Upload
others
View
0
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Aulas Multimídias – Santa Cecília
Professor André Araújo
Disciplina: Literatura
Série: 2º ano EM
Modernismo
2ª fase
(1930 – 1945)
Poesia
• Nas décadas de 1930 e 40, a poesia brasileira vivia um
de seus melhores momentos. Tratava-se de um período
de maturidade e alargamento das conquistas
modernistas da primeira geração.
• Maturidade porque já não havia necessidade de
escandalizar os meios culturais acadêmicos. Sem
radicalismos e excessos, os poetas sentem-se à
vontade tanto para escrever um poema com versos
quanto para fazer um soneto, sem que isso significasse
voltar ao Parnasianismo.
A poesia da segunda geração modernista foi,
essencialmente, uma poesia de questionamento: da
existência humana, do sentimento de “estar-no-
mundo”, das inquietações social, religiosa,
filosófica, amorosa.
Principais poetas
Murilo Mendes
• Olhar irreverente dos primeiros
modernistas;
• Recuperação de textos do Quinhentismo;
• Tendência religiosa como consolo para a
existência humana;
• Influências surrealistas.
Texto I
Canção do exílio
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
Texto II
Pré-história
Mamãe vestida de rendas
Tocava piano no caos.
Uma noite abriu as asas
Cansada de tanto som,
Equilibrou-se no azul,
De tonta não mais olhou
Para mim, para ninguém:
Cai no álbum de retratos.
Jorge de Lima
Multiplicidade de temas (o negro, a
sociedade, Deus, a infância,...),
semelhante a Murilo Mendes;
Tom coloquial e afetividade.
Texto III
Mulher proletária
Mulher proletária - única fábrica
que o operário tem, (fabrica filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.
Mulher proletária,
0 operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção, a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar o teu proprietário.
Vinícius de Moraes
Poeta social, sensual, transcendente;
Tematizou o amor e a mulher;
Influências simbolistas;
Uso do soneto, da rima e da metrificação;
Religiosidade e angústia associada à oscilação entre
matéria e espírito;
Poesia do cotidiano e dos relacionamentos amorosos;
Texto IV
Soneto de separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Vinícius de Moraes
Escritora intuitiva;
Inclinação neo-simbolista;
Espiritualidade e musicalidade;
Poesia reflexiva e filosófica, tematizando a transitoriedade
da vida e a fugacidade do tempo e das coisas;
Reflexões sobre questões de natureza política e social;
Imagens da natureza e do infinito;
Revisitação da Inconfidência Mineira.
Texto X
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida esta completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
Cecília Meireles
Texto XIRomance XXIV ou da Bandeira da Inconfidência
(...)
Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
brilham fardas e casacas,
junto com batinas pretas.
E há finas mãos pensativas,
entre galões, sedas, rendas,
e há grossas mãos vigorosas,
de unhas fortes, duras veias,
e há mãos de púlpito e altares,
de Evangelhos, cruzes, bênçãos.
(...)
Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
uns sugerem, uns recusam,
uns ouvem, uns aconselham.
Se a derrama for lançada,
há levante, com certeza.
(...)
Coisas da Maçonaria,
do Paganismo ou da Igreja?
A Santíssima Trindade?
Um gênio a quebrar algemas?
Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
entre sigilo e espionagem,
acontece a Inconfidência.
(...)
LIBERDADE, AINDA QUE TARDE,
ouve-se em redor da mesa.
E a bandeira já está viva,
e sobe, na noite imensa.
E os seus tristes inventores
já são réus — pois se atreveram
a falar em Liberdade
(que ninguém sabe o que seja).
Liberdade, essa palavra
Que o sonho humano alimenta
Que não há ninguém que explique
E ninguém que não entenda.
Texto XII
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.