16
AUTONOMIA DAS EMPRESAS BRASILEIRAS NA FORMAÇÃO DO CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO - UM ESTUDO EXPLORATÓRIO NO SETOR DE BENS INDUSTRIAIS ADAIL MARCOS LIMA DA SILVA (UFCG ) [email protected] Mesmo sendo possível recrudescer o saldo do capital circulante líquido com recursos próprios e de terceiros, o endividamento não circulante deve ser evitado em virtude de a despesa financeira prejudicar a geração de autofinanciamento. Sendoo assim, quanto mais autônomo o processo de formação do capital circulante líquido, menor o risco associado à perda progressiva de liquidez - provocada por baixas taxas de geração de autofinanciamento. Este trabalho teve como objetivo investigar a história recente das empresas brasileiras do setor de Bens Industriais quanto ao grau de autonomia praticado em face da necessidade de formação do capital circulante líquido. Sobre o conjunto de dados empregados no processamento dos resultados: amostras para ativo circulante, passivo circulante, ativo total, dívida bruta, patrimônio líquido, liquidez corrente e capital circulante líquido. Quanto ao conjunto de métodos estatísticos utilizados para a obtenção dos resultados: estatística não paramétrica, com as aplicações do teste Wilcoxon (amostra única), do teste Mann-Whitney- Wilcoxon (amostras independentes), da correlação por postos de Spearman e da regressão monotônica. Os resultados indicam um período recente marcado pela predominância de saldos positivos ao capital circulante líquido; superioridade do capital próprio nas estruturas de financiamento das empresas; maior sensibilidade do capital circulante líquido em relação ao capital próprio; inexistência de associação entre capital circulante líquido e dívida bruta. A união dos resultados mencionados ratificam às empresas do setor de Bens Industriais a prática majoritária de manter o processo de formação do capital circulante líquido de modo autônomo, sendo uma característica relevante à prevenção de configurações financeiras desfavoráveis em períodos de crise econômica. Palavras-chave: Capital circulante líquido, formação autônoma, Bens Indsutriais. XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

AUTONOMIA DAS EMPRESAS BRASILEIRAS NA FORMAÇÃO …abepro.org.br/biblioteca/TN_STO_228_333_30823.pdf · Whitney-Wilcoxon (amostras independentes), da correlação por postos de Spearman

Embed Size (px)

Citation preview

AUTONOMIA DAS EMPRESAS

BRASILEIRAS NA FORMAÇÃO DO

CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO - UM

ESTUDO EXPLORATÓRIO NO SETOR

DE BENS INDUSTRIAIS

ADAIL MARCOS LIMA DA SILVA (UFCG )

[email protected]

Mesmo sendo possível recrudescer o saldo do capital circulante

líquido com recursos próprios e de terceiros, o endividamento não

circulante deve ser evitado em virtude de a despesa financeira

prejudicar a geração de autofinanciamento. Sendoo assim, quanto

mais autônomo o processo de formação do capital circulante líquido,

menor o risco associado à perda progressiva de liquidez - provocada

por baixas taxas de geração de autofinanciamento. Este trabalho teve

como objetivo investigar a história recente das empresas brasileiras do

setor de Bens Industriais quanto ao grau de autonomia praticado em

face da necessidade de formação do capital circulante líquido. Sobre o

conjunto de dados empregados no processamento dos resultados:

amostras para ativo circulante, passivo circulante, ativo total, dívida

bruta, patrimônio líquido, liquidez corrente e capital circulante

líquido. Quanto ao conjunto de métodos estatísticos utilizados para a

obtenção dos resultados: estatística não paramétrica, com as

aplicações do teste Wilcoxon (amostra única), do teste Mann-Whitney-

Wilcoxon (amostras independentes), da correlação por postos de

Spearman e da regressão monotônica. Os resultados indicam um

período recente marcado pela predominância de saldos positivos ao

capital circulante líquido; superioridade do capital próprio nas

estruturas de financiamento das empresas; maior sensibilidade do

capital circulante líquido em relação ao capital próprio; inexistência

de associação entre capital circulante líquido e dívida bruta. A união

dos resultados mencionados ratificam às empresas do setor de Bens

Industriais a prática majoritária de manter o processo de formação do

capital circulante líquido de modo autônomo, sendo uma característica

relevante à prevenção de configurações financeiras desfavoráveis em

períodos de crise econômica.

Palavras-chave: Capital circulante líquido, formação autônoma, Bens

Indsutriais.

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .

2

1. Introdução

Independentemente do tipo de análise empregada na investigação da situação financeira das

empresas segundo um horizonte de curto prazo, podendo a perspectiva da abordagem ser

estática ou dinâmica, o capital circulante líquido participa como variável explicativa para

diversas as configurações, quer sejam classificadas como favoráveis ou desfavoráveis –

configurações financeiras de curto prazo desfavoráveis, por exemplo, são majoritariamente

justificadas pela escassez de capital circulante líquido (BRASIL; BRASIL, 2002;

CAMARGOS; CAMARGOS; LEÃO, 2014; FLEURIET; KEHDY; BLANC, 2003; NEIVA,

2008; STARKE JUNIOR, 2008; SILVA et al., 2012; ZANOLLA et al., 2014).

Representando a parcela do ativo circulante financiada por fontes de longo prazo, o capital

circulante líquido pode ser fomentado com recursos próprios e de terceiros. Especificamente

em relação ao endividamento não circulante, deve seu emprego ser evitado devido à despesa

remuneratória intrínseca (juros) prejudicar a geração de autofinanciamento, mais indicado ao

financiamento da necessidade de investimento em giro (FLEURIET; KEHDY; BLANC,

2003). Sendo assim, quanto mais autônoma a formação do capital circulante líquido, menor o

risco decorrente da perda progressiva de liquidez a longo prazo.

Em períodos marcados pela vigência de crises econômicas, as empresas passam a enfrentar

dificuldades severas quanto à capacidade de gerar autofinanciamento, comprometendo

significativamente a adoção de uma política autônoma quanto à formação do capital

circulante líquido. Uma saída para enfrentar a escassez de autofinanciamento encontra-se na

adoção de estratégias direcionadas à adequação da capacidade instalada à nova realidade,

caracterizada pelo arrefecimento da demanda.

Com base no exposto, surge a seguinte questão de pesquisa: considerando o cenário

atualmente enfrentado pela economia brasileira, marcado por forte desaceleração, com o

produto interno bruto atingindo níveis inclusive negativos, como pode ser descrita a história

recente do setor de Bens Industriais quanto ao grau de autonomia implementado na formação

do capital circulante líquido?

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .

3

Destarte, este trabalho teve como objetivo investigar a história recente das empresas

brasileiras do setor de Bens Industriais quanto ao grau de autonomia praticado em face da

necessidade de formação do capital circulante líquido.

Os dados utilizados no desenvolvimento deste trabalho foram coletados exclusivamente do

site www.comdinheiro.com.br. Em relação ao tratamento quantitativo empregado: estatística

não paramétrica, com as aplicações do teste Wilcoxon (amostra única), do teste Mann-

Whitney-Wilcoxon (amostras independentes), da correlação por postos de Spearman e da

regressão monotônica.

2. Fundamentação Teórica

2.1 A Situação financeira das empresas e o capital circulante líquido

Independentemente da abordagem empregada na análise de liquidez, se estática ou dinâmica,

de forma predominante a participação do capital oriundo das fontes de longo prazo no

financiamento do ativo circulante (AC) deve ser tida como indispensável à manutenção da

folga financeira das empresas (BRASIL; BRASIL, 2002; FLEURIET; KEHDY; BLANC,

2003; CAMARGOS; CAMARGOS; LEÃO, 2014; NEIVA, 2008; STARKE JUNIOR, 2008;

SILVA et al., 2012; ZANOLLA et al., 2014).

O saldo dos recursos originários das fontes de longo prazo e alocados no AC recebe a

denominação de capital circulante líquido (CCL), podendo ser calculado com a Fórmula 01,

diferença entre AC e passivo circulante (PC), sua versão de cálculo elementar (ASSAF

NETO, 2015; FLORIANI; LAY; SILVA, 2015; LUSTROSA, 1997; MATARAZZO, 2010;

SILVA, 2013; SILVEIRA; ZANOLLA; MACHADO, 2015).

A tradicional análise de liquidez explica como a relação complementar entre as fontes de

curto e de longo prazos, no sustendo do AC, responsabiliza-se pelo tipo de configuração

identificada, se com ou sem alguma folga financeira – a partir da Fórmula 02, resultado do

isolamento do AC na Fórmula 01, tem-se como melhor compreender a referida relação

(ASSAF NETO, 2015; ASSAF NETO; SILVA, 2012; MATARAZZO, 2010).

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .

4

Quanto mais o CCL participar da composição do AC, mais intensa a folga financeira, isso de

acordo com a perspectiva estática de análise, amparada na quantidade residual de AC em face

da hipótese de ser exigida a liquidação integral do PC – abordagem do tipo falimentar, com

ênfase na solvência (BRASIL; BRASIL, 2002).

O índice de liquidez corrente (LC), por exemplo, confronta, a partir de um quociente, os

saldos do AC (numerador) e do PC (denominador), como mostra a Fórmula 03; trata-se da

iniciativa de averiguar a quantidade monetária existente de AC para fazer frente a cada

unidade monetária exigida pelo PC, no caso de a empresa avaliada ter encerrada suas

atividades fins exatamente no instante correspondente à apuração dos saldos do AC e do PC

(BRASIL; BRASIL, 2002; FLEURIET; KEHDY; BLANC, 2003; MATARAZZO, 2010).

A partir da Fórmula 04, resultado da substituição na Fórmula 03 do AC pela soma indicada na

Fórmula 02, percebe-se, em relação à abordagem estática de análise, como o CCL exerce

ingerência sobre o conceito de folga financeira (LUSTROSA, 1997; MATARAZZO, 2010;

SILVA, 2013). Primeiramente, tem-se a exigência de qualquer saldo positivo ao CCL para

LC > 1,00; o intervalo 1,00 < LC < 1,50 encontra justificativa em 0,00 < CCL < PC/2; para

1,50 ≤ LC < 2,00, necessariamente deve ocorrer PC/2 ≤ CCL < PC; finalmente, faz-se

indispensável CCL ≥ PC para justificar LC ≥ 2,00.

Assim como o LC, outros indicadores da análise de liquidez estática também podem ter suas

respostas justificadas a partir do volume assumido pelo saldo do CCL. Todavia, para este

trabalho, as explicações acerca dos valores obtidos ao LC são suficientes, dada a intenção de

esclarecer a dependência da capacidade de pagamento de curto prazo em relação ao saldo do

CCL (MATARAZZO, 2010; SILVA, 2013).

A transição do modelo estático para o dinâmico de análise de liquidez requer compreensão da

diferença entre ambos, em poucas palavras explicada, com grande precisão, por Brasil e

Brasil (2002, p. 4) da seguinte maneira: “é melhor ter um cliente vivo do que o seu espólio, de

valor sempre problemático”. Brasil e Brasil (2002, p. 2) ainda sugerem um pergunta como

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .

5

forma de esclarecer a abordagem dinâmica: “Como pode a empresa continuar a saldar seus

compromissos, mantendo-se em funcionamento?”

Tal qual como ocorre na perspectiva estática, na análise de liquidez dinâmica a folga

financeira também depende do saldo do CCL; enquanto a primeira confronta os saldos do

CCL e do PC, de modo a conseguir aferir a capacidade de liquidação do endividamento de

curto prazo em caso de falência, a segunda compara o CCL com a necessidade de

investimento em giro (NIG), devido à preocupação de saber se após o financiamento de suas

atividades fins uma empresa conseguirá manter algum saldo residual das fontes de longo para

garantir alguma folga de liquidez (CAMARGOS; CAMARGOS; LEÃO, 2014; SILVA et al.,

2012; SILVA, 2013; VIEIRA, 2008).

A Fórmula 05 facilita a compreensão dos objetivos do CCL (FLEURIET; KEHDY; BLANC,

2003): deve financiar a NIG, providenciando o cumprimento normal do conjunto das

atividades fins; e, ainda, proporcionar margem de segurança financeira, monetariamente

representada pelo saldo de tesouraria (T). A união entre o financiamento integral da NIG e a

formação de saldos positivos adequados ao T, exatamente a dupla função do CCL, torna a

contratação do crédito oneroso de curto prazo efetivamente errática, sem interferência

permanente sobre o funcionamento do ciclo operacional.

Tratado por Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003) como margem de segurança financeira e por

Camargos, Camargos e Leão (2014) como folga de liquidez, o T efetivamente representa a

folga financeira em contexto dinâmico.

Quando, por diversos motivos, o saldo do CCL apresentar-se inferior à exigência mínima

oriunda da extensão do ciclo financeiro, precisamente a NIG, tem-se configurada uma

situação prejudicial, apresentando as seguintes características (BRASIL; BRASIL, 2002;

CAMARGOS; CAMARGOS; LEÃO, 2014; FLEURIET; KEHDY; BLANC, 2003; NEIVA,

2008; STARKE JUNIOR, 2008; SILVA, 2013; VIEIRA, 2008): aperto financeiro,

confirmado com o valor negativo do T; dependência do crédito oneroso de curto prazo para

atender a NIG – emprego permanente do crédito oneroso de curto prazo na viabilização das

atividades fins desencadeia a configuração financeira conhecida como efeito tesoura.

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .

6

Como dito no início, o saldo do CCL deriva do quanto do saldo do capital oriundo das fontes

de longo prazo é destinado ao financiamento do AC. Quanto à ingerência do endividamento

de longo prazo na administração do saldo do CCL Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003, p. 43)

trazem a seguinte orientação: “De modo geral, o aumento do endividamento a longo e médio

prazos não é adequada para melhorar o capital de giro de forma sustentável”. A principal

justificativa também é esclarecida por Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003, p. 45): “As despesas

financeiras reduzem o autofinanciamento e, por consequência, a taxa de autofinanciamento”.

A mesma compreensão cabe ao aporte de capital próprio, pois o pagamento de dividendos

também compromete a geração de mais autofinanciamento (FLEURIET; KEHDY; BLANC,

2003).

Ainda, Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003, p. 42) explicam como deve ser evitado o efeito tesoura:

“O autofinanciamento da empresa deve ser suficiente para financiar, pelo menos, os aumentos

de sua necessidade de capital de giro (NCG)”.

3 Aspectos Metodológicos

Três investigações-chave foram determinantes ao alcance satisfatório do objetivo geral desta

pesquisa, todas contextualizadas em âmbito setorial: a primeira diz respeito à investigação da

participação das fontes de longo prazo no AC, em virtude da necessidade de saber se as

empresas do setor mantiveram ou não, predominantemente, saldos positivos ao CCL; a

segunda averigua as proporções assumidas pelas fontes de longo prazo na estrutura de capital,

dada a utilidade da informação quanto à ocorrência de participações equivalentes ou não para

PL e dívida bruta (DB); a terceira defende a análise detalhada e isolada das relações do CCL

(variável dependente) com PL (variável independente) e DB (variável independente), pois os

níveis de sensibilidade podem ser tidos como reflexos do modo como as empresas

conduziram o processo de formação do CCL, se com ou sem ingerência significativa da DB.

Cada investigação-chave mencionada representa um tópico da seção correspondente à

apresentação e análise dos resultados. Enfim, reunir informações sobre o saldo

predominantemente mantido ao CCL, as proporções das fontes de longo prazo na estrutura de

capital e os graus de sensibilidade do CCL em face das fontes de longo prazo, torna viável a

análise da autonomia com a qual as empresas brasileiras do setor de Bens Industriais

mantiveram saldos positivos ao CCL.

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .

7

Todos os dados empregados na viabilização deste trabalho são originários do site

www.comdinheiro.com.br; levando-se em conta os saldos trimestrais ocorridos no período de

31/03/2008 até 30/06/2015, portanto um histórico de 30 trimestres, foram levantadas cinco

amostras para cada empresa, vinculadas ao LC e aos saldos do ativo total (AT), do CCL, do

PL e da DB; das 34 empresas listadas na BM&FBOVESPA como pertencentes ao setor de

Bens Industriais, duas foram excluídas do processamento dos dados por não apresentarem

históricos suficientes à formação de uma ou mais amostras.

Para a primeira investigação-chave, buscou-se inferir se as empresas do setor de Bens

Industriais mantiveram, de forma predominante, o LC acima de 1,00, sendo o bastante ao

levantamento de conclusões acerca da manutenção de saldos positivos ao CCL; os 32

históricos reunidos (26 com 30 trimestres, dois com 29 e mais quatro com 28, 27, 26 e 22)

subsidiaram, para o LC, a consolidação de uma amostra composta de 941 valores distintos; a

partir do teste de Wilcoxon Amostra Única, aplicado segundo um nível de significância de

0,05, averiguou-se se as empresas do setor de Bens Industriais majoritariamente conseguiram

manter saldos positivos ao CCL – foram definidas H0: LC ≤ 1,00 (predominantemente as

empresas mantiveram saldos ao CCL menores ou iguais a zero) e H1: LC > 1,00

(predominantemente as empresas mantiveram saldos positivos ao CCL).

As investigações-chave segunda e terceira contaram com a participação de 24 empresas,

selecionadas com base nos seguintes critérios: exclusão dos trimestres com PL < 0,00;

exclusão dos trimestres com LC ≤ 1,00; finalmente, após a consideração conjunta dos dois

critérios iniciais, exclusão das empresas com menos de dez trimestres. Ainda, as inferências

realizadas utilizaram amostras para os indicadores DB/AT (participação da dívida no

financiamento dos ativos), PL/AT (participação do capital próprios no financiamento dos

ativos) e CCL/AT (valor relativo do CCL em relação ao total dos ativos); cada amostra

composta de 24 observações de médias trimestrais calculadas para as empresas – 24 valores

médios para DB/AT, PL/AT e CCL/AT.

Fazendo uso das amostras DB/AT e PL/AT, com o teste Mann-Whitney-Wilcoxon, aplicado

segundo um nível de significância de 0,05, a segunda investigação-chave buscou inferir sobre

como as empresas do setor de Bens Industriais utilizaram as fontes de longo prazo durante os

trimestres; foram definidas H0: DB/AT ≥ PL/AT (as empresas mantiveram saldos para o

endividamento não circulante maiores ou iguais aos saldos do capital próprio) e H1: DB/AT <

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .

8

PL/AT (as empresas mantiveram saldos para o endividamento não circulante inferiores aos

saldos do capital próprio).

Especificamente para a terceira investigação-chave: as amostras foram organizadas em dois

grupos de pares ordenados; 24 pares ordenados para CCL/AT (variável explicada) e PL/AT

(variável explicativa); 24 pares ordenados para CCL/AT (variável explicada) e DB/AT

(variável explicativa); para aferir o nível de associação entre as variáveis, em ambos os

grupos, aplicou-se o teste de correlação por postos de Spearman, segundo um nível de

significância de 0,05, com H0: rCCL/AT, PL/AT = 0,00 (inexistência de correlação significativa

entre CCL e PL) e H1: rCCL/AT, PL/AT ≠ 0,00 (existência de correlação significativa entre CCL

e PL), assim como H0: rCCL/AT, DB/AT = 0,00 (inexistência de correlação significativa entre

CCL e DB) e H1: rCCL/AT, DB/AT ≠ 0,00 (existência de correlação significativa entre CCL e

DB); para aferir o nível de sensibilidade, em ambos os grupos, aplicou-se o modelo de

regressão monotônica – regressão não paramétrica.

Como pode ser constato, os resultados deste trabalho foram construídos exclusivamente com

estatística não paramétrica; modelos de planilhas eletrônicas do Microsoft Excel foram

especificamente formulados para executar todos os procedimentos mencionados; os

ensinamentos prestados por Becker (2015) e Sheskin (2004) orientaram a construção do

referido conjunto de modelos de planilhas.

4 Apresentação e análise dos resultados

4.1 Saldo do CCL

Enfatizando a performance do setor quanto à capacidade de manter saldo positivo ao CCL, a

Figura 1 resume os resultados gerados com a aplicação do teste de Wilcoxon sobre a amostra

do LC, composta de 941 observações: estima-se em aproximadamente 31% (294 elementos) a

frequência de valores ao LC abaixo de 1,00, todos ocasionados por saldos negativos do CCL,

configuração conhecida como PC a descoberto; o complemento da amostra ratifica a maior

incidência de circunstâncias marcadas por CCL com saldo positivo, pois a frequência de

respostas acima de 1,00 ao LC gira próximo de 69% (647 observações); em decorrência do

modo como se encontra composta a amostra, rejeita-se ; a estatística de teste,

de 15,31, situa-se intensamente à direita da referência crítica, , estimada em 1,645;

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .

9

portanto, os valores do LC abaixo de 1,00, ocorridos no período, não impedem de considerar

o setor de Bens Industriais como capaz de manter, majoritariamente, saldos positivos ao

CCL.

Portanto, com base no tratamento estatístico contemplado na construção desta seção, percebe-

se ao setor de Bens Industriais desempenho favorável, precisamente no tocante à condução,

por parte de suas empresas, do saldo do CCL em níveis positivos – não faz parte do escopo

desta pesquisa saber se os valores dos CCL garantiram, simultaneamente, o sustento da

necessidade de investimento em giro e a manutenção de alguma folga financeira, tendo sido o

bastante averiguar somente se no setor as empresas foram capazes de utilizar,

predominantemente, fontes de longo prazo na viabilização dos investimentos de curto prazo.

4.2 Utilização das fontes de longo prazo na estrutura de capital

Contendo o resultado da confrontação entre as amostras dos indicadores DB/AT e PL/AT

com o teste de Mann-Whitney-Wilcoxon, aplicado segundo o nível de significância de 0,05, a

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .

10

Figura 2 subsidia a análise a seguir: o conjunto das 24 empresas selecionadas, cada uma

contribuindo com um par ordenado de valores médios históricos para DB/AT e PL/AT,

mantiveram em sutil superioridade o capital próprio em suas estruturas de capital; do total de

24 pares ordenados, em 14 (58,33%) verifica-se DB/AT < PL/AT; a estatística de teste, de -

1,71, abaixo do valor crítico, de -1,645, ratifica rejeição para H0: DB/AT ≥ PL/AT.

Até o presente momento, para o período de 31/03/2008 até 30/06/2015, tem-se o setor de

Bens Industriais como sendo constituído de empresas capazes de combinar, majoritariamente,

saldo positivo ao CCL e maior participação do capital próprio na estrutura de capital. Tal

arranjo representa um indício favorável à adoção de algum nível de autonomia quanto à

formação do CCL, a ser investigado com maior precisão no tópico a seguir.

4.2 Sensibilidade do CCL em face das fontes de longo prazo

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .

11

As Figuras 3 e 4 apresentam os resultados alcançados com o mesmo tratamento estatístico,

combinação entre o teste de correlação por postos de Spearman e a regressão monotônica,

mas respectivamente vinculadas às relações do CCL com a DB e o PL.

Precisamente quanto ao conteúdo da Figura 3, voltado à análise da relação do CCL em face

da DB: os 24 pares ordenados envolvendo DB/AT (variável explicativa) e CCL/AT (variável

explicada) evidenciam ausência de correlação entre CCL e DB, pois o coeficiente de

correlação de Spearman, praticamente nulo ( ), gerou uma estatística de

teste ( ) dentro do intervalo crítico da interpretação bicaudal para , por

isso não há como rejeitar ; na parte superior da Figura 3 consta uma

ilustração com a plotagem do melhor ajuste providenciado com a regressão monotônica, onde

foram necessárias 19 iterações com o algoritmo de blocos, resultando em e

fornecendo subsídios suficientes à compreensão da correlação nula; sendo assim, numa

perspectiva macro, e não isoladamente por empresa, o CCL no contexto do setor de Bens

Industriais se manteve sem associação significativa com a DB.

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .

12

Sobre a Figura 4, direcionada à análise do grau de sensibilidade do CCL em face do PL: os

24 pares ordenados envolvendo PL/AT (variável explicativa) e CCL/AT (variável explicada)

demonstram haver correlação entre CCL e PL, pois o coeficiente de correlação de Spearman,

apesar de moderado ( ), gerou uma estatística de teste ( ) fora

do intervalo crítico da interpretação bicaudal para , por isso rejeita-se

; o melhor ajuste obtido com a regressão monotônica, onde percebe-

se uma relação mantida ao longo do tempo segundo uma função monotônica ascendente,

demonstra o porquê da correlação moderadamente positiva, tendo sido exigido um total de 16

iterações (quanto menor, maior a sensibilidade) com o algoritmo de blocos, resultando em

(quanto menor, maior a sensibilidade); destarte, mais uma vez numa

perspectiva macro, e não isoladamente por empresa, o CCL no setor de Bens Industriais

mostrou-se significativamente sensível ao PL – diretamente proporcional.

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .

13

Finalmente, o teste de Spearman e a regressão monotônica proporcionam a seguinte

descoberta: durante os 30 trimestres analisados, do primeiro de 2008 ao segundo de 2015,

portanto ao longo da história recente da economia brasileira, o setor de Bens Industriais,

representado por 24 empresas selecionadas após a aplicação dos critérios detalhados na

metodologia, manteve a formação do CCL nitidamente influenciada por recursos próprios,

não tendo ocorrido relação significativa com o endividamento de longo prazo;

individualmente, algumas empresas podem ter mantido relação de maior sensibilidade com o

capital de terceiros, outras com relações equilibras entre capital próprio e capital de terceiros,

mas a grande maioria manteve maior sensibilidade em relação ao capital próprio, então a

situação do setor reflete a formação majoritária do CCL de modo autônomo.

5 Considerações finais

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .

14

De 31/03//2008 a 30/06/2015 as empresas brasileiras do setor de Bens Industriais conduziram

suas políticas de gestão financeira de curto prazo amparadas em dois pilares: manutenção da

capacidade de pagamento orientada à inibição da configuração conhecida como passivo

circulante a descoberto, pois a partir do teste de Wilcoxon rejeitou-se a hipótese de o índice de

liquidez corrente ser efetivamente menor ou igual ao patamar de 1,00; utilização majoritária

do capital próprio na formação do capital circulante líquido, exatamente como demonstrado

com o teste de Spearman e a regressão monotônica, revelando, portanto, destacado grau de

autonomia quanto ao uso das fontes de longo prazo no financiamento dos investimentos

circulantes.

Em virtude da intensidade da crise atualmente enfrentada pela economia do Brasil, o

consequente desaquecimento da atividade industrial traz severas pressões contrárias aos

pilares anteriormente mencionados pelo simples fato de existir maior propensão à conquista

de resultados líquidos negativos, quiçá em níveis apenas reduzidos ou estáveis, na melhor das

hipóteses; com o comprometimento do autofinaciamento necessário à continuidade da maior

influência do capital próprio sobre a formação do capital circulante líquido, possivelmente as

fontes externas passarão a exercer maior ingerência, e a depender da duração do período ruim

para a economia, a conversão do endividamento de longo prazo em curto prazo, bem como o

pagamento de juros, tende a gerar complicações preocupantes à manutenção da solvência em

condições satisfatórias.

Com base nas conclusões levantadas sobre a história recente das empresas do setor de Bens

Industriais quanto ao uso das fontes de longo prazo na formação do capital circulante líquido

e a crise econômica atualmente em vigor, torna-se de fundamental importância a realização de

novas pesquisas voltadas, principalmente, ao monitoramento da margem de lucratividade

líquida, pois quanto maiores seus percentuais, maior o potencial de gerar autofinanciamento,

consequentemente, maior a influência do capital próprio na formação do capital de giro.

Referências

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .

15

ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-financeiro. 11. ed. São

Paulo: Atlas, 2015.

ASSAF NETO, Alexandre; SILVA, César Augusto Tibúrcio. Administração do capital de giro. 4. ed. São

Paulo: Atlas, 2012.

BECKER, João Luiz. Estatística básica – transformando dados em informação. Porto Alegre: Bookman,

2015.

BRASIL, Haroldo Vinagre; BRASIL, Haroldo Guimarães. Gestão Financeira das Empresas: um modelo

dinâmico. 4. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002.

CAMARGOS, Marcos Antônio; CAMARGOS, Mirela Castro Santos; LEÃO, Luciano de Castro Garcia.

Testando Empiricamente o Modelo Fleuriet: Novas Evidências. In: Encontro da ANPAD , 38., 2014, Rio de

Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2014.

FLEURIET, Michel; KEHDY, Ricardo; BLANC, Georges. O modelo Fleuriet, a dinâmica financeira das

empresas brasileiras: um modelo de análise, orçamento e planejamento financeiro. 5. ed. Rio de Janeiro:

Elsevier, 2003.

FLORIANI, Ricardo; LAY, Luís Antonio; SILVA, Tarcísio Pedro. Relação entre recursos financeiros de curto

prazo e desempenho de empresas brasileiras de menor porte. In: Seminários de Administração, 18., 2015, São

Paulo. Anais... São Paulo: FEA, 2015.

LUSTROSA, Paulo Roberto Barbosa. DOAR – Uma Morte Anunciada. Caderno de Estudos - FIPECAFI, v.9,

n.16, p.26-38, jul/dez, 1997.

MATARAZZO, Dane Carmine. Análise financeira de balanços: abordagem básica e gerencial. 7. ed. São

Paulo: Atlas, 2010.

NEIVA, João José Ribas. Tipificação financeira de empresas inadimplentes: financiamentos de projetos de

investimento concedidos pelo BRDE. 2008. 98f. Dissertação - Programa de Mestrado em Contabilidade do

Setor de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2008.

SHESKIN, David J. Parametric and nonparametric statistical procedures. 3 ed. Chapman & Hall/CRC,

2004.

SILVEIRA, Elmo; ZANOLLA, Ercilio; MACHADO, Lúcio. Uma classificação alternativa à atividade

econômica das empresas brasileiras baseada na tipologia Fleuriet. Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão,

Lisboa, v.14, n.1, mar., 2015.

SILVA, Julio Orestes et al. Nível informacional entre a análise tradicional e avançada do capital de giro de

empresas do setor do comércio. Revista Pretexto, Belo Horizonte, v. 13, n. 2., p. 40-56, abr./jun., 2012.

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .

16

SILVA, José Pereira. Análise financeira das empresas. 12. Ed. São Paulo: Atlas, 2013.

STARKE JUNIOR, Paulo Cesar. Efeito tesoura: relevância e evidências estatísticas para análise econômico-

financeira de empresas brasileiras. 2008. 198f. Dissertação - Programa de Mestrado em Contabilidade do

Setor de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2008.

VIEIRA, Marcos Villela. Administração estratégica do capital de giro. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

ZANOLLA, Ercilio et al. Indicadores de liquidez e o fluxo de caixa operacional: um estudo nas empresas

brasileiras de capital aberto. Contabilidade, Gestão e Governança, Brasília, v. 17, n. 2, p. 137-151, mai./ago.,

2014.