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I UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Fundada em 18 de fevereiro de 1808 Monografia Avaliação dos resultados das colecistectomias laparoscópicas realizadas em hospital universitário de Salvador (Bahia, Brasil), no período de 2010 a 2012 Nathalie Soares Sanches Salvador (Bahia) Novembro, 2015

Avaliação dos resultados das colecistectomias ... Soares... · (Charles Chaplin) VI À Minha Avó, Cely Martins Soares. VII ... Colelitíase é predominantemente uma inabilidade

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I

UNIVERSIDADE  FEDERAL  DA  BAHIA  FACULDADE  DE  MEDICINA  DA  BAHIA  

Fundada  em  18  de  fevereiro  de  1808

Monografia

Avaliação dos resultados das colecistectomias laparoscópicas realizadas em hospital universitário de Salvador (Bahia,

Brasil), no período de 2010 a 2012

Nathalie Soares Sanches

Salvador (Bahia) Novembro, 2015

II

                                         

FICHA  CATALOGRÁFICA  SIBI/Bibliotheca  Gonçalo  Moniz:  Memória  da  Saúde  Brasileira  

                     Sanches,  Nathalie  Soares  S211                Avaliação  dos  resultados  das  colecistectomias  laparoscópicas  realizadas  em                        hospital  em  hospital  universitário  de  Salvador  (Bahia,  Brasil)  no  período  de  2010                      a  2012  /  Nathalie  Soares  Sanches.    Salvador:  NS  Sanches,  2015.                                                          viii,  41  fls.                                                                                                                          Professor  orientador:  Eduardo  Freitas  Viana.                                                                          Monografia  como  exigência  parcial  e  obrigatória  para  Conclusão  de  Curso  de                        Medicina  da  Faculdade  de  Medicina  da  Bahia  (FMB),  da  Universidade  Federal  da                        Bahia  (UFBA).                                                                            

1.   Colecistectomia  laparoscópica.    2.  Colelítiase.  3.  Complicação.    4.  Conversão.    I.  Viana,  Eduardo  Freitas.    II.  Universidade  Federal  da  Bahia.  Faculdade  de  Medicina  da  Bahia.  III.  Título.  

                                                                                                                                                                                                       CDU  –  616.366-­089.87  

III

UNIVERSIDADE  FEDERAL  DA  BAHIA  FACULDADE  DE  MEDICINA  DA  BAHIA  

Fundada  em  18  de  fevereiro  de  1808

Monografia

Avaliação dos resultados das colecistectomias laparoscópicas realizadas em hospital universitário de Salvador (Bahia,

Brasil), no período de 2010 a 2012

Nathalie Soares Sanches

Professor orientador: Eduardo Freitas Viana

Monografia de Conclusão do Componente Curricular MED-B60/2015.1, como pré-requisito obrigatório e parcial para conclusão do curso médico da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia, apresentada ao Colegiado do Curso de Graduação em Medicina.

Salvador (Bahia) Novembro, 2015

IV

Monografia: Avaliação dos resultados das colecistectomias laparoscópicas realizadas em hospital universitário de Salvador (Bahia, Brasil), no período de 2010 a 2012, de Nathalie Soares Sanches.

Professor orientador: Eduardo Freitas Viana

COMISSÃO REVISORA:

•   Eduardo Freitas Viana (Presidente, Professor orientador), Professor do Departamento de Anestesiologia e Cirurgia da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia.

•   Daniel Abensur Athanazio, Professor do Departamento de Patologia e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia.

•   Junia Raquel Dutra Ferreira, Doutoranda do Curso de Doutorado do Programa de Pós-graduação em Patologia Humana e Patologia Experimental (PPgPat) da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia.

TERMO DE REGISTRO ACADÊMICO: Monografia avaliada pela Comissão Revisora, e julgada apta à apresentação pública no IX Seminário Estudantil de Pesquisa da Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA, com posterior homologação do conceito final pela coordenação do Núcleo de Formação Científica e de MED-B60 (Monografia IV). Salvador (Bahia), em ___ de _____________ de 2015.

V

A persistência é o menor caminho do êxito. (Charles Chaplin)

VI

À Minha Avó, Cely Martins Soares

VII

EQUIPE

•   Nathalie Soares Sanches, Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA. Correio-e: [email protected];

•   Professor orientador: Eduardo Freitas Viana, Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA. Correio-e: [email protected].

INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Ø   Faculdade de Medicina da Bahia (FMB) Ø   Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos (Complexo HUPES)

FONTES DE FINANCIAMENTO 1. Recursos próprios.

VIII

AGRADECIMENTOS

♦   Ao meu Professor orientador, Doutor Eduardo Viana, pela presença constante e substantivas orientações acadêmicas e à minha vida profissional de futura médica.

♦   Ao Doutor José Tavares-Neto, meu professor e colaborador para a realização e

aperfeiçoamento deste trabalho e pela sua constante e incansável disposição em busca da excelência dos trabalhos de Monografia realizados nesta escola.

♦   Aos membros da comissão revisora Professor Daniel Athanazio e a Doutoranda Junia

Dutra pela colaboração na construção deste trabalho. ♦   À Ednalva Oliveira, arquivista do Serviço de Arquivo Médico e Estatística (SAME) deste

hospital universitário por toda a ajuda e solicitude na busca ativa dos prontuários utilizados nesta pesquisa.

♦   Às enfermeiras Deise Veruska e Juliana Brazil, pelo auxílio na localização dos livros de

registros de cirurgias realizadas neste hospital escola, sem os quais este trabalho não seria possível.

♦   Aos meus Colegas e amigos Aline Rezende, Alisson Andrade, Beatriz Martinelli, Carlos

Eduardo Passos, Mariana Echegaray, Priscila Neri e Victor Hugo Ribeiro, pela colaboração e prestatividade nos muitos passos e dúvidas ao longo deste projeto e por serem sempre fator agregador à minha vida acadêmica.

♦   Aos Colegas da minha querida Liga Acadêmica de Cirurgia do Aparelho Digestório

(LACAD – UFBA) por sua participação decisiva e marcante em minha trajetória acadêmica e na definição do tema deste projeto.

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SUMÁRIO

ÍNDICE DE TABELAS 2 I. RESUMO 3 II. OBJETIVOS 4 III. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 5 IV. REVISÃO DA LITERATURA 7

IV.1. Colelitíase 7 IV.2. Colecistectomia laparoscópica 9

V. METODOLOGIA 12 IV.1. Desenho de estudo 12 IV.2. Casuística: critérios de inclusão e exclusão 12 IV.3. Sistematização das variáveis 12 IV.4. Métodos estatísticos 13 IV.5. Descrição metodológica 14 IV.6. Considerações éticas 14 VI. RESULTADOS 16 VII. DISCUSSÃO 26 VIII. CONCLUSÕES 30 IX. SUMMARY 31 X. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 32 XI. ANEXOS 35

•  ANEXO I: Ficha de coleta de dados 35 •  ANEXO II: Parecer consubstanciado do CEP 36 •  ANEXO III: Parecer consubstanciado do CEP (Emenda – Versão 2) 40

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ÍNDICE DE TABELAS

TABELA 1. Doença de base relacionada à vesícula biliar em pacientes com indicação de Colecistectomia Laparoscópica no período de 2010 a 2012 no Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos.

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TABELA 2. Distribuição de comorbidades sistêmicas em pacientes com indicação de Colecistectomia Laparoscópica no período de 2010 a 2012 no Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos.

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TABELA 3. Frequência de procedimentos relacionados à cirurgia nos pacientes submetidos a Colecistectomia Laparoscópica no período de 2010 a 2012 no Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos.

18

TABELA 4. Desfechos relacionados ao ato operatório nos pacientes submetidos a Colecistectomia Laparoscópica no período de 2010 a 2012 no Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos.

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TABELA 5. Análise univariada das variáveis clínico-epidemiológicas qualitativas e Complicação em pacientes com indicação de Colecistectomia Laparoscópica no período de 2010 a 2012 no Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos.

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TABELA 6. Análise univariada das variáveis quantitativas e Complicação em pacientes com indicação de Colecistectomia Laparoscópica no período de 2010 a 2012 no Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos.

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TABELA 7. Análise univariada das variáveis clínico-epidemiológicas qualitativas e taxa de conversão nos pacientes submetidos a Colecistectomia Laparoscópica no período de 2010 a 2012 no Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos.

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TABELA 8. Análise univariada das variáveis quantitativas e taxa de conversão nos pacientes submetidos a Colecistectomia Laparoscópica no período de 2010 a 2012 no Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos.

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I.   RESUMO

AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DAS COLECISTECTOMIAS LAPAROSCÓPICAS REALIZADAS EM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE SALVADOR (BAHIA, BRASIL), NO PERÍODO DE 2010 A 2012 Fundamentação: A colecistectomia laparoscópica é a principal técnica para o tratamento da grande maioria de doenças da vesícula biliar, sobretudo a colelitíase. Complicações nesta operação estão relacionadas, em parte, a condições do pacientes e da doença biliar em questão, inexperiência do cirurgião e limitações inerentes a qualquer cirurgia minimamente invasiva. Determinadas complicações são definidas como “Stop Rules” e a conversão precoce para a técnica aberta é indicada para maior segurança do paciente. Este estudo visa proporcionar investigação de um número considerável de pacientes submetidos a essa abordagem no âmbito deste hospital escola. Objetivos: Avaliação dos resultados do tratamento laparoscópico das colecistopatias, incluindo complicações e taxa de conversão para a técnica aberta (convencional). Métodos: Estudo retrospectivo de série de casos em pacientes submetidos à colecistectomia laparoscópica no Hospital Universitário Professor Edgard Santos no período de 2010 a 2012; e análise dos resultados foi descritiva. Resultados: Foram analisados prontuários de 345 pacientes (285 mulheres e 60 homens), com predomínio de colecistite crônica calculosa como doença de base. Das 345 cirurgias analisadas, 343 (99,4%) foram eletivas e em 40 (11,6%) casos, houve complicações relacionada ao ato operatório. A ocorrência de conversão da técnica videolaparoscópica para a técnica convencional foi de 19 (5,5%) eventos. Houve relação estatisticamente significante entre a ocorrência de complicação e as variáveis coledocolitíase pré-operatória, CPRE (colangiopancreatografia retrógrada endoscópica) prévia, tempo cirúrgico, tempo anestésico e idade, enquanto a taxa de conversão teve associação significante com as variáveis sexo, coledocolitíase pré-operatória, CPRE prévia, colangiografia intra-operatória, tempo cirúrgico, tempo anestésico e tempo de internamento. As complicações mais frequentes foram perfuração inadvertida da vesícula biliar, sangramento do sítio operatório, lesão inadvertida do fígado e dificuldade de abordagem do sítio operatório. Discussão: As taxas de complicação e conversão encontradas neste estudo são compatíveis com a literatura, bem como as variáveis implicadas como fatores de risco para sua ocorrência. Conclusão: Coledocolitíase, CPRE prévia e idade foram fator de risco para complicação intraoperatória, enquanto sexo masculino, coledocolitíase, CPRE prévia e colangiografia intra-operatória foram fator de risco para conversão da cirurgia laparoscópica para a técnica aberta.

Palavras chave: colecistectomia laparoscópica; colelitíase; complicações; conversão.

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II.   OBJETIVOS

Geral

Avaliação dos resultados do tratamento laparoscópico das

colecistopatias, incluindo complicações e taxa de conversão para a

técnica aberta (convencional).

Específicos

1.   Avaliar possíveis fatores de risco que predispõem a complicações em

colecistectomias laparoscópicas.

2.   Avaliar possíveis fatores de risco que predispõem a conversão da

colecistectomia laparoscópica para a técnica aberta.

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III.   FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Desde que a colecistectomia laparoscópica ganhou grande aceitação como

técnica preferencial, complicações que não eram comumente vistas na técnica aberta,

como lesão de ducto biliar, passaram a ser relatadas em cerca de 5% dos pacientes6;7.

Considerando as complicações mais graves, estudos apontam que estas ocorrências

seguem com uma taxa maior do que na cirurgia aberta, mesmo com a crescente

experiência no procedimento12. Ao mesmo tempo, a taxa de complicação na

colecistectomia aberta também vem crescendo devido à falta de experiência dos novos

cirurgiões com esta técnica, ficando reservada assim aos casos mais complicados e

específicos12. Com relação a outros resultados adversos, como retenção de cálculos no

ducto colédoco, síndrome pós-colecistectomia e disfunção do esfíncter de Oddi,

ocorrem com a mesma frequência na técnica aberta ou fechada6;7;12.

Complicações mais graves que ocorrem na colecistectomia laparoscópica

incluem, além da lesão do ducto hepático comum e colédoco, vazamento de bile,

sangramento e lesão intestinal6;7. Estas complicações estão relacionadas, em parte, a

condições do pacientes, inexperiência do cirurgião e limitações inerentes a qualquer

cirurgia minimamente invasiva6;7;12. Daí contraindicações para abordagem

laparoscópica ser a presença de distúrbios cardiopulmonares graves e a coagulopatia

não controlada, embora não possam sempre ser consideradas contraindicações

absolutas. A instalação do pneumoperitôneo aumenta a pressão intra-abdominal, o que

diminui o retorno venoso, causando taquicardia, aumento da resistência vascular

periférica e diminuição do débito cardíaco, eventos indesejados no paciente cardiopata

grave. Ao mesmo tempo, o aumento da pressão intra-abdominal eleva o diafragma,

causando diminuição da capacidade vital e do volume respiratório, o que pode acarretar

hipóxia e/ou hipercapnia, consequências perigosas no paciente portador de DPOC

grave9.

A principal forma de lesão de ductos é a injúria térmica, que pode inicialmente

passar despercebida. Essas complicações são concebidas como “Stop Rules” para os

cirurgiões que estão realizando a operação8;11. Assim, se uma dissecção segura não pode

ser assegurada por laparoscopia, a conversão precoce para a técnica aberta deve ser

entendida como o curso natural nestes casos. Sangramentos geralmente ocorrem nas

6

etapas finais de remoção da vesícula biliar da fossa hepática, e, de maneira geral,

implicam conversão imediata para a cirurgia aberta para melhor controle da hemorragia,

se as tentativas de controle na abordagem laparoscópica tiverem falhado6;7;12.

De forma geral, a conversão para a abordagem aberta implica aumento da

mobimortalidade, aumento da taxa de infecções pulmonares e de sítio cirúrgico, e maior

tempo de internamento8;10;11. A capacidade de identificar com precisão o risco

individual de cada paciente para a conversão com base na informação pré-operatória

pode resultar em melhor aconselhamento pré-cirúrgico, melhor programação da sala de

operação e estratificação de risco para uma possível dificuldade técnica, minimizando o

tempo para uma conversão e identificando pacientes nos quais uma colecistectomia

aberta planejada é mais indicada8;9;10;11.

7

IV.   REVISÃO DA LITERATURA

IV.1. Colelitíase

A colecistectomia laparoscópica é a principal técnica para o tratamento da

grande maioria de doenças da vesícula biliar. A patologia mais comumente envolvida

neste tratamento é a colelitíase e suas complicações.

Colelitíase é predominantemente uma inabilidade de manter o colesterol livre

solúvel na bile. A vesícula biliar, que atua como reservatório final para a bile, a

concentra pela remoção de água, e após uma refeição, mediante estímulos do sistema

nervoso entérico e da colecistocinina, sofre contrações sequenciadas para liberar seu

conteúdo para o intestino1. O prejuízo da contratilidade da vesícula é um dos passos

críticos na patogênese da litíase biliar1.

Os cálculos biliares podem ser de três tipos: de colesterol, mistos ou negros,

sendo os cálculos de colesterol responsáveis pela maioria dos casos de litíase biliar,

principalmente em países ocidentais, devido em grande parte a uma dieta rica em

proteínas e gorduras. A secreção biliar aumentada de colesterol resulta em

supersaturação de colesterol na bile, resultando em excesso de secreção de muco na

vesícula biliar, como forma de proteção à mucosa1. Com isso, há a formação de uma

camada de gel e consequente estase, fazendo com que o colesterol se nucleie e sejam

depositados cristais de colesterol. Esses cristais podem ser facilmente expelidos pelo

ducto cístico devido a seu pequeno tamanho, mas a formação da chamada lama biliar

(sais de cálcio, bilirrubina, mucina e cristais) dificulta a saída1.

Também chamada de microlitíase, a lama biliar pode regredir ou persistir

formando cálculos propriamente ditos, quando os cristais de colesterol crescem para

formar placas, devido, em grande parte, ao comprometimento da contratilidade da

vesícula biliar. Isso ocorre porque a supersaturação do colesterol aumenta a absorção de

colesterol pelo músculo liso do órgão, e este processo dificulta ou mesmo impede a

contratilidade do músculo liso, reduzindo sua responsividade à colecistocinina1.

Quanto à epidemiologia, pode-se citar como fatores de risco para a colelitíase:

idade, sexo feminino, paridade, obesidade, rápida perda de peso, hipertrigliceridemia,

8

genética, medicamentos (p. ex. estrógeno, clofibrato, ceftriaxona), ressecção do íleo

terminal, hipomotilidade da vesícula biliar (p. ex. gestação, diabetes), etc. Não se pode

afirmar a existência de um gene específico atribuído ao risco aumentado para

colelitíase, mas genes litogênicos, como o gene da bomba transportadora de sais

biliares, são descritos em camundongos susceptíveis a cálculos biliares. A doença

calculosa em humanos deve ser, portanto, uma combinação de susceptibilidade

poligênica complexa e fatores ambientais1.

Na maioria dos casos, a colelitíase é assintomática e não traz repercussões

clínico-cirúrgicas. Evoluções da colelitíase incluem colecistite calculosa crônica (mais

comum), colecistite aguda, coledocolitíase, pancreatite aguda biliar e outras1. Os

sintomas mais comumente identificados num quadro de colecistite crônica

frequentemente são inespecíficos, podendo incluir náuseas, distensão abdominal e dor

em quadrante superior direito. A cólica biliar é referida como uma dor em hipocôndrio

direito ou epigástrio, frequentemente irradiando para dorso, e costuma ser intensa e

constante. Se houver colecistite aguda associada, febre, leucocitose e sensibilidade

abdominal (Sinal de Murphy) geralmente estão presentes1.

No quadro de coledocolitíase, na maioria das vezes relacionado à migração do

cálculo da vesícula para o colédoco, os pacientes tipicamente apresentam-se com dor

tipo cólica, muitas vezes associada à icterícia, colúria e acolia fecal, e testes

laboratoriais que revelam padrão colestático, ou seja, hiperbilirrubinemia conjugada e

fosfatase alcalina e gama-GT elevadas2.

Uma possível complicação da coledocolitíase é a colangite aguda, com a

presença da tríade de Charcot (febre, dor no quadrante superior direito e icterícia) e

leucocitose2. Na pancreatite aguda biliar (por obstrução do ducto pancreático) a

apresentação geralmente inclui dor abdominal em faixa, náuseas e vômitos, além de

aumento considerável de amilase e lipase pancreáticas3. Outras complicações, menos

frequentes, são a fístula colecisto-entérica e o íleo biliar. Estas complicações ocorrem

com a evolução do quadro-base de colecistopatia calculosa a um quadro agudo com

formação de fístula colecistoentérica e, possivelmente, obstrução mecânica do trato

gastrointestinal decorrente da impactação de um ou mais cálculos biliares na luz

9

intestinal (íleo biliar), manifestada através de sintomas inespecíficos, com sinais de

patologia intestinal do espectro obstrutivo2.

IV.2. Colecistectomia laparoscópica

O tratamento cirúrgico laparoscópico da colelitíase e demais afecções da

vesícula biliar é considerado o padrão ouro e é largamente empregado nos diversos

serviços no Brasil e no mundo4;5. O procedimento tem inúmeras vantagens em relação à

técnica aberta, como menor dor pós-operatória, melhor resultado estético, menor taxa de

complicações de parede, menor uso de analgésicos, menor tempo de internamento

hospitalar e retorno precoce do paciente ao trabalho4;5;13.

O custo da abordagem laparoscópica costuma ser maior, mas quando se

considera o menor tempo de internamento, menos uso de analgésicos e retorno mais

precoce ao trabalho, o custo final é menor. Além disso, o custo também é menor quando

se considera complicações tardias da incisão, como hérnias. A principal diferença da

técnica aberta está no acesso à cavidade abdominal, que é feito através da criação de

pneumoperitôneo por meio da insuflação de CO2 no interior da cavidade abdominal.

Esta insuflação pode ser realizada através da introdução da agulha de Veress na região

umbilical5.

Para o procedimento, o paciente é colocado em decúbito dorsal sobre a mesa de

operação e em seguida é procedida a anestesia geral. Durante o acesso abdominal e

insuflação do abdome, a mesa pode ficar plana. Em seguida, o paciente deve ser

colocado numa posição de Trendelenburg inversa com o lado esquerdo para baixo para

ajudar com a exposição da vesícula biliar. A instalação do pneumoperitôneo pela agulha

de Veress é uma etapa crucial da cirurgia, pois é feita às cegas e, se não houver o devido

cuidado do cirurgião, pode haver perfuração de alguma víscera abdominal. Cuidado

semelhante deve ser tomado na inserção do primeiro trocáter, também feito às cegas.

Depois disso, os demais trocáteres que permitem o acesso dos instrumentos cirúrgicos

são colocados já com a visualização do interior da cavidade abdominal pela câmera

colocada com o primeiro trocáter. Em contraponto ao acesso laparoscópico fechado, há

o acesso laparoscópico aberto, no qual o pneumoperitôneo pode ser realizado com a

10

introdução do primeiro trocáter sob visão direta, com o objetivo de minimizar os

danos4;5.

Recentemente, melhorias técnicas permitiram que muitos procedimentos

minimamente invasivos fossem adaptados para um número reduzido de incisões e, em

muitos casos, apenas um incisão. Quase todos os estudos têm mostrado métricas

operacionais equivalentes a técnicas laparoscópicas padrão, incluindo duração da

cirurgia, sangramento, complicações perioperatórias e recuperação pós-operatória14.

Ainda assim, parece haver um aumento na taxa de lesões do ducto biliar na prática de

incisão única quando comparada com as taxas históricas durante a técnica laparoscópica

padrão14.

A remoção da vesícula biliar requer a dissecção cuidadosa das estruturas

relacionadas ao órgão, no chamado triângulo de Calot ou triângulo hepatocístico. O

triângulo de Calot é delimitado por três estruturas: o ducto hepático comum, o ducto

cístico e o fígado. A artéria cística, que deve ser clipada durante a colecistectomia

laparoscópica, geralmente passa por dentro desse triângulo, bem como, eventualmente,

a artéria hepática direita, que costuma originar a primeira. Por isso, a visualização e

dissecção cuidadosa das estruturas do triângulo de Calot são fundamentais para dar

seguimento ao procedimento, com a clipagem seletiva da artéria cística e ducto cístico.

O uso de colangiografia perioperatória rotineiramente é acessível e traz resultados

bastante positivos no delineamento da anatomia biliar extra-hepática para o ato

operatório, sobretudo em pacientes com variações anatômicas e/ou doença

complicada2;13.

A complicação mais frequente e séria da técnica laparoscópica é a lesão do ducto

hepático comum e colédoco, mais comum quando a indicação para a cirurgia é

colecistite aguda. Por isso a importância da “visão crítica de segurança” do triângulo de

Calot, com dissecção de todo o tecido, exceto o ducto e artéria císticos, e exposição da

base do leito hepático4. Feita a ligadura do pedículo da vesícula com clipes metálicos,

realiza-se a liberação da vesícula do seu leito, geralmente com o uso de eletrocautério, e

em seguida procede-se sua retirada através, geralmente, do trocáter umbilical, onde não

há camadas musculares e a extensão é fácil, com o mínimo de dor e comprometimento

estético. Para limitar a contaminação do abdome e da ferida por bile, um saco de

11

extração é utilizado quando a vesícula é agudamente inflamada e friável ou quando

houve perfuração4;5.

12

V.   METODOLOGIA

V.1. Desenho de estudo

Estudo retrospectivo de série de casos (estudo descritivo observacional).

V.2. Casuística

Pacientes submetidos à colecistectomia laparoscópica no Complexo Hospitalar

Universitário Professor Edgard Santos (Complexo HUPES) no período de 2010 a 2012.

Critérios de inclusão:

1.   Pacientes portadores de colecistopatia crônica ou aguda

submetidos à colecistectomia laparoscópica como técnica

inicial no Complexo Hospitalar Universitário Professor

Edgard Santos.

2.   Pacientes cujos prontuários ofereçam as informações

adequadas de acordo com a ficha de coleta.

Critérios de exclusão:

1.   Pacientes submetidos à colecistectomia aberta como

técnica inicial.

2.   Pacientes que trataram complicações no Complexo

Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos mas que

tiveram cirurgia original em outro hospital.

V.3. Sistematização das variáveis

A.   Demográficas:

1.   Idade (em anos);

2.   Sexo (masculino ou feminino); e

3.   Grupo racial (branco, pardo, negro, índio e amarelo).

B.   Comorbidades sistêmicas (e.g., diabetes mellitus; hipertensão arterial etc.);

13

C.   Diagnóstico principal à internação: colecistite crônica calculosa; colecistite

aguda (tratamento precoce versus tardio); presença ou não de colecodolitíase

pré-operatória; histórico de pancreatite e outros eventos relacionados a via biliar,

previamente identificados antes do procedimento cirúrgico.

D.   Tipo de complicações: complicações sistêmicas; e complicações específicas

(lesão de via biliar, fístula biliar, sangramento e infecção de sítio cirúrgico).

E.   Indicações da conversão.

V.4. Métodos Estatísticos

Para variáveis qualitativas nominais como sexo, presença ou não de

comorbidades e tipo de evento biliar que indicou a cirurgia, foram utilizados cálculos de

frequências absolutas e relativas (percentagem da casuística). Para as variáveis

quantitativas, em escala métrica, como a idade, foram calculadas as médias, medianas e

o desvio padrão.

Foram também estudadas as frequências de morbidade, letalidade e

hemotransfusão, assim como as frequências de cada tipo de complicação e taxa de

conversão. Além disso, foram analisadas as médias, medianas e os desvios padrão dos

tempos de cirurgia e de anestesia e dos tempos de internação.

Para a associação entre os fatores clínico-patológicos e a taxa de complicações e

de conversão foi utilizado o teste qui-quadrado e o teste exato de Fischer. Para as

variáveis quantitativas (idade, tempos cirúrgico, anestésico e de internamento) foi feita a

descrição da média e o desvio padrão e a comparação com os desfechos analisados

(complicação X conversão) através do teste T de Student. Todos os testes foram

bicaudados e considerados estatisticamente significantes com erro α de 5%. A análise

estatística foi realizada através do programa Statistical Package for the Social Sciences

(SPSS) versão 17.0.

14

V.5. Descrição metodológica

Após aprovação deste projeto no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da

Faculdade de Medicina da da Bahia da Universidade Federal da Bahia, foi iniciada a

busca ativa dos dados. Através do livro de registro de cirurgias disponibilizado pela

enfermeira coordenadora do centro cirúrgico do Complexo Hospitalar Universitário

Professor Edgard Santos, foram selecionados os números de prontuários de pacientes

submetidos à colecistectomias. Para eliminar possíveis perdas de prontuários válidos

devido à registro incompleto no livro de registro de cirurgias, todos os prontuários com

registros referentes à colecistectomias foram incluídos nesta etapa de seleção inicial.

Foram levados para consulta no Serviço de Arquivo Médico e Estatística (SAME) deste

complexo hospitalar os números de 453 prontuários pré-selecionados pelo livro de

registro de cirurgias, com descarte de 87 deles por critério de exclusão (pacientes

submetidos à colecistectomia aberta como técnica inicial) e com 21 prontuários não

localizados pelo SAME, mesmo após busca ativa no setor de Contas Médicas, Central

de Regulação e enfermarias de Clínica Cirúrgica deste hospital. Foram então analisados

os 345 prontuários restantes através da ficha de coleta (ANEXO I).

V.6. Considerações Éticas

Esta pesquisa foi realizada respeitando as normas e diretrizes que regulamentam

as pesquisas científicas que envolvem seres humanos, publicadas na resolução nº 466/12

do Conselho Nacional de Saúde. Tal trabalho foi submetido ao Cômite de Ética e

Pesquisa da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia e todas

as informações obtidas em prontuários analisados terão sua privacidade e sigilo

preservados. O projeto "Avaliação dos resultados das colecistectomias laparoscópicas

realizadas em hospital universitário de Salvador (Bahia, Brasil), no período de 2007 a

2012" foi aprovado em 14 de Maio de 2014 pelo Comitê de Ética e Pesquisa da

Faculdade de Medicina da Bahia (FMB/UFBA), conforme ANEXO II. O número do

parecer é 646.298 e o número do CAAE é 30396514.7.0000.5577.

Foi submetida uma Emenda do projeto em 29 de Agosto de 2014 devido à

impossibilidade de localização dos prontuários anteriores ao ano de 2010, havendo

necessidade de alteração do período de estudo pretendido, o que implica alteração do

título do projeto de “Avaliação dos resultados das colecistectomias laparoscópicas

15

realizadas em hospital universitário de Salvador (Bahia, Brasil), no período de 2007 a

2012” para “Avaliação dos resultados das colecistectomias laparoscópicas realizadas em

hospital universitário de Salvador (Bahia, Brasil), no período de 2010 a 2012”. Esta

impossibilidade ocorreu devido aos registros dos números de prontuários (que são

retirados no livro de cirurgias realizadas do centro cirúrgico do Complexo Hospitalar

Universitário Professor Edgard Santos) estarem disponíveis somente a partir do final do

ano de 2009, por motivos de organização do arquivo do hospital referido. Sendo assim,

foi decidido não incluir apenas os meses finais de 2009, e analisar os anos de 2010,

2011 e 2012 de maneira integral. A emenda foi aprovada pelo Cômite de Ética e

Pesquisa da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia em 29

de Setembro de 2014, conforme ANEXO III. O número do parecer é 811.838 e o

número do CAAE é 30396514.7.0000.5577.

16

VI.   RESULTADOS

Dos 345 pacientes dos prontuários analisados, 285 (82,6%) eram do sexo

feminino e 60 (17,4%) eram do sexo masculino. A idade variou de 14 a 88 anos, com

média de 48 anos, mediana de 49 anos e desvio padrão de ±15,55 anos. Quanto aos

grupos raciais dos pacientes, registrados em prontuário, foram: 42 (12,2%) brancos; 41

(11,9%) negros, 258 (74,8%) pardos; 1 índio (0,3%); e 3 (0,9%) sem registro.

Com relação à doença de base relacionada ao procedimento cirúrgico analisado,

dos 345 pacientes, 11 (3,2%) apresentavam colecistite aguda, 327 (94,8%)

apresentavam colecistite crônica calculosa, 41 (11,9%) apresentavam coledocolitíase

pré-operatória, 15 (4,3%) apresentavam pancreatite aguda biliar prévia e 11 (3,2%)

apresentavam outra doença de base principal, sendo 3 (0,9%) casos de colecistite

crônica acalculosa, 6 (1,7%) casos de pólipo de vesícula biliar, 1 (0,3%) caso de

Síndrome de Mirizzi e 1 (0,3%) caso de neoplasia de vesícula biliar. Foram registrados

33 (9,6%) casos de colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) prévia à

realização da cirugia. A apresentação da doença de base relacionada ao procedimento

cirúrgico é mostrada na Tabela 1.

TABELA 1. Doença de base relacionada à vesícula biliar em pacientes com indicação de Colecistectomia Laparoscópica no período de 2010 a 2012 no Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos.

Doença de base Frequência (%)

Colecistite Aguda 11 (3,2)

Colecistite Crônica Calculosa 327 (94,8)

Coledocolitíase Pré-operatória 41 (11,9)

Pancreatite Aguda Biliar Prévia 15 (4,3)

Outras (*) 11 (3,2) (*) pólipo de vesícula biliar (n=6);

colecistite crônica acalculosa (n=3);

Síndrome de Mirizzi (n=1) e neoplasia de

vesícula biliar (n=1).

17

Sobre comorbidades sistêmicas, dos 345 pacientes estudados, 130 (37,7%)

tinham diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica (HAS), 38 (11,0%) tinham

diagnóstico de diabetes mellitus (DM), 2 (0,6%) tinham história de infarto agudo do

miocárdio (IAM) prévio à cirurgia analisada, 7 (2,0%) tinham diagnóstico de

Insuficiência Cardíaca (IC), 11 (3,2%) tinham diagnóstico de arritmia cardíaca, 8

(2,3%) tinham diagnóstico de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e 148

(42,9%) apresentavam diagnóstico de alguma outra comorbidade. Das outras

comorbidades analisadas, foram expressivos os números de hematopatias (com destaque

para anemia falciforme em 6 casos), hepatopatias (com destaque para hepatite C em 9

casos), pneumopatias (com destaque para rinite alérgica em 11 casos), tireoideopatias

(com destaque para hipotireoidismo em 8 casos), Doença de Chagas em 10 casos e,

principalmente, algum componente da síndrome metabólica, o que ocorreu em 53

pacientes, sendo 18 registros de obesidade, 17 casos de dislipidemia e 14 casos de

esteatose hepática. Com relação às medicações em uso no pré-operatório destacaram-se

os anti-hipertensivos, dentre eles Hidroclorotiazida em 56 pacientes e Captopril e

Losartana em 33 pacientes; os antidiabéticos orais, principalmente Metformina,

registrada em 25 casos; os inibidores de bomba de prótons, com 21 usuários de

Omeprazol; e as estatinas, sendo Sinvastatina utilizada por 19 pacientes. O padrão de

comorbidades é evidenciado na Tabela 2.

TABELA 2. Distribuição de comorbidades sistêmicas em pacientes com indicação de colecistectomia laparoscópica, no período de 2010 a 2012, do Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos.

Comorbidade Sistêmica Frequência (%)

Hipertensão arterial sistêmica 130 (37,7)

Diabetes mellitus 38 (11)

Infarto agudo do miocárdio prévio 2 (0,6)

Insuficiência cardíaca 7 (2,0)

Arritmias 11 (3,2)

Doença pulmonar obstrutica crônica (DPOC) 8 (2,3)

Continua.

18

TABELA 2. [continuação]

Coagulopatia . 0

Outras (*) 148 (42,9) (*) obesidade (n=18); dislipidemia (n=17); esteatose hepática

(n=14); Doença de Chagas (n=10); rinite alérgica (n=10); hepatite

C (n=9); hipotireoidismo (n=8); anemia falciforme (n=6) etc.

Das 345 cirurgias analisadas, 343 (99,4%) foram eletivas e 2 (0,6%) foram de

urgência, como é demonstrado na Tabela 3. O tempo cirúrgico (duração do

procedimento cirúrgico) foi registrado em 339 prontuários, variando de um mínimo de

40 minutos a um máximo de 410 minutos, com média de 112,493 minutos, mediana de

100 minutos e desvio padrão de 49,5365 minutos, e 6 prontuários não continham este

registro (missing data). O tempo anestésico (duração da indução anestésica) foi

documentado em 319 prontuários, variando de um mínimo de 75 minutos a um máximo

de 455 minutos, com média de 163,229 minutos, mediana de 155 minutos e desvio

padrão de 53,0412 minutos, com 26 prontuários que não continham esta informação

(missing data). Dos 345 pacientes, 275 (79,7%) não fizeram uso de hemoderivados e 67

(19,4%) não tinham este registro em prontuário (missing data), com apenas 3 (0,9%)

registros positivos quanto a esta variável. Existiram 12 (3,5%) casos de colangiografia

intra-operatória.

TABELA 3. Frequência de procedimentos relacionados à cirurgia nos pacientes submetidos a Colecistectomia Laparoscópica no período de 2010 a 2012 no Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos.

Procedimento Frequência (%)

Cirurgia Eletiva 343 (99,4)

Cirurgia de Urgência 2 (0,6)

Uso de hemoderivados 3 (0,9)

Colangiografia intra-operatória 12 (3,5)

19

Foram identificados 40 (11,6%) casos de procedimentos com complicação e/ou

intercorrência relacionada ao ato operatório. Dentre estas complicações, foi

documentada perfuração inadvertida da vesícula biliar em 16 casos, sangramento do

sítio operatório em 7 casos, lesão inadvertida do fígado em 4 casos, dificuldade de

abordagem do sítio operatório em 4 casos, lesão maior de via biliar (ducto colédoco

e/ou ducto hepático comum) em 3 casos, lesão menor de via biliar (ducto cístico) em 2

casos, perfuração inadvertida de alça intestinal em 1 caso, lesão superficial em serosa de

cólon transverso em 1 caso e lesão de pequena curvatura gástrica em 1 caso. Foi

observado 1 caso de complicação sistêmica devido à broncoespasmo de difícil controle,

com encaminhamento para UTI no pós-operatório.

A ocorrência de conversão da técnica videolaparoscópica para a técnica

convencional nos 345 pacientes estudados foi de 19 (5,5%) eventos, como pode ser

observado na Tabela 4.

TABELA 4. Desfechos relacionados ao ato operatório nos pacientes submetidos a

Colecistectomia Laparoscópica no período de 2010 a 2012 no Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos.

Desfecho Frequência (%)

Complicação

Perfuração inadvertida da vesícula biliar

Sangramento do sítio operatório

Lesão inadvertida do fígado

Dificuldade de abordagem do sítio operatório

Lesão maior de via biliar

Lesão menor de via biliar

Perfuração inadvertida de alça intestinal

Lesão superficial em serosa de cólon transverso

Lesão de pequena curvatura gástrica

Broncoespasmo de difícil controle

40 (11,6)

16

7

4

4

3

2

1

1

1

1

Conversão 19 (5,5)

20

O tempo de internamento, definido como a quantidade de dias entre a data de

internamento na enfermaria de clínica cirúrgica e a data de saída da mesma, teve uma

média de 7,365 dias, variando de 2 a 109 dias, com mediana de 4 dias e desvio padrão

de 10,1278 dias, não sendo incluídos 2 casos de óbito do paciente devido a

complicações tardias (não investigadas neste estudo) da doença de base e/ou

procedimento cirúrgico e 1 caso sem registro quanto à esta variável.

O uso de analgésico no pós-operatório imediato e primeiro dia pós-operatório

teve uma frequência de 100%, e o uso da combinação Dipirona e Tramadol ocorreu em

246 (71,3%) pacientes.

Das 40 complicações, 29 (72,5%) ocorreram no sexo feminino e 11 (27,5%) no

sexo masculino. Entretanto, quando se considera a taxa de complicação dentro de cada

sexo, percebe-se que o sexo feminino representou 10,2% das complicações enquanto o

sexo masculino representou 18,3% destes pacientes. Apesar da ocorrência

proporcionalmente maior de complicações no sexo masculino, a relação entre sexo e

complicações teve valor de p de 0,073, o que não mostra significância estatística.

Com relação às doenças de base envolvidas no procedimento cirúrgico, o

diagnóstico de colecistite aguda ou colecistite crônica não mostrou relação

estatisticamente significante com a ocorrência de complicação. Já a presença de

coledocolitíase pré-operatória e CPRE prévia mostraram-se fatores preditores de

complicação cirúrgica: 9 (22,0%) dos casos de coledocolitíase cursaram com

complicação operatória, representando 22,5% das 40 complicações ocorridas, ao passo

que das 33 ocorrências de CPRE prévia à cirurgia, 9 (27,3%) estavam também

relacionadas a complicação, sendo fator presente em 22,5% deste desfecho. A

ocorrência de pancreatite aguda biliar prévia associada, apesar de representar

intrinsecamente uma complicação da colelitíase, não revelou relação estatisticamente

significante com o surgimento de complicação do procedimento cirúrgico, tendo

ocorrido em 5% do total de complicações, com valor de p de 0,688.

A realização de colangiografia intra-operatória, classicamente associada a alguns

casos de coledocolitíase, aconteceu em 12 pacientes e em 2 (16,7%) estava relacionada

21

a procedimentos complicados, o que representa 5% de todas as complicações relatadas.

Não houve significância estatística entre esta variável e complicação cirúrgica.

Das comorbidades sistêmicas associadas nenhuma mostrou significância

estatística como fator relacionado à complicação. Apesar disso, diabetes mellitus foi

comorbidade presente em 8 das 40 complicações (20%), relação que mostrou valor de p

de 0,062 e que, portanto, se aproximou da significância estatística. A análise das

variáveis clínico-epidemiológicas qualitativas e o desfecho “complicação” é mostrada

na Tabela 5.

TABELA 5. Análise univariada das variáveis clínico-epidemiológicas qualitativas e Complicação em pacientes com indicação de Colecistectomia Laparoscópica no período de 2010 a 2012 no Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos.

Variável Complicação (n) Valor de p

Sexo

Feminino 29 0,073

Masculino 11

Colecistite Aguda 2 0,371

Colecistite Crônica Calculosa 38 1,000

Coledocolitíase Pré-operatória 9 0,037

CPRE prévia 9 0,007

Pancreatite Aguda Biliar Prévia 2 0,688

Colangiografia Intra-operatória 2 0,637

Diabetes Mellitus 8 0,062

O registro do uso de hemoderivados no intra-operatório teve uma grande perda

(missing data = 67) e não foi uma relação valorizada para a análise estatística.

Das variáveis quantitativas analisadas, a idade mostrou-se fator complicador

envolvido nas colecistectomias laparoscópicas (p = 0,041), sendo a média de idade nos

pacientes que não tiveram complicação de 47,387 anos, enquanto nos pacientes com

22

complicação de 52,725. As variáveis tempo cirúrgico e tempo anestésico, quando

comparadas com a presença ou não de complicações, tiveram valor de p < 0,0001, o que

aponta significância estatística entre cirurgias complicadas e maior duração do

procedimento cirúrgico e da indução anestésica. A média e o desvio padrão destas

variáveis nas cirurgias com complicação operatória foram expressivamente maiores,

conforme observado na Tabela 6. O tempo de internamento também teve maior média e

desvio padrão na ocorrência de complicação, mas esta relação não se mostrou

estatisticamente significante (p = 0,242).

TABELA 6. Análise univariada das variáveis quantitativas e Complicação em pacientes com indicação de Colecistectomia Laparoscópica no período de 2010 a 2012 no Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos.

Variável Complicação N Média DP Valor de p

Idade Não 305 47,387 15,74 0,041

Sim 40 52,725 13,21

Tempo Cirúrgico Não 299 105,117 39,17 < 0,0001

Sim 40 167,625 77,49

Tempo Anéstesico Não 280 155,161 43,32 < 0,0001

Sim 39 221,154 76,44

Tempo de Internamento Não 303 7,135 9,99 0,242

Sim 39 9,154 11,08

* DP: Desvio padrão

Analisando o desfecho conversão, observou-se que das 19 conversões, 9 (47,4%)

ocorreram no sexo feminino e 10 (52,6%) no sexo masculino. Da mesma forma que

ocorreu com a taxa de complicação, ao considerar a ocorrência proporcional de

conversão dentro de cada sexo, nota-se que no sexo feminino foi de 3,2% ao passo que

no sexo masculino foi de 16,7%. Esta maior taxa de conversão no sexo masculino foi

estatisticamente significante, tendo valor de p < 0,001 e representando, portanto, um

fator influenciador de conversão.

23

Quanto às doenças de base relacionadas à cirurgia, o diagnóstico de colecistite

aguda ou colecistite crônica não mostrou significância estatística associada à conversão

da técnica laparoscópica para a técnica aberta.

Também coincidente com o ocorrido na taxa de complicação, coledocolitíase

pré-operatória e CPRE prévia revelaram-se fatores relacionados à conversão da técnica,

pois em 41 casos de coledocolitíase pré-operatória, 7 (17,1%) culminaram em

conversão cirúrgica, sendo a coledocolitíase um fator presente em 63,2% das cirurgias

convertidas (p = 0,003), e dos 33 casos de CPRE prévia à cirurgia, 8 (24,2%) estavam

envolvidos em conversão cirúrgica para a técnica aberta, ocorrendo esta intervenção em

42,1% dos casos de conversão (p < 0,0001).

Pancreatite aguda biliar prévia associada não se relacionou à conversão da

técnica videolaparoscópica para a técnica convencional, com a ocorrência desta

comorbidade em 10,5% das conversões (p = 0,197).

Diferente do ocorrido com o desfecho complicação, o uso de colangiografia

intra-operatória esteve estatisticamente relacionado à conversão para a cirurgia aberta,

com 3 (25%) ocorrências que representam 15,8% das cirurgias convertidas (p = 0,023),

como pode ser observado na Tabela 7.

TABELA 7. Análise univariada das variáveis clínico-epidemiológicas qualitativas e taxa de conversão nos pacientes submetidos a Colecistectomia Laparoscópica no período de 2010 a 2012 no Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos.

Variável Conversão Valor de p

Sexo

Feminino 9 < 000,1

Masculino 10

Colecistite Aguda 0 1,000

Colecistite Crônica Calculosa 19 0,611

Coledocolitíase Pré-operatória 7 0,003

Continua.

24

TABELA 7. [continuação]

CPRE prévia 8 < 000,1

Pancreatite Aguda Biliar Prévia 2 0,197

Colangiografia Intra-operatória . 3 0,023

Em relação às comorbidades sistêmicas associadas, também nenhuma mostrou

significância estatística como fator relacionado à taxa de conversão, e da mesma forma

o uso de hemoderivados no intra-operatório não foi considerado nesta análise estatística

devido ao grande número de perda de dados (missing data = 67) dessa variável.

Ao analisar as variáveis quantitativas relacionadas à taxa de conversão,

demonstrou-se que tempo cirúrgico, tempo anestésico e tempo de internamento foram

estatisticamente significantes, apontando que cirurgias convertidas têm maior duração

do procedimento cirúrgico, maior duração da indução anestésica e maior duração da

hospitalização. Nota-se através da Tabela 8 que a média e o desvio padrão destas

variáveis nas cirurgias convertidas foram significativamente maiores. O fator idade não

mostrou ter relação estatisticamente significante com a taxa de conversão (p = 0,232),

embora a média nos pacientes que não tiveram a cirurgia convertida tenha sido menor

(47,764 anos) do que naqueles convertidos (52,158).

TABELA 8. Análise univariada das variáveis quantitativas e taxa de conversão nos pacientes submetidos a Colecistectomia Laparoscópica no período de 2010 a 2012 no Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos.

Variável Conversão N Média DP Valor de p

Tempo Cirúrgico Não 320 106,828 40,56

<0,0001 Sim 19 207,895 82,09

Tempo Anéstesico Não 300 157,167 45,27 <0,0001

Sim 19 258,947 73,31

Tempo de Internamento Não 324 6,818 9,48 0,012

Sim 18 17,222 15,53

Continua.

25

TABELA 8. [continuação]

Idade . Não 326 47,764 15,58 0,232

Sim 19 52,158 14,82

* DP: Desvio padrão

26

VII.   DISCUSSÃO

Este trabalho avaliou os resultados de colecistectomias laparoscópicas

enfocando dois desfechos principais: complicações imediatas intra-operatórias e

conversão para a técnica aberta. As diversas variáveis incluídas foram analisadas com o

propósito de investigar sua relação com os desfechos descritos, incluindo serem

possíveis fatores de risco.

Analisando o sexo dos pacientes incluídos nesta casuística, foi encontrada uma

prevalência de 82,6% dos casos de colecistopatias submetidas a tratamento

videolaparoscópico dentro do sexo feminino. Este número expressivamente maior de

casos em mulheres é compatível com o esperado e encontrado na literatura médica, e é

praticamente o mesmo (82,5%) encontrado por Hangui et al. (2004) em seu artigo de

análise comparativa de complicações em relação ao sexo. O mesmo artigo mostrou

média semelhante de idade encontrada neste estudo (48 anos), o que também é

concordante com outros estudos já publicados.

Com relação às comorbidades sistêmicas, o elevado número e a grande

variedade de diagnósticos encontrados neste estudo devem-se à alta complexidade do

Hospital Universitário Professor Edgard Santos, serviço terciário de referência da rede

pública na cidade de Salvador e do estado. Particularmente expressiva foi a quantidade

de pacientes com síndrome metabólica (15,36%), o que é esperado por tratar-se de um

espectro de doenças comprovadamente envolvido com o ineficiente metabolismo de

colesterol.

Como já citado, a presença de diabetes mellitus nesses pacientes teve relação

com a taxa de complicações que, embora não tenha sido relevante estatisticamente, se

aproximou do valor de significância, podendo estar atuando eventualmente como fator

complicador da doença de base.

Deve-se mencionar que os resultados são decisivamente influenciados pelo fato

de tratar-se de um hospital escola onde as cirurgias são realizadas por médicos

residentes. Especificamente neste hospital universitário, a técnica laparoscópica passou

27

a ser incrementada como rotina padrão a partir do ano de 2009 e, portanto, os resultados

aqui obtidos sofrem influência da curva de aprendizado por que passam os residentes de

cirurgia.

Diversos estudos sugerem que o sexo masculino se comporta como um fator de

risco para complicações da cirurgia de colecistite, e consequentemente, para possível

conversão para técnica aberta. É apontado que a evolução natural da doença no homem

seja diferente principalmente pela postergação em procurar o serviço médico para

tratamento definitivo (Hangui et al., 2004). Observou-se aqui que apesar da ocorrência

proporcionalmente maior de complicações no sexo masculino, a relação entre sexo e

complicações não foi estatisticamente significante, ou seja, não se mostrou isoladamente

um fator de risco. Este dado é compatível com estudo (Bazoua & Tilston, 2014) que

afirma que o sexo masculino por si só não representa fator de risco impactante nos

resultados das colecistectomias por vídeo, apesar de atuarem de alguma maneira

aumentando a duração do procedimento nos homens em comparação às mulheres.

Já a variável idade foi neste estudo identificada como fator complicador da

colecistectomia videolaparoscópica, de forma que pacientes mais velhos complicaram

mais. Este dado é confirmado por diversos artigos já publicados na literatura médica

(Kaya et al., 2008; Melo et al., 2003), que apontam que a idade superior a 65 anos está

relacionada com maior número de comorbidades associadas, menor reserva funcional e

consequentemente maior morbimortalidade.

A presença de coledocolitíase e CPRE tiveram significância estatística como

fatores complicadores da doença de base e preditores de conversão para a técnica aberta,

dado compatível com a literatura (Kala et al., 2014).

Em uma publicação de 2009, Priego et al. fizeram uma análise parecida à do

presente trabalho, investigando os resultados das colecistectomias laparoscópicas num

hospital universitário terciário, porém com seguimento de 17 anos. A taxa de

complicação foi semelhante à encontrada aqui (10,2% versus 11,6%), mas a perfuração

inadvertida da vesícula biliar não foi considerada uma complicação, embora também

tenha sido o evento adverso mais comum no intraoperatório (16%). Este estudo

considerou então como complicação mais frequente a lesão inadvertida de leito hepático

28

na dissecção e remoção da vesícula, que foi a terceira complicação mais frequente em

nosso estudo, que considerou como complicação a perfuração acidental da vesícula

biliar. A lesão do ducto biliar comum é uma das complicações mais temidas no

intraoperatório devido a alta morbidade de tal lesão e por ser importante motivo de

conversão para cirurgia aberta, com uma incidência na literatura de cerca de 0,2-1%. Na

série de Priego et al. a ocorrência desta lesão foi de 0,3% enquanto neste estudo foi de

0,87% (3 casos), dados concordantes, portanto, com o esperado. A taxa de conversão foi

próxima à encontrada aqui (8,3% versus 5,5%) e compatível com as taxas encontradas

em estudos realizados em hospitais escola onde atuam cirurgiões residentes, embora

outros serviços tenham encontrado taxas ainda menores.

Outro estudo semelhante a este realizado na Índia (Kaushik et al., 2002) em um

hospital universitário, com seguimento de 4 anos, mostrou como principal motivo de

conversão do procedimento laparoscópico a presença de intensas aderências na área do

triângulo de Calot, seguida de lesão inadvertida de ductos biliares, complicações

também encontradas neste estudo. A taxa de conversão deste estudo também foi

discretamente mais elevada que a encontrada no presente trabalho (7,06% versus 5,5%).

No presente trabalho, o uso de colangiografia intra-operatória esteve associado

aos casos de cirurgias convertidas para a técnica aberta. Sua utilização esteve

relacionada aos casos complicados com a presença de coledocolitíase e/ou pancreatite

biliar. Vale frisar que o uso preventivo e rotineiro desta técnica de imagem no intra-

operatório reduz complicações e taxa de conversão, como demonstrado por Hussain em

artigo de revisão de 2011. Porém, no atual trabalho a sua realização se deu nos casos já

complicados e, portanto, de forma não preventiva.

É importante salientar que este estudo apresenta algumas limitações inerentes ao

tipo de desenho proposto e ao serviço onde este projeto foi realizado. Como este é um

hospital sem porta de entrada para emergências, houve um baixo índice de casos de

colecistite aguda em comparação com a doença crônica, o que pode ter influenciado no

resultado não estatisticamente significante desta variável com os desfechos estudados,

dado que difere do que é encontrado na literatura (To et al., 2013; Sippey et al., 2015).

29

Por tratar-se de um trabalho baseado na análise de prontuários, há uma

dependência importante da forma e conteúdo registrados em cada caso. Ao longo do

período analisado diferentes médicos residentes deste hospital preencheram a folha

cirúrgica, bem como foi variável o preenchimento da folha de anamnese, prescrições e

dados epidemiológicos. Esta não-uniformidade no preenchimento dos dados pode ter

levado a informações perdidas, incompletas ou equivocadas, acarretando possíveis

variações nos dados e resultados obtidos.

Também pode-se incluir como uma limitação do estudo a avaliação exclusiva de

complicações intra-operatórias das colecistectomias analisadas, sem investigar as

possíveis intercorrências pós operatórias ocorridas. Diante disso, poderia ser vantajoso

realizar um estudo prospectivo com objetivo semelhante de forma que os desfechos pós

cirúrgicos também fossem analisados.

30

VIII.   CONCLUSÕES

1.   As taxas de complicação e conversão encontradas neste estudo são compatíveis

com a literatura, em se tratando de um hospital universitário influenciado por

curva de aprendizado dos médicos residentes.

2.   Foram apontados como fatores de risco para complicação intraoperatória

coledocolitíase pré-operatória, CPRE prévia e idade, dados compatíveis com a

literatura médica. Estes fatores levaram a cirurgias complicadas e aumentaram

significativamente o tempo cirúrgico e o tempo anestésico do procedimento.

3.   Foram apontados como fatores de risco para conversão da cirurgia laparoscópica

para a técnica aberta sexo masculino, coledocolitíase pré-operatória, CPRE

prévia e uso de colangiografia intra-operatória. Estes fatores e a conversão da

cirurgia aumentaram de maneira significativa o tempo cirúrgico, anestésico e de

internamento.

4.   Os resultados obtidos neste estudo devem ser interpretados com cautela devido

às limitações e vieses inevitáveis apresentados.

31

IX.   SUMMARY

EVALUATION OF THE RESULTS OF LAPAROSCOPIC CHOLECYSTECTOMY PERFORMED IN A UNIVERSITY HOSPITAL IN SALVADOR (BAHIA, BRAZIL) IN THE PERIOD 2010 TO 2012 Background: Laparoscopic cholecystectomy is the main technique for treatment of most gallbladder diseases, especially cholelithiasis. Complications within this procedure are, in parts, related to patient’s conditions and characteristics, the gallbladder disease in question, lack of surgical experience, as well as limitations inherent to any minimally invasive surgery. Certain complications are defined as “stop rules” and the choice to use an open technique is recommended, treasuring the patient’s safety. This study aims to investigate patients submitted to this surgical approach within this university hospital. Objectives: Evaluate gallbladder disease laparoscopic treatment results, including surgical complications and frequency of conversion from a closed to open technique. Methods: Retrospective study using series of cases from patients treated with laparoscopic cholecystectomy within Hospital Universitário Professor Edgard Santos from the years 2010 until 2012; the data was analyzed descriptively. Results: 345 patient reports were analyzed (285 women and 60 men), calculous chronic cholecystitis was the main disease. From the 345 surgeries analyzed, 343 (99.4%) were elective and in 40 (11.6%) cases there were complications related to the surgical act. In 19 (5.5%) cases there was conversion from video laparoscopy into the conventional surgical technique. There was a significant relationship between the number of complications and variables related to pre-surgical choledocholitiasis, previous retrograde endoscopic cholangiopancreatography, length of surgical procedure, time under sedation and age. The number of conversions between the tecniques was significantly associated with gender, pre-surgical choledocholitiasis, previous retrograde endoscopic cholangiopancreatography, intra-operative cholangiography, length of surgical procedure, time under sedation and length of hospitalization. The most frequent complications were gallbladder perforation, bleeding within the operative site, inadverted liver injury, and difficulty in approaching the operative site. Discussion: The rates of complications and conversions uncovered by this study are compatible with the literature, as well as are the variables implicated as risk factors for their occurrence. Conclusions: Choledocholitiasis, previous retrograde endoscopic cholangiopancreatography and age were risk factors for intra-operative complications, while male gender, choledocholitiasis, previous retrograde endoscopic cholangiopancreatography and intra- operative cholangiography were risk factors for conversion into the conventional technique. Key words: laparoscopic cholecystectomy; cholelithiasis; complications; conversion.

32

X.   REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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open procedure. J Surg Res. 2015 [Epub ahead of print]

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XI.   ANEXOS

ANEXO I

FICHA DE COLETA DE DADOS

IDENTIFICAÇÃO Nome:

Nome da mãe:

Idade: DN: ____/____/______

Sexo: [ ] M [ ] F

Tel:

Data da cirurgia: ____/____/____

Raça [ ] Branco [ ] Negro [ ] Pardo [ ] Amarelo [ ] Indio Alta: ____ / ____ / ____

DOENÇAS DE BASE

Colecistite Aguda [ ] Sim [ ] Não Tratamento [ ] Precoce [ ] Tardio

Outras:

Colecistite Crônica Calculosa

[ ] Sim [ ] Não [ ] Nenhum episódio [ ] 1 episódio [ ] > 1 episódio

Coledocolitíase Pré-operatória

[ ] Sim [ ] Não

CPRE prévia [ ] Sim [ ] Não

Pancreatite aguda Biliar prévia

[ ] Sim [ ] Não

COMORBIDADES SISTÊMICAS

HAS [ ] Sim [ ] Não DPOC [ ] Sim [ ] Não DM [ ] Sim [ ] Não Coagulopatia [ ] Sim [ ] Não IAM prévio [ ] Sim [ ] Não ICC [ ] Sim [ ] Não

Arritmias [ ] Sim [ ] Não Outras:

Medicações em uso: (pré-operatório)

CIRURGIA

Eletiva Urgência

[ ] [ ]

Complicações Sistêmicas: ________________ Específicas: ________________

[ ] Sim [ ] Não

Tempo cirúrgico:

Tempo anestésico: Conversão Indicação da conversão:

[ ] Sim [ ] Não

Uso de Hemoderivados [ ] Sim [ ] Não Tempo de internamento: Colangiografia Intra-operatória

[ ] Sim [ ] Não Uso de analgésicos Descrição:

[ ] Sim [ ] Não

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ANEXO II

37

38

39

40

ANEXO III

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