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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Faculdade de Engenharia Mecânica
SOFIA MARQUES ARANTES
Avaliação dos impactos socioeconômicos da
intensificação e da integração da produção
pecuária ao setor sucroenergético no estado
de São Paulo
CAMPINAS
2018
SOFIA MARQUES ARANTES
Avaliação dos impactos socioeconômicos da
intensificação e da integração da produção
pecuária ao setor sucroenergético no estado
de São Paulo
Orientador: Prof. Dr. Marcelo Pereira da Cunha
CAMPINAS
2018
Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de
Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de
Campinas como parte dos requisitos exigidos para
obtenção do título de Mestra em Planejamento de
Sistemas Energéticos.
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO
FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA SOFIA MARQUES ARANTES E
ORIENTADA PELO PROF. DR MARCELO PEREIRA
DA CUNHA.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA
COMISSÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA
MECÂNICA
PLANEJAMENTO DE SISTEMAS ENERGÉTICOS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO ACADÊMICO
Avaliação dos impactos socioeconômicos da
intensificação e da integração da produção
pecuária ao setor sucroenergético no estado
de São Paulo
Autor: Sofia Marques Arantes
Orientador: Prof. Dr. Marcelo Pereira da Cunha
A Banca Examinadora composta pelos membros abaixo aprovou esta Dissertação:
Prof. Dr. Marcelo Pereira da Cunha
IE-Unicamp
Prof. Dr. Joaquim Eugênio Abel Seabra
FEM-Unicamp
Dra. Leila Harfuch
Agroicone
A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida
acadêmica do aluno.
Campinas, 29 de janeiro de 2018.
Agradecimentos
Aos meus familiares pelo apoio à minha formação acadêmica, todo suporte e
incentivo.
À equipe Agroicone, por todo apoio, auxílio, cooperação, suporte e paciência.
Ao meu orientador, Professor Marcelo Pereira da Cunha, por sua competência e
atenção nas revisões e sugestões, importantes para a finalização deste trabalho.
A todos os professores do mestrado que de alguma forma contribuíram para minha
formação, em especial ao Professor Davi Lopes por todas as coordenadas, sugestões e
revisões.
À Juliana Picoli, por todo suporte e paciência.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES pelo
suporte financeiro e bolsa concedida.
A todos aqueles que acreditaram, auxiliaram e contribuíram.
Resumo
Dentro do contexto do Acordo de Paris e a consequente Contribuição Nacionalmente
Determinada (NDC), o Brasil firmou o compromisso de aumentar a participação de
bioenergia na matriz energética nacional, com expectativa de aumento da produção de etanol
para 54 bilhões de litros até 2030. Para atender este aumento de demanda, a cana-de-açúcar no
estado de São Paulo deverá expandir principalmente sobre pastagens extensivas. A expansão
da cana-de-açúcar sobre pastagens é um motivo de preocupação para o desempenho ambiental
do etanol que pode ser afetado negativamente pelas emissões de gases de efeito estufa (GEE)
derivadas da mudança de uso da terra. Porém, estudos indicam que a partir da intensificação
da atividade pecuária e consequente liberação de área, existem vantagens econômicas e
ambientais da integração entre as atividades pecuária e sucroenergética. Com isso, o sistema
de integração cana-pecuária surge como alternativa para as estratégias propostas na NDC de
redução dos GEE, além de promover maior eficiência na produção pecuária e do setor de
etanol. Este estudo teve como objetivo avaliar os impactos socioeconômicos de dois sistemas
de intensificação da pecuária, com e sem integração do setor sucroenergético, sendo a
economia agregada em 162 setores e 185 produtos. Com isso, foram avaliados: (i) Nível da
produção setorial, (ii) Produto Interno Bruto – PIB, (iii) Empregos e (iv) Remuneração do
Fator Trabalho e Capital. Para tanto, foi desenvolvido e implementado um modelo de insumo-
produto tomando como base o ano de 2011, captando os efeitos diretos e indiretos envolvidos
em toda a cadeia produtiva, desagregada para as regiões do estado de São Paulo, Centro-Oeste
e Resto do Brasil. Entre os resultados obtidos, destaca-se que o sistema de intensificação das
atividades de pecuária e sucroenergética no estado de São Paulo, em comparação com o
retrato da economia brasileira de 2011, gera riqueza para a economia brasileira, com aumento
do PIB setorial e redução de emprego, com maior nível de transbordamento para as outras
regiões. Como resultado do sistema integração (S2), nota-se aumento no valor da produção,
queda no PIB setorial, geração de empregos, com maiores impactos para o estado de São
Paulo. Porém, destaca-se a necessidade de subsídios à produção para fomentar as atividades
de pecuária intensificada e integrada.
Palavras-chave: Biorrefinaria, intensificação da pecuária, integração cana-pecuária, impactos
socioeconômicos, Análise de Insumo-Produto.
Abstract
Within the context of the Paris Agreement and the Consequent Nationally Determined
Contribution (NDC), Brazil signed a commitment to increase bioenergy participation in
national energy matrix, with an expected increase in ethanol production to 54 billion liters by
2030. To achieve this demand increase, sugarcane in São Paulo should expand mainly on
extensive pastures. The expansion of sugarcane over pasture causes concern for the
environmental performance of ethanol, that may be adversely affected by greenhouse gas
(GHG) emissions from land use change. However, studies indicate that with livestock
intensification and the consequent area release, there are economic and environmental
advantages of the integration between livestock and sugarcane activities. With this, the
sugarcane integration system emerges as an alternative to proposed strategies at NDC, to
reduce GHG and, in addition, promote greater efficiency in livestock production and ethanol
sector. The objective of this study was to evaluate the socioeconomic impacts of two
scenarios of cattle intensification, with and without integration of sugarcane-based ethanol
sector. The economy was aggregated in 162 sectors and 185 products. Impacts were
quantified regarding to (i) the level of total output (production), (ii) Gross Domestic Product -
GDP (iii) employment, and (iv) Labor and Capital Factors payments. In order to achieve the
objective of this study, it was developed an input-output model based on the year 2011,
capturing the direct and indirect effects along the entire production chain, disaggregated for
the regions of São Paulo, Midwest and the Rest of Brazil. Among the results, the scenario of
livestock and ethanol sectors intensification in the State of São Paulo, compared to the 2011
Brazilian economy, generates wealth for the Brazilian economy, with an increase in sectorial
GDP and jobs reduction, with a higher level of overflow for other regions. As a result of the
second scenario, there was observed an increase of output level, decrease in sectorial GDP
and employment generation, with greater impacts for São Paulo state. However, for both
scenarios there is a need for production subsidies to promote intensified and integrated
livestock activities.
Key Words: Biorefinery, livestock intensification, cane-livestock integration, socioeconomic
impacts, Input-Output Analysis.
Lista de Ilustrações
Figura 1 - Produção e Consumo de Etanol no Brasil, entre 1997 e 2017 ............................... 26
Figura 2 - Projeção da produção de etanol total no Brasil para o período de 2014 a 2030 ..... 28
Figura 3- Área de cultivo de cana-de-açúcar mapeada por imagens de satélite ...................... 29
Figura 4 - Produção total de etanol para o Brasil, Região Sudeste e estado de São Paulo (safra
2016/2017)........................................................................................................................... 29
Figura 5 - Interação entre a produção de cana-de-açúcar e pecuária ...................................... 37
Figura 6 - Relações de Insumo-Produto Inter-regional .......................................................... 51
Figura 7 - Sistema Intensivo (S1) ......................................................................................... 59
Figura 8 - Sistema Integração (S2) ....................................................................................... 60
Figura 9 - Diagrama com exemplificação do choque ............................................................ 71
Lista de Tabelas
Tabela 1 - Intenções dos principais países emissores de gases de efeito estufa (2015)........... 21
Tabela 2 - Projeção da produção de carne bovina no Brasil (mil toneladas, 2017/2027) ........ 31
Tabela 3 - Principais estados produtores de bovinos (2016) .................................................. 32
Tabela 4 - Exemplo esquemático de uma tabela de insumo-produto com três setores............ 41
Tabela 5 - Tabela de transações para a economia brasileira em 2011 .................................... 43
Tabela 6 - Modelo Didático - Matriz de Uso (U) .................................................................. 47
Tabela 7 - Modelo didático - Matriz de produção V ............................................................. 49
Tabela 8 - Estrutura de equações e variáveis do Modelo Didático......................................... 50
Tabela 9 - Dieta para o Sistema Intensivo (S1) ..................................................................... 54
Tabela 10 - Dieta subprodutos da cana-de-açúcar - Sistema Integração (S2) ......................... 54
Tabela 11 - Parâmetros técnicos durante a fase de confinamento .......................................... 56
Tabela 12 - Descrição dos sistemas de produção pecuária .................................................... 57
Tabela 13 - Características da Destilaria Autônoma Otimizada............................................. 58
Tabela 14 - Nível de desagregação dos setores adotados no modelo de Insumo-Produto....... 61
Tabela 15 - Nível de desagregação dos produtos adotados no modelo de Insumo-Produto .... 62
Tabela 16 - Valor da Produção para o Sistema Intensivo (S1)............................................... 66
Tabela 17 - Insumos para o Sistema Intensivo – Sistema Intensivo (S1) ............................... 67
Tabela 18- Insumos para a Biorrefinaria ............................................................................... 68
Tabela 19- Estrutura de equações e variáveis do Modelo ...................................................... 68
Tabela 20 - Valor da Produção para o Sistema Integração (S2) ............................................. 69
Tabela 21 - Insumos para o Sistema Integrado – Sistema Integração (S2) ............................. 70
Tabela 22- Nível da Produção em nível nacional e regional – Sistema Intensivo (S1) ........... 73
Tabela 23 - Nível da produção, impactos positivos – Sistema Intensivo (S1) ........................ 74
Tabela 24 - Nível da produção, impactos negativos – Sistema Intensivo (S1) ....................... 75
Tabela 25 - Impactos nos Empregos (nacional e regional) – Sistema Intensivo (S1) ............. 75
Tabela 26 - Principais Setores, com impactos negativos, para variável de emprego – Sistema
Intensivo (S1) ...................................................................................................................... 76
Tabela 27 - Principais setores com impactos positivos para a variável de emprego – Sistema
Intensivo (S1) ...................................................................................................................... 78
Tabela 28- Impactos para Remuneração do Fator Trabalho, Remuneração do Fator Capital e
PIB Setorial (em milhões de reais) – Sistema Intensivo (S1) ................................................ 79
Tabela 29 - Remuneração do fator trabalho - principais setores (impactos negativos) – Sistema
Intensivo (S1) ...................................................................................................................... 80
Tabela 30 - Remuneração do fator trabalho - principais setores (impactos positivos) – Sistema
Intensivo (S1) ...................................................................................................................... 81
Tabela 31 - Remuneração do fator capital - principais setores (impactos positivos e negativos)
– Sistema Intensivo (S1) ...................................................................................................... 82
Tabela 32 - Principais setores para a variável PIB Setorial – Sistema Intensivo (S1) ............ 83
Tabela 33 - Nível da Produção Setorial em nível nacional e regional – Sistema Integração (S2)
............................................................................................................................................ 84
Tabela 34 - Nível de produção setorial - impactos positivos no Sistema Integração (S2) ...... 85
Tabela 35 - Impactos nos Empregos (nacional e regional) – Sistema Integração (S2) ........... 86
Tabela 36 - Principais setores com impactos positivos para a variável de emprego – Sistema
Integração (S2) .................................................................................................................... 87
Tabela 37 - Impactos para Remuneração do Fator Trabalho e Fator Capital (em milhões de
reais) – Sistema Integração (S2) ........................................................................................... 88
Tabela 38 – Principais Setores para Remuneração do fator trabalho – Sistema Integração (S2)
............................................................................................................................................ 88
Tabela 39 - Principais setores para Remuneração do fator capital, para o Sistema Integração
(S2) - (impactos positivos) ................................................................................................... 90
Tabela 40 - Principais Setores para PIB Setorial – Sistema Integração (S2) .......................... 91
Tabela 41 - Resumo dos principais impactos do Sistema Intensivo ....................................... 93
Tabela 42 - Resumo dos principais impactos do Sistema Integração ..................................... 94
Lista de Abreviaturas e Siglas
Abreviaturas
2G - Etanol de segunda geração
ABIEC – Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes
BVC - Biorrefinaria Virtual de Cana-de-Açúcar
CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada
CNUMAD - Conferência das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
CO2 - Dióxido de carbono
CO2eq – Dióxido de carbono equivalente
CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento
COP – Conferência das Partes
CTBE – Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EPE – Empresa de Pesquisa Energética
FDA – fibra detergente ácido
FDN – fibra em detergente neutro
FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations
GDP - Ganho de peso diário
GEE – Gases de Efeito Estufa
IBGE – Instituto Brasileira de Geografia e Estatística
IEA - Instituto de Economia Agrícola
IIL - Impostos Indiretos Líquidos
ILP – Integração Lavoura-Pecuária
ILPF – Integração Lavoura-Pecuária-Florestal
ILUC - Mudança de uso da terra indireta
IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática
LULUCF - Land use, land-use change and forestry
MDL - Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
MS – Matéria Seca
NaCl Cloreto de sódio
NDC – Contribuição Nacionalmente Determinada
NRC - National Research Council
ONU – Organização das Nações Unidas
PIB – Produto Interno Bruto
SIE – Serviços de inspeção estadual
SIF – Serviços de inspeção federal
SIM - Serviços de inspeção municipal
UNFCCC - United Nations Framework Convention on Climate Change
UNICA - União da Indústria de Cana-de-Açúcar
USDA - Departamento de Agricultura dos Estados Unidos
Unidade de Medida
@ arroba
GWh Giga watt-hora
ha Hectare
kg Quilograma
kg pv Quilograma de peso vivo
m3 Metro cúbico
MWh Mega watt-hora
R$ Reais
t Tonelada métrica
TC Tonelada de cana
TWh Tera watt-hora
UA Unidade animal
Sumário
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 14
1.1. Objetivo Geral ............................................................................................................... 17
1.2. Objetivos Específicos .................................................................................................... 17
1.2. Estrutura da dissertação ................................................................................................. 18
2 REVISÃO DE LITERATURA ....................................................................................... 19
2.1 A evolução do tema mudanças climáticas ....................................................................... 19
2.1.1 Conferência ECO-92 e RIO + 20 ................................................................................ 19
2.1.2 Protocolo de Quioto .................................................................................................... 20
2.1.3 Acordo de Paris (COP-21) e NDC brasileira .............................................................. 21
2.2 Produção de alimentos x produção de combustíveis ....................................................... 23
2.3 O etanol brasileiro .......................................................................................................... 25
2.3.1 Cana-de-açúcar no estado de São Paulo ..................................................................... 28
2.4 A pecuária no Brasil ....................................................................................................... 30
2.4.1 Pecuária no estado de São Paulo ................................................................................ 32
2.4.2. Confinamento e alimentação animal ........................................................................... 33
2.5 A integração cana-pecuária ............................................................................................ 35
3 METODOLOGIA ........................................................................................................... 40
3.1 Modelo básico de insumo-produto .................................................................................. 40
3.2. Modelo didático ............................................................................................................ 46
3.3 Rotas tecnológicas e Sistemas ........................................................................................ 51
3.4 Construção do Modelo ................................................................................................... 60
3.4.1 Sistema Intensivo (S1) ................................................................................................. 61
3.4.2 Sistema Integração (S2) .............................................................................................. 69
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................... 72
4.1 Resultados para o Sistema Intensivo (S1) ....................................................................... 72
4.2 Resultados para o Sistema Integração (S2) ..................................................................... 83
5 CONCLUSÕES ............................................................................................................... 93
Referências ......................................................................................................................... 97
ANEXO A – Sistemas Produtivos da Pecuária ............................................................... 107
ANEXO B – Coeficientes Técnicos .................................................................................. 108
14
1 INTRODUÇÃO
Os problemas relacionados às mudanças climáticas têm se tornado um dos maiores
desafios socioeconômicos e científicos a serem enfrentados pela sociedade mundial. O Painel
Intergovernamental sobre Mudanças do Clima IPCC (2014) destaca que a maior parte do
aumento da temperatura média global, observada desde meados do século XX, está sendo
causada pelo acréscimo das emissões antropogênicas de Gases de Efeito Estufa (GEE).
A crescente preocupação com esse tema tem impulsionado o interesse por
biocombustíveis que, além de ser uma alternativa para mitigação de GEE, têm feito parte das
ações direcionadas para segurança energética (PICOLI, 2017). Dentro desse contexto, existe
uma crescente discussão sobre como otimizar o uso dos recursos provenientes da natureza
bem como formas de impactá-la minimamente (LOPES, 2009).
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
(FAO/ONU), até 2050, deverá haver um incremento de 60% na produção mundial de
alimentos para garantir o seu fornecimento. Neste cenário, o grande desafio do setor
agropecuário é incrementar a produção alimentar, com condições climáticas mais adversas,
tornando-se mais eficiente para atender o aumento dessa demanda. Além disso, otimizar a
produção tanto de produtos que servem de insumos para a produção de biocombustíveis como
também para alimentação humana e animal.
Segundo Thompson (2012), o grande dilema alimentos versus combustíveis ganhou
espaço especialmente em 2008, após o período de profunda crise econômica mundial. A
discussão está diretamente relacionada às áreas destinadas para produção de biocombustíveis
(competição por terra), segurança alimentar, aumento de preços dos alimentos e impactos no
consumo de pessoas marginalizadas, particularmente na região sul do planeta (TOMEI et al.,
2015).
Em 2015, durante a 21º Conferência das Partes (COP21), foi aprovado o Acordo de Paris,
com o objetivo de manter o aquecimento global abaixo de 2ºC até 2030, em relação aos níveis
pré-indutriais (ONU, 2015). Para alcançar os objetivos do Acordo, os países participantes
apresentaram os seus compromissos para a redução de emissões de gases de efeito estufa
(GEE), em formato de Contribuição Nacionalmente Pretendida (NDC)1.
1 Sigla em inglês: Nationally Determined Contribution.
15
O Brasil assumiu o compromisso de reduzir suas emissões totais de GEE em 37%, até
2025, tendo o ano de 2005 como referência (BRASIL, 2015). Além disso, a partir da NDC
brasileira, espera-se um aumento de 16,4% para aproximadamente 18% da bioenergia
sustentável na matriz energética nacional (dados referentes a 2015) até 2030. Para isso, a
Empresa de Pesquisa Energégita (EPE) prevê uma expansão do consumo de biocombustíveis,
principalmente o aumento da oferta de etanol combustível (EPE, 2016).
Devido às projeções de expansão do setor sucroenergético, com expectativa de atingir
54 bilhões de litros de etanol propostos na NDC, espera-se um aumento de praticamente 90%
da quantidade produzida na safra de 2016/20172. Portanto, para que essa expansão da
produção de etanol não provoque conversão de área de vegetação nativa ou agrícola, deve-se
priorizar o desenvolvimento de estratégias alternativas para expansão da produção de cana-de-
açúcar.
Desta forma, alguns questionamentos são relevantes: como conciliar a produção de
combustíveis à de alimentos, sem que haja competição e disputa entre essas atividades,
principalmente quanto ao uso da terra? Como atender ao aumento de demanda simultânea de
biocombustíveis e alimentos?
Dentro deste contexto, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias
Exportadoras de Carnes (ABIEC), em 1996, a atividade pecuária utilizava 183 milhões de
hectares, com uma produtividade de 1,6 arroba3 por hectare/ano. Contudo, em 2016, a
quantidade de área utilizada caiu para aproximadamente 163 milhões de hectares, com
aumento da produtividade para 3,8 arrobas por hectare/ano (ABIEC, 2016).
Com isso, nota-se que a atividade pecuária está passando por um processo de
intensificação de sua produção. A tendência é que haja liberação de área, antes utilizada pela
atividade pecuária, para expansão de outras culturas. Dessa forma, a área liberada poderá ser
aproveitada, também, para a expansão da produção de cana-de-açúcar sem causar
desmatamento, já que isso aconteceu no estabelecimento da bovinocultura.
No Brasil, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a
região Sudeste, na safra 2016/2017, foi responsável por concentrar, aproximadamente, 63%
do total da área plantada de cana-de-açúcar e aproximadamente 60% da produção do etanol
nacional. Neste sentido, destaca-se o estado de São Paulo como o maior produtor de cana-de-
açúcar e etanol da região sudeste, com participação de aproximadamente 85% e 83% do total
produzido naquela região, respectivamente (CONAB, 2017).
2 Produção de etanol total na safra 2016/2017: aproximadamente 28 bilhões de litros (CONAB, 2017). 3 Uma arroba equivale a 15 kg.
16
Sendo assim, para a presente dissertação, o estado de São Paulo foi escolhido como
objeto de análise devido à presença marcante da produção agropecuária, com concentração de
grande parte da produção de cana-de-açúcar e etanol; o estado figura entre os principais
exportadores de carne bovina do país, ao concentrar aproximadamente 26,3% (93.732
toneladas) do total brasileiro, sendo líder no setor em 2016; deve-se mencionar, ainda, as leis4
mais rigorosas que limitam a expansão de área para não provocar desmatamento (IBGE,
2016).
Ou seja, ao verificar a tendência de expansão da atividade sucroenergética, juntamente
com a projeção de intensificação da atividade pecuária e, principalmente, devido à
preocupação de não provocar o desmatamento, identificou-se a oportunidade de simular os
impactos socioeconômicos da intensificação e integração da produção de etanol e pecuária de
corte no estado de São Paulo. Existem algumas vantagens de se utilizar a técnica de
integração dessas atividades: (i) expansão de cana se dará sobre pastagens extensivas
(SPAROVEK, 2009; TAUBE et al., 2012); (ii) oferta de resíduos derivados do processamento
da cana-de-açúcar reduz o preço da ração animal (SPAROVEK, 2009); e (iii) redução de GEE
(PICOLI, 2017; SPAROVEK, 2009).
Portanto, a intensificação ou integração da produção de etanol e gado de corte pode ser
uma alternativa para ajudar a atingir as metas e compromissos assumidos pelo Brasil no
Acordo de Paris, além de promover maior eficiência do uso da terra na produção pecuária
(EGESKOG et al., 2014; SPAROVEK, 2009; TAUBE et al., 2012).
Neste contexto, a presente dissertação buscou responder as seguintes questões: Quais
são os impactos socioeconômicos na economia brasileira a partir da introdução, no estado de
São Paulo, da intensificação (em relação ao fator terra) de sistemas produtivos para a pecuária
de corte? Quais são os impactos socioeconômicos na economia brasileira, considerando-se um
cenário da integração da produção de etanol (destilarias autônomas otimizadas)5 e pecuária no
estado de São Paulo?
4 Em 2015, foi sancionada em São Paulo a Lei Estadual 15.684. A regra coloca em prática o Programa de
Regularização Ambiental (PRA), dispositivo usado para regulamentação paulista do Código Florestal Brasileiro,
aprovado em 2012. 5 Para maiores informações sobre a Biorrefinaria Autônoma Otimizada 1G, buscar BONOMI A. et al. Virtual
Biorefinery: na optimization Strategy for Renewable Carbon Valorization. Springer. 2016.
17
1.1. Objetivo Geral
A presente dissertação teve como objetivo avaliar os impactos socioeconômicos na
economia brasileira decorrentes da intensificação e da integração da produção pecuária ao
setor sucroenergético no estado de São Paulo, dentro do contexto de expansão da bioenergia
(metas propostas na NDC brasileira), juntamente com a projeção de intensificação da
atividade pecuária.
1.2. Objetivos Específicos
Para atender os objetivos deste trabalho, os objetivos específicos são:
• Caracterizar os sistemas de intensificação e integração para os setores de
pecuária e etanol no estado de São Paulo.
• Definir dois sistemas, nomeados Intensivo e Integração, considerando o
fornecimento de rações em conjunto com os coprodutos derivados da cana-de-
açúcar (bagaço e levedura).
• Após caracterizar os sistemas de pecuária e etanol, construir um modelo de
insumo-produto e analisar os impactos no estado de São Paulo, Centro-Oeste e
Resto do Brasil;
• Avaliar as seguintes variáveis: (i) nível da produção setorial, (ii) Produto
Interno Bruto – PIB, (iii) empregos e (iv) Remuneração do Fator Trabalho e
Capital, a partir da análise de insumo-produto;
• Oferecer análises dos dois sistemas delimitados, por meio dos impactos
socioeconômicos.
18
1.2. Estrutura da dissertação
Para atingir o objetivo proposto, esta dissertação foi organizada em seis capítulos, como
descrito a seguir. Além desta introdução, no Capítulo 2 foi realizada uma revisão de literatura
que trata da apresentação e da discussão sobre (i) os principais acordos de mudanças
climáticas até a Reunião de Paris (COP 21), apresentando em síntese a Contribuição
Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira, com destaque para bioenergia da cana-de-
açúcar. Nesta parte inicial também foi feita (ii) uma apresentação do dilema alimentos versus
combustíveis (iii) uma breve descrição dos setores sucroenergético e pecuário no Brasil e no
estado de São Paulo. Por último, (iv) foram levantados os aspectos relacionados à integração
cana-pecuária, direcionados para o objetivo do trabalho.
Em seguida, no Capítulo 3, foi apresentada a metodologia de pesquisa adotada neste
trabalho, com a delimitação das rotas e sistemas adotados, acompanhada de uma breve
descrição do modelo aberto de insumo-produto e do modelo didático.
No Capítulo 4 apresentam-se os resultados obtidos e a discussão dos principais
impactos socioeconômicos envolvidos nos sistemas estudados. Neste capítulo é fornecida
uma análise detalhada dos resultados no que tange às variáveis estabelecidas anteriormente.
O Capítulo 5 apresenta as principais conclusões desta pesquisa e indica possíveis
direcionamentos para futuros trabalhos.
19
2 REVISÃO DE LITERATURA
Neste capítulo discute-se a evolução do tema mudanças climáticas, o debate entre a
produção de alimentos e de combustíveis, além da importância dos setores sucroenergético e
pecuária no Brasil e no estado de São Paulo. Por último é analisado o sistema de integração
cana-pecuária.
2.1 A evolução do tema mudanças climáticas
2.1.1 Conferência ECO-92 e RIO + 20
Em 1992, a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento (CNUMAD) ganhou destaque na comunidade internacional e se tornou um
marco na direção de ações globais sobre o problema do aquecimento global e da mudança
climática. Realizada no Rio de Janeiro e denominada de ECO-92 ou RIO-92, sua
consolidação foi de extrema importância devido à divulgação de conceitos relacionados ao
meio ambiente, como desenvolvimento sustentável e conscientização da questão (OLIVEIRA,
2011).
Além disso, a ECO-92 teve um caráter especial devido à participação de uma grande
quantidade de chefes de Estado, demonstrando assim, a relevância da questão ambiental no
início dos anos 1990. Durante a RIO-92, foi elaborada a Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC - do inglês United Nations Framework
Convention on Climate Change) (LOPES, 2009).
A Convenção entrou em vigor em meados da década de 1990, juntamente com a
Conferência das Partes (COP), visto como um órgão supremo que reúne regularmente os
países que assinaram e ratificaram a Convenção6. Desde então, os países membros já se
reuniram diversas vezes em conferências realizadas, entre 1998 e 2016 (BRASIL, 2012;
ONU, 2015).
Em 2012, foi realizada a RIO + 20, a Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável que marcou os 20 anos de realização da RIO-92. O objetivo da
conferência era renovar os compromissos políticos com o desenvolvimento sustentável por
6 Um tratado internacional com compromissos para a redução da emissão de gases que agravam o efeito estufa,
com objetivo de aliviar os impactos causados pelo aquecimento global.
20
meio da avaliação dos progressos e lacunas das decisões adotadas, além de temas novos e
emergentes (BRASIL, 2012; ONU, 2015).
2.1.2 Protocolo de Quioto
Criado em 1997 como um tratado complementar a Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre Mudança do Clima, o Protocolo de Quioto define metas na tentativa de frear as
emissões dos gases responsáveis pelo aumento da temperatura global e a consequentes
mudanças do clima (perigosas para a sobrevivência da vida na Terra) (GODOY, 2009).
O Protocolo entrou em vigor somente em 2005, logo após o cumprimento das condições
de ratificação, com 55% do total de países-membros da Convenção, responsáveis por 55% do
total das emissões de 1990. Neste momento, os países estabeleceram compromissos de
redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) (ANDRADE, 2008).
Para conter o avanço do aquecimento global, autoridades e instituições organizaram
relatórios com propostas globais. As metas de diminuição da emissão de gases foram
distribuídas de maneira heterogênea entre os países participantes do anexo I7, mas de maneira
geral, previa a redução em torno de 5,2%, em relação aos níveis de 1990, para o período de
2008 e 2012 (CENAMO, 2004).
De forma auxiliar, estipularam-se três mecanismos de flexibilização: Comércio de
Emissões, Implementação Conjunta e Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL). O
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), ponto particularmente importante do
Protocolo, está relacionado a um instrumento que permite às nações industrializadas
alcançarem parte de suas obrigações por meio da implementação de projetos em países em
desenvolvimento, que reduzam ou removam as emissões de GEE (ANDRADE, 2008).
O Protocolo de Quioto firmava acordos internacionais com o objetivo de atingir,
principalmente, aqueles países industrializados do anexo I que emitem uma grande quantidade
de gases de efeito estufa. Metas foram estabelecidas, muitos países assinaram o acordo, com
aproximadamente 180 assinaturas. Mas os Estados Unidos, em 2001, se desligaram do
protocolo, alegando que a redução iria comprometer o seu desenvolvimento econômico. Por
outro lado, a ratificação da Rússia e sua consequente entrada foi um marco político
significativo (GODOY, 2009).
7 Anexo I são os países industrializados, aqueles que historicamente mais contribuíram para as mudanças no
clima e contam com maior capacidade financeira e institucional para tratar da problemática ambiental.
21
Em 2012, durante a COP 18, em Doha, quando estava prevista a finalização do Protocolo
de Quioto, foi observado que as metas propostas por diversos países não tinham sido
cumpridas e, por isso, o protocolo foi prorrogado até 2020.
2.1.3 Acordo de Paris (COP-21) e NDC brasileira
No contexto da mudança climática causada pela ação antrópica, intensificada a partir da
revolução industrial, muitos representantes de diversos países se reuniram em 2015, na
Conferência das Partes (COP 21) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre mudança
de clima (UNFCCC) e na 11ᵃ Reunião das Partes do Protocolo de Quioto (MOP-11) para
discutir medidas e intenções que tinham como objetivo mitigar as emissões de gases de efeito
estufa em nível mundial, em 2030 (ONU, 2015).
Após a reunião de Paris, ficou definida a meta de limitar o aumento da temperatura
média global abaixo de 2° C em relação aos níveis pré-industriais, buscando ainda esforços
para que o aumento da temperatura fique limitado a 1,5° C acima dos níveis pré-industriais
(BRASIL, 2015).
Na Tabela 1 encontram-se as intenções de redução de GEE dos principais países
emissores. Nota-se que ao longo dos últimos anos, houve uma evolução das discussões
relacionadas às mudanças climáticas e assuntos relacionados ao aquecimento global. Existem
ações que estão sendo direcionadas para mitigar os gases de efeito estufa (CAIT, 2015).
Os principais países emissores de GEE possuem relatórios com suas intenções de
mitigação destes gases, com metas para 2025 e 2030. Como evidenciado, grandes líderes
mundiais como China, Rússia e União Europeia estão dispostos a reduzir seus níveis de
Tabela 1 - Intenções dos principais países emissores de gases de efeito estufa (2015)
PAÍS Metas 2025 Metas 2030
CHINA
60-65% abaixo do nível em 2005
UN. EUROPEIA (28)
40% abaixo do nível em 1990
ÍNDIA
33-35% abaixo do nível em 2005
RÚSSIA
25-30% abaixo do nível de 1990
BRASIL 37% abaixo do nível em 2005 43% abaixo do nível em 2005
Fonte: Elaboração própria a partir de CAIT (2015).
22
emissões, que variam entre 25-65%, abaixo do nível em 1990/2005. No relatório de cada país
estão descritas as estratégias que serão utilizadas e outras informações consideradas
importantes (CAIT, 2015).
No dia 04 de novembro de 2016, entrou em vigor o Acordo de Paris. A partir desta data,
todos os países signatários que ratificaram o acordo devem por lei, estar comprometidos com
a tarefa de estabilizar, limitar e reduzir os impactos relacionados ao aquecimento global.
Porém, não existe sanção para punir aqueles que não cumprirem com as metas propostas
(MMA, 2017).
Após o processo de consulta pública, o Brasil que antes havia apresentado sua intenção
pretendida, ao longo de 2016 passou por ratificação e aprovação do acordo de Paris. Em
setembro de 2016, com o depósito do instrumento de ratificação do Acordo pelo Brasil, a
contribuição deixou de ser “pretendida” nos termos do parágrafo 22 da Decisão 1/CP21
(MMA, 2017) e agora passa a ser NDC (Nationally Determined Contributions).
Durante a COP 21, o Brasil assumiu o compromisso de até 2030, mitigar suas emissões
de Gases de Efeito Estufa (GEE) em 43% abaixo dos níveis de 2005 (BRASIL, 2015). Para
alcançar as metas propostas de redução das emissões, o Brasil tem como objetivo realizar o
uso sustentável da bioenergia e medidas em grande escala no setor de mudança do uso da
terra e floresta (LULUCF8 – land-use, land-use change and forestry), além do aumento da
participação de fontes de energia sem emissão ou com baixo nível de emissões de carbono.
No uso da terra, a previsão é restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de vegetação em
território nacional, além de acabar com o desmatamento (BRASIL, 2015).
No setor industrial, objetiva-se aumentar a eficiência energética e infraestrutura de
baixo carbono, com novos padrões de tecnologias limpas. No setor de transportes, também
serão utilizadas medidas de eficiência, com melhorias na infraestrutura e no transporte público
em áreas urbanas (BRASIL, 2015).
Outra iniciativa está relacionada ao aumento do uso dos biocombustíveis, que inclui o
etanol de segunda geração, embora ainda com pequena participação, e aumento da mistura do
biodiesel no diesel. Além disso, espera-se um aumento na participação de bioenergia
sustentável na matriz energética brasileira para 18%, até 2030 (BRASIL, 2015).
De acordo com o Ministério da Agricultura (MAPA, 2017), a produção de etanol a
partir da cana-de-açúcar conta com expectativas positivas para os próximos anos. Segundo a
8 Sigla do inglês, LULUCF - Land Use, Land-Use Change and Forestry, pode ser definida como um inventário
de gases de efeito estufa (GEE) que abrange as emissões e remoções de GEE resultantes do uso direto da terra,
mudanças de uso do solo e atividades florestais induzidos pela ação do homem (UNFCCC, 2017).
23
Empresa de Pesquisa Energética (EPE) a oferta de etanol para o ano de 2030 pode atingir 43 a
54 bilhões de litros (EPE, 2016).
O Brasil pretende atingir uma quota de 45% de energias renováveis na oferta primária
de energia em 2030, a partir do aumento da participação da fonte eólica, solar e bioenergia na
matriz energética brasileira. Neste sentido, as emissões de GEE pelo etanol poderiam até ser
negativas, se houvesse excedente para gerar bioeletricidade (WATANABE et al., 2015). Os
esforços serão direcionados para uma transição de sistemas de energia baseados em fontes
renováveis e descarbonização da economia mundial, em busca do desenvolvimento
sustentável.
2.2 Produção de alimentos x produção de combustíveis9
Para promover fontes de energia não petrolíferas, com foco na segurança energética, e
reduzir a dependência das importações de petróleo, além da preocupação com o aquecimento
global, países como Estados Unidos, Brasil e União Europeia tornaram-se referência na
produção de biocombustíveis, feitos de culturas alimentares (TENENBAUM, 2008).
O grande dilema alimentos versus combustíveis está diretamente relacionado ao
questionamento quanto à ética de utilizar a terra da produção de alimentos para energia,
principalmente em países em desenvolvimento como o Brasil. Dois pontos principais são
evidenciados: primeiramente, a demanda por biocombustíveis afeta o aumento de preços dos
alimentos, prejudicando pessoas pobres. O segundo ponto, leva à concorrência com a
produção de áreas agrícolas já existentes ou exige a expansão da fronteira agrícola (TOMEI et
al., 2016).
Porém, o fato de sobrar milho nos EUA, depois de atender toda a demanda, é um sinal
de que a disponibilidade de milho para alimentos não foi afetada negativamente. Além disso,
evidencia-se que a produção de milho por hectare cresce praticamente todos os anos nos
Estados Unidos (TENENBAUM, 2008; USDA, 2017).
Devido aos maiores rendimentos, melhores práticas de manejo e tecnologia, a
produção de milho americano é suficiente para satisfazer todo o mercado. De acordo com
dados extraídos do United States Department of Agriculture - USDA (2017) observa-se que a
oferta de milho americano ultrapassou a demanda em aproximadamente 2,3 milhões de
9 Food x Fuel
24
bushels em 2016/2017. Além disso, apenas 30% do milho produzido foram utilizados para a
produção de etanol.
O debate food versus fuel já esteve no centro das atenções políticas, mas está perdendo
força em todo o mundo. As usinas de biocombustíveis norte-americanas têm produzido
volumes recordes de etanol de milho e o índice de preços de alimentos da ONU está abaixo
daquele praticado em 2007, quando a produção deu um salto de crescimento (RFA, 2016).
O aumento do preço dos grãos entre 2000 e meados de 2008 coincidiu com o
crescimento da produção global de biocombustíveis. Porém, no período de 2008 e 2011,
enquanto a produção de biocombustíveis continuou a aumentar, os preços das culturas caíram,
contrariando assim, o argumento de que o aumento da produção de biocombustíveis gera um
aumento no preço das commodities (HAMELINCK, 2013).
De acordo com dados do Banco Mundial (2013), existe um conjunto de fatores que
influenciam a dinâmica de alta de preços de alimentos, tais como o baixo nível dos estoques,
problemas climáticos, aumento de demanda, aumento dos custos de produção, entre outros
fatores macroeconômicos (câmbio, preço de petróleo, inflação) (BAFFES et al., 2013).
No Brasil, a produção de etanol de cana-de-açúcar não contribuiu com o aumento de
preços das commodities alimentícias em 2008, principalmente devido ao rápido aumento da
produção de cana-de-açúcar no mercado interno e das exportações de açúcar
(SCHLESINGER, 2014).
O aumento na produção de cana-de-açúcar foi substancial o bastante para permitir que
a produção de açúcar passasse de 17,1 milhões de toneladas em 2000 para 31 milhões de
toneladas na safra 2007/2008 e, posteriormente, para 38,7 milhões de toneladas na safra
2016/2017 (CONAB, 2017). Para o caso brasileiro, deve-se ressaltar que há terra disponível
suficiente para a produção de alimento e para biocombustíveis (CGEE, 2012; NASSAR et al.,
2013).
De acordo com o diretor-geral da Organização da ONU para a Alimentação e a
Agricultura (FAO) é preciso deixar para trás o debate de “comida versus combustível” para
alimentar o debate “comida e combustível”. Para ele, graças à experiência dos últimos anos
com a tecnologia de produção, ganhos de eficiência e produtividade, os países possuem hoje
mais conhecimento para avaliar as oportunidades e medidas que implicam no melhor uso de
terras e recursos nos sistemas de produção (ONU, 2015).
25
2.3 O etanol brasileiro
O Brasil, além de ser o primeiro do mundo a produzir biocombustível através da cana-
de-açúcar como alternativa energética, domina a produção e exportação de etanol a partir
daquele insumo. O país é referência no mercado e domina todo o ciclo produtivo do etanol
(MAPA, 2017).
A liderança brasileira no segmento está diretamente relacionada às significativas
reduções nos custos de produção, principalmente após o Proálcool – Programa Nacional do
Álcool, em 1975, que resultou ganhos de produtividade e eficiências agrícolas e industriais,
com destaque para a região centro-sul (IPEA, 2016). A motivação do governo para lançar o
Proálcool estava diretamente relacionada ao peso do petróleo na balança de pagamentos do
país, que importava na época 80% do petróleo que consumia, além da questão de segurança
energética (IPEA, 2010).
Ao longo dos anos 1970, evidencia-se a crise do petróleo, ocorrida em dois momentos,
juntamente com a queda do preço internacional do açúcar. Entre 1975 e 1979, ocorreu a
primeira fase de mistura obrigatória de etanol anidro na gasolina. A segunda fase do Proálcool
vem logo em seguida, com incentivos fiscais e isenção de impostos para a produção de etanol
e carros movidos 100% a etanol hidratado (E-100) (CRUZ et al., 2012).
No final dos anos 1980, com o baixo preço do petróleo, o governo brasileiro corta o
apoio ao etanol combustível. Com isso, a produção de etanol entra em crise, principalmente
devido ao aumento de preços do açúcar, que afetou diretamente a produção do biocombustível
(CRUZ et al., 2012). A partir de 2003, os veículos flexfuel começam a ser vendidos no Brasil,
afetando positivamente o aumento da produção de etanol. A partir dos anos 2000, observou-se
um aumento significativo da produção e consumo (UNICA, 2017; CONAB, 2017), como
pode ser observado na Figura 1.
Apesar do período de euforia no começo dos anos 2000, vale ressaltar que entre 2010-
2011 a produção de etanol caiu 15%, fase denominada por incerteza e estagnação. Após a fase
de expansão caracterizada pelas vendas de etanol superiores às de gasolina, atingindo o auge
de produção em 2008, a crise financeira mundial daquele ano, iniciada nos Estados Unidos,
atinge o setor e a produção de etanol hidratado começa a declinar, caindo de 18,6 bilhões de
litros na safra de 2009-2010 para 13,96 bilhões de litros na safra de 2012-2013 (MORAES,
2014; CONAB, 2017; UNICA, 2017).
26
Figura 1 - Produção e Consumo de Etanol no Brasil, entre 1997 e 2017 Fonte: Elaboração Própria a partir de UNICA (2017).
O setor sucroenergético, por ser uma atividade agroindustrial, acaba sendo afetado pela
sazonalidade da produção da matéria-prima. Uma questão crucial para a atividade da
produção é o ciclo econômico que está subordinado ao ciclo agronômico da lavoura. Por esse
motivo, uma safra que apresenta resultados econômicos ruins, por problemas climáticos ou de
nível de preços, tem chance de se recuperar na colheita do ano seguinte caso esses fatores não
ocorram (IEA, 2016).
Por outro lado, a cana-de-açúcar é uma gramínea que pode ter vários ciclos de
desenvolvimento, caracterizada como cultura semiperene, permitindo uma média de cinco
cortes para posteriormente, ser feita a reforma canavial. De acordo com a época e região do
plantio, a primeira colheita da cana-planta pode ter um ciclo de desenvolvimento com duração
de 18 meses (cana de ano e meio) ou 12 meses (cana de ano). Após a primeira colheita, a
cana-soca passa a ter um ciclo de 12 meses, com rebrota anual da soqueira e o início de um
novo ciclo (ANTUNES et al., 2015).
Em 2010, alguns pontos foram determinantes para aprofundar a crise na agroindústria
canavieira. Primeiramente, deve-se destacar a forte elevação dos custos para produção da
cultura. Em valores aproximados, o cultivo da cana responde por 68% dos custos de produção
em toda a cadeia (XAVIER et al., 2012). De acordo com dados levantados pela União da
Indústria da Cana-de-Açúcar (UNICA), o custo nominal de produção do etanol aumentou em
70% entre 2007 e 2012.
-
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
30.000
35.000
milh
ões
de
litro
s
Produção total etanol (anidro e hidratado) Consumo Etanol Hidratado
27
Além desses, destaca-se a elevação do custo do crédito e a redução de margens, ou seja,
parte da crise que afeta a produção de etanol se deve à crise financeira mundial. A medida
externa à cadeia produtiva que mais afeta o desempenho da agroindústria canavieira é a do
controle de preços de gasolina. Apesar das dificuldades setoriais, cabem as medidas de
dinamização, com vistas à redução de custos e à adoção de novas tecnologias para o alcance
de maior produtividade (IPEA, 2016; IEA, 2016).
Em 2014, a Granbio inaugura a primeira fábrica de etanol de segunda geração (2G) no
Brasil. Após momentos de euforia e de grandes promessas inovadoras, ainda não se sabe o
real caminho do etanol celulósico. A expertise surgiu como grande aposta do setor
sucroenergético, porém ainda caminha com dificuldade (IPEA, 2016).
Devido à evolução e desenvolvimento do setor de etanol ao longo dos anos, evidencia-
se um alto grau de maturidade da tecnologia de produção da cana-de-açúcar na área agrícola.
Porém, não se podem desprezar as melhorias que foram realizadas na área industrial, como o
aumento potencial de ganhos na extração, tratamento do caldo, fermentação e destilação,
impactos ambientais, entre outros (DOMINGUES, 2015; PEREIRA et al., 2016).
Na safra 2015/2016, de acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a
produção brasileira de etanol atingiu 30 bilhões de litros, com um acréscimo de 6% se
comparado à safra 2014/2015. Somado a isso, vale ressaltar um crescimento expressivo de
34% na demanda do etanol hidratado, que atingiu 19 bilhões de litros naquele mesmo ano
(ANP, 2016; CONAB, 2017).
Segundo a EPE, estima-se que a produção de etanol de primeira geração crescerá de 29
bilhões de litros em 2014 para 54 bilhões de litros em 2030, como observado a partir da
Figura 2. Além disso, o etanol de segunda geração começará a aparecer em volumes
consideráveis a partir de 2023, atingindo 2,5 bilhões de litros no final do período (EPE, 2016).
De acordo com estimativas apresentadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, o país deve ampliar a produção de cana-de-açúcar em todos os estados
brasileiros, principalmente no estado de São Paulo (MAPA, 2017).
28
Figura 2 - Projeção da produção de etanol total no Brasil para o período de 2014 a 2030 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da EPE (2016).
A produção do setor sucroenergético no Brasil apresenta dois períodos distintos de
safra: de setembro a março, no Norte-Nordeste, e de abril a novembro, no Centro-Sul. Dessa
forma, o país produz etanol praticamente o ano todo, apesar da menor concentração produtiva
na região Norte-Nordeste.
Como apresentado ao longo desta seção, apesar da crise de 2008, o país conseguiu se
recuperar e apresenta expectativas e projeções de aumento da produção e demanda de etanol,
principalmente devido à NDC brasileira. Com a NDC e os programas de incentivo para o
setor de biocombustíveis, o objetivo é aumentar a produção de etanol em 90% em relação à
safra 2016/2017.
2.3.1 Cana-de-açúcar no estado de São Paulo
Grande parte da cana-de-açúcar nacional é produzida na região Sudeste (5.700,2 mil
hectares), que representa 63% do total da área plantada de cana-de-açúcar brasileira (9.049,2
mil hectares). Somente em São Paulo, a cana ocupou cerca de 4,7 milhões de hectares, de área
plantada na safra 2016/2017, com participação significativa de 53% da área total destinada
para cana-de-açúcar no Brasil, como pode ser observado a partir da concentração demonstrada
na Figura (CONAB, 2017).
0
10
20
30
40
50
60em
bil
hõ
es d
e li
tro
s
Ano
Produção Etanol Total
29
Figura 3- Área de cultivo de cana-de-açúcar mapeada por imagens de satélite Fonte: CONAB, 2017.
Somente em São Paulo, foram produzidas aproximadamente 360 milhões de toneladas
de cana-de-açúcar, na safra 2016/2017, que representa 56% de toda cana-de-açúcar produzida
no Brasil e 85% da produção na região sudeste (CONAB, 2017). Além disso, de acordo com
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, o valor da produção de cana-
de-açúcar em 2016, para o estado de São Paulo foi de 27 bilhões de reais, com participação de
53% no valor da produção nacional (IBGE, 2017).
De acordo com o Instituto de Economia Agrícola – IEA, a cana-de-açúcar é o principal
produto da agropecuária paulista. O estado de São Paulo tem grande representatividade na
produção total de etanol da região sudeste e brasileiro, com representatividade de 83% e 49%,
respectivamente, na safra 2016/2017, com produção de 13,7 bilhões de litros (CONAB,
2017), como pode ser observado na Figura 4.
Figura 4 - Produção total de etanol para o Brasil, Região Sudeste e estado de São Paulo
(safra 2016/2017) Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da CONAB (2017).
-
5.000.000
10.000.000
15.000.000
20.000.000
25.000.000
30.000.000
BRASIL Sudeste São Paulo
em m
il lit
ros
Produção de etanol
30
Por isso, devido à concentração produtiva da cana-de-açúcar e etanol no estado de São
Paulo e também devido à sua representatividade para a economia brasileira, este estudo teve
como foco avaliar os impactos socioeconômicos para esta região, a partir da introdução de
duas atividades mais intensivas, de pecuária e sucroenergética.
2.4 A pecuária no Brasil
Em relação à pecuária brasileira, as pastagens ocupam uma área que representa 167
milhões de hectares (LAPIG, 2016), abrigando o segundo maior rebanho de gado de corte do
mundo. Nos anos 2000, o país se consolidou como potência na produção e exportação de
carne bovina, assumindo a primeira colocação dentre os exportadores em 2004, atendendo a
demanda de 201 países (HARFUCH et al., 2016; ABIEC, 2016).
As exportações de carne bovina atingiram os US$ 5,5 bilhões, com 1,4 milhão de
toneladas. Apesar de sua heterogeneidade, a pecuária brasileira está aliada ao
desenvolvimento de novas técnicas e boas práticas nos sistemas produtivos. Os principais
destinos das exportações de carne bovina brasileira são: Hong Kong, com US$ 1,145 bilhão e
331 mil toneladas; China, com US$ 706 milhões e 166 mil toneladas; e, União Europeia, com
US$ 739,3 milhões e 117 mil toneladas (ABIEC, 2016).
O Brasil hoje é o segundo maior consumidor de carne bovina do mundo, atrás somente
dos Estados Unidos. O país produz aproximadamente 15% da carne bovina do mundo. Além
disso, projeções indicam que até 2020, o Brasil pode ser o maior produtor de carne bovina do
mundo, superando os Estados Unidos (OCDE-FAO, 2016).
Em 2016, o PIB do agronegócio alcançou R$ 1,25 trilhão, representando 20% do PIB
total brasileiro. O PIB da agropecuária representa 25% do agronegócio brasileiro. O ramo
pecuário do Brasil movimentou aproximadamente R$ 400 bilhões em 2016 (CEPEA, 2017).
Dos 29,6 milhões de animais abatidos em 2016, considerando apenas os principais estados
produtores, 60% concentram-se na região centro-sul, ou seja, aproximadamente 17,8 milhões
de cabeças foram abatidas nesta região (IBGE, 2017).
As projeções para 2027 indicam que haverá uma queda da área de pastagem para
aproximadamente 158 milhões hectares, juntamente com um aumento e intensificação da
31
produção de 9,5 milhões de toneladas para 11 milhões de toneladas, como pode ser observado
na Tabela 2, e aumento da taxa de lotação10 (MAPA, 2017).
Tabela 2 - Projeção da produção de carne bovina no Brasil (mil toneladas, 2017/2027)
Ano Projeção
2017 9.500
2018 9.374
2019 9.865
2020 10.018
2021 10.365
2022 10.542
2023 10.882
2024 10.927
2025 11.134
2026 11.248
2027 11.444
Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados do MAPA (2017).
Em um cenário de desenvolvimento sustentável, a pecuária tem que enfrentar grandes
desafios relacionados à recuperação de pastagens, redução da pressão por novos
desmatamentos, emissões de GEE e obstáculos à intensificação. Para 2030, existem previsões
de redução das áreas de pastagem no Brasil, liberando aproximadamente 15 milhões de
hectares para outras culturas, florestas plantadas e restauração sob a Lei de Proteção da
Vegetação Nativa (HARFUCH, 2016).
Em relação à produtividade, através da intensificação da pecuária, recuperação de
pastagens e adoção de boas práticas, projeções apontam que em 2030, o rebanho bovino irá
atingir em média, 6 arrobas11/hectare/ano (GTPS, 2014). De acordo com a Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), aproximadamente 95% da produção de carne no Brasil
é sob pastagem de forma extensiva, e apenas 5% é produzida sob confinamento. Estes dados
revelam o potencial de crescimento da atividade pecuária bovina brasileira (MEDEIROS et
al., 2015).
A produção de carne nos próximos anos será uma combinação entre intensiva (quando
além da pastagem e da suplementação, o regime alimentar inclui também terminação dos
10 A taxa de lotação pode ser definida como o número de animais no pasto por unidade de área em um
determinado tempo. Ou seja, a taxa de lotação é o número de animais ou unidade animal (UA, que é igual a 450
kg de peso vivo) pastejando uma unidade de área (hectare, ha). 11 A arroba (@) é uma unidade de medida equivalente a aproximadamente15kg.
32
animais em confinamento) e, ainda grande parte extensiva (quando o regime alimentar é
exclusivamente pastagem).
2.4.1 Pecuária no estado de São Paulo
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, em
2015, o rebanho do estado de São Paulo estava estimado em 10 milhões de cabeças, ocupando
a 9º posição entre os maiores estados pecuários do Brasil. Com baixa representação, de 4,80%
do rebanho do estado no total nacional, 5 milhões de hectares de pastagem são ocupados pelo
rebanho no estado paulista. Nos últimos nove anos, o crescimento do rebanho paulista obteve
queda de aproximadamente 21% (IBGE, 2016).
Em relação ao rebanho bovino brasileiro, foram abatidas aproximadamente 29,6
milhões de cabeças em todo o país em 2016, concentradas 76,6% nos estados do Mato Grosso
(15,4%), Mato Grosso do Sul (11,1%), São Paulo (9,41%), Goiás (9,5%), Pará (9,2%), Minas
Gerais (8,32%) Rondônia (7,26%) e Rio Grande do Sul (6,4%) (IBGE, 2016). Na Tabela 3,
pode-se observar a quantidade de animais abatidos e sua divisão entre os principais estados
produtores (IBGE, 2016).
Tabela 3 - Principais estados produtores de bovinos (2016)
Bovinos
Animais
abatidos
(cabeças)
%
Produção Nacional 29.668.976 100%
Principais estados produtores
Mato Grosso 4.577.459 15,43%
Mato Grosso do Sul 3.292.279 11,10%
São Paulo 2.792.350 9,41%
Goiás 2.821.463 9,51%
Pará 2.731.398 9,21%
Minas Gerais 2.469.873 8,32%
Rondônia 2.155.315 7,26%
Rio Grande do Sul 1.897.834 6,40%
Total 22.737.971 76,64%
Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados do IBGE (2016).
33
A entrada da cana-de-açúcar no estado paulista levou a uma fuga dos criadores de
gado, principalmente para a região Centro-Oeste, devido ao baixo preço da terra e clima
propício para a criação de gado (OLIVEIRA, 2014).
Apesar de pouca representatividade entre os principais estados produtores de bovinos,
o estado de São Paulo é a sede das principais indústrias frigoríficas nacionais. O estado tem
alta capacidade de abate, considerando os serviços de inspeção federal (SIF), estadual (SIE) e
municipal (SIM), ocupando a segunda posição entre os estados brasileiros, atrás somente de
Mato Grosso (IBGE, 2016).
De acordo com dados do IBGE, São Paulo tem capacidade de abater 24.308 cabeças
por dia, com participação, principalmente para os abates relacionados ao SIF, com 85%, e
14% para os abates SIE (IBGE, 2016). Além disso, o estado de São Paulo tem grande
participação nas exportações de carne bovina brasileira. Em 2016, foram exportados, a partir
do porto de Santos, aproximadamente 740 mil toneladas, correspondente a 55% das
exportações nacionais (SECEX, 2017).
2.4.2. Confinamento e alimentação animal
No Brasil, a produção do gado de corte ocorre, em sua maioria, de forma extensiva,
devido ao baixo custo de produção das forragens tropicais. Porém, os baixos índices de
desempenho dos animais (ganho de peso e conversão alimentar) e pouca energia ingerida na
fase da terminação aumenta a idade média de abate, adicionados a um acabamento de carcaça
(espessura de gordura subcutânea) ausente ou escasso, não atendendo as exigências da
indústria frigorifica (RESENDE et al., 2014).
Estratégias têm sido adotadas por criadores de todo país, buscando-se aumentar a
eficiência e a produtividade da bovinocultura de corte brasileira. O confinamento, o semi-
confinamento e a suplementação no período seco são algumas alternativas que favorecem a
redução do ciclo de produção, obtenção de um melhor acabamento de carcaça e
consequentemente uso mais sustentável da terra e dos recursos naturais (RESENDE et al.,
2014).
O número de bovinos confinados em território nacional ainda é baixo, com uma
participação de 2,41% (5,05 milhões de cabeças) (ABIEC, 2016). Porém, em longo prazo,
existe uma tendência no crescimento do número de animais confinados aumentando a
produtividade/intensificação, com redução no tempo de abate. Ou seja, a tendência para os
34
próximos anos é um crescimento do número de bovinos terminados em sistema de
confinamento ou semi-confinamento (CARVALHO et al., 2017).
O confinamento é uma alternativa que vem crescendo no Brasil e esta medida permite
a desocupação de áreas de pastagens no período da terminação. No entanto, alguns
questionamentos são levantados quanto ao uso do confinamento devido ao alto gasto com
infraestrutura, instalações, custo operacional, custo das dietas e adaptação alimentar
(CARVALHO et al., 2017).
Em um relatório divulgado pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de
Carne - ABIEC (2016) nota-se que a nutrição é o fator que representa maior participação nos
custos de uma fazenda de ciclo completo (para aquelas de maior produtividade). Por isso, o
confinamento acaba sendo um limitante na bovinocultura de corte intensiva.
Em condições de melhores preços de grãos, o uso da dieta de alto concentrado torna o
confinamento mais rentável, pois proporciona maior ganho de peso diário. Por outro lado, o
aumento no custo total da alimentação, mesmo proporcionando um melhor nível nutricional e
maior desempenho animal, pode afetar a rentabilidade da atividade (MEDEIROS et al.,
2015).
A alimentação animal é muito dependente da variação de preços dos insumos. No ano
de 2016, de acordo com o CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), a
ração animal sofreu aumento de 11,80% nos preços, principalmente devido ao aumento de
preços do milho, com variação de 49,08% em comparação com 2015, e farelo de soja. Por
isso, os produtores buscam alternativas para reduzir os custos com alimentação animal
(CEPEA, 2017).
Em relação ao "manejo alimentar" para bovinos, a dieta de um animal varia conforme
a fase de desenvolvimento e a oferta dos ingredientes disponíveis (período das águas e
escassez). Em relação ao confinamento, o Brasil confina principalmente animais na fase de
terminação, sendo necessário formular uma dieta com base na exigência do animal
(MEDEIROS et al., 2015).
A cana, neste caso, é utilizada como fonte de carboidrato, principalmente fonte de
fibra (teor de FDN – fibra em detergente neutro e FDA – fibra em detergente ácido), podendo
ser in natura, silagem ou bagaço hidrolisado. Na fase de semi-confinamento, o bagaço e
derivados da cana-de-açúcar costumam ser utilizados na época de seca/estiagem da chuva
(período de maturação e colheita da cana coincide com o de escassez de pasto), para substituir
a forragem do pasto, sendo fornecida junto com alimento concentrado (MISSIO, 2016).
35
Existem vários benefícios de se alimentar o gado com bagaço da cana e seus
subprodutos. Dentre elas, devido à alta produção de matéria seca (MS) por hectare, o que dilui
custos por unidade de MS produzida e proporciona elevada taxa de lotação animal por área.
Além disso, exige poucos tratos culturais, ou seja, relativa simplicidade no estabelecimento e
manejo da cultura e manutenção do valor nutritivo durante o período de até seis meses após a
maturação (MISSIO, 2016; ABDEL-AZIZ et al., 2015).
O bagaço de cana-de-açúcar possui baixo custo por quilo de MS produzida e pode ser
uma alternativa de menor custo para rebanhos de baixa a alta produtividade. Somado a isso,
tem grande disponibilidade na época seca, boa aceitação pelos animais quando devidamente
suplementada e, com alta capacidade suporte12. Apesar de todos estes benefícios, deve-se
ressaltar que os produtos da cana-de-açúcar possuem baixos teores de proteína, não podendo
ser utilizada como única fonte de alimento (SIQUEIRA et al., 2012).
A indústria sucroenergética nacional gera grande quantidade de resíduos,
principalmente devido à progressiva diminuição da queima da palha de cana e ao aumento da
colheita mecanizada. O uso dos resíduos na alimentação animal é uma alternativa para reduzir
custos de produção do gado de corte e, além disso, contribuir para a redução do impacto
ambiental negativo gerado pelo acúmulo desses resíduos no campo (DUARTE, 2009).
O criador de gado em condições de criação extensiva passa por um grande desafio no
período seco, devido à queda na oferta de proteína para a alimentação dos animais. Embora
exista possibilidade de recuperação do peso do animal, a partir de uma melhor alimentação no
período da chuva, esta situação retarda e dificulta o desenvolvimento do rebanho. É o
conhecido efeito “boi sanfona”, em que o gado engorda quando há chuva e emagrece na seca.
Este problema, geralmente, é enfrentado com uma suplementação alimentar (MEDEIROS et
al., 2015).
2.5 A integração cana-pecuária
A integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) é uma estratégia que busca uma produção
sustentável que integra tais atividades na mesma área, em um cultivo rotacionado,
consorciado ou em sucessão, contemplando as viabilidades econômicas e adequações
12 Capacidade de suporte refere-se à taxa de lotação em pastagem, durante um período de tempo determinado, no
qual se observa a máxima produção animal por área, sem causar a degradação da pastagem. A capacidade de
suporte das pastagens pode sofrer variações em função do solo, clima, estação do ano e espécie ou cultivar
forrageira.
36
ambientais e sociais. Dentro da estratégia de ILPF, existem quatro modalidades: integração
lavoura-pecuária (agropastoril), integração lavoura-pecuária-floresta (agrossilvipastoril),
integração pecuária-floresta (silvipastoril) e lavoura-floresta (silviagrícola) (VILELA et al.,
2011).
Os agroecossistemas do século XXI têm o grande desafio de maximizar a quantidade e
qualidade dos produtos agrícolas e, ao mesmo tempo, conservar os recursos do sistema,
reduzir a erosão e a perda de fertilidade dos solos, assim como utilizar alternativas para
mitigar as emissões de gases de efeito estufa. De acordo com a Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária - Embrapa (VILELA et al., 2011):
“O desenvolvimento agrícola sustentável depende da formulação de
uma agenda que contemple os seguintes aspectos: a) conservação da
biodiversidade e dos serviços ambientais; b) redução da poluição/contaminação do ambiente e do homem; c) conservação e melhoria
da qualidade do solo e da água; d) manejo integrado de insetos-praga,
doenças e plantas daninhas; e) valorização dos sistemas tradicionais de manejo dos recursos; f) redução da pressão antrópica na ocupação e uso de
ecossistemas e ambientes frágeis; e g) adequação às novas exigências do
mercado”.
Para Macedo (2009), os sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) são alternativas
para recuperação de áreas degradadas e que melhoram as propriedades físicas, químicas e
biológicas do solo. Nas últimas décadas, a atividade pecuária vem mudando o modelo de
produção, priorizando tecnologias intensivas em capital, que vem gerando resultados
significativos quanto ao ganho de produtividade e, consequentemente, um expressivo efeito
poupa-terra (MACEDO, 2009).
Este último efeito advindo de ganhos de produtividade na ILP, principalmente devido à
pecuária, é visto como fator-chave para potencializar a expansão de alimentos e
biocombustíveis no país com mínima pressão sobre a vegetação nativa (MACEDO, 2009).
Dentro do contexto de expansão da produção em larga escala de cana-de-açúcar e
preocupação com áreas de vegetação nativa, o sistema de integração vem para contribuir com
um modelo de desenvolvimento, com menor impacto ambiental, sem afetar a produção e
rentabilidade das duas atividades (SPAROVEK, 2009).
A partir do sistema integrado entre os setores sucroenergético e pecuária, espera-se uma
redução de área para produção animal, liberação de área para expansão da produção de cana-
de-açúcar, aumento da produtividade do rebanho, além da redução de emissões de GEE
(TAUBE et al., 2010; SPAROVEK, 2009; EGESKOG et al., 2011; NASSAR & MOREIRA,
2013).
37
A partir do estudo de TAUBE et al. (2012), alguns cenários de integração cana-pecuária
foram avaliados. Com a instalação de uma destilaria, a área de pasto seria reduzida em 30%,
considerando a mesma produção de carne. Neste cenário, para que tenha ganho de
produtividade, a ração deveria ser composta por, no mínimo, 5% de bagaço. A Figura 5
apresenta o esquema de integração considerado por TAUBE et al. (2012), excluindo o esterco
direcionado para o biodigestor, utilizado para adubo e produção de biogás.
Figura 5 - Interação entre a produção de cana-de-açúcar e pecuária Fonte: Elaboração própria a partir de Taube et al. (2012).
Destaca-se que, do total de terra disponível, parte é utilizada para produção de cana-de-
açúcar, parte para pastagem. Do total destinado para a destilaria, uma pequena parte é
utilizada para produção de soja/ milho, que são utilizados na suplementação da alimentação
bovina. O bagaço hidrolisado, juntamente com os ingredientes (soja/milho) produzidos, será
destinado para o gado em confinamento (TAUBE et al., 2012).
Devido à intensifcação da produção de carne, o tempo médio de abate pode diminuir.
De forma conclusiva, TAUBE et al. (2012), evidencia que mesmo sem considerar outras
técnicas de melhoria da pecuária (como adubação do pasto , outros suplementos, entre outros)
é possível manter a produção de carne mesmo com a expansão da área ocupada pela cana-de-
açúcar.
Além disso, destacam que a integração traz benefícios para ambas as atividades como
melhoria dos indicadores zootécnicos pecuários, adubação com biofertilizantes e ganhos
financeiros. De acordo com TAUBE et al. (2010), existe a oportunidade do fornecimento de
Terra
Produção de cana -
de-açúcar
Destilaria Confinamento
Gado (venda
de lotes) Pastagem
Rotação de culturas
(soja/milho)
38
ração completa à base de resíduos processados da cana-de-açúcar, como o bagaço hidrolisado,
levedura e melaço.
Os benefícios envolvidos no sistema de integração estão relacionados à sua totalidade,
ou seja, a eficiência coletiva das duas atividades degrada menos os recursos naturais se
comparado à atuação independente de cada uma das partes. A integração de energia e
alimentos é considerada uma alternativa promissora para a expansão da demanda por
biocombustíveis e segurança alimentar (SPAROVEK, 2009; SPAROVEK et al., 2008).
A integração cana-pecuária é um arranjo produtivo que busca garantir maior produção
de cana-de-açúcar, aliada a uma significativa redução de área necessária para produção de
carne. A proposta desta integração é vincular a produção de energia à de alimentos
(SPAROVEK, 2009; TAUBE et al., 2010; EGESKOG et al., 2011; MATHEWS et al., 2015).
A melhor forma de realizar este tipo de integração é por meio da usina, que já está
plenamente desenvolvida e disponível. Para isso, haveria a necessidade de adaptação na
planta da indústria canavieira para a produção de ração destinada ao gado, a partir dos
resíduos do processo de produção sucroenergético (SPAROVEK et al., 2008).
A principal fonte para ração a ser utilizada é o bagaço. Por meio da hidrólise com
pressão de vapor, o bagaço da cana-de-açúcar sofre uma alteração digestível, elevada de 30%
para 65%, tornando-se o principal ingrediente da ração. Ao combinar o bagaço com outros
resíduos, como a levedura13, torta de filtro, vinhaça, bagaço cru e suplementado com proteínas
e minerais, o bagaço hidrolisado pode ser utilizado como parte da ração para gado de corte
(SPAROVEK, 2009).
A partir deste modelo de sistema integrado aproximadamente 17,59 milhões de hectares
de pastagens degradadas poderiam ser intensificadas e melhor utilizadas (TAUBE et al.,
2010).
Com base em dados de 2012, a alimentação com bagaço hidrolisado tem um custo em
confinamento menor se comparada com a alimentação com silagem de milho. As duas dietas
possuem os mesmos nutrientes quanto ao concentrado proteico, alterando apenas as
quantidades. Ao utilizar o bagaço hidrolisado, o custo total por arroba é de 63,60 R$/arroba,
frente a 81,92 R$/arroba da dieta com silagem de milho (considerando também os custos
operacionais) (ANUALPEC, 2013).
13 A levedura é um dos componentes da ração utilizada no confinamento do bovino de corte, porém alguns
cuidados devem ser tomados para evitar a intoxicação por álcool etílico (BRUST, 2011) e, além disso, alta
dosagem que podem causar problemas no desempenho produtivo em ruminantes (SARTORI, 2016).
39
Porém, para viabilizar a integração, ainda existem alguns desafios. Entre eles, a
necessidade de intensificar a produção pecuária, com elevação do nível tecnológico, ou seja,
devem ser feitos investimentos para a melhoria e capacitação técnica, para que haja posterior
ganho de eficiência no sistema (SPAROVEK, 2009).
De acordo com PICOLI (2017), mesmo após identificar possível atratividade econômica
e ambiental, os principais desafios estão relacionados ao diálogo entre os setores envolvidos e
os usos alternativos do bagaço de cana-de-açúcar, principalmente cogeração de energia, que
pode ser o grande concorrente direto para viabilidade deste modelo de integração.
A integração cana-pecuária pode ser apontada como uma das alternativas para garantir a
sustentabilidade de ambos os setores. Através dessa integração, espera-se uma redução da
área de criação animal, liberação de área para produção de cana-de-açúcar ou outras
atividades, aumento de produtividade e rentabilidade do rebanho, além da redução de
emissões de gases de efeito estufa e emissões indiretas do uso da terra (ILUC), dependendo da
categoria de impacto analisada (PICOLI, 2017).
40
3 METODOLOGIA
Este terceiro capítulo tem como objetivo apresentar a metodologia utilizada neste
trabalho, além do modelo básico de insumo-produto, assim como os sistemas, rotas
tecnológicas e premissas consideradas neste estudo.
3.1 Modelo básico de insumo-produto
O modelo de insumo-produto formulado por Wassily Leontief busca analisar a
interdependência da economia de uma forma sistêmica e prática através de equações lineares,
que tem como objetivo descrever e interpretar operações em termos de relações estruturais
básicas observáveis. O modelo descreve o fluxo monetário entre os setores produtivos da
economia, ou seja, as relações inter-setoriais da cadeia produtiva (CUNHA, 2011).
De acordo com Leontief:
“A análise de Insumo-Produto é uma extensão pratica da teoria clássica de interdependência geral que vê a economia total de uma região, um país ou
mesmo do mundo todo como um sistema simples, e parte para descrever e
para interpretar a sua operação em termos de relações estruturais básicas
observáveis” (Leontief, 1987, p. 860).
O sistema produtivo da economia de um país é composto por setores produtivos,
pertencentes a uma rede, que se relacionam e interagem entre si. A cadeia produtiva às vezes
pode ser complexa e diversificada, dependendo do seu estágio de desenvolvimento (CUNHA,
2011).
Porém, para enxergar a economia de maneira simplificada, basta observar os fluxos que
entram e saem do processo produtivo. Recursos naturais e fatores primários de produção
(capital e trabalho) entram na cadeia produtiva e, após todo o processo, saem bens e serviços
para atender à demanda final (o consumo das famílias, o consumo do governo, a formação
bruta de capital fixo (investimento em bens de capital) e as exportações, identificada com a
letra Y na matriz (GUILHOTO, 2011).
Leontief conseguiu realizar a construção de uma “fotografia econômica”. Com isso,
mostrar como os setores estão relacionados entre si, ou seja, quais setores suprem e/ou
compram serviços e produtos de outros setores. O resultado foi demonstrar como a economia
41
funciona e como os setores se relacionam de forma mais ou menos dependente uns dos outros
(CUNHA, 2011).
A produção de bens e serviços afeta diretamente o uso dos recursos naturais e os fatores
primários. Mesmo com a mesma estrutura da demanda final, combinações de arranjos
tecnológicos diferentes podem impactar de forma divergente as entradas na cadeia produtiva.
O aumento da demanda final por um determinado produto pode, também, causar um “efeito
cascata” em todos os outros setores produtivos (MILLER et al., 2009).
Para exemplificar, considera-se o aumento das exportações por um determinado
produto, designado, por exemplo, de produto 1. Para atender este aumento inicial, o setor que
produz o produto 1 vai aumentar sua produção, requerendo, para isto, outros bens e serviços
como insumos diretos que são produzidos por outros setores da cadeia produtiva. Estes
fornecedores diretos de insumos irão consumir outros bens e serviços em seus processos de
produção, causando um efeito indireto sobre o aumento da produção de outros setores. O
“efeito cascata” se prolonga para outros setores, gerando mais efeitos indiretos dentro da
cadeia produtiva.
Para compreender o modelo de forma didática, pode-se utilizar a economia agregada de
2011, com apenas três setores. A explicação a seguir tem como objetivo auxiliar na
compreensão do funcionamento do modelo, de uma forma mais simples, para proporcionar
uma melhor leitura e entendimento. Primeiramente, a Tabela 4 apresenta de forma
esquemática um exemplo de uma tabela de insumo-produto para a economia com três setores.
Tabela 4 - Exemplo esquemático de uma tabela de insumo-produto com três setores
Setor
1
Setor
2
Setor
3
Consumo
Famílias Governo Investimento Exportações Total
Setor 1 Z11 Z12 Z13 C1 G1 I1 E1 X1
Setor 2 Z21 Z22 Z23 C2 G2 I2 E2 X2
Setor 3 Z31 Z32 Z33 C3 G3 I3 E3 X3
Importação M1 M2 M3 MC MG MI
M
Impostos T1 T2 T3 TC TG TI TE T
Valor
Adicionado W1 W2 W3
W
Total X1 X2 X3 C G I E
Fonte: Elaboração própria a partir de Guilhoto (2011).
Sendo que:
Zij é a produção do setor i que é utilizada como insumo intermediário pelo setor j;
42
Ci é o consumo doméstico das famílias dos produtos do setor i;
Gi é o gasto do governo junto ao setor i;
Ii é a demanda por bens de investimento produzidos no setor i;
Ei é o total exportado pelo setor i;
Xi é o total de produção doméstica do setor i;
Ti é o total de impostos indiretos líquidos pagos por i;
Mi é a importação realizada pelo setor i;
Wi é o valor adicionado gerado pelo setor i;
De acordo com Guilhoto (2011), a partir da Tabela 4, pode se generalizar para n setores,
obtendo:
𝑋𝑖 = ∑ 𝑍𝑖𝑗 + C𝑖 + G𝑖 + I𝑖 + E𝑖𝑛𝑗=1 (1)
i = 1, 2, ..., n
A Equação (1) evidencia que o valor da produção (Xi) corresponde à soma dos insumos
que o setor i destina a todos os setores produtivos da economia, para que estes realizem suas
produções (Zij), o consumo doméstico das famílias dos produtos do setor i (Ci), ao gasto do
Governo junto ao setor i (Gi), à demanda por bens de investimento produzidos pelo setor i (Ii)
e ao valor total exportado pelo setor i (Ei) (CUNHA, 2011).
A Demanda Final (Y) é composta por: consumo das famílias (C), consumo do governo
(G), exportações (E) e investimentos (I). O valor adicionado (VA) corresponde à soma entre a
remuneração do fator trabalho, remuneração do fator capital, impostos indiretos líquidos e dos
impostos e subsídios líquidos sobre a produção (CUNHA, 2011). Por isso, a Equação (1) pode
ser escrita como:
𝑋𝑖 = ∑ 𝑍𝑖𝑗 + 𝑌𝑖𝑛𝑗=1 para 1 ≤ i ≤ n (2)
Após a apresentação do modelo esquemático da matriz de insumo-produto para uma
economia com três setores, a Tabela 5 ilustra as transações inter-setoriais agregadas da
economia brasileira, também com três setores, entre eles agropecuária, transformação e
serviços, para 2011. Todos os valores estão expressos em R$ bilhão.
43
Tabela 5 - Tabela de transações para a economia brasileira em 2011
Brasil - 2011 (R$
bilhão) S1 S2 S3
Dem. Final
(Y) X
S1 - Agropecuária 17 165 14 137 333
S2 - Transformação 75 1,043 325 1,730 3,173
S3 - Serviços 27 533 870 2,504 3,934
Valor Adicionado
(VA) VA VA VA
XT 333 3,173 3,934
Fonte: Elaboração própria a partir de IBGE (2011)14
Os setores produtivos estão identificados por S1 – Agropecuária; S2 – Transformação e
S3 – Serviços. Cada setor produtivo da economia, para realizar sua produção, utiliza insumos
fornecidos tanto por outros setores da economia doméstica quanto das importações e, além
disso, remunera o fator trabalho e capital. O valor da produção de um setor é igual à soma de
todas as suas despesas, como pode ser observado na Tabela 5 através dos vetores X e XT
(CUNHA, 2011).
Ainda na Tabela 5, os setores (S1, S2 e S3) estão identificados tanto nas colunas quanto
nas linhas. Os valores representados em suas colunas correspondentes devem ser interpretados
como as despesas de cada setor para tornar possível sua produção. Os valores representados
nas linhas correspondentes referem-se às receitas devido o fornecimento de insumos a outros
setores bem como para atender a demanda final (CUNHA, 2011).
Ao olhar para a coluna S2, setor de transformação, lê-se que este setor utilizou R$ 165
bilhões de insumos do setor da agropecuária (S1), R$ 1,043 bilhões do próprio setor da
transformação (S2) e R$ 533 bilhões do setor de serviços (S3). Somado a estes gastos, deve-se
considerar o valor adicionado R$ 214 bilhões. Logo, o total das despesas realizadas pelo setor
S2 foi de R$ 3,173 bilhões.
Por outro lado, ao observar a linha correspondente do mesmo setor da transformação
(S2), nota-se que o setor S1 consumiu R$ 75 bilhões de insumos do setor S2, que também
pode ser interpretado como o valor fornecido pelo setor da transformação. Além disso, o setor
S2 consumiu R$ 1,043 bilhões do próprio setor e o setor S3 consumiu R$ 325 bilhões do setor
S2.
14 As transações foram calculadas agregando-se a matriz de insumo-produto em apenas três setores, a partir de
dados das Tabelas de Recursos e Usos, do IBGE (2011).
44
Ainda na mesma linha, observa-se que o setor S2 forneceu R$ 1,730 bilhões para a
demanda final (soma do consumo das famílias e resto da demanda final). Logo, de maneira
resumida, pode-se destacar que os valores encontrados na linha correspondente de cada setor
referem-se às receitas daquele setor em função das vendas realizadas para outros setores
produtivos (S1 a S3) e para atender à demanda final.
Ao somar todas as receitas do setor S2, obtém-se R$ 3,173 bilhões; este valor deve ser
igual ao das despesas (ou valor da produção) do próprio setor, identificados como X e XT. Na
condição de equilíbrio econômico, a soma de todas as despesas deve ser igual à soma de todas
as receitas.
Para facilitar a interpretação da Tabela 5, deve-se considerar que os setores
identificados nas colunas são aqueles que estão consumindo os insumos fornecidos pelos
setores identificados nas linhas. Ou seja, os setores localizados nas linhas são aqueles de
origem das transações e os das colunas são os destinos destas transações.
Ainda na mesma tabela, cada um dos elementos será identificado por zij, sendo i
referente à linha e j à coluna. Os valores destacados em amarelo formam uma submatriz
identificada como consumo intermediário, pois identifica as transações entre os setores
produtivos.
De modo geral, o coeficiente técnico direto de produção aij, identificado como os
insumos fornecidos pelo setor i ao setor j para a produção de R$ 1,00 do setor j é definido por
(CUNHA, 2011):
aij =zij
Xj (3)
Sendo:
Matriz A = [aij] identificada como a matriz de coeficientes diretos de insumo.
A partir da Equação (3), temos que zij = aij . Xj e, substituindo na Equação (2),
obtém-se:
∑ 𝑎𝑖𝑗. 𝑋𝑗 + 𝑌𝑖 = 𝑋𝑖𝑛𝑗=1 para 1 ≤ i ≤ n (4)
O sistema de equações (4) pode ser escrito na forma matricial como:
A.X + Y = X (5)
A Equação matricial (5) pode ser resolvida para X em função de Y, com a produção
total que é necessária para satisfazer a demanda final, ou seja:
45
X = (I – A)-1.Y (6)
Onde I é a matriz identidade de ordem n e L = (I – A)-1 é conhecida como matriz inversa
de Leontief ou, simplesmente, inversa de Leontief, como pode ser visto a seguir:
(I – A)-1 =
1,076 0,087 0,0140,385 1,561 0,1670,195 0,346 1,322
A Equação (6) fornece o valor da produção de cada um dos setores para atender à
demanda final por um ou mais setores, isto é, para concretizar sua produção, o setor 1 utiliza
insumos dos setores 2 e 3. A partir da matriz (I – A)-1, pode-se obter o valor da produção de
todos os setores considerando tanto os efeitos diretos quanto os indiretos de toda a cadeia
produtiva para atender à demanda final. Para isto, subtraindo a Matriz A da matriz identidade
(I) e, posteriormente, calculando sua inversa, encontramos a inversa de Leontief (L)
(GUILHOTO, 2011).
Nota-se que a Equação (6) é uma ferramenta valiosa para avaliar o impacto na produção
de todos os setores da economia em função do choque realizado para atender à demanda final
de um ou mais setores. Neste estudo, foi utilizada a Equação (6), que de forma simplificada
pode ser descrita como X = L X F.
Modificações no modelo de Insumo-produto foram motivadas para uma análise
econômica em nível regional que pudesse refletir as peculiaridades da região em foco
(MILLER et al., 2009). A partir da análise inter-regional, é possível verificar a
interdependência ou nível de interações entre as regiões com a análise de seus fluxos de bens
e serviços.
Em Insumo-Produto são geralmente utilizadas duas hipóteses relacionadas ao modo de
produção e participação das indústrias no mercado: tecnologia baseada no produto15 e
tecnologia baseada na indústria16. Nesta análise existe a possibilidade de combinar as duas
tecnologias.
15 Nota-se que a hipótese de tecnologia baseada no produto pressupõe que a estrutura tecnológica para produzir
um determinado produto é a mesma, em relação à proporção dos insumos usados para sua produção,
independentemente do setor que o produza. Ao operar com este tipo de tecnologia, uma atividade econômica
com fabricação de diversos produtos, irá produzi-los em proporções constantes (CUNHA, 2011). 16 De acordo com Cunha (2011), a hipótese da tecnologia baseada na indústria pressupõe que um setor possui a
mesma estrutura tecnológica, no que diz respeito aos insumos usados sobre o valor de sua produção setorial,
46
Essas hipóteses podem, no mesmo modelo, combinar de tal modo que parte dos
produtos ou setores pode usar uma ou outra abordagem (CUNHA, 2011). Cunha (2005)
propõe a construção de um modelo de insumo-produto com tecnologia mista, com o mesmo
número de setores e produtos. Para este estudo, foi utilizado este tipo de tecnologia mista.
3.2. Modelo didático
Na seção anterior foram apresentadas as concepções básicas do modelo aberto de
insumo-produto, usando como exemplo uma tabela de transações simples (Tabela 5) para
economia doméstica, agregada em três setores produtivos. Nesta seção, para melhor
entendimento do funcionamento da hipótese de tecnologia mista, apresenta-se a seguir um
modelo didático simplificado, que representa o modelo implementado neste estudo, porém
com menor número de equações e variáveis. A partir do modelo didático foi possível avaliar o
fechamento do modelo e identificar as variáveis endógenas e exógenas.
A matriz de uso (U), representada na Tabela 6 considera um modelo com 9 setores e
13 produtos. O modelo desenvolvido para este estudo deve estar adequado para inserir na
economia diferentes cadeias produtivas do setor sucroenergético e sistemas de pecuária.
Nesse sentido, o tema tratado requer que o modelo de insumo-produto, usado para calcular os
impactos de diferentes cenários seja capaz de avaliar a combinação das hipóteses
tecnológicas, baseada na indústria e no produto.
Como análise prévia do modelo final, foi elaborado um modelo didático, com um
número menor de setores e produtos e consequentemente, com menos variáveis e equações.
Como evidenciado na Tabela 6, estão descritos do seguinte modo: S1 – Biorrefinaria; S2 –
Produção de Milho; S3 – Pecuária Intensificada Integrada; S4 – Produção de Farelo de Soja;
S5 – Produção de Ureia; S6- Produção de Suplemento Mineral; S7 – Resto de Geração
Eletricidade; S8 – Mistura de eletricidade; S9 – Outros setores.
Os produtos produzidos, neste modelo, são: P1 – Etanol; P2 – Bioeletricidade; P3 –
Levedura da cana; P4 – Bagaço; P5 – Milho; P6 – Silagem de Milho; P7 – Bovinos; P8 –
Farelo de soja; P9 – Ureia; P10 – Suplemento Mineral; P11 – Resto Geração Eletricidade;
P12 – Eletricidade Total; P13 - Outros produtos.
independentemente do mix de produção em relação aos produtos produzidos. Com isso, ao operar com esse tipo
de tecnologia, existe a possibilidade de uma atividade econômica alterar a proporção dos produtos produzidos
sem alterar a proporção dos insumos utilizados em relação ao valor da produção da atividade.
47
Tabela 6 - Modelo Didático - Matriz de Uso (U)
Matriz de Uso (U) Biorrefinaria
Prod.
Milho
Pecuária
Intensificada
Integrada
Prod. Farelo
de
soja
Prod.
Ureia
Prod.
Suplem.
Min.
Resto
Ger.
Eletr.
Mistur.
de
eletr.
Outros
setores
Demanda
Final
Demanda
Total
S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 E Q
Etanol P1 u1,1 u1,2 u1,3 u1,4 u1,5 u1,6 u1,7 u1,8 u1,9 E1 Q1
Bioeletricidade P2 u2,1 u2,2 u2,3 u2,4 u2,5 u2,6 u2,7 u2,8 u2,9 E2 Q2
Levedura da
cana P3 u3,1 u3,2 u3,3 u3,4 u3,5 u3,6 u3,7 u3,8 u3,9
E3 Q3
Bagaço de
cana-de-açúcar P4 u4,1 u4,2 u4,3 u4,4 u4,5 u4,6 u4,7 u4,8 u4,9
E4 Q4
Milho P5 u5,1 u5,2 u5,3 u5,4 u5,5 u5,6 u5,7 u5,8 u5,9 E5 Q5
Silagem de
milho P6 u6,1 u6,2 u6,3 u6,4 u6,5 u6,6 u6,7 u6,8 u6,9
E6 Q6
Bovinos P7 u7,1 u7,2 u7,3 u7,4 u7,5 u7,6 u7,7 u7,8 u7,9 E7 Q7
Farelo de soja P8 u8,1 u8,2 u8,3 u8,4 u8,5 u8,6 u8,7 u8,8 u8,9 E8 Q8
Ureia P9 u9,1 u9,2 u9,3 u9,4 u9,5 u9,6 u9,7 u9,8 u9,9 E9 Q9
Suplem. Min. P10 u10,1 u10,2 u10,3 u10,4 u10,5 u10,6 u10,7 u10,8 u10,9 E10 Q10
Resto Ger.
Eletr. P11 u11,1 u11,2 u11,3 u11,4 u11,5 u11,6 u11,7 u11,8 u11,9
E11 Q11
Eletricid. Total P12 u12,1 u12,2 u12,3 u12,4 u12,5 u12,6 u12,7 u12,8 u12,9 E12 Q12
Outros
produtos P13 u13,1 u13,2 u13,3 u13,4 u13,5 u13,6 u13,7 u13,8 u13,9
E13 Q13
Importação Imp1 Imp2 Imp3 Imp4 Imp5 Imp6 Imp7 Imp8 Imp9 ImpE ImpQ
Valor Adicionado VA1 VA2 VA3 VA4 VA5 VA6 VA7 VA8 VA9 VAE VAQ
X X1 X2 X3 X4 X5 X6 X7 X8 X9
Fonte: Elaboração Própria a partir de CARDOSO (2014).
Na matriz U, temos que:
ui,j = valor que o setor j utiliza de insumos do produto i para realizar sua produção
Xj = valor da produção do setor j
Ei = demanda final do produto i
Qi = demanda total do produto i
Ao somar os elementos uij da Matriz U com o elemento Ei, ao longo da linha i, obtém-
se o valor do produto i produzido pela economia doméstica (Qi), que é utilizado no consumo
intermediário e consumido na demanda final. Essa igualdade pode ser descrita através da
equação (CARDOSO, 2014):
∑ 𝑢𝑖𝑗 + 𝐸𝑖 = 𝑄𝑖9𝑗=1 (7)
48
Sendo 1 ≤ i ≤ 13
A partir dos elementos da Matriz U, podem ser calculados os coeficientes técnicos
diretos do consumo intermediário para cada setor produtivo como (CARDOSO, 2014):
bi, j =ui,j
𝑋𝑗 (8)
O número bi,j pode ser interpretado como o valor que o setor j utiliza de insumo do
produto i para produzir uma unidade monetária. Esse coeficiente é similar ao coeficiente ai,j
definido anteriormente, com a diferença que este último representa o valor que o setor j utiliza
de insumo do setor i para produzir a mesma quantidade monetária. Com isso apresenta-se, a
seguir, a matriz de coeficientes técnicos diretos dos setores em termos dos produtos usados
como insumos (CARDOSO, 2014): B = [bi,j]
Da Equação (8), temos que ui.j = bi,j . Xj (9)
Dessa forma, a partir das equações (8) e (9), temos que
∑ 𝑏𝑖, 𝑗 . 𝑋𝑗 + 𝐸𝑖 = 𝑄𝑖9𝑗=1 (10)
Para 1 ≤ i ≤ 13
Na tabela de recursos, a principal informação refere-se à matriz de produção,
identificada por V, que aponta o valor da produção de cada setor em relação aos produtos
produzidos. Normalmente, um setor produz mais do que um produto. Porém, a maior parcela
da produção de um setor concentra-se nos produtos que o caracterizam (CUNHA, 2005).
Na Matriz de Produção V, um elemento vi,j indica o valor que o setor i produz do
produto j; ci,j representa o valor da produção do produto j pelos setores S1 (Biorrefinaria) e S2
(Produção de Milho) e, a multiplicação di,j . Qj equivale à produção dos produtos dos setores
S3 a S9. Para melhor entendimento dos conceitos, considere-se a matriz de produção V, dada
por (Tabela 7):
49
Tabela 7 - Modelo didático - Matriz de produção V
Fonte: Elaboração Própria a partir de CARDOSO (2014).
A soma das colunas da matriz V resultará no vetor com o valor da produção dos
setores, identificado como vetor X. De forma matricial, tem-se que:
X = V.
11…1
= V.i (11)
Por outro lado, a soma das colunas da matriz transposta de V resultará no vetor com o
valor da produção dos produtos, identificado como Q. De forma matricial, tem-se que:
Q = VT.
11…1
= VT.i (12)
Para a tecnologia baseada na indústria, supõe-se que a participação de cada setor no
mercado de produção, de cada produto produzido por ele mesmo, é constante. Ou seja, na
matriz de produção V, ao dividir os elementos de uma coluna j qualquer pela sua soma (pelo
EtanolBioeletri
cidade
Levedura
da cana
Bagaço
de canaMilho
Silagem
de
milho
BovinosFarelo
de sojaUreia
Suplem.
Min.
Resto
Ger.
Eletr.
Eletricid.
Total
Outros
produtos
P 1 P 2 P 3 P 4 P 5 P 6 P 7 P 8 P 9 P 10 P 11 P 12 P 13
Biorrefinaria S 1 c1,1X1 c1,2X2 c1,3X3 c1,4X4 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Prod. Milho S 2 0 0 0 0 c2,5X5 c2,6X6 0 0 0 0 0 0 0
Pecuária
Intensificada
Integrada
S 3 d3,1Q1 d3,2Q2 d3,3Q3 d3,4Q4 d3,5Q5 d3,6Q6 d3,7Q7 d3,8Q8 d3,9Q9 d3,10Q10 d3,11Q11 d3,12Q12 d3,13.Q13
Prod. Farelo
de sojaS 4 d4,1Q1 d4,2Q2 d4,3Q3 d4,4Q4 d4,5Q5 d4,6Q6 d4,7Q7 d4,8Q8 d4,9Q9 d4,10Q10 d4,11Q11 d4,12Q12 d4,13Q13
Prod. Ureia S 5 d5,1Q1 d5,2Q2 d5,3Q3 d5,4Q4 d5,5Q5 d5,6Q6 d5,7Q7 d5,8Q8 d5,9Q9 d5,10Q10 d5,11Q11 d5,12Q12 d5,13Q13
Prod.
Suplem.
Min.
S 6 d6,1Q1 d6,2Q2 d6,3Q3 d6,4Q4 d6,5Q5 d6,6Q6 d6,7Q7 d6,8Q8 d6,9Q9 d6,10Q10 d6,11Q11 d6,12Q12 d6,13Q13
Resto Ger.
Eletr.S 7 d7,1Q1 d7,2Q2 d7,3Q3 d7,4Q4 d7,5Q5 d7,6Q6 d7,7Q7 d7,8Q8 d7,9Q9 d7,10Q10 d7,11Q11 d7,12Q12 d7,13Q13
Mistur. de
eletr.S 8 d8,1Q1 d8,2Q2 d8,3Q3 d8,4Q4 d8,5Q5 d8,6Q6 d8,7Q7 d8,8Q8 d8,9Q9 d8,10Q10 d8,11Q11 d8,12Q12 d8,13Q13
Outros
setoresS 9 d9,1Q1 d9,2Q2 d9,3Q3 d9,4Q4 d9,5Q5 d9,6Q6 d9,7Q7 d9,8Q8 d9,9Q9 d9,10Q10 d9,11Q11 d9,12Q12 d9,13Q13
Matriz V
50
valor da produção do produto j (qj)), têm-se como resultado uma coluna cujos valores
representam a participação da produção de cada setor no produto j (CUNHA, 2005).
A partir da Matriz V (Tabela 7), há 7 equações com tecnologia baseada na indústria e
6 equações com tecnologia baseada no produto. Dessa forma, a partir de (10), (11) e (12),
temos um sistema linear com 26 equações, que corresponde ao modelo didático elaborado
para este estudo, como pode ser observado na Tabela 8.
Tabela 8 - Estrutura de equações e variáveis do Modelo Didático
Fonte: Elaboração Própria.
Para o modelo didático foram consideradas 35 variáveis (Xi, Qi, Ei variáveis, com j =
1, ... 9 e i = 1, ... 13) e 26 equações independentes considerando, necessariamente, 9 variáveis
exógenas e 26 endógenas. De acordo com Cunha (2011), a escolha das variáveis exógenas
deve ser adequada ao que se pretende avaliar com o modelo. Neste caso, o fechamento do
modelo deve fazer sentido econômico e permitir uma solução matemática.
Dessa forma, as variáveis exógenas escolhidas foram (todas para demanda final):
bagaço de cana-de-açúcar (E4), milho (E5), bovinos (E7), ureia (E9), suplemento mineral (E10),
resto de geração elétrica (E11), eletricidade total (E12) e outros produtos (E13). As demais
variáveis são obtidas de forma endógena pelo próprio sistema.
O modelo implementado é inter-regional (Figura 6), que permite avaliar os impactos
socioeconômicos no estado de São Paulo e outras regiões do Brasil. O modelo apresenta troca
de relações entre as regiões, exportações e importações, através dos fluxos de bens e serviços
destinados para o consumo intermediário e também para a demanda final (GUILHOTO,
2011)17.
17 Para maiores informações relacionadas à construção do modelo de insumo-produto ou detalhes metodológicos,
consultar: “Avaliação socioeconômica e ambiental de rotas de produção de biodiesel no Brasil, baseada em
Equações 26
B.X+E=Q 13
Q=CT.X 6
X=D.Q 7
Variáveis 35
X1 a X9 9
Q1 a Q13 13
E1 a E13 13
Var. Exógenas 9
Var. Endógenas 26
51
Figura 6 - Relações de Insumo-Produto Inter-regional Fonte: Guilhoto (2011).
O modelo inter-regional, segundo Guilhoto (2011), pode ser apresentado através de
fluxos monetários inter-setoriais e inter-regionais de bens para as regiões L e M,
hipoteticamente com 2 setores, que deve ser construído da mesma forma ao exposto para o
modelo nacional (de uma região). Desta forma é possível obter a matriz de coeficientes
técnicos diretos inter-regionais, o vetor de demanda final e o vetor com o valor da produção.
3.3 Rotas tecnológicas e Sistemas
Os modelos de negócios considerados neste estudo, para a pecuária intensiva, pecuária
integrada e biorrefinaria foram extraídos em grande parte de PICOLI (2017). Quando
necessário, foram feitos ajustes e outras considerações. A seguir, estão descritas as premissas
e cálculos adotados neste estudo.
análise de insumo-produto”, CUNHA (2011) ou “Análise de insumo-produto: Teoria, fundamento e aplicações”,
Guilhoto (2011).
52
Os principais norteadores para os cálculos de área de pastagem são (PICOLI, 2017):
(i) a atividade pecuária não deve expandir sobre outras terras (sem ter mudança de uso da
indireta - iLUC); (ii) sem causar desmatamento; e, (iii) garantir a produção de alimentos.
Ao considerar que nos próximos anos haverá aumento da produção de etanol e, com
isso, expansão da cana-de-açúcar, para garantir a sustentabilidade desta expansão, o cálculo
para delimitação da área total foi feito a partir dos seguintes critérios (PICOLI, 2017):
(1) Não haverá mudança indireta do uso da terra associada à Equação 1:
Área total = Área carne, inten + Área usina + Área grãos Equação 1
(2) Não haverá alteração na oferta de carne bovina.
Produtividade carne, ext x Área total = Produtividade carne, int x Área carne, int Equação 2
Em relação à área direcionada para grãos, foram calculadas considerando a relação
entre quantidade de grãos requerida nos sistemas intensivos e suas respectivas produtividades,
como detalhado na Equação 3.
(3) Área grãos = ∑ 𝐐𝐮𝐚𝐧𝐭𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 𝐚𝐧𝐮𝐚𝐥 𝐫𝐞𝐪𝐮𝐞𝐫𝐢𝐝𝐚 𝐠𝐫ã𝐨𝐬,𝐢
𝐏𝐫𝐨𝐝𝐮𝐭𝐢𝐯𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 𝒈𝒓ã𝒐𝒔
Equação 3
Além disso, considerou que a área industrial da usina, juntamente com a área de reforma
representa, aproximadamente, 10% da área ocupada com cana-de-açúcar. Para o cálculo da
área agrícola, pode-se evidenciar a partir da Equação 4 a relação entre a quantidade de cana-
de-açúcar processada e sua produtividade.
(4) Área usina = 1,10 x 𝐐𝐮𝐚𝐧𝐭𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 𝐚𝐧𝐮𝐚𝐥 𝐩𝐫𝐨𝐜𝐞𝐬𝐬𝐚𝐝𝐚 𝐜𝐚𝐧𝐚
𝐏𝐫𝐨𝐝𝐮𝐭𝐢𝐯𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 𝒄𝒂𝒏𝒂
Equação 4
A partir de uma área extensiva inicial de 55.000 hectares (calculada), deveriam ser
produzidas 121.000 arrobas de carne por ano, com um rebanho estabilizado de 58.854
cabeças. A área intensificada e de integração foram delimitadas a partir de um cálculo de
igualdade, de acordo com a produtividade da fazenda. Para isso, a área total multiplicada por
53
2,2 arrobas por hectare deveria ter como igualdade a multiplicação de 6,6 arrobas por hectare
pela área destinada para produção de carne no sistema intensificado (Equação 2).
Com a intensificação da produção pecuária, a área utilizada para produção de carne
reduz para 18.333 hectares, agora com 37.650 cabeças, 5.075 em confinamento (machos de 1
a 2 anos). Dessa forma, parte da área (36.667 ha) é liberada para produção de cana-de-açúcar
e construção de uma nova usina com ou sem integração.
Destaca-se que a quantidade de 37.650 animais, se refere ao rebanho total dos
sistemas, considerando oito categorias de animais (vaca boiadeiro, vaca de cria, novilha de 1 a
2 e de 2 a 3 anos, bezerro e bezerra, macho de 1 a 2 anos e touro). A quantidade total de
arrobas produzidas pela fazenda, de 121.000 arrobas, inclui tanto os animais em confinamento
quanto vacas de “descarte” e touros.
A dieta balanceada foi formulada de acordo com o National Research Council (NRC,
2016), a partir de consulta com especialista Murilo Garret Santos (2016), doutorando em
Ciência Animal e Pastagens, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - ESALQ.
Além disso, para validação dos sistemas utilizados e das premissas adotadas, as
referências dos seguintes estudos foram consultadas: TAUBE et al. (2010), EGESKOG et al.
(2011), PICOLI (2017) e SARTORI (2016). Neste estudo, foi considerado o bagaço in natura
como parte do volumoso e não o bagaço hidrolisado devido à inviabilidade econômica, com
aumento de custo da nutrição animal (PICOLI, 2017).
Vale destacar que o custo com cerca e outros investimentos para a atividade pecuária
intensificada estão sendo contabilizados no coeficiente técnico referente ao fator capital, na
matriz de insumo-produto. Além disso, foi adotada como premissa que a atividade pecuária já
estaria intensificada, com produção da mesma quantidade de carne em menor área.
Isto foi feito para que os dois sistemas de pecuária pudessem ser comparados na
mesma base, com diferenciação apenas quanto à alimentação bovina, que passaria a utilizar
produtos e subprodutos da cana-de-açúcar. Com isso, no cálculo para o sistema de pecuária,
não foi incluída a renda adicional com arrendamento em relação ao fator terra, diferente do
praticado e considerado por SPAROVEK et al. (2008).
Após a introdução de parte do sistema de pecuária, na Tabela 9 encontra-se a dieta
convencional utilizada no primeiro sistema, nomeado Intensivo. Esta dieta tem como
formulação: volumoso a base de silagem de milho, somado ao concentrado de milho em grão,
farelo de soja, levedura de cerveja, ureia e mineral, para sistema de pecuária intensivo. Para
esta dieta, o ganho de peso diário (GDP) é de 1,26 kg/animal/dia.
54
Tabela 9 - Dieta para o Sistema Intensivo (S1)
Dieta 1
Quantidade por
animal/dia (kg)
Silagem de milho 3,5
Milho 5,25
Levedura de cerveja 0,008
Farelo de Soja 0,5
Ureia 0,1
Sal Mineral 0,25
Total 9,608 kg/animal
Fonte: Elaboração Própria (2017)
Na Tabela 10, encontra-se a dieta com subprodutos da cana-de-açúcar utilizada no
segundo sistema, nomeado Integração. A dieta está balanceada à base de bagaço in natura e
levedura de cana, somado ao concentrado (milho em grão, farelo de soja, ureia e mineral),
com GDP de 1,29 kg/animal/dia.
Para ambos os sistemas, considera-se que parte do gado de corte fica em sistema de
confinamento, com 5.075 animais, por 120 dias, em fazenda de ciclo completo (cria-recria-
engorda). Além disso, deve-se evidenciar que o peso inicial e final do animal é o mesmo para
as duas dietas.
Tabela 10 - Dieta subprodutos da cana-de-açúcar - Sistema Integração (S2)
Fonte: Elaboração própria (2017)
A dieta deve estar balanceada de acordo com as necessidades diárias do animal, a base
de fonte de proteína, fibras, carboidrato, energia e mineral. As duas dietas contemplam as
necessidades diárias de nutrientes para alimentação do gado e contemplam desempenho
semelhante.
Neste estudo, o objetivo é utilizar os produtos da cana (bagaço e levedura de cana-de-
açúcar), adicionado a um concentrado, para substituir a alimentação convencional (silagem de
Dieta 2
Quantidade por animal
(kg)
Bagaço in natura 2
Milho 7,1
Levedura de cana 0,008
Farelo de Soja 0,5
Ureia 0,15
Sal Mineral 0,25
Total 10,008 kg/animal/dia
55
milho somado ao concentrado), ambos em confinamento. As dietas foram formuladas a fim de
explorar o potencial do bagaço in natura como fonte de fibra para estimular a atividade
ruminal em dietas com alta proporção de concentrado.
Para contabilizar todas as entradas de insumos, considera-se também a suplementação
mineral-proteica, que deve ser utilizada para suprir os nutrientes minerais necessários para
corrigir as deficiências em macro e micronutrientes. Com isso, evita-se principalmente no
período de seca, a perda de peso e promove ganhos moderados ou, pelo menos, a manutenção
de peso dos animais (RESENDE et al., 2014).
Esta fase é anterior ao período de engorda e confinamento. Todos os insumos dos
sistemas introduzidos na matriz de insumo-produto, considerados neste estudo, pecuária
intensiva, pecuária integrada e biorrefinaria, encontram-se na sessão de estruturação do
modelo.
Para este estudo, considerou-se como componente único do suplemento mineral o sal
cloreto de sódio (NaCl). Segundo PICOLI (2017), esta suplementação ocorre durante todo o
ano, em 100% do rebanho, de todas as categorias, com um consumo de 30 gramas cabeça -
1/dia-1 para o sistema intensivo.
Em relação à levedura de cana-de-açúcar e levedura de cerveja18 (Saccharomyces
cerevisiae), existem estudos que evidenciam os efeitos da suplementação sobre o ganho de
peso médio diário em bovinos de corte. A utilização de aditivos na nutrição visa melhorar o
desempenho produtivo principalmente sobre os parâmetros ruminais, intensificando a
atividade microbiana e como consequência, aumentando a sua eficiência digestiva
(SARTORI, 2016).
No entanto, existem divergências quanto à quantidade ideal para introdução de
leveduras na fase de suplementação do gado de corte em confinamento. No entanto, de acordo
com Neumann et al. (2013), os bovinos confinados que receberam o volumoso a base de
silagem somado ao concentrado, com aditivo de 8g/animal/dia de leveduras observaram maior
ganho de peso diário.
Por isso, tanto para o sistema de pecuária intensivo quanto para o sistema de pecuária
integrado foram considerados 8 g/animal/dia. A diferença entre eles é que para o primeiro
sistema, foram utilizadas somente levedura de cerveja e para o segundo, apenas levedura de
cana-de-açúcar.
18 As principais fontes de leveduras para o emprego na nutrição animal são as destilarias de álcool e as fábricas
de cerveja que as utilizam na fermentação alcoólica, sendo recuperadas através do processo de centrifugação e,
após secas e moídas, são destinadas a suplementação animal passando-se a se chamar “leveduras de
recuperação”.
56
O confinamento animal, ainda pouco praticado no Brasil, pode utilizar várias
combinações de ingredientes para alimentação do gado. Porém, nota-se que os produtos mais
utilizados na composição da alimentação são milho, sorgo, farelo de soja, farelo de algodão,
silagem de milho, silagem de sorgo, casca de soja, caroço de algodão e polpa cítrica. Em
algumas situações, produtos agroindustriais podem ser vistos como alternativa,
principalmente quando apresentarem viabilidade técnica, proximidade do local e custo
favorável (GOMES et al, 2015).
Os parâmetros técnicos considerados para este estudo, durante o período de
confinamento, estão representados na Tabela 11. Nota-se que para ambos os sistemas, o peso
inicial e final são iguais, em quilo de peso vivo por cabeça (kg pv/cabeça), evidenciando que
as duas dietas atingem o mesmo objetivo de engorda.
Tabela 11 - Parâmetros técnicos durante a fase de confinamento
Parâmetros
técnicos Unidade
Sistema
Isolado
Sistema
Integrado
Duração Dias 120 120
Consumo kg/cabeça/dia 9,608 10,008
N° animais cabeças/ano 5.075 5.075
Peso Inicial kg pv/cabeça 400 400
Peso Final kg pv/cabeça 550 550 Fonte: Elaboração própria
Para todos os sistemas, a produção de bovinos de corte envolve as fases de cria, recria
e engorda (ciclo completo)19. Apesar de envolver as três fases, o foco para este estudo, está na
fase de engorda do animal. Com isso, na Tabela 12, encontram-se as descrições consideradas
para os dois sistemas de produção pecuária, com base em PICOLI (2017). Ambos os sistemas
estão intensificados (suplementação e confinamento), com igual produção, produtividade,
tamanho do rebanho, idade de abate, área de pastagem e taxa de lotação.
19 Para maiores detalhes ver Anexo A.
57
Tabela 12 - Descrição dos sistemas de produção pecuária
Sistema Isolado e Integração
Sistema Ciclo Completo
Subsistema Intensivo
Produtividade 6,6 @/ha/ano
Produção20 121.000 @/ano
Rebanho estabilizado 37.650 cabeças/ano
Idade de abate 23 meses
Área de pastagem 18.333
Taxa de lotação21 1,05 UA/ha
Suplementação Suplemento Mineral + proteinado + ração
Engorda Confinamento Fonte: Elaboração própria a partir de PICOLI (2017)
Após a apresentação das caracterizações dos modelos de pecuária considerados neste
estudo, são descritas, a seguir, as premissas/escopo para a atividade sucroenergética. Os dados
referentes à etapa agrícola foram os mesmos encontrados no setor de cana-de-açúcar da matriz
de Recursos e Usos do IBGE. Por isso, não sofreram alterações. Para a fase industrial, para
produção de etanol, os dados foram àqueles considerados por PICOLI (2017). Porém,
extraídos de Dias et al. (2016), que realizou simulações na Biorrefinaria Virtual de Cana-de-
açúcar (BVC), desenvolvida pelo Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do
Bioetanol - CTBE.
Para o setor sucroenegético, considera-se a destilaria autônoma otimizada, o padrão
tecnológico adotado na construção de novas plantas (CAVALLET, 2012), ou seja, a cana-de-
açúcar processada é utilizada exclusivamente para a produção de etanol. A produção de
bioeletricidade pode variar de acordo com o sistema de cogeração empregado. Neste caso, a
caldeira utilizada para produzir eletricidade com queima de bagaço é de 65 bar.
Para a fase industrial, após o processo de limpeza da cana-de-açúcar, ela é picada e
submetida à moagem, onde o caldo da cana é extraído através de moendas e difusores. Nesta
etapa o bagaço é disponibilizado logo após esta separação entre caldo e fibra (PICOLI, 2017).
Com isso, a produção de bagaço pode variar de 240 a 280 quilos por tonelada de cana
moída. Esta quantidade é direcionada, através de esteiras rolantes, às caldeiras como
combustível para gerar energia necessária no processamento da cana (PICOLI, 2017).
20 Quantidade total de arrobas produzidas: soma entre boi, vaca boiadeiro (“descarte”) e touro. 21 Taxa de lotação: Número de Unidade Animais (UA) por hectare, sendo que 1 UA é igual a 450 kg de peso
vivo.
58
Os parâmetros operacionais e de processo da destilaria considerados neste estudo
podem ser evidenciados a partir da Tabela 13.
Tabela 13 - Características da Destilaria Autônoma Otimizada
Parâmetros técnicos Unidade
Usina Autônoma
Otimizada 1G
Ciclo médio de produção ano 5
Capacidade de processamento anual t/ano 2,7x106
Capacidade de processamento diário t/dia 15.000
Dias efetivos de processamento dias 180
Produção de etanol litros/ano 230x106
Produtividade etanol litros/TC 85,4
Eletricidade excedente GWh/ano 500-502
Produtividade energia kWh/TC 185,8
Produtividade da cana t/ha/ano 81,71
Operação horas/dia 24
Área total hectares 36.113
Fonte: Elaboração Própria a partir de PICOLI (2017)
Para os valores apresentados, vale destacar que a usina opera 24 horas por dia, durante
180 dias (devido ao aproveitamento industrial de 86%, considerando 210 dias de operação, de
abril a novembro). A produção de etanol anidro pode chegar a aproximadamente 230 milhões
de litros por ano e a produção de eletricidade excedente sofre alteração entre 500-502 GWh
por ano22, de acordo com o direcionamento e uso do bagaço, que pode ser utilizado para
produzir energia ou destinado à alimentação animal.
Em relação à produção de eletricidade excedente, ao direcionar o bagaço para
alimentação animal, parte da eletricidade deixa de ser produzida. Neste caso, considerou-se
que uma parte do bagaço, em suas respectivas formulações nutricionais, foi direcionada para
alimentação animal. Ou seja, se todo o bagaço for utilizado para produzir bioeletricidade, a
produção atinge 502 GWh por ano (PICOLI, 2017). Se parte for direcionada para alimentação
animal, a produção cai para 500 GWh por ano.
Em relação à área, de 36.667 hectares, considera-se que é composta por 90% de área
agrícola e 10% industrial (somado à área de reforma, com rotação de produção de cana). A
capacidade de processamento adotada foi de 2,7 milhões de toneladas ao ano e o rendimento
do processo de 85,4 litros de etanol por tonelada de cana moída. Para a destilaria adotada, são
22 Para os dados de caracterização da pecuária foi utilizada a fonte Comunicado Técnico da Embrapa (COT102,
para sistema intensivo).
59
produzidos em média 260 quilos de bagaço por tonelada de cana-de-açúcar (matéria úmida);
uma tonelada de cana gera 185,8 KWh; e, com processamento de 625 toneladas de cana-de-
açúcar por hora.
De acordo com a CONAB (2017), aproximadamente 30% das usinas localizadas no
estado de São Paulo possuem capacidade de moagem de cana-de-açúcar entre 2 e 3 milhões
de toneladas e apresentam um rendimento médio similar ao aqui adotado.
Vale destacar que a integração aqui avaliada refere-se à oferta de bagaço de cana-de-
açúcar, por parte da usina, para alimentação de gado de corte em confinamento. Apesar da
liberação de área, devido à intensificação da atividade pecuária, não se considera integração
de área, apenas “retirada da cerca”, para interação das duas atividades, sucroenergética e
pecuária.
Após apresentadas as caracterizações dos sistemas, em seguida encontram-se as rotas
tecnológicas e premissas:
1. O primeiro sistema nomeado Intensivo, com sistema de pecuária isolado,
considera que a produção de etanol não está integrada com a atividade pecuária, ou
seja, todo excedente de bagaço é ofertado para produção de bioeletricidade. A
alimentação do gado é convencional, com ração obtida a partir da cadeia da soja e
milho, com o volumoso a partir da silagem de milho (utiliza a dieta 1). A Figura 6
ilustra como está dividida a área e evidencia que não existe interação entre as duas
atividades.
Figura 7 - Sistema Intensivo (S1)
Fonte: Elaboração própria.
2. O segundo sistema, nomeado Integração, considera que a produção de etanol está
integrada com a atividade pecuária (utiliza a dieta 2), ou seja, parte do bagaço
deixa de gerar bioeletricidade e passa a ser utilizado para complementar a nutrição
animal, substituindo a silagem de milho, como pode ser visto na Figura 7.
1/3 Área Total
Atividade
Pecuária
2/3 Área total
Atividade
Sucroenergética
60
Figura 8 - Sistema Integração (S2) Fonte: Elaboração própria.
A partir das figuras anteriores, nota-se que dentro do escopo deste estudo, considera-se
uma área de pecuária já intensificada e por isso, não será analisada a liberação de área para
expansão de cana. Ou seja, a integração da produção de etanol e gado de corte se refere à
oferta de bagaço e levedura para alimentação animal. Além disso, nota-se que a área (em
hectares) destinada para as atividades pecuária e sucroenergética não sofreram alteração.
Neste caso, ao direcionar parte do bagaço para alimentação animal, será suposta a
substituição de bioeletricidade a base de bagaço de cana-de-açúcar por eletricidade a partir do
resto de geração de energia elétrica. Além disso, supõe-se que ao utilizar o bagaço in natura
para alimentação animal, será reduzida a produção de ração devido à substituição por
produtos e subprodutos da cana-de-açúcar (trade-off).
3.4 Construção do Modelo
Nesta seção, serão apresentadas as premissas adotadas para elaboração e construção do
modelo. Para este estudo, a economia está desagregada de forma inter-regional, dividido entre
São Paulo (SP), Centro-Oeste (CO) e Resto do Brasil (RB), foi desenvolvido a partir de uma
matriz com 162 setores em toda economia, sendo 54 setores para cada região analisada e 185
produtos, sendo 65 para o estado de São Paulo, 60 produtos para a região Centro-Oeste e 60
para o Resto do Brasil, tendo como base as contas nacionais de 201123.
23 A priori, não existem limitações ao se utilizar a matriz do ano de 2011. Devido à dificuldade de agregar e
desagregar setores na matriz, de tê-las em âmbito inter-regional e a falta de disponibilidade de matriz da forma
que abrange o objetivo do estudo, foi selecionado aquela que mais se aproxima às necessidades e realidade para
âmbito dessa pesquisa. Contudo, importante destacar que a matriz de insumo-produto de 2011 atende ao objetivo
aqui proposto e não distorce a realidade brasileira de hoje, principalmente nos setores analisados.
1/3 Área Total
Atividade
Pecuária
2/3 Área Total
Atividade
Sucroenergética
61
3.4.1 Sistema Intensivo (S1)
Todas as alterações descritas, a seguir, partiram da matriz V de produção e foram
feitas somente para o estado de São Paulo, de acordo com o objetivo deste estudo. Para esta
região foram incluídos cinco novos produtos: levedura de cana-de-açúcar, bagaço de cana-de-
açúcar, silagem de milho, levedura de cerveja e geração total de eletricidade.
Além disso, para a construção do primeiro sistema, foram incluídos três novos setores
na economia: Biorrefinaria, Pecuária intensiva e a Misturadora da Geração de Eletricidade.
Nas Tabelas 14 e 15 estão identificados os níveis de desagregação dos setores e produtos
adotados, respectivamente, no modelo de insumo-produto, para atender os objetivos
propostos.
Tabela 14 - Nível de desagregação dos setores adotados no modelo de Insumo-Produto
Fonte: Elaboração Própria.
Biorrefinaria Produtos de madeira, exclusive móveis
Pecuária Intensiva Celulose e papel
Outros da agricultura Serviços de impressão e reprodução
Milho em grão Refino de petróleo e coquerias
Cana-de-açúcar Biodiesel B100 e outros biocombustíveis
Soja em grão Outros produtos químicos
Outros animais vivos, prods. animal, caça e serv., leite de outros animais Adubos e fertilizantes
Bovino para leite Defensivos agrícolas e desinfestantes domissanitários
Aves Artigos de borracha e plástico
Produtos da produção florestal - florestas plantadas Produtos de minerais não-metálicos
Produtos da produção florestal - florestas nativas Siderurgia
Pesca e aquicultura (peixe, crustáceos e moluscos) Produtos elétricos e eletrônicos
Carvão mineral Tratores, máquinas e equipamentos mecânicos
Minerais não metálicos Automóveis, caminhões, ônibus, peças e outros equip. transporte
Petróleo e Gás Natural Móveis e indústrias diversas
Minério de ferro Manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos
Minerais metálicos não ferrosos Resto da geração de energia elétrica
Abate de reses exceto suínos e fabricação de produtos de carne Mistur. de eletr.
Abate de outros animais Transmissão e distribuição de energia elétrica
Preservação do pescado e fabricação de produtos do pescado Gás natural, outras utilidades, água, esgoto e reciclagem de resíduos
Laticínios Construção civil
Açúcar Comércio
Outros produtos alimentares Transportes
Fabricação de óleos e gorduras vegetais e animais Armazenamento e correio
Fabricação de alimentos para animais Intermediação financeira, seguros e previdência complementar
Fabricação de produtos têxteis Serviços privados
Artigos do vestuário e calçados Serviços públicos
62
Tabela 15 - Nível de desagregação dos produtos adotados no modelo de Insumo-Produto
Fonte: Elaboração Própria.
Como procedimento para reproduzir ou construir o sistema de referência e após
introduzir o setor de pecuária intensiva, os produtos secundários produzidos pelo setor bovino
de corte foram realocados para os outros setores que os tem como produção primária. Isso
também foi feito para o setor do etanol e da geração de eletricidade a partir da cana-de-açúcar.
Como critério inicial para reprodução do modelo, o Produto Interno Bruto (PIB) pela
ótica da demanda final deveria ser conservado, mantendo a mesma quantidade produzida de
etanol e de carne na economia paulista. As alterações estão relacionadas somente ao sistema
de produção.
Etanol Produtos têxteis
Bioeletricidade Artigos do vestuário e calçados
Levedura da cana Produtos de madeira, exclusive móveis
Bagaço Celulose e papel
Outros da agricultura Serviços de impressão e reprodução
Silagem de milho Outros do refino
Milho em grão Gasoálcool
Cana-de-açúcar Diesel - biodiesel
Soja em grão Gasolina automotiva ou para outros usos, exceto para aviação
Bovino Biodiesel B100 e outros biocombustíveis
Outros animais vivos, prods. animal, caça e serv., leite de outros animais Outros produtos químicos
Leite de vaca Adubos e fertilizantes
Aves e ovos Defensivos agrícolas e desinfestantes domissanitários
Produtos da produção florestal - florestas plantadas Medicamentos para uso veterinário
Produtos da produção florestal - florestas nativas Artigos de borracha e plástico
Pesca e aquicultura (peixe, crustáceos e moluscos) Produtos de minerais não-metálicos
Carvão mineral Siderurgia
Minerais não metálicos Produtos elétricos e eletrônicos
Petróleo e Gás Natural Tratores, máquinas e equipamentos mecânicos
Minério de ferro Automóveis, caminhões, ônibus, peças e outros equip. transporte
Minerais metálicos não ferrosos Móveis e indústrias diversas
Carne de bovinos e outros prod. de carne Manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos
Carne de outros animais Resto da geração de energia elétrica
Pescado industrializado Eletricid. Total
Leite resfriado, esterilizado e pasteurizado Transmissão e distribuição de energia elétrica
Outros produtos do laticínio Gás natural, outras utilidades, água, esgoto e reciclagem de resíduos
Açúcar Construção civil
Levedura de cerveja Comércio
Outros produtos alimentares Transportes
Óleo de soja em bruto e tortas, bagaços e farelo de soja Armazenamento e correio
Óleo de soja refinado Intermediação financeira, seguros e previdência complementar
Rações balanceadas para animais Serviços privados
Serviços públicos
63
Com isso, para calcular a quantidade de arrobas produzida no estado paulista, partiu-se
da produção de R$ 1,72 bilhão, de bovinos em São Paulo, encontrada na matriz de produção.
Este valor foi dividido pelo preço da arroba, de R$ 101,7424, que resulta em 16,91 milhões de
arrobas produzidas pela região do estado de São Paulo.
Para o cálculo de silagem de milho necessária neste modelo de pecuária intensiva, foi
considerado que cada animal consome 3,5 kg de silagem por dia, durante um período de 120
dias. Ou seja, serão necessários 420 kg de silagem por animal/ano, considerando o período de
confinamento.
Neste modelo, cada animal, sai do período de confinamento com 550 kg de peso vivo
(pv)25. Para converter o valor em kg de peso vivo para arrobas, foi feito o seguinte cálculo: os
550 kg de pv ou peso bruto do animal foi dividido por 30, considerando 50% de rendimento
de carcaça26 (ANDRADE et al. (2005). Com isso, a quantidade em arrobas é de 18,33. Como
cada animal consome 420 kg de silagem de milho por ano e como cada animal tem 18,33
arrobas, são consumidos no total, 22,91 kg de silagem por arroba/ano.
Para encontrar a quantidade necessária de silagem para produzir o total de arrobas no
estado de São Paulo, foram multiplicadas as quantidades anuais de silagem por arrobas
(22,91) pela quantidade de carne produzida de arrobas em São Paulo, chegando a 387,3 mil
toneladas de silagem para este sistema de pecuária intensiva.
Para obter a quantidade em valor monetário, para ser introduzido no modelo, o total de
silagem utilizada no estado paulista (387,3 mil toneladas), foi multiplicada pelo preço da
silagem de milho, de 36,70 R$/tonelada (ANUALPEC, 2012). Com isso, chegou-se ao valor
da demanda por silagem de 14,2 milhões de reais. Vale ressaltar que a silagem de milho está
desagregada do setor milho e, na economia paulista, está sendo toda consumida pela pecuária
intensiva.
Para a levedura de cerveja, partiu-se da produção total de cerveja no Brasil, em 2011,
de 13,74 bilhões de litros (CERVIERI JUNIOR et al., 2012), cuja participação do estado de
São Paulo corresponde a 24% da produção nacional, com 3,298 bilhões de litros, de acordo
com a Associação Brasileira de Indústria da Cerveja (CervBrasil).
Em seguida, adotou-se um fator médio de 2,25 kg de levedura por 100 litros de cerveja
produzida (média de 1,5 a 3 kg, segundo MATHIAS, 2014). Dessa forma, seriam produzidas
24 Indicador Boi Gordo Esalq/BM&FBovespa. Preço do boi gordo para 2011 (CEPEA, 2016). 25 O peso vivo de um bovino refere-se ao total pesado em balança, o peso total do animal. 26 Ao transformar o peso vivo em arrobas, se faz referência ao peso da carcaça (carne com o osso), que
representa algo em torno de 50% do peso vivo do boi. Os outros 50% referem-se ao couro, sebo, sangue, entre
outros. Por representar aproximadamente 50% do peso do animal, para o cálculo da quantidade de arrobas, a
quantidade do boi em kg de peso vivo pode ser dividida por 30. .
64
de forma estimada no estado de São Paulo, aproximadamente 74,2 mil toneladas de levedura
de cerveja residual.
Para incluir a quantidade produzida de levedura de cerveja no modelo, considerou-se
um preço básico de 2,1 R$/kg27, que multiplicado a produção deste produto no estado de São
Paulo, resultou num valor da produção de 155,846 milhões de reais. A produção da levedura
de cerveja está sendo desagregada do produto “outros produtos alimentares”.
Em relação à biorrefinaria foi mantida a demanda final por etanol e eletricidade.
Porém, o etanol é produzido a partir de uma biorrefinaria que oferta mais excedente de
eletricidade de cana-de-açúcar do que o observado em 2011, principalmente devido a maior
eficiência industrial da biorrefinaria introduzida no modelo.
Nesse sentido será ofertada maior quantidade de eletricidade da cana-de-açúcar e
menor do setor “resto da geração”. Com isso, foi necessário retirar uma quantidade do
produto “resto da geração de eletricidade” para que não seja colocada eletricidade adicional
na economia.
Dessa forma, foram retirados aproximadamente 25,93 TWh, constituído
principalmente por hidroeletricidade. Por isso, no estado de São Paulo, de toda a geração de
eletricidade, 49% (em valor monetário) derivam da bioeletricidade enquanto os outros 51% do
“resto da geração de eletricidade”.
Como o preço da bioeletricidade é maior do que o “resto da geração de eletricidade”,
isso significou aumentar o valor da geração total de energia elétrica no estado de São Paulo
em 385,284 milhões de reais. Isso significa um acréscimo de 5,84 R$/MWh no preço da
geração de energia elétrica em SP (um acréscimo de 3,85% no preço da geração somente no
estado de São Paulo).
Porém, destaca-se que a quantidade produzida de eletricidade não sofreu alteração.
Apenas foram feitos ajustes para reequilibrar a economia. No final do processo, não foram
ofertadas quantidades adicionais dos produtos. Apenas inseridos os novos setores mais
intensivos, tanto a biorrefinaria quanto a pecuária.
Para a matriz de uso, foram feitas as mesmas movimentações de inclusão e exclusão
dos setores e produtos realizados na matriz de produção. Apenas com uma ressalva, todos os
setores que antes consumiam do “resto da geração de eletricidade” (somado a Geração de
energia elétrica (cana)) agora consomem eletricidade total.
27 Preço básico (exclui valores de importação, impostos indiretos, margem de transporte e margem de comércio)
(CUNHA, 2011) extraído da Pesquisa Industrial Anual (PIA) de 2011 (IBGE, 2011), ao dividir o valor da
produção pela quantidade produzida.
65
Após a realização dos ajustes mencionados, foram definidos os coeficientes técnicos
diretos de produção. Para isso, todos os insumos dos novos setores incluídos no modelo, entre
eles a pecuária intensiva, pecuária integrada e biorrefinaria foram extraídos, em sua maioria,
de PICOLI (2017). Algumas adaptações foram feitas28, principalmente quanto à dieta para
alimentação do gado em confinamento.
Para definição dos coeficientes técnicos, partiu-se de um valor da produção a preço de
consumidor29 que depois foi convertido a preço básico doméstico. O procedimento de
definição dos coeficientes técnicos para o total das importações, dos impostos indiretos
líquidos - IIL (ICMS, IPI, Imposto de importação e outros impostos), as margens de comércio
e as margens de transporte, foram utilizadas as proporções dos produtos similares,
encontrados na Tabela 1 de Recursos do IBGE.
Para definir a quantidade de mão-de-obra, remuneração do fator trabalho, além do
excedente operacional bruto e rendimento misto bruto para o setor da pecuária intensiva,
foram feitos alguns cálculos a partir da Tabela 2 de Usos do IBGE e também a partir de dados
encontrados no ANUAPEC (2012), em especial para a remuneração do fator trabalho.
Para o modelo de negócios, da atividade pecuária, adotado neste estudo, foram
considerados 61 empregos, com remuneração de um salário médio mínimo mensal de R$
544,17, em 2011, para cada trabalhador. Apesar da baixa quantidade de pessoas empregadas
na fazenda, a remuneração por emprego da pecuária intensiva é 21,6% maior do que a
observada na pecuária paulista.
Neste caso, a pecuária é menos intensiva no fator trabalho do que a média da pecuária
paulista, ao utilizar menor quantidade de pessoas para produzir o mesmo milhão de reais, com
o mesmo output. O cálculo para subsídio à produção foi realizado a partir do valor da
produção da fazenda, incluindo todas as despesas do setor.
Para compor o valor da produção da biorrefinaria no Sistema Intensivo (S1), como
pode ser observado a partir da Tabela 16, foram considerados dois outputs, o etanol e a
bioeletricidade excedente. A produção de etanol é de 230 milhões de litros, considerando um
preço básico de R$ 1,414 por litro, e a produção de bioeletricidade de 502.000 MWh, ao
28 O coeficiente técnico de transmissão e distribuição de energia elétrica para pecuária intensiva foi o mesmo
praticado para o setor da pecuária no Estado de São Paulo, em 2011. 29 O preço de consumidor de um produto (ou serviço) é dado pela soma de seu preço básico com os respectivos
valores de importação, impostos indiretos, margem de transporte e margem de comércio.
66
preço aproximado de R$ 166,12 MWh30 (IMEA, 2016). O valor da produção total é de
aproximadamente R$ 408,5 milhões.
Tabela 16 - Valor da Produção para o Sistema Intensivo (S1)
Fonte: Elaboração Própria.
Para os coeficientes técnicos da biorrefinaria o procedimento ocorreu de forma similar.
Os insumos foram direcionados para setores similares que mais se aproximavam, devido ao
nível de desagregação. Além disso, o total das importações, impostos e entre outros foram
calculados a partir de produtos similares encontrados na Tabela 1 de Recursos do IBGE,
assim como o procedimento realizado para o sistema de pecuária intensiva.
Os coeficientes técnicos da remuneração do fator trabalho e capital para a biorrefinaria
foram feitos de forma diferente. De acordo com Dias et al. (2016), o custo com o fator
trabalho na destilaria autônoma otimizada 1G é de aproximadamente 2,3% dos custos totais.
Em relação aos salários, foi considerado o valor retirado da Matriz de Uso, do setor de
etanol, praticado em 2011, de R$ 3085,72 por empregado/mês. Por isso foi adotada esta
porcentagem como coeficiente técnico para a remuneração do fator trabalho. Para o
Excedente operacional bruto e rendimento misto bruto, o cálculo foi feito por diferença,
subtraindo todos os outros coeficientes encontrados.
Para definição dos coeficientes técnicos do sistema de pecuária intensiva e da
biorrefinaria, foram considerados os insumos e preços (consumidor e básico) encontrados nas
Tabelas 17 e 18.
30 O preço básico do etanol foi obtido através da razão entre o valor da produção do produto etanol, encontrado
na Matriz de Produção do IBGE e a quantidade produzida (em litros) de etanol encontrado no Balanço
Energético Nacional. O preço da bioeletricidade foi obtido a partir do preço do IMEA (2016) e foi deflacionado
pela taxa de variação de preço médio da eletricidade obtido a partir das Tabelas de Recursos e Usos, entre 2011 e
2015. Esta taxa anual média e aplicou para calcular entre 2012 e 2016.
Outputs do Sistema
de Pecuária Produção Unidade Preço
Valor da
Produção
Boi (animal vivo) 121.000 arrobas 101,74 12.310.346
Outputs
Biorrefinaria
Etanol 230.000.000 litros 1,41 325.159.280
Bioeletricidade Excedente 502.000 MWh 166 83.332.000
Total 408.491.280
67
Tabela 17 - Insumos para o Sistema Intensivo – Sistema Intensivo (S1)
Fonte: Elaboração Própria.
Para identificar o preço básico doméstico dos insumos, foram utilizadas em sua
maioria, as informações da Pesquisa Industrial Anual (PIA), Produção Agrícola Municipal
(PAM) e Tabela de Recursos e Usos (divulgadas pelo IBGE). Foram encontrados os valores
da produção (a preço básico) e suas quantidades físicas, para chegar ao preço básico por quilo,
de cada produto utilizado como insumo. Quando não encontrado o produto de forma
desagregada, foi feita uma identificação com o produto que mais se aproxima do insumo
utilizado.
Os preços ao consumidor foram extraídos das mesmas fontes citadas anteriormente,
utilizando de forma auxiliar as Tabelas 1 e 2 de Recursos e Usos, em principal para identificar
valores de importação, impostos indiretos, margem de transporte e margem de comércio.
Além disso, foram consultados CEPEA, IMEA, ABIOVE (Associação Brasileira Indústrias
Óleos Vegetais) e ANUALPEC, todos os preços para 2011.
Insumos/Produtos Quantidade (kg) Preço Cons
(R$)
Preço
básico (R$)
Preço básico
doméstico
TOTAL de fertilizantes e corretivos 6.462.094 0,940 0,878 5.674.550
Biodiesel (B7) 52.159 2,214 2,029 105.849
Suplemento mineral, kg 409.392 1,400 1,012 414.272
Suplementação a pasto, kg
Milho 778.409 0,496 0,404 314.477
Farelo de soja 164.743 0,540 0,390 64.301
Amireia 100S (Ureia) 30.889 0,869 0,505 15.584
Sal Foscromo 60g P Tortuga 55.601 1,400 1,012 56.264
Ração animal, volumoso, kg
Silagem de milho 2.131.500 0,063 0,037 78.203
Ração animal, concentrado, kg
Milho 3.197.250 0,496 0,404 1.291.689
Farelo de soja 304.500 0,540 0,390 118.850
Levedura de cerveja 4.872 2,323 2,100 10.231
Ureia 60.900 0,869 0,505 30.724
Mineral 152.250 1,400 1,012 154.065
Insumos Veterinários (R$/cabeça) 11,910 448.412
Mecanização (R$/cabeça) 7,980 300.447
Mão de obra + encargos (R$/cabeça) 12,200 459.330
TOTAL 9.537.248
68
Tabela 18- Insumos para a Biorrefinaria
Fonte: Elaboração Própria
Após o procedimento de construção do modelo partiu-se para o fechamento, com a
definição das variáveis endógenas e exógenas. Como o que se pretende avaliar são os
impactos socioeconômicos da integração de um modelo de integração cana-pecuária todas as
variáveis da demanda final ficaram como exógenas, exceto a demanda final (E2) de
bioeletricidade, demanda final (E3) de levedura de cana e a demanda final (E4) de bagaço de
cana-de-açúcar.
Após a definição dos coeficientes técnicos, foram calculados os números de variáveis
e equações do modelo. Para auxiliar este procedimento, foi utilizado o modelo didático. No
total, são 532 variáveis e 350 equações, como pode ser observado na Tabela 20.
Tabela 19- Estrutura de equações e variáveis do Modelo
Fonte: Elaboração Própria.
Após o procedimento de construção do modelo partiu-se para o fechamento, com a
definição das variáveis endógenas e exógenas. Como o que se pretende avaliar são os
Biorrefinaria Quantidade (kg) Preço Cons
(R$)
Preço básico
(R$)
Preço básico
doméstico
Cana-de-açúcar 2.700.000.000 0,06 0,056 150.628.593
Palha (base seca) 123.660.000 0,07 0,060 7.395.857
Cal virgem (CaO) 1.647.000 0,303 499.463
Ácido sulfúrico 1.134.000 0,316 358.125
Ácido fosfórico 465.480 1,560 726.149
Óleo lubrificante 35.100 2,060 72.318
Antibiótico 2.997 0,024 71
Zeolita (peneira molecular) 73.926 0,0008 0,001 61
TOTAL 159.680.638
Equações 350
B.X+E=Q 185
Q=CT.X 4
X=D.Q 161
Variáveis 532
X1 a X162 162
Q1 a Q185 185
E1 a E13 185
Var. Exógenas 182
Var. Endógenas 350
69
impactos socioeconômicos da integração de um modelo de integração cana-pecuária todas as
variáveis da demanda final ficaram como exógenas, exceto a demanda final (E2) de
bioeletricidade, demanda final (E3) de levedura de cana e a demanda final (E4) de bagaço de
cana-de-açúcar.
Para atingir o objetivo proposto neste estudo, foram elaborados dois sistemas, com
dois modelos de pecuária e uma nova biorrefinaria. A seguir, são descritas as mudanças
relacionadas ao sistema de integração.
3.4.2 Sistema Integração (S2)
Para o segundo sistema foi considerada a mesma estrutura construída para o Sistema
Intensivo (S1). A diferença entre eles refere-se à pecuária integrada, com alterações nos
coeficientes técnicos e os outputs da biorrefinaria31, que agora são: etanol, bioeletricidade
excedente, levedura de cana-de-açúcar32 e bagaço. Com isso, os coeficientes técnicos da
biorrefinaria também foram alterados, principalmente devido à mudança no valor da
produção, como observado na Tabela 20.
Tabela 20 - Valor da Produção para o Sistema Integração (S2)
Fonte: Elaboração Própria.
Para calcular a quantidade de levedura de cana-de-açúcar produzida, assim como a
quantidade de bagaço direcionada para alimentação animal, foram consideradas as
quantidades demandas pelo setor da pecuária integrada. Ou seja, as quantidades produzidas
31 Os insumos da Biorrefinaria do Sistema Integração (S2) são os mesmos praticados no Sistema Intensivo (S1),
encontrados na Tabela 19. 32 A quantidade de levedura de cana-de-açúcar produzida é exatamente a quantidade adicional direcionada para
pecuária, utilizada para compor a nutrição animal. Por isso, a biorrefinaria terá uma receita adicional de acordo
com a quantidade necessária destinada para alimentação bovina.
Outputs Biorrefinaria Produção Unidade Preço Valor da
Produção
Etanol 230.000.000 litros 1,41 325.159.280
Bioeletricidade Excedente 500.347 MWh 166 83.057.645
Levedura de cana-de-açúcar 11.602 kg 2,1 24.365
Bagaço 2.900.555 kg 0,095 274.355
Total 408.515.645
70
pela biorrefinaria do segundo sistema vieram como resposta do modelo, para que não tivesse
aumento da demanda final. Por isso, foram feitos ajustes para que não houvesse sobra de tais
produtos na economia, já que eles estão sendo consumidos somente pela atividade de pecuária
integrada.
Como pode ser observada, ao comparar as Tabelas 18 e 21, nota-se que as quantidades
dos insumos para os sistemas de pecuária, intensivo e integrado, são similares. A grande
diferença está no período de confinamento, quando ao invés de silagem de milho, o volumoso
é substituído por bagaço in natura. Além disso, também são alteradas as quantidades
utilizadas de milho em grão e ureia.
O preço do bagaço foi calculado a partir do custo de oportunidade de renunciar à
produção de bioeletricidade para direcionar o bagaço para alimentação animal. Por isso, não
há queda no valor da produção da biorrefinaria. Neste caso, o preço considerado foi de
aproximadamente R$ 95 por tonelada. A diferença do valor da produção entre os sistemas
refere-se à produção adicional de levedura de cana-de-açúcar destinada para alimentação
animal.
Tabela 21 - Insumos para o Sistema Integrado – Sistema Integração (S2)
Fonte: Elaboração Própria.
Insumos/Produtos Quantidade (kg) Preço Cons
(R$)
Preço
básico (R$)
Preço básico
doméstico
TOTAL de fertilizantes e corretivos 6.462.094 0,940 0,878 5.674.550
Biodiesel (B7) 52.159 2,214 2,029 105.849
Suplemento mineral, kg 409.392 1,400 1,012 414.272
Suplementação a pasto, kg
Milho 778.409 0,496 0,404 314.477
Farelo de soja 164.743 0,540 0,390 64.301
Amireia 100S 30.889 0,869 0,505 15.584
Sal Foscromo 60g P Tortuga 55.601 1,400 1,012 56.264
Ração animal, volumoso, kg
Bagaço de cana, in natura 1.218.000 0,095 115.207
Ração animal, concentrado, kg
Milho 4.323.900 0,496 0,404 1.746.856
Farelo de soja 304.500 0,540 0,390 118.850
Levedura de cana 4.872 2,323 2,100 10.231
Ureia 91.350 0,869 0,505 46.086
Sal Mineral 152.250 1,400 1,012 154.065
Insumos Veterinários (R$/cabeça) 11,900 448.035
Mecanização (R$/cabeça) 8,000 301.200
Mão de obra + encargos (R$/cabeça) 12,200 459.330
TOTAL 10.045.157
71
Após reunir todos os dados e informações necessárias para os dois sistemas de
pecuária e biorrefinaria, o choque foi feito a partir da inclusão de dois novos setores na
economia paulista (com diferentes coeficientes técnicos). Esses novos setores (destacados em
laranja) substituíram os setores originais de bovinos para corte e etanol (destacados em cinza,
do lado esquerdo), sem afetar a demanda final, como pode ser observado, de forma
simplificada, a partir da figura 9 abaixo.
Figura 9 - Diagrama com exemplificação do choque Fonte: Elaboração Própria.
Como evidenciado, o valor do choque não alterou a demanda final de carne e etanol na
economia paulista. A mudança está relacionada à intensificação das duas atividades. Para
produzir a mesma quantidade de carne e etanol no estado de São Paulo, seria necessário
menor número de fazendas e usinas para atender a mesma demanda final de 2011, devido à
intensificação das atividades.
Os resultados desta análise foram descritos a partir de duas comparações. Para atingir
o primeiro objetivo proposto neste estudo, a partir do Sistema Intensivo (S1), foram feitas
comparações com a economia brasileira de 2011 antes da introdução dos novos setores. Para
cumprir com o segundo objetivo, foram feitas comparações entre os sistemas S1 e S2. Para os
dois sistemas foram avaliadas as mesmas variáveis, dando destaque para aquelas de maior
relevância. No próximo capítulo, encontram-se os resultados e discussões deste estudo.
Região
SP Outros da agricultura 1
SP Milho em grão 2
SP Cana-de-açúcar 3
SP Soja em grão 4
SP Bovino para corte 5
SP Etanol 31
Setor Região
SP Biorrefinaria 1
SP Pecuária Intensiva 2
SP Outros da agricultura 3
SP Milho em grão 4
SP Cana-de-açúcar 5
SP Soja em grão 6
Setor
72
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
No presente capítulo são apresentados e discutidos os resultados das estimativas dos
impactos socioeconômicos da introdução na economia brasileira, para os sistemas intensivo e
integrado da pecuária, ambos somado a uma nova biorrefinaria. Em termos das variáveis
socioeconômicas, são quantificados os impactos sobre (i) o nível da produção setorial, (ii) PIB
setorial, (iii) empregos e (iv) Remuneração do trabalho e capital. Para melhor exposição dos
resultados, as discussões dos cenários serão apresentadas de forma separada.
4.1 Resultados para o Sistema Intensivo (S1)
Como resultado, na fase do procedimento de construção do primeiro cenário (S1),
após incluir todos os insumos utilizados pela atividade de pecuária intensiva, os impostos
indiretos líquidos (IIL), os produtos importados, a margem de comércio e de transporte, nota-
se que este sistema não é economicamente rentável, pelo menos em um primeiro momento.
Para que a atividade gere retorno ao pecuarista, este sistema deveria ser subsidiado
pelo governo, gerando, desta forma, um custo para a sociedade de aproximadamente R$ 4,7
milhões por fazenda. Além disso, para que este modelo de negócio gere lucro para o
pecuarista, outra forma de tornar a fazenda rentável seria através do aumento de preços.
De acordo com o CEPEA, em 2011, a média ponderada de preço do boi gordo no
estado de São Paulo girou em torno de aproximadamente R$ 101,75 por arroba. Para gerar
lucro a partir deste modelo de negócios de pecuária intensiva, o boi gordo deveria ser vendido
por R$ 141 por arroba, 38,5% acima do preço praticado em 2011.
De acordo com SPAROVEK et al. (2008), ao considerar a intensificação da pecuária,
partindo de um sistema extensivo para outro intensivo com a integração cana-pecuária, ao
utilizar menor quantidade de terra para produção bovina, o pecuarista permite que dois terços
da área sejam exploradas para produção de cana-de-açúcar. Com isso, os proprietários da terra
obtêm uma renda adicional com o arrendamento da área liberada.
Neste estudo, os sistemas analisados já se encontravam intensificados, com menor uso
de área para a mesma produção final de carne. Por isso, não foi considerado aumento de renda
para o pecuarista, em relação à possibilidade de arrendamento da terra liberada. Dessa forma,
73
para cobrir os gastos da atividade, existe a necessidade de subsídio à produção para manter a
operação deste sistema produtivo específico.
Como resultado do modelo, a partir da introdução dos sistemas de pecuária intensiva e
da biorrefinaria na economia paulista, alguns setores sofreram impactos positivos, outros
negativos. Em comparação com o retrato da economia brasileira de 2011, quanto ao nível de
produção setorial, o resultado foi de queda de aproximadamente 196 milhões em nível
nacional. No entanto, vale ressaltar que dentro do estado de São Paulo foram gerados
impactos positivos de 4,9 bilhões de reais no valor da produção setorial, em direção contrária
à das outras regiões, como pode ser observado na Tabela 22.
Tabela 22- Nível da Produção em nível nacional e regional – Sistema Intensivo (S1)
Fonte: Elaboração Própria.
Nota-se que apesar do significativo aumento do valor da produção no estado de São
Paulo, as outras regiões foram impactadas negativamente, com queda total de 5,1 bilhões de
reais. Neste caso, nota-se grande nível de transbordamento para o Resto do Brasil, que sofreu
as maiores reduções quando analisado em nível regional. Porém, devido ao forte aumento do
nível de produção no estado de São Paulo, acompanhada de uma queda similar nas outras
regiões, no balanço nacional o resultado foi menos impactante.
Quanto aos setores, devido à maior demanda por milho, soja, adubos e fertilizantes, para
produção bovina na pecuária intensiva do estado de São Paulo, estes foram os setores afetados
de forma positiva naquela região. As variações foram de 10,84%, 4,67% e 8,72%,
respectivamente, no nível da produção setorial, quando comparado ao retrato da economia
brasileira de 2011 (antes do choque).
Como observado na Tabela 23, o setor de soja obteve aumento no nível da produção
setorial para 991 milhões, principalmente devido à produção secundária de milho. Somado a
RegiãoValor da Produção (em
milhões de reais)Participação
São Paulo
(SP)4.927 -2518,6%
Centro-Oeste
(CO)-1.136 580,6%
Resto do
Brasil (RB)-3.987 2038,0%
Brasil -196
74
isso, a pecuária intensiva demanda maior quantidade de farelo de soja, por isso, aciona de
forma indireta o setor de soja do estado de São Paulo.
Quanto ao setor de cana-de-açúcar, observa-se um aumento de 2,78% no nível de
produção, com um valor de R$ 21,2 bilhões no estado de São Paulo. Isto se deve, em grande
parte, à estrutura original do setor de etanol paulista de 2011, que demandava dos outros
setores de cana-de-açúcar das regiões Centro-Oeste e Resto do Brasil. Ao estruturar o novo
setor biorrefinaria, principal produtor de etanol do estado de São Paulo, apenas com demanda
do setor de cana-de-açúcar do próprio estado, houve aumento do valor da produção setorial.
Como observado a partir da Tabela 23, os setores com maiores impactos positivos no
nível da produção setorial estão concentrados na região paulista. Com isso, nota-se que ao
introduzir novos setores mais intensivos nesta região, grande parte da dinâmica econômica
fica dentro do estado paulista.
Tabela 23 - Nível da produção, impactos positivos – Sistema Intensivo (S1)
Fonte: Elaboração Própria.
Com isso, ao considerar que toda cana-de-açúcar do estado de São Paulo é consumida e
direcionada como insumo no próprio estado, os setores de cana-de-açúcar do Centro-Oeste e
do Resto do Brasil sofreram impactos negativos no valor da produção setorial, com queda de
12,5% e 7%, respectivamente, como pode ser observado a partir da Tabela 24.
Além disso, outros setores passaram a ser menos demandados e sofreram impactos
negativos, como o resto da geração de energia elétrica, a misturadora de eletricidade e a
fabricação de alimentos para animais. Devido ao maior uso de milho e farelo de soja para
alimentação do gado de corte na fase de confinamento na pecuária intensiva, o setor de
fabricação de alimentos para animais obteve impactos negativos de 2,97%, assim como o
produto rações balanceadas para animais, com queda de 3,2%.
Região Setor VariaçãoValor da Produção (em
milhão de reais)
SP Milho em grão 10,84% 1.296
SP Adubos e fertilizantes 8,72% 8.678
SP Soja em grão 4,67% 991
SP Cana-de-açúcar 2,78% 21.268
SP Outros da agricultura 0,40% 11.736
75
Tabela 24 - Nível da produção, impactos negativos – Sistema Intensivo (S1)
Fonte: Elaboração Própria.
Devido à maior eficiência da biorrefinaria na produção de bioeletricidade e aumento
da oferta deste produto no mercado paulista, o nível da produção do setor produtor do resto da
geração de energia elétrica no estado de São Paulo foi deslocado em 12,2%, assim como a
misturadora de eletricidade em 7% (setor invisível, que agrega a produção de bioeletricidade e
o resto da geração de energia elétrica na região de São Paulo).
Em relação aos empregos (diretos e indiretos), em nível nacional e regional, como
observado na Tabela 25, evidencia-se uma queda de 208.236 empregos em todo o Brasil.
Nota-se que grande parte dos impactos para empregos, ficou dentro do estado de São Paulo,
com participação de aproximadamente 73% da redução total.
O nível de transbordamento para as outras regiões foi de 27%, em especial para o Resto
do Brasil (RB), com 23% dos impactos totais, com redução de 48,5 mil empregos. Para a
região Centro-Oeste o impacto foi de apenas 3,7%, com redução de 7.774 empregos.
Tabela 25 - Impactos nos Empregos (nacional e regional) – Sistema Intensivo (S1)
Fonte: Elaboração Própria.
Região Setor VariaçãoValor da Produção (em
milhão de reais)
CO Cana-de-açúcar -12,54% 5.335
SP Resto da Ger. En elétrica -12,27% 5.106
SPMisturadora de
eletricidade-7,15% 9.661
RB Cana-de-açúcar -7,01% 14.136
SPFabricação de alimentos
para animais-2,97% 3.306
RegiãoEmprego
(em mil)Participação
São Paulo (SP) -151.995 72,99%
Centro-Oeste (CO) -7.774 3,73%
Resto do Brasil (RB) -48.467 23,28%
Brasil -208.236 100%
76
Os impactos para a variável de emprego estão associados principalmente à introdução
de setores mais intensivos no fator capital, liberando mão-de-obra para a economia. Com isso,
nota-se que houve uma queda na quantidade de emprego, porém para a mesma riqueza. A
economia está mais eficiente e produtiva no fator trabalho e, por isso, está disponibilizando
mais fator trabalho para outros setores.
Como observado a partir da Tabela 26, o setor de pecuária intensiva passa a demandar
menor quantidade do fator trabalho, com redução de 68 mil empregos (variação negativa de
89%), sendo responsável por 33% do total de redução de empregos no Brasil. O setor de
açúcar foi o segundo setor fortemente impactado devido à introdução de destilarias autônomas
otimizadas no estado de São Paulo, com queda de aproximadamente 38 mil empregos
(variação de 30%) e participação de 18% na redução total de empregos em nível nacional.
A destilaria autônoma otimizada 1G não tem o açúcar como output. Por isso, o setor de
açúcar no estado de São Paulo sofreu fortes impactos na variável de empregos. No Brasil, a
produção de etanol é baseada em 30% de destilarias autônomas e aproximadamente 70% de
usinas anexas (CONAB, 2017). Em destilarias autônomas, a cana-de-açúcar é utilizada
exclusivamente para produção de etanol. Por outro lado, as usinas anexas utilizam uma fração
do caldo de cana-de-açúcar para produção de açúcar e o restante para produção de etanol
(DIAS et al., 2016).
Tabela 26 - Principais Setores, com impactos negativos, para variável de emprego –
Sistema Intensivo (S1)
Fonte: Elaboração Própria.
Região Setores Variação (em mil) Variação (%) Participação
SP Pecuária Intensiva -68.660 -89,22% 32,97%
SP Açúcar -38.323 -30,73% 18,40%
SP Serviços privados -20.131 -0,22% 9,67%
RB Cana-de-açúcar -19.074 -7,01% 9,16%
SP Biorrefinaria -13.850 -48,95% 6,65%
SP Comércio -12.514 -0,23% 6,01%
RB Serviços privados -6.318 -0,03% 3,03%
SP Transportes -5.983 -0,56% 2,87%
RB Comércio -5.576 -0,05% 2,68%
SP Aves -5.296 -2,78% 2,54%
Total -195.726 93,99%
77
Além disso, vale destacar que apesar do forte impacto no setor de açúcar, a queda desta
variável não está relacionada ao produto açúcar. Por isso, não houve competição entre
alimentos e combustível. A produção de açúcar se mantém estável. O setor de açúcar, na
matriz original da economia brasileira de 2011, também produzia parte do etanol brasileiro.
Por isso, a queda no setor de açúcar se explica pela queda do produto etanol, que passa a ser
produzido pela biorrefinaria, na economia paulista.
Em comparação com o retrato da economia brasileira de 2011 (colunas 3 e 4),
encontram-se os principais setores, com impactos negativos para a variável de emprego e
responsáveis por 94% da redução total. Entre os setores destacados com impactos negativos
para a variável de emprego, também aparecem reflexos na região Resto do Brasil, apesar da
maior concentração no estado de São Paulo.
No setor original de etanol no estado de São Paulo, para a economia brasileira de 2011,
aproximadamente 63% da produção estava sendo direcionada para o açúcar e 36% para a
produção de etanol (em valor monetário, do produto etanol e produto açúcar). Com isso, ao
introduzir somente destilarias autônomas, o setor de açúcar sofre impactos negativos, não
somente para empregos como também em outras variáveis (como por exemplo, nível da
produção, com queda de 625 milhões que corresponde a variação de 2,5%).
O setor de cana-de-açúcar da região Resto do Brasil obteve redução de 19 mil empregos
(variação negativa de 7%), principalmente devido à queda da oferta deste produto para a
região de São Paulo, que agora demanda 100% da cana-de-açúcar do próprio estado. Devido à
maior intensidade do fator capital, o setor da biorrefinaria libera mão-de-obra para a
economia, com queda de aproximadamente 14 mil empregos (variação negativa de 49%).
Os setores de serviços privados, comércio e transportes são setores que se relacionam
com praticamente todos os 54 setores desagregados da economia brasileira e são intensivos no
fator trabalho. Por isso, devido à intensificação paulista da atividade sucroenergética e de
pecuária, também sofreram os reflexos negativos, com queda de 50 mil empregos, tanto em
São Paulo, como no Resto do Brasil.
Apesar de alguns deles terem contribuído com grande parte da liberação dos empregos
totais, nota-se que setores como serviços privados, comércio e transporte não tiveram grandes
variações, apesar da grande queda em milhares de empregos. Isso evidencia que aqueles com
pouca variação são setores intensivos no fator trabalho e que empregaram grande quantidade
de pessoas na economia nacional de 2011.
O setor de aves, além de ser intensivo no fator trabalho, tem como produto secundário a
produção de rações balanceadas. Devido à queda deste último produto em 3,2%, o setor de
78
aves sofreu impactos negativos, com redução de aproximadamente 5 mil empregos (variação
negativa de 2,8%). Apesar da queda de produção do setor da geração de energia elétrica,
devido à maior quantidade ofertada de bioeletricidade na economia brasileira em 2011, o
impacto na variável emprego correspondeu a apenas 1,5% do total.
Por outro lado, de forma contrária à maioria dos setores da economia, observa-se a
partir da Tabela 27 que o setor de milho no estado de São Paulo obteve aumento na
quantidade de 9 mil empregos (com variação positiva de 11,7%) quando comparada à
economia brasileira antes da introdução dos novos setores mais intensivos. Isto se deve por
dois motivos principais.
Primeiramente, o setor de milho é intensivo no fator trabalho. Além disso, devido ao
aumento de demanda por milho para alimentação animal na fase de confinamento no sistema
de pecuária intensiva, houve movimentação na procura por mão-de-obra para acompanhar o
crescimento do valor da produção. Quanto menos mecanizado o setor, mais trabalho manual é
demandado.
Tabela 27 - Principais setores com impactos positivos para a variável de emprego –
Sistema Intensivo (S1)
Fonte: Elaboração Própria.
Outros setores intensivos no fator trabalho acabaram absorvendo os empregos liberados
para a economia. Entre eles os setores de construção civil e bovino de leite. O setor de cana-
de-açúcar, para atender o aumento da demanda por este produto, dentro do estado de São
Paulo, obteve aumento de 3 mil empregos nesta região, com variação positiva de 11,7%.
Nota-se que grande parte dos impactos positivos para a variável de emprego aconteceu dentro
do estado de São Paulo.
Como reflexo da liberação de emprego para os outros setores da economia, a
remuneração do fator trabalho teve um decréscimo de R$ 4,3 bilhões em nível nacional. O
estado de São Paulo concentrou aproximadamente 83% dos impactos negativo, com redução
de 3,6 bilhões de reais. O efeito de transbordamento foi de 17% para as outras regiões, no
Região Setores Variação (em mil) Variação (%)
SP Milho em grão 9.096 11,73%
SP Construção civil 7.372 0,36%
SP Cana-de-açúcar 3.690 2,89%
SP Bovino para leite 1.670 8,70%
SP Outros da agricultura 1.590 1,03%
Total 23.418
79
valor total de 736 milhões de reais, com principal impacto no Resto do Brasil (participação de
14%).
Por outro lado, como observado na Tabela 28, o fator capital aumentou fortemente em
nível nacional, com acréscimo de aproximadamente R$ 7 bilhões, principalmente devido à
introdução na economia de uma biorrefinaria com maior eficiência industrial, no estado de
São Paulo. Apesar da maior concentração positiva na região paulista, o Centro-Oeste e Resto
do Brasil sofreram impactos negativos, com queda de 1,8 bilhão de reais.
A remuneração do capital foi a principal responsável pelo aumento do PIB Setorial33,
impactado positivamente em 660 milhões, em nível nacional. Devido ao aumento da
remuneração do capital em 125% (8,8 bilhões de reais) no estado de São Paulo, mesmo após a
necessidade de subsídios para a atividade de pecuária intensiva, o saldo final do PIB setorial
foi positivo nesta região, com elevação de 3,4 bilhões de reais no estado de São Paulo. Por
outro lado, a região Centro-Oeste e Resto do Brasil foram impactados de forma negativa, com
queda total de 2,7 bilhões no PIB setorial.
Tabela 28- Impactos para Remuneração do Fator Trabalho, Remuneração do Fator
Capital e PIB Setorial (em milhões de reais) – Sistema Intensivo (S1)
Fonte: Elaboração Própria.
Para a variável de remuneração do fator trabalho, como observado na Tabela 30, os
principais setores afetados negativamente foram: açúcar, biorrefinaria, pecuária intensiva,
resto da geração de energia elétrica e serviços privados. Essas reduções podem ser explicadas
devido ao maior dispêndio e participação da remuneração do fator trabalho nos custos totais
desses setores. Com o declínio no valor da produção e número de pessoas empregadas nesses
33 O PIB setorial equivale ao valor adicionado, que se refere à soma da remuneração capital e trabalho, dos
impostos indiretos líquidos (impostos sobre importação, ICM Nacional, ICM Importado, IPI Nacional, IPI
Importado, Outros IIL Nacional e Outros IIL Importado) e dos impostos e subsídios líquidos à importação.
RegiãoVariação Rem.
TrabalhoParticipação
Variação
Rem. CapitalParticipação
PIB
Setorial
São Paulo
(SP)-3.579 82,94% 8.788 125,32% 3.396
Centro-Oeste
(CO)-130 3,01% -414 -5,90% -584
Resto do
Brasil (RB)-606 14,04% -1.361 -19,41% -2.152
Brasil -4.315 100% 7.013 100% 660
80
setores, a remuneração do fator trabalho passa a ter menor participação nos custos totais, o
que provoca tal queda.
Estas reduções estão associadas à intensificação das atividades, que estão direcionando
maior parte dos custos totais da produção para o fator capital, ao utilizar tecnologias
mecanizadas em substituição à mão-de-obra. Aqueles setores contribuem com 72% dos
impactos no âmbito nacional e 87,5% somente dentro do estado de São Paulo, concentrando
grande parte dos efeitos negativos para a variável de remuneração do fator trabalho.
A partir da Tabela 29, estão evidenciados aqueles setores com maiores impactos
negativos na variável remuneração do trabalho. Para os setores da biorrefinaria e pecuária
intensiva, nota-se que a queda foi significativa, de 86,9% e 48,95%, respectivamente, quando
comparado ao retrato da economia brasileira em 2011. Isso se deve principalmente ao
aumento da remuneração capital, para a atividade sucroenergética paulista e ao menor gasto
da atividade pecuária com a remuneração trabalho, em consequência da queda de empregos
no setor.
Tabela 29 - Remuneração do fator trabalho - principais setores (impactos negativos) –
Sistema Intensivo (S1)
Fonte: Elaboração Própria.
Por outro lado, outros setores tiveram acréscimo da remuneração do fator trabalho. Isto
pode ser explicado, devido ao aumento de empregos observado anteriormente nestes setores
específicos, acompanhando em alguns casos, o aumento do valor da produção. Os setores da
Tabela 30 passaram a ter maiores custos relacionados à remuneração do fator trabalho, com as
principais variações no intervalo de 2,9% a 11,7%.
Região SetoresVariação (em
milhões)Variação (%) Participação
SP Açúcar -1.474 -30,73% 34,17%
SP Biorrefinaria -513 -48,95% 11,89%
SP Pecuária Intensiva -414 -86,90% 9,60%
SPResto da geração de
energia elétrica-377 -47,40% 8,75%
SP Serviços privados -351 -0,22% 8,14%
81
Tabela 30 - Remuneração do fator trabalho - principais setores (impactos positivos) –
Sistema Intensivo (S1)
Fonte: Elaboração Própria.
O novo setor sucroenergético paulista foi o que mais contribuiu para a variação positiva
de 7 bilhões de reais no Brasil, quanto à variável de remuneração do fator capital, com
aumento de 2492%, quando comparado ao retrato da economia brasileira em 2011 (Tabela
31). Isso mostra a grande diferença tecnológica da destilaria autônoma otimizada introduzida
no estado paulista.
Na Tabela 31, encontram-se os principais setores afetados de forma positiva e negativa
para a variável de remuneração do fator capital. Nota-se que o segundo setor com maiores
impactos positivos, em valores monetários, teve variação de aproximadamente 3,5%,
acompanhado do setor de cana-de-açúcar, com 2,89%. A produção da cana-de-açúcar está
cada vez mais mecanizada, mas ainda depende da capacidade de mão-de-obra.
Por outro lado, os setores resto da geração de energia elétrica e açúcar, tiveram
variações negativas de 1,8 bilhão (corresponde à variação de 47,4%) e 834 milhões
(corresponde à variação de 30,7%), respectivamente, ambos no estado de São Paulo. Isto se
deve principalmente ao não emprego de novas tecnologias, como máquinas e equipamentos.
Foram setores afetados em praticamente todas as variáveis analisadas até o momento, com
queda no valor da produção, empregos e remuneração do fator trabalho. Isso refletiu de forma
direta na remuneração do fator capital.
O mesmo aconteceu com o setor de cana-de-açúcar no Resto do Brasil. A queda na
remuneração do fator capital foi reflexo da queda no nível da produção deste setor. Os outros
Região SetoresVariação (em
milhões)
Variação
(%)
SP Milho em grão 18 11,73%
SP Adubos e fertilizantes 26 8,72%
SP Bovino para leite 13 8,70%
SP Soja em grão 2 3,33%
SP Cana-de-açúcar 133 2,89%
82
setores de serviços privados e comércio tiveram impactos negativos mínimos de 0,22% e
0,23%, respectivamente.
Tabela 31 - Remuneração do fator capital - principais setores (impactos positivos e
negativos) – Sistema Intensivo (S1)
Fonte: Elaboração Própria.
Como reflexo do significativo aumento da remuneração do capital, o PIB setorial
obteve impactos positivos. Como evidenciado, a Tabela 32 confirma a importância do novo
setor sucroenergético paulista para o aumento do PIB nacional. Observa-se que os mesmos
setores evidenciados nas variáveis remuneração do capital e trabalho aparecem no PIB
setorial com as mesmas variações positivas ou negativas analisadas anteriormente.
O PIB setorial não teve maiores impactos positivos, principalmente devido ao aumento
dos outros subsídios à produção da atividade de pecuária intensiva paulista, com elevação de
644 milhões de reais neste setor e 622 milhões de reais em nível nacional. O estado de São
Paulo foi responsável por 106% da elevação total.
A variação negativa de 91,8% do PIB setorial da pecuária intensiva, quando comparada
à atividade pecuária da economia brasileira de 2011, se deve principalmente à queda nas
variáveis remuneração do fator trabalho e aumento dos subsídios para produção. No caso da
biorrefinaria, o aumento de 626,5% do PIB setorial refere-se ao aumento expressivo da
remuneração do fator capital neste setor. Isso evidencia maior nível de industrialização do
setor sucroenergético na região paulista e consequente impacto positivo para o PIB setorial do
Brasil.
Região SetoresVariação (em
milhões)
Variação
(%)
SP Biorrefinaria 12.339 2492,94%
SP Soja em grão 17 3,33%
SP Cana-de-açúcar 193 2,89%
SPResto da geração de
energia elétrica-1.798 -47,40%
SP Açúcar -834 -30,73%
RB Cana-de-açúcar -505 -7,01%
SP Serviços privados -478 -0,22%
SP Comércio -183 -0,23%
83
Tabela 32 - Principais setores para a variável PIB Setorial – Sistema Intensivo (S1)
Fonte: Elaboração Própria.
A partir dos resultados evidenciados, nota-se que a introdução de dois setores mais
intensivos da pecuária e biorrefinaria no estado de São Paulo, geram impactos positivos e
negativos em toda a economia brasileira, principalmente dentro do próprio estado paulista,
com maiores efeitos de transbordamento para o Resto do Brasil. Com isso, foram
evidenciados os principais impactos socioeconômicos, levando-se em consideração todos os
efeitos diretos e indiretos deste sistema. No final, a análise de insumo-produto agrega
resultados importantes, não intuitivos e interessantes para este estudo.
4.2 Resultados para o Sistema Integração (S2)
Assim como observado no primeiro sistema, o modelo de integração cana-pecuária
adotado neste estudo deveria ser subsidiado pelo governo, gerando um custo para a sociedade
de R$ 5,3 milhões por fazenda. Outra alternativa seria a partir do aumento dos preços, em
43% acima do praticado em 2011.
A diferença residual do subsídio à produção da atividade pecuária, do S1 para o S2,
refere-se ao preço adotado para o bagaço de cana-de-açúcar. Como está sendo considerado o
preço do custo de oportunidade de deixar de produzir bioeletricidade e direcionar para
Variação (em
milhões)Variação %
SP Biorrefinaria 11.906 626,48%
SP Cana-de-açúcar 348 2,89%
SP Adubos e fertilizantes 100 8,72%
SP Milho em grão 86 11,73%
SP Outros da agricultura 69 1,03%
SP Açúcar -2.804 -30,73%
SPResto da geração de
energia elétrica-2.651 -47,40%
SP Pecuária Intensiva -1.295 -91,80%
SP Serviços privados -892 -0,22%
RB Cana-de-açúcar -696 32,34%
PIB Setorial
84
alimentação animal, o preço do bagaço está 2,5 vezes maior do que o preço praticado para a
venda da silagem de milho.
Em um planejamento de intensificação da atividade pecuária, se os dois sistemas
(intensivo e integrado) resultam na mesma quantidade de carne produzida, quais seriam os
benefícios para o pecuarista de se utilizar o bagaço para nutrição animal?
Segundo TAUBE et al. (2012) a produção de carne integrada com o setor
sucroenergético gera retornos e ganhos financeiros para o pecuarista. Apesar do resultado
divergente encontrado neste estudo é importante destacar que os sistemas avaliados e
premissas adotadas são diferentes e por isso não devem ser comparados sem uma análise mais
profunda.
Como resultado do modelo referente ao segundo sistema, a partir da introdução dos
sistemas de pecuária integrada e da biorrefinaria na economia paulista, agora com produção
de levedura e direcionamento do bagaço para alimentação animal, alguns setores sofreram
impactos positivos, outros negativos.
Em comparação com o S1, quanto ao nível de produção setorial, o resultado foi
positivo, com aumento de 147 milhões de reais, maior concentração no estado de São Paulo
(87,8%) e nível de transbordamento de 12% para as regiões do Centro-Oeste e Resto do
Brasil, como pode ser observado na Tabela 33.
Tabela 33 - Nível da Produção Setorial em nível nacional e regional – Sistema
Integração (S2)
Fonte: Elaboração Própria.
Esses impactos estão relacionados ao acréscimo do valor da produção dos setores de
milho (2,59%) e soja em grão (1,34%), principalmente devido ao aumento da demanda por
esses produtos para nutrição animal na fase de confinamento para a pecuária integrada no
estado de São Paulo. Ao utilizar o bagaço de cana-de-açúcar como volumoso, para balancear
RegiãoValor da Produção
(em milhões de reais)Participação
São Paulo (SP) 130 87,87%
Centro-Oeste
(CO)2 1,37%
Resto do
Brasil (RB)16 10,76%
Brasil 147 100,00%
85
a dieta animal de forma adequada, é necessária maior quantidade de milho em grão. O setor
de soja é acionado devido à produção secundária de milho.
Como observado na Tabela 34, o setor resto da geração de energia elétrica também
obteve elevação do nível de produção setorial em 0,3%. Este aumento está relacionado à
expansão de outras fontes de energia elétrica devido à queda da produção de bioeletricidade.
Como parte do bagaço está sendo direcionada para nutrição animal, a biorrefinaria do estado
de São Paulo deixa de produzir 0,5% de bioeletricidade excedente (502 GWh para 500 GWh),
para ofertar alimentação de volumoso para o gado de corte da pecuária integrada do estado
paulista.
Os setores outros da agricultura e adubos e fertilizantes tiveram impactos positivos,
porém muito pequenos, de 0,10% e 0,06%, respectivamente, refletindo o aumento de
demanda e produção dos outros setores. O valor da produção dos outros setores da economia
para as três regiões ficou praticamente estável, com pouca alteração quando comparado ao
primeiro sistema.
Tabela 34 - Nível de produção setorial - impactos positivos no Sistema Integração (S2)
Fonte: Elaboração Própria.
Vale ressaltar que apenas o setor outros produtos alimentares sofreu impactos
negativos de 0,002%, no estado de São Paulo. Devido à produção adicional de levedura de
cana-de-açúcar por parte da biorrefinaria, demandada pelo setor de pecuária integrada, o setor
outros produtos alimentares obteve redução no valor da produção principalmente devido à
substituição da levedura de cerveja por levedura de cana-de-açúcar.
Além disso, o produto silagem de milho obteve declínio no estado de São Paulo em
comparação ao primeiro modelo, principalmente devido à substituição deste volumoso por
bagaço de cana-de-açúcar in natura no sistema de pecuária integrada no estado de São Paulo.
A partir dos resultados encontrados, evidencia-se que a região Centro-Oeste sofreu pouco
Região Setor VariaçãoValor da Produção
(em milhão de reais)
SP Milho em grão 2,59% 1.329
SP Soja em grão 1,34% 1.005
SPResto da geração de energia
elétrica0,33% 5.123
SP Outros da agricultura 0,10% 11.748
SP Adubos e fertilizantes 0,06% 8.684
86
impacto, para a variável relacionada ao valor da produção, sendo menos dependente da
economia paulista do que o Resto do Brasil.
Como demonstrado na Tabela 35, em relação aos empregos (diretos e indiretos),
observa-se que foram criados aproximadamente 3.188 empregos em nível nacional, com
maior participação do estado de São Paulo, em 93% (2,9 mil empregos) e nível de
transbordamento de 7% para as regiões Centro-Oeste e Resto do Brasil, com um número de
empregos gerados pouco expressivo, de 225 empregos.
Tabela 35 - Impactos nos Empregos (nacional e regional) – Sistema Integração (S2)
Fonte: Elaboração Própria.
Após acionar maior quantidade de setores agrícolas intensivos no fator trabalho e que
demandam mais mão-de-obra para realizar a produção, são gerados maiores impactos na
variável de emprego. A partir da Tabela 36, estão destacados os setores que tiveram maior
impacto na variável de emprego e que contribuíram em 86% com a geração de emprego no
Brasil, no segundo sistema.
Devido ao aumento de demanda por milho, a partir da atividade de pecuária integrada,
destinada para alimentação animal, o setor de milho do estado de São Paulo, por ser intensivo
no fator trabalho, para atender o aumento da produção, teve geração de 2.246 mil empregos.
Em termos proporcionais foi o que mais aumentou a produção, aliado à combinação dele ser
mais intensivo no fator L. Este aumento foi responsável por praticamente 76% dos novos
empregos gerados no estado de São Paulo e 70% dos empregos criados em âmbito nacional.
Região Emprego (em mil) Participação
São Paulo (SP) 2.964 93%
Centro-Oeste
(CO)20 1%
Resto do
Brasil (RB)205 6%
Brasil 3.188 100%
87
Tabela 36 - Principais setores com impactos positivos para a variável de emprego –
Sistema Integração (S2)
Fonte: Elaboração Própria.
Além do setor do milho em grão, outros setores sofreram menores impactos positivos
na variável de emprego. Porém, os setores de comércio, outros da agricultura, serviços
privados e soja em grãos somaram juntos aproximadamente 500 novos empregos gerados na
economia brasileira, após a introdução dos setores de pecuária integrada e de biorrefinaria, no
estado de São Paulo. Os impactos nesses setores estão relacionados aos reflexos de aumento
do valor da produção no estado de São Paulo.
Por outro lado, destaca-se o setor outros produtos alimentares como o único setor com
impacto negativo para emprego. Isso se deve, principalmente devido à queda do valor da
produção setorial. Este setor agrega o produto levedura de cerveja. Por isso, ao deixar de ser
consumido pelo setor de pecuária integrada, o setor perde tanto no valor da produção como na
quantidade de pessoas empregadas, por ser mais intensivo no fator trabalho.
Em relação às variáveis remuneração do fator trabalho e capital, as alterações em
comparação com o primeiro sistema foram bem pequenas, principalmente porque não
houveram grandes mudanças relevantes nos coeficientes técnicos desses fatores, como pode
ser observado a partir da Tabela 37.
Para a remuneração do fator trabalho, o estado de São Paulo teve grande participação
com 88% (18 milhões de reais) dos impactos e nível de transbordamento de 12% para as
regiões do Centro-Oeste e Resto do Brasil. Ao longo das variáveis analisadas até o momento,
nota-se que a cadeia produtiva de São Paulo depende mais da cadeia da região Resto do Brasil
do que do Centro-Oeste.
Região Setores Variação (em mil)
SP Milho em grão 2.246
SP Comércio 215
SP Outros da agricultura 161
SP Serviços privados 84
SP Soja em grão 42
Total 2.747
88
Tabela 37 - Impactos para Remuneração do Fator Trabalho e Fator Capital (em milhões
de reais) – Sistema Integração (S2)
Fonte: Elaboração Própria.
O mesmo movimento pode ser observado para a variável remuneração do fator capital,
que concentra maior parte dos impactos no estado de São Paulo em 89% (46 milhões de reais)
e 11% nas outras regiões. A movimentação dessas variáveis específicas pode ser observada de
forma mais clara, quando evidenciados os principais setores afetados.
Primeiramente, para a variável remuneração do fator trabalho, nota-se a partir da
Tabela 38 que os principais setores afetados foram: milho, comércio, serviços privados,
transportes e resto da geração de energia elétrica, todos para a região do estado de São Paulo.
Esses setores juntos correspondem a 55% dos impactos totais para a variável remuneração do
fator trabalho.
Tabela 38 – Principais Setores para Remuneração do fator trabalho – Sistema
Integração (S2)
Fonte: Elaboração Própria.
RegiãoVariação Rem.
TrabalhoParticipação
Variação Rem.
CapitalParticipação
São Paulo (SP) 18 88% 46 89%
Centro-Oeste
(CO)0,228 1% 0,703 1%
Resto do
Brasil (RB)2 11% 5 10%
Brasil 21 100% 52 200%
Região SetoresVariação (em
milhões de reais)
Participação
Nacional
SP Milho em grão 4,41 21,06%
SP Comércio 3,00 14,33%
SP Serviços privados 1,46 6,97%
SPResto da geração
de energia elétrica1,38 6,61%
SP Transportes 1,27 6,08%
Total 11,53 55,05%
89
O uso intensivo da mão-de-obra na fase agrícola está relacionado a uma baixa
remuneração do fator trabalho por emprego gerado. Com a criação de mais de 2 mil empregos
no setor do milho no estado de São Paulo, a remuneração do fator trabalho neste setor
aumentou 4,4 milhões de reais, para 2011.
A remuneração média por trabalhador, para o período de um mês, seria equivalente a
R$ 163,62. Apesar do aumento de pessoas empregadas, não se pode avaliar as condições de
trabalho. Este valor de salário mensal está 70% abaixo do salário mínimo praticado na
economia brasileira de 2011, de R$ 545,00 por mês.
O aumento da remuneração do fator trabalho dos setores do comércio e serviços
privados acompanha a geração de empregos do próprio setor. Ao utilizar maior número de
mão-de-obra, os custos com remuneração do fator trabalho aumentam. O setor de transporte
está sendo acionado de forma indireta pelos outros setores, com impacto de 6%. Os outros
setores da economia tiveram impactos abaixo daqueles apresentados.
O setor de transporte passa a ser acionado após a elevação do valor da produção do
setor do milho e também corresponde à mudança do coeficiente técnico da biorrefinaria, que
ao aumentar o valor da produção, altera as proporções de comércio e transporte. Ao introduzir
a quantidade adicional de levedura de cana-de-açúcar que o setor sucroenergético paulista
teria que produzir para atender o setor de pecuária integrada, para alimentação animal, os
setores destacados anteriormente são acionados.
Além disso, acompanhando a movimentação de aumento no valor da produção, a
remuneração do fator trabalho do setor resto da geração de energia elétrica também teve uma
variação positiva de aproximadamente 1,3 milhão de reais, com participação de 6,6% dos
impactos no Brasil. O setor outros produtos alimentares, novamente aparece como o único
setor afetado de forma negativa, com queda de 0,12 milhões de reais. Esta redução pode ser
interpretada como reflexo de queda das outras variáveis, valor da produção e empregos, para a
levedura de cerveja, agregada a este setor.
Para a remuneração do fator capital, como observado a partir da Tabela 39, os
principais setores afetados, excluindo o setor de comércio, foram os principais setores
impactados positivamente quanto ao nível da produção setorial, tanto nacional quanto da
região do estado de São Paulo.
90
Tabela 39 - Principais setores para Remuneração do fator capital, para o Sistema
Integração (S2) - (impactos positivos)
Fonte: Elaboração Própria.
O setor do milho em grão obteve aumento de aproximadamente 16 milhões de reais
para remuneração do fator capital, com participação de 32% na variação nacional. Isto é
reflexo do aumento do valor da produção e aumento de demanda do setor de pecuária
integrada por produtos destinados à alimentação animal. Isso se explica também para os
setores soja em grão e outros da agricultura, que tem o milho como produto secundário.
O resto da geração de energia elétrica, por ser um setor mais intensivo no fator capital,
para atender o aumento da produção, devido à queda na oferta de bioeletricidade na região
paulista, aciona o fator capital com aumento de 6,6 milhões de reais, para atender a demanda
da economia brasileira.
O setor de comércio obteve impacto positivo de 3 milhões de reais, como reflexo da
interdependência do mercado nacional, com pouca participação (6%) na variação total para a
remuneração do fator capital. Porém, este aumento também se justifica a partir da mudança do
coeficiente técnico do setor sucroenergético paulista, que devido à produção adicional de
levedura reflete no aumento do valor da produção deste setor.
Por outro lado, ainda para a variável de remuneração do fator capital, o setor outros
produtos alimentares continua seguindo a movimentação de queda observada nas outras
variáveis, com redução de 0,10 milhões de reais.
Mesmo com o aumento das variáveis remuneração do trabalho e capital, o PIB setorial
do segundo sistema obteve queda de 0,25 milhões de reais. Isso aconteceu principalmente
devido ao aumento do subsídio à produção para o sistema de pecuária integrada paulista. A
diferença adicional foi de 80,6 milhões de reais, com participação de 98% nos impactos totais
Região SetoresVariação (em
milhões de reais)
Participação
Nacional
SP Milho em grão 16,67 31,98%
SP Soja em grão 7,23 13,88%
SPResto da geração
de energia elétrica6,59 12,64%
SPOutros da
agricultura4,98 9,55%
SP Comércio 3,14 6,02%
Total 38,61 74,07%
91
dos subsídios à produção (82 milhões de reais) e concentração de 98% no estado de São
Paulo. Como já destacado anteriormente, o setor de pecuária integrada gera maior custo para
o governo e para a sociedade quando comparado com o primeiro sistema, que introduz o
sistema de pecuária intensiva, sem integração com o setor sucroenergético.
A partir da Tabela 40, evidencia-se que dois setores sofreram impactos negativos no
PIB setorial, mas que são responsáveis pelo declínio desta variável. Além da pecuária
integrada (variação negativa de 80 milhões de reais), o setor outros produtos alimentares
(variação negativa de 0,27 milhões de reais) seguiu a mesma tendência de queda observada
nas outras variáveis deste setor.
Apesar de aumento nos outros 160 setores da economia brasileira, os impactos
negativos ficaram sobrepostos aos impactos positivos, devido ao aumento dos subsídios à
produção. Porém, vale a pena destacar que os setores que apareceram com maiores elevações
foram os mesmos destacados para as variáveis: valor da produção, empregos, remuneração do
trabalho e capital. Os setores do milho, resto da geração de energia elétrica, soja em grão,
outros da agricultura e comércio foram aqueles que mais contribuíram para reverter um
possível maior impacto causado pela pecuária integrada.
Tabela 40 - Principais Setores para PIB Setorial – Sistema Integração (S2)
Fonte: Elaboração Própria.
Após a avaliação dos resultados analisados e discutidos, notam-se alguns impactos
positivos para a economia regional e brasileira, como o aumento do valor da produção,
quando comparado ao primeiro sistema. Porém, devido à necessidade de maior subsídio à
Região SetoresVariação (em
milhões de reais)
SP Pecuária Integrada -80,00
SPOutros produtos
alimentares-0,27
SP Milho em grão 21,16
SPResto da geração de
energia elétrica9,72
SP Soja em grão 8,64
SP Outros da agricultura 7,01
SP Comércio 6,54
92
produção da atividade pecuária integrada, o PIB Setorial nacional e do estado de São Paulo
tiveram impactos negativos.
93
5 CONCLUSÕES
Este estudo buscou avaliar os impactos socioeconômicos de dois sistemas de
intensificação das atividades pecuária e sucroenergética no estado de São Paulo, avaliando os
impactos para a economia brasileira de 2011 (desagregada em três regiões: São Paulo, Centro-
Oeste e Resto do Brasil).
Para cumprir com o objetivo proposto, usou-se a Análise de Insumo-Produto para
captar os efeitos diretos e indiretos ao longo das cadeias produtivas associadas aos sistemas
investigados, bem como os efeitos de transbordamento para as regiões onde não foram feitos
os choques, a partir da introdução de dois novos setores mais intensivos na economia paulista.
Os resultados socioeconômicos mostram que o sistema de pecuária intensificada,
quando comparado ao retrato da economia brasileira de 2011, apresenta queda no valor de
produção de 196 milhões de reais e aumento do PIB setorial de 660 milhões de reais, como
pode ser observado na tabela 41 abaixo, com resumo dos principais impactos do sistema
intensivo (S1). Aquele último, o PIB setorial, principalmente relacionado ao aumento da
remuneração do fator capital da biorrefinaria paulista (destilaria autônoma otimizada 1G) em
2493%.
Tabela 41 - Resumo dos principais impactos do Sistema Intensivo
Fonte: Elaboração Própria.
Por outro lado, o sistema de pecuária integrada ao setor sucroenergético, quando
comparado ao S1, apresenta aumento no valor da produção de 147 milhões de reais e queda
no PIB setorial de 0,25 milhões de reais, principalmente devido à elevação de 80,6 milhões de
reais dos outros subsídios à produção da pecuária integrada paulista.
Ao comparar empregos e remuneração do fator trabalho, o primeiro sistema apresenta
queda nas duas variáveis de 208.236 empregos e 4,3 bilhões de reais, respectivamente,
RegiãoValor da Produção (em
milhões de reais)
Emprego (em
mil)
PIB Setorial (em
milhões de reais)
São Paulo (SP) 4.927 -151.995 3.396
Centro-Oeste (CO) -1.136 -7.774 -584
Resto do Brasil (RB) -3.987 -48.467 -2.152
Brasil -196 -208.236 660
94
enquanto o segundo sistema (S2) aciona outros setores mais intensivos no fator trabalho e, por
isso, demandam maior número de trabalhadores, com 3.188 empregos adicionais.
Portanto, apresentam saldo positivo no número de empregos gerados e na remuneração
do fator trabalho (21 milhões de reais), apesar de ter acionado maior número de trabalhadores
na fase agrícola, onde a remuneração média é mais baixa.
Assim, verifica-se que o sistema de intensificação da pecuária, sem integração com o
setor sucroenergético, possui maior eficiência econômica com relação ao setor trabalho, pois
apresenta aumento do PIB setorial com menor demanda de mão-de-obra e saldo positivo de 7
bilhões de reais na remuneração do capital.
O efeito de transbordamento é relevante e só foi possível de ser analisado devido ao
uso da análise de Insumo-Produto. Com relação ao PIB setorial para o primeiro sistema, o
impacto sobre o Centro-Oeste e Resto do Brasil corresponde à perda de 584 milhões de reais e
2,1 bilhões de reais, respectivamente, enquanto no estado de São Paulo o impacto foi positivo
em 3,9 bilhões de reais.
Por outro lado, no segundo sistema, foi possível identificar um movimento contrário
de aumento do PIB setorial nas regiões Centro-Oeste e Resto do Brasil, de 1,02 milhão de
reais e 8,09 milhões de reais, respectivamente, com queda no estado de São Paulo de 9,36
milhões de reais e também em nível nacional, com 0,25 milhão de reais, como observado na
tabela 42 abaixo, com resumo dos principais impactos no sistema integração (S2).
Tabela 42 - Resumo dos principais impactos do Sistema Integração
Fonte: Elaboração Própria.
Em relação ao número de empregos gerados para o segundo sistema analisado, 93%
ficam concentrados no estado de São Paulo, com geração de 2.964 empregos, com efeito de
RegiãoValor da Produção
(em milhões de reais)
Emprego (em
mil)
PIB (em milhões de
reais)
São Paulo
(SP)130 2.964 -9
Centro-Oeste
(CO)2 20 1
Resto do
Brasil (RB)16 205 8
Brasil 147 3.188 -0,25
95
transbordamento de 7% para o Centro-Oeste e Resto do Brasil. No sistema de intensificação
da atividade pecuária, sem integração com o setor sucroenergético, os efeitos indiretos são
maiores, com transbordamento de 27% da redução de empregos para as regiões Centro-oeste
e Resto do Brasil.
A partir do nível de transbordamento foi possível identificar que o estado de São Paulo
depende muito mais da região Resto do Brasil do que do Centro-Oeste. Além disso, para as
variações das remunerações do trabalho e do capital, para os dois sistemas os efeitos ficaram
concentrados no estado de São Paulo. Para o valor da produção, os efeitos indiretos do
primeiro sistema foram muito maiores, quando comparados ao segundo.
O resultado deste estudo mostra que o sistema de intensificação das atividades de
pecuária e sucroenergética no estado de São Paulo gera riqueza para a economia brasileira,
com aumento do PIB setorial e redução de emprego, com maior uso do fator capital. Porém,
destaca-se a necessidade de subsídios à produção para fomentar a atividade pecuária
intensificada.
Além disso, como resultado deste trabalho, no segundo sistema, nota-se aumento no
valor da produção, queda no PIB setorial, geração de empregos e aumento da necessidade dos
subsídios à produção, com maiores impactos para o estado de São Paulo. Possivelmente, as
simulações, premissas e resultados desta dissertação contribuam para embasar novos estudos
e tomadores de decisão, especialmente quanto à políticas e ações voltadas para expansão e
intensificação da produção de biocombustíveis e atividade pecuária. Cabe reiterar que estes
resultados são válidos para as premissas e condições estabelecidas neste estudo.
Portanto, é importante ressaltar que a intensificação e integração da atividade pecuária
e sucroenergética são alternativas que podem contribuir com as ações de expansão da
produção de biocombustíveis propostas na NDC brasileira. Porém, vale ressaltar que os
aspectos socioeconômicos deste “modelo de negócios” não devem ser avaliados isoladamente.
Outro aspecto, como por exemplo, o ambiental, é extremamente importante para validar as
ações que devem ser direcionadas no âmbito da NDC nacional. Além disso, devido à
necessidade de subsídios para a intensificação da atividade pecuária, outras alternativas e
tecnologias devem ser avaliadas e comparadas para uma melhor decisão.
Diante da expectativa de aumento da produção de biocombustíveis, é importante ter
em vista que a intensificação e integração entre os setores sucroenergético e atividade
pecuária podem contribuir de modo significativo para a mitigação das emissões de GEE, além
de gerar mais riqueza para a economia brasileira e auxiliar no cumprimento das metas quanto
o aumento da participação de bioenergia na matriz energética brasileira, restauração de áreas
96
de pastagens degradadas e prevenção do deslocamento da atividade pecuária, evitando
desmatamento, e consequente queda nas mudanças indiretas de uso da terra.
Por fim, vale ressaltar que este estudo avança a fronteira do conhecimento quanto ao
tema tratado, mas não é suficiente e não deve ser avaliado de forma isolada para qualquer
tomada de decisão. Esta análise dos impactos socioeconômicos é um pilar que pode auxiliar e
embasar trabalhos com maior amplitude, direcionados para ações práticas e estudos de caso.
Com base em questões levantadas ao longo deste estudo, seguem sugestões para
investigações futuras:
• Fazer uma comparação dos impactos a partir de um sistema extensivo na
atividade pecuária, tanto para o sistema intensivo como para o sistema
integrado;
• Investigar se a integração cana-pecuária é uma alternativa para redução de
emissões de GEE (R$/CO2eq), quando comparada a outras tecnologias;
• Explorar o uso de outros sistemas produtivos, com possibilidade de avaliar
usinas flex (que utilizam para produção de etanol tanto a cana-de-açúcar como
o milho);
• Utilizar um modelo de equilíbrio geral, que responde a preços, para avaliar
outras variáveis econômicas;
• Avaliar a integração cana-pecuária com maior nível de integração.
97
Referências
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ANEXO A – Sistemas Produtivos da Pecuária
Para um melhor entendimento da produção bovina no Brasil, serão apresentadas as
principais práticas utilizadas em grande parte das regiões. De maneira geral, existem etapas de
produção bovina que dependem da combinação de fatores primários, como a prática de
manejo, o tipo do animal, o propósito da criação, a raça e o bioma. Aspectos econômicos,
culturais e sociais influenciam diretamente o processo produtivo. Considerando as principais
tecnologias empregadas (manejo de pasto, seleção genética e nutrição), os sistemas podem ser
definidos em três categorias: (i) extensivo, (ii) semi-extensivo e (iii) intensivo (CRESPOLINI,
2015):
(i) O sistema extensivo está relacionado ao regime alimentar exclusivo em
pastagem;
(ii) O sistema semi-extensivo é quando o regime alimentar tem uma combinação de
pastagem e suplementação a pasto;
(iii) O sistema intensivo inclui, além da pastagem e suplementação, terminação dos
animais em confinamento.
Devido à heterogeneidade das tecnologias empregadas, os sistemas produtivos podem
ser classificados de acordo com a fase da produção: cria, cria-recria, cria-recria-engorda ou
ciclo completo, recria-engorda e engorda (CRESPOLINI, 2015).
A fase da produção de cria acontece quando os machos são vendidos imediatamente
após o período de desmama (7 a 12 meses). A fase de cria-recria é divergente do processo
produtivo anterior devido ao tempo que os machos ficam retidos na propriedade, podendo
atingir a idade de 15 a 18 meses (CRESPOLINI, 2015).
Na fase seguinte, chamada de ciclo completo, todas as etapas de crescimento do animal
são realizadas na mesma propriedade, isto é, os animais são vendidos quando atingem o peso
para abate, de aproximadamente 17 a 18 arrobas (medida de massa que equivale a 15
quilogramas) (CRESPOLINI, 2015).
A idade pode variar de acordo com o manejo empregado na propriedade, com uma
média de 36 meses. A recria-engorda começa com o bezerro desmamado e termina com o boi
gordo. A engorda, fase de terminação, há compra de boi magro (24 a 36 meses) que fica na
propriedade até atingir o peso para abate (CRESPOLINI, 2015).
108
ANEXO B – Coeficientes Técnicos
Tabela B.1. Coeficientes técnicos a preço básico
Fonte: Elaboração Própria.
Sistema
Intensivo
Biorrefinaria
(Cen. 1)
Sistema
Integrado
Biorrefinaria
(Cen.2)
SP Levedura da cana P3 0 0 0,00083111 0
SP Bagaço P4 0 0 0,00935854 0
SP Silagem de milho P6 0,006352648 0 0 0
SP Milho em grão P7 0,130472871 0 0,16744718 0
SP Cana-de-açúcar P8 0 0,386849018 0 0,386825945
SP
SP Levedura de cerveja P28 0,000831106 0 0 0
SPÓleo de soja em bruto e tortas,
bagaços e farelo de sojaP30 0,014877825 0 0,01487782 0
SP Rações balanceadas para animais P32 0,054499541 0 0,05574744 0
SP Outros do refino P38 0 0,000177038 0 0,000177027
SP Gasoálcool P39 0 0 0 0
SP Diesel - biodiesel P40 0,008598379 0 0,00859838 0
SP Outros produtos químicos P43 0 0,003877364 0 0,003877133
SP Adubos e fertilizantes P44 0,460957803 0 0,4609578 0
SP Medicamentos para uso veterinário P46 0,036425579 0 0,036395 0
SPTratores, máquinas e equipamentos
mecânicosP51 0,024406056 0 0,02446722 0
SPTransmissão e distribuição de
energia elétricaP57 0,016939443 0 0,01693944 0
SP Comércio P60 0,108721703 0,000437528 0,11247412 0,000437502
SP Transportes P61 0,021643789 0,016027283 0,02403907 0,016026327
Importado 0,046180541 0,000967342 0,04654436 0,000967285
IIIL 0,066335629 0,01140589 0,06666571 0,01140521
Remunerações 0,037312516 0,022916667 0,03731252 0,022916667
Excedente operacional bruto e
rendimento misto bruto0,35 0,550007632 0,35 0,550032666
Outros impostos sobre a produção 0 0,007334238 0 0,007334238
Outros subsídios à produção -0,38455543 0 -0,4326557 0
Pessoal Ocupado 4,951994158 0,618890767 4,95199416 0,618890767
Coeficientes Técnicos a preço básico