multa, se cometida mediante utilização de elementos referentes a raça, cor, religião ou origem.

A alteração legislativa foi motivada pelo fato de que réus acusados da prática de crimes descritos na Lei n. 7.716/89 geralmente alegavam ter

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praticado somente injúria, de menor gravidade, sendo beneficiados pela desclassificação.

Por isso o legislador resolveu criar uma forma típica qualificada envolvendo valores concernentes a raça, cor, etc., agravando a pena. Uma infeliz solução!! Sabe por quê?

Porque de acordo com as novas mudanças, chamar alguém de “negro”, “preto”, “pretão”, “negrão”, “turco”, “africano”, “judeu”, “baiano”, “japa” etc., desde que com vontade de lhe ofender a honra subjetiva relacionada com cor, religião, raça ou etnia, sujeita o autor a uma pena mínima de um ano de reclusão, além de multa.

A pura verdade é que para a legislação penal brasileira, conforme consagrado na jurisprudência e na doutrina a conduta de dirigir-se a outrem o chamando de "negro", ou mesmo "negro de merda" como na hipótese aventada, não restará configurado o crime de racismo.

Entretanto, em se tratando da esfera civil, a responsabilidade se define pelo dever de reparar os interesses privados, não importando tenha o ato praticado infringido disposição penal. A responsabilidade civil, de forma simples, pode ser definida como sendo a obrigação de reparar o dano causado a outrem. O dever de reparação tem fundamento na culpa ou no risco decorrente do ato ilícito do agente. O fundamento está na razão da obrigação de recompor o patrimônio diminuído com a lesão ao direito subjetivo.

O réu pode ser civilmente obrigado à indenização do dano, e o fator gerador do prejuízo poderá não ser considerado uma conduta definida como crime. Isso quer dizer que pode um réu ser absolvido no juízo criminal, pela prática de um fato inicialmente considerado delituoso, e ser obrigado a indenizar à vítima, ao seu representante legal ou aos seus herdeiros, ou, ainda, reparar o dano provocado, perante o juízo cível.

Assim, é importante que observemos o art. 159 do Código Civil, abaixo transcrito:

Código Civil:

Art. 159 - Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano. A verificação da culpa e a avaliação da responsabilidade regulam-se pelo disposto neste Código, arts. 1.518 a 1.532 e 1537 a 1553.

Pois bem, a prática da discriminação constitui-se, em matéria civil, um ato ilícito praticado em desacordo com a ordem jurídica, violando direito

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subjetivo individual. Causa dano à vítima criando o dever de repará-lo. No momento em que se verifica a ocorrência dos fatos discriminatórios surge o direito da vítima propor uma ação de ressarcimento dos danos que podem ser patrimoniais ou morais. Teremos a hipótese de danos morais, em strictus sensus, ou seja, danos morais com reflexo patrimonial e danos patrimoniais.

Resolva as questões a seguir e confira como a nossa estimada adora o assunto:

08. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TRF 5ª – 2011] Em razão do princípio da especialidade, a imputação de termos pejorativos referentes à raça do ofendido, com o nítido intuito de causar lesão à sua honra, não importa crime de injúria, mas delito resultante de preconceito de raça.

09. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/SE – 2008] O crime de injúria qualificada por preconceito de raça segue o procedimento especial dos crimes contra a honra previsto no CPP.

10. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/PB – 2011] Para a configuração penal do delito de injúria, não se exige o elemento subjetivo consistente no dolo de ofender na modalidade de dolo específico, sendo suficiente, para a caracterização da figura típica, a presença do chamado dolo genérico.

Questão 08: Qual é mesmo o objeto de estudo do nosso curso? A Legislação Especial!!

Especial é a norma que possui todos os elementos da geral, denominados especializantes (não são crimes autônomos e, sim, circunstâncias que isoladas do tipo geral não teriam significação penal), que trazem um minus ou um plus de severidade. Toda a ação que realiza o tipo do delito especial realiza também, necessariamente, o tipo do delito geral, enquanto que o inverso não é verdadeiro. É aí que se define o princípio da especialidade!!

O princípio da especialidade, na verdade, evita o bis in idem, pois determina que haverá a prevalência da norma especial sobre a geral, sendo certo que a comparação entre as normas será estabelecida in abstracto.

Ora, é óbvio que esse princípio é aplicável à Lei n. 7.716/89 no que diz respeito às condutas discriminatória e preconceituosas ali tipificadas. Acontece que precisamos ter o cuidado de discernir, em determinados casos, o que é crime de racismo do que é crime de injúria. à luz do que acabamos de estudar, vimos que a imputação de termos pejorativos referentes à raça do ofendido, com o nítido intuito de causar lesão à sua honra, como por exemplo chamar alguém de “negro”, “preto”, “pretão”, “negrão”, “judeu” infelizmente não é considerada delito resultante de preconceito de raça e, sim, crime de qualificado de injúria. O oposto do que afirma a questão.

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Gabarito: ERRADO

Questão 09: A assertiva nos remete ao procedimento penal em relação aos crimes de injúria, regulamentado Código de Processo Penal. Aconselho você a dar uma olhadinha com carinho no referido Código, em especial nos seguintes dispositivos:

Art. 519. No processo por crime de calúnia ou injúria, para o qual não haja outra forma estabelecida em lei especial, observar-se-á o disposto nos Capítulos I e III, Titulo I, deste Livro, com as modificações constantes dos artigos seguintes.

Art. 520. Antes de receber a queixa, o juiz oferecerá às partes oportunidade para se reconciliarem, fazendo-as comparecer em juízo e ouvindo-as, separadamente, sem a presença dos seus advogados, não se lavrando termo.

Art. 521. Se depois de ouvir o querelante e o querelado, o juiz achar provável a reconciliação, promoverá entendimento entre eles, na sua presença.

Art. 522. No caso de reconciliação, depois de assinado pelo querelante o termo da desistência, a queixa será arquivada.

Art. 523. Quando for oferecida a exceção da verdade ou da notoriedade do fato imputado, o querelante poderá contestar a exceção no prazo de dois dias, podendo ser inquiridas as testemunhas arroladas na queixa, ou outras indicadas naquele prazo, em substituição às primeiras, ou para completar o máximo legal.

Logo, a assertiva acerta ao afirmar que o crime de injúria qualificada por preconceito de raça segue o procedimento especial dos crimes contra a honra previsto no CPP.

Gabarito: CERTO

Questão 10: O dolo, em Direito penal, relaciona-se sempre com um tipo legal e, por isso, é que se fala em dolo típico. Esse mesmo dolo é o genérico. Trata-se do requisito subjetivo geral exigido em todos os crimes dolosos: consciência e vontade de concretizar os requisitos objetivos do tipo.

Por outro lado, o dolo específico está naqueles tipos penais em que se faz essa exigência: além do dolo genérico, há uma intenção especial do agente. O dolo específico está presente nos tipos penais incongruentes. O tipo penal incongruente é aquele que exige além do dolo genérico uma intenção especial, um requisito subjetivo transcendental. É o caso da injúria preconceituosa e discriminatória, por exemplo!!

Estudamos aqui que o preconceito representa uma ideia estática, abstrata, pré-concebida, traduzindo opinião carregada de intolerância, alicerçada em

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pontos vedados na legislação repressiva e que será possível a punição do agente se houver a exteriorização do preconceito, sendo a mera motivação interna um indiferente penal.

Logo, podemos concluir que para o crime de injúria não é suficiente o dolo genérico (consciência e vontade de concretizar os requisitos objetivos do tipo). Há de haver o dolo específico.

Gabarito: ERRADO

Pronto!! Finalizamos nosso estudo sobre a Lei de Discriminação e Preconceito. Para fecharmos de vez, as nossas últimas questões dessa aula:

11. [CESPE – DELEGADO DE POLICIA – PC/ES – 2006] Lei especial define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, prescrevendo-se para todas as figuras típicas penas de reclusão ou de reclusão e multa.

12. [CESPE – AGENTE DE POLICIA – PC/TO – 2008] Os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional são punidos com penas de reclusão ou reclusão e multa, e todas as infrações descritas na legislação específica são inafiançáveis e imprescritíveis.

Questão 11: Isso mesmo!! A questão é na verdade uma boa dica para a sua prova: todos os crimes previstos na Lei n. 7.716/89 preveem como pena restritiva de liberdade a reclusão. Alguns deles, além da pena de reclusão também preveem a de multa (os previstos no art. 20 caput e §§ 1º e 2º e a conduta prevista no art. 4º, §2º).

Gabarito: CERTO

Questão 12 : Muito parecida a questão anterior, mas a meu ver, bastante polêmica no que diz respeito ao afirmar que todos os crimes previstos na lei 7.716/89 são inafiançáveis e imprescritíveis. Em tese sim, mas parte da doutrina entende que a imprescritibilidade só cabe para os crimes de discriminação de raça, cor e etnia. Os injustos culpáveis referentes a origem nacional, religião e o de injúria qualificada continuam prescritíveis.

A banca considerou a assertiva correta, baseando-se unicamente no regramento do inciso XLII do at. 5º da Constituição Federal. Questão que deixou espaços para muitos recursos, mas que não teve seu gabarito alterado nem anulado. Fica o registro!!

Gabarito: CERTO

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Concluímos essa que foi infelizmente nossa penúltima aula!! A hora agora é não desacelerar e manter o foco intensificando e aperfeiçoando seus estudos.

A busca por questões foi bastante árdua e todas as que encontrei foram analisadas nesta aula. Acredito que elas são importante base para entendermos como as bancas, principalmente o CESPE, gosta de cobrar sobre o tema em estudo.

Participe do fórum de nosso curso e fique atento também ao seu Quadro de Avisos. Dúvidas, questionamentos e sugestões serão sempre bem-vindos!!

Conte comigo sempre que precisar!!

Bons estudos e até a nossa próxima e última aula!

QUESTÕES DE SUA AULA

01. [CESPE – AGENTE DE POLICIA – PC/RN – 2008] A Lei n.º 7.716/1989 não considera crime de racismo o ato preconceituoso contra homossexual praticado em razão da opção sexual da vítima.

02. [CESPE – AGENTE DE POLICIA – PC/RN – 2008] Não constitui crime de racismo a simples recusa de atendimento a uma pessoa, na mesa de um bar, em razão a cor de sua pele.

03. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/PI – 2007] Nos crimes resultantes de preconceito de raça ou cor, constitui efeito automático da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor público no exercício da função que for sujeito ativo do delito.

04. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/SE – 2008] O agente que reduz alguém a condição análoga à de escravo, sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, terá sua pena aumentada se o crime for cometido por motivo de preconceito de raça ou cor.

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05. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/PB – 2011] Suponha que o diretor de recursos humanos de uma concessionária de serviço público obste, por discriminação religiosa, a promoção funcional de um subordinado seu. Nesse caso, o referido diretor não praticará conduta penalmente típica, mas infração, a ser apurada no âmbito administrativo.

06. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TRF 5ª – 2005] Consoante entendimento do STF, constitui crime de racismo escrever livro fazendo apologia de ideias preconceituosas e discriminatórias contra a comunidade judaica, no sentido de que os judeus seriam raça inferior, nefasta e infecta, características suficientes para justificar a segregação e o extermínio.

07. [UEPB – DELEGADO DE POLÍCIA – PC/PB – 2003] A Lei nº 9.459, de 13 de maio de 1 997, que modificou a Lei nº 7.716, de 05 de janeiro de 1 989 (Lei definidora dos crimes de raça ou de cor), determina a punição de todos os delitos resultantes da discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Nesse contexto se acha tipificada figura relativa ao fabrico, à comercialização, à distribuição ou à veiculação de símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda, que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo, exceto quando o responsável, penalmente imputável, for membro registrado de partido político.

08. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TRF 5ª – 2011] Em razão do princípio da especialidade, a imputação de termos pejorativos referentes à raça do ofendido, com o nítido intuito de causar lesão à sua honra, não importa crime de injúria, mas delito resultante de preconceito de raça.

09. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/SE – 2008] O crime de injúria qualificada por preconceito de raça segue o procedimento especial dos crimes contra a honra previsto no CPP.

10. [CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/PB – 2011] Para a configuração penal do delito de injúria, não se exige o elemento subjetivo consistente no dolo de ofender na modalidade de dolo específico, sendo suficiente, para a caracterização da figura típica, a presença do chamado dolo genérico.

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11. [CESPE – DELEGADO DE POLICIA – PC/ES – 2006] Lei especial define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, prescrevendo-se para todas as figuras típicas penas de reclusão ou de reclusão e multa.

12. [CESPE – AGENTE DE POLICIA – PC/TO – 2008] Os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional são punidos com penas de reclusão ou reclusão e multa, e todas as infrações descritas na legislação específica são inafiançáveis e imprescritíveis.

GABARITO

1 2 3 4 C E E C 5 6 7 8 E C E E 9 10 11 12 C E C C