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1ª Edição | 2010 | O Brasil sob a Nova Ordem A economia brasileira contemporânea Uma análise dos governos Collor a Lula Rosa Maria Marques e Mariana Ribeiro Jansen Ferreira Organizadoras

Aula 28 a saúde pública sob a batuta da nova ordem (economia brasileira)

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1ª Edição | 2010 |

O Brasil sob a Nova Ordem

A economia brasileira contemporânea – Uma análise dos governos Collor a Lula

Rosa Maria Marques e Mariana Ribeiro Jansen Ferreira

Organizadoras

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Capítulo 11 A Saúde Pública sob a Batuta da

Nova Ordem

Áquilas Mendes

Rosa Maria Marques

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Capítulo 11

A Saúde Pública sob a Batuta da Nova Ordem

Introdução A disputa por recursos financeiros para uma política universal da saúde se tornou muito mais intensa a partir dos anos 1990. A política macroeconômica, especialmente aquela adotada pelas gestões de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva, fundada no tripé meta de inflação, superávit primário e câmbio flutuante, vem determinando as difíceis condições de financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS) e da Seguridade Social, sistemas instituídos pela Constituição Federal de 1988.

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Capítulo 11

A Saúde Pública sob a Batuta da Nova Ordem

A dominação financeira sustenta a permanência de uma política econômica que torna o social apenas um apêndice, sempre subordinado aos objetivos macroeconômicos. 1. As Características Estruturais do Sistema Único de Saúde (SUS) e da Seguridade Social e seu Esquema de Financiamento A partir de 1987, intensificam-se a discussão e a elaboração de uma nova Constituição, que iria definir as bases de sustentação de desenvolvimento do novo regime.

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Capítulo 11

A Saúde Pública sob a Batuta da Nova Ordem

Os constituintes consagraram na Constituição de 1988 a garantia de novos direitos sociais e princípios de organização da política social, os quais, pelo menos quanto às suas definições, modificaram alguns pilares básicos do sistema anterior de proteção social. No período anterior à Constituição de 1988, o financiamento do gasto federal em saúde foi em grande parte viabilizado por recursos do Fundo de Previdência e Assistência Social (FPAS). Nesse período, houve um aumento da participação dos recursos do Tesouro, de 13% em 1980 para 21% em 1990.

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Capítulo 11

A Saúde Pública sob a Batuta da Nova Ordem

O aumento da participação é explicado pelo fato de o governo federal ter incorporado o Finsocial, como se fosse um recurso do Tesouro, e pela queda do volume de recursos provenientes do FPAS. A acentuada dependência do financiamento do FPAS sugere a importância de se analisar o financiamento do sistema de proteção social como um todo. No período posterior à Constituição de 1988, tendo em vista a introdução de novos direitos – como a universalização da saúde, a definição de um piso para os benefícios previdenciários, entre outros -, os constituintes preocuparam-se em ampliar os recursos destinados ao financiamento da Seguridade Social, compreendida pela saúde, previdência, assistência social e pelo seguro-desemprego.

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Capítulo 11

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2. Saúde Pública e Dominância Financeira A universalização de direitos e a participação da comunidade na definição das políticas sociais, estabelecidas pela Constituição de 1988, tiveram como princípio fundador a superação do caráter meritocrático e a adoção da cidadania como critério de acesso. O domínio do capital portador de juros teve grande impacto sobre o arranjo da proteção social conhecido como Estado do Bem-Estar Social e sobre a relação capital/trabalho. O desemprego, antes restrito a problemas decorrentes do sistema imperfeito de informações entre a demanda e a oferta (o chamado desemprego friccional), passou a registrar elevadas taxas no mundo desenvolvido.

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Capítulo 11

A Saúde Pública sob a Batuta da Nova Ordem

O capital produtivo, sufocado pela dominação financeira, foi elevado a constranger os trabalhadores. No Brasil, a elevação da taxa de juros norte-americana incidiu em meio a uma tentativa de reequilibrar as contas externas com a promoção de uma recessão. O Estado desenvolvimentista, que foi elemento-chave do processo de industrialização, investindo em infraestrutura e criando estatais produtoras de matérias-primas essenciais, e que também tinha se preocupado em desenvolver os sistema público de proteção social, estava reduzido a poucas funções.

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Capítulo 11

A Saúde Pública sob a Batuta da Nova Ordem

3. Os Tensos Caminhos do Financiamento da Saúde Pública A implementação do SUS, ao longo dos 20 anos de sua existência, não foi isenta de tensões políticas e econômicas. Para abordar o financiamento do SUS a partir da Constituição de 1988, é importante, antes de tudo, identificar a existência de um duplo movimento em seu caminho, resultado da ação permanente e contraditória de dois princípios que se imbricam, embora cada um deles aponte para objetivos específicos.

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Capítulo 11

A Saúde Pública sob a Batuta da Nova Ordem

Por um lado, destaca-se o “princípio da construção da universalidade”, que afirma o direito de cidadania às ações e aos serviços de saúde, viabilizando o acesso de todos, por meio da defesa permanente de recursos financeiros seguros e suficientes. De outro lado, identifica-se o princípio da “contenção de gasto”, uma reação defensiva que se articula em torno da defesa da racionalidade econômica, com base em uma visão contábil-financeira.

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Capítulo 11

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3.1 Os embates por recursos financeiros suficientes e definidos No que diz respeito à relação entre SUS e orçamento da Seguridade Social, verifica-se uma tensão constante pela disputa de recursos em todos esses anos. Tendo em vista os novos direitos introduzidos na área previdenciária, a universalização da saúde e a criação da assistência social como política pública, a Constituição de 1988 preocupou-se em ampliar os recursos por meio de financiamento específico da Seguridade Social.

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Capítulo 11

A Saúde Pública sob a Batuta da Nova Ordem

Entre 1989 e 1993, houve especialização das fontes da Seguridade Social: os orçamentos destinaram a maior parte dos recursos do Cofins para a saúde, da CSLL para a assistência, e das contribuições de empregados e empregadores para a Previdência Social. Entre 1993 e 2005, as contribuições sociais constituíram de longe a principal fonte de financiamento da saúde, embora a presença de recursos fiscais seja significativa em alguns anos, principalmente quando dificuldades de continuidade da CPMF se apresentavam (1999).

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A crise provocada pelo não recebimento do repasse das contribuições, pela diminuição da presença de outras fontes da Seguridade e pela desvinculação da CPMF, Cofins e CSLL teve repercussões no desempenho do gasto federal com saúde a partir da segunda metade da década de 1990. A primeira Proposta de Emenda Constitucional (PEC) n.169, de autoria dos deputados Eduardo Jorge e Waldir Pires, foi formulada em 1993, quando o Ministério da Saúde solicitou o primeiro empréstimo ao FAT.

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A Emenda Constitucional n. 29 estabeleceu que Estados e Municípios precisariam alocar, no primeiro ano, pelo menos 7% das receitas de impostos, compreendidas as transferências constitucionais na saúde, percentual que deveria crescer anualmente até atingir, no mínimo, 12% para os Estados e 15% para os Municípios até 2004. 3.2 A política macroeconômica e seus impactos no financiamento do SUS A política macroeconômica do governo Fernando Henrique Cardoso, e mais recentemente a do governo Lula, determinou as frágeis condições de financiamento do SUS.

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3.2.1 O descumprimento do conceito de ações e serviços de saúde na União, nos Estados e nos Municípios Em todos os anos do primeiro mandato do governo Lula, a equipe econômica tentou introduzir itens de despesa que não são considerados gastos em saúde no orçamento do Ministério da Saúde. 3.2.2 Investidas na diminuição do orçamento do Ministério da Saúde A LDO para o orçamento de 2004 previa que os encargos previdenciários da União, o serviço da dívida e os recursos alocados no Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza fossem contabilizados como gastos SUS do Ministério da Saúde.

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3.2.3 Os recursos vinculados da EC n. 29 constituem preocupação da área econômica Em fins de 2003, o governo federal encaminhou documento referente ao novo acordo com o Fundo Monetário Internacional, comunicando sua intenção em preparar um estudo em relação às implicações das vinculações constitucionais das despesas sociais – saúde e educação – sobre as receitas dos orçamentos da União, dos Estados ou dos Municípios. Entre os principais itens do projeto de regulamentação da EC n. 29, destacam-se dois deles:

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1) A modificação da base de cálculo para a vinculação dos recursos da União, passando do valor apurado no ano anterior corrigido pela variação do PIB nominal para 10%, no mínimo, da sua receita corrente bruta. 2) O PLP n. 1/2003 trata da definição das despesas que devem ser consideradas ações e serviços de saúde e daquelas que não se enquadram nesse conceito.

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Capítulo 11

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Considerações Finais Diante da predominância de políticas econômicas neoliberais adotadas pelos governos FHC e Lula, em consonância com a atual fase de dominação financeira do capitalismo, a trajetória do financiamento da Seguridade Social em geral e do SUS em particular tem sido consideravelmente complicada. O entrave para o financiamento da saúde pública é que, mesmo com a vigência da Emenda Constitucional n. 29, assiste-se ao descumprimento da aplicação dos recursos da União e de grande parte dos Estados, aprofundando o financiamento do SUS e da Seguridade Social.

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Capítulo 11

A Saúde Pública sob a Batuta da Nova Ordem

As possibilidades de valorização do financiamento do SUS podem ser alcançadas por outros percursos. Uma possibilidade concreta desse projeto seria buscar a construção de consensos em relação às políticas e instituições responsáveis pelas políticas universalistas, assegurando o modelo de desenvolvimento econômico com ampliação dos direitos sociais.