4
1 AULA 16: TEORIA DO CASO 1. Definição A teoria do caso dá conta de algumas propriedades formais dos NPs. 2. Orações infinitivas e sujeitos fonéticos 2.1. Orações infinitivas Ex 1 : Eu quero [ CP que a Maria esteja em casa à meia-noite]. (finita) Ex 2 : *Eu quero [ CP a Maria estar em casa à meia-noite]. (infinitiva) Ex 3 : Eu i quero [PRO i estar em casa à meia-noite]. (infinitiva) Ex 4 : [O Fittipaldi] i parece [t i ter ganhado as 500 milhas]. (infinitiva) Ao contrário do que ocorre com as orações finitas, as orações infinitivas não admitem um sujeito fonético, somente o sujeito foneticamente nulo. A origem do problema parece estar na incompatibilidade entre uma flexão infinitiva e a presença de um sujeito fonético. 2.2. Orações infinitivas flexionadas Ex 5 : É importante [ os deputados assinarem a declaração]. (infinitiva flexionada) Ex 6 : *E importante [ os deputados assinar a declaração]. Ex 7 : É importante [PRO assinar a declaração]. (infinitiva) Ex 8 : Ele pediu [para os meninos saírem]. (infinitiva flexionada) A consideração das orações infinitivas flexionadas no português permite- nos precisar exatamente qual o elemento da flexão (qual elemento de I) UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE LETRAS LINGUÍSTICA III PROFESSORA: Adriana Leitão Martins

Aula 16 - Teoria Do Caso

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Aula 16 - Teoria Do Caso

1

AULA 16: TEORIA DO CASO

1. Definição

A teoria do caso dá conta de algumas propriedades formais dos NPs.

2. Orações infinitivas e sujeitos fonéticos

2.1. Orações infinitivas

Ex1: Eu quero [CPque a Maria esteja em casa à meia-noite]. (finita)

Ex2: *Eu quero [CPa Maria estar em casa à meia-noite]. (infinitiva)

Ex3: Eui quero [PROi estar em casa à meia-noite]. (infinitiva)

Ex4: [O Fittipaldi]i parece [ti ter ganhado as 500 milhas]. (infinitiva)

• Ao contrário do que ocorre com as orações finitas, as orações infinitivas

não admitem um sujeito fonético, somente o sujeito foneticamente nulo.

• A origem do problema parece estar na incompatibilidade entre uma

flexão infinitiva e a presença de um sujeito fonético.

2.2. Orações infinitivas flexionadas

Ex5: É importante [os deputados assinarem a declaração]. (infinitiva

flexionada)

Ex6: *E importante [os deputados assinar a declaração].

Ex7: É importante [PRO assinar a declaração]. (infinitiva)

Ex8: Ele pediu [para os meninos saírem]. (infinitiva flexionada)

• A consideração das orações infinitivas flexionadas no português permite-

nos precisar exatamente qual o elemento da flexão (qual elemento de I)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE LETRAS LINGUÍSTICA III PROFESSORA: Adriana Leitão Martins

Page 2: Aula 16 - Teoria Do Caso

2

que é incompatível com o sujeito lexical, visto que [+AGR] ocorre

independentemente do elemento [+T].

• A gramaticalidade da primeira sentença do conjunto anterior nos permite

afirmar que a presença de [+AGR] na flexão é suficiente para licenciar

um sujeito fonético. Se AGR estiver ausente, somente um sujeito

foneticamente nulo é possível.

Ex9: João é meu amigo.

Ex10: *João ser meu amigo.

3. Teoria do caso

Ex11: Caesar Belgas uincit.

nom. acus.

[Caesar derrotou os belgas]

Ex12: Belgae Caesarem tement.

nom. acus.

[Os Belgas temeram Caesar]

Ex13: He attacked him.

nom. acus.

[Ele atacou-o] / [Ele atacou ele]

Ex14: Je le vois.

nom. acus.

[Eu o vejo] / [Eu vejo ele]

Ex15: Eu comprei o livro.

nom. acus.

Ex16: Eu comprei-o. / Eu comprei ele.

nom. acus. nom. acus.

• Nós assumimos que o caso abstrato é parte da gramática universal,

enquanto a manifestação morfológica do caso é parametrizada. Sendo o

caso uma propriedade abstrata e universal, ainda que não seja

Page 3: Aula 16 - Teoria Do Caso

3

manifestado morfologicamente, todos os NPs, em todas as línguas,

possuem essa propriedade.

• Embora o inglês e o português não tenham marcação morfológica de

caso, encontrada, por exemplo, no latim e no alemão, elas têm um

vestígio de realização morfológica de caso (evidenciado no sistema

pronominal).

4. Filtro de caso

Todo NP foneticamente realizado deve receber caso.

5. Caso nominativo

• Sujeitos de orações finitas recebem caso nominativo, enquanto os sujeitos

de orações infinitivas recebem caso acusativo.

• O caso nominativo é, portanto, atribuído pela flexão (I). Mais

especificamente, por AGR.

6. Caso acusativo / oblíquo

Ex17: I believe [him to be a liar]

verbo

[Eu acredito que ele seja um mentiroso].

AGRP

AGR’

VP AGR [+3ª p. sing.]

NP (suj)

atribuição de caso nominativo

Page 4: Aula 16 - Teoria Do Caso

4

Ex18: [For him to attack Russia] would be surprising.

prep.

[Para ele atacar a Rússia seria surpreendente].

Ex19: Isso é [para eu fazer]. / Isso é [para nós fazermos].

nom. nom. – atribuído por AGR!

Ex20: Isso é [para mim fazer].

oblíquo. – atribuído pela preposição!

• Verbos transitivos atribuem caso acusativo e preposições atribuem caso

oblíquo nas configurações abaixo.

• Somente núcleos atribuem caso.

V NP

V'

killed him

NP

P'

P

towards him

• Caso é atribuído sob regência.

• No que diz respeito às categorias lexicais, a propriedade responsável pela

atribuição de caso é o traço sintático [-N] (as categorias lexicais são o

produto de uma combinação de traços distintivos binários, conforme o

esquema abaixo).

Adjetivo Preposição

Nome +N -V

Verbo +V -N