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8/4/2019 Aula 05 - Resenha - Intelectuais e representao geogrfica da identidade nacional
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da, mas interpretada. Se os sujeitos sec o n v e rtem em vtimas justamente porno poderem provar a autenticidade de
seus sofrimentos, a antropologia socialpode transformar-se em uma fora cu-rativa ao possibi li tar que se exponhasua voz e ao provocar em outros a ex-perincia do sofrimento.
No entanto, se a f ragmentao dorelato em uma sucesso de eventos cr-ti cos um ato de compromisso tico epol tico para com as vtimas, a re lat i v i-
zao da violncia sua conseqnciatrgica. Porque somente a parti r des-ta posio que Das pode afi rmar que oseventos vinculados a um d ivrcio ou violao em massa de mulheres so to-dos igualmente dramticos . Como possvel esta equiparao, que incluiem lt ima instncia as prprias cin-cias sociais? Com a condio de expur-gar a historicidade dos sucessiv os
eventos narrados no li vro. sobre estabase que todos os casos parecem con-v e rt e r-se em exemp los de uma mesmacoisa: A Violncia.
Ao tentar li vrar-se do exotismo quetradicionalmente atribudo ndia,paradoxalmente a autora homogeneizaa exper incia desses eventos dramti -cos e os torna exticos. A essencializa-
o da violncia aparece exposta em to-da a sua di menso ao re c o rrer ao p ro-psito de alcanar A Verdade das v-timas. Esta existe somente se as consi-derarmos uma unidade, e se, em l timainstncia, pensarmos como tal as comu-nidades imag inadas que habitam a n-dia contempornea. Sob tais suposi-es, a prpr ia categoria de vt imaa p a rece naturalizada e a violncia
transformada em um absoluto porqueo espao que atravessa o campo, o pes-quisador e a teoria a estratgia textuale no os processos concretos que con-duzem a sua ir rupo. Inscrever esseseventos no seu processo histrico per-
mi ti ria reconhecer tambm os espaosde convergncia e negociao entre Es-tado e comunidade, o que nos obrigaria
a tratar a categoria de vtima no co-mo algo absolu to, mas como a substan-cial izao provisri a de um pro c e s s oc o n c reto de di sputa social que re q u e rser expl ici tado etnograficam e nt e .
L I M A, Nsia Trindade. 1999. Um Sert o
Chamado Brasil : Int electuais e Repre-
sent ao Geogrf ica da Ident idade N a-c i o n a l . Rio de Janeiro: Revan/IUPERJ-
UCAM . 232 pp .
Candi ce Vidal e Souza
Doutoranda, PPGAS-MN-UFRJ
O pensamento sobre o Brasil org a n i -zado em torno das re p resentaes so-
b re serto e li toral explorado nestetrabalho tese premiada em 1998 peloIUPERJ como proposies acerca danacional idade, nas quais se art i c u l a mreflexes sobre a identidade dos intelec-tuais locais. A reconstruo de uma du-radoura tradio de excurses intelec-tuais com vistas a localizar, descrever eexplicar o habitante do interior abrange
textos distri budos entre a segunda me-tade do sculo XIX, as primeiras trsdcadas do sculo XX e a sociologiauniversitria desenvolvida entre 1933 e1964. O personagem que recebe os no-mes de sertanejo, caboclo ou caipira foiobjeto de avaliaes positivas e negati-vas, otimistas e desesperanadas. Para aautora, so essas figuraes e seus mati -zes opinativos os rastros a segui r para
encontrar matr izes do pensamento so-cial brasileiro e ensaiar pontos de vistai n o v a d ores sobre a histria da explica-o sociolgica do Brasil .
A apresentao dos princpios dec o m p reenso da atividade dos i ntelec-
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tuais em prol do conhecimento e da for-mao da nacionalidade feita no pr i-meiro captulo, Intelectuais e Interpre-
tao do Brasil . So mobi li zados argu-mentos de referncia para a discussosobre a identidade e a posio dos inte-lectuais, dentre os quais a concepo deM annheim a respeito da i nt e ll ig e n ts i acomo grupo social com incumbncia deof erecer interpretaes do mundo paradada sociedade adotada para os inte-lectuais brasil eiros em foco. Outras pro-
blemticas se agregam para que seconstrua definies mais pertinentes aocontexto nacional brasil eiro e nossahistria de constituio da reflexo so-cial, as quais levam a constatar a simul-taneidade com que o problema da na-cionalidade e da identidade social dosintelectuais se colocou aqui. A o procla-mar sua escolha por uma abord a g e mque atente mais para os temas dos tra-
balhos sociolgicos e menos para osmtodos e parmetros de formao dosp e n s a d o res do Brasil , Li ma conseguereavali ar propostas consagradas a re s-peito da constituio das cincias so-ciais e de suposta ruptura com o pensa-mento social. A uni dade temtica queaproxima intelectuais produtores de in -terpretaes do Brasil em di versas fren-
tes de atuao se verif ica no debate emtorno da incorporao dos sertes. Maisque i sto, o sentimento de estranha-mento em relao ao interior que per-passa tantas geraes de brasil eir o sl etrados. Todo o l iv ro convence sobrecontinuidades normalmente desperc e-bidas entre os intelectuais abrigadosnas institu ies formadoras das novasgeraes e a tradi o ensastica. A crti -
ca adeso de estudiosos contempor-neos de nossa vida intelectual auto-imagem de seus sujeitos de pesquisa pois acertada e oportuna.
Descontinuidades geogrficas reco-nhecidas no interior de algumas socie-
dades nacionais podem ser compar-veis s divises entre serto e litoralque fazem sent ido para os brasileiro s .
Esta proposio domina o segundo ca-ptulo, dedicado re p resentao geo-grfica da identidade nacional. A expe-rincia norte-americana priv ilegiadapara o contraste com o caso brasileirona aproximao entre a noo de fron-teira e o par litoral/serto. No momentoem que Lima recupera opinies sobre aadequao ou no do conceito de fron-
teira para o Brasil , aparecem incoern-cias metodolgicas. Apesar da opomani festa por um tratamento no re a-lista do pensamento social abdicar deestabelecer a preciso emprica dasdescries sobre o serto, o litoral ou afronteira , h confuso entre a posioda autora que pretende dizer sobre oreal e a fala dos autores do pensamentosocial. Isto se deve, em parte, carncia
de uma definio prvia do estatuto dasreferncias que atuam como materialde anlise e daquelas que so tomadascomo fontes de autoridade expli cativapara os propsitos do livro. Assim, o ar-gumento daqueles que pesquisam so-bre o tema colocado no mesmo planodaqueles que efetivamente tomaramparte na construo do discurso sobre a
fronteira no Brasil . O confronto despro-posit ado entre teses de fontes distintas,como acontece na subseo Fro n tei rae homem fro n t e iro , revela as impl ica-es de fraquezas metodolgicas para ainterpretao. Um autor complexo comoVianna Moog objeto de ateno dimi-nuta e in terpretao rasa. A relao en-t re fronteir a e i magens nacionais, quese pretende estar desenvolvendo, per-
de uma de suas maiores fontes de ela-borao justamente nos exerccios com-parativos em que M oog foi mestre. Naposio de quem descarta uns e adere ao u t ros, a au tora deixa de notar a pers-pectiva naciocntr ica de um autor como
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R i c h a rd M orse, de quem adota a con-cepo de que seria praticamente im-possvel, no caso brasileiro, falar de
uma fronteira, pela inviabi lidade de se-parar civil izao e primiti vismo (:43).
Em M isses ao Interior e Interpre-tao do Brasil , Lima destaca o papeldas viagens para a conformao de vi-ses intelectuais do Brasil : o desloca-mento pelo territrio conduz expe-rincia de contato com espaos e mo-dos de vi da ti dos por b rasil eiros. N as
primeiras dcada da Repblica, foramvalorizados os relatos baseados no co-nhecimento de olti va sobre o sert o ,resultantes de viagens cientficas, ex-pedies mi li tares e incurses ao inte-r i o r. Pertencem a esse momento a via-gem de Eucli des da Cunha aos sert e sbaianos, a campanha sertanista deRondon e as viagens cientficas do Ins-tituto Oswaldo Cruz. Aqui a autora ex-
plora os signi ficados que o serto tinhapara esses empreendedores de viagense t estemunhos. Nesse ponto, observ a como a tendncia posterior de natu-ra l iz a r a palavra, referindo-a a um es-pao fsico claramente delimitado, des-considera sua gnese e a alta carga dev a l o res sim bl icos a ela associada(:58). Faz-se aqu i uma general izao
descuidada, posto que inexiste funda-mento etnogrfico para a avaliao so-b re o empobrecimento ou reduo doalcance geogrfico e semntico da pa-lavra serto. Por outro lado, no h cla-reza sobre a quem se re f e re essa notacrtica: a autores do pensamento social,a pesqu isadores do tema ou a out ro sagentes? Fao notar ainda que a cita-o de Nelson We rneck Sodr (:59) foi
compulsada erroneamente.A imagem do Brasil advinda do
olhar mdico que encontrou a gentedos sertes objeto do quarto captulo, O Serto como Patologia, Abandono eEssncia da Vida Nacional . A parti ci-
pao do discurso higienista na cons-truo de in terpretaes do Brasil podeser atestada nas opinies de vrios inte-
lectuais, as quais revelam o entusiasmocom o projeto de saneamento dos ser-tes convocado por cientistas que ma-pearam as doenas curveis da nacio-nalidade. Nesse contexto, idias sobres e rto e l it oral arti cularam teori as doBrasil inspiradas na semiologia mdicae conduziram a aes profilti cas inte-ressadas em salvar os valores morais es-
senciais encont rados naqueles sert e sem agonia. A observao direta das po-pulaes sertanejas gerou descries devalor etnogrfico, que davam notcia so-bre organizao social, hbi tos e lingua-gem local. Intelectuais como BelisrioPenna e Roquette-Pinto foram re s p o n-sveis pela constituio do homem doint erior como objeto de pesquisa parauma antropologia dos tipos nacionais.
No nimo do envolvimento intelec-tual na causa sanitarista foi criado opersonagem do Jeca Tatu, alvo de po-lmica que dizia respeito a representa-es do Brasil e auto-imagem dosprprios intelectuais, conforme a dis-cusso orig inal do captulo 5, O Pasde Jeca Tatu . O pavio aceso por M on-t e i ro Lobato incomodou muit os outro s
que lanaram alternativas viso ne-gativa do homem brasileir o, logo refei-ta pelo prprio criador, j crente napossibi li dade de regenerao por pol-ticas de civilizao do interior. Da puracrtica, os intelectuais se lanam a pen-sar di rees para a transformao doJeca, tornado mais um smbolo nacio-nal que a referncia ao tipo social domeio rural brasileiro. Ele vem a ser
mesmo a ident idade metafrica para ointelectual orgulhoso de seus vnculosde origem com o interior, agora solda-do da causa nacional.
Desdobramentos da colocao dob r a s i l e i ro-Jeca como tema da re f l e x o
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e da programtica de agentes imp lica-dos na campanha h ig ieni sta so re c o-nhecidos por N sia Trindade Lima em
lugar insuspeito: a pesquisa sociolgicas o b re os cenri os ru rais br asil eir os. Oargumento apresentado no ltimo cap-tulo entusiasma pela visada indita esurpreendente sobre obras e teses cls-sicas, capaz de desconstruir opiniesestabelecidas sobre a histria das cin-cias sociais no Brasil . Trata-se da cons-tatao de que a utopia sociolgica
substitui a utopia hig ienista em anlisesdo mundo rural brasileiro que, alm dedescrever e categorizar, desejaram pro-mover mudanas sociais dir igidas pe-la tcnica sociolgica, meio de redimir oserto do atraso e integr-lo modernasociedade de mercado. Enfim, a nacio-nalizao do serto, consolidada por um sistema de entendimentos comuns , af o rma da cul tura nacional na v iso de
Emlio Willems. O par serto/litoral foiativado em categorias da anlise socio-lgica como cultura de folk(em Flores-tan Fernandes) e cultura rstica (emWillems), posteriormente desenvolvi-das em Antonio Candido e M aria Isau-ra Pereira de Queiroz. No tratamentodessa li nhagem temti ca, o estudo deMaria Sylvia de Carvalho Franco
convertido em anlise predileta de des-crio do serto em relao a seus an-t e c e s s o res, sem probl emat izao damudana de re g i s t ro metodolgi co arepresentada. Em outra seo, a autoraretoma a curiosa metfora fundada nascategori as sert o / l i t oral operada porGuerreiro Ramos para falar dos part idosintelectuais brasilei ros: a oposio en-t re sociologia eucl idi ana e sociologia
consular ou litornea. Nesse trecho, aautora assume uma postura norm a t i v aao se propor responder se faz sentidoopor sociologia eucli diana sociologiaconsul ar? (:203). Este captu lo aindatraz uma compi lao de re g i s t ros foto-
grf icos e representaes pictricas alu-sivas aos sertes.
Nas Consideraes Finais ao tra-
balho, alm do resumo da argumentaogeral, Lima reaparece com proposiess o b re o dever-ser da ativid ade intel ec-tual de compreenso do Brasil, incluin-do-se na tradio estudada ao anunciartambm uma utopia sociolgica.
Pode-se reclamar deste trabalho aesquemati zao excessiva, pre j u d i c i a lao ri tmo narrativo; alm do uso inci -
dental de pesquisas coincidentes, par-t ic u l a rmente eviden te nos t rs pr imei-ros captul os. Contudo, suas quali da-des hermenut icas devem ser festeja-das e rapidamente incorporadas no quedesbravam sobre a produo de idiasno Brasil .
RAM OS, Alcida Rita. 1998. I nd ig en i s m :
Ethnic Pol it ics in Brazil . Mad ison, W is-
consin: The University of Wisconsin
P ress. 336 pp.
M aria Jos Alf aro Fre i re
M estranda, PPGA S-M N-UFRJ
[] por que os ndios brasileiros, se n-
do t o poucos, tm um lugar to pro e-minente na conscincia nacional? (:3).A pergunta que abre o livro revela ap reocupao centr al de A lcida Ramosnos dez arti gos que compem I nd ig e -n ism: Eth nic Politics in Brazil: re f l e t i rsobre o lugar do ndio no imaginrio dasociedade brasil eira, a partir do ma-peamento das mais diversas zonas decontato entre as populaes indgenas
e as vrias instncias da sociedade na-cional em uma perspectiva diacrnica.Ao reunir e organizar uma grandequantidade de informaes, o livro duma viso panormica das relaes in-tertnicas no pas, apresentando cuida-
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