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DAMIANE SILVESTRE COELHO
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO SOBRE A
ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DA MACROFAUNA BÊNTICA NA PLATAFORMA
EXTERNA DO SUDESTE/SUL DO BRASIL
Itajaí
2011
ii
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
DAMIANE SILVESTRE COELHO
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO SOBRE A
ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DA MACROFAUNA BÊNTICA NA PLATAFORMA
EXTERNA DO SUDESTE/SUL DO BRASIL
.
Itajaí
2011
Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Oceanógrafo, na Universidade do Vale de Itajaí, Centro de Ciências Tecnológicas, da Terra e do Mar.
Orientador:
Prof. Dr. Tito Cesar Marques de Almeida
iii
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO SOBRE A
ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DA MACROFAUNA BÊNTICA NA PLATAFORMA
EXTERNA DO SUDESTE/SUL DO BRASIL
DAMIANE SILVESTRE COELHO
Resumo
Uma importante ferramenta para avaliar os impactos da exploração petrolífera, é conhecer os padrões estruturais das comunidades bentônicas e as alterações destes padrões durante as etapas que compõe a atividade. O objetivo deste trabalho foi avaliar as alterações na estrutura e composição da macrofauna bentônica no entorno de um poço de exploração petrolífera situado na plataforma continental externa sudeste/sul brasileira. A área de estudo localizou-se a 170 km da costa, dentro dos limites da Bacia de Santos onde foi instalada uma plataforma de exploração semi-submersível (26° 38‟ S e 46° 52‟ W). Foram utilizados dados de fauna e de sedimento compilados dos relatórios ambientais elaborados para o licenciamento da atividade. A fauna coletada foi analisada no nível taxonômico de família devido à inconsistência da identificação em níveis de gênero e espécie. Foram empregadas análises uni e multivariadas para avaliar as modificações na estrutura e composição da macrofauna considerando o distanciamento do poço como fonte de variação. Foram detectadas alterações para os descritores numéricos de abundância e riqueza taxonômica, que seguiram as alterações verificadas nos descritores granulométricos (tamanho médio do grão e selecionamento), em relação ao distanciamento do poço de exploração. A fonte de variação também foi significativa em relação às associações macrobênticas, evidenciado principalmente pelo surgimento de Pilargidae, Cirratulidae, Capitellidae e Spionidae e alterações nas abundâncias de Onuphidae e Syllidae. Os resultados mostraram que os efeitos foram mais evidentes até 500 metros de distância do poço, indicando uma relativa pontualidade no efeito da atividade. Sendo esta uma característica peculiar à atividade. Entretanto efeitos sinergéticos podem surgir com o aumento no número de instalações e intensificação da atividade.
Palavras-chave: efeitos, petróleo, bentos, sedimento.
iv
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Campos petrolíferos descobertos pela Petrobrás na Área Geográfica da
Bacia de Santos (AGBS). .......................................................................................... 15
Figura 2: Mapa de localização da área de estudo. O ponto simboliza a coleta de
caracterização da área (2000 e 2001). No mapa estão representados os períodos de
coleta, sendo que simboliza a coleta de verão (dezembro/2000) e simboliza a
coleta de inverno (agosto/2001). O ponto indica onde foram realizadas as coletas
durante a exploração e pós a exploração dos campos (2003 e 2007), sendo que
simboliza a coleta de verão (março/2003) feita durante a exploração e a coleta de
inverno (julho/2003). A coleta feita após o descomissionamento do poço está
indicado por . ........................................................................................................... 18
Figura 3: Desenho amostral empregado nas coletas. Em vermelho no mapa “SS11”
se refere a plataforma de exploração (ponto central). Foram traçadas 5 radiais com
72° de afastamento entre elas, com distâncias de 250 metros, 500, 1000 e 3000
metros, onde 19 estações foram definidas. ............................................................... 20
Figura 4: Padronização realizada com a coleta AE2, que apresentou um grande
esforço amostral em relação as coletas AB0 e AE1. Nesta coleta foram feitos três
lançamentos obtendo 9 amostras de cada, foi feito um sorteio para obtenção de uma
amostra de cada lançamento. ................................................................................... 23
Figura 5: Combinações obtidas entre coletas e amostras. B, C1 e D1 compos a 1a
combinação; B, C2 e D1 compos a 2a combinação e B, C3 e D3 a 3a combinação.
.................................................................................................................................. 23
Figura 6: Gráfico de médias para interação de fatores (distância e estações do ano)
e parâmetros abióticos: profundidade, tamanho médio do grão (TMG), grau de
seleção e assimetria; sendo que a coleta da etapa pós-exploração foi analisada
somente para o fator distância por haver somente uma coleta (primavera). Os
gráficos A, B, C e D são relativos à coleta AB0, E, F, G e H são relativos à coleta
AE1 e I, J, K e L referem-se à coleta AE2. .................................................................. 9
Figura 7: Representação da abundância relativa dos taxa que representaram
96,81% da fauna coletada nos anos de 2000, 2001, 2003 e 2007.............................. 9
v
Figura 8: Representação diagramática das análises n-MDS, aplicado sobre a
composição faunística. Sendo que A refere-se a coleta de caracterização da área, B
refere-se a etapa em que o poço estava em exploração e C a etapa de
descomissionamento. As combinações foram obtidas relacionando uma amostra de
cada coleta. ............................................................................................................... 10
Figura 9: Representação diagramática dos resultados obtidos da análise n-MDS
aplicada para a coleta AE2, considerando as distância do poço de exploração (250,
500, 1000 e 3000 metros) ......................................................................................... 22
Figura 10: Representação diagramática das amostras sobre os eixos canônicos 1 e
2 extraídos a partir da Análise de Correspôndecia Canônica (CCA) aplicada sobre a
composição da macrofauna e as seguintes variáveis ambientais: profundidade
(Prof), tamanho médio do grão (TMG), grau de seleção e assimetria. ...................... 27
Figura 11: Representação diagramática das amostras sobre os eixos canônicos 1 e
2 extraídos a partir da Análise de Correspôndecia Canônica (CCA) aplicada sobre a
composição da macrofauna, sendo que A refere-se a coleta AB0, B é referente a
coleta AE1 e por fim C refere-se a AE2. ................................................................... 27
vi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Relações entre atividade, licença e estudos apresentados para o
licenciamento ambiental das atividades do setor petrolífero. .................................... 10
Tabela 2: Relação entre coletas, nomeação das coletas neste trabalho, respectivos
relatórios ambientais, data de coleta, navios oceanográficos, metodologia aplicada
em cada..................................................................................................................... 21
Tabela 3: Resultado da Análise de Variância (ANOVA), relacionando cada coleta
(AB0, AE1 e AE2) aos dados abióticos: profundidade, tamanho médio do grão, grau
de seleção e assimetria; e os fatores distância do poço de exploração, estações de
coleta (verão e inverno) e interação de fatores. ........................................................ 26
Tabela 4: Lista taxonômica da macrofauna coletada, relacionando o taxon e a
abundância relativa nas coletas AB0, AE1 e AE2. Estão em negrito os cinco taxa de
maior abundância relativa. ........................................................................................ 11
Tabela 5: Resultado da Análise de Similaridades (ANOSIM), aplicada às
combinações entre amostras obtidas de cada coleta, comparando a significância de
AB0, AE1 e AE2. ....................................................................................................... 11
Tabela 6: Resultado da Análise de Porcentagem de Similaridades (ANOSIM)
aplicada sobre AB0, AE1 e AE2 para a 1ª combinação. .......................................... 12
Tabela 7: Resultado da Análise de Porcentagem de Similaridades (SIMPER)
aplicada sobre AB0, AE1 e AE2 para a 2ª combinação. ........................................... 12
Tabela 8: Resultado da Análise de Porcentagem de Similaridades (SIMPER)
aplicada sobre AB0, AE1 e AE2 para a 3ª combinação. ........................................... 13
Tabela 9: Resultado da Análise de Variância (ANOVA), relacionando AB0, AE1 e
AE2 aos descritores numéricos da estrutura da comunidade: riqueza (S), abundância
(N), equitabilidade (J') e diversidade (H'), com os fatores distância do poço de
exploração, estação (verão e inverno) e interação destes. Os valores em negrito
apresentam diferenças significativas entre fator e variáveis. .................................... 15
Tabela 10: Resultado da Análise de Similaridades (ANOSIM- two-way), da coleta de
caracterização ambiental da área (AB0), aplicado às estações em que foram
realizadas as coletas (verão e inverno) e distância do poço de exploração (250, 500,
1000 e 3000). ............................................................................................................ 18
vii
Tabela 11: Resultado da Análise da porcentagem de similaridades (SIMPER),
aplicada à fauna coletada na caracterização da área de exploração, comparando
famílias com maior contribuição nas estações de verão e inverno. .......................... 18
Tabela 12: Resultado da Análise de Similaridades (ANOSIM- two-way), para coleta
AE1, aplicado às estações em que foram realizadas as coletas (verão e inverno) e
distância do poço de exploração (250, 500, 1000 e 3000). Estão em negrito os
resultados que apresentam diferenças significativas. ............................................... 20
Tabela 13: Resultado da Análise da Porcentagem de Similaridades (SIMPER),
aplicada a fauna coletada em AE1, relacionando as famílias com maior contribuição
nas estações de verão e inverno e nas distâncias de 250, 500, 1000 e 3000 metros
do poço de exploração. ............................................................................................. 21
Tabela 14: Resultado da Análise de Similaridades (ANOSIM- one-way), para coleta
AE2, aplicada as distâncias do poço de exploração (250, 500, 1000 e 3000). Estão
em negrito os resultados que apresentaram diferenças significativas. ..................... 23
Tabela 15: Resultado da Análise da Porcentagem de Similaridades (SIMPER),
aplicada à fauna coletada em AE2, relacionando as famílias com maior contribuição
nas distâncias de 250, 500, 1000 e 3000 metros do poço de exploração. ................ 24
Tabela 16: Sumário de resultados obtidos na Análise de Correspondência Canônica
(CCA) e matriz de correlação entre os eixos canônicos e as variáveis ambientais. .. 26
9
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS .................................................................................................. iv
LISTA DE TABELAS .................................................................................................. vi
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 10
2. OBJETIVOS DA PESQUISA .............................................................................. 17
2.1. Geral: ........................................................................................................ 17
2.2. Específicos: ............................................................................................... 17
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ........................................................... 18
3.1. Área de estudo ............................................................................................. 18
3.2. Metodologia .................................................................................................. 19
3.3. Análise dos resultados ................................................................................. 22
4. RESULTADOS ................................................................................................... 25
4.1. Caracterização dos dados abióticos ............................................................... 25
4.2. Caracterização dos dados bióticos ................................................................... 9
5. DISCUSSÃO ....................................................................................................... 28
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 35
10
1. INTRODUÇÃO
O alto risco das atividades que envolvem a exploração e produção de óleo e
gás natural exigiu a elaboração de procedimentos específicos para o licenciamento
ambiental do empreendimento.
O Conselho Nacional do Meio ambiente (CONAMA) instituiu para tal a
Resolução n°23, de 7 de dezembro de 1994. Segundo esta resolução, os
empreendedores da área petrolífera devem submeter ao órgão ambiental
competente, o IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis, pedidos de licenças designadas para cada tipo de atividade do
setor, assim como estudos e relatórios ambientais utilizados para o gerenciamento
da atividade (Tabela 1) (ANP, 2003).
Para o IBAMA, a implantação de estratégias de gerenciamento ambiental
pressupõe a geração, sistematização e disponibilização de informações sobre os
diferentes recursos ambientais e sobre as atividades humanas a ela relacionadas
(MAPEM, 2001).
Tabela 1: Relações entre atividade, licença e estudos apresentados para o licenciamento ambiental das atividades do setor petrolífero.
A fim de conhecer a área a ser explorada, avaliar e monitorar os impactos
gerados pela atividade em questão são realizados os estudos ambientais e projetos
de monitoramento ambiental, respectivamente (CUNHA et al, 2006).
O monitoramento ambiental baseia-se em observações sistemáticas sobre
parâmetros relacionados a um problema específico, e deve assim fornecer
ATIVIDADE LICENÇA EXPEDIDA ESTUDO APRESENTADO
PerfuraçãoLicença Prévia para
Perfuração (LPPer)Relatório de Controle Ambiental (RCA)
Produção para Pesquisa
Licença Prévia de
Produção para Pesquisa
(LPPro)
Estudo de Viabilidade Ambiental (EVA)
Desenvolvimento Licença De Instalação
(LI)
Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e
respectivo Relatório de Impacto
Ambiental (RIMA)
Produção Licença de Operação
(LO)Projeto de Controle Ambiental (PCA)
11
informações sobre as características do problema e suas mudanças com o tempo
(SPELLERBERG, 1995). Tais estudos têm o importante papel de fornecer subsídios
aos órgãos ambientais e às operadoras, de forma a entender, prever, evitar e relatar
os impactos executados sobre o ecossistema (EBI, 2007) e ainda prover alternativas
e mecanismos que reduzam os impactos ao longo da cadeia produtiva petrolífera
(CANCHUMANI, 2008).
A macrofauna bentônica tem sido largamente empregada como parâmetro de
estudo, considerando especialmente sua íntima relação com o substrato, elevada
diversidade e histórias de vida (HARTLEY, 1982; GRAY ET AL., 1988;
POCKLINGTON E WELLS, 1992; ALDEN, 1997). Tal fato resulta em um grande
número de espécies adaptadas a sobreviver dentro do sedimento (GAMBI E
GIANGRANDE, 1986), que variam sensitivamente ao efeito de poluentes antrópicos
(GRAY ET AL., 1990) e também às alterações de características do substrato
(CAPÍTOLI E BEMVENUTI, 2004).
Monitoramentos com invertebrados bentônicos têm abordado as chamadas
„espécies indicadoras‟, de forma qualitativa, baseada na presença ou ausência de
taxa sensíveis às perturbações, ou quantitativa, baseada na abundância taxonômica
ou numérica (GIANGRANDE ET AL., 2005). As mudanças na estrutura das
associações bentônicas, bem como da diversidade da macrofauna, podem ser
observadas em termos de mudanças ambientais regionais ou locais, seja ela
antrópica ou natural (WARWICK ET AL., 2002).
As técnicas utilizadas para medir os impactos causados pelas atividades da
exploração petrolífera não diferem das utilizadas para estudar impactos provocados
por outras atividades antrópicas (GOMES ET AL., 2000). A filosofia básica que rege
os estudos de monitoramento em campos de petróleo envolve a organização de
uma série de estações de amostragem em diferentes distâncias partindo de um
ponto central (ponto de instalação da plataforma) até um ponto que esteja além da
influência do impacto da plataforma, e que, portanto atue como referência ou ponto
controle (HARTLEY, 1982). Ao longo dos anos têm sido estudadas numerosas
técnicas e análises para distinguir as áreas impactadas e não impactadas. As
análises multivariadas tem se mostrado eficientes para este propósito, conforme
visto por Gray et al. (1990).
12
As operadoras petrolíferas geralmente são obrigadas a monitorar os efeitos
de suas atividades no meio marinho. No entanto poucos estudos foram publicados à
respeito do efeito da exploração, ao longo da vida útil da plataforma, aplicando a
macrofauna bentônica como parâmetro de avaliação. Neste cenário destacam-se
Maurer et al. (1981); Daan et al. (1994); Olsgard e Gray (1995); Grant e Briggs
(2002); Arana et al. (2005); Manokian et al. (2010). No Brasil destaca-se o projeto
pioneiro, Monitoramento Ambiental em Atividades de Perfuração Exploratória
Marítima (MAPEM), realizado por meio de uma iniciativa do Instituto Brasileiro do
Petróleo (IBP) em conjunto com a Fundação Universidade do Rio Grande (MAPEM,
2001).
Sem dúvida a exploração de petróleo e gás natural tem se tornando uma
intervenção de grande magnitude no ambiente costeiro, principalmente pela baixa
profundidade, que acarreta em efeitos significativos para coluna d‟água e
sedimentos. Esforços consideráveis foram gastos em estudos de impactos da
produção de óleo em comunidades do fundo oceânico (KINGSTON, 1992;
OLSGARD E GRAY, 1995; PETERSON ET AL., 2001).
Os resíduos descartados por toda a vida útil de uma plataforma de exploração
conduzem a mudanças marcadas nas estruturas das comunidades bentônicas
(GRAY ET AL., 1990; WARWICK E CLARKE, 1995). Segundo Mariano (2007) são
lançados no mar cascalhos, fluidos de perfuração, água de produção (incluindo água
das formações dos reservatórios e água de injeção), água de drenagem de convés,
areias de produção, resíduos de cimento, esgotos sanitários e domésticos, efluentes
de processamento do óleo e do gás e águas de refrigeração. Cabe ainda destacar
que em áreas de produção, locais onde há mais de um poço exploratório, são
lançados no mar 45.000 toneladas de lama de perfuração (ou fluido de perfuração),
50.000 toneladas de cascalho e 1.500 toneladas por dia de água de produção,
sendo que quanto maior for a profundidade do poço maior será a produção de
cascalho e de fluido de perfuração.
O descarte de resíduos afeta diretamente o fundo oceânico e a coluna d‟água,
intervindo na biota local e indiretamente nas áreas mais afastadas do ponto de
descarga, devido à influência das correntes marítimas (GOMES ET AL., 2001).
Analisar os efeitos destes descartes têm se tornado alvo das pesquisas ambientais,
principalmente por não haver um processo regulatório desta atividade (SCHAFFEL,
2002). Sabe se que 25% do fluido utilizado é lançado ao mar associado ao cascalho,
13
e que este tende a se acumular sobre o leito oceânico, sendo sua dispersão
dependente da quantidade de cascalho depositado, das condições oceanográficas
locais e da profundidade de perfuração (MAPEM, 2001).
O monitoramento do efeito da exploração petrolífera, no entanto, enfrenta
problemas práticos. Primeiramente por necessitar obedecer a critérios específicos
como controles adequados e metodologias de coletas comparáveis (ARANA ET AL.,
2005). Tais problemas estão ligados principalmente a falta de uma padronização
pré-definida que acompanhe todo o período de monitoramento (antes, durante e
depois) (CUNHA ET AL., 2006). A falta de padronização acarreta em dificuldades na
adequação dos dados e inconsistência de resultados.
A identificação em níveis específicos também é um problema para o
monitoramento. Isto porque além de propiciar uma maior facilidade para propagação
de erros (BORTOLUS, 2008), geram altos custos ao empreendedor (THOMPSON
ET AL., 2003), devido pricipalmente ao maior tempo necessário para identificação e
ainda da necessidade de contratação de especialistas taxonômicos (FERRARO E
COLE, 1990).
Segundo Hartley (1982) os erros taxonômicos gerados no processo de
monitoramento se devem a falta de especialistas para identificar níveis específicos;
falta de bibliografia adequada, como chaves para identificação dos organismos;
desconhecimento de novas espécies; falta de bancos taxonômicos disponíveis e
ainda de mudanças de especialistas durante estudos de longa duração.
De forma a diminuir os custos e ainda minimizar os erros, diversos autores
têm abordado a utilização de níveis superiores de família até filo, em estudos de
monitoramento ambiental (HARTLEY, 1982; WARWICK, R. M., 1988a; WARWICK,
R. M., 1988b; FERRARO E COLE, 1990; OLSGARD ET AL., 1997; OLSGARD E
SOMERFIELD, 2000; KRASSULYA, 2001; GESTEIRA ET AL. 2003; OLSGARD ET
AL., 2003; THOMPSON ET AL., 2003; LAMPADARIOU ET AL., 2005; WODARSKA-
KOWALCZUK E KEDRA, 2007), e têm obtido resultados robustos destas análises.
O tratamento inadequado das amostras e a inconsistência dos dados
taxonômicos podem levar a desperdícios consideráveis (KINGSTON E RIDDLE,
1989) e até inviabilizar a obtenção de resultados. Um exemplo é um monitoramento
realizado na Baía de São Francisco, Califórnia, que analisou durante vinte anos a
macrofauna da baía. Apesar do gasto considerável de recursos, o autor concluiu que
havia poucos dados quantitativos confiáveis para comparações futuras devido à
14
variedade de métodos usados para coletar e tratar as amostras, juntamente com a
subsequente e incompleta ou errônea identificação das espécies (NICHOLS, 1973).
A falta de padronização dos métodos de coleta, juntamente com falhas
decorrentes da má identificação e ainda obstáculos impostos na aquisição de dados
para realizar as análises, normalmente restritos às empresas e órgãos ambientais;
são fatores que têm dificultado e até impossibilitado a obtenção de resultados sobre
os efeitos da intervenção das atividades petrolíferas no ecossistema marinho.
Esta monografia reuniu dados de relatórios produzidos para a instalação de uma
plataforma semi-submersível sobre a quebra da plataforma sudeste/sul do Brasil da
Bacia de Santos, A fim de avaliar os efeitos produzidos sobre a macrofauna
bentônica coletada ao entorno da plataforma. Algumas considerações foram feitas
em decorrência de alterações do processo de monitoramento: (i) as amostras foram
coletadas com esforços amostrais diferentes (ii) os organismos foram identificados
por diferentes especialistas nas etapas analisadas (iii) a coleta de caracterização da
área foi realizada quarenta quilômetros distante do ponto de instalação da
plataforma.
A importância deste estudo sobre os efeitos da exploração sobre a macrofauna
utilizando relatórios produzidos para licenciamento ambiental da atividade está na
peculiaridade de se apontar questões metodológicas e taxonômicas do processo de
monitoramento ambiental. E ainda de se obter dados a respeito da extensão dos
efeitos da atividade na área, contribuindo para o enriquecimento científico da Bacia
de Santos.
15
Histórico de exploração dos campos Coral e Estrela-do-Mar, localizados na área
geográfica da Bacia de Santos
A exploração da Bacia de Santos teve início em 1979, pela empresa Petrobrás,
com a descoberta de reservas principalmente de gás natural no Campo de Merluza.
A perfuração de 150 poços exploratórios, na bacia, resultou na descoberta de cinco
campos de produção: Tubarão, Coral, Estrela-do-Mar, Caravela e Caravela Sul
(Figura 2). Os Campos de Coral e Estrela-do-Mar estão localizados em uma região
de lâmina d‟água de aproximadamente 150 metros, sendo que no campo de Coral
estavam em produção três poços e no campo de Estrela-do-Mar um poço, até o
descomissionamento do poço de exploração. Estes campos destacam-se de outros
do setor petrolífero por representarem para a empresa Petrobrás um marco de
desafios técnicos e econômicos devido principalmente a apresentarem elevadas
pressões e grande distância da costa (170 km), requerendo o uso de materiais,
embarcações, equipamentos, pesquisas e análises especiais. Nos últimos anos, a
Bacia de Santos passou a ser alvo de investimentos mais significativos em trabalhos
de exploração e produção, sendo recentemente submetida a um dos maiores
levantamentos sísmicos 3D do mundo (ANP, 2011).
Figura 1: Campos petrolíferos descobertos pela Petrobrás na Área Geográfica da Bacia de Santos (AGBS).
(fonte www.anp.com.br)
16
A Bacia de Santos está localizada na região sudeste da margem continental
brasileira, frente aos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa
Catarina, englobando uma área de 352.000 km². A face norte a bacia é limitada pelo
Arco de Cabo Frio, e a face sul pela Plataforma de Florianópolis, ambas sendo
feições que se posicionam na terminação de lineamentos oceânicos expressivos
(MILANI ET AL., 2000).
A formação da bacia ocorreu com a quebra do paleocontinente do Gondwana
e continuou com a evolução do Oceano Atlântico Sul (CHANG ET AL., 2008).
A evolução tectono-sedimentar da margem continental brasileira propiciou o
desenvolvimento de elementos-chave, cuja presença é requisito fundamental a que
uma determinada região seja atrativa para a prospecção petrolífera (MILANI et al.,
2000).
A plataforma continental estende-se desde a praia até a sua quebra, onde é
marcada uma acentuada inclinação do assoalho oceânico, que ocorre geralmente
entre profundidades de 100 a 200 metros. Possui diferentes constituições
sedimentológicas em suas porções interna, média e externa. Para toda a região
ocorre um domínio arenoso até 70 metros de profundidade, e partir daí a ocorrência
de sedimentos lamosos. Em profundidades superiores a 120 metros é observado um
domínio carbonático com lamas e areias biodetríticas. Esta sedimentação
carbonática constitui-se de areia rica em moluscos e foraminíferos bentônicos e
braquiópodos. O talude continental contém uma mistura de sedimentos terrígenos
finos e sedimento biogênico, mais de 40% é composto por lama, sendo mais rica em
silte do que argila, resultado de suas elevadas taxas de microfósseis (CASTRO
FILHO, 1990).
A plataforma externa do estado de Santa Catarina se caracteriza por ser pouco
afetada por variações sazonais e estando sujeita a fenômenos de mesoescala (~
100 dias), onde ocorre aleatoriamente a penetração de meandros e de vórtices
frontais da Corrente do Brasil, com presença permanente da Água Central do
Atlântico Sul (ACAS) junto ao fundo (CASTRO FILHO, 1990).
17
2. Objetivos da pesquisa
2.1. Geral:
Avaliar as alterações na estrutura e composição da macrofauna bentônica
no entorno de um poço de exploração petrolífera situado na plataforma
continental externa sul brasileira no período de atividade do poço.
2.2. Específicos:
- Caracterizar a estrutura da comunidade de acordo com os descritores
numéricos durante a implantação, produção e descomissionamento de uma
plataforma de exploração e produção de óleo e gás natural;
- Caracterizar e descrever as associações macrobênticas durante a
implantação, produção e descomissionamento de uma plataforma de
exploração e produção de óleo e gás natural;
- Relacionar a composição das espécies com as variáveis ambientais.
18
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1. Área de estudo
A área amostral foi delimitada dentro de um raio de 3 km no entorno de um
campo de exploração de óleo e gás natural, localizado na quebra da plataforma
continental, coordenada 26° 38‟ (S) e 46° 52‟ (W), sobre a Bacia de Santos (Figura
3). A plataforma de exploração em questão foi inserida dentro de uma área
aproximada de 78 km², e seu ponto mais próximo da costa distou cerca de 170 km
da mesma, em frente ao município de São Francisco do Sul, Santa Catarina.
3.2.
Figura 2: Mapa de localização da área de estudo. O ponto simboliza a coleta de caracterização da área (2000 e 2001). No mapa estão representados os períodos de coleta, sendo que simboliza a coleta de verão (dezembro/2000) e simboliza a coleta de inverno (agosto/2001). O ponto indica onde foram realizadas as coletas durante a exploração e pós a exploração dos campos (2003 e 2007), sendo que simboliza a coleta de verão (março/2003) feita durante a exploração e a coleta de inverno (julho/2003). A coleta feita após o descomissionamento do poço está indicado por .
19
3.2. Metodologia
Os procedimentos seguiram uma etapa de compilação e organização dos
dados dos relatórios ambientais elaborados para o licenciamento da plataforma de
exploração petrolífera em questão.
Os dados dos primeiros relatórios foram coletados para o Estudo de Impacto
Ambiental (EIA) da área e respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) (anos
de 2000 e 2001). O objetivo da coleta nesta etapa foi caracterizar a área da Bacia de
Santos a ser explorada. Desta forma foram realizadas uma coleta no verão e outra
no inverno, onde o box-corer com área de 0,008 m² foi lançado uma vez em 19
estações pré-definidas. A coleta em questão foi realizada à 40 quilômetros da área
onde foi instalada a plataforma petrolífera, e por consequencia onde foram
realizadas as coletas posteriores. Devido a isto esta etapa foi nomeada como Área
Base (AB0), para distinguir da área onde ocorreu a instalação. A mesma não pode
ser considerada como uma área controle (ou momento antes da exploração) devido
as possíveis modificações, principalmente em relação a granulometria, que ocorrem
entre uma área e outra. Apesar disso, decidiu-se tomá-la como base de dados por
não ter havido outra coleta na área antes da instalação da plataforma petrolífera. As
coletas seguintes foram nomeadas Área de Exploração 1 (AE1) e Área de
Exploração 2 (AE2). Tal nomeação distingue os momentos em que foram realizadas
as coletas sendo que AE1 refere-se ao momento em que o poço estava em
perfuração e AE2 ao momento após o descomissionamento da plataforma
A configuração do desenho amostral partiu do estabelecimento de um ponto
central, onde foram traçadas 5 radiais com 72° de afastamento entre elas, com
distâncias de 250 metros, 500, 1000 e 3000 metros. Esta mesma configuração
permaneceu nas coletas seguintes (Figura 4).
20
Os dados coletados no ano de 2003 tiveram propósito de compor o Programa
de Monitoramento Ambiental da área. Para isto foram realizadas coletas de
amostras de forma semestral (verão e inverno), onde um box-corer (área de 0,008
m²) foi lançado três vezes em 19 estações, totalizando 57 amostras.
A última coleta, realizada após o descomissionamento da plataforma semi-
submersível, também compôs o Programa de Monitoramento Ambiental. Nesta
etapa foi realizada uma coleta anual (primavera) utilizando um box-corer com
subamostrador do tipo colmeia (0,01 m²), onde foram obtidas nove amostras de
cada um dos três lançamentos do box em 19 estações, totalizando 513 amostras.
Figura 3: Desenho amostral empregado nas coletas. Em vermelho no mapa “SS11” se refere a plataforma de exploração (ponto central). Foram traçadas 5 radiais com 72° de afastamento entre elas, com distâncias de 250 metros, 500, 1000 e 3000 metros, onde 19 estações foram definidas.
21
Em relação ao tratamento das amostras, os organismos coletados foram
triados sob microscópio estereoscópio, separados em grandes grupos e
posteriormente identificados ao menor nível taxonômico possível. Porém alguns
permaneceram morfotipados ou em qualquer outro nível hierárquico. Por fim a partir
da identificação e contagem dos animais, foi elaborada uma planilha de abundância
específica dos taxa identificados/coletados.
Quanto à análise granulométrica, foi adotada na primeira coleta a escala
granulométrica da série de Tyler e nos relatórios seguintes as frações
granulométricas foram obtidas através da metodologia proposta por Suguio (1973),
sendo que o tratamento estatístico das amostras foi realizado através do método dos
momentos de Folk e Ward (1957).
ETAPAS DE
COLETADENOMINAÇÃO
RELATÓRIO
AMBIENTALEMBARCAÇÃO
DATA DE
AMOSTRAGEM
TIPO DE
AMOSTRADOR
ÁREA DO
AMOSTRADOR
N° DE
LANÇAMENTOS
CONFIGURAÇÃO
DO DESENHO
AMOSTRAL
02-09/DEZ/2000
20-24/AGO/2001
ÁREA
EXPLORAÇÃO 1AE1
Projeto de
Monitoramento
Ambiental
09-10/MAR/2003
27-31/JUL/20033
ÁREA
EXPLORAÇÃO 2AE2
Projeto de
Monitoramento
Ambiental
"Gyre" 20-25/OUT/2007
BOX COM
SUBAMOSTRADOR
DO TIPO COLMEIA
0,01m² 3
1
A partir do ponto
central (poço de
exploração) foram
estabelecidas 5
radias com 72° de
afastamento entre
cada uma com
distâncias de 250,
500, 1000 e 3000
metros.
AB0
"Astro-Garoupa"
ÁREA BASE EIA/RIMA
BOX-CORER 0,008m²
Tabela 2: Relação entre coletas, nomeação das coletas neste trabalho, respectivos relatórios ambientais, data de coleta, navios oceanográficos, metodologia aplicada em cada.
22
3.3. Análise dos resultados
Para análise dos dados bióticos realizou-se a organização das planilhas
amostrais. Sendo que a incosistência taxonômica exigiu que fosse estipulado um
nível hierárquico para a realização das análises. Uma lista foi organizada em nível
de família, outra em nível de gênero e uma terceira em nível de espécie, sendo que
foram excluídos organismos identificados à niveis superiores (classe, ordem e filo).
Assim foi obtida a porcentagem de representatividade em relação ao total de
organismos em cada lista taxonômica, a análise dos efeitos da exploração baseou-
se no nível determinado.
A matriz de dados bióticos foi padronizada para um metro quadrado, devido a
alteração do amostrador na coleta AE2.
As mudanças na estrutura das associações da macrofauna foram analisadas
através de métodos estatísticos univariados e multivariados. De forma a caracterizar
a estrutura das famílias foram utilizados os descritores numéricos da comunidade de
Riqueza (S), expressa pelo número de famílias; Abundância (N, indivíduos/m²);
Equitabilidade, estimada pelo Índice de Pielou (J‟) e Diversidade de Shannon (H‟)
com logaritmo na base e. Para identificar as possíveis diferenças na fauna com o
distanciamento do poço de exploração e entre os períodos de verão e inverno, os
dados foram submetidos a uma Análise de Variância (ANOVA). Foram verificados os
pré-requisitos para a ANOVA, sendo que os dados que não apresentaram
homogeneidade foram transformados segundo Underwood (2001) com arcoseno e
log10(x+1).
Diante dos objetivos do presente trabalho as ferramentas estatísticas
multivariadas mais adequadas para responder os questionamentos foram MDS,
ANOSIM e SIMPER. Na análise multivariada os dados foram transformados (raiz
quadrada) com o intuito de diminuir a amplitude entre eles. A análise de similaridade
foi efetuada com o índice de similaridade de Bray-Curtis, sendo que esta
metodologia é a mais aplicável para matrizes de fauna com grande quantidade de
zeros.
Devido ao aumento do esforço amostral na terceira coleta (AE2) foi realizada
uma padronização da matriz de dados. Para que dessa forma AB0, AE1 e AE2
pudessem ser analisadas de forma integrada sem superestimar os valores.
23
Assim foi realizado um sorteio com as amostras de AE2, em que das nove
amostras coletadas foram obtidas três amostras (D1, D2, D3) (Figura 6).
Figura 4: Padronização realizada com a coleta AE2, que apresentou um grande esforço amostral em relação as coletas AB0 e AE1. Nesta coleta foram feitos três lançamentos obtendo 9 amostras de cada, foi feito um sorteio para obtenção de uma amostra de cada lançamento.
Decidiu-se analisá-las separadamente (Figura 7) integrando as amostras das
coletas AB0 e AE1. Desta forma foram obtidas três combinações amostrais: a
primeira B, C1 e D1, a segunda B, C2 e D2 e a terceira B, C3 e D3.
Figura 5: Combinações obtidas entre coletas e amostras. B, C1 e D1 compos a 1a combinação; B, C2 e D1 compos a 2a combinação e B, C3 e D3 a 3a combinação.
24
Foram empregadas então análises multivariadas (n-MDS, SIMPER, ANOSIM)
com cada uma das combinações. O objetivo desta análise foi identificar qual o
padrão de distribuição espacial da fauna, quando observada as três etapas em
questão de forma conjunta. E para identificar se o padrão se altera quando é
analisada somente uma amostra de cada coleta, foram sorteadas três amostras e
aplicada as análises multivariadas.
Observado o padrão, procederam-se as análises separadamente com cada
coleta (AB0, AE1 e AE2) considerando os distanciamentos definidos no desenho
amostral (250, 500, 1000 e 3000 metros) e os períodos de amostragem (verão e
inverno). Considerando que na coleta AE2 realizou-se somente na primavera, as
análises procederam-se com as distâncias.
A composição faunística nas diferentes distâncias e estações foi analisada
por n-MDS aplicado sobre a matriz de dissimilaridade.
Com o intuito de verificar a existência de diferenças significativas na
composição da fauna e os fatores de distância do poço de exploração e períodos do
ano (verão e inverno) foi realizada uma Análise das Similaridades, ANOSIM two way,
para as coletas AB0 e AE1. Para a coleta AE2 foi aplicada a Análise de
Similaridades, ANOSIM one way, com o fator distância.
Os resultados gerados pelo ANOSIM foram completados pela Porcentagem
de Similaridades (SIMPER). Enquanto o ANOSIM identificou se há ou não
diferenças, o SIMPER indicou quais as variáveis que contribuíram para estabelecer
o padrão temporal ou espacial da comunidade bentônica.
Por fim foi realizada uma correlação da fauna com as variáveis ambientais de
profundidade, assimetria, tamanho médio do grão e grau de seleção, utilizando a
Análise de Correspondência Canônica (CCA) (TER BRAAK, 1986). Foram
selecionados para tal análise os organismos com ocorrência maior que 0,5%,
resultando em uma matriz com representatividade de 90% da macrofauna total.
25
4. RESULTADOS
4.1. Caracterização dos dados abióticos
A profundidade da coleta em AB0 apresentou diferenças significativas entre
verão e inverno (Tabela 1). A profundidade de coleta foi maior no inverno com média
de 155 metros e menor no verão com média de 141 metros, com média geral (verão
e inverno) de 148 metros (Figura 5 A). O grau de seleção variou de pobremente
selecionado a muito pobremente selecionado sendo que os valores maiores, ou
seja, mais probremente selecionados, ocorreram no inverno (Figura 5 C). Em
relação as distâncias, 250 metros e 3000 metros apresentam frações
granulométricas melhores selecionadas do que 500 e 1000 metros. Os valores de
tamanho médio do grão e assimetria não apresentaram diferenças significativas
entre os fatores observados. O tamanho médio abrangeu as classes de grãos de
areia grossa à areia muito fina (Figura 5 B). Em relação às assimetrias foi
constatado que as distâncias intermediárias apresentam assimetrias positivas e a
distâncias extremas mais positivas (Figura 5 D).
Não foram detectadas diferenças entre fatores e variáveis na coleta AE1
(Tabela 1). Através dos gráficos de médias observa-se que o comportamento de
cada variável em relação aos fatores foi similar. A profundidade média das coletas
(Figura 5 E) foi de 146 metros. O tamanho médio do grão caracterizou o sedimento
como areia fina (Figura 5 F). O grau de seleção variou entre muito pobremente
selecionado à extremamente mal selecionado (Figura 5 G). Quanto a assimetria
mostrou-se de positiva à muito positiva (Figura 5 H).
A coleta AE2 apresentou diferenças significativas para variáveis de grau de
seleção e assimetria (Tabela 1). O grau de seleção mostrou-se muito pobremente
selecionado próximo ao poço de exploração (250 metros), aumentando para
extremamente mal selecionado nas distâncias intermediárias (500 e 1000 metros) e
decaindo novamente para pobremente selecionado no ponto mais afastado (3000
metros) (Figura 5 L). A assimetria teve um comportamento similar ao
selecionamento, as distâncias intermediárias apresentaram valores maiores de
assimetria demonstrando uma maior participação de sedimentos finos nesta área
(500 e 1000 metros) (Figura 5 K). Em relação às variáveis que não apresentaram
diferenças significativas, a profundidade teve uma média de 147 metros (Figura 5 I).
Em relação ao tamanho médio do grão, houve um predomínio de areia fina na
26
distância de 250 metros do ponto central a areia muito fina nas distâncias mais
afastadas do ponto central (Figura 5 J).
Tabela 3: Resultado da Análise de Variância (ANOVA), relacionando cada coleta (AB0, AE1 e AE2) aos dados abióticos: profundidade, tamanho médio do grão, grau de seleção e assimetria; e os fatores distância do poço de exploração, estações de coleta (verão e inverno) e interação de fatores.
Coleta
Estação Distância Interação Profundidade Tamanho médio do grão Grau de seleção Assimetria F p
x x 121,84874 0,00001
x x 1,06149 0,38008
x x 0,28152 0,83830
x x 0,01771 0,89510
x x 1,12198 0,35695
x x 0,32553 0,80687
x x 6,51424 0,01644
x x 2,96574 0,04902
x x 2,12283 0,11979
x x 1,65740 0,20850
x x 1,92930 0,14775
x x 1,57966 0,21642
x x 3,12087 0,08747
x x 0,85348 0,47581
x x 0,75547 0,52790
x x 0,50647 0,48236
x x 0,48567 0,69487
x x 0,98525 0,41338
x x 0,01543 0,90200
x x 0,17834 0,91021
x x 0,42725 0,73497
x x 1,16029 0,29028
x x 1,00911 0,40285
x x 0,49953 0,68553
x x 0,04893 0,98551
x x 2,74189 0,05265
x x 8,58886 0,00010
x x 3,03058 0,03763
VariáveisFator
AB0
AE1
AE2
9
Figura 6: Gráfico de médias para interação de fatores (distância e estações do ano) e parâmetros abióticos: profundidade, tamanho médio do grão (TMG), grau de seleção e assimetria; sendo que a coleta da etapa pós-exploração foi analisada somente para o fator distância por haver somente uma coleta (primavera). Os gráficos A, B, C e D são relativos à coleta AB0, E, F, G e H são relativos à coleta AE1 e I, J, K e L referem-se à coleta AE2.
9
4.2. Caracterização dos dados bióticos
Foi coletado um total de 10.282 indivíduos, sendo que a macrofauna foi
numericamente dominada pelo filo Anellida, principalmente por Polychaeta (87,27%),
seguido de Crustacea (5,70%), Echinodermata (2,13%) e Mollusca (1,61%), que
juntos representaram 96,81% de toda a fauna amostrada. Outros grupos com menor
representatividade numérica também foram coletados, tais como Sipuncula, Echiura
e Nemertea, que juntos somaram 3,29% (Figura 6).
Foi possível notar maiores abundância e riqueza de taxa identificados na
coleta AE2, do que em AE1 e AB0, resultado este atribuído ao maior esforço
amostral da coleta (Tabela 2).
Dos taxa identificados os cinco que apresentaram maior abundância na coleta
AB0 foram: Kibergonuphis oresanzi (Fauchald, 1982) (9,2%), Antalis infracta
(Odhner, 1931) (5,1%), Tanaidacea (3,5%), Comatulida (3%) e Sthenelanella atypica
(Berkeley & Berkeley, 1941) (3%). Em AE1 foram: Nothria sp.(Malmgren, 1866)
(8,1%), Orbiniidae (6,7%), Paraonidae sp1. (4,7%), Sigambra sp.(Müller, 1858)
(4,5%) e Syllidae (4,2%). E por último, em AE2, os taxa mais abundantes foram:
Figura 7: Representação da abundância relativa dos taxa que representaram 96,81% da fauna coletada nos anos de 2000, 2001, 2003 e 2007.
10
Sigambra grubii (Grube, 1858) (8,8%), Paradiopatra hartmanae (Kirkegaard, 1980)
(5,1%), Owenia sp. (Delle Chiaje, 1841) (3,6%), Litocorsa stremma (Pearson, 1970)
(3,4%) e Paramphinome besnardii (Temperini, 1981) (3,4%).
O total de indivíduos em nível de família mostrou que na coleta AB0 este nível
representou 86% do total coletado (195 indivíduos), na coleta AE1 a fauna em nível
de família representou 93% do total (1491 indivíduos) e na coleta AE2 representou
91% do total (8596 indivíduos). Os taxa em níveis superiores de (classe, ordem e
filo) foram descartados, no entanto foi possível utilizar 94% da fauna coletada.
As inconsistências na identificação foram detectadas principalmente no nível de
espécie e família. Por exemplo: na coleta AB0 foi identificada a espécie Abra lioica,
na coleta seguinte o gênero permaneceu morfotipado como Abra sp1; na coleta AB0
foi encontrado Ampharete morfotipado como sp1, na segunda coleta ocorre em nível
de família Ampharetidae sp1, e na terceira ocorrem em diferentes identificações
(Ampharete sp1, Ampharete spp, Ampharetidae sp1, Ampharetidae sp2,
Ampharetidae spp); as espécies Amphicteis gunneri e Amphicteis sp foram
identificadas em AB0, porém na coleta AE2 foi identificado como Amphicteis sp1 e
Amphicteis sp2; o mesmo ocorre com Aricidea sp B identificada na primeira coleta e
Aricidea sp1, Aricidea sp2, Aricidea sp3, Aricidea sp4, Aricidea catherinae e Aricidea
simplex identificadas na terceira coleta.
11
Tabela 4: Lista taxonômica da macrofauna coletada, relacionando o taxon e a abundância relativa nas coletas AB0, AE1 e AE2. Estão em negrito os cinco taxa de maior abundância relativa.
TaxaAbundância
Relativa (%)Taxa
Abundância
Relativa (%)Taxa
Abundância
Relativa (%)
Abra lioica 1,5385 Abra sp1 0,2012 Aglaophamus sp1 0,1280
Ampelisca romigi 0,5128 Ampelisca lobata 0,4024 Aglaophamus sp2 0,1629
Ampharete sp. 1,0256 Ampharetidae sp1 1,0731 Ampeliscidae sp1 0,6864
Amphicteis gunneri 1,0256 Aonides sp. 0,0671 Ampharete sp1 0,2676
Amphicteis sp. 1,0256 Apseudomorpha 0,2012 Ampharete spp 0,1047
Amphinomidae 1 2,0513 Apseudomorpha sp. 0,2012 Ampharetidae sp1 0,0349
Amphipoda 1 1,0256 Birubiinae sp. 1 0,2683 Ampharetidae sp2 0,3257
Amphipoda 2 1,0256 Calanoida sp. 0,1341 Ampharetidae spp 0,1163
Antalis infracta 5,1282 Calanoida sp. 1 0,3353 Amphicorina sp1 1,0819
Aricidea sp. B 1,5385 Calanoida sp. 2 0,2012 Amphicteis sp1 0,3141
Armandia sp. 1,0256 Capitellidae sp1 1,0731 Amphicteis sp2 0,6049
Caecum sp. 0,5128 Capitellidae sp3 1,8109 Amphiura complanata 0,1512
Calanidae 0,5128 Chrysopetalidae sp1 0,2683 Anthuridae sp1 0,0931
Chaetopteridae 1,5385 Cirolanidae 0,2683 Aphelochaeta sp1 1,0237
Cheramus marginatus 0,5128 Cirratulidae 1 2,3474 Aphroditidae sp1 0,0116
Cirolana parva 0,5128 Cirratulidae 2 0,7378 Aphrogenia sp1 0,0116
Cirratulidae 1 1,5385 Cirratulidae sp1 1,0060 Aplacophora sp1 0,0814
Clymenella sp1 0,5128 Cirratulidae sp2 1,2743 Apseudidae sp1 0,3955
Codakia sp. 0,5128 Cirratulidae sp3 1,2743 Aricidea catherinae 0,0698
Comatulida 3,0769 Crinoidea 2,0791 Aricidea simplex 1,4309
Corbula patagonica 0,5128 Dorvilleidae 0,7378 Aricidea sp B 0,0349
Cossuridae 1,5385 Dorvilleidae sp1 1,0731 Aricidea sp1 0,6515
Crassinella marplatensis 0,5128 Dorvilleidae sp2 0,5366 Aricidea sp2 0,3723
Decapoda 1,0256 Echinodermata 0,2683 Aricidea sp3 0,0814
Diplodonta danieli 0,5128 Echiura 0,1341 Aricidea sp4 0,0465
Ervilia concentrica 0,5128 Eteone sp. 0,0671 Asychis sp1 0,0116
Ethusa tenuipes 0,5128 Eunice sp. 3,1522 Axiothella sp1 0,0116
Eulima mulata 0,5128 Eunice sp1 2,3474 Axiothella sp2 0,0465
Eunice sp. 1,0256 Exogone sp1 0,0671 Brada sp1 0,3025
Exogone sp1 0,5128 Flabeligeridae 0,0671 Califia sp1 0,1047
Felaniella vilardeboaena 0,5128 Flabeligeridae sp1 0,0671 Capitella capitata 0,0465
Gammaropsis sp. 1,0256 Gnathia sp. 0,6036 Capitellidae sp1 0,1861
Gnathia sp. 2,0513 Goneplacidae sp. 0,0671 Capitellidae sp2 0,0116
Goniada teres 2,5641 Goniada littorea 0,0671 Capitellidae sp3 0,0116
Hemipodia sp1 0,5128 Goniada teres 2,0791 Capitellidae spp 0,0814
Kinbergonuphis orensanzi 9,2308 Goniadidae 1,0731 Chaetozone setosa 1,0935
Langerhansia sp 1,0256 Gyptis sp 1 0,8048 Cheramus marginatus 0,9423
Linopherus ambigua 2,0513 Harpinia sp. 0,0671 Cirratulus sp1 0,0349
Lumbrineris sp. 0,5128 Isaeidae sp. 0,2012 Cirratulus sp2 0,0233
Marphysa sp. 0,5128 Isolda pulchella 2,0121 Cirriformia sp1 0,0233
Cirrophorus americanus 0,2327
Cirrophorus sp1 0,1163
Clymenella sp1 0,0465
Cossuridae spp 0,0233
Dasybranchus spp 0,1745
Democrinus brevis 1,6054
Diplocirrus sp1 0,0582
Diplocirrus sp2 0,0582
Dodecaceria sp1 0,0116
Drilonereis sp 0,2443
Echiura spp 0,5351
Episiphon sowerbyi 0,1745
Euclymene sp1 0,0233
Eulalia sp1 0,0116
Eunice vittata 2,1405
Eunicidae sp 1 0,0233
Exogone sp1 0,0233
Exogone sp2 0,0116
Exogone spp 1,2564
Gnathiidae sp1 0,7096
Goniada littorea 2,1871
Goniada maculata 0,4886
Goniada teres 0,1629
Gyptis sp 1 0,0582
Eunice vittata 2,1405
Eunicidae sp 1 0,0233
Exogone sp1 0,0233
Exogone sp2 0,0116
Coleta de caracterização da área (AB0) Coleta de exploração 1 (AE1) Coleta de exploração 2 (AE2)
12
CONTINUAÇÃO
TaxaAbundância
Relativa (%)Taxa
Abundância
Relativa (%)Taxa
Abundância
Relativa (%)
Melanella sp. 0,5128 Isolda sp 3,2193 Exogone spp 1,2564
Melinna sp. 1,0256 Laonice spp 1,0060 Gnathiidae sp1 0,7096
Mooreonuphis lineata 2,0513 Leptanthura sp. 0,2683 Goniada littorea 2,1871
Munida pusilla 0,5128 Lumbrineridae sp2 0,2012 Goniada maculata 0,4886
Nannastacidae 0,5128 Lumbrineris sp 1 0,9390 Goniada teres 0,1629
Nematonereis schmardae 0,5128 Lumbrineris sp. 0,8048 Gyptis sp 1 0,0582
Nematonereis sp. 0,5128 Lysianassidae sp. 0,0671 Gyptis sp 2 0,0814
Nereididae 1,5385 Macrostylis sp. 0,0671 Gyptis sp 3 1,3495
Nereididae 1 0,5128 Magelona variolamellata 1,2743 Hemipodia sp1 1,5240
Notomastus sp. 1,5385 Malacanthura sp. 0,4024 Hermonia sp1 0,0116
Nucula puelchana 0,5128 Maldanidae sp2 0,2683 Heteromastus similis 0,3490
Ollivella sp 0,5128 Marphysa sp. 0,8048 Hyalinoecia juvenalis 0,3723
Onuphidae 1 0,5128 Micromaldane sp1 0,1341 Kinbergonuphis fauchaldi 2,2918
Onuphinae gen. sp. 1,0256 Monoculodes sp. 0,6036 Laetmatonice sp1 0,0698
Ostracoda 0,5128 Nannastacidae 0,2012 Lamellisyllis sp1 0,0116
Ostraea sp 1,5385 Natatolana gracilis 0,2012 Laonice branchiata 0,0698
Parametopella cf. ninis 1,0256 Nebalia sp. 0,0671 Laonice cirrata 0,1978
Paraonidae 1,5385 Nematonereis sp. 2,1462 Laonice spp 0,0582
Paraonidae 1 1,5385 Nephtyidae 0,0671 Leiocapitella spp 0,1047
Paraonidae 2 2,5641 Nephtys sp1 0,2012 Litocorsa stremma 3,3969
Parviturbo rehderi 0,5128 Nereididae 0,0671 Lumbrineriopis mucronata 0,6398
Phoxocephalus sp. 1,0256 Nereididae spp 0,4695 Lumbrineris sp 1 0,2443
Poti gaucho 1,0256 Nicon sp. 0,4024 Lumbrineris sp 2 0,5119
Prionospio sp1 0,5128 Nothria sp. 8,1154 Lysaretidae spp 0,1163
Sabellida 2,5641 Nuculana larranagai 0,0671 Magelona papillicornis 1,1401
Sabellidae 1,0256 Odontosyllis sp 0,4024 Maldane sp1 0,0116
Sabellidae sp1 0,5128 Onuphidae sp3 0,6036 Maldanidae sp1 0,0582
Scaphopoda 2 0,5128 Onuphis sp 0,0671 Maldanidae sp2 0,0349
Scoloplos sp1 0,5128 Opheliidae 0,3353 Maldanidae sp3 0,0233
Serpulidae 0,5128 Ophelina cylindricaudata 0,1341 Maldanidae sp4 0,0582
Sigalion sp. 0,5128 Ophiuroidea 0,8719 Maldanidae sp5 0,0116
Sphenotrochus auritus 0,5128 Orbiniidae 6,7069 Maldanidae sp6 0,0116
Spiochaetopterus sp 0,5128 Orbiniidae sp1 0,0671 Maldanidae sp7 0,0116
Spiophanes duplex 0,5128 Sabellida 0,5366 Maldanidae spp 0,1861
Spiophanes sp 0,5128 Oweniidae sp1 0,1341 Marphysa kinbergi 1,1052
Sthenelanella atypica 3,0769 Paraonidae 1 4,6948 Melinna sp1 0,8841
Syllidae sp1 0,5128 Paraonidae 2 1,2072 Micromaldane sp1 0,0116
Synelmis albini 1,0256 Paraonidae 3 0,6707 Micronereides capensis 1,0935
Tanaidacea 3,5897 Paraonis sp1 0,2012 Microspio spp 0,1629
Phyllodocidae 0,0671 Monticellina sp1 1,3378
Monticellina sp2 1,4658
Monticellina sp3 0,4421
Mooreonuphis intermedia 0,0233
Munida pusilla 0,1396
Mystides sp1 0,0698
Nemertea spp 1,4309
Nephtys sp1 0,0582
Nereididae sp1 0,0582
Nereididae spp 0,0233
Nothria benthophyla 0,0814
Notomastus hemipodus 0,6166
Notomastus lobatus 0,4421
Nuculana larranagai 0,3257
Oligochaeta sp1 2,4546
Onuphidae spp 2,3499
Opheliidae sp1 0,6282
Opheliidae sp2 0,6398
Opheliidae sp3 0,2792
Ophiactis savignyi 0,0116
Ophionereis reticulata 0,1512
Ostracoda sp1 0,4653
Ostracoda sp2 0,1280
Ostracoda sp3 0,0349
Owenia sp1 3,5598
Paradiopatra hartmanae 5,0838
Paralacydoniidae spp 0,0698
Paramphinome besnardii 3,3504
Paraonidae sp1 0,0116
Coleta de caracterização da área (AB0) Coleta de exploração 1 (AE1) Coleta de exploração 2 (AE2)
9
TaxaAbundância
Relativa (%)Taxa
Abundância
Relativa (%)Taxa
Abundância
Relativa (%)
Terebellides anguicomus 0,5128 Phyllodocidae spp 0,2012 Paraonidae sp2 0,0698
Terebellides sp1 1,0256 Pilargidae 0,7378 Paraonidae sp3 0,0233
Tharyx marioni 0,5128 Poecilochaetidae 0,6036 Paraonidae spp 0,2094
Tharyx sp. 0,5128 Politolana impressa 0,1341 Paraonis sp1 0,5002
Typosyllis variegata 2,0513 Poti gaucho 0,2683 Paratanais sp. 0,1978
Yoldia riograndensis 1,5385 Protoaricia sp1 0,4024 Pettiboneia spp 0,0465
Yvesia sp. 0,5128 Rhamphobrachium sp 0,2683 Pherusa sp1 0,0233
Total indivíduos 195 Sabellidae sp1 2,0121 Pherusa sp2 0,0233
Scalibregmidae 0,1341 Pholoe spp 0,1047
Scalibregmidae spp 2,2133 Phoxocephalidae sp1 1,5356
Scaphopoda 1 0,0671 Phyllodoce sp1 0,0931
Semele purpurascens 0,1341 Phyllodoce sp2 0,0349
Sigambra grubii 0,6036 Phyllodoce sp3 0,0116
Sigambra sp 4,4936 Phyllodoce sp4 0,0116
Sillydae 1 0,0671 Phyllodocidae spp 0,0116
Sipuncula 1,6767 Poecilochaetidae sp1 0,5933
Spiophanes berkeleyorum 1,2743 Poecilochaetidae sp2 0,0465
Spiophanes sp1 0,0671 Polychaeta sp1 0,1047
Stenothoidae 0,1341 Polychaeta spp 0,0931
Sthenelanella peterseni 1,3414 Polydora sp1 0,0116
Syllidae 0,2683 Prionospio dubia 0,1396
Syllidae sp4 2,2803 Prionospio ehlersi 0,0116
Syllidae sp5 4,2254 Prionospio sp1 1,1401
Syllinae 2,4816 Prionospio sp2 1,4076
Synelmis sp1 3,1522 Prionospio sp3 0,3606
Tanaidae sp.1 0,0671 Prionospio sp4 0,0233
Tanaidae sp.2 0,0671 Prionospio spp 0,8376
Terebellides sp. 0,1341 Prionospio steenstrupi 0,0233
Trichobranchidae sp1 0,1341 Procampylaspis sp1 0,1047
Vermiliopsis sp1 0,0671 Promysis atlantica 0,0349
Total indivíduos 1491 Protoaricia sp1 0,4886
Protoaricia sp2 0,0698
Protodorvillea sp1 0,5817
Rhamphobrachium sp1 0,0116
Rhamphobrachium verngreni 0,0931
Sabellidae sp1 1,3495
Sabellidae sp2 0,3955
Sabellidae sp3 0,4653
Sabellidae sp4 0,2559
Sabellidae sp5 0,0465
Scalibregmidae spp 0,0233
Schistomeringos rudolphi 0,1163
Schistomeringos sp1 0,0582
Scolelepes spp 0,1745
Scoloplos sp1 0,0582
Scoloplos sp2 0,1163
Sigambra grubii 8,8181
Sipuncula spp 1,6403
Sphaerosyllis sp1 0,8841
Spio spp 0,0465
Spionidae sp1 0,4304
Spionidae spp 0,3955
Spiophanes berkeleyorum 1,1168
Spiophanes duplex 0,0116
Spiophanes sp1 0,0233
Spiophanes spp 0,0698
Sthenelanella peterseni 2,0126
Syllidae sp1 0,0116
Syllidae spp 0,0233
Syllidae spp 1,3146
Syllidae spp 3,2922
Synelmis sp1 0,1512
Tellina sp1 0,8958
Terebellidae sp1 0,4537
Terebellidae sp2 0,1861
Terebellidae sp3 0,3257
Terebellidae sp4 0,1280
Terebellidae sp5 0,0931
Terebellidae sp6 0,0698
Terebellides sp1 0,8143
Terebellides sp2 0,0582
Terebellides sp3 0,6166
Terebellides sp4 0,0931
Terebellides sp5 0,0465
Terebellides spp 0,1047
Tharyx sp1 0,0814
Vermiliopsis sp1 0,1280
Total indivíduos 8596
Coleta de exploração 1 (AE1) Coleta de exploração 2 (AE2)Coleta de caracterização da área (AB0)
CONTINUAÇÃO
10
A distribuição espacial dos dados analisados para as combinações amostrais
(Figura 9), mostrou uma dispersão maior de A que se refere a coleta de
caracterização da área, que a diferenciou das demais coletas. Em relação as
combinações amostrais realizadas nota-se que não há diferença entre no padrão
entre a 1ª, 2ª e 3ª combinações analisadas.
Figura 8: Representação diagramática das análises n-MDS, aplicado sobre a composição faunística. Sendo que A refere-se a coleta de caracterização da área, B refere-se a etapa em que o poço estava em exploração e C a etapa de descomissionamento. As combinações foram obtidas relacionando uma amostra de cada coleta.
11
Os resultados do teste de similaridades (Tabela 3) corrobora os resultados
apresentados no gráfico, mostrando que ocorreram diferenças significativas entre as
coletas consideradas. Os resultados entre combinações apresentaram pouca
variação, mostrando a semelhança entre as amostras sorteadas.
A análise da porcentagem de similaridades (Tabela 4,5 e 6), apresentou
resultados similares para as três combinações analisadas.
As famílias que diferenciaram a coleta AB0 das demais coletas foram
principalmente Dentallidae e Semelidae, que ocorrem . Em AE1 e AE2 as famílias
que contribuíram para as similaridades foram Pilargidae, Cirratulidae, Orbiniidae,
Goniadidae, Spionidae, Capitellidae, Oweniidae, Sabellidae, Callianassidae,
Amphinomidae e Bourgueticrinidae.
Tabela 5: Resultado da Análise de Similaridades (ANOSIM), aplicada às combinações entre amostras
obtidas de cada coleta, comparando a significância de AB0, AE1 e AE2.
R global
p
R estatístico p R estatístico p R estatístico p
ABO, AE1 0,254 0,1 0,254 0,1 0,254 0,1
AB0,AE2 0,350 0,1 0,421 0,1 0,447 0,1
AE1, AE2 0,079 0,8 0,077 0,8 0,065 2,4
3a
COMBINAÇÃO
0,181
0,001
0,177
1a COMBINAÇÃO
0,001
2a COMBINAÇÃO
0,184
0,001
12
Tabela 6: Resultado da Análise de Porcentagem de Similaridades (ANOSIM) aplicada sobre AB0, AE1 e AE2 para a 1ª combinação.
Tabela 7: Resultado da Análise de Porcentagem de Similaridades (SIMPER) aplicada sobre AB0, AE1 e AE2 para a 2ª combinação.
Taxa de similaridade:
11,09
Contribuição acum.
(%)
Taxa de similaridade:
22,48
Contribuição
acum. (%)
Taxa de similaridade:
32,07
Contribuição
acum. (%)
Eunicidae 33,15 Onuphidae 17,09 Onuphidae 19,99
Onuphidae 58,58 Syllidae 34,06 Pilargidae 34,86
Paraonidae 65,09 Pilargidae 47,36 Syllidae 44,3
Ampharetidae 70,37 Eunicidae 58,35 Spionidae 51,78
Dentaliidae 75,34 Cirratulidae 64,85 Cirratulidae 58,35
Syllidae 79,29 Paraonidae 71,16 Oweniidae 63,3
Sigalionidae 82,88 Ampharetidae 76,87 Sabellidae 67,27
Semelidae 85,49 Orbiniidae 81,88 Ampharetidae 70,6
Amphinomidae 88,11 Goniadidae 85,24 Callianassidae 73,9
Goniadidae 90,35 Spionidae 88,29 Eunicidae 77
Capitellidae 90,67 Paraonidae 80,02
Amphinomidae 82,92
Bourgueticrinidae 85,73
Sigalionidae 87,64
Capitellidae 89,34
Goniadidae 90,98
Coleta de caracterização da área (AB0) Coleta de exploração 1 (AE1) Coleta de exploração 2 (AE2)
Taxa de similaridade:
11,0
Contribuição
acum. (%)Taxa de similaridade: 22,48
Contribuição
acum. (%)
Taxa de similaridade:
32,97
Contribuição
acum. (%)
Eunicidae 33,15 Onuphidae 17,09 Pilargidae 18,64
Onuphidae 58,58 Syllidae 34,06 Onuphidae 32,54
Paraonidae 65,09 Pilargidae 47,36 Syllidae 45,08
Ampharetidae 70,37 Eunicidae 58,35 Spionidae 53,36
Dentaliidae 75,34 Cirratulidae 64,85 Cirratulidae 58,57
Syllidae 79,29 Paraonidae 71,16 Eunicidae 63,58
Sigalionidae 82,88 Ampharetidae 76,87 Sabellidae 68,43
Semelidae 85,49 Orbiniidae 81,88 Amphinomidae 72,74
Amphinomidae 88,11 Goniadidae 85,24 Paraonidae 76,71
Goniadidae 90,35 Spionidae 88,29 Oweniidae 79,46
Capitellidae 90,67 Ampharetidae 81,56
Sigalionidae 83,65
Bourgueticrinidae 85,67
Lumbrineridae 87,62
Callianassidae 89,35
Capitellidae 90,98
Coleta de caracterização da área (AB0) Coleta de exploração 1 (AE1) Coleta de exploração 2 (AE2)
13
A análise de variância evidenciou que na coleta de caracterização da área
(AB0) ocorreram diferenças significativas no número médio de famílias (Tabela 6)
entre os períodos de verão e inverno. No verão, de acordo com o gráfico de médias
(Figura 8 A), gerado para os fatores distância e períodos, a riqueza de famílias é
maior em relação ao inverno. A diversidade (Figura 8 D) também apresentou
diferenças significativas em relação aos períodos do ano, segundo os resultados da
análise de variância (Tabela 6). O padrão apresentado para a diversidade foi muito
similar à riqueza, ocorrendo valores mais altos no verão do que no inverno. Em
relação ao fator distância do poço de exploração (250, 500, 1000 e 3000 metros)
não houve diferença significativa para os descritores numéricos da comunidade (S,
N, J‟ e H‟). De forma geral os descritores apresentaram o mesmo padrão, com
valores mais altos no verão do que no inverno.
O resultado da análise de variância indicou que na coleta realizada na área de
exploração (AE1) ocorreram diferenças significativas na diversidade de famílias
entre verão e inverno (Tabela 6). A diversidade de famílias (Figura 8 H) foi maior no
verão do que no inverno. Contradizendo os resultados da campanha AB0 em que
ocorreu um número maior de familías no verão. A diversidade também apresentou
Tabela 8: Resultado da Análise de Porcentagem de Similaridades (SIMPER) aplicada sobre AB0, AE1 e AE2 para a 3ª combinação.
Taxa de similaridade:
11,0
Contribuição
acum. (%)Taxa de similaridade: 22,48
Contribuição
acum. (%)
Taxa de similaridade:
32,07
Contribuição
acum. (%)
Eunicidae 33,17 Onuphidae 17,09 Onuphidae 21,93
Onuphidae 58,58 Syllidae 34,06 Pilargidae 40,14
Paraonidae 65,14 Pilargidae 47,36 Syllidae 49,85
Ampharetidae 70,35 Eunicidae 58,35 Spionidae 59,55
Dentaliidae 75,27 Cirratulidae 64,85 Cirratulidae 65,9
Syllidae 79,25 Paraonidae 71,16 Amphinomidae 70,23
Sigalionidae 82,86 Ampharetidae 76,87 Paraonidae 73,52
Semelidae 85,5 Orbiniidae 81,88 Oweniidae 76,53
Amphinomidae 88,13 Goniadidae 85,24 Sabellidae 79,3
Cirratulidae 90,35 Spionidae 88,29 Goniadidae 81,64
Capitellidae 90,67 Ampharetidae 83,82
Capitellidae 85,84
Eunicidae 87,57
Bourgueticrinidae 89,05
Sigalionidae 90,36
Goniadidae 90,98
Coleta de exploração 2 (AE2)Coleta de caracterização da área (AB0) Coleta de exploração 1 (AE1)
14
diferenças significativas em relação as distância do poço de exploração, de modo
geral a diversidade aumenta de 250 metros em direção a 1000 metros, no entanto
decai em 3000 metros. É na distância de 250 metros que ocorrem os menores
valores da diversidade de famílias, tanto em relação a coleta de verão, quanto no
inverno. Os descritores de abundância e equitabilidade apresentaram diferenças
significativas em relação as distâncias (250, 500, 1000 e 3000 metros) na coleta
durante exploração (Tabela 6). Em relação à abundância específica (Figura 8 F)
ocorre um aumento da distância de 250 metros a 500 metros, que decai em seguida
em 1000 e 3000 metros. A distância de 250 metros possui a menor abundância,
enquanto que em 500 metros do poço de exploração ocorre o maior número quando
comparada com as distâncias mais afastadas da radial central. Quanto ao índice de
equitabilidade (Figura 8 G), que também apresentou diferenças em relação as
distâncias, a equitabilidade é menor próxima ao poço de exploração e tem valores
maiores nas distâncias de 500, 1000 e 3000 metros.
Quanto à coleta AE2 à análise de variância mostrou que há diferenças
significativas em todos os descritores numéricos da comunidade calculados, em
relação ao fator distância do poço de exploração (Tabela 6). Em relação ao número
de famílias a distância próxima ao poço de exploração (250 metros) tem um número
menor de famílias do que as distâncias mais afastadas. O índice de diversidade
(Figura 8 L) apresentou o mesmo comportamento do número de famílias, baixo em
250 metros e alto nas distâncias mais afastadas de 500, 1000 e 3000. A diversidade
mais baixa nesta radial esteve relacionada ao alto valor da equitabilidade, com
diferenças significativas quando comparada as demais distâncias (Figura 8 K). A
abundância (Figura 8 J) também foi baixa em 250 metros, porém ao contrário do
número de famílias e o índice de diversidade, ocorre um decaimento em 3000
metros.
15 Tabela 9: Resultado da Análise de Variância (ANOVA), relacionando AB0, AE1 e AE2 aos descritores numéricos da
estrutura da comunidade: riqueza (S), abundância (N), equitabilidade (J') e diversidade (H'), com os fatores distância do poço de exploração, estação (verão e inverno) e interação destes. Os valores em negrito apresentam diferenças significativas entre fator e variáveis.
Coleta
Distância Estação Interação SN
(ind./m²)J' H' F p
x x 0,38600 0,76386
x x 5,11104 0,03119
x x 0,77942 0,51475
x x 0,16110 0,92167
x x 2,84933 0,10178
x x 0,58818 0,62750
x x 0,35226 0,78797
x x 0,78606 0,38583
x x 0,32190 0,80945
x x 0,21824 0,88296
x x 9,89666 0,00372
x x 0,30649 0,82048
x x 7,70831 0,00010
x x 3,59995 0,06050
x x 0,76385 0,51679
x x 5,39873 0,00170
x x 0,80125 0,37275
x x 0,28656 0,83501
x x 6,65210 0,00037
x x 2,87374 0,09297
x x 0,15692 0,92501
x x 8,51279 0,00004
x x 5,74067 0,01833
x x 0,53586 0,65871
x x 14,760 0,00010
x x 14,900 0,00010
x x 4,75 0,005350
x x 8,786 0,000079
Fator Variáveis
AB0
AE1
AE2
16
Figura 9: Gráfico de médias para interação de fatores (distância e estações do ano) e descritores numéricos da comunidade: riqueza, abundância, equitabilidade e diersidade; sendo que a coleta AE2 foi analisada somente para o fator distância. Os gráficos A, B,C e D são relativos à coleta AB0, E, F, G e H são relativos à coleta AE1 e I, J, K e L referem-se a AE2.
17
A composição da macrofauna da coleta de caracterização da área (AB0)
mostrou ter diferenças nas associações de verão e inverno, no entanto, não mostrou
padrões distintos identificáveis em relação as distâncias do poço de exploração
(Figura 9).
De modo geral a disposição das amostras representadas no gráfico MDS
evidenciou haver duas associações faunísticas referentes aos períodos de verão e
inverno. O padrão apresentado pelo gráfico corrobora os resultados da análise de
similaridades (Tabela 7) indicando diferenças entre a fauna de verão e inverno. As
famílias que contribuíram para a similaridade foram representadas através da
análise de Porcentagem de Similaridades (Tabela 8). A análise evidenciou que no
verão a similaridade das famílias foi maior do que no inverno e que dentre as
famílias que mais contribuíram para a similidade dos períodos somente Onuphidae
foi comum a verão e inverno, sendo que Eunicidae, Dentallidae, Ampharetidae,
Amphinomidae e Sigalionidae caracterizaram a coleta de verão e Paraonidae,
Syllidae, Yoldiidae, Cirratulidae, Goniadidae, Eunicidae e Semelidae caracterizaram
a coleta de inverno.
Figura 10: Representação diagramática dos resultados obtidos da análise n-MDS aplicada para a coleta pré-exploração, realizada para as estações do ano em que foram realizadas as coletas (verão e inverno) e para o fator distância do poço de exploração (250, 500, 1000 e 3000 metros).
18
Tabela 10: Resultado da Análise de Similaridades (ANOSIM- two-way), da coleta de caracterização ambiental da área (AB0), aplicado às estações em que foram realizadas as coletas (verão e inverno) e distância do poço de exploração (250, 500, 1000 e 3000).
Tabela 11: Resultado da Análise da porcentagem de similaridades (SIMPER), aplicada à fauna coletada na caracterização da área de exploração, comparando famílias com maior contribuição nas estações de verão e inverno.
Grupos R estatístico
250, 500 -0,101
250, 1000 -0,226
250, 3000 -0,05
500, 1000 -0,095
500, 3000 -0,147
1000, 3000 -0,159
ESTAÇÕES
Rglobal = 0,188
DISTÂNCIA
Rglobal = -0,122
FamíliasContribuição
acum. (%)Famílias
Contribuição
acum. (%)
Eunicidae 38,22 Paraonidae 16,3
Onuphidae 70,03 Syllidae 31,52
Dentaliidae 79,64 Yoldiidae 45,65
Ampharetidae 86,16 Cirratulidae 59,25
Amphinomidae 88,45 Goniadidae 70,3
Sigalionidae 90,33 Eunicidae 80,13
Semelidae 86,86
Onuphidae 91,15
Verão Inverno
Taxa de similaridade: 23,58 Taxa de similaridade: 5,82
19
Na coleta AE1 (Figura 10), foi possível identificar uma maior dispersão das
amostras na distância de 250 metros evidenciando uma baixa similaridade das
amostras, demonstrada também pela porcentagem de similaridades (Tabela 10),
que mostrou baixos valores para 250 metros em relação às demais distâncias. A
análise de similaridades (Tabela 9) indicou que a distância de 250 metros apresenta
diferenças significativas em relação a 500, 1000 e 3000 metros. A análise ainda
mostrou que ocorrem diferenças entre verão e inverno, sendo que as famílias que
contribuíram para tal estão representadas na análise da porcentagem de
similaridades (Tabela 10). As famílias Dorvilleidae, Capitellidae e Sabellidae, que
ocorreram no inverno diferenciaram as associações, enquanto que Syllidae,
Onuphidae, Pilargidae, Eunicidae, Cirratulidae, Paraonidae, Ampharetidae,
Goniadidae e Orbiniidae, foram comuns em relação aos períodos de verão e
inverno.
Figura 11: Representação diagramática dos resultados obtidos da análise n-MDS aplicada para a coleta AE1, realizada para as estações do ano (verão e inverno) e para o fator distância do poço de exploração (250, 500, 1000 e 3000 metros).
20
Tabela 12: Resultado da Análise de Similaridades (ANOSIM- two-way), para coleta AE1, aplicado às estações em que foram realizadas as coletas (verão e inverno) e distância do poço de exploração (250, 500, 1000 e 3000). Estão em negrito os resultados que apresentam diferenças significativas.
Grupos R estatístico
250, 500 0,328
250, 1000 0,117
250, 3000 0,254
500, 1000 0,12
500, 3000 -0,009
1000, 3000 0,068
ESTAÇÕES
Rglobal = 0,049
DISTÂNCIA
Rglobal = 0,146
21
Tabela 13: Resultado da Análise da Porcentagem de Similaridades (SIMPER), aplicada a fauna coletada em AE1, relacionando as famílias com maior contribuição nas estações de verão e inverno e nas distâncias de 250, 500, 1000 e 3000 metros do poço de exploração.
22
A representação da fauna coletada em AE2 pelo gráfico bidimensional
mostrou que as distâncias de 250 metros e 500 metros apresentam dispersão das
amostras. A distância de 1000 metros tende também para uma dispersão, enquanto
que de 3000 metros as amostras estão mais agrupadas quando comparada as
demais distâncias (Figura 11). A análise das similaridades identificou que ocorrem
diferenças significativas (p<0,5) da fauna em relação as distâncias mais próximas do
poço, sendo que a distância de 250 metros se diferenciou de 500, 1000 e 3000,
enquanto que a distância de 500 metros se diferenciou de 3000 metros (Tabela 11).
O resultado da porcentagem de similaridades (Tabela 12) evidenciou que as famílias
que contribuíram para a dissimilaridade entre 250 metros e 500 metros são
Paraonidae, Glyceridae, Lumbrineridae, Terebellidae, Phoxocephalidae, Dorvilleidae,
Hesionidae, Ophellidae, Trichobranchidae, Callianassidae, e Ampeliscidae. Entre
250 metros e 1000 metros Paraonidae, Trichobranchidae, Hesionidae,
Lumbrineridae, Ophellidae, Nereididae, Terebellidae, Glyceridae, Bourgueticrinidae,
Phoxocephalidae e Orbiniidae. E entre 250 e 3000 Paraonidae, Hesionidae
Ophellidae, Glyceridae, Terebellidae, Phoxocephalidae, Trichobranchidae,
Callianassidae, Orbiniidae, Poecilochaetidae, Apseudidae e Ampeliscidae. Quanto à
diferença encontrada entre 500 e 3000 metros detacam-se as famílias
Lumbrineridae, Dorvilleidae, Ophellidae, Orbiniidae, Poecilochatidae e Apseudidae.
Figura 9: Representação diagramática dos resultados obtidos da análise n-MDS aplicada para a coleta AE2, considerando as distância do poço de exploração (250, 500, 1000 e 3000 metros)
23
Tabela 14: Resultado da Análise de Similaridades (ANOSIM- one-way), para coleta AE2, aplicada as distâncias do poço de exploração (250, 500, 1000 e 3000). Estão em negrito os resultados que apresentaram diferenças significativas.
Grupos R estatístico
250, 500 0,825
250, 1000 0,62
250, 3000 0,817
500, 1000 0,153
500, 3000 0,116
1000, 3000 0,098
DISTÂNCIA
Rglobal = 0,316
24
Tabela 15: Resultado da Análise da Porcentagem de Similaridades (SIMPER), aplicada à fauna coletada em AE2, relacionando as famílias com maior contribuição nas distâncias de 250, 500, 1000 e 3000 metros do poço de exploração.
25
4.3. Relação da macrofauna e as variáveis ambientais
A análise de correspondência canônica (Tabela 13) extraiu dois eixos que
explicaram aproximadamente 7% da variação nas abundâncias faunísticas, dos
quais 75% puderam ser atribuídos as variáveis abióticas consideradas. Apesar da
baixa porcentagem de significância (7%) tanto o eixo canônico 1 quanto os demais
eixos foram significativos segundo o teste de Monte Carlo.
O eixo 1 foi responsável por 5% da variação dos quais 55% foram atribuídas
as variáveis abióticas, e foi formado pela extrema coordenada positiva de
Dentallidae e Semellidae, e extremas coordenadas negativas de Hesionidae,
Magelonidae e Scalibregmidae (Figura 12). A disposição dos pontos ao longo do
eixo evidenciou o tempo ao longo do qual o poço foi explorado, ficando as amostras
representativas da coleta de caracterização da área no lado positivo do eixo, e as
coletas subsequentes do lado negativo do eixo (Figura 13).
As variáveis com maior correlação foram grau de selecionamento, que
mostrou sedimentos mais probremente selecionados nas coletas AE1 e AE2 e
melhor selecionado na coleta AB0, as outras variáveis granulométricas com forte
relação com eixo 1 foram tamanho médio do grão e assimetria, sendo verificado um
afinamento do tamanho médio do grão ao longo da exploração, com participação de
grosseiros, enquanto que na coleta de caracterização da área (AB0) foram
registrados sedimentos com maior tamanho médio do grão e participação de finos. O
eixo 2 acrescentou aproximadamente 2% da variação, e a variável que teve maior
relação com o eixo foi a profundidade, somente relacionada com a coleta AB0, o
eixo 2 evidenciou a variação natural do ambiente, a família Ophellidae foi
representada na extrema coordenada positiva deste eixo, ocorrendo na coleta de
caracterização da área nas maiores profundidades.
26
Tabela 16: Sumário de resultados obtidos na Análise de Correspondência Canônica (CCA) e matriz
de correlação entre os eixos canônicos e as variáveis ambientais.
Eixos Eixo 1 Eixo 2
Autovalores CCA 0,128 0,048
Correlação espécies x ambiente 0,722 0,581
Dados de famílias 5 7
Relação entre famílias e ambiente 55 75,4
Soma de todos autovalores 3
Soma de todos autovalores canônicos 0,234
Teste de Monte Carlo para os eixos canônicos Eixo1 Todos os eixos canônicos
F calculado 4,209 1,998
Valor de p 0,0002 0,0006
Porcentagem das variâncias acumuladas (%)
27
Figura 10: Representação diagramática das amostras sobre os eixos canônicos 1 e 2 extraídos a partir da Análise de Correspôndecia Canônica (CCA) aplicada sobre a composição da macrofauna e as seguintes variáveis ambientais: profundidade (Prof), tamanho médio do grão (TMG), grau de seleção e assimetria.
Figura 11: Representação diagramática das amostras sobre os eixos canônicos 1 e 2 extraídos a partir da Análise de Correspôndecia Canônica (CCA) aplicada sobre a composição da macrofauna, sendo que A refere-se a coleta AB0, B é referente a coleta AE1 e por fim C refere-se a AE2.
28
5. DISCUSSÃO
Uma importante etapa no monitoramento de atividades antrópicas, como de
exploração de óleo e gás natural no fundo marinho, é conhecer os padrões
estruturais das comunidades bentônicas e as alterações deste padrão durante as
fases que compõem a atividade. Alterações do tipo de substrato e mudanças na
química dos sedimentos são consideradas os principais fatores que influenciam na
alteração dos padrões da comunidade ao redor de plataformas petrolíferas (MAPEM,
2001).
A composição sedimentar encontrada na área estudada resultou em frações
granulométricas de areia grossa a muito fina. A respeito disso Figueiredo Jr. e
Madureira (2004) se referiram à plataforma média e externa da região sudeste/sul
como dominada por sedimentos lamosos, mas ressalvam para existência de bancos
esparsos de areia, areia lamosa e cascalhosa. Em Martins et al. (1985) foram
encontradadas fácies arenosas, areno lamosas, biodetritos de esqueletos de corais
ahermatípicos e substratos consolidados ao longo da plataforma externa e região de
talude superior do Rio Grande do Sul.
No presente estudo foi possível verificar nas coletas realizadas na área de
exploração (AE1 e AE2), um afinamento do tamanho médio do grão com
participação de grosseiros em relação ao distanciamento da plataforma petrolífera.
Este resultado pode estar relacionado à remobilização sedimentar provocada pela
instalação das estruturas que contribui para a maior fração de finos nas distâncias
mais afastadas do poço. A contribuição de frações grosseiras pode estar relacionada
à deposição de cascalhos ao entorno do poço de perfuração. Peterson et al. (1996)
encontraram um gradiente composto por sedimento mais grosseiros no entorno das
plataformas petrolíferas e, na medida em que se distanciavam destas o sedimento
tornava-se mais fino. Arana et al. (2005) num estudo na plataforma de Campeche,
sul do Golfo do México, detectaram homogeneização granulométrica no entorno das
áreas de exploração petrolífera. A deposição de cascalhos ao redor do poço de
exploração depende da profundidade, das condições hidrodinâmicas e ainda do tipo
de fluido lubrificante da broca de perfuração, sendo que este, quando a base de
óleo, agrega e acumula os cascalhos no leito, enquanto que o fluido a base de água
pode se dispersar mais facilmente (SCHAFFEL, 2002).
29
Em relação à macrofauna local encontrada ocorreu a presença principalmente
do filo Anellida representado pelos Polychaeta, seguindo por Crustacea,
Echinodermata, Mollusca e Cnidaria. Esta fauna foi relatada nos levantamentos
bibliográficos da fauna bentônica na costa brasileira por Lana (1996) e Amaral et
al.(2004). GOMES (2006) encontrou a mesma composição na plataforma continental
do Rio de Janeiro. Sendo estes filos portanto frequentemente encontrados na
macrofauna como um todo típicas de regiões de plataformas continentais brasileiras.
O alinhamento das listas taxônomicas da fauna detectou inconsistências nas
identificações. Desta forma qualquer comparação utilizando o nível específico
comprometeria todas as inferências, tornando fundamental a análise no nível de
família.
O nível de família têm mostrado resultados robustos e confiáveis em estudos de
monitoramento ambiental (KINGSTON E RIDDLE, 1989). Warwick (1988a, b)
mostrou haver equivalências nas avaliações dos efeitos da poluição em nível de
família, gênero e espécie. Os problemas da identificação em níveis específicos são:
a facilidade na propagação de erros taxonômicos, maior tempo de análise
laboratorial e maior grau de experiência dos taxonomistas (WODARSKA-
KOWALCZUK, 2005), bem como custos mais elevados, a considerar pelo aumento
no tempo de tratamento das amostras.
Devido ao frequentente uso e comprovada eficiência das análises no nível de
família (SOMERFIELD E CLARKE, 1995; OLSGARD ET AL., 1997) adotou-se este
nível como forma de suprir a deficiência das identificações. Além disso, apresentou
neste estudo uma boa representatividade da fauna coletada (94% do total).
As contribuições para as similaridades evidenciaram diferentes associações da
macrofauna, em que Dentallidae e Semelidae ocorreram exclusivamente na coleta
de caracterização ambiental da área, Spionidae, Capitellidae, Cirratulidae,
Pilargidae, Goniadidae ocorreram na coleta quando a plataforma estava em
operação, Cirratulidae, Spionidae, Pilargidae, Owenidae, Sabellidae, Callianassidae,
Amphinomidae, Bourgueticrinidae, Sigalionidae, Capitellidae e Goniadidae,
ocorreram na coleta realizada após o descomissionamento da plataforma petrolífera.
Segundo Osgard e Gray (1995), as famílias Capitellidae, Cirratullidae e Spionidae
aumentam na presença de hidrocarbonetos de petróleo. O aumento da abundância
destas famílias tem sido observado em áreas severamente impactadas
(POCKLINGTON E WELLS, 1992; FEDER E BLANCHARD, 1998).
30
Em consequência da ocorrência das famílias Dentallidae e Semelidae somente na
coleta de caracterização da área (AB0), sugere-se que estas possam ter sido
excluídas devido a dominância de espécies oportunistas. De acordo com
Giangrande et al. (2005) ao longo de gradientes de poluição espécies das famílias
Cirratullidae, Capitellidae e Spionidae têm sido encontradas em grandes números
em decorrência da exclusão de outras, predominando em áreas em estágios iniciais
de sucessão após distúrbios.
Em relação a maior abundância da macrofauna encontrada na coleta de
caracterização ambiental da área, no verão, Attolini e Tararam (2001) em seu estudo
com poliquetas na região da Bacia de Santos, atribuíram este resultado a variação
nas características granulométricas entre os períodos. Neste estudo o grau de
seleção apresentou diferenças significativas entre verão e inverno. Além disso foram
também detectadas diferenças significativas para a profundidade, o que pode ter
contribuído para a variação.
A coleta realizada na área de exploração mostrou padrões distintos dos
relatados na coleta anterior, o número de famílias e a diversidade foram maiores no
inverno. Sugere-se que este resultado está relacionado a instalação da plataforma
petrolífera e posterior atividade de perfuração, que alteram as características
granulométricas da área. Rohr & Almeida (2006) também relacionaram este
resultado ao efeito da exploração petrolífera. No entanto Paiva (1993) relacionou as
altas abundâncias de poliquetas no período de inverno à ausência de dominância e
a maior riqueza de areias finas, que permitem uma maior entrada de oxigênio,
ampliando a camada de sedimento a ser explorada pela macrofauna, no entanto
nesta área não havia uma plataforma de exploração de óleo e gás instalada.
As análises de similaridades faunísticas da coleta de caracterização da área
evidenciaram distintas composições faunísticas para verão e inverno. No verão
Eunicidae e Onuphidae contribuíram juntas com 70% da similaridade, enquanto que
no inverno Paraonidae, Syllidae, Yoldiidae, Cirratulidae e Goniadidae somaram 70%
da contribuição para a similaridade. No inverno ocorreu um número maior de
famílias contribuindo para as similaridades, no entanto foi encontrada menor
abundância neste período. Já no verão ocorre uma maior abundância de famílias, no
entanto poucas contribuem para a similaridade total da fauna. Este resultado
evidencia a alta dominância pricipalmente de Eunicidae e Onuphidae neste período.
31
Quanto ao efeito da exploração em relação as distâncias de 250, 500, 1000 e
3000 metros do poço de exploração e os descritores numéricos da comunidade
(número de famílias, abundância, riqueza e equitabilidade) não foram encontradas
diferenças significativas para a coleta realizada na área de caracterização ambiental
(AB0). No entanto para as coleta da área de exploração (AE1 e AE2) foram
encontradas diferenças na fauna em relação as distâncias.
A análise de similaridade faunística indicou diferenças nas associações da
fauna na distância de 250 metros do poço de exploração, no qual esta foi composta
por uma reduzida riqueza de famílias em relação as distâncias de 500, 1000 e 3000
metros do poço. De modo geral para a distância de 250 metros foi registrada a
menor abundância da macrofauna, com acentuado aumento para a distância de 500
metros e a partir desta, a fauna reduz de abundância gradativamente para as
distâncias de 1000 e 3000 metros. Esta variação sugeriu um possível efeito da
plataforma de produção de petróleo sobre a área de entorno localizada em 250
metros de distância, no período em que o poço estava em perfuração.
Na coleta realizada após o encerramento das atividades de exploração de
petróleo e gás, a diversidade mais baixa em 250 metros nesta etapa esteve
relacionada a valores altos de eqüitatividade, devido ao baixo número de famílias
coletadas. A análise de similaridade faunística indicou diferenças nas associações
da fauna até a distância de 500 metros do poço de exploração. A alta dispersão
entre as amostras relativas as distâncias de 250 metros e 500 metros podem estar
sugerindo um possível efeito da atividade de exploração petrolífera. As amostras das
estações localizadas nas distâncias de 1000 e 3000 metros da plataforma
apresentaram menor dispersão, além disso, índices de riqueza e densidade
similares, o que pode estar representando o menor impacto gerado sobre esta área.
A redução do número de famílias e de diversidade nas distâncias próximas a
plataforma de exploração também foram vistas por Gray et al. (1990), que
identificaram este resultado em resposta ao efeito do petróleo, como um fator de
estresse, nas distâncias de 500 a 1000 metros. Apesar desta localizada
pontualidade, Olsgard e Gray (1995), detectaram efeitos da exploração do petróleo
até 6 km do poço de exploração sugerindo que toda a área pode estar sob
influência.
As alterações observadas podem estar diretamente relacionadas às fases de
instalação da plataforma e perfuração, em que as comunidades bentônicas mais
32
próximas da plataforma mostram uma diminuição da diversidade e mudança na
abundância de espécies, enquanto mais afastadas da plataforma as assembléias
podem parecer mais semelhantes aos da área circundante não afetada
(MANOUKIAN ET AL., 2010). As operações de perfuração de poços de petróleo e
gás natural podem gerar modificações sobre a estrutura biológica e trófica das
associações macrobentônicas, em virtude de mudanças nas características químicas
e físicas do sedimento que podem resultar na substituição de uma comunidade por
outra em decorrência de alterações sedimentares, uma vez que muitas adaptações
morfológicas e fisiológicas da fauna estão relacionadas com o substrato (GOMES
ET AL., 2001).
A análise da porcentagem das similaridades das famílias mostrou um
predomínio da ocorrência de organismos carnívoros, correspondente às famílias
Syllidae, Pilargidae, Eunicidae e depositívoros referente às espécies das famílias
Cirratulidae e Ampharetidae nas distâncias até 3000 metros, contribuindo para até
50% da similaridade total de cada distância. Manoukian et al. (2010) encontraram
um aumento de organismos depositívoros provavelmente atraídos pelos detritos e
micropartículas de matéria orgânica provenientes do revolvimento durante as
operações de perfuração e ainda de carnívoros atraídos pelo incremento de
espécies em duas plataformas de exploração de petróleo no Mar Adriático.
A análise de correspondência canônica possibilitou hierarquizar os fatores,
colocando em primeiro lugar as alterações na fauna relacionada às alterações
granulométricas, que podem ter sido decorrentes da atividade em questão, e em
segundo lugar as variações batimétricas observadas entre as campanhas de verão e
inverno na coleta realizada para caracterização ambiental da área de exploração.
Estas alterações puderam ser registradas biológicamente pelo desaparecimento de
Dentallidae e Semellidae ao longo da exploração do poço, bem como o surgimento
de Pilargidae, Capitellidae, Hesionidae, Magelonidae e Scalibregmidae.
As mudanças encontradas na estrutura das associações da macrofauna em
relação ao distaciamento do poço de exploração foram atribuídas à ocorrência de
distúrbios com consequência da alteração da granulometria da área. Tal fato está
relacionado à maior presença de finos em distâncias mais afastadas do poço e pela
presença de grosseiros em substituição de finos próximo ao ponto central da
plataforma na etapa de perfuração do poço. Este resultado pode ser atribuído ao
33
revolvimento sedimentar provocado pela instalação dos equipamentos no fundo do
mar e ainda à deposição de cascalhos ao entorno do poço na etapa de perfuração.
Apesar da altereção da área onde foi realizada a coleta pré exploração (antes do
início da exploração), que portanto seria utililizada como controle, observou-se que
nesta não foram encontradas diferenças na fauna em relação ao distanciamento
proposto pelo desenho amostral. No entanto foram identificadas alterações na fauna
coletada no verão e no inverno. Já a coleta realizada na área onde ocorreu a
exploração foram detectadas diferenças na fauna em relação ao distanciamento, e
um padrão contrário a primeira coleta em relação ao verão e inverno, com maiores
abundâncias registradas no inverno. Sugere-se que este resultado em primeiro lugar
mostra a variação natural da fauna, quando a área não estava sendo explorada, e
em segundo lugar o efeito da exploração na área de instalação da plataforma.
Os resultados obtidos no presente estudo sugerem que perturbações ambientais
de intensidade local foram verificadas tanto nas características granulométricas,
como na estrutura das associações. Segundo Mclusky e Mcintyre (1988) o tipo de
substrato é considerado o principal fator que influencia a distribuição e abundância
da macrofauna de invertebrados bentônicos. As alterações na macrofauna
ocorreram até distâncias localizadas inicialmente em 250 metros e posteriormente
até 500 metros, indicando uma relativa pontualidade no efeito da atividade, sendo
esta uma característica peculiar da atividade. Entretanto efeitos sinergéticos podem
surgir com o aumento no número de instalações e intensificação da atividade.
Não obstante destes resultados apresentados deve-se destacar a importância
da padronização metodológica no monitoramento ambiental. Segundo Schaffel
(2002) somente o monitoramento realizado antes, durante e depois da ocorrência da
perfuração de poços fornece um retrato real do impacto ambiental sobre a biota
local. Contudo, para isto, o monitoramento deve obdecer a critérios específicos
empregando metodologias que possam ser comparadas e controles pré definidos
(ALMEIDA, 2003).
34
6. CONCLUSÕES
- Foram detectadas alterações nas características granulométricas no entorno
do campo de exploração, representadas pelo afinamento do tamanho médio do grão
e uma piora do grau de selecionamento em relação ao distanciamento do poço;
- Foram detectadas alterações nos descritores de abundância e riqueza
taxonômica em relação ao distanciamento do campo de exploração;
- Foram detectadas diferenças significativas nas associações da macrofauna
em relação ao distanciamento do poço de exploração;
35
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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