75
CURSO DE DIREITO Priscilla Paola Severo AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO FRENTE À SUPOSTA CRISE NA PREVIDÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA Santa Cruz do Sul 2017

AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

CURSO DE DIREITO

Priscilla Paola Severo

AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO

BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO FRENTE À SUPOSTA CRISE NA PREVIDÊNCIA

SOCIAL BRASILEIRA

Santa Cruz do Sul 2017

Page 2: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

1

Priscilla Paola Severo

AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DE CRIAÇÃO DE UM NOVO

BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO FRENTE À SUPOSTA CRISE NA PREVIDÊNCIA

SOCIAL BRASILEIRA

Trabalho de Conclusão de Curso, modalidade monografia, apresentado ao Curso de Direito da Universidade de Santa Cruz do Sul, UNISC, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito.

Prof. Dra. Rosana Helena Maas Orientadora

Santa Cruz do Sul 2017

Page 3: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

2

TERMO DE ENCAMINHAMENTO DO TRABALHO DE CURSO PARA A BANCA

Com o objetivo de atender o disposto nos Artigos 20, 21, 22 e 23 e seus

incisos, do Regulamento do Trabalho de Curso do Curso de Direito da Universidade

de Santa Cruz do Sul – UNISC – considero o Trabalho de Curso, modalidade

monografia, da acadêmica Priscilla Paola Severo, adequado para ser inserido na

pauta semestral de apresentações de TCs do Curso de Direito.

Santa Cruz do Sul, 23 de novembro de 2017.

Prof. Dra. Rosana Helena Maas

Orientadora

Page 4: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

3

AGRADECIMENTOS

Gratidão tem sido a palavra do meu ano e é incrível a força e a capacidade de

transformar a vida de qualquer pessoa que ela tem, assim como tem transformado a

minha! Não tenho alternativa senão ser extremamente grata por todos os

ensinamentos e aprendizados que têm vindo ao meu encontro e por todas as

pessoas que fizeram e fazem parte da minha vida. Obrigada, Deus!

Pai e mãe, obrigada por sempre me incentivarem a buscar o melhor. Aos

poucos, compreendo a razão de tê-los escolhidos como meus pais. Vocês

contribuem diariamente para a minha evolução como pessoa e, entre um percalço e

outro, só tenho a agradecer! Frase ou palavra alguma seria suficiente para

descrever meu sentimento por vocês. Resumo num "simples", porém profundo e

verdadeiro: Amo vocês!

Impossível deixar de agradecer meu mano, Cristiano. O cara mais sensacional

que existe. Sim! Tu consegues ser chato quando quer, mas é o dono do maior

coração do mundo! Teu carisma é único. Contagia qualquer pessoa! Sou muito grata

por ter uma relação de irmandade como a nossa! Te amo!

Aos meus amigos que fizeram parte desta caminhada, obrigada por terem

entendido (ou não) a minha frequente ausência durante a elaboração deste trabalho.

Vocês tornaram os meus dias e/ou finais de semanas mais leves e divertidos. Às

amizades que fiz na graduação, vou levar para o resto da vida! Vocês são demais!

Agradeço ainda, a minha professora orientadora, Rosana, por todo o suporte

ao longo desta caminhada, pelo encorajamento e sabedoria transmitida na

realização desta monografia e ao longo de toda a graduação, em especial nessa

reta final, além das correções fora de hora e paciência para responder meus

corriqueiros e-mails. Obrigada, Rô!

E por último e não menos importante, um agradecimento especial para a

pessoa que me apresentou o Direito: Dra. Joana, Jojo ou simplesmente minha mãe-

chefe. Obrigada por ter me apresentado este universo jurídico (desde pequena no

fórum aguardando as intermináveis audiências) e mais tarde o apaixonante “Direito

Previdenciário”. Obrigada por transmitir seus conhecimentos e por oportunizar a

mim, desde muito cedo, fazer parte e aprender diariamente a prática dos direitos

sociais, trazendo uma responsabilidade imensa e um resultado muito especial: fazer

justiça social. Serei eternamente grata.

Page 5: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

4

RESUMO

O presente trabalho monográfico faz uma abordagem acerca da possibilidade e da necessidade de criação de um novo benefício previdenciário, o chamado “Auxílio-Doença Parental”, frente à suposta crise na previdência social brasileira. Nesse sentido, pretende-se responder a seguinte problemática: diante do contexto atual de suposta crise no sistema da Seguridade Social e do embate “redução de direitos versus ampliação urgente da proteção social, mediante a criação de novos benefícios sociais”, quais as consequências que a criação do novo benefício previdenciário – Auxílio-Doença Parental – traz à sociedade brasileira e como esta se dá frente ao contexto atual da Previdência Social? Para tanto, utiliza-se a metodologia dedutiva e como técnica de pesquisa a bibliográfica que consiste, basicamente, na pesquisa e interpretação doutrinária, visando uma análise geral da Seguridade Social, com foco na Previdência Social, bem como nas vantagens oriundas da criação de um novo benefício previdenciário na sociedade brasileira, frente à possibilidade orçamentária do sistema no financiamento deste. Partindo-se do pressuposto que a inclusão deste auxílio no atual rol dos benefícios garantidos aos contribuintes da Previdência Social, proporcionará uma melhora na qualidade de vida das pessoas que irão fazer jus a concessão deste, o presente trabalho descreve o sistema da Seguridade Social e discute a possibilidade da fonte de custeio preexistente para efetivar a sua criação no contexto atual da Seguridade Social brasileira. Além disso, demonstra a viabilidade jurídica e econômica da criação do Auxílio-Doença Parental e o risco social envolvido pela falta de regulamentação legal deste no Regimento Geral da Previdência Social. Após analisar a necessidade e a possibilidade da ampliação da proteção social, concluiu-se que há viabilidade jurídica e econômica para efetivar a criação do Auxílio-doença Parental, como forma de amenizar o prejuízo que referido desamparo social causa às famílias brasileiras.

Palavras-chave: auxílio-doença parental; proteção social.

Page 6: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

5

ABSTRACT

The present monographic work approaches the possibility and the need to create a new social security benefit, the so-called "parental illness aid", in face of the alleged crisis in Brazilian social security. In this sense, it is intended to answer this: Given the current context of alleged crisis in the Social Security system and the struggle "reduction of rights versus urgent expansion of social protection, through the creation of new social benefits", what consequences the creation of the new social security benefit - Parental Aid - brings to the Brazilian society and how it is faced with the current context of Social Security? For that, it was used the deductive methodology was used and as a bibliographical research technique, which basically consists of research and doctrinal interpretation, aiming at a general analysis of Social Security, focusing on Social Security, as well as on the advantages derived from the creation of a new social security benefit in the Brazilian society, against the budgetary possibility of the system in the financing of this. Based on the assumption that the inclusion of this aid in the current list of benefits guaranteed to Social Security taxpayers, will provide an improvement in the quality of life of the people who will be entitled to the concession of this, this paper describes the Social Security system and discusses the possibility of the pre-existing source of funding to effect its creation in the current context of Brazilian Social Security. In addition, it demonstrates the legal and economic viability of the creation of the parental illness aid and the social risk involved by the lack of legal regulation of this in the social security system. After analyzing the need and the possibility of the expansion of social protection, it was concluded that there is legal and economic feasibility to effect the creation of this benefit, as a way to mitigate the loss that referred to social abandonment causes to Brazilian families. Keywords: parental illness aid; social protection.

Page 7: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

6

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 7

2 SEGURIDADE SOCIAL: POLÍTICA DO BEM-ESTAR SOCIAL ........................ 10

2.1 Histórico da seguridade social ........................................................................ 10

2.2 Saúde.................................................................................................................. 14

2.3 Assistência social ............................................................................................. 17

2.4 Previdência social ............................................................................................. 20

2.5 Princípios constitucionais da seguridade social ........................................... 24

3 POSSIBILIDADE ORÇAMENTÁRIA PARA O CUSTEIO DE NOVO BENEFÍCIO

PREVIDENCIÁRIO .............................................................................................. 30

3.1 Custeio da seguridade social ........................................................................... 30

3.2 Contribuições sociais ....................................................................................... 33

3.3 Orçamento ......................................................................................................... 37

4 AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: NECESSIDADE DE AMPLIAÇÃO DA

PROTEÇÃO SOCIAL .......................................................................................... 48

4.1 Conceito ............................................................................................................. 48

4.2 Riscos sociais envolvidos pela falta de regulamentação legal ..................... 50

4.3 Análise ao Projeto de Lei nº 1.876/2015 .......................................................... 55

4.4 Viabilidade jurídica ............................................................................................ 59

4.5 Viabilidade econômica ...................................................................................... 62

5 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 65

REFERÊNCIAS ................................................................................................... 70

Page 8: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

7

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho pretende difundir o “Auxílio-Doença Parental", da mesma

forma que defende a criação deste novo benefício previdenciário, frente ao caráter

urgente e necessário da ampliação da proteção social brasileira. Para tanto, realiza-

se uma abordagem acerca da possibilidade e da necessidade do reconhecimento

deste novo benefício no atual rol dos benefícios garantidos aos contribuintes do

Regime Geral da Previdência Social, a fim de que este ampare as pessoas que

fariam jus a sua concessão, frente à possibilidade orçamentária do sistema da

Seguridade Social, reforçando, portanto, a proteção social e previdenciária do

Estado e, sobretudo, o princípio da dignidade da pessoa humana, garantido

expressamente pela atual Constituição Federal.

A relevância do tema escolhido vem de encontro à insuficiente abordagem

científica pelos operadores do direito sobre matéria de caráter de grande relevância

social. Isto porque, em termos práticos, a situação dos segurados que, atualmente,

encontram-se desamparados pela Previdência Social é recorrente, reputando-se

necessário o estudo acerca dos riscos sociais envolvidos pela falta de

regulamentação legal do Auxílio-Doença Parental, da mesma forma que

imprescindível a análise acerca da possibilidade orçamentária do sistema da

Seguridade Social no custeio do benefício, a fim de concretizar a sua criação e

posterior concessão aos potenciais beneficiários.

Considerando o contexto atual do sistema previdenciário que enfrenta a

tentativa inversa ao pretendido pelo presente trabalho, ao mencionar a Proposta de

Emenda Constitucional – PEC/287, que pretende uma reforma da previdência

mediante extremas reduções de benefícios sociais, sob o argumento equivocado da

suposta crise e insustentabilidade do sistema, a problemática enfrentada no

presente trabalho consiste em: diante do contexto atual de suposta crise no sistema

da Seguridade Social e do embate “redução de direitos versus ampliação urgente da

proteção social, mediante a criação de novos benefícios sociais”, quais as

consequências que a criação do novo benefício previdenciário – Auxílio-Doença

Parental – traz à sociedade brasileira e como esta se dá frente ao contexto atual da

Previdência Social?

Para dar conta do objetivo pretendido pelo presente trabalho, a abordagem

temática deste trabalho divide-se em três capítulos. O primeiro deles consiste em

Page 9: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

8

analisar o início lento e gradativo da proteção social no mundo e o desenvolvimento

desta no Brasil desde os primórdios até o sistema de Seguridade Social atualmente

constituído. Para tanto, analisar-se-á, individualmente, as três áreas de atuação,

constitucionalmente, determinadas da seguridade: Saúde, Assistência e Previdência

Social, da mesma forma que se demonstrará os princípios constitucionais basilares

do sistema, para demonstrar que a criação do benefício apresentado encontra-se

em conformidade com os objetivos visados pelo sistema securitário.

Além da necessária apresentação dos riscos sociais envolvidos pela falta de

regulamentação do benefício social, sua criação consiste na indicação da fonte total

de custeio responsável pelo financiamento da concessão aos segurados que do

benefício fizerem jus. Por esta razão, o segundo capítulo objetiva demonstrar a

possibilidade orçamentária do sistema para o custeio do benefício ora apresentado,

indicando, primeiramente, a receita da Seguridade Social, decorrente das

contribuições dos contribuintes participantes do sistema, sejam eles obrigatórios ou

facultativos, bem como das contribuições sociais atuais e legalmente constituídas, a

fim de contrapor o discurso, incansavelmente, realizado pelo Governo Federal de

insustentabilidade do sistema, mediante a demonstração de estudos realizados por

profissionais habilitados, da receita dos últimos anos da seguridade social e das

despesas que esta possui, demonstrando a possibilidade orçamentária do sistema

no custeio de novo benefício previdenciário.

Por fim, o terceiro e último capítulo, apresenta o conceito do novo benefício

cuja criação é defendida pelo presente trabalho, o chamado Auxílio-Doença

Parental, conceituando-o e apresentando o risco social envolvido pela falta de

proteção social aos segurados que se encontram desamparados pela previdência.

Ademais, em se tratando de benefício que protege os encargos familiares, ressalta-

se a precária atuação ativa do Estado, na proteção destes, principalmente no que

diz respeito às crianças e idosos, que serão direta e positivamente afetados com a

ampliação da proteção social, mediante a criação do benefício ora demonstrado.

Nesse contexto, o risco social é tamanho que a tese do Auxílio-Doença

Parental concretizou-se no Projeto de Lei nº 1.876 que, atualmente, encontra-se em

tramitação na Câmara dos Deputados. Em contrapartida, ainda que de grande

avanço em termos legais e sociais, o projeto encontra lacunas que dão margem a

dúvidas e diferentes interpretações, razão pela qual se fará em subtítulo especial do

terceiro capítulo apontamentos e ressalvas acerca de referido projeto.

Page 10: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

9

Para tanto, utiliza-se a metodologia dedutiva e como técnica de pesquisa a

bibliográfica que consiste, basicamente, na pesquisa e interpretação doutrinária,

visando uma análise geral da Seguridade Social, com foco na Previdência Social,

bem como nas vantagens oriundas da criação de um novo benefício previdenciário

na sociedade brasileira, frente à possibilidade orçamentária do sistema no

financiamento deste.

Finalmente, ao final do presente trabalho, serão apresentadas as conclusões,

buscando-se responder os questionamentos iniciais, referente à possibilidade de

criação de novo benefício previdenciário frente ao atual sistema de seguridade

social. Isto é, buscar-se-á demonstrar se há o risco social envolvido ante a falta de

proteção social aos segurados que possuem estes encargos familiares, bem como

se há a possibilidade orçamentária para custear o novo benefício ora proposto.

Page 11: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

10

2 SEGURIDADE SOCIAL: POLÍTICA DO BEM-ESTAR SOCIAL

A Seguridade Social está intimamente ligada à ideia de proteção social, em

razão de ser a maior e mais eficaz fonte geradora desta, possuindo o objetivo

essencial de reduzir os efeitos das adversidades na vida dos brasileiros e dos

infortúnios que se apresentam ao longo desta, de forma que atinja, positivamente,

todo o coletivo e se aproxime ao máximo da justiça social idealizada.

A ideia de uma seguridade pública e social consiste na proteção àqueles que

estão acometidos por alguma peculiaridade que os coloca em uma situação de

maior vulnerabilidade, merecendo maior cuidado e proteção social do Estado e de

toda população. Neste contexto, este capítulo objetiva expor o desenvolvimento da

Seguridade Social desde os primórdios até os três pilares de atuação atualmente

constituídos, a fim de compreender o sistema cujo benefício ora apresentado estará

inserido.

2.1 Histórico da seguridade social

Em termos de proteção social, até meados do século XVII não havia nenhuma

intervenção do Estado nesse sentido e qualquer ajuda do Poder Público ou da

sociedade às vítimas de quaisquer infortúnios da vida era considerada mera

filantropia. Por esta razão e a fim de concretizar a proteção dos mais pobres e

necessitados, a Inglaterra buscou uma atuação mais ativa e direta do Estado

mediante a criação da Poor Law – Lei dos Pobres, transformando em Direito o que

antes era considerado mera caridade (CASTRO; LAZZARI, 2012).

Apesar da intervenção tardia do Estado nas políticas de concessão social, junto

às famílias, a referência de proteção social começou muito mais cedo, na medida

em que os mais jovens e os aptos para o trabalho cuidavam e promoviam o sustento

dos idosos e dos incapazes, o que se assemelha à sistemática do modelo de

Seguridade Social atualmente constituído (IBRAHIM, 2012).

No âmbito mundial, a Europa foi pioneira no desenvolvimento da ideia de

proteção social. O surgimento do trabalho, do sistema de troca de mercadorias e a

posterior e consequente Revolução Industrial, proporcionou aos trabalhadores, em

detrimento de seus empregadores, na relação contratual, uma espécie de seguro,

mediante contribuição dos empregados, no caso de redução ou perda da

Page 12: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

11

capacidade laboral, fosse por doença, invalidez ou velhice, deixando de ser uma

política assistencialista ou uma forma de caridade, introduzindo a base do modelo de

Previdência atualmente instituído (CASTRO; LAZZARI, 2012).

De forma lenta e gradativa, portanto, a proteção social foi surgindo na história.

No período Pós-Segunda Guerra é que se materializou a política do Welfare State –

bem-estar social, idealizada nos moldes da cooperação entre os indivíduos a fim de

diminuir a pobreza e propiciar o desenvolvimento social. A partir desse momento,

“passava-se a entender que a proteção social era dever da sociedade como um

todo, apresentando o caráter de solidariedade até hoje presente, pelo qual todos

contribuem para que os necessitados de amparo possam tê-lo” (CASTRO; LAZZARI,

2012, p. 44).

Para tanto, dois modelos foram precursores e fundamentais no decorrer do

desenvolvimento da seguridade social mundial: o sistema Bismarckiano e o sistema

Beveridgeano; ambos com características cujas essências, destacadas a seguir,

permanecem até hoje nas seguridades sociais ao redor do mundo, de forma única

ou híbrida entre elas. E, apesar de semelhança no quesito “importância social”, os

modelos não se confundem, à medida que são nitidamente dotados de atributos

contrários e controversos (CASTRO; LAZZARI, 2012).

Otto Von Bismarck, nascido na Alemanha em 1815, instituiu um modelo

primitivo de capitalização compulsória, em que somente contribuíam empregados e

empregadores, restringindo, portanto, à pequena parcela da população e a

determinadas necessidades sociais somente, destacando um sistema cuja essência

é proteger aqueles que contribuem apenas. Já William Beveridge, nascido no Reino

Unido em 1879, idealizou um modelo cuja solidariedade fosse peça fundamental, de

forma que abrangesse todos os indivíduos num sistema de repartição simples

introduzindo a ideia da universalidade no sistema da Seguridade Social, de forma

que responsabilizasse o Estado a intervir mais ativamente na proteção social da

coletividade (CASTRO; LAZZARI, 2012).

Nota-se que o Brasil, atualmente, possui o sistema híbrido de proteção social,

uma vez que há a aplicação da solidariedade idealizada por Beveridge, através da

assistência na forma não contributiva; e há presença do modelo Bismarckiano, tendo

em vista que em certas situações somente aqueles que contribuem ao sistema da

Previdência Social são contemplados pelos benefícios garantidos por esta. Nesse

sentido, tem-se que até se tornar o atual sistema, sólido e constitucionalmente

Page 13: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

12

definido em termos de seguridade social, o processo de evolução ocorreu de forma

lenta e gradativa, ao passo que “o Brasil só veio a conhecer verdadeiras regras de

caráter geral em matéria de previdência social no século XX” (CASTRO; LAZZARI,

2012, p. 65).

Deste modo, no decorrer dos anos, acréscimos e restrições sociais ocorreram

e formaram a base necessária para alcançar o sistema securitário atual. No Brasil, a

Lei Eloy Chaves - Decreto nº 4.682, é considerada o marco inicial da Previdência

Social, ampliou a previdência social também aos trabalhadores privados, mediante a

criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões nas empresas de estrada de ferro

(VIANNA, 2012).

Nesse sentido, a fim de compreender de forma mais eficaz a Seguridade Social

brasileira, destaca-se, na tabela abaixo, os principais momentos da evolução

histórica do sistema, após a criação da Lei Eloy Chaves, cujos dados foram

descritos por Vianna (2012, p. 16).

Evolução Histórica no Brasil

1930

Criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, com atribuições de orientar e supervisionar a Previdência Social.

1934

Constituição previu a tríplice forma de custeio para a previdência, com contribuição obrigatória.

1946

Constituição substituiu a expressão seguro social para previdência social.

1960

Lei nº 3.807, LOPS - Lei Orgânica da Previdência Social. Criação do Ministério do Trabalho e da Previdência.

1966

Fusão de seis Institutos de Aposentadorias e Pensões no Instituto Nacional de Previdência Social – INPS.

1971

Instituição do Programa de Assistência ao Trabalhador Rural – PRO-RURAL.

1972

Lei nº 5.859 incluiu os empregados domésticos na Previdência Social.

1974

Lei nº 6.179 – amparo previdenciário para os maiores de 70 anos ou inválidos – renda mensal vitalícia.

1988

Constituição institui verdadeiro sistema de Seguridade Social.

1990

Lei nº 8.029, Extinção do Ministério da Previdência e Assistência Social e restabelecimento do Ministério do Trabalho e da Previdência Social. Autorização para criação do Instituto Nacional de Seguro Social – INSS, como autarquia federal, mediante fusão do Instituto de Administração da Previdência e Assistência Social – IAPAS, com o Instituto Nacional de Previdência Social – INPS, o que efetivamente ocorreu com o Decreto nº 99.350/90. Lei nº 8.080 – SUS – Sistema único de Saúde.

1991

Lei nº 8.212 – organização da Seguridade Social e Plano de Custeio. Lei nº 8.213 – Plano de Benefícios da Previdência Social.

1998

Emenda Constitucional nº 20.

Page 14: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

13

1999

Decreto nº 3.048 aprovou o regulamento da Previdência Social.

2002

Lei nº 10.421 estendeu à mãe adotiva o direito à licença-maternidade e ao salário-maternidade.

2003

Emenda Constitucional nº 41.

Fonte: Vianna, 2012, p. 16.

A partir da tabela acima, é possível observar que a proteção social iniciou pela

Previdência Social, no caráter contributivo, e somente após abrangeu o ideal de

solidariedade do sistema, garantindo direitos também àqueles que não possuíam

condições de contribuir. A segunda observação que se faz é que, de forma tardia,

porém positiva, os trabalhadores rurais foram abrangidos pela Previdência Social

somente no ano de 1971, integrando o rol dos segurados especiais. Também

tardiamente, em 1972, a categoria dos empregados domésticos foi incluída no

sistema, passando a Previdência Social a “abranger dois imensos contingentes de

indivíduos que, embora exercessem atividade laboral, ficavam à margem do

sistema” (CASTRO; LAZZARI, 2012, p. 70).

O conceito genérico utilizado para descrever a Seguridade Social ligado à ideia

de amparo frente aos infortúnios da vida, para Ibrahim (2012), demonstra-se

limitado, pois não se encontra em conformidade com o benefício previdenciário do

salário-maternidade, uma vez que não há que se considerar a maternidade como um

infortúnio e tão pouco como perda da capacidade laborativa. Na verdade, trata-se de

uma espécie de licença remunerada em prol da proteção social e de solidariedade à

genitora, à própria criança e, de forma reflexa, a toda sociedade. Deste modo, de

forma geral, a Seguridade Social apresenta-se como

[...] a rede protetiva formada pelo Estado e por particulares, com contribuições de todos, incluindo parte dos beneficiários dos direitos, no sentido de estabelecer ações para o sustento de pessoas carentes, trabalhadores em geral e seus dependentes, providenciando a manutenção de um padrão mínimo de vida digna (IBRAHIM, 2012, p. 5).

Ao determinar o sistema de Seguridade Social atual, a Constituição Federal de

1988 dispôs no art. 194 seus três pilares de atuação – Saúde, Assistência e

Previdência Social (BRASIL, 1988, www.planalto.gov.br), de forma que as

contribuições vertidas para o orçamento próprio da seguridade passam a destinar às

três áreas conjuntamente, introduzindo no país o ideal de solidariedade e

universalidade de cobertura idealizado e proposto no sistema Beveridge.

Page 15: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

14

Nesta seara, o desenvolvimento da Seguridade Social nada mais é do que um

“direito de luta” (VIANNA, 2012, p. 6), resultado não da bondade estatal, e sim da

constante pressão dos trabalhadores na busca por seus direitos; sendo, pois, a

consequência dessa constante luta a maior e mais efetiva forma de concretização da

proteção social até hoje conquistada, representada pelas três áreas que abrangem a

seguridade social: Saúde, Assistência e Previdência Social (VIANNA, 2012).

Deste modo, introduzido o desenvolvimento histórico do sistema da Seguridade

Social, o presente capítulo objetiva analisar, na sequência, as três áreas de atuação

da Seguridade, constitucionalmente determinadas, a fim de verificar, posteriormente,

que a criação do novo benefício, ora proposto, se apresenta em conformidade com a

essência do sistema.

2.2 Saúde

A saúde é direito de todos e dever do Estado, conforme previsto pela Carta

Magna, no art. 196 (BRASIL, 1988, www.planalto.gov.br) garantindo a todos, de

forma igualitária e independente de contribuição à seguridade social, o atendimento

na rede pública de saúde, com o objetivo final de erradicar e prevenir doenças,

principalmente através da manutenção do estado saudável da população,

oferecendo alimentação e higiene adequada, bem como tratamento às pessoas que

já se encontram debilitadas (VIANNA, 2008)

Não se pode admitir, portanto, que a Administração Pública negue qualquer

atendimento às pessoas que possuem condições de arcar com as despesas

médicas, uma vez que a saúde é de caráter universal, não havendo, portanto,

qualquer restrição ao acesso (IBRAHIM, 2012).

Importante destacar que antes da promulgação da Constituição Federal de

1988, a saúde não possuía o caráter universal que atualmente apresenta; a

contribuição era necessária para a manutenção do regime realizada conjuntamente

com a contribuição à Previdência Social, destinada ao Instituto Nacional de

Assistência Médica da Previdência Social – INAMPS. Após a promulgação da

Constituição Federal de 1988, portanto, e a posterior extinção do INAMPS, em 1993,

o sistema público de saúde ficou organizado de forma hierarquizada, de

responsabilidade direta do Ministério da Saúde, por meio do Sistema Único de

Saúde – SUS. (IBRAHIM, 2012). Este passou a se organizar com os fundamentos

Page 16: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

15

de: “I- descentralização, com direção única em cada esfera do governo; II-

atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo

dos serviços assistenciais; III- participação da comunidade” (VIANNA, 2012, p. 21).

Deste modo, diferente do modelo antigo de saúde que contemplava a saúde e

a Previdência Social conjuntamente, com a necessidade de contribuição, o sistema

público de saúde atual é universal e destinado a todos os brasileiros sem a

necessidade de contribuição direta ao sistema. Além disso, o sistema de saúde

possui uma organização autônoma e distinta dos demais pilares da seguridade,

além de possuir cobertura mais ampla, em razão da sua universalidade. Atualmente,

portanto, não há que se falar em atuação conjunta entre saúde e previdência, tendo

em vista que “o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, responsável pela

previdência social brasileira, não tem qualquer responsabilidade com hospitais,

casas de saúde e atendimentos na área de saúde em geral” (IBRAHIM, 2012, p. 8).

Nesse sentido, para promover a saúde e o bem-estar social, a Carta Magna

definiu em seu art. 200, dentre outras, as seguintes atribuições do SUS:

I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos; II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador; III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde; IV - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico; V - incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento científico e tecnológico e a inovação; VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo humano; VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho (BRASIL, 1988, www.planalto.gov.br).

Embora seja dever do Poder Público garantir à população brasileira o direito à

saúde, a Constituição não veda a assistência à saúde pela iniciativa privada, a fim

de complementar o Sistema Único de Saúde, nem mesmo veda a criação de

empreendimentos voltados ao lucro. Somente determina a preferência das entidades

filantrópicas e as sem fins lucrativos na realização do contrato de direito público.

Veda, contudo, a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às

instituições privadas com fins lucrativos (IBRAHIM, 2012).

Ao abranger um dos pilares da Seguridade Social, a saúde é financiada com os

Page 17: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

16

recursos destinados a esta, não excluindo, contudo, a responsabilidade do Poder

Público no auxílio do seu financiamento, uma vez que é competência comum dos

entes federativos o financiando de parte dos serviços e ações de saúde. Para tanto,

a Constituição, expressamente, determina em seu art. 198, § 2º, a participação

comum entre os entes, ao definir que “a União, os Estados, o Distrito Federal e os

Municípios aplicarão, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde recursos

mínimos derivados da aplicação de percentuais” (BRASIL, 1988,

www.planalto.gov.br). O próprio Supremo Tribunal Federal - STF, já reafirmou o

entendimento de que todos os entes da federação são responsáveis solidários na

promoção da saúde. Se o amparo restar prejudicado por um dos entes, outro terá de

oferecê-lo ao cidadão, conforme demonstra a ementa do acórdão do Recurso

Extraordinário – RE 855178, a seguir transcrita:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. DIREITO À SAÚDE. TRATAMENTO MÉDICO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS ENTES FEDERADOS. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. REAFIRMAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. O tratamento médico adequado aos necessitados se insere no rol dos deveres do Estado, porquanto responsabilidade solidária dos entes federados. O polo passivo pode ser composto por qualquer um deles, isoladamente, ou conjuntamente (BRASIL, 2015, www.stf.jus.br, grifado no original).

A tabela abaixo, inspirada nas informações retiradas do livro de Ibrahim (2012),

corroboradas e atualizadas pelo art. 198, §2º, I, II, III e §3º da Constituição Federal

(BRASIL, 1988, www.planalto.gov.br), art. 2º da Emenda Constitucional nº 86

(BRASIL, 2015, www.planalto.gov.br), bem como pela Lei Complementar nº 141

(BRASIL, 2012, www.planalto.gov.br), objetiva elucidar os percentuais mínimos

aplicados pelo governo em ações e serviços públicos anuais de saúde:

União

a) Mínimo de 15% da receita corrente líquida do respectivo exercício financeiro. E será cumprido progressivamente, garantidos, no mínimo: I - 13,2% da receita corrente líquida no primeiro exercício financeiro subsequente ao da promulgação da Emenda Constitucional nº 86/2015; II - 13,7% da receita corrente líquida no segundo exercício financeiro subsequente ao da promulgação da Emenda Constitucional nº 86/2015; III - 14,1% da receita corrente líquida no terceiro exercício financeiro subsequente ao da promulgação da Emenda Constitucional nº 86/2015; IV - 14,5% da receita corrente líquida no quarto exercício financeiro subsequente ao da promulgação da Emenda Constitucional nº 86/2015; V - 15% da receita corrente líquida no quinto exercício financeiro subsequente ao da promulgação da Emenda Constitucional nº 86/2015.

Page 18: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

17

Estados e Distrito Federal

a) Mínimo de 12% do produto da arrecadação dos impostos referentes a I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos; II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; III - propriedade de veículos automotores.

b) Mínimo de 12% dos recursos entregues pela União referente ao produto da arrecadação dos impostos sobre renda e proventos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios (1).

Municípios e Distrito Federal

a) Mínimo de 15% do produto dos impostos referentes a I - propriedade predial e territorial urbana; II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição; III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar.

b) Mínimo de 15% dos recursos entregues pela União referente ao produto da arrecadação dos impostos sobre renda e proventos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados;

c) Mínimo de 15% dos recursos entregues pelo Estado referente ao produto da arrecadação dos impostos sobre renda e proventos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados.

Tabela elaborada pela autora com dados de Ibrahim, 2012 / art. 198, §2º, I, II, III e §3º, da Constituição Federal / Emenda Constitucional nº 86/ Lei complementar nº 141. (1) Os Estados entregarão aos respectivos Municípios vinte e cinco por cento dos recursos que receberem nos termos do inciso II, observados os critérios estabelecidos no art. 158, parágrafo único, I e II, conforme prevê o art. 159, §3º, Constituição Federal (BRASIL, 1988, www.planalto.gov.br).

Deste modo, delimitada a primeira das áreas de atuação da Seguridade Social,

passa-se à análise do segundo pilar analisado pelo presente trabalho: a Assistência

Social, que da mesma forma como ocorre na Saúde, não há a exigência da

contribuição direta à seguridade para se garantir o acesso a ela. Contudo, analisar-

se a seguir, que há divergência no caráter da universalidade, na medida em que

exige requisitos para dela fazer jus.

2.3 Assistência social

A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente

de contribuição à seguridade social, conforme prevê a Constituição em seu art. 203,

e tem por objetivo, dentre outros, a proteção à família, à maternidade, à infância, à

adolescência e aos idosos, o amparo às crianças e adolescentes carentes, assim

como a garantia de um salário mínimo à pessoa portadora de deficiência e ao idoso

que comprovem não possuir meios de prover sua própria subsistência ou tê-la

provida por sua família (BRASIL, 1988, www.planalto.gov.br).

Page 19: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

18

Nesse sentido, diferentemente da saúde, tem-se aqui ação em caráter não

universal, pois, dois são os requisitos estabelecidos pela Constituição para

assegurar o direito ao benefício assistencial de prestação continuada - LOAS: a

baixa renda – renda per capita inferior a ¼1 do salário mínimo e, simultaneamente, a

condição de idoso (idade superior a 65 anos – homem e mulher) ou de deficiente,

comprovada administrativa ou judicialmente por perícia médica, limite dado pelo

caput e § 3º do art. 20 da Lei 8.742/1993 (BRASIL, 1993, www.planalto.gov.br).

A utilização de critérios objetivos para definir a concessão de benefícios

assistenciais pode ser perigosa e não expressar o direito a justiça social visado pela

Constituição. Isto porque, é na análise do caso concreto que se buscará a condição

de baixa renda da família e a consequente miserabilidade necessária para a

obtenção do benefício, de forma que ao idoso ou à pessoa deficiente cujo poder

aquisitivo familiar seja superior aos limites estabelecidos legalmente, tem-se que

[...] a restrição financeira pode e deve ser ponderada com características do caso concreto, sob pena de condenar-se à morte o necessitado. Ainda que a extensão do benefício somente possa ser feita por lei, não deve o intérprete omitir-se à realidade social (IBRAHIM, 2012, p. 14).

Por esta razão, o STF reviu os fundamentos que embasaram a declaração de

constitucionalidade do critério de renda per capita de ¼ do salário mínimo para o

benefício assistencial devido ao idoso e ao portador de deficiência, entendendo-o

defasado, sendo, pois, declarado inconstitucional o parágrafo 3° do art. 20 da Lei

8.742/93 e o parágrafo único do art. 34 da Lei 10.471/2003, que dispõe sobre o

Estatuto do Idoso. Como argumentação, o STF refere que essas regras geram

problemas de isonomia na distribuição dos benefícios, razão pela qual a

jurisprudência atual tem, de forma dominante, flexibilizado o requisito de renda per

capita de ¼ do salário mínimo, conforme trecho do acórdão do RE 580963 abaixo

colacionado:

Benefício assistencial de prestação continuada ao idoso e ao deficiente. Art. 203, V, da Constituição. A Lei de Organização da Assistência Social (LOAS), ao regulamentar o art. 203, V, da Constituição da República, estabeleceu os critérios para que o benefício mensal de um salário mínimo seja concedido aos portadores de deficiência e aos idosos que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. [...] O requisito financeiro estabelecido pela Lei teve sua constitucionalidade contestada, ao fundamento de que permitiria que situações de patente miserabilidade social fossem consideradas fora do

1Limitação declarada inconstitucional pelo STF, conforme se demonstrará no decorrer do trabalho.

Page 20: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

19

alcance do benefício assistencial previsto constitucionalmente. Ao apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.232-1/DF, o Supremo Tribunal Federal declarou a constitucionalidadedo art. 20, § 3º, da LOAS. [...] A decisão do Supremo Tribunal Federal, entretanto, não pôs termo à controvérsia quanto à aplicação em concreto do critério da renda familiar per capita estabelecido pela LOAS. Como a Lei permaneceu inalterada, elaboraram-se maneiras de contornar o critério objetivo e único estipulado pela LOAS e de avaliar o real estado de miserabilidade social das famílias com entes idosos ou deficientes. [...] O Supremo Tribunal Federal, em decisões monocráticas, passou a rever anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade dos critérios objetivos. Verificou-se a ocorrência do processo de inconstitucionalização decorrente de notórias mudanças fáticas (políticas, econômicas e sociais) e jurídicas (sucessivas modificações legislativas dos patamares econômicos utilizados como critérios de concessão de outros benefícios assistenciais por parte do Estado brasileiro). [...] 5. Declaração de inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do art. 34, parágrafo único, da Lei 10.741/2003. 6. Recurso extraordinário a que se nega provimento (BRASIL, 2013, www.stf.jus.br, grifo próprio).

Deste modo, os critérios objetivos de ¼ e ½ salário mínimo per capita faz

presumir a condição de miserabilidade, o que não significa dizer que este deva ser

considerado absoluto. A verificação ao caso concreto mostra-se imprescindível.

Nesse sentido, acredita-se que pessoas com mais de 65 anos de idade que auferem

renda superior ao legalmente estabelecido e não se enquadram como miseráveis

presumidamente, possam utilizar meios de provas diversos a fim de comprovar sua

condição de miserabilidade. Para tanto, numa situação hipotética de um casal de

idosos (mais de 65 anos), que aufere renda de R$ 2.000,00, e que possui

comprovação de que as suas despesas – não supérfluas – são excessivas, a ponto

de enquadrá-los como miseráveis, acredita-se na possibilidade de que estes

deverão fazer jus ao benefício do LOAS.

Necessária se faz a análise subjetiva de cada caso, não podendo ocorrer a

interpretação fria da lei, principalmente em casos de proteção social – que lida com

um dos mais profundos direitos fundamentais: a dignidade da pessoa humana.

No que tange à comprovação da deficiência física ou mental para fins de

concessão de benefício assistencial, a ser realizada por médico perito designado, a

Lei 13.146/15 considera a pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de

longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial de forma que a

impeça da participação plena na sociedade em igualdade de condições com as

demais pessoas (BRASIL, 2015, www.planato.gov.br).

Desta forma, em razão da precariedade da saúde pública brasileira, o benefício

assistencial externa da forma mais completa o sistema de solidariedade imposto

Page 21: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

20

pelo plano Beveridge, conforme destacado no início deste capítulo, e proposto pela

Constituição Federal atual, garantindo uma vida mais digna aos destinatários. Em

contrapartida, ainda que qualquer auxílio financeiro aos necessitados seja positivo e

bem-vindo, em termos financeiros, de modo geral, traduzir em dignidade o salário

mínimo nacional, que atualmente representa R$ 937,00, mostra-se longe do mínimo

essencial da realidade brasileira que vive o aumento da inflação e dos impostos, que

não retornam na proporção paga. De toda valia, porém, não restam dúvidas que é

de grande interesse – a toda sociedade – a concessão do benefício assistencial aos

que dele fazem jus.

Demonstrado dois dos pilares da Seguridade Social que amparam a população

sem que para isso seja necessária a contribuição direta, verifica-se em seguida, o

sistema de filiação compulsória da Previdência Social, área da qual faz parte o

benefício previdenciário proposto no presente trabalho.

2.4 Previdência social

A Previdência Social é organizada sob a forma de Regime Geral – RGPS, de

caráter contributivo e compulsório, na medida em que o artigo 201 da Constituição

Federal (BRASIL, 1988, www.planalto.gov.br) prevê a filiação obrigatória ao regime

daqueles que auferem renda. Os benefícios a quem dela é segurado darão

cobertura a eventos de invalidez, morte e idade avançada, da mesma forma que

protege a gestante, o desempregado e o preso (VIANNA, 2012).

Muito embora o RGPS seja utilizado como sinônimo de Previdência Social –

em razão de abranger a maioria dos trabalhadores – existe dois regimes básicos

previdenciários brasileiros: o já mencionado Regime Geral da Previdência Social –

RGPS, e o Regime Próprio da Previdência Social – RPPS, ambos com a

característica da filiação compulsória (IBRAHIM, 2012).

O primeiro abrange todos os trabalhadores que auferem renda, com exclusão

aos servidores públicos ocupantes de cargos efetivos e aos militares, que serão

regidos pelo Regime Próprio. De forma paralela a estes, destaca-se o Regime

Complementar de filiação puramente facultativa com o objetivo de ampliação dos

rendimentos quando da aposentadoria. Nada impede, contudo, que uma pessoa

seja segurada, simultaneamente, nos dois regimes. Para isso, basta que esta exerça

uma atividade vinculada em cada regime e, se preenchidos os requisitos, poderá,

Page 22: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

21

inclusive, se aposentar em ambos (IBRAHIM, 2012).

Vale lembrar, contudo, que a Previdência Social brasileira é organizada sob a

forma de regime geral - RGPS, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, razão

pela qual o RPPS não pertence ao sistema de Seguridade Social definido pela

Constituição Federal (SANTOS, 2016), informação relevante para a análise do

custeio da Seguridade Social a ser realizada no segundo capitulo.

Nesse sentido, a ideia de compulsoriedade da Previdência Social se dá em

razão da política de proteção social da qual a previdência faz parte, intimamente

ligada ao ideal de solidariedade – essência que norteia toda a seguridade social.

Conforme destacam Castro e Lazzari (2012), o complemento deste ideal pode ser

encontrado na teoria do risco social, na medida em que os infortúnios causados aos

trabalhadores que perdem ou reduzem a capacidade laboral é de responsabilidade

de toda a sociedade, já que é dever desta de prestar a solidariedade frente aos

desafortunados, “sendo tal responsabilidade de cunho objetivo - não se cogitando,

sequer, da culpa do vitimado” (CASTRO; LAZZARI, 2012, p. 57). A exceção à

compulsoriedade é a categoria de segurado facultativo, pois como o próprio nome já

diz, não estabelece a filiação obrigatória, uma vez que estes segurados não auferem

renda alguma, de forma que a contribuição torna-se facultativa.

Ademais, a utilização do conceito de seguro social para descrever a

Previdência Social, não é de todo correto, tendo em vista que esta não se apresenta

como um seguro propriamente dito. Isto porque, ainda que o conceito de ambos se

pareça, pois há a contribuição tanto à Previdência quanto à seguradora para a

cobertura de eventuais e futuros sinistros, a natureza da Previdência não pode ser

considerada contratual – como no seguro – pois não há a liberalidade das partes em

pactuar, em razão da obrigatoriedade da filiação ao sistema (IBRAHIM, 2012).

A Previdência Social é, portanto, uma forma de proteção social aos segurados

ou dependentes destes, que de alguma forma necessitam de tal proteção, em razão

da perda total ou parcial, permanente ou temporária, das condições de manter sua

própria subsistência, seja por invalidez, morte – nos casos dos dependentes –,

prisão ou gestação. Para melhor compreensão, listam-se abaixo os segurados

obrigatórios e facultativos do RGPS e os dependentes legalmente determinados,

cujos conceitos foram inspirados nas ideias de Ibrahim (2012) e retirados da Lei nº

8.213/1991, em seus arts. 11 e 16 (BRASIL, 1991, www.planalto.gov.br) e Decreto

nº 3.048/1999, arts. 11 e 16 (BRASIL, 1999, www.planalto.gov.br):

Page 23: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

22

Segurados Obrigatórios

Empregado

a) aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural à empresa, em caráter não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração, inclusive como diretor empregado;

b) aquele que, contratado por empresa de trabalho temporário, definida em legislação específica, presta serviço para atender a necessidade transitória de substituição de pessoal regular e permanente ou a acréscimo extraordinário de serviços de outras empresas;

c) o brasileiro ou o estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar como empregado em sucursal ou agência de empresa nacional no exterior;

d) aquele que presta serviço no Brasil a missão diplomática ou a repartição consular de carreira estrangeira e a órgãos a elas subordinados, ou a membros dessas missões e repartições, excluídos o não-brasileiro sem residência permanente no Brasil e o brasileiro amparado pela legislação previdenciária do país da respectiva missão diplomática ou repartição consular;

e) o brasileiro civil que trabalha para a União, no exterior, em organismos oficiais brasileiros ou internacionais dos quais o Brasil seja membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo se segurado na forma da legislação vigente do país do domicílio;

f) o brasileiro ou estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar como empregado em empresa domiciliada no exterior, cuja maioria do capital votante pertença a empresa brasileira de capital nacional;

g) o servidor público ocupante de cargo em comissão, sem vínculo efetivo com a União, Autarquias, inclusive em regime especial, e Fundações Públicas Federais.

h) oexercente de mandato eletivo federal, estadual ou municipal, desde que não vinculado a regime próprio de previdência social

i) o empregado de organismo oficial internacional ou estrangeiro em funcionamento no Brasil, salvo quando coberto por regime próprio de previdência social.

Trabalhador Avulso

Aquele que, sindicalizado ou não, presta serviço de natureza urbana ou rural, a diversas empresas, sem vínculo empregatício, com a intermediação obrigatória do órgão gestor de mão deobra ou do sindicato da categoria.

Empregado Doméstico

Aquele que presta serviço de natureza contínua a pessoa ou família. No âmbito da residência desta, em atividades sem fins lucrativos.

Contribuinte Individual

a) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agropecuária, a qualquer título, em caráter permanente ou temporário, em área superior a 4 (quatro) módulos fiscais; ou, quando em área igual ou inferior a 4 (quatro) módulos fiscais ou atividade pesqueira, com auxílio de empregados ou por intermédio de prepostos; ou ainda nas hipóteses dos §§ 9

oe 10 deste artigo;

b) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade de extração mineral - garimpo, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por intermédio de prepostos, com ou sem o auxílio de empregados, utilizados a qualquer título, ainda que de forma não contínua;

c) o ministro de confissão religiosa e o membro de instituto de vida consagrada, de congregação ou de ordem religiosa;

d) o brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo oficial internacional do qual o Brasil é membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo quando coberto por regime próprio de previdência social;

e) o titular de firma individual urbana ou rural, o diretor não empregado e o membro de conselho de administração de sociedade anônima, o

Page 24: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

23

sócio solidário, o sócio de indústria, o sócio gerente e o sócio cotista que recebam remuneração decorrente de seu trabalho em empresa urbana ou rural, e o associado eleito para cargo de direção em cooperativa, associação ou entidade de qualquer natureza ou finalidade, bem como o síndico ou administrador eleito para exercer atividade de direção condominial, desde que recebam remuneração;

f) quem presta serviço de natureza urbana ou rural, em caráter eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego;

g) a pessoa física que exerce, por conta própria, atividade econômica de natureza urbana, com fins lucrativos ou não;

Segurado Especial

A pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, na condição de: a) produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado,

parceiro ou meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rurais, que explore atividade: 1. agropecuária em área de até 4 (quatro) módulos fiscais; 2. de seringueiro ou extrativista vegetal que exerça suas atividades e faça dessas atividades o principal meio de vida;

b) pescador artesanal ou a este assemelhado que faça da pesca profissão habitual ou principal meio de vida; e

c) cônjuge ou companheiro, bem como filho maior de 16 (dezesseis) anos de idade ou a este equiparado, do segurado de que tratam as alíneas a e b deste inciso, que, comprovadamente, trabalhem com o grupo familiar respectivo.

Segurados Facultativos

O maior de dezesseis anos de idade que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social, mediante contribuição, na forma do art. 199, desde que não esteja exercendo atividade remunerada que o enquadre como segurado obrigatório da previdência social.

Dependentes do RGPS

1ª classe Preferencial e com

presunção de dependência econômica

O cônjuge, a companheira, o companheiro, o parceiro homoafetivo (1), o ex-cônjuge ou ex-companheira que percebe alimentos ou comprove dependência econômica (2), e o filho não emancipado de qualquer condição, menor de vinte e um anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave. O menor enteado e o tutelado são equiparados a filho, se comprovada a dependência econômica.

2º classe Sem presunção de

dependência econômica

Os pais.

3ª classe Sem presunção de

dependência econômica

O irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de vinte e um anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave.

Tabela elaborada pela autora com dados de Ibrahim, 2012 / Lei 8.213, arts. 11 e 16 / Decreto 3.048, arts. 11 e 16. (1) Ação civil pública nº 2000.71.00.009347-0 ajuizada na 3ª Vara Previdenciária de Porto Alegre, determinou ao INSS considerar o companheiro ou a companheira homossexual como dependente preferencial (BRASIL, 2003, www.stf.jus.br). (2) Súmula 336, Superior Tribunal de Justiça – STJ (BRASIL, 2007, www.stj.jus.br).

Page 25: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

24

Conforme se pode observar na tabela acima, a Previdência Social abrange

grande parte dos trabalhadores e seus dependentes, tendo em vista seu caráter de

filiação compulsória; deixando ao desamparo, contudo, aqueles que não possuem

condições ou oportunidades de ter uma atividade laborativa. Esta, portanto,

[...] não esgota as necessidades da população mais carente; é que os planos, benefícios e serviços desta só atingem uma parte da população, vale dizer, aquela que tem uma ocupação definida no mercado formal de trabalho e, ainda, quando reconhecida a relação laboral, aos que, mesmo trabalhando no mercado informal, tenham exercido atividade laborativa. Ficam, contudo, excluídos deste sistema de proteção aqueles que não têm atividade – os desempregados, os inválidos que nunca trabalharam, os idosos que não tiveram direito à aposentação e os menores carentes. A todos estes, cumpre ao Estado prestar outra forma de proteção: a da assistência social (CASTRO; LAZZARI, 2012, p. 58).

Uma vez demonstradas as três áreas abrangidas pela Seguridade Social, não

resta dúvida acerca da importância do seu papel na sociedade como o instrumento

necessário para promover o bem-estar e a justiça social. Para tanto, a fim de que

esta concretize sua atuação da forma mais eficaz e efetiva, a Constituição Federal

estabeleceu os princípios que formam sua base concessiva e interpretativa, razão

pela qual a análise destes se torna pertinente para melhor compreensão do sistema

e da possível criação de novo benefício protetivo.

2.5 Princípios constitucionais da seguridade social

De modo geral, os princípios possuem grande relevância em toda sociedade,

sejam os princípios e os valores que norteiam cada indivíduo e a coletividade, sejam

os princípios que regem o ordenamento jurídico. Na verdade, não existe uma

separação completa entre eles, na medida em que os gerais complementarão os

específicos na aplicação de cada caso. Na Seguridade Social, não seria diferente.

A Constituição Federal (BRASIL, 1988, www.planalto.gov.br) elege em seus

art. 194 e 195, §5º, os princípios específicos da seguridade social de modo a facilitar

a aplicação e a interpretação de todo o ramo do Direito Previdenciário. Diz-se

específico uma vez que na seguridade também se aplica, de forma não menos

importante, os princípios e direitos fundamentais do Direito, dentre eles, a igualdade

e o direito adquirido. Abaixo, breve análise acerca dos princípios propostos pelo

constituinte.

Page 26: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

25

O primeiro a ser analisado está disposto no art. 194, I, da Constituição Federal

(BRASIL, 1988, www.planalto.gov.br) diz respeito à Universalidade de Cobertura e

Atendimento, princípio este que refere que “[...] qualquer pessoa pode participar da

proteção social patrocinada pelo Estado” (IBRAHIM, 2012, p. 66), de forma absoluta

– sem contribuição – na saúde e na assistência, e de forma limitada os contribuintes

da Previdência. Trata-se do grande campo de proteção da seguridade ao assegurar

a cobertura de “todos” os infortúnios e o atendimento a todos que fazem parte da

área securitária. Explica Ibrahim (2012) a dimensão objetiva da universalidade de

cobertura, na medida em que se refere a situações de necessidade, relacionadas

com todas as contingências da vida e a dimensão subjetiva, relacionada com a

universalidade do atendimento, que diz respeito aos sujeitos protegidos, no sentido

de que todas as pessoas são credoras de proteção social. Nesse sentido,

a universalidade de cobertura e atendimento é inerente a um sistema de seguridade social, já que este visa ao atendimento de todas as demandas sociais na área securitária. Além disso, toda a sociedade deve ser protegida, sem nenhuma parcela excluída. Obviamente, esse princípio é realizável, na medida em que recursos financeiros suficientes são obtidos. Não há como se criarem diversas prestações sem custeio respectivo. A universalidade será atingida dentro das possibilidades do sistema (IBRAHIM 2012, p. 66).

Não se trata, portanto, de um princípio de aplicação absoluta, uma vez que

este será limitado por outros princípios, conforme se verá adiante, dentre eles pelo

princípio da seletividade, também presente no rol do art. 194 da Constituição Federal

(BRASIL, 1988, www.planalto.gov.br).

O segundo princípio a ser analisado, disposto no art. 194, II, da Constituição

Federal (BRASIL, 1988, www.planalto.gov.br) refere à Uniformidade e Equivalência

dos Benefícios e Serviços às Populações Urbanas e Rurais, que de forma justa e

positiva, igualou o trabalhador rural ao trabalhador urbano. Aquele até então recebia

tratamento diferenciado – pior – em detrimento deste e que sequer esteve inserido

como segurado na previdência social até meados de 1971 (IBRAHIM, 2012).

Apesar do papel fundamental dos agricultores na sociedade, em razão da

atividade desempenhada, a maioria destes trabalhadores vive em situação precária

e são poucos valorizados, além de trabalharem dia e noite, de segunda a domingo.

Este princípio, portanto, atenua e visa equiparar os trabalhadores urbanos e rurais,

uma vez que

Page 27: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

26

[...] todos são trabalhadores. Se as contribuições rurais não atingem patamar adequado, isto não é culpa do trabalhador. Ademais, cabe aqui a aplicação do princípio da solidariedade – os trabalhadores urbanos auxiliam no custeio dos benefícios rurais (IBRAHIM, 2012, p. 67).

Contudo, por se tratarem de populações diversas, algumas distinções entre os

urbanos e os rurais serão sim possíveis, desde que “justificáveis perante a isonomia

material” (IBRAHIM, 2012, p. 67) e observadas com base em critérios razoáveis,

tendo em vista se tratar de uma categoria de trabalhadores com características

peculiares e que merece tratamento justo e razoável, na medida das suas

desigualdades (IBRAHIM, 2012).

O terceiro princípio constitucional a ser elucidado, está disposto no art. 194, III,

da Constituição Federal (BRASIL, 1988, www.planalto.gov.br) e diz respeito à

Seletividade e Distributividade na Prestação dos Benefícios e Serviços, de forma

que a seletividade permite que a Seguridade Social imponha requisitos na

concessão de benefícios e serviços a quem realmente necessita; como é o caso do

LOAS, concedido somente ao segurado idoso ou deficiente e que comprove,

simultaneamente, sua condição de baixa renda. Ao segurado que se encontra

incapaz de forma temporária, por exemplo, será concedido o auxílio-doença, e não a

aposentadoria por invalidez. Deste modo, o segurado não terá direito a todos os

benefícios existentes, e sim àqueles que preenchidas as condições impostas pela

seguridade (CASTRO; LAZZARI, 2012).

O princípio da distributividade possui a essência da solidariedade, ao passo

que se refere à distribuição de renda. O mesmo exemplo do LOAS acima referido se

encaixa neste princípio, pois uma vez concedendo um benefício vitalício, ao idoso ou

deficiente, que nunca contribuíram, está se distribuindo a renda e praticando a

justiça social constitucionalmente visada (CASTRO; LAZZARI, 2012).

O quarto princípio inserido no texto constitucional está previsto no art. 194, IV

(BRASIL, 1988, www.planalto.gov.br) e diz respeito à Irredutibilidade do Valor dos

Benefícios e, de acordo com este princípio, o benefício assistencial ou

previdenciário, não poderá ser reduzido a ponto de perder seu valor real. Para tanto,

este deverá ser atualizado de acordo com a inflação do período (IBRAHIM, 2012).

Em contrapartida, é recorrente a confusão da atualização do salário mínimo

com a atualização dos benefícios da seguridade. Conforme este princípio, o

benefício não deverá perder seu valor real, o que não significa dizer que ele será

Page 28: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

27

atualizado na mesma proporção que o salário mínimo. O que acontece é que os

benefícios com renda mensal inicial – RMI igual ao salário mínimo jamais serão

inferior a este valor2; e, portanto, serão atualizados de acordo com este.

Diferentemente do que acontece aos benefícios que possuem RMI superior ao

mínimo nacional, estes terão a atualização de acordo com a inflação, que quase

sempre é inferior à atualização do salário mínimo (IBRAHIM, 2012). É por esta razão

que, habitualmente, os segurados aposentados ou pensionistas reproduzem uma

afirmação de violação a este princípio, com o entendimento de que “antigamente

auferiam cinco salários mínimos e hoje apenas dois”, por exemplo.

Nestes casos, portanto, não se trata de violação e sim a forma de atualização

frente aos reajustes legais dos benefícios previdenciários que com o passar dos

anos, possivelmente, equiparará todos os benefícios ao salário mínimo nacional.

O quinto princípio referido pelo constituinte no art. 194, V da Constituição

Federal (BRASIL, 1988, www.planalto.gov.br) diz respeito à necessidade da

Equidade na Forma de Participação no Custeio. Para melhor entender este princípio,

é necessário observá-lo com base na ideia da solidariedade que norteia a

Seguridade Social. Isto porque, o sistema de contribuição será semelhante, em

alguns casos, aos impostos, o que significa afirmar que aqueles que auferem maior

renda, terão contribuição maior se comparados com aqueles que auferem renda

inferior, sendo alguns, inclusive, excluídos das contribuições (IBRAHIM, 2012).

O sexto princípio disposto no art. 194, VI, da Constituição Federal (BRASIL,

1988, www.planalto.gov.br) que ora se demonstra diz respeito à Diversidade da

Base de Financiamento, de forma que permite à Seguridade Social, atualmente

constituída de um “sistema contributivo e não contributivo” (CASTRO; LAZZARI,

2012, p. 116), várias fontes de custeio, não ficando restrita à forma tripartite de

pagadores – poder público, trabalhadores e empregadores, permitindo a ampliação

da sua receita sobre os concursos e prognósticos e importadores (CASTRO;

LAZZARI, 2012). Nesse sentido, tem-se que quanto mais protetiva e mais próxima

da justiça social, mais recursos serão necessários à Seguridade Social (BALERA,

2004).

O sétimo princípio disposto pelo constituinte no art. 194, VII, da Constituição

Federal (BRASIL, 1988, www.planalto.gov.br) diz respeito ao Caráter Democrático e

2Ver art. 201, § 2º da Constituição Federal.

Page 29: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

28

Descentralizado da Administração. Com base neste princípio, os diretamente

interessados participam da administração da seguridade, razão pela qual a

organização do sistema da Seguridade Social é realizada mediante gestão

quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos

aposentados e do Poder Público (SANTOS, 2016).

Conforme art. 3º da Lei 8.213/91 (BRASIL, 1991, www.planalto.gov.br), essa

participação é realizada por meio do Conselho Nacional de Previdência Social –

CNPS e tem como membros, seis representantes do Governo Federal; nove

representantes da sociedade civil, sendo destes últimos, três representantes dos

aposentados e pensionistas; três representantes dos trabalhadores em atividade;

três representantes dos empregadores (SANTOS, 2016).

Para finalizar, o oitavo princípio constitucional diz respeito à necessidade de

Preexistência do Custeio em relação ao benefício ou serviço; ou seja, a Constituição

Federal expressamente determina que nenhum benefício ou serviço da seguridade

social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de

custeio total, conforme previsto no art. 195, § 5º, Constituição Federal (BRASIL,

1988, www.planalto.gov.br), a fim de evitar qualquer deficit na Seguridade Social.

Deste modo, a simples previsão legal de majoração de qualquer benefício, sem

que haja a previsão da origem dos recursos, será considerada inconstitucional com

base neste princípio, razão pela qual, a criação do benefício ora proposto – Auxílio-

Doença Parental – deverá analisar uma fonte de custeio capaz de permitir sua

criação e consequente enquadramento no rol dos benefícios atualmente concedidos.

Analisado o desenvolvimento da Seguridade Social desde os primórdios da

proteção social até o sistema atualmente constituído em suas três áreas de atuação,

não resta dúvida que este se revela como um mecanismo necessário para garantir a

proteção social na forma mais eficaz para reproduzir o bem-estar proposto pelo

constituinte. Nesse sentido, um sistema concretizado pela essência da solidariedade

visa reduzir as desigualdades frente às adversidades da vida rumo ao bem-estar

idealizado cuja ocorrência ocorrerá, nas palavras de Balera (2004, p.35),

quando [...] a seguridade social – combinação da igualdade com a solidariedade – propiciar equivalente quantidade de saúde, de previdência e de assistência a todos quantos necessitam de proteção, poder-se-á dizer desse momento histórico: o bem-estar e a justiça estão concretizados (grifado no original).

Page 30: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

29

Outrossim, ainda que a desigualdade esteja presente nos países que se

desenvolvem pelo sistema capitalista, sendo esta grande ou pequena, é dever da

sociedade, intervinda pelo Estado agir a ponto de reduzi-las ao máximo, uma vez

que “[...] uma desigualdade torna-se um instrumento de igualdade pelo simples

motivo de que corrige uma desigualdade anterior: a nova igualdade é o resultado da

equiparação de duas desigualdades” (BOBBIO, citado por CASTRO; LAZZARI,

2012, p. 56).

Na medida em que a Seguridade Social representa um dos meios para se

concretizar esse ideal, toda a sociedade tem o dever de defender ativamente os

direitos sociais até hoje conquistados e, não menos que isto, lutar pela ampliação

destes e pela desejada justiça social. É nesta linha de raciocínio que o presente

trabalho defende a ampliação dos benefícios sociais, mediante a criação de um novo

benefício previdenciário aos segurados do RGPS, haja vista a possibilidade

orçamentária do sistema, demonstrada no capítulo seguinte, bem como a iminente

necessidade da ampliação da proteção social demonstrada no terceiro capítulo.

Page 31: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

30

3 POSSIBILIDADE ORÇAMENTÁRIA PARA O CUSTEIO DE NOVO BENEFÍCIO

PREVIDENCIÁRIO

Para analisar a possibilidade da criação de novo benefício ou serviço da

Seguridade Social, seja este na área da saúde, assistência ou previdência, o art.

195 §5º, da Constituição Federal (BRASIL, 1988, www.planalto.gov.br), já descrito

no capítulo anterior, impõe a necessária indicação da correspondente fonte de

custeio total que será usada na concessão deste, de forma que a falta de indicação

impossibilitaria sua criação ou o tornaria inconstitucional.

Nesse sentido, após a descrição do funcionamento do sistema da seguridade

social e seus três pilares de atuação realizada no capítulo anterior, necessária se faz

a análise detalhada acerca do funcionamento do custeio da Seguridade Social

brasileira, para esclarecer o financiamento, as despesas e o saldo que esta

apresentou nos últimos anos, a fim de verificar a possibilidade orçamentária no

custeio do benefício previdenciário apresentado pelo presente trabalho.

3.1 Custeio da seguridade social

O que se observa a respeito da matéria é que grande parcela da população

tem em mente que as contribuições sociais correspondem à folha de pagamento dos

empregados e do repasse dos contribuintes individuais e facultativos, sem se darem

por conta que a Constituição Federal, corroborada pelas leis infraconstitucionais que

dispõem sobre a organização da Seguridade Social, na verdade, determina outras

diversas fontes de custeio próprias da Seguridade Social, de forma a torná-la, na

verdade, uma estrutura “[...] com sólidas e diversificadas bases de arrecadação que,

até o momento, está preservada no texto da Constituição” (GENTIL, 2006, p. 34).

A indicação da fonte de custeio para a criação do benefício ora apresentado

torna-se ainda mais importante diante das inúmeras alegações de

insustentabilidade, ligadas, principalmente, à Previdência Social, que o governo

insiste em reforçar. Por esta razão, a problemática consiste em refutar alegações

com este teor, que informam um orçamento equivocado e diverso da realidade,

baseado em informações que não condizem com a realidade quando se trata de um

sistema de Seguridade Social e não um orçamento apartado de previdência pública,

Page 32: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

31

isto porque os orçamentos públicos possuem previsão constitucional, conforme art. 165 da Carta Magna, sendo oficiais e legítimos apenas três: orçamento fiscal, orçamento de investimento das empresas públicas da União e orçamento da seguridade social. Não existe, portanto, orçamento da Previdência Social [...] (RODRIGUES, 2016, p. 135).

Trata-se, portanto, de um sistema orçamentário próprio, na qual as

contribuições são destinadas a este e os segurados contribuem sem a certeza de

que receberão efetivamente tudo o contribuíram, diferentemente “[...] dos sistemas

de capitalização, em que cada contribuinte teria uma conta individualizada (como

ocorre com o FGTS)” (CASTRO; LAZZARI, p. 115).

O financiamento dos serviços e benefícios sociais, portanto, decorre do

orçamento da Seguridade Social, através das contribuições vertidas em favor do

sistema, demonstrando a clara omissão por parte do governo da amplitude das

arrecadações para a seguridade, razão pela qual se mostra pertinente a reserva de

um capítulo inteiro para tratar o assunto.

Para introduzir os moldes do financiamento da seguridade, dois princípios, já

demonstrados no capítulo anterior, se destacam: o princípio da Diversidade na Base

de Financiamento, na medida em que a Seguridade Social apresenta diversas fontes

de custeio, não se restringindo ao Poder Público, trabalhadores e empregadores

somente; e o princípio da Equidade na Forma de Participação do Custeio, na medida

em que o financiamento se apresenta solidário ao propor contribuições proporcionais

ao poder aquisitivo de cada um.

Este contexto de participação de todos os interessados e ampliação dos

recursos e contribuições sociais no financiamento do sistema caracterizaram

[...] uma conquista de grande importância, porque a previdência financiada unicamente pela folha de salários entrou em crise nos anos 80, quando a economia brasileira entrou em recessão e o emprego desabou. O crescimento do desemprego, a queda do rendimento médio real dos assalariados e o aumento do número de trabalhadores sem vínculo formal de trabalho mostraram a vulnerabilidade de um sistema de proteção social financiado exclusivamente por contribuições sobre a folha de salários (GENTIL, 2006, p.35).

Ainda nas palavras de Gentil (2006, p.36-37),

diversificou-se, então, a captação de receitas, com a inclusão de contribuições sociais que incidem sobre o faturamento, o lucro, a apuração das loterias e, posteriormente, a movimentação financeira, para que não apenas a previdência, mas o sistema de seguridade social como um todo se

Page 33: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

32

tornasse menos vulnerável ao ciclo econômico e fazendo com que toda a sociedade contribuísse para a manutenção das três áreas [...].

O orçamento próprio da Seguridade Social e as contribuições sociais

constitucionalmente determinadas a financiá-la, traduz a ideia de que toda e

qualquer arrecadação para o sistema deve ser utilizada com os serviços e benefícios

garantidos por ela própria – Seguridade Social, razão pela qual um orçamento

próprio demonstra um progresso social de extrema importância, inclusive para

argumentar a criação de novo benefício previdenciário, e

[...] justifica-se na medida da importância que adquirem as ações de seguridade social, todas elas envolvendo direitos fundamentais. Com orçamento apartado, imaginou o constituinte, seria mais difícil a União apanhar recursos da seguridade social para investir em despesas gerais, tecnicamente custeada pelos impostos (VIANNA, 2012, p. 116-117).

Quanto à natureza jurídica das contribuições sociais, ainda há certa discussão

e opinião divergente pelos doutrinadores, contudo, o próprio Supremo Tribunal

Federal – STF já se manifestou nesse sentido, ao afirmar que estas são,

indiscutivelmente, modalidade de tributo, não se identificando, portanto, com os

impostos, taxas e contribuições de melhoria, em razão da específica destinação

constitucional (VIANNA, 2012). Sobre o assunto, destaca-se o acórdão do RE

146733:

A natureza tributária da [...] contribuição é induvidosa, não somente em face da referência contida no art. 195, parágrafo 6º, à norma do art. 150, III, b, [...] mas também diante da ressalva que o art. 149, caput, faz ao mencionado art. 195, parágrafo 6º, após afirmar que as contribuições sociais estão sujeitas às normas do art. 146, III, e 150, I e III, que dizem com a lei complementar instituidora das normas gerais sobre matéria tributária e com os princípios da retroatividade e da anualidade, que regem a cobrança de tributo (BRASIL, 1992, www.stf.jus.br, grifado no original).

Conforme Vianna (2012) a confusão pode acontecer em razão do art. 5º da Lei

5.172 de 1966, que disciplina sobre o Sistema Tributário Nacional, que define os

tributos como impostos, taxas e contribuições de melhoria somente. Contudo,

conforme a Carta Magna, as contribuições sociais estão incluídas no mesmo

capítulo que versa sobre o Sistema Tributário Nacional, razão pela qual são

modalidades de tributo.

Para Vianna (2012) está correto o entendimento do STF em caracterizar a

natureza tributária das contribuições sociais, visto que estas não podem ser

consideradas impostos, taxas ou contribuições de melhoria, uma vez que a

Page 34: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

33

Constituição Federal de 1988, diversamente destas, impõe àquelas a necessidade

de possuir uma finalidade determinada, na medida em que toda a arrecadação à

seguridade social deve ser utilizada nessa finalidade – proteção social,

diferentemente do que ocorre com os impostos e taxas, por exemplo, que não têm

finalidade constitucionalmente determinada, sendo irrelevante a destinação das

arrecadações destes. A título de exemplo, o autor muito bem destaca que

[...] nas contribuições é o próprio valor arrecadado que vai financiar aquelas atividades específicas. Nas taxas, por outro lado, os gastos ocorrem antecipadamente, são custeados pelo próprio Estado, e o valor arrecadado apenas vai “compensar” aqueles gastos. Não têm finalidade constitucionalmente determinada (VIANNA, 2012, p. 81).

Ademais, dentre as contribuições sociais vistas ao decorrer deste capítulo, a

Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL, por si corrobora a natureza

tributária das contribuições sociais, pois se esta fosse caracterizada como imposto

teria a mesma natureza que o Imposto de Renda da Pessoa Jurídica – IRPJ. Ambos

ocorrem em razão do lucro. Tem-se, portanto, duas espécies tributárias distintas,

reafirmando a natureza tributária das contribuições sociais (VIANNA, 2012).

Depois de introduzida a ideia inicial do custeio da Seguridade Social, passa-se

a análise das efetivas contribuições sociais que sustentam o orçamento da

seguridade nas suas três áreas de atuação, constitucionalmente determinadas.

3.2 Contribuições sociais

A Carta Magna (BRASIL, 1988, www.planalto.gov.br) conjuntamente com a Lei

nº 8.212/91 (BRASIL, 1991, www.planalto.gov.br) e o Decreto nº 3.048/98 (BRASIL,

1998, www.planalto.gov.br) dispõem que a Seguridade Social será financiada por

toda a sociedade, de forma direta e indireta mediante recursos provenientes dos

orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de

contribuições sociais das empresas, dos trabalhadores, dos empregadores

domésticos, da comercialização da produção rural, das associações desportivas que

mantêm equipe de futebol profissional, da importação de bens e serviços e da

receita de concursos de prognósticos.

A forma indireta de financiamento da Seguridade Social que a Constituição

Federal refere está intimamente ligada aos consumidores em geral, que contribuem

Page 35: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

34

indiretamente à seguridade, através do pagamento de contribuições embutidas nos

preços dos produtos ou serviços oferecidos pelo Estado. Ainda, na medida em que

se adquire um produto, aumenta-se o faturamento das empresas que incidirá no

repasse destes à Seguridade Social. Como a maioria, senão todas as empresas

acrescentam ao produto final o preço da tributação “[...] os maiores responsáveis

pelo custeio do sistema prosseguem sendo os trabalhadores e os empregadores”

(BALERA, citado por VIANNA, 2012, p. 122).

Para elucidar de forma mais clara, colaciona-se abaixo tabela das contribuições

do sistema da seguridade cujos dados foram descritos por Santos (2016),

corroborados pelo art. 31 §1º da Lei nº 10.833/03 (BRASIL, 2003, www.planalto.

gov.br), art. 17 da Lei nº 11.727/08 (BRASIL, 2008, www.planalto.gov.br) e Portaria

MF nº 8/2017 (BRASIL, 2017, www.receita.fazenda.gov.br):

Empregador

a) 20%: decorrente do total das remunerações pagas, devidas ou creditadas, a qualquer título, no decorrer do mês, ao empregado, trabalhador avulso ou autônomo que lhe preste serviços;

b) 1%, 2% ou 3%: de acordo com o Risco de Acidente de Trabalho – RAT da empresa (1);

c) 3,65%: incidente sobre o faturamento ou receita (PIS/COFINS); d) 15%: incidente sobre o lucro líquido – CSLL (às instituições

bancárias); 9%: incidente sobre o lucro líquido – CSLL (às demais empresas).

Empregador Doméstico

8% (2) do salário-de-contribuição (3) do empregado.

Empregado

a) 8% do salário-de-contribuição até R$ 1.659,38; b) 9% do salário-de-contribuição de R$ 1.659,39 a R$ 2.765,66; c) 11% do salário-de-contribuição de R$ 2.765,67 até R$ 5.531,31.

Empregado Doméstico

Trabalhador Avulso

Contribuinte

Individual

a) 20% do salário-de-contribuição (Regra); b) 11% do salário mínimo nacional (Plano simplificado da Previdência

Social – PSPS) (4); c) 5% do salário mínimo nacional (Micro Empreendedor Individual –

MEI) (5).

Contribuinte Facultativo

a) 20% do salário declarado (Regra); b) 11% do salário mínimo nacional (Plano simplificado da Previdência

Social – PSPS);

c) 5% do salário mínimo nacional (6).

Segurado Especial

a) 2% da receita bruta proveniente da comercialização da sua produção;

b) 0,1% referente às prestações por acidente de trabalho.

Tabela elaborada pela autora com dados de Santos, 2016 / art. 31 §1º da Lei nº 10.833/03 / art. 17 da Lei nº 11.727/08 / Portaria MF nº 8/2017. (1) As alíquotas poderão ser acrescidas nos percentuais de 12%, 9% ou 6%para os trabalhadores expostos a condições especiais (SANTOS, 2016). (2) A alíquota de 12% foi alterada para 8% pela Lei Complementar nº 150/2015 (SANTOS, 2016).

Page 36: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

35

(3) “O salário de contribuição é o valor que serve de base de incidência das alíquotas das contribuições previdenciárias” (CASTRO; LAZZARI, 2012, p. 235). (4) O Plano Simplificado da Previdência Social - PSPS foi instituído pela Lei Complementar 123/06 (BRASIL, 2006, www.planalto.gov.br) e não dá direito ao benefício de Aposentadoria por Tempo de Contribuição. Quem quiser dela se beneficiar, deverá contribuir a diferença da alíquota de 11% a 20%, conforme art. 21, § 2º e 3º da Lei 8.212/91(BRASIL, 1991, www.planalto.gov.br). (5)Considera-se MEI o empresário individual tenha auferido receita bruta, no ano-calendário anterior, de até R$ 81.000,00, que não tenha participação em outra empresa como sócio ou titular e que não tenha empregado contratado, conforme art. 18-A da Lei Complementar 123/06 (BRASIL, 2006, www.planalto.gov.br). (6) A Alíquota diferenciada é destinada ao segurado que não possui renda própria e que se dedica exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua residência, desde que pertencente à família de baixa renda, conforme disposto na Lei 8.212/91, art. 21, §2º, “b” (BRASIL, 1991, www.planalto.gov.br).

Em relação às empresas, é importante mencionar que nas contribuições

referentes às remunerações dos empregados não há limite máximo, isto é, a

contribuição não se limita ao teto previdenciário. Por esta razão, o funcionário que

aufere a remuneração de R$ 8.000,00, por exemplo, obriga a empresa a contribuir

20% desta remuneração e não sobre o limite do teto que atualmente corresponde ao

valor de R$ 5.531,31 (IBRAHIM, 2012).

Observando a tabela acima, diferentemente da empresa, o empregado, o

trabalhador avulso e o empregado doméstico, contribuem de acordo com seu

salário-de-contribuição, observando o limite do teto previdenciário. Frente a esta

premissa, o trabalhador que aufere maior renda, tem a maior alíquota de desconto.

Assim, por exemplo, para o empregado com salário-de-contribuição de R$ 3.000,00,

a alíquota utilizada como base de cálculo para o recolhimento é de 11%. Já se o

salário-de-contribuição equivale ao valor de R$ 2.700,00 a alíquota utilizada é de

8%, em conformidade com os percentuais e valores da tabela acima.

Em contrapartida, os empregados que possuem remuneração acima do teto

previdenciário (acima de R$ 5.531,31) pagam, a título de contribuição previdenciária,

11% sobre este teto. Nesse sentido, o empregado que aufere renda de R$ 8.000,00

paga de contribuição à previdência 11% de R$ 5.531,31 (teto) e não 11% da sua

renda de R$ 8.000,00 (IBRAHIM, 2012), sendo responsabilidade da empresa a

realização dos descontos, tendo em vista que

[...] o desconto de contribuição [...] sempre se presume feito oportuna e regularmente pela empresa a isso obrigada, não lhe sendo lícito alegar omissão para se eximir do recolhimento, ficando diretamente responsável pela importância que deixou de receber ou arrecadou, em desacordo com o disposto em Lei (art. 33, § 5º, da Lei nº 8.212/91) (IBRAHIM, 2012, p. 227).

Page 37: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

36

Para as pessoas que possuem atividades em diferentes empresas, a alíquota

utilizada para o cálculo da contribuição é a remuneração recebida em todas estas e,

para que os valores sejam descontados corretamente, as empresas devem se

comunicar a fim de que cada uma possa “[...] efetuar o desconto sobre sua parcela

com a alíquota respectiva [...]” (IBRAHIM, 2012, p. 226). Ademais, esta comunicação

revela-se importante também nos casos em que a contribuição do empregado já

atinja o teto previdenciário em uma empresa, pois o desconto deste deve ser

realizado somente nesta e em mais nenhuma (IBRAHIM, 2012).

Já para o trabalhador contribuinte individual ou facultativo, não há alíquotas

diferenciadas de acordo com sua remuneração. Esta, em regra, será constante no

valor de 20% do salário-de-contribuição. Este percentual elevado, contudo, tornou-

se um obstáculo na proteção social das pessoas com baixo poder aquisitivo, na

medida em que estas deixavam de contribuir ficando fora da proteção previdenciária.

Para tanto, a Lei Complementar nº 123 instituiu, em 2006, alíquotas diferenciadas de

11% e 5%, conforme demonstra a tabela acima, e os segurados optantes destes

sistemas simplificados têm cobertura de todos os benefícios previdenciários, exceto

a Aposentadoria por Tempo de Contribuição (SANTOS, 2016).

Também de forma a não prejudicar o segurado Contribuinte Individual que

presta serviços à empresa, a Lei 8.212/91 no art. 30, §4º, confere a possibilidade de

dedução dos contribuintes de 45% da contribuição da empresa, incidente sobre a

remuneração que esta lhe tenha pago ou creditado, limitada a dedução de 9% do

respectivo salário-de-contribuição (BRASIL, 1991, www.planalto.gov.br). Assim, um

contribuinte individual que recebeu R$ 1.000,00 de uma empresa ao deduzir 45%

dos 20% da remuneração, contribuirá com R$ 110,00 e não R$ 200,00, pois, não

seria correto o contribuinte individual ser descontado o valor cheio e mais 20%, uma

vez que, as empresas também contribuem sobre a remuneração destes

trabalhadores (IBRAHIM, 2012).

Convém destacar ainda que, aos empregadores domésticos a lei determina

que o recolhimento previdenciário seja realizado sobre o salário-de-contribuição do

empregado, possuindo, portanto, o limite do teto previdenciário. Aos demais

empregadores não há esta limitação ao teto (IBRAHIM, 2012).

Outra observação que merece prosperar é que o segurado especial também

tem sua parcela de contribuição à Seguridade Social com alíquotas e descontos

diferenciados, pois “ao contrário dos demais segurados, a contribuição [...] não é,

Page 38: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

37

necessariamente, mensal, pois esta somente existe quando há alguma venda de

produto rural” (IBRAHIM, 2012, p. 237); ainda assim, apesar das alíquotas serem

diferenciadas, não há que se falar em afronta ao princípio da isonomia,

considerando se tratar de uma atividade de extrema importância à sociedade,

executada, muitas vezes, em situações precárias. Trata-se, na verdade, de uma

forma de concretizar o tratamento de igualdade material aceito pelo ordenamento

jurídico brasileiro, além de aproximar à justiça e à igualdade social.

Seguindo a linha das contribuições, a associação desportiva que mantém

equipe de futebol profissional contribui à Seguridade Social no percentual de 5% da

receita bruta dos espetáculos desportivos de que participem em todo território

nacional em qualquer modalidade desportiva, inclusive jogos internacionais, e de

qualquer forma de patrocínio, licenciamento de uso de marcas e símbolos,

publicidade, propaganda, conforme determina o art. 22, §6º da Lei 8.212/91

(BRASIL, 1991, www.planalto.gov.br).

Ademais, além de todas as contribuições acima referidas, há o percentual

destinado à Seguridade Social da importação de bens e serviços e da receita de

concursos de prognósticos, e ainda outras contribuições sociais dispostas no art.

213, do Decreto 3.048/98 (BRASIL, 1998, www.planalto.gov.br).

Desta forma, a Constituição e as leis que dispõem sobre o custeio da

Seguridade Social determinam as diversas fontes de recursos que mantém o

sistema, de forma que não há como mencionar que a previdência é financiada

apenas pela folha de pagamento dos funcionários. Ademais, além dos diversos

recursos serem destinados diretamente aos três pilares da seguridade, todas as

estas contribuições devem ser utilizadas tão somente para prover benefícios

próprios da saúde, assistência e previdência.

Após demonstração das contribuições vertidas em favor da Seguridade Social,

analisar-se-á a seguir a receita e as despesas próprias do sistema, de forma a

verificar a sustentabilidade deste e a consequente possibilidade orçamentária para o

custeio de novo benefício previdenciário no atual contexto.

3.3 Orçamento

O atual cenário brasileiro, em termos de proteção social, tem visto a

perseverante tentativa do governo de retroceder ainda mais os direitos sociais, que

Page 39: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

38

sequer contemplam todos os riscos sociais atualmente existentes, com o Projeto de

Lei da reforma previdenciária, sustentada por argumentos e dados que não

condizem com a realidade do sistema, nem com as disposições constitucionais

acerca do seu orçamento e, tão pouco, com os números demonstrados anualmente

pelos próprios auditores da Receita Federal (RODRIGUES, 2016).

Sobre a matéria, convém destacar dois de todos os argumentos utilizados pelo

Governo Federal, na justificativa da própria Proposta de Emenda à Constituição -

PEC nº 287 que pretende reformar o sistema previdenciário, além de supostamente

sustentar a condição deficitária do sistema: a) mudanças ocorridas no perfil

demográfico da população brasileira; e b) aposentadorias supostamente precoces.

Em relação ao primeiro argumento o Governo Federal, justificou que

[...] o número de idosos com 65 anos ou mais de idade crescerá 262,7%, alcançando 58,4 milhões em 2060. Ou seja, a evolução demográfica aponta para uma maior quantidade de beneficiários do sistema, recebendo benefícios por maior período de tempo, em contraponto com menor quantidade de pessoas em idade contributiva, tornando imprescindível a readequação do sistema de Previdência Social para garantir seu equilíbrio e, consequentemente, a sua sustentabilidade no médio e longo prazo (CÂMARA DOS DEPUTADOS, p. 15, www.camara.gov.br).

Em relação ao primeiro argumento, o que se pode afirmar é que as mudanças

culturais e estatísticas têm mostrado que a questão demográfica é, realmente, uma

realidade que se apresenta, e os fatores de baixa natalidade e envelhecimento da

população são fatores diretamente ligados à Seguridade Social, atingindo

principalmente o futuro da Previdência Social, pois não se sabe se haverá

trabalhadores ativos suficientes para financiar as aposentadorias e pensões dos

idosos. Ainda assim, tem-se utilizado o envelhecimento da população como algo

negativo, quando na verdade este demonstra o lento e gradativo progresso da

qualidade de vida do país, ligado “[...] diretamente na longevidade, muitas vezes

assumindo a conotação econômica de vulnerabilidade social” (HORVATH JÚNIOR;

QUEIROZ, 2016, p. 154).

Deste modo, ainda que haja questões a serem reestruturadas a fim de

acompanhar a demografia do país em longo prazo, estas devem ocorrer de forma

coerente com a realidade que se apresenta e sem retrocesso em termos de

proteção social, pois as mudanças na demografia não traduzem o problema central

do orçamento da Seguridade Social (HORVATH JÚNIOR; QUEIROZ, 2016).

Page 40: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

39

No tocante às aposentadorias precoces no Brasil, o Governo Federal entende

que estas estão contribuindo para o suposto colapso da Previdência Social

brasileira, e para isso tem, equivocadamente, comparado a média de idade das

aposentadorias dos brasileiros com a média de idade dos americanos e europeus,

utilizando este como um dos argumentos para a reforma e para o aumento na idade

das aposentadorias, sem que para isso considere as realidades distintas entre as

nações, sejam elas culturais ou econômicas, conforme trecho da PEC nº 287 abaixo:

[...] esta elevação também tem como objetivo a convergência dos critérios previdenciários brasileiros para os padrões internacionais, sobretudo, em comparação com países que já experimentaram a transição demográfica em sua plenitude [...] Considerando a experiência internacional, o Brasil se enquadra entre os países que possuem as mais baixas idades médias de aposentadoria. A título de ilustração, atualmente a idade média de aposentadoria para homens no Brasil é de 59,4 anos enquanto [...] em países com o envelhecimento populacional em estágio mais avançado que o nosso, a média já supera os 65 anos (CÂMARA DOS DEPUTADOS, p. 17, www.camara.gov.br).

Ademais, sobre esta questão, é imprescindível relembrar que, com exceção

dos segurados aposentados pela Aposentadoria Especial, que não poderão retornar

voluntariamente à atividade que os expõe a agentes nocivos, sob pena de ter sua

aposentadoria automaticamente cancelada, conforme disposto no art. 57, §8º da Lei

8.213/91 (BRASIL, 1991 www.planalto.gov.br) e dos Contribuintes Individuais que,

eventualmente, continuarão o labor na informalidade, grande parte dos jovens

aposentados permanecem empregados, regidos pela Consolidação das Leis do

Trabalho – CLT e, portanto, vertendo contribuições aos cofres da seguridade, tendo

em vista o caráter compulsório da filiação dos empregados, sem que com isso

tenham qualquer vantagem em se tratando de Previdência Social, tendo em vista a

expressa vedação de cumulação de certos benefícios prevista na Constituição

Federal, como por exemplo, a impossibilidade do aposentado empregado cumular a

aposentadoria, com um possível Auxílio-Doença, caso fique temporariamente

incapacitado para o trabalho.

Ademais, além da expressa vedação à cumulação de benefícios

constitucionalmente imposta, em 2016, o STF julgou o RE 661.256 com a relatoria

do Ministro Roberto Barroso (BRASIL, 2016, www.stf.jus.br) e entendeu pela

inconstitucionalidade do instituto da “desaposentação”, traduzindo a impossibilidade

de renúncia da atual aposentadoria visando benefício mais vantajoso.

Page 41: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

40

Deste modo, caem por terra os argumentos de que as aposentadorias

precoces causam um colapso no sistema, tendo em vista que grande parte dos

trabalhadores permanece empregada e, portanto, contribuem de forma solidária,

pois não obtém qualquer benefício previdenciário advindo destas contribuições.

Afora os argumentos acima destacados, observa-se o nítido equívoco do

Governo Federal no cálculo orçamentário, uma vez que bilhões de reais da receita

advinda das contribuições sociais são desconsiderados e outros bilhões de reais em

despesas que não poderiam entrar nas contas são acrescidos, conforme informa a

própria Associação Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil –

ANFIP (2016). O exemplo disso são os recursos da COFINS e CSLL

desconsiderados no cálculo do governo como orçamento da previdência, quando, na

verdade,

pelo artigo 195 da Constituição Federal essas receitas pertencem, expressamente, ao financiamento da seguridade social, logo, não são recursos transferidos, mas recursos próprios. Mais do que isso, abriu-se espaço para a afirmação de que tais recursos, transferidos da União, são valores destinados a cobrir um suposto déficit no orçamento da previdência com verbas subtraídas do orçamento fiscal. Essa interpretação distorce a verdadeira natureza da questão e dá margem a uma análise defeituosa que coloca a previdência social como alvo de reformas urgentes por ameaçar o equilíbrio fiscal do governo geral. (GENTIL, 2006, p. 39, grifado no original).

Conforme informações retiradas do site oficial da Previdência Social, o próprio

Governo Federal reconhece como receita da seguridade tão somente as

contribuições da folha de pagamento dos empregados e as contribuições advindas

dos concursos de prognósticos, excluindo todas as demais (RODRIGUES, 2016).

Esta insistência do governo, contudo, de repassar informações que não representam

a realidade do sistema orçamentário da Seguridade Social é grave a ponto de

induzir a população a realizar juízos equivocados sobre a real necessidade da

reforma do sistema da maneira como se apresenta. Isto porque,

a construção de um conceito deficitário para a Seguridade Social cumpre o papel de motivar questionamentos sobre o crescimento dos gastos sociais e sua inviabilidade frente à economia e ao conjunto das receitas públicas. Se, por outro lado, a sociedade tivesse consciência do superavit da Seguridade Social, estaria em uma luta permanente por mais recursos para a Saúde ou ampliação dos direitos sociais. Em relação à previdência, ao invés de cortes em benefícios, ganhariam força os embates pela universalização da cobertura ou por maiores reajustes para os aposentados e pensionistas (ANFIP, 2016, p. 34).

Page 42: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

41

Importante lembrar que, conforme demonstrado no capítulo anterior, a

Previdência Social é organizada sob a forma de regime geral - RGPS, de caráter

contributivo e de filiação obrigatória, razão pela qual as receitas e despesas do

RPPS e do Regime de Previdência dos Militares não são consideradas nas análises

por não pertencerem ao sistema de Seguridade Social definido pela Constituição

Federal (ANFIP, 2016). Ainda assim, “na identificação de receitas e despesas da

Seguridade Social, o governo acrescenta receitas e despesas dos regimes

previdenciários de servidores e de militares” (ANFIP, 2016, p. 38).

Antes, contudo, de demonstrar os números orçamentários, um dos argumentos

que por si só comprova a efetiva situação superavitária do sistema securitário é a

autorização legal que a União possui para desvincular recursos provenientes da

Seguridade Social. Como seria possível a desvinculação da receita de um sistema

deficitário? Logicamente, só é possível quando há recurso sobrando.

A chamada DRU – Desvinculação de Receitas da União é uma forma de

permitir que o Governo Federal utilize livremente parte de todos os tributos federais

vinculados a fundos ou despesas (SENADO FEDERAL, www.senado.leg.br). Ainda

de acordo informações retiradas do próprio site do Senado Federal, a principal fonte

da DRU são as contribuições sociais (SENADO FEDERAL, www.senado.leg.br).

Para se ter uma ideia, “em 2015, a DRU subtraiu R$ 63 bilhões da conta da

Seguridade Social” (ANFIP, 2016, p. 36). A própria ANFIP (2016) destaca que

desvincular estes vultuosos valores, é muito mais uma forma do governo justificar e

potencializar as reformas da previdência (pois se estaria aumentando o suposto

deficit do sistema), do que para utilizá-los em prol da gestão financeira.

Em meio a estes incansáveis discursos sobre o suposto deficit da previdência,

o Senado Federal, não satisfeito, aprovou em 2015, a PEC 87/2015, hoje Emenda

Constitucional nº 93 (BRASIL, 2016, www.planalto.gov.br), publicada em setembro

2016 que aumenta de 20% para 30% a DRU até 2023, ou seja, aumenta a alíquota

de desvinculação sobre a receita de contribuições sociais (COSTA; NUNES, 2016).

Além do aumento de 20% para 30%, a desvinculação, há anos, é subtraída

para além dessa porcentagem legalmente autorizada (ANFIP, 2016), prejudicando a

população ao deixarem de aplicar, na integralidade, os recursos constitucionalmente

determinados e destinados às três áreas da seguridade em benefícios e serviços

sociais; a desvinculação de qualquer recurso da Seguridade Social, além de

retrocesso e insegurança social, viola a intenção originária do constituinte que,

Page 43: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

42

expressamente, estabeleceu que os recursos arrecadados à seguridade, devem ser

gastos exclusivamente com ela3.

Ademais, a DRU é um dispositivo transitório, criada em 1994 como uma

medida emergencial para estabilizar o setor econômico em decorrência da

instituição do plano real, recebendo o nome de Fundo Social de Emergência – FSE

e até hoje permanece; sendo a porcentagem aumentada pelo governo no mesmo

contexto que este pretende a redução dos benefícios sociais (ANFIP, 2016).

Como se não bastasse o crescente cenário de desemprego e dos efeitos da

crise econômica que atinge os brasileiros, o governo, utilizando informações que não

condizem com a realidade fidedigna do sistema financeiro da seguridade, cria a todo

o momento leis que dificultam o acesso da população aos direitos sociais,

diminuindo – e muito, a proteção social conquistada.

Nesse contexto de suposta insustentabilidade do sistema ao mesmo tempo em

que se desvinculam recursos deste, destacam-se os efetivos números no orçamento

da Seguridade Social dos últimos anos. De acordo com Gentil (2006), as pesquisas

e análises realizadas sobre todo o orçamento da Seguridade Social ao longo do

período de 1990 a 2005, possibilitaram a comprovação do saldo superavitário neste

período e a consequente desconstituição da realidade deficitária do sistema

construída pelo governo, além dos perceptíveis e alarmantes desvios superiores aos

legalmente autorizados, pois, havendo

[...] a elaboração, de forma isolada, do orçamento da seguridade social, ficaria revelado, com clareza: 1) que o desequilíbrio orçamentário está no orçamento fiscal e não no orçamento da seguridade social ou no orçamento da previdência social; 2) que a seguridade social não recebe recursos do orçamento fiscal, ao contrário, parte substancialmente elevada de seus recursos financia o orçamento fiscal; e, 3) que não é a previdência que causa problemas de instabilidade econômica e crise de confiança nos investidores, mas é a política econômica que atinge a previdência, a saúde pública e a assistência social, precarizando serviços essenciais à sobrevivência da classe trabalhadora (GENTIL, 2006, p. 52-53).

Igualmente aos anos de 1990 a 2005, o período 2010 a 2015 demonstrou

resultado superavitário no orçamento da Seguridade Social. Nos anos de 2013, 2014

e 2015, por exemplo, o saldo superavitário foi estrondoso ao ponto de alcançar R$

76.446 bilhões, R$ 55.737 bilhões e R$ 11.170 bilhões, respectivamente. Dessa

3A Constituição Federal determina expressamente que é o poder público que deve contribuir no

orçamento desta, e não o contrário.

Page 44: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

43

forma, mesmo a queda na economia, o resultado foi superavitário em 2015, assim

como nos anos anteriores (ANFIP, 2016). A tabela abaixo demonstra de forma

detalhada a receita da Seguridade Social destes últimos anos de acordo com as

disposições constitucionais:

Fonte: ANFIP, 2016, p. 28

Em nota, a ANFIP (2016) explica que as arrecadações no item 1 “são receitas e

despesas previdenciárias líquidas acrescidas das compensações pela desoneração

da folha de pagamentos” (ANFIP, 2016, p. 29); sobre o item 2, explica que este

“inclui receitas provenientes dos concursos de prognósticos e as receitas da CPMF,

extinta em 2007” (ANFIP, 2016, p. 29); já em relação ao item 5 trata-se das “[...]

despesas com Encargos Previdenciários da União – EPU, de responsabilidade do

Orçamento Fiscal” (ANFIP, 2016, p. 29). Para dar continuidade, colaciona-se tabela

abaixo, de acordo com as disposições constitucionais, das despesas realizadas pela

Page 45: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

44

Seguridade Social e o consequente resultado do orçamento desta nos anos últimos

anos:

Fonte: ANFIP, 2016, p. 29

Deste modo, conforme tabela acima, justo no ano que o país passou por um

recuo na economia, devido à crise enfrentada pelo país, a receita da Seguridade

Social em 2015 foi de em média R$ 694 bilhões e a despesa, de R$ 683 bilhões,

gerando um superavit de em média R$ 11,2 bilhões. Nos anos anteriores, os

superavit foram ainda maiores (ANFIP, 2016).

Além da comprovada condição superavitária do sistema, esta seria

imensamente maior se não houvesse bilhões de reais devidos a título de

Page 46: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

45

contribuições sociais, tendo em vista que dados do próprio Ministério da Fazenda, a

Previdência Social possui créditos de empresas devedoras e inadimplentes que

chegam ao montante de R$ 426 bilhões de milhares. Uma possível reforma

traduziria a ideia de tirar da classe mais necessitada para ajudar os mais ricos, o que

é inadmissível (FUNDAÇÃO ANFIP, 2017).

Deste modo, o governo falta com a verdade ao mencionar o orçamento da

Seguridade Social. Além disso, o estudo aprofundado acerca do sistema realizado

por Gentil (2006), cujas conclusões foram destacadas acima e pelos apontamentos

feitos pela ANFIP (2016), nota-se que a cada ano é possível verificar a condição

superavitária do sistema, razão pela qual não se pode permitir uma reforma que

pretende restringir inúmeros benefícios sociais já conquistados, com base em

argumentos que não correspondem com a realidade orçamentária do sistema.

Se concretizadas as incansáveis tentativas do governo de restringir

drasticamente direitos sociais e previdenciários, o país sofrerá com a insegurança

social que poderá reduzir ou extinguir os contribuintes facultativos, bem como

contribuir para o afastamento ilegal dos obrigatórios, que verão a previdência

privada como uma maneira alternativa; desconstituindo o caráter de solidariedade da

seguridade, além de traduzir um nítido retrocesso social.

Em longo prazo, o desaparecimento de um sistema de previdência pública e a

migração em massa às previdências privadas pode representar um problema, tendo

em vista os riscos de perdas e falência existentes nos setores privados: tudo que é

privado pode se perder ou falir. Observando o cenário de corrupção que o país

atualmente vive, o risco existe e as consequências irão surgir (informação verbal)4.

Não precisa ir muito longe para se encontrar exemplo deste contexto. Na

América Latina, vários países privatizaram parcial ou totalmente a previdência a fim

de melhorar problemas econômicos e nem por isso obtiveram êxito. Pelo contrário,

no caso do Chile e da Argentina, o resultado da privatização foi negativo a ponto de

re-reformarem o sistema para aumentar a redistribuição de renda e a solidariedade

do sistema, comprovadamente necessária para o desenvolvimento da Seguridade

Social (BITTENCOURT, 2015). Em contrapartida, países que optam pela ampliação

do bem-estar social, o caminho é inverso, de forma que a redistribuição de renda

reduz a desigualdade, propiciando um desenvolvimento econômico e social muito

4Informação mencionada por Juliano Roso na Palestra “Terceirização e Reforma da Previdência”,

Santa Cruz do Sul, em abril de 2017.

Page 47: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

46

mais eficaz em longo prazo (GENTIL, 2006).

A repercussão acerca da suposta insustentabilidade do sistema da Previdência

Social e a controvérsia relacionada ao orçamento desta são tamanhas que

instigaram a instauração da Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI, denominada

“CPIPREV”, composta por sete Senadores (as) titulares, e cinco suplentes, dentre os

titulares o Presidente Senador Paulo Paim e o Relator Senador Hélio José, com o

objetivo central de investigar com profundidade a contabilidade do sistema, em

especial do Regime Geral da Previdência Social (RGPS). O relatório final foi

aprovado pela comissão, por unanimidade, em sessão realizada dia 25/10/2017

(SENADO FEDERAL, 2017, www.senado.leg.br).

Dentre os apontamentos realizados pelo relator, este apresenta propostas de

Emenda à Constituição e providências a serem tomadas para melhorar a destinação

dos recursos do sistema previdenciário, além de corroborar as pesquisas realizadas,

reafirmando a inexistência de déficit, e indicando a má gestão dos recursos

destinados aos benefícios e recursos da Previdência Social, conforme demonstra o

trecho do relatório:

Nos trabalhos da CPI da Previdência ao longo de oito meses de atividades onde foram ouvidos gestores, especialistas, sindicalistas, políticos, entre outros, trouxeram à luz um quadro bastante realista da situação da previdência no Brasil. Primeiramente, é importante destacar que previdência social brasileira não é deficitária. Ela sofre com a conjunção de uma renitente má gestão por parte do governo, que, durante décadas: (i) retirou dinheiro do sistema para utilização em projetos e interesses próprios e alheios ao escopo da previdência; (ii) protegeu empresas devedoras, aplicando uma série de programas de perdão de dívidas e mesmo ignorando a Lei para que empresas devedoras continuassem a participar de programas de empréstimos e benefícios fiscais e creditícios; (iii) buscou a retirada de direitos dos trabalhadores vinculados à previdência unicamente na perspectiva de redução dos gastos públicos; [...] (SENADO FEDERAL, 2017, www.senado.leg.br).

Deste modo, não há que se falar em orçamento deficitário da Previdência

Social. As pesquisas realizadas com seguindo as determinações da Constituição

Federal comprovam que o sistema não é insustentável, e que os possíveis gastos

excessivos do sistema não decorrem dos benefícios concedidos, e sim da má

gestão das finanças dos recursos de todo sistema da Seguridade Social.

O presente capítulo não buscou esgotar o assunto acerca do sistema

orçamentário da Seguridade Social, apenas visou demonstrar as contribuições deste

e sua destinação constitucionalmente determinada aos três pilares que a compõe,

de forma que não se pode falar em contribuição à saúde, assistência ou previdência

Page 48: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

47

de forma individual, pois ainda que autônomas entre si na forma organizacional, os

três pilares são financiados pelas contribuições sociais ao sistema da seguridade. E

uma vez demonstrada pesquisas e conclusões de profissionais habilitados acerca da

situação superavitária da seguridade nos últimos anos, pretendeu-se derrubar a

falácia do deficit que o governo insiste em discursar. Dito isso, analisar-se-á no

próximo capítulo o benefício do Auxílio-Doença Parental para demonstrar a

viabilidade jurídica e econômica da sua criação a fim de ampliar a proteção social

necessária para o desenvolvimento do país e promover o bem-estar social e a

desejada justiça social idealizada pelo constituinte na Constituição Federal atual.

Page 49: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

48

4 AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: NECESSIDADE DE AMPLIAÇÃO DA

PROTEÇÃO SOCIAL

O presente capítulo objetiva difundir o Auxílio-Doença Parental para que esta

seja amplamente utilizada pelos operadores do direito, a ponto de consolidar a

jurisprudência e ampliar legalmente o rol dos benefícios previdenciários do RGPS,

isto nas situações dramáticas em que o segurado tenha a necessidade de cuidar de

um membro da família que se encontra acometido de alguma doença grave,

irreversível ou terminal a ponto de depender totalmente dos cuidados deste.

É neste contexto de necessidade de ampliação da proteção social que se

defende a criação deste benefício aos segurados do Regime Geral da Previdência –

RGPS, da mesma forma que põe em prática a proteção estatal à família, prevista

pela Constituição Federal em seu artigo 226 (BRASIL, 1988, www.planalto.gov.br).

4.1 Conceito

A razão de ser do nome “Auxílio-Doença Parental” é em função de se tratar de

um auxílio para o familiar e não ao doente propriamente dito, ou seja, decorre das

situações em que o segurado ou a segurada torna-se, temporariamente, incapaz

para realizar as atividades laborativas em razão da enfermidade de um membro

familiar, seja este, mãe, pai, cônjuge, filho ou afins que a lei determinar.

Atualmente, os benefícios garantidos aos segurados da Previdência Social,

ainda que consideráveis, carecem de ampliação da proteção frente a certas

necessidades urgentes e recorrentes que a população enfrenta, razão pela qual se

propõe a ampliação do rol dos benefícios, mediante o reconhecimento do Auxílio-

Doença Parental na lista dos atuais benefícios garantidos, abaixo colacionados:

Segurados

a) Aposentadoria por Idade b) Aposentadoria por Idade da Pessoa com Deficiência c) Aposentadoria por Tempo de Contribuição d) Aposentadoria por Tempo de Contribuição da Pessoa com

Deficiência e) Aposentadoria por Tempo de Contribuição do Professor f) Aposentadoria por Invalidez (1) g) Aposentadoria Especial

Page 50: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

49

a) Auxílio-doença b) Auxílio-acidente c) Salário-família

d) Salário-maternidade

Dependentes

a) Pensão por Morte b) Auxílio-reclusão

Segurados e Dependentes

a) Serviço social b) Reabilitação profissional

Tabela elaborada pela autora com dados de Santos, 2016 / Previdência Social (2016, www.previdencia.gov.br). (1) O art. 45 da Lei 8.213/91 ainda faz menção à majoração de 25% do benefício de Aposentadoria por Invalidez aos segurados que necessitarem da assistência permanente de outra pessoa (BRASIL, 1991, www.planalto.gov.br).

Dentre os benefícios acima listados, na sua essência, o Auxílio-Doença é o que

mais se assemelha ao benefício cuja criação é defendida pelo presente trabalho,

conforme o próprio nome já demonstra, tendo em vista que aquele é o benefício que

atualmente ampara os segurados com incapacidade temporária para o trabalho, nos

moldes previstos pelo art. 59 da Lei 8.213/91, que abaixo se colaciona:

Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos. Parágrafo único. Não será devido auxílio-doença ao segurado que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social já portador da doença ou da lesão invocada como causa para o benefício, salvo quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão (BRASIL, 1991, www.planalto.gov.br).

Contudo, conforme se pode observar, o artigo acima não faz qualquer menção

à dita incapacidade reflexa do segurado ou a possibilidade do segurado de afastar-

se do trabalho para cuidados de familiar enfermo. Nesse sentido, embora a

Previdência Social tenha expressiva cobertura aos infortúnios que atingem a

população brasileira, ainda é escassa no que diz respeito aos encargos familiares,

motivo pelo qual a falta de regulamentação legal do benefício do Auxílio-Doença

Parental limita a proteção concedida pelo RGPS, tornando pertinente a análise dos

riscos sociais que afetam os segurados acometidos deste tipo específico de

incapacidade e que atualmente encontram-se desamparados pelo sistema.

Antes, contudo, de mencionar os riscos sociais enfrentados pela falta de

regulamentação legal do benefício ora apresentado, imprescindível analisar as duas

Page 51: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

50

possíveis interpretações da natureza protetiva do Auxílio-Doença Parental, ambas

diferentes em sua essência e iguais na extensão do risco social existente.

A primeira delas, diz respeito à incapacidade laborativa gerada pelo fator

psicológico da pessoa envolvida no convívio diário com familiar gravemente

enfermo, uma vez que, ou o segurado demonstrará uma redução significativa de

desempenho no trabalho ou vê-se totalmente incapaz psicologicamente de exercer

suas atividades laborativas. Isto não quer dizer, contudo, que todas as pessoas

afetadas psicologicamente, necessariamente, desenvolverão uma incapacidade

laborativa.

Por esta razão, direciona-se à segunda linha de interpretação, que diz

respeito aos casos em que não se trata de incapacidade psicológica e sim

incapacidade de se fazer presente no seu ambiente de trabalho e,

consequentemente, de desenvolver suas atividades laborativas. Isso, pois, há a

necessidade do segurado precisar estar presente fisicamente com o familiar,

auxiliando nos cuidados que este necessita, seja em casa, no hospital ou nos casos

em que há necessidade de tratamento em outras cidades.

Frente à demonstração dos atuais benefícios garantidos pela Previdência e à

leitura inicial do benefício que o presente trabalho aborda, com sua dupla natureza

interpretativa e protetiva, far-se-á, na sequência, a apreciação dos riscos sociais

gerados pela falta de regulamentação deste no atual cenário brasileiro.

4.2 Riscos sociais envolvidos pela falta de regulamentação legal

Atualmente, ante a falta de regulamentação legal sobre o assunto, o

requerimento de Auxílio-Doença ao segurado que necessita do afastamento das

suas atividades laborativas para cuidar de familiar enfermo ou apresenta-se incapaz

de forma reflexa, não será concedido pelo INSS, sob o argumento de que não há

incapacidade, tendo em vista que o benefício do Auxílio-Doença somente socorre

os segurados que estejam incapacitados nos termos do art. 59 da Lei

8.213/91(BRASIL, 1991, www.planalto.gov.br).

Não bastasse o drama de conviver com um ente da família acometido de

doença grave, o segurado se encontra totalmente desamparado da Previdência

Social, que é de responsabilidade do Estado. Configura dever do Estado a garantia

e a proteção social, como a promoção de políticas públicas que auxiliem os

Page 52: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

51

segurados acometidos de infortúnios, sendo imprescindível e de direito a atuação

ativa do Estado, por meio da Seguridade Social, neste caso, da Previdência Social.

Ademais, além da urgência fática, ampliar a proteção social é dever do Estado e um

direito a todos que mensalmente contribuem, visto que

é em razão da previdência social estabelecer um vínculo entre a capacidade contributiva e as prestações previdenciárias ofertadas, [...] que se materializa uma expectativa jurídica legítima, nos beneficiários, de serem amparados nos momentos de necessidade social (ZACHER, citado por ROCHA, 2004, p. 114-115).

Neste sentido, as consequências do segurado que se encontra ativo no

mercado de trabalho não são pequenas quando se tem um membro da família

enfermo por grande período de tempo. Dentre todos os cuidados, o acometimento

de doença grave traduz o periódico e necessário descolamento ao hospital para

realização de quimioterapia ou radioterapia, como é o caso do câncer, ou outros

cuidados específicos que cada doença requer. E, não rara as vezes, a família que

reside em cidade pequena não vê alternativa senão deslocar-se de cidade para dar

continuidade ao tratamento. Dessa forma, frente ao mencionado, a pergunta que se

faz é: como deve agir o pai, a mãe, o filho ou o cônjuge que possui um familiar

enfermo que se encontra nesta situação?

Atualmente, em situações como esta, desamparado da proteção previdenciária,

o segurado possivelmente fará uso de uma das seguintes opções: a) fazer uso de

quantas “folgas” forem possíveis no trabalho; b) solicitar ao empregador a

possibilidade de adiantar as férias; c) pedir demissão. Não bastasse a falta de

proteção social, não raras as vezes, vivenciando esse contexto, os empregadores

fazem uso das rescisões contratuais por justa causa do empregado, sejam elas pela

falta excessiva ao trabalho ou pela baixa produção da atividade laborativa.

Para esclarecer, a legislação trabalhista não disciplina acerca da matéria, de

modo que não há qualquer previsão legal que justifique a ausência ao trabalho para

cuidados com familiar enfermo aos empregados regidos pela CLT. Por força do art.

473 da CLT, somente as seguintes faltas são consideradas justificáveis e sem

prejuízo do salário:

Art. 473 - O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário: I - até 2 (dois) dias consecutivos, em caso de falecimento do cônjuge, ascendente, descendente, irmão ou pessoa que, declarada em sua carteira de trabalho e previdência social, viva sob sua dependência econômica;

Page 53: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

52

II - até 3 (três) dias consecutivos, em virtude de casamento III - por um dia, em caso de nascimento de filho no decorrer da primeira semana; IV - por um dia, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de doação voluntária de sangue devidamente comprovada; V - até 2 (dois) dias consecutivos ou não, para o fim de se alistar eleitor, nos têrmos da lei respectiva. VI - no período de tempo em que tiver de cumprir as exigências do Serviço Militar referidas na letra "c" do art. 65 da Lei nº 4.375, de 17 de agosto de 1964 (Lei do Serviço Militar). VII - nos dias em que estiver comprovadamente realizando provas de exame vestibular para ingresso em estabelecimento de ensino superior. VIII - pelo tempo que se fizer necessário, quando tiver que comparecer a juízo. IX - pelo tempo que se fizer necessário, quando, na qualidade de representante de entidade sindical, estiver participando de reunião oficial de organismo internacional do qual o Brasil seja membro. X - até 2 (dois) dias para acompanhar consultas médicas e exames complementares durante o período de gravidez de sua esposa ou companheira; XI - por 1 (um) dia por ano para acompanhar filho de até 6 (seis) anos em consulta médica (BRASIL, 1943, www.planalto.gov.br).

Deste modo, além de passível de desconto do dia não trabalhado, as faltas e a

baixa produtividade poderão ser consideradas desídia no desempenho das

respectivas funções e, se recorrentes, até mesmo abandono de emprego, sendo

ambas as ocorrências consideradas justa causa para rescisão do contrato de

trabalho pelo empregador, conforme previsão no art. 482 da CLT (BRASIL, 1943,

www.planalto.gov.br).

Nesse sentido, ante a inexistência de previsão legal que ampare o empregado

que se ausente do serviço para acompanhar o familiar enfermo, não há qualquer

vedação legal ao empregador de rescindir o contrato de trabalho por justa causa do

funcionário que faça uso desta justificativa para abonar as faltas ao serviço. Tanto é

verdade, que o acórdão do processo nº 01939-2010-892-09-00-6, prolatado pelo

Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região – TRT9, confirmou a demissão por justa

causa do empregado diante das faltas não justificadas por Lei. Embora esta tenha

sido confirmada, o próprio relator alegou ser “aconselhável que o empregador abone

as faltas em situações como esta”, confirmando ainda assim a justa causa ao final,

diante da inexistente vedação legal para tanto, conforme ementa a seguir transcrita:

FALTAS AO TRABALHO POR RAZÃO DE DOENÇA DE FILHO. ABONO DE FALTAS. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. PEDIDO DE DEMISSÃO. NULIDADE NÃO VERIFICADA. É fato que a Ré não atentou para a situação delicada em que se encontrava seu empregado, com o filho menor internado em hospital, não relevando suas ausências, justificadas por atestado médico. Contudo, em que pese ser de todo aconselhável que o

Page 54: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

53

empregador abone as faltas do empregado ao serviço em tais situações, não existe obrigação legal para tanto. Com efeito, a CLT em seus arts. 471 e seguintes, em especial no art. 473, relaciona as situações em que o empregado pode se ausentar do trabalho sem sofrer qualquer desconto salarial, sendo certo que, dentre estas, não se previu a hipótese de ausência por doença em pessoa da família. Por outro lado, não existe qualquer notícia quanto à existência de previsão nesse sentido em sede de norma coletiva ou regulamento interno da empresa, de forma a vincular o empregador à observância da conduta pretendida. Os atestados médicos apresentados pelo Obreiro, portanto, não se apresentam aptos para obrigar o empregador a abonar as faltas, pois tratam-se (sic) de ausências não justificadas em Lei, servindo, quando muito, em tese, para impedir eventual dispensa por justa causa, sob fundamento de virtual desídia. Rompido o vínculo por iniciativa do Obreiro, mesmo que se possa compreender o estado psicológico que resultou em tal ato, não se encontra autorizado o Julgador a presumir que o pedido de demissão foi ato volitivo viciado, por estado de necessidade ou mesmo coação moral irresistível. Assim, a conversão do pedido de demissão em dispensa sem justa causa, em razão do desconto de faltas justificadas ao trabalho para acompanhar internamento de filho em hospital, não prospera, por ausência de amparo legal. Recurso da Reclamada a que se dá provimento, no particular (TRT 9ª R.; Proc. 01939-2010-892-09-00-6; Ac. 35085-2011; Primeira Turma; Rel. Des. Ubirajara Carlos Mendes; DJPR 30/08/2011, grifado no original).

Além das consequências que atingem os segurados empregados, cabe aqui

ressaltar que algumas atividades de segurados contribuintes individuais também

geram consequências negativas em decorrência destas situações, pois, ainda que

não subordinados e “donos do próprio negócio”, a não execução do trabalho incorre,

muitas vezes, ao não recebimento de nenhuma renda neste período.

Deste modo, a falta de proteção também na esfera trabalhista amplia a

gravidade de tamanho desamparo aos trabalhadores e aos segurados. Isto porque o

desamparo previdenciário e trabalhista evidencia o risco social existente aos

empregados regidos pela CLT, e uma vez isto sendo observado, não restam dúvidas

que ambos os sistemas deveriam assegurar aos seus beneficiados a proteção em

razão da incapacidade de exercer suas atividades laborativas, por motivo de familiar

gravemente enfermo, fosse pela ampliação do rol das faltas justificáveis do art. 473

da CLT ou pela criação do benefício previdenciário defendido pelo presente trabalho.

Ademais, além do nítido desamparo ao segurado do Regime Geral da

Previdência Social - RGPS, este está submetido a tratamento diferenciado e

prejudicial frente aos segurados do Regime Próprio da Previdência Social - RPPS, o

que corrobora a necessidade de regulamentação legal do Auxílio-doença Parental

na proteção previdenciária do RGPS, uma vez que aqueles são amparados por Lei

em situações semelhantes à proteção pretendida pelo benefício referido, com a

garantia de concessão da “Licença por Motivo de Doença em Pessoa da Família”

Page 55: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

54

previsto na Lei 8.112/90 que os rege, conforme abaixo:

Art. 83. Poderá ser concedida licença ao servidor por motivo dedoença do cônjuge ou companheiro, dos pais, dos filhos, do padrasto ou madrasta e enteado, ou dependente que viva a suas expensas e conste do seu assentamento funcional, mediante comprovação por perícia médica oficial. § 1o A licença somente será deferida se a assistência direta do servidor for indispensável e não puder ser prestada simultaneamente com o exercício do cargo ou mediante compensação de horário, na forma do disposto no inciso II do art. 44. § 2o A licença de que trata o caput, incluídas as prorrogações, poderá ser concedida a cada período de doze meses nas seguintes condições: I - por até 60 (sessenta) dias, consecutivos ou não, mantida a remuneração do servidor; e II - por até 90 (noventa) dias, consecutivos ou não, sem remuneração. § 3o O início do interstício de 12 (doze) meses será contado a partir da data do deferimento da primeira licença concedida. § 4o A soma das licenças remuneradas e das licenças não remuneradas, incluídas as respectivas prorrogações, concedidas em um mesmo período de 12 (doze) meses, observado o disposto no § 3o, não poderá ultrapassar os limites estabelecidos nos incisos I e II do § 2º (BRASIL, 1990, www.planalto.gov.br, grifo próprio).

Conforme se pode observar, os servidores públicos civis da União, das

autarquias e fundações públicas federais são contemplados com licença em caso de

doença de familiar, com abrangência ampla de familiares desde a criação da Lei em

1990, estendida, inclusive, ao padrasto, à madrasta ou ao enteado. Ao comparar a

licença dos servidores públicos com o Auxílio-Doença concedido aos segurados do

RGPS, é perceptível que em ambos os benefícios há a pretensão de amparar os

segurados que se encontram impossibilitados de exercer o seu exercício pleno do

trabalho, sendo dever do Estado promover a proteção social nestas situações.

Deste modo, diante da existência de licença remunerada concedida ao

contribuinte do RPPS que esteja necessitando de afastamento do trabalho em razão

da enfermidade de familiar doente, a essência e o conceito do benefício que ora se

expõe já existe, faltando apenas regulamentação legal e amparo aos beneficiários

do Regime Geral da Previdência Social. Por esta razão, inclusive, o benefício ora

apresentado já pode ser concedido pelos Magistrados, com fundamento na analogia,

fato abordado com mais profundidade no decorrer deste capítulo.

Ante a nítida extensão das consequências e o risco social decorrente da

inexistência de regulamentação legal de benefício previdenciário que ampare os

segurados do RGPS que se encontram com estes encargos familiares, o Deputado

Alan Rick propôs o Projeto de Lei nº 711/2015 cujo objeto é, em suma, a ampliação

Page 56: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

55

da proteção social aos segurados do RGPS para assegurar o direito ao “Auxílio-

Doença de Dependente Menor”. Após e com a mesma pretensão, a Senadora Ana

Amélia Lemos propôs um Projeto de Lei, atualmente renomeado para Projeto de Lei

nº 1.876/2015, na Câmara dos Deputados, para o fim de acrescentar à Lei

8.213/91, que rege sobre os benefícios previdenciários, o benefício do Auxílio-

Doença Parental. Tratando-se de matéria correlata, o projeto do deputado Alan Rick

foi apensado junto ao projeto da Senadora Ana Amélia Lemos, em novembro de

2016, conforme tramitação disponibilizada no site oficial da Câmara dos Deputados

(BRASIL, 2016, www.camara.gov.br). Para tanto, faz-se a seguir análise acerca do

Projeto de Lei nº 1.876/2015 que pretende a instituição do Auxílio-Doença Parental.

4.3 Análise ao Projeto de Lei nº 1.876/2015

Conforme mencionado acima, o Projeto de Lei nº 711/2015 de autoria do

deputado Alan Rick, atualmente apensado ao Projeto de Lei nº 1.876/2015, pretende

a instituição do “Auxílio-Doença de Dependente Menor”. Ambos os projetos são

correlatos, pois em sua essência, pretendem a extensão do já existente Auxílio-

Doença no caso de doença de membro familiar. A grande diferença é que o primeiro

limita a concessão do benefício nos casos de doença de dependente menor e, o

segundo, amplia à concessão também nos casos de doença de cônjuge ou

companheiro, pais, filhos, padrasto ou madrasta, enteado, ou outro,

comprovadamente dependente.

Na leitura de ambos os projetos, é possível observar que o projeto que

pretende a instituição do “Auxílio-Doença ao Dependente Menor” de autoria do Alan

Rick, é mais completo, no sentido de fazer menção a sua carência, salário-de-

benefício e Renda Mensal Inicial, tornando-o com maior praticidade em comparação

ao projeto que pretende a criação do Auxílio-Doença Parental propriamente dito.

Ademais, além das mudanças direcionadas à Lei de Benefícios da Previdência

Social, o projeto do deputado Alan Rick também faz menção à alteração na CLT,

mediante a inclusão do “Auxílio-Doença de Depende Menor” no rol das faltas

justificáveis e sem prejuízo do salário disposto no art. 473 da CLT, conforme ementa

do projeto abaixo:

Cria a Subseção XIII, da Seção V, do Capítulo II, do Título III, da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, altera os arts. 18, 25, 29, 39, 40 e 124 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, e acrescenta o inciso X ao art. 473 da

Page 57: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

56

Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, para assegurar o direito do segurado ao auxílio-doença de dependente menor, concedido pelo Regime Geral de Previdência Social (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2015, www.camara.gov.br).

Já o Projeto de Lei que pretende a instituição do Auxílio-Doença Parental, de

autoria da Senadora Ana Amélia Lemos, não faz qualquer menção à alteração da

CLT, apenas destacando a mudança na Lei dos Benefícios, mediante a proposta de

inclusão do art. 63-A na Lei nº 8.213/91, abaixo colacionado:

Art. 63-A. Será concedido auxílio-doença ao segurado por motivo de doença do cônjuge ou companheiro, dos pais, dos filhos, do padrasto ou madrasta e enteado, ou dependente que viva a suas expensas e conste da sua declaração de rendimentos, mediante comprovação por perícia médica, até o limite máximo de doze meses, nos termos e nos limites temporais estabelecidos em regulamento (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2015, www.camara.gov.br, grifo próprio).

O projeto de autoria da Senadora Ana Amélia tramita desde outubro de 2014 e

passa por revisão na Câmara dos Deputados, onde permanece até o momento

como Projeto de Lei nº 1.876/2015 (BRASIL, 2015, www.camara.gov.br). Antes,

contudo, de ser aprovado pelo Senado Federal e encaminhado a Câmara de

Deputados, onde atualmente se encontra, este projeto era originariamente o Projeto

de Lei do Senado nº 286.

No relatório de aprovação no Senado Federal, a relatora Vanessa Grazziotin

argumenta pela falta de restrição da lei e expõe que o objetivo do projeto é

acrescentar ao Plano de Benefícios da Previdência Social uma regra que possibilite

a concessão ao segurado do Regime Geral de Previdência Social do benefício

Auxílio-Doença, por motivo de doença do cônjuge ou companheiro, dos pais, dos

filhos, do padrasto ou madrasta e enteado, ou dependente que viva a suas

expensas, de forma que seja interpretação afirmativa da Lei, que não veda a

concessão nestes casos, não se tratando, nas suas palavras, de extensão ou

criação de outro benefício.

A iniciativa de ambos os projetos, em destaque ao que propõe a inclusão do

Auxílio-Doença Parental, demonstra um grande progresso ao sistema previdenciário

e um avanço em termos de proteção social, haja vista o risco social iminente que

prejudica, diariamente, milhares de famílias brasileiras. Diante disso, algumas

observações acerca do Projeto nº 1.876 que pretende a instituição do Auxílio-

Doença Parental e de autoria da Senadora Ana Amélia Lemos merecem destaque.

Page 58: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

57

A primeira delas é que este Projeto nada mencionou acerca da possível

mudança na CLT para inclusão do Auxílio-Doença Parental no rol das faltas

justificáveis e sem prejuízo do salário disposto no art. 473 da mencionada Lei, e

conforme dito acima, esta falta de proteção na esfera trabalhista repercute de forma

grave a ponto de possibilitar ao empregador realizar descontos do empregado pelo

dia não trabalhado, além de não haver qualquer vedação legal ao empregador de

rescindir o contrato de trabalho por justa causa do funcionário que faça uso desta

justificativa para abonar as faltas ao serviço.

A segunda observação que se faz é a falta de remissão do artigo ao rol dos

dependentes previsto no art. 16 da Lei dos Benefícios nº 8.213/91, e tão pouco diz a

ordem de preferência e exclusão entre os familiares, de forma que o segurado pode

solicitar o benefício para assistir e cuidar da sua madrasta, que possui cônjuges e

outros filhos. Não há qualquer restrição, bastando que se comprove a doença e o

vínculo familiar existente (SOUZA, 2016). A falta de regulamentação nesse sentido

dificulta a sua aplicabilidade, tendo em vista que, administrativamente, o INSS pode

alegar o rol dos dependentes do art. 16 da Lei dos Benefícios como regra e indeferir

o benefício, de forma a obrigar o segurado, caso este tenha interesse, o ingresso

judicial, aumentando ainda mais as demandas, sem que para isso haja necessidade.

Outra ressalva em destaque é que a comprovação da doença do familiar por

perícia médica é muito mais complexa do que a perícia do Auxílio-Doença

propriamente dito. Isto porque, o segurado que pretende a concessão do Auxílio-

Doença Parental terá de comparecer à perícia junto de seu familiar acometido de

doença para que o perito examine a complexidade da doença e se esta gera a

necessidade de cuidados de terceiros, a ponto de retirar a capacidade laborativa do

segurado que ora pleiteia o benefício (SOUZA, 2016). Acredita-se na possibilidade

que o segurado que pretende a concessão do benefício possa se dirigir a uma

agência da Previdência Social munido de atestado médico comprovando a

incapacidade do familiar enfermo, bem com a necessidade deste de cuidados de

terceiros. Em sendo extremamente difícil o deslocamento do enfermo até uma

Agência da Previdência Social, indica-se a realização dessa perícia médica in loco,

ou seja, no hospital ou na residência do incapaz, como já ocorre nos casos de

auxílio-doença propriamente dito.

Ademais, conforme observa Souza (2016) o projeto é omisso no que diz

respeito à possibilidade de dispensa de perícia médica em casos de licença de curto

Page 59: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

58

período, diferentemente do que ocorre aos servidores públicos, que possuem tal

prerrogativa prevista no art. 4º do Decreto nº 7.003/09 que regulamenta a licença de

saúde dos servidores públicos. Este autoriza a esta categoria a dispensa de perícia

médica quando a licença não ultrapassar o período de cinco dias e quando a soma

de licenças do mesmo gênero gozadas nos doze meses anteriores não ultrapassar

quinze dias (BRASIL, 2009, www.planalto.gov.br). Nos casos em que o familiar

enfermo necessita de tratamento ou afastamento da cidade às pressas e por curto

período de tempo, a dispensa de perícia se mostra imprescindível dada a

complexidade e a demora da realização da mesma junto ao INSS. Neste caso,

também se acredita na possibilidade de realizar a prova mediante atestado médico

particular, considerando a necessidade por curto período e a urgência impossibilitar

a espera de perícia a ser realizada junto ao INSS.

A quinta observação a ser feita diz respeito à falta de menção em relação à

carência do benefício5, como não estipula a Renda Mensal Inicial – RMI e tão pouco

se a concessão gerará estabilidade no emprego posterior ao fim do benefício

(COSTA; NUNES, 2016). A intenção do projeto é, possivelmente, a utilização dos

critérios do já existente Auxílio-Doença, por entender que é uma extensão deste.

Sobre o assunto, embora as ressalvas acima não tenham sido objeto de

maiores esclarecimentos, não há que se falar na inaplicabilidade do benefício, uma

vez que é possível se utilizar dos dados do Auxílio-Doença propriamente dito

dispostos na Lei nº 8.213/91 (BRASIL, 1991, www.planalto.gov.br): renda mensal

correspondente a 91% do salário-de-benefício, que consiste na média aritmética

simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a oitenta por cento de

todo o período contributivo; e período de carência de 12 meses de contribuição.

Nesse sentido, concluindo a análise ao projeto de Lei que institui o Auxílio-

Doença Parental, é possível destacar o avanço em termos de proteção social que

este representa, além do valor da sua propositura num cenário de pressão política

que se pretende a redução drástica de direitos sociais. E, embora este seja omisso

na indicação dos dados como RMI, carência, salário-de-benefício, além da forma de

custeio, este possui um fundamento muito maior do que qualquer omissão nesse

sentido: o direito à proteção social, à dignidade da pessoa humana e, sobretudo, o

direito à vida. Todos direitos fundamentais propostos pelo constituinte originário.

5Ver art. 24 da Lei 8.213/91.

Page 60: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

59

Após análise das nuances do Projeto de Lei que pretende instituir o benefício

do Auxílio-Doença Parental, ainda que este apresente certas restrições como as

acima destacadas, não resta dúvida do progresso ocorrido com a propositura deste

em termos de proteção social e igualdade entre o RGPS e o RPPS. Nesse contexto

de aplicação do princípio da isonomia entre os dois regimes, bem como a existência

clara dos riscos sociais existentes pela falta de proteção social para com estes

encargos familiares, analisar-se-á em seguida, a viabilidade jurídica da criação e da

concessão do Auxílio-Doença Parental.

4.4 Viabilidade jurídica

A Constituição expressamente determina a Previdência Social como um dos

direitos sociais fundamentais à pessoa num Estado Democrático de Direito que visa

o bem-estar social; o indivíduo inserido na sociedade por meio da sua força e

capacidade de trabalho deve ter o amparo da Previdência Social no momento em

que este tem sua capacidade laboral atingida, pois esta tem o “[...] papel nuclear

para a manutenção do ser humano dentro de um nível existencial minimamente

adequado” (SARLET citado por ROCHA, 2004, p. 111).

As análises realizadas no presente capítulo possibilitaram verificar a viabilidade

jurídica da concessão do Auxílio-Doença Parental, tanto para sua criação, quanto

para a sua aplicabilidade antes mesmo de sua regulamentação legal. Isto porque,

embora não haja a efetiva regulamentação legal própria do RGPS, os segurados

deste regime devem ser contemplados com este amparo por meio da analogia,

diante da já existente proteção aos segurados do RPPS em situações idênticas a

que o Auxílio-Doença Parental visa amparar, conforme se observa no art. 83 da lei

dos servidores públicos, descrito no início deste capítulo.

Ademais, a ampliação da proteção à família, que desde os primórdios

representa a base da sociedade, o início da convivência com outros indivíduos (onde

se aprende os primeiros valores e regras sociais), seja esta sanguínea ou afetiva, é

expressamente amparada pela Constituição Federal que determina, em seu artigo

226 (BRASIL, 1988, www.planalto.gov.br), proteção especial do Estado para com

ela. Da mesma forma, o artigo 1º da Lei nº 8.213/91 ao dispor dos Planos e

Benefícios da Previdência Social, prevê a proteção previdenciária aos encargos

familiares:

Page 61: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

60

Art. 1º A Previdência Social, mediante contribuição, tem por fim assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente (BRASIL, 1991, www.planalto.gov.br).

A viabilidade jurídica para a criação do benefício encontra respaldo nos

preceitos básicos assegurados constitucionalmente aos cidadãos, dentre eles, a

dignidade da pessoa humana, a proteção à família e a promoção da justiça social.

Imagina-se uma mãe que precisa deixar o emprego para cuidar de um filho com

câncer. Ou uma filha, que precisa deixar suas atividades laborativas para cuidar da

sua mãe em estado grave de saúde. Ambas, nesta situação, estarão vivenciando o

estado crítico da saúde de um ente querido, além da redução drástica do capital

financeiro essencial nesses casos.

Ademais, estudos revelam que a presença de um familiar, principalmente nos

casos de doentes mais vulneráveis, como crianças e idosos, muitas vezes atinge

positivamente a recuperação que se torna mais ágil e menos dolorida ao paciente

enfermo. Abaixo trecho da pesquisa realizada nas Unidades de Terapia Intensiva

(UTI) pediátrica e neonatal no Hospital do Paraná:

O estresse da criança é inevitável durante o período de internação na UTI, visto que vários são os fatores causadores deste distúrbio, entre os quais o medo, a dor, os longos períodos de vigília, a mudança do ambiente e a ausência da família. Os resultados encontrados mostram que os profissionais têm conhecimento do estresse e do sofrimento que a criança vivencia diante da à (sic) internação, pois a mudança de ambiente lhe causa desequilíbrio emocional, principalmente quando não pode compartilhar com a família esta nova situação vivencial. A retirada da criança do ambiente em que ela vive gera angústia e dor, que a criança tem dificuldade em trabalhar. (M 6) Em contrapartida, a presença da família, em especial a da mãe, geralmente promove e mantém a inter-relação criança/ família/equipe, neutraliza os efeitos negativos decorrentes da separação, melhora sua adaptação ao hospital, facilita a aceitação do tratamento e ameniza os fatores estressantes da doença, dos procedimentos e da hospitalização (MOLINA et al, 2006, p. 440, grifo próprio).

A própria Lei nº 8.069/90 que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do

Adolescente - ECA, em seu art. 12, determina que os estabelecimentos de

atendimento à saúde proporcionem a um dos pais ou responsável condições para

permanência em tempo integral no estabelecimento nos casos de internação de

criança ou adolescente (BRASIL, 1990, www.planalto.gov.br).

Desta forma, pessoas acometidas de doenças graves estão expostas a

Page 62: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

61

inúmeras situações desagradáveis e procedimentos dolorosos, que os tornam

inseguros e angustiados, especialmente às crianças e aos idosos. Na medida em

que a enfermidade de algum destes, por exemplo, se torna mais eficaz na presença

e com os cuidados de um familiar, a viabilidade jurídica na criação do benefício

também encontra respaldo no Estatuto da Criança e do Adolescendo em seu art. 4º

e no Estatuto do Idoso em seu art. 3º, que preveem a absoluta prioridade na

efetivação dos direitos destes, considerados vulneráveis, sendo dever da família, da

comunidade, da sociedade em geral e do poder público, assegurar, dentre eles, o

direito à vida e à saúde (COSTA; NUNES, 2016).

De fato, o objetivo final na busca da justiça social é a ampliação do rol dos

benefícios assegurados pela Previdência Social, mediante a concretização e

inclusão do Auxílio-Doença Parental, a fim de amparar as famílias e evitar que estas

além do sofrimento e gastos financeiros para o tratamento da doença, também

sofram a possível saída de um dos membros do mercado de trabalho e a

consequente diminuição de renda. Contudo, até que esta ampliação efetivamente

ocorra, os magistrados possuem a fundamentação legal e jurídica para conceder o

benefício, ainda que ausente a previsão legal específica do benefício, pois

evidenciado o risco social envolvido e a análise do caso concreto, o fundamento

legal para conceder o benefício encontra-se na Lei de Introdução às normas do

Direito Brasileiro – LINDB ao autorizar que o juiz decida de acordo com a analogia,

os costumes e os princípios gerais do direito, de forma a atender aos fins sociais e o

bem comum (COSTA; NUNES, 2016).

Ademais, havendo concessão de licença semelhante aos servidores públicos

no RPPS, e a expressa determinação do já mencionado art. 1º da Lei 8.213/91, que

prevê a proteção dos encargos familiares, não há fundamento para a discrepância

entre os regimes básicos, tão pouco o desamparo social (COSTA; NUNES, 2016).

Neste sentido, a escassa doutrina e a mínima provocação que o Poder

Judiciário possui para decidir sobre o assunto, contribuem para que ainda não haja

consideráveis decisões e consequentes jurisprudências a respeito. Ainda assim, há

precedente sobre a matéria, conforme se observa na decisão da turma Recursal de

Santa Catarina sob o n.º 2006.72090007861, transitada em julgado em 09/11/2006,

que confirmou, de forma unânime, a concessão do benéfico de Auxílio-Doença à

mãe que, apesar de fisicamente não possuir qualquer limitação para o trabalho,

encontrava-se impossibilitada de trabalhar do ponto de vista psicológico em razão da

Page 63: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

62

doença sem possível cura da filha de pouco mais de um ano de idade na época,

conforme trecho da decisão abaixo:

[...] Pelo que se extrai dos documentos juntados com a inicial e da análise da perícia judicial realizada, a enfermidade que acomete a filha da postulante bem como a expectativa de sobrevida é o limite de 1 ano de idade, em razão de complicações pulmonares, sendo que no caso a criança já conta 1 ano e 3meses de vida, criando para a autora um quadro tal em que, ao mesmo tempo em que acredita na possibilidade de recuperação da filha, também tem conhecimento de que não existe possibilidade médica de cura e o pior, que a cada dia passa mais próximo esta de uma notícia desalentadora. Evidente assim que, apesar de fisicamente a postulante não ter qualquer limitação para o trabalho, sob o ponto de vista psicológico, conforme destacado pela perícia judicial, não vislumbra qualquer possibilidade de que a autora possa desenvolver atividade profissional. No caso, não se pode desconsiderar o fato de que a criança necessita de um acompanhamento individualizado que é feito pela mãe já que a UTI tem apenas atendimento coletivo, conforme consta da perícia. Já a contratação de uma enfermeira para atendimento individualizado até poderia suprir a necessidade médica da criança, mas sem o contato afetivo mãe-filha que, nos termos da perícia médica, gera à criança “maior possibilidade de sobrevida, segurança e conforto familiar”. Dessa forma, tanto pelo lado psicológico da mãe, que não conseguiria qualquer rendimento satisfatório indo trabalhar e deixando a vida de sua filha esvair-se no hospital, quanto pelo lado da criança, que tem maior expectativa de vida ao receber o atendimento materno, verifica-se que não existe a mínima capacidade laboral por parte da requerente [...]. Em sendo assim, a conclusão desse juízo é que existe direito à concessão do benefício auxílio-doença, a ser mantido enquanto persistir o quadro fático noticiado nos autos [...] (GOUVEIA, 2012, citado por COSTA; NUNES, 2016, p. 15).

Após análise de um precedente de caso típico de Auxílio-Doença Parental e

destacadas as fundamentações legais suficientes para conceder o benefício ao

segurado do RGPS, não há razão para não se ampliar a proteção e conceder o

benefício a quem dele fizer jus. Para corroborar essa ideia, analisar-se-á a seguir a

viabilidade econômica da ampliação da cobertura da proteção social mediante a

criação do benefício do Auxílio-Doença Parental.

4.5 Viabilidade econômica

No Projeto de Lei nº 1.876 que objetiva a inclusão do Auxílio-Doença Parental

no rol dos benefícios previdenciários garantidos aos segurados do RGPS, a relatora

deixa claro que, no seu entendimento, não se trata da extensão ou criação de novo

benefício e, sim, a interpretação da lei. Ocorre que, conforme já demonstrado no

decorrer deste trabalho, pelo princípio constitucional, a preexistência da fonte de

custeio deve ser indicada, tanto na criação de novo benefício ou serviço da

Page 64: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

63

Seguridade Social, quanto na extensão ou majoração de qualquer destes.

Quanto à indicação da fonte de custeio, a Constituição Federal não faz menção

à necessidade de criar uma nova fonte, apenas determina a indicação dos recursos

que irão custear novo benefício ou serviço da Seguridade Social. Da mesma forma,

não há determinação legal de lugar específico de onde devam sair esses recursos,

sendo necessário, portanto, apenas a demonstração total deste.

A análise do segundo capítulo acerca do orçamento da Seguridade Social

permitiu verificar a possibilidade do próprio sistema custear o benefício apresentado

por este trabalho, dado o orçamento superavitário da Seguridade Social. Os dados

demonstrados no decorrer do segundo capítulo demonstram essa realidade. Em

2015, ano em que o país estava enfrentando as consequências da crise econômica,

o superávit ainda assim aconteceu e foi de em média R$ 11,2 bilhões. Nos anos

anteriores, os superavits foram ainda maiores: R$ 82.836 bilhões, R$ 76.446 bilhões

e R$ 55.737 bilhões, nos anos de 2012, 2013 e 2014, respectivamente (ANFIP,

2016).

Deste modo, não há qualquer restrição em termos orçamentários; pelo

contrário, há recursos na Seguridade Social (ANFIP, 2016). E, havendo recursos,

não há que se falar em crise da Seguridade Social e tão pouco insustentabilidade da

previdência. Por esta razão, a não aplicação dos recursos superavitários em

benefícios e serviços próprios na área da saúde, assistência ou previdência é uma

afronta direta e gravíssima à Constituição Federal, especialmente aos direitos

fundamentais e sociais que esta expressamente propõe.

O orçamento superavitário e a existência de riscos sociais evidentes

possibilitam a criação do Auxílio-Doença Parental, sendo este considerado um novo

benefício ou a extensão de outro, utilizando como fonte de custeio os recursos

superavitários do próprio sistema da Seguridade Social, sem que haja a

necessidade de criar ou majorar tributos para que este seja concedido aos

segurados do RGPS.

Deste modo, considerando a existência do risco social pela falta de

regulamentação do benefício; a possibilidade orçamentária do próprio sistema da

Seguridade Social em custeá-lo; e, a determinação expressa da Constituição

Federal para que os recursos do sistema da Seguridade Social sejam utilizados em

benefícios e serviços em favor desta, há fundamentação e motivos suficientes que

possibilitam a criação do Auxílio-Doença Parental.

Page 65: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

64

Havendo condição superavitária no orçamento, portanto, nada mais justo e

coerente do que utilizar em favor da população e do bem-estar social o próprio

orçamento superavitário da Seguridade Social, cuja determinação constitucional é,

justamente, que os recursos sejam utilizados em benefícios e serviços em favor

desta. Não se estaria criando uma nova fonte de custeio propriamente dita, tendo

em vista que o excesso superavitário no orçamento da Seguridade Social permite o

custeio de novo benefício na Previdência Social, restando preenchido o requisito da

preexistência do custeio para a criação do benefício do Auxílio-doença Parental.

Diante disso, conclui-se frente ao estudo realizado que: a) se a lei do RGPS e

do RPPS possuem o mesmo objetivo, a primeira opção para se utilizar, em não

havendo lei para o outro caso, é a analogia; b) em se tratando de matéria com

grande relevância social, o cidadão não pode esperar a lei: cabe ao Poder Judiciário

aplicar e conceder esta proteção social, frente à questão social e à dignidade,

ambas muito superiores do que qualquer questão orçamentária, inclusive; c) o

legislador não pode ser omisso, ainda mais em matéria cujo risco social é evidente;

d) havendo omissão por parte do legislador, não pode o cidadão, neste caso,

contribuinte, sair prejudicado.

Nesse sentido, ainda que não houvesse condição superavitária no sistema, a

concessão e a criação deste novo benefício previdenciário, é muito mais relevante

para o estado do que a questão orçamentária, dado o evidente risco social existente

com o desamparo estatal.

Deste modo, a ampliação da proteção social mediante a regulamentação deste

novo benefício previdenciário, além de aumentar a cobertura social e previdenciária

a ponto de atingir positivamente milhares de famílias brasileiras, traduz nada mais,

do que a intenção do constituinte originário, uma vez que a Constituição Federal

determina, expressamente, que os recursos arrecadados para a Seguridade Social

sejam utilizados em benefícios e serviços desta, a fim de promover a justiça e o

bem-estar social.

Page 66: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

65

5 CONCLUSÃO

Concluir pela possibilidade de criação de um novo benefício previdenciário e

sua possível regulamentação e inserção no rol dos benefícios garantidos pela

Previdência Social não é fácil no contexto atual de iminente reforma do sistema e na

luta incansável de redução de direitos sociais por parte do Governo Federal.

Contudo, como acadêmicos de Direito, e antes de tudo, como cidadãos

brasileiros, este é o momento de buscar a verdade sobre os fatos e lutar pela justiça

social proposta pelo constituinte originário, de forma que a defesa da criação de um

benefício previdenciário, dado a apresentação dos riscos sociais existentes pela sua

falta de regulamentação legal, não se encontra em desacordo com o

constitucionalmente estabelecido, pelo contrário, é justamente o que a Constituição

Federal propõe. Na verdade, em desacordo com o atual contexto do país está a

proposta de redução drástica de direitos sociais baseadas em argumentos que não

condizem com a realidade fidedigna do sistema; grave, a ponto de (tentar) induzir a

população em erro acerca do suposto deficit e da “necessidade” de redução dos

benefícios garantidos aos contribuintes da Previdência Social.

Para tanto, o objetivo central da presente pesquisa fundou-se na análise acerca

da necessidade da ampliação da proteção social aos beneficiários do RGPS, da

mesma forma que se buscou demonstrar a possibilidade orçamentária do custeio do

Auxílio-Doença Parental no contexto atual da Previdência Social brasileira.

Para compreender a sistemática desenvolvida pelo presente trabalho, retoma-

se ao questionamento inicial que permitiu a realização das conclusões a seguir

destacadas: Diante do contexto social atual e do embate “redução de direitos versus

ampliação urgente da proteção social, mediante a criação de novos benefícios

sociais”, quais as consequências que a criação do Auxílio-Doença Parental traz à

sociedade brasileira e como esta se dá frente ao contexto da suposta crise atual na

Previdência Social brasileira?

Diante da problemática vista acima, o presente trabalho propôs, inicialmente,

descrever o funcionamento da Seguridade Social, sendo este norteado pelos

princípios constitucionais que instituem a essência do sistema, formando a base

sólida de Seguridade Social atualmente instituída. Para tanto, no decorrer do

primeiro capítulo permitiu-se concluir que as três áreas de atuação da seguridade:

Saúde, Assistência e Previdência atuam conjuntamente, ainda que autônomas entre

Page 67: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

66

si, e juntas representam as peças imprescindíveis para concretizar a redução das

desigualdades sociais, intimamente ligadas ao ideal de bem-estar e justiça social,

permitindo destacar, portanto, o objetivo central do sistema: redução dos riscos

sociais quando a existência destes resta demonstrada.

Diante de tal conjuntura, a presente pesquisa permitiu elucidar que a

Constituição Federal de 1988, expressamente, impõe às contribuições a

necessidade de possuir uma finalidade determinada, na medida em que toda a

arrecadação à Seguridade Social deve ser utilizada na finalidade de proporcionar a

proteção social aos brasileiros. Uma vez verificada tal determinação, conclui-se que

se há recursos suficientes no orçamento da Seguridade Social, o sistema é obrigado

a verter suas contribuições em favor de benefícios e serviços sociais, sejam eles

previdenciários, assistenciais ou da saúde.

Para tanto, o segundo capítulo se ateve, justamente, a investigar o orçamento

da Seguridade Social a fim de verificar a afirmativa destacada no parágrafo acima.

Nesse sentido, tem-se que o financiamento do sistema decorre tanto do poder

público quanto da sociedade, de forma direta e indireta. A partir da demonstração

individual dos percentuais vertidos a título de contribuição social pelas empresas,

pelos segurados empregados, empregados domésticos, contribuintes individuais e

facultativos, e das demais contribuições cujo desconhecimento por grande parte da

população é evidente, dentre elas as vertidas pela comercialização da produção

rural, das associações desportivas, da importação de bens e serviços e da receita de

concursos de prognósticos, restou claro o sistema sólido que o constituinte originário

idealizou e, cujo funcionamento de acordo com o estabelecido na Carta Magna

permite a concretização de outros diversos princípios instituídos, dentre eles o

consagrado princípio da dignidade da pessoa humana, não restando alternativa à

população senão a cobrança do funcionamento correto do sistema, que prioriza a

ampliação dos direitos sociais, além da busca pela igualdade e justiça social e não o

inverso proposto pelo atual Governo.

No mesmo contexto, as pesquisas e os estudos realizados pelos próprios

auditores da receita federal permitiram verificar que aplicando as regras,

constitucionalmente, determinadas ao sistema orçamentário próprio da Seguridade

Social, nos últimos anos, a receita deste manteve-se sempre maior que as

despesas, restando evidente a impossibilidade do orçamento estar com caráter

deficitário, conforme pretende fazer crer o governo nas suas incansáveis alegações

Page 68: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

67

acerca do assunto.

A partir disso, há muito a ser feito antes de propor a redução extrema de

direitos sociais. Antes de qualquer proposta nesse sentido, há de ser revisto as

desvinculações que a União tem direito, criadas em 1994 com caráter emergencial

para amenizar os efeitos da economia e que até hoje permanece, com percentuais

de desvio maiores ainda desde o ajuste realizado no ano de 2015, destacadas no

segundo capítulo deste trabalho, sem que para isso haja qualquer fundamento

(ainda mais no contexto atual em que insistem fazer uso de alegações acerca da

situação “deficitária” da Seguridade).

O segundo capítulo permitiu elucidar ainda, o funcionamento da Seguridade

Social como um sistema próprio, sólido e constitucionalmente determinado, não

havendo qualquer orçamento da previdência social em apartado, conforme tenta

(pretende) fazer crer o Governo Federal. Não há que se falar em deficit

previdenciário, quando, na verdade, as contribuições sociais são vertidas em favor

do sistema de seguridade, havendo a necessária distribuição dos recursos para os

serviços e benefícios sociais da saúde, da assistência, e da previdência.

Observados estes conceitos introdutórios e demonstrado o funcionamento e a

realidade orçamentária da Seguridade Social nos últimos anos, o último capítulo se

ateve a defender a criação do benefício previdenciário proposto pelo presente

trabalho, o chamado Auxílio-doença Parental, cuja criação está aguardando a

decisão do Projeto de Lei nº 287, para que este seja instituído no rol dos benefícios

atualmente assegurados aos segurados do Regime Geral da Previdência Social.

Para tanto, referido capítulo analisou, inicialmente, o conceito do benefício e o

objetivo deste como proteção primordial à família brasileira, uma vez que o Auxílio-

Doença Parental tem em sua essência o amparo financeiro ao beneficiário que se

encontra sem condições para o labor em decorrência da doença grave de um dos

membros da família.

A elaboração deste trabalho permitiu observar que além de desamparado pelo

sistema previdenciário, o segurado, temporariamente, incapaz de exercer sua

atividade laborativa em razão de membro familiar gravemente enfermo, também se

encontra desamparado pelo sistema trabalhista, uma vez que não há qualquer

previsão na CLT que garanta ao trabalhador o afastamento prolongado do labor

pelas razões demonstradas, tão pouco abono às faltas no serviço decorrentes do

mesmo fundamento. Não bastasse a falta de proteção durante o vínculo contratual

Page 69: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

68

de trabalho, o empregado deverá contar com a “boa vontade” do empregador ou

poderá sofrer a rescisão de contrato por justa causa, motivadas pelas faltas

recorrentes, ainda que por motivos justificáveis socialmente, porém não legalmente.

Deste modo, o empregado encontra-se duplamente desamparado, isto porque

há o nítido desamparo tanto pela esfera previdenciária quanto trabalhista, o que

evidencia o risco social existente a estes segurados regidos pela CLT. Em

contrapartida, ainda que o ideal seja o amparo da legislação trabalhista e

previdenciária – pois nem todos os contribuintes do RGPS são beneficiários pela

CLT – na falta de um, no mínimo, o Estado deveria garantir o amparo do outro ao

brasileiro contribuinte e trabalhador.

De fato, o país está vivendo o momento inverso ao ora pretendido, em razão da

pretensão de redução de direitos, mediante às iminentes reformas nos sistemas

previdenciário e trabalhista proposta pelo Governo Federal que, se concretizadas,

além de significar um drástico retrocesso social, afetará, negativamente, milhões de

brasileiros, motivo pelo qual é dever da coletividade lutar para que isso não aconteça

da forma como se pretende.

No momento em que se evidencia o risco social do segurado que se demite ou

perde seu emprego e, consequentemente, sua renda, para cuidar de um familiar

enfermo, toda a sociedade perde e caminha no sentido contrário aos preceitos

básicos da atual Constituição Federal.

É por esta razão que o presente trabalho defende a ampliação da proteção

social brasileira, mediante a criação do Auxílio-doença Parental. Para tanto, após

destacar o conceito geral do benefício e os riscos sociais envolvidos pela falta de

regulamentação deste, o terceiro capítulo buscou evidenciar alguns dos benefícios

que a criação deste novo auxílio trará à população brasileira. Um deles, sem dúvida

é a proteção na esfera trabalhista, tendo em vista que uma vez concedido, o

trabalhador é considerado licenciado até que o benefício seja cessado, da mesma

forma como ocorre com o já existente Auxílio-Doença. Ademais, as vantagens de

cunho psicológico e afetivo são muitas em se tratando de doenças graves. Isto

porque, conforme demonstrado no terceiro capítulo, pesquisas confirmam que a

presença de um ente próximo da família, além de atenuar a dor do paciente,

contribui no tratamento, facilitando, em alguns casos, à cura ou melhora do quadro.

Outrossim, a criação do benefício estaria pondo em prática a proteção absoluta

garantida às crianças e aos idosos, visto que além de serem considerados as

Page 70: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

69

gerações mais vulneráveis, estão enfrentando uma situação de doença, sendo a

presença de um ente próximo e querido imprescindível.

Por fim, respondendo a problemática instalada, acredita-se que sim há a

possibilidade jurídica para a concessão do benefício ora defendido, tendo em vista

que embora não esteja atualmente regulamentado, há formas para que este seja

concedido, bastando, para tanto, a provocação ao sistema judiciário, que tem as

ferramentas necessárias para conceder o benefício do Auxílio-Doença parental,

utilizando-se de fundamentos baseados nos preceitos básicos assegurados

constitucionalmente aos cidadãos e por analogia, pela semelhança da licença

garantida ao servidor público, vez que em termos de capacidade orçamentária, a

Seguridade Social possui recursos para a mantença deste benefício previdenciário,

razão pela qual verificado, no caso concreto, o preenchimento dos requisitos do

benefício, é dever do Estado garantir a proteção social que o contribuinte faz jus.

Page 71: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

70

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS AUDITORES-FISCAIS DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL. Análise da Seguridade Social 2015. Brasília: ANFIP, 2016. BALERA, Wagner. Noções Preliminares de Direito Previdenciário. São Paulo: Quatier Latin, 2004. BITTENCOURT, Kelly Francine da Costa. O futuro da previdência social no Brasil frente às privatizações na América Latina. Disponível em: <https://repositorio.unisc. br/jspui/handle/11624/932> Acesso em: 19 out. 2017. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 11 mar. 2017. ______. Constituição (1988). Emenda Constitucional nº 86, de 17 de março de 2015. Altera os arts. 165, 166 e 198 da Constituição Federal, para tornar obrigatória a execução da programação orçamentária que especifica. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 17 mar. 2015. Disponível em: <http://www.planalto .gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc86.htm>. Acesso em: 15 mar. 2017. ______. Decreto n. 3.048, de 06 de maio de 1999. Aprova o Regulamento da Previdência Social, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 06 maio1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/c civil_03/decreto/d3048.htm>. Acesso em: 11 mar. 2017.

______. Decreto n. 7.003, de 09 de novembro de 2009. Regulamenta a licença para tratamento de saúde, de que tratam os arts. 202 a 205 da Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 10 nov. 2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci vil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D7003.htm>. Acesso em: 28 jul. 2017.

______. Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; altera dispositivos das Leis no8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, da Lei no 10.189, de 14 de fevereiro de 2001, da Lei Complementar no 63, de 11 de janeiro de 1990; e revoga as Leis no 9.317, de 5 de dezembro de 1996, e 9.841, de 5 de outubro de 1999. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 15 dez. 2006. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp123. htm>. Acesso em: 16 jul. 2017. ______. Lei Complementar n. 141, de 13 de janeiro de 2012. Regulamenta o § 3o do art. 198 da Constituição Federal para dispor sobre os valores mínimos a serem aplicados anualmente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios em ações e serviços públicos de saúde; estabelece os critérios de rateio dos recursos de transferências para a saúde e as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas 3 (três) esferas de governo; revoga dispositivos das Leis nos 8.080, de 19 de setembro de 1990, e 8.689, de 27 de julho de 1993; e dá outras

Page 72: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

71

providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 13 jan. 2012. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp141.htm>. Acesso em: 15 mar. 2017. ______. Lei n. 5.452, de 01 de maio 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 09 ago. 1943. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 23 jul. 2017. ______. Lei n. 8.069, de 13 de julho 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03 /leis/L8069.htm>. Acesso em: 23 jul. 2017. ______. Lei n. 8.112, de 11 de dezembro 1990. Dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 10 abr. 1991. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8112cons.htm>. Acesso em: 16 set. 2017. ______. Lei n. 8.212, de 24 de julho 1991. Dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 jul. 1991. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8212cons.htm>. Acesso em: 16 jul. 2017. ______. Lei n. 8.213, de 24 de julho 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências.Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 jul. 1991. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci vil_03/leis/L8213cons.htm>. Acesso em: 12 mar. 2017. ______. Lei n. 8.742, de 07 de dezembro 1993. Dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá outras providências.Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 07 dez. 1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cc ivil_03/leis/l8742.htm>. Acesso em: 12 mar. 2017. ______. Lei n. 10.833, de 29 de dezembro 2003.Altera a Legislação Tributária Federal e dá outras providências.Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 30 dez. 2003. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis /2003/L10.833.htm>. Acesso em: 16 jul. 2017. ______. Lei n. 11.727, de 23 de junho 2008. Dispõe sobre medidas tributárias destinadas a estimular os investimentos e a modernização do setor de turismo, a reforçar o sistema de proteção tarifária brasileiro, a estabelecer a incidência de forma concentrada da Contribuição para o PIS/Pasep e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – Cofins na produção e comercialização de álcool; altera as Leis nos 10.865, de 30 de abril de 2004, 11.488, de 15 de junho de 2007, 9.718, de 27 de novembro de 1998, 11.196, de 21 de novembro de 2005, 10.637, de 30 de dezembro de 2002, 10.833, de 29 de dezembro de 2003, 7.689, de 15 de dezembro de 1988, 7.070, de 20 de dezembro de 1982, 9.250, de 26 de dezembro de 1995, 9.430, de 27 de dezembro de 1996, 9.249, de 26 de dezembro

Page 73: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

72

de 1995, 11.051, de 29 de dezembro de 2004, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, 8.213, de 24 de julho de 1991, 7.856, de 24 de outubro de 1989, e a Medida Provisória no 2.158-35, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências.Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 24 jun. 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11727.htm>. Acesso em: 16 jul. 2017. ______. Lei n. 13.146, de 06 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 06 jul. 2015. Disponível em: <http://ww w.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>. Acesso em: 12 jun. 2017. ______. Portaria n. 8, de 13 de janeiro 2017. Dispõe sobre o reajuste dos benefícios pagos pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS e dos demais valores constantes do Regulamento da Previdência Social - RPS. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 16 jan. 2017. Disponível em: <http:// pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=12&data=16/01/2017>. Acesso em: 05 nov. 2017. ______. Proposta de Emenda à Constituição n. 287. Disponível em:< http://www.ca mara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2119881>. Acesso em: 20 jul. 2017. ______. Projeto de Lei n. 711. Disponível em:<http://www.camara.gov.br/proposic oesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=996839>. Acesso em: 23 jul. 2017. ______. Projeto de Lei n. 1876. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposic oesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=1306679>. Acesso em: 23 jul. 2017. ______. RE 146733. Rel. Ministro. Moreira Alves. Tribunal Pleno, julgado em 29/06/1992. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP =AC&doc ID=210152>. Acesso em: 16 jul. 2017. ______. RE 580963. Rel. Ministro Gilmar Mendes. Tribunal Pleno, julgado em 18/04/2013. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAn damento.asp?incidente=2602629>. Acesso em: 04 mar. 2017. ______. RE 661256. Rel. Ministro Roberto Barroso. Tribunal Pleno, julgado em 27/10/2016. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAnd amento.asp?incidente=4157562>. Acesso em: 16 jul. 2017. ______. RE 855178. Rel. Ministro Luiz Fux. Tribunal Pleno, julgado em 05/03/2015. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp? incidente=4678356 >. Acesso em: 06 nov. 2017. ______. RO 01939-2010-892-09-00-6. Rel. Ubirajara Carlos Mendes. Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, julgado em 16/08/2011. Disponível em: <http:// www.trt9.jus.br/internet_base/processoman.do?evento=Editar&chPlc=AAAXsSABMAAIsxGAAP>. Acesso em: 23 jul. 2017.

Page 74: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

73

______. Superior Tribunal de Justiça. Súmula 336. Disponível em: <http://www.stj.ju s.br/SCON/sumanot/toc.jsp?materia=%27DIREITO%20PREVIDENCI%C1RIO%27.mat.#TIT17TEMA0>. Acesso em: 12 jun. 2017. ______. Supremo Tribunal Federal. Ação Civil Pública n. 2000.71.00.009347-0. Relator: Ministro Marco Aurélio. Brasília, DF, 10 fev. 2003. Disponível em: <http://ww w.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=60059>. Acesso em: 03 abr. 2017. CASTRO, C.A.P.; LAZZARI, J.B. Manual de Direito Previdenciário. 14. ed.Florianópolis: Conceito, 2012. COSTA, M.M.M. da; NUNES, J.B.A. Auxílio doença parental: Viabilidade e necessidade de sua criação com o fito de garantir a dignidade da pessoa humana, o bem estar e justiça social. In: XIII SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE DEMAN DAS SOCIAIS E POLÍTICAS PÚBLICAS NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA, 2016, Santa Cruz do Sul. Anais... Santa Cruz do Sul. Disponível em: <http://online. unisc.br/acadnet/anais/index.php/sidspp/article/view/15852/3749>. Acesso em: 10 out. 2017. FUNDAÇÃO ANFIP. Previdência pode ser engodo para passar reforma trabalhista. Disponível em: <http://afundacaoanfip.org.br/site/2017/03/previdencia-pode-ser-engodo-para-passar-reforma-trabalhista/>. Acesso em: 05 nov. 2017. GENTIL, Denise Lobato. A Falsa Crise do Sistema de Seguridade Social no Brasil: uma análise financeira do período 1990 – 2005. 2006. 357 f. Dissertação (Programa de Pós-Graduação – Doutorado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. HORVATH JÚNIOR, M.; QUEIROZ, V. M. C.A necessidade da visão protetiva na reforma previdenciária. In: BERWANGER, J.L. W; SERAU JR., M. A.; FOLMANN, M. (Coord.). Previdência Social?. Porto Alegre: Magister, 2016. p. 149-163. IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. 17. ed. Niteroi: Impetus, 2012. INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL. Informações sobre benefícios. Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/servicos-ao-cidadao/beneficios-do-inss/>. Acesso em: 23 jul. 2017. MOLINA, R. C. M. et al. Presença da Família nas Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica e Neonatal: Visão da Equipe Multidisciplinar. Disponível em: <http://www .scielo.br/pdf/ean/v11n3/v11n3a07>. Acesso em: 23 jul. 2017. ROCHA, Daniel Machado da. O Direito Fundamental à Previdência Social. Na perspectiva dos princípios Constitucionais Diretivos do Sistema Previdenciário Brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2004. RODRIGUES, Leonardo Ziccarelli. Reforma da Previdência: Limites e possibilidades. In: BERWANGER, J.L. W; SERAU JR., M. A.; FOLMANN, M. (Coord.). Previdência

Page 75: AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE … · AUXÍLIO-DOENÇA PARENTAL: A POSSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DE UM NOVO ... pessoas que fizeram e fazem parte da minha

74

Social?. Porto Alegre: Magister, 2016. p. 131-148. ROSO, Juliano. Terceirização e reforma da previdência. UNISC, 04 abr. 2016. Auditório do Memorial da Unisc. SANTOS, Marisa Ferreira dos. Direito previdenciário esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. SENADO FEDERAL. Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado Federal destinada a investigar a contabilidade da previdência social, esclarecendo com precisão as receitas e despesas do sistema, bem como todos os desvios de recursos (CPIPREV): relator. Senador Hélio José. 23 de outubro de 2017. Disponível em: <http://legis.senado.leg.br/com issoes/comissao?0&codcol=2093>. Acesso em: 03 nov. 2017. ______. DRU. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias /entenda-o-assunto/dru>. Acesso em: 16 jul. 2017. SOUZA, Felipe Broering de. Auxílio-Doença Parental: Análise do Projeto de Lei do Senado (PLS) n. 286/14. Disponível em: <https://www.lex.com.br/doutrina_27146 278>. Acesso em: 23 jul. 2017. VIANNA, Cláudia Salles Vilela. Previdência Social: Custeio e Benefícios. 2. ed. São Paulo: LTR, 2008. VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2012.