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GRUPO A energia que fez crescer um grupo Negócio familiar, o grupo Painhas está em Espanha, Angola, Arábia Saudita e Qatar. Texto Ana Campos. Foto Egidio Santos O Em 1980, Manuel Painhas, hoje com 56 anos, comprou uma pequena empresa de comercialização de material elétrico. Nes- se mesmo ano, o jovem engenheiro eletro- técnico, formado pela Faculdade de Enge- nharia da Universidade do Porto, foi pai pela primeira vez. Desde muito cedo que a filha, Helena Painhas, administra a empre- sa, juntamente com Pedro Pinho, 38 anos, CFO do grupo Painhas. De tal forma que hoje, aos 31 anos, Helena Painhas diz, em tom de brincadeira, que ela ea empresa são como gémeas: têm exatamenle a mes- ma idade e cresceram juntas. Seguindo as pisadas do pai A mais velha de cinco irmãs, recorda-se de assistir, fascinada, à montagem das linhas aéreas da REN, pois os trabalha- dores pareciam "autênticos trapezistas, com uma capacidade de força, perícia e flexibilidade" que lhe fazia lembrar o cir- co. Foi criada pelo pai, fundador e atual chairman do grupo, para que viesse a gerir a empresa, apesar de ter sentido que algu- mas pessoas duvidaram que "uma mulher da segunda geração" pudesse fazer crescer um grupo económico e vingar num mun- do de homens. Helena Painhas acabou por provar que isso era possível. Hesitante entre se formar em Enge- nharia ou Gestão, acabou por seguir as pisadas do pai, licenciando-se no mesmo curso pela mesma faculdade. Recorda que um professor levou um case study de uma hídrica que Helena Painhas visitara mui- tas vezes, pois pertencia ao seu pai. Enquanto estudava na universidade e depois de concluída a licenciatura, tirou ainda várias formações em diferentes áreas de gestão, de forma a colmatar as falhas que sentia. Atualmente, considera que os conhecimentos em engenharia e das áreas core do grupo são fundamentais para o bom desempenho como gestora. Com 1010 colabo radores nos seus quadros, o grupo de Viana do Cas telo registou uma íàluração de 180 milhões de euros, no ano passado Diversificação e internacionalização Quando Helena Painhas assumiu as rédeas do grupo, em 2004, a empresa, que se dedicava exclusivamente à prestação de serviços nas áreas da energia e das teleco- municações, diversificou as suas áreas de atuação, criando-se o grupo Painhas que fechou o ano passado com um volume de faturação de 180 milhões de euros. O grupo é encimado por uma SGPS (Sociedade Gestora de Participações So- ciais) familiar que tem participações em várias empresas, com sede em Viana do Castelo e em Braga. Tem nos seus quadros 1010 colaboradores diretos, sendo apoia- da por mais 820 técnicos. Atua em cinco áreas de atividade distintas: eletricidade; telecomunicações e gás; a área que esteve na origem do grupo; energia e ambiente; comunicação; imobiliária; e formação.

energia que fez crescer - ClipQuick · Helena Painhas é filha do fundador. Sob a sua batuta, o grupo Painhas diversificou a sua atividade Em 2005, começou a aventura interna- cional,

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Page 1: energia que fez crescer - ClipQuick · Helena Painhas é filha do fundador. Sob a sua batuta, o grupo Painhas diversificou a sua atividade Em 2005, começou a aventura interna- cional,

GRUPO

A energia quefez crescerum grupoNegócio familiar, o grupo Painhas está em Espanha, Angola,Arábia Saudita e Qatar. Texto Ana Campos. Foto Egidio Santos

O Em 1980, Manuel Painhas, hoje com 56

anos, comprou uma pequena empresa de

comercialização de material elétrico. Nes-

se mesmo ano, o jovem engenheiro eletro-

técnico, formado pela Faculdade de Enge-nharia da Universidade do Porto, foi paipela primeira vez. Desde muito cedo que a

filha, Helena Painhas, administra a empre-sa, juntamente com Pedro Pinho, 38 anos,CFO do grupo Painhas. De tal forma quehoje, aos 31 anos, Helena Painhas diz, emtom de brincadeira, que ela e a empresasão como gémeas: têm exatamenle a mes-ma idade e cresceram juntas.

Seguindo as pisadas do paiA mais velha de cinco irmãs, recorda-sede assistir, fascinada, à montagem das

linhas aéreas da REN, pois os trabalha-dores pareciam "autênticos trapezistas,com uma capacidade de força, perícia e

flexibilidade" que lhe fazia lembrar o cir-co. Foi criada pelo pai, fundador e atualchairman do grupo, para que viesse a gerira empresa, apesar de ter sentido que algu-mas pessoas duvidaram que "uma mulherda segunda geração" pudesse fazer crescer

um grupo económico e vingar num mun-do de homens. Helena Painhas acabou porprovar que isso era possível.

Hesitante entre se formar em Enge-nharia ou Gestão, acabou por seguir as

pisadas do pai, licenciando-se no mesmo

curso pela mesma faculdade. Recorda queum professor levou um case study de umahídrica que Helena Painhas já visitara mui-tas vezes, pois pertencia ao seu pai.

Enquanto estudava na universidade e

depois de concluída a licenciatura, tirouainda várias formações em diferentesáreas de gestão, de forma a colmatar as

falhas que sentia. Atualmente, considera

que os conhecimentos em engenharia e

das áreas core do grupo são fundamentais

para o bom desempenho como gestora.

Com 1010 colaboradores nos seusquadros, o grupode Viana do Castelo registou umaíàluração de 180

milhões de euros,no ano passado

Diversificação e internacionalizaçãoQuando Helena Painhas assumiu as rédeas

do grupo, em 2004, a empresa, que se

dedicava exclusivamente à prestação de

serviços nas áreas da energia e das teleco-

municações, diversificou as suas áreas de

atuação, criando-se o grupo Painhas quefechou o ano passado com um volume de

faturação de 180 milhões de euros.O grupo é encimado por uma SGPS

(Sociedade Gestora de Participações So-ciais) familiar que tem participações emvárias empresas, com sede em Viana doCastelo e em Braga. Tem nos seus quadros1010 colaboradores diretos, sendo apoia-da por mais 820 técnicos. Atua em cincoáreas de atividade distintas: eletricidade;telecomunicações e gás; a área que estevena origem do grupo; energia e ambiente;comunicação; imobiliária; e formação.

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Helena Painhas é filha do fundador.Sob a sua batuta, o grupo Painhasdiversificou a sua atividade

Em 2005, começou a aventura interna-cional, com a constituição da PA Espanha,com sede em Vigo, para atuar nos sectoresde atividade da energia e telecomunica-ções. A sua gestão é feita a partir de Portu-gal porque "devido à proximidade geográ-fica a gestão de recursos humanos é muitofácil". Três anos depois, o grupo parte paraAngola com o objetivo de construir edi-fícios com a tecnologia lightweight steel

frame. Foi uma experiência que correumal e trouxe muitos dissabores. "Come-

çámos mal, tínhamos uma pequena par-ticipação numa empresa e optámos porseguir um modelo de gestão pouco pro-fissional e depois tivemos de corrigir umasérie de coisas", conta.

Em 2009, lançaram-se no Qatar, cons-tituindo a PA Golf, com sede em Doha,com as áreas core do grupo, energia e

telecomunicação. No ano seguinte, com

os mesmos sectores de atividade, imple-mentaram-se na Arábia Saudita com a PA

Cost International com sede na Alkhobar.

Aqui a oportunidade surgiu por convite."Um saudita achava que era uma áreade negócio interessante para completaruma que ele já tinha e convidou-nos a

fazer uma joint-venture" , conta HelenaPainhas.

A gestora revela que nestas duas últi-mas internacionalizações fizeram o "cami-nho das pedras" . "O Qatar tem um governomuito aberto, tem uma taxa de crescimen-to na ordem dos 18% e é o maior produtorde gás natural do mundo", diz. A implan-tação da empresa está correr bem, conse-

guiram arranjar um bom parceiro local e

têm tido "boas execuções nos trabalhos"feiros. Estes dois mercados internacionais

responderam por perto de 10 milhões de

euros de faturação no ano passado.

O contexto económico em que a

empresa opera mudou consideravelmente.Em 2004, a Painhas era um dos 50 pres-tadores de serviço que trabalhavam paraa EDP; atualmente são apenas sete. "Hou-ve imensas empresas que faliram e outras

passaram a trabalhar para nós, como

subempreiteiros. Só há lugar para os gran-des e para empresas que estão bem organi-zadas, que são profissionais, magras, quefizeram otimizações a todos os níveis. E

nós mudámos muito nesse aspeto por uma

questão de sobrevivência", explica.

Negócios menos afetados pela criseOs negócios da energia e das telecomu-

nicações em Portugal assistiram a umaredução drástica de margem de rentabili-dade. O facto de existirem cada vez menosconcursos e obras faz com que algumasempresas, revela Helena Painhas, con-corram com preços muito baixos, o que a

longo prazo torna a situação insustentável

e afeta a saúde económica e financeira das

empresas. "As falências também têm quever com o facto de o mercado não se saber

comportar", comenta.O facto de as áreas principais de ati-

vidade deste grupo serem bens de neces-sidade resguarda-o da maior parte dosefeitos da crise económica, sentidos porsociedades que atuam noutros sectoresde atividade. Apesar disso, e ainda ?

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? de estarem bem implementados edeterem uma posição de parceria com a EDP,

a PT e a REN, por exemplo, Helena Painhasnão deixa de se preocupar com o atualmomento de contração económica. Acre-dita que em Portugal o grupo vai estar "à

justa e que têm de ter tudo extremamentebem gerido, sem fugir aos orçamentos e

sem margem para erros e desperdícios".É neste contexto económico que a

internacionalização se revela ter consti-tuído um passo seguro e aceitado, pois a

diversificação das fontes de receita ajudaa enfrentar ciclos conjunturais negativosno mercado doméstico: "As medidas deausteridade são complicadas. As nossas

equipas estão conscientes disso e vai ser

importante o trabalho que tem sido fei-to com a internacionalização. A presençano exterior vai ser bastante importante",salienta a empresária.

Parcerias para ganhar uma fatia do bolo

Outro fator importante para garantir umcrescimento consistente é encontrar os

"aliados certos em vez de se tentar compe-tir com todos". Para apresentar propostasglobais, a empresa aposta em parcerias quecomplementem as áreas que não domina."Mais vale termos uma fatia de um bolobom do que termos um inteiro mau", com-

para. A mesma conceção está presente no

projeto de expansão para os mercadosexternos. "Ainda somos muito pequenos,às vezes, nem com a concorrência toda

junta de Portugal se consegue ter peso naArábia Saudita. Temos de ter esta visão."Insiste na importância dos acordos win-win-win, em que os três termos represen-tam as empresas, a banca e o governo - a

ajuda do governo deve ser prestada porquea internacionalização das empresas "trazretorno económico para o país".

Objetivos para o futuro? Sobreviver à

crise, sendo fiéis aos seus compromissos,

reforçar as relações de parceria, e crescerainda mais pela internacionalização, res-

ponde Helena Painhas. ©