aula 1 As Práticas Educativas

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  • 8/6/2019 aula 1 As Prticas Educativas

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    UNIMES VIRTUAL

    Aula: 01

    Temtica: As Prticas Educativas

    O vocbulo prtica nos muito familiar e, em um primei-ro momento, parece-nos totalmente dispensvel fazer umareexo sobre o mesmo, porm, vamos tomar por princpio

    o estranhamento com essas situaes e aspectos do cotidiano que nospaream mais triviais, mais familiares. Os nossos conceitos de prticaeducativa, prtica pedaggica, prtica didtica, tm se formado ao lon-go de um processo histrico, por meio de uma concepo mais antiga

    que vem sofrendo transformaes graduais. Vamos nos debruar sobrequestes que j foram e continuam a ser pensadas por educadores quereetem sobre o seu fazer, sua prpria prtica.

    Inciamos nossa reexo com os signicados do vocbulo prtica no Di-cionrio da Lngua Portuguesa. Encontramos referncias ao: ato ou efeitode praticar; ao uso, experincia, exerccio; rotina; hbito; saber provindoda experincia; tcnica; aplicao da teoria; licena concedida a navegan-tes para comunicarem com um porto ou uma cidade. Na Filosoa, prticarefere-se prxis.

    Dos vrios signicados que encontramos para o vocbulo prtica, comodocentes interessam-nos, especialmente, o saber provindo da experin-cia, tcnica e aplicao da teoria. No uso cotidiano, os conceitos deprtica e teoria costumam ser colocados em plos opostos. Em expres -ses usuais da nossa lngua dizemos: na prtica, a teoria outra. Essaexpresso de uso cotidiano contradiz o signicado encontrado no dicion-rio para prtica como aplicao da teoria. O que voc tem a dizer sobreisso? Concorda com o signicado de prtica como aplicao da teoria ouinclina-se para o de na prtica, a teoria outra? Aproveite para pensarsobre isso e questionar as pessoas do seu cotidiano sobre o par prticae teoria.

    Questionando muitas pessoas docentes e no docentes que fazemparte do nosso convvio cotidiano sobre os signicados dados ao par prti-ca/teoria, as respostas giraram em torno de trs grandes eixos:

    a teoria como uma explicao cientca e a prtica como fazer algumacoisa;

    a teoria como um modelo de realidade e a prtica como experinciadesse modelo;

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    a teoria como descrio de uma realidade e a prtica como a demons-trao dessa realidade.

    Podemos perceber que o primeiro eixo indicado acima relaciona a teoria Cincia, por compreend-la como uma explicao cientca, uma explica-o que possui as caractersticas do conhecimento cientco, um discursoespecializado. A segunda e terceira respostas sinalizam a possibilidadeda teoria ser produzida em qualquer lugar e por qualquer pessoa, j quequalquer pessoa pode, potencialmente, desenvolver uma explicao, ummodelo da realidade que a cerca, ou uma descrio sobre uma deter -minada realidade.

    Concordamos em que as teorias podem, potencialmente, ser produzidas

    em qualquer lugar por qualquer pessoa que tenha a possibilidade de de-senvolver a capacidade de perceber o seu meio, identicar determinadofenmeno e reetir sobre o mesmo. Uma teoria engloba um conjunto coe -rente de suposies, hipteses, com a nalidade de elucidar um fenme-no, ou seja, aquilo que se manifesta conscincia. Utilizamos o vocbuloelucidar no sentido dado pelo lsofo Cornelius Castoriadis Elucidao o trabalho pelo qual os homens tentam pensar o que fazem e saber o quepensam. (CASTORIADS, 1986:14)

    Nesse sentido, torna-se necessrio trabalhar com o par prtica/teoria conjun-tamente, como pares complementares e no opostos. A separao entre teoria

    e prtica uma das heranas gregas da cultura ocidental, pois o lsofo gregoAristteles concebeu a theoria como contemplao, como o grau mais ele-vado de conhecimento, em oposio ao conhecimento prtico techn, queseria a posse prtica de processos necessrios para executar um ato.

    No uso do senso comum tambm encontramos a associao de teoriacomo sendo aquelas informaes que captamos pela razo. Temos a in-formao sobre algo, mas no vivenciamos, no experimentamos essa in-formao. Por exemplo, nas aulas de Fundamentos da Educao entramosem contato com as teorias sobre o desenvolvimento humano de Piaget e

    Vigotsky. Essas informaes s passaro a ter um sentido para o sujeitose ele concluir, em sua experincia, que o conjunto de suposies de Vi-gotsky para elucidar o desenvolvimento humano faz sentido. Vamos seguircom esse exemplo. Em nossa trajetria pessoal, e de outras pessoas quenos cercam, podemos constatar que as nossas funes psicolgicas dememria e linguagem tm se construdo ao longo de nossa histria pesso-al em nossas relaes com os demais no mundo em que habitamos e queessa construo dependeu dos processos de aprendizagem que tivemosa oportunidade de vivenciar. Se concluirmos que esse conjunto de supo-sies faz sentido para explicar a realidade, essa teoria passa a orientar a

    nossa ao, a nossa prtica.

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    Se para um docente a teoria de Vygotsky sobre o desenvolvimento huma-no faz sentido, ele tratar de orientar o processo de aprendizagem valori-zando os aspectos sociais em suas aes. Assim dar importncia ao ato

    de ler como experincia intersubjetiva quer dizer, entre pessoas eintra-subjetiva ou sujeito consigo mesmo. Ele se preocupar com o quecada participante pode produzir de forma independente e com o auxlio dosdemais, pois no modelo histrico-cultural proposto por Vigostsky h doisnveis de desenvolvimento: o real e o potencial. O primeiro se refere ao queo sujeito consegue fazer por si prprio e o segundo se concretiza a partirda capacidade de aprender com as outras pessoas. A relao de distnciaentre o desenvolvimento real e o potencial cria a chamada Zona de Desen-volvimento Proximal (ZDP), que se refere potencialidade de aprender ouao espao que existe entre o que o sujeito pode aprender por si mesmo e

    o que ele pode fazer a partir da orientao e da interveno de um outrosujeito mais experiente. Desse modo, aprendizagem e desenvolvimentoso atividades colaborativas e sociais. Logo, o docente se perceber comoum mediador nesse processo.

    Por outro lado se o docente no encontra um sentido nateoria de Vigotsky, essa teoria representar apenas umainformao, dentre tantas outras de que dispe e no se

    transformar em conhecimento pessoal, da na prtica, a teoria ser ou-tra, ou seja, o discurso em ao (a ao do sujeito) se contradiz com o

    discurso acreditado (o discurso sobre a ao) do prossional.

    Nossa prtica revela o corpo de idias mais ou menos organizadoque, implcita ou explicitamente, fundamenta e justica nosso fazer.