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São Paulo/2015 Núcleo de Assessoria Técnica Psicossocial (NAT) PJDIDCIJC (Equipe Técnica) Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de

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São Paulo/2015

Núcleo de Assessoria Técnica Psicossocial (NAT) PJDIDCIJC (Equipe Técnica)

Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

NÚCLEO DE ASSESSORIA TÉCNICA PSICOSSOCIAL – NAT

R.I. 269/14

Área Infância e Juventude – Capital

Carla Fraga Ferreira Danielle Pereira da Costa João Paulo de Brito Greco

Natália Lôbo Oliveira Cividanes Paula Pinheiro Varela Guimarães

Raimundo Godinho de Figueiredo Neto Silvia Moreira da Silva Simone Peling Chan Tiago Collado Bastos

Wellington Vieira Gomes Yone da Cruz Martins de Campos

Promotoria de Justiça de Defesa dos Interesses Difusos e Coletivos da Infância e Juventude – Capital

Setor Técnico

Anahilza da Silva Fernandes Núbia Mara de Oliveira Silva

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

SUMÁRIO 1. APRESENTAÇÃO.......................................................................................... 5 2. JUSTIFICATIVA............................................................................................. 6 3. HISTÓRICO.................................................................................................... 7 4. MÉTODO.......................................................................................... ............. 11 5. ANÁLISE DOS DADOS................................................................... ............. 13 5.1 Dados gerais..................................................................... 13 a. Número de atendidos....................................................... 14 5.2 Perfil do Acolhido.............................................................. 15 a. Prevalência de faixa etária................................................ 15 b. Sexo.................................................................................. 16 c. Motivos de acolhimento.................................................... 18 d. Demandas específicas .................................................... 20

6. HISTÓRICO DE PASSAGEM........................................................................ 22 7. FLUXO DE ATENDIMENTO.......................................................................... 22 7.1 Critérios para encaminhamento........................................ 23 7.2 Responsabilidade no encaminhamento............................ 25 7.3 Meios de saída................................................................. 27 7.4 Tempo médio de acolhimento.......................................... 28

8. RECURSOS HUMANOS................................................................................ 29 9. CAPACITAÇÃO............................................................................................. 30

10. ATIVIDADES SOCIOEDUCATIVAS.............................................................. 31 10.1 Inserção na escola........................................................... 31 10.2 Inserção em atividades externas..................................... 32 10.3 Atividades organizadas pelo SAICA................................ 32

11. RELAÇÃO DOS ACOLHIDOS COM OS FUNCIONÁRIOS.......................... 33 12. PLANO INDIVIDUAL DE ATENDIMENTO (PIA)........................................... 33 13. ARTICULAÇÃO.............................................................................................. 34

13.1 Articulação interna........................................................... 34 13.2 Articulação intersetorial................................................... 34

14. CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA............................................... 37 15. OBJETIVOS DO TRABALHO........................................................................ 38 16. CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DO SAICA “PORTA DE ENTRADA” 39 17. VIABILIDADE DO SERVIÇO......................................................................... 40

17.1 Aspectos Positivos........................................................... 40 17.2 Aspectos a serem Melhorados........................................ 40

18. PRINCIPAIS QUEIXAS.................................................................................. 43 19. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 44

REFERÊNCIAS.............................................................................................. 49 ANEXO I......................................................................................................... 52 ANEXO II........................................................................................................ 53 ANEXO III....................................................................................................... 55

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela nº 01 – Serviços “Porta de Entrada” da Capital 13

Tabela nº 02 – Número de acolhimentos pelos serviços no período pesquisado 14

Tabela nº 03 – Prevalência Etária 15

Tabela nº 04 – Sexo 16

Tabela nº 05 – Motivos de Acolhimento 19

Tabela nº 06 – Demandas Específicas (todos os serviços) 20

Tabela nº 07 – Número de passagens 22

Tabela nº 08 – Responsáveis pelo Encaminhamento 26

Tabela nº 09 – Meios de Saída 27

Tabela nº 10 – Tempo Médio de Acolhimento 29

Tabela nº 11 – Recursos Humanos 29

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

NÚCLEO DE ASSESSORIA TÉCNICA PSICOSSOCIAL – NAT

PJDIDCIJC – Equipe Técnica

AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL “PORTA DE ENTRADA” NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

1. APRESENTAÇÃO

A partir de fevereiro de 2012, foram implantados seis equipamentos1 com a

finalidade de acolher crianças e adolescentes em caráter emergencial e provisório, a

partir dos encaminhamentos do Inquérito Civil 114/11, definidos como SAICAs “porta

de entrada”. Desde então, as equipes técnicas do Núcleo de Assessoria Técnica

Psicossocial – NAT e da Promotoria de Justiça de Defesa dos Interesses Difusos e

Coletivos da Infância e Juventude da Capital – PJDIDCIJC realizam visitas técnicas

a esses equipamentos, por meio das quais foram verificados problemas comuns e

recorrentes. O presente documento é fruto das reflexões dos técnicos do MPSP

frente às questões verificadas nessas visitas.

A visita institucional cumpre importante papel na aproximação do trabalho

técnico com a realidade vivenciada pelos serviços. Através dessas visitas, foi

possível observar aspectos positivos e negativos relacionados tanto aos SAICAs

“porta de entrada” quanto à atual política de acolhimento institucional, no âmbito da

Assistência Social do município de São Paulo.

Os SAICAs “porta de entrada” apresentam, em geral, características

semelhantes aos do extinto Centro de Referência da Criança e do Adolescente –

CRECA, cujo objetivo era acolher, em caráter emergencial e provisório, crianças e

adolescentes em situação de risco pessoal e social.

Um diagnóstico preliminar das equipes técnicas do MP entendeu que o

SAICA “porta de entrada” apresentava dificuldades em funcionar conforme sua

proposta de atendimento, mas por se tratar de diagnóstico baseado em impressões

fragmentadas, originadas a partir do que era observado durante as visitas técnicas,

1 ANEXO I – Lista de identificação dos equipamentos.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

seria necessário realizar análise mais aprofundada para melhor compreensão das

dificuldades verificadas.

As equipes técnicas realizaram estudo sobre a situação atual dos SAICAs

“porta de entrada”, cuja finalidade é servir como ponto de partida para a propositura

de ações que possam contribuir para a superação de desafios do trabalho, bem

como para o constante aperfeiçoamento e fortalecimento dos serviços e da política

de atendimento como um todo.

2. JUSTIFICATIVA

Durante o período de agosto de 2012 até maio de 2014, foram realizadas 17

visitas2 aos SAICAs “porta de entrada” pelas equipes técnicas da Promotoria de

Justiça de Defesa dos Interesses Difusos e Coletivos da Infância e Juventude da

Capital – PJDIDCIJC e do Núcleo de Assessoria Técnica Psicossocial – NAT. A

finalidade desses serviços é receber crianças e adolescentes para avaliação da

necessidade de acolhimento e encaminhamento para serviço regular ou retorno para

a família de origem, obedecendo a um prazo máximo de 60 dias.

A implantação desses serviços foi fruto de um acordo firmado entre a

PJDIDCIJC e a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social

(SMADS), objetivando erradicar a prática de acolher crianças e adolescentes em

caráter de urgência em locais inadequados, como Delegacias de Polícia e sedes de

Conselhos Tutelares. Foi criado um SAICA ”porta de entrada” em cada uma das

seguintes regiões: Norte, Sul, Sudeste, Leste e Centro-Oeste, onde existem 2

serviços. Os serviços atuariam como referência nas respectivas regiões de modo a

facilitar a articulação com a rede do território de moradia das crianças, dos

adolescentes e de suas famílias, bem como garantir a sua proteção imediata.

Por se tratar de formato de acolhimento não tipificado, era prevista a

existência de dificuldades na execução da proposta, que deveriam ser

problematizadas e trabalhadas no sentido de aperfeiçoamento constante dos

serviços.

2 Visitas realizadas aos SAICAs “porta de entrada”: Ubuntu (29/08/13, 14/05/14 e 28/05/14), Carrapicho I (02/08/2012 – antes do acordo de implantação MP/SMADS, 08/05/13, 29/08/13 e 29/04/14), Carrapicho II (13/3/13, 23/9/13 e 23/1/14), Taiguara (15/02/13 e 04/06/13), Santo Amaro (17/09/13, 18/03/14) e Menino Jesus (08/02/13 e 26/02/14).

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

Nas visitas realizadas, foram observados aspectos positivos e negativos,

atinentes tanto aos próprios SAICAs quanto à política de Assistência Social do

Município de São Paulo. No entanto, tratava-se de diagnóstico superficial, baseado

em impressões fracionadas que careciam de maior padronização e fundamentação.

O Ministério Público tem o dever institucional de defender a ordem jurídica e,

considerando o artigo 5º da Constituição Federal e o artigo 4º do Estatuto da Criança

e do Adolescente, deverá3 adotar as medidas administrativas e judiciais cabíveis

para a efetiva implementação da política municipal de promoção, proteção e defesa

do direito à convivência familiar e comunitária de crianças e adolescentes, em

situação ou não de acolhimento. Cabe, portanto, à equipe técnica do MPSP,

assessorar os promotores de justiça nesse processo; para tanto, propôs e

desenvolveu análise das condições dos SAICAs “porta de entrada” do município de

São Paulo.

3. HISTÓRICO

A criação dos SAICAs “porta de entrada” no município de São Paulo teve

como precedentes, dentre outros, dois feitos dirigidos pelo Ministério Público: a Ação

Civil Pública – ACP de 27 de setembro de 2010, proposta pela PJDIDCIJC à Vara da

Infância e Juventude do Foro Central de São Paulo-Capital, e o Inquérito Civil – IC

114/11, instaurado pela PJDIDCIJC em 19 de outubro de 2011, para averiguar a

inadequação da política de acolhimento institucional de crianças e adolescentes na

cidade de São Paulo.

O objetivo da Ação Civil Pública era garantir:

[...] a proteção da integridade física e psicológica das crianças residentes na cidade de São Paulo, menores de doze anos, e dos adolescentes e crianças portadores de deficiências mentais que necessitem ser inseridas em medida de proteção de acolhimento. (ACP, 2010, p. 1-2).

O que motivou essa ação foi a falta de qualidade do atendimento

disponibilizado pela municipalidade a este público através dos CRECAs, serviços

sob responsabilidade da SMADS.

3 Observando a atribuição específica de cada membro.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

Havia indícios de que o atendimento prestado nos CRECAs desvirtuara-se do

que foi preconizado nos editais de conveniamento e, consequentemente, deixou de

garantir prioridade absoluta na efetivação dos direitos desse público. Constam

testemunhos de violência contra os acolhidos “mais vulneráveis” – crianças vítimas

de conflitos familiares, abuso sexual, violência e abandono, e crianças/adolescentes

com deficiência mental –, cujos autores eram adolescentes em situação de rua e/ou

com histórico de uso de drogas.

Esta Ação Civil destaca, dentre as inadequações dos CRECAs:

� Maioria dos acolhimentos motivada por situação de rua e/ou drogadição, sem

que os educadores tivessem formação profissional para enfrentar crises de

abstinência e situações de violência;

� Inexistência de trabalho voltado ao tratamento do usuário de drogas e

reinserção familiar;

� Crianças, adolescentes e educadores expostos a riscos em episódios de

violência protagonizados por adolescentes, que também geravam danos ao

patrimônio do serviço;

� Dificuldade em garantir proteção aos menores de 12 anos e os acolhidos com

deficiência, vulneráveis a atos de estupro e aliciamento ao uso/tráfico de

drogas dentro do serviço, promovidos pelos adolescentes;

� Número de acolhimentos acima da capacidade de atendimento, inclusive por

determinação judicial;

� Alto índice de saídas não autorizadas;

� Alta rotatividade de acolhidos, que dificultava ou impedia a realização de

trabalho personalizado;

� Tempo máximo previsto para acolhimento (60 dias), na maioria dos casos,

não era cumprido, fazendo com que o serviço fosse utilizado como abrigo e

não como atendimento emergencial (conforme proposta inicial do trabalho);

� Muitos casos encaminhados para os CRECAs demandavam acolhimento em

abrigos regulares e não em serviço emergencial.

A PJDIDCIJC realizou, em 19 de janeiro de 2010, audiência pública na qual a

Coordenadora do Serviço de Proteção Especial da SMADS reconheceu que os

CRECAs passaram a funcionar como abrigos e não mais como “porta de entrada”

emergencial. Apesar da SMADS se comprometer a realizar ações para o

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

reordenamento do serviço, a Ação Civil aponta que houve morosidade na

apresentação de proposta concreta.

A Ação Civil reconheceu a necessidade de prestação de serviço de

acolhimento a todos que necessitassem, mas entendeu que os acolhidos

considerados como os mais vulneráveis não podiam ser submetidos ao convívio

com adolescentes que apresentassem histórico de situação rua e uso de drogas.

Indicou, ainda, que a utilização dos CRECAs como abrigos infringia os termos da

Resolução nº 109/2009 do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), pois

não há tipificação4 de serviço “porta de entrada” como uma das modalidades de

atendimento. Assim, o Ministério Público pleiteou:

� Que o acolhimento de crianças menores de 12 anos e de

crianças/adolescentes com deficiência mental nos CRECAs fosse proibido,

devendo esse público ser direcionado somente para a rede regular de

abrigos;

� Que a Municipalidade transferisse as crianças menores de 12 anos e

crianças/adolescentes com deficiência mental, que se encontrassem nos

CRECAs, para a rede conveniada de abrigos regulares;

� Que a Municipalidade estruturasse, na SMADS, central 24h de atendimento

telefônico para cumprimento imediato de determinação judicial de

acolhimento do público com o perfil anteriormente mencionado, nas

proximidades da residência da família de origem, e para atendimento dos

Conselhos Tutelares nos casos de acolhimentos de emergência.

O Juiz da VIJ do Foro Central de São Paulo-Capital promoveu, em 14 de

outubro de 2010, a antecipação de tutela dos pontos acima mencionados, contudo

registros de inadequações no atendimento dos CRECAs continuaram a chegar à

Promotoria. Em 07 de dezembro de 2010 foi realizada reunião entre Promotoras de

Justiça e representantes da SMADS, que informaram sobre o fechamento dos

CRECAs até o final do primeiro semestre de 2011, e que os locais seriam

reformados para a constituição de novos abrigos de acordo com a tipificação dos

serviços de acolhimento institucional.

4 Na Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais consta no item III do artigo 1º a modalidade de acolhimento institucional Casa de Passagem, porém não especifica o modelo de atendimento.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

Entretanto, esse processo não ocorreu conforme dito pela SMADS, pois foram

fechados somente seis dos quinze serviços existentes no município à época da

propositura da Ação Civil. Os demais sofreram alteração na denominação e

passaram a prestar atendimento nos moldes de serviços de acolhimento regulares, a

partir da celebração de novo convênio com as mesmas mantenedoras. Para a

Promotoria, essa medida significou descumprimento da decisão judicial, pois

públicos de diferentes perfis continuavam no mesmo espaço físico.

Compondo esse contexto houve, ainda, o encaminhamento de

representações contra a Prefeitura de São Paulo pela Vara da Infância e Juventude

de São Miguel e pelas Promotorias de Justiça de Penha de França e Pinheiros, que

contestavam a política de universalização de atendimento adotada pela SMADS.

Assim, a PJDIDCIJC instaurou o Inquérito Civil 114/11 em 19 de outubro de 2011,

cujo objeto é “averiguação da inadequação da política de acolhimento institucional

de crianças e adolescentes na cidade de São Paulo”.

Dentre as situações que demandaram tais representações estavam casos de

agressões físicas e verbais, conflitos internos, uso de drogas dentro dos serviços,

saída não autorizada e incitação de fuga, invasão de terceiros, violência sexual entre

acolhidos, dentre outras, promovidos, em sua maioria, por adolescentes usuários de

drogas, em situação de rua e egressos da Fundação CASA (segundo relatado nas

representações). As dificuldades permaneceram mesmo após a extinção dos

CRECAs, porém em serviços com verba e quadro de funcionários reduzidos.

No IC, a Promotoria considerou que, embora a Resolução Conjunta nº 1/2010

CMDCA/COMAS-SP estabeleça no art. 33 que nos SAICAs “devem ser evitadas

especializações e atendimentos exclusivos”, em outro artigo do mesmo documento

consta que o “acolhimento de crianças e adolescentes com necessidades de

atenção especial deve ser garantido, assegurando a qualidade do atendimento dos

demais usuários” (art. 49).

Anteriormente ao IC, em março de 2011, a PJDIDCIJC sugeriu à SMADS a

criação de cinco serviços para receber adolescentes e prepará-los para posterior

acolhimento em SAICAs, porém a Secretaria não se manifestou. Houve também, em

setembro de 2011, o encaminhamento de ofício à Promotoria pelo Fórum da

Assistência Social do município, que notificou a falta de estrutura dos SAICAs para

receber adolescentes egressos da Fundação Casa, em situação de rua ou com

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

histórico de uso de drogas, bem como crianças e adolescentes que apresentavam

questões de saúde mental.

Após a instauração do IC, a Promotoria oficiou novamente a SMADS para

que, dentre outras coisas, se manifestasse sobre a sugestão daquela para a criação

de cinco serviços de acolhimento inicial para adolescentes. A princípio, a SMADS

informou que não tinha a intenção de criar os serviços nos moldes sugeridos pela

Promotoria, mas em junho de 2012 uma representante da SMADS informou, em

audiência, que o município providenciaria a criação de cinco serviços de acolhimento

institucional que funcionariam como local de acolhimento emergencial para crianças

e adolescentes, caso não houvesse vagas na rede de serviços. Tais serviços

ficariam sob gestão de cada uma das cinco Coordenadorias de Assistência Social já

existentes no município, e seriam implantados nas regiões Norte, Sul, Centro-Oeste,

Sudeste e Leste. Também seria implantado um serviço nos mesmos moldes na

região da Mooca para funcionar como retaguarda da Coordenadoria de Atendimento

Permanente e de Emergência – CAPE.

Assim, a Promotoria e a SMADS fizeram um acordo e os serviços “porta de

entrada” foram criados. Embora a SMADS pontuasse no acordo que esses SAICAs

teriam por finalidade o atendimento de crianças e adolescentes no caso de não

haver vaga em outros serviços de acolhimento, a Promotoria inferiu que aqueles

serviços seriam criados para evitar que adolescentes egressos da Fundação CASA,

com vivência de rua ou uso de drogas fossem encaminhados diretamente aos

SAICAs regulares e que, no prazo limite de 60 dias, seria trabalhado o retorno ao

convívio familiar ou a “preparação” para acolhimento em serviços regulares.

Mesmo com a criação desses serviços, o referido IC permanece aberto

(última prorrogação feita em 11 de fevereiro de 2015, por mais 180 dias) por ainda

existirem dificuldades na prestação dos serviços de acolhimento na cidade como um

todo.

4. MÉTODO

Na perspectiva de compreender o trabalho desenvolvido pelos SAICAs “porta

de entrada” no município de São Paulo, definiu-se que seria realizado, inicialmente,

um levantamento da Ação Civil Pública (2010) e do Inquérito Civil nº 114/2011

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

instaurado pela PJDIDCIJC, feitos que culminaram na abertura dos serviços aqui

analisados.

Por conseguinte, optou-se em visitar a SMADS, órgão responsável pela

gestão das vagas dos serviços de acolhimento, com o intuito de compreender o fluxo

de encaminhamento para os serviços “porta de entrada”. Foram entrevistadas as

profissionais dessa Secretaria, cujo trabalho, dentre outros, consiste em fazer o

alinhamento técnico dos SAICAs da cidade de São Paulo, por intermédio dos

CREAS.

Posteriormente, ficou definido que os seis serviços5 “porta de entrada” –

Carrapicho I, Carrapicho II, Casa Taiguara, Ubuntu, Santo Amaro e Menino Jesus –

seriam visitados pelos técnicos do MPSP. Para tal, formaram-se seis duplas de

técnicos, quatro delas compostas por um psicólogo e um assistente social e duas

por assistentes sociais. Definiu-se que cada dupla visitaria, além dos serviços, os

principais equipamentos da rede ligados diretamente aos SAICAs “porta de entrada”:

Conselho Tutelar, Centro de Referência Especializado de Assistência Social

(CREAS) e Vara da Infância e Juventude (VIJ) de referência para os serviços de

acolhimento. Ainda, foi realizada visita à CAPE, uma vez que esta é responsável

pela supervisão do SAICA Menino Jesus.

Durante as visitas, foram utilizados questionários (Anexo II) elaborados a

partir de elementos que a equipe considerou pertinentes para analisar o processo de

acolhimento e de desacolhimento de crianças e adolescentes desses serviços,

direcionados a cada um dos equipamentos6 e respondidos por técnicos (tanto dos

SAICAs “porta de entrada” quanto dos demais órgãos), gerentes (SAICAs),

educadores e acolhidos7. Paralelamente, encaminhou-se aos SAICAs uma planilha

(Anexo III) para levantamento de dados quantitativos acerca de todos os

acolhimentos realizados em cada um deles, desde a inauguração até 30 de

setembro de 2014.

As informações obtidas através da aplicação dos questionários e do

preenchimento da planilha foram transpostas para um banco de dados, analisados a

5Em janeiro de 2015, foi implantado o SAICA “porta de entrada” Santana, mas esse não foi incluído neste trabalho devido à conclusão da pesquisa ter se dado no início de dezembro de 2014. 6As VIJ Ipiranga, Itaquera e Santana não foram visitadas fisicamente devido a dificuldades de conciliação de horários. O questionário foi enviado via e-mail e devidamente respondido, exceto pela VIJ de Itaquera. 7Aspectos objetivos e subjetivos foram contemplados nesses questionários, pois foram considerados os pontos de vista de cada entrevistado.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

partir de categorias elaboradas segundo as diretrizes de funcionamento contidas no

documento Orientações Técnicas: Serviço de Acolhimento para Crianças e

Adolescentes, aprovado pela Resolução Conjunta CNAS e CONANDA nº 01/2009,

de 13 de junho de 2009. Importante considerar que, até a finalização da coleta de

dados, não havia tipificação específica sobre serviços de acolhimento institucional

inicial – “porta de entrada”8.

A análise dos dados direcionou-se à compreensão do fluxo de atendimento

dos serviços “porta de entrada”, perpassando pelo papel dos diferentes serviços na

execução do acolhimento institucional, pela dinâmica interna de funcionamento

desses SAICAs e pela articulação com os serviços da rede (Educação, Saúde,

Assistência Social e atores do Sistema de Garantia de Direitos). O propósito foi

avaliar se os serviços “porta de entrada” atendem às expectativas que ensejaram

sua criação.

5. ANÁLISE DOS DADOS

5.1 Dados Gerais

A presente análise foi realizada a partir de informações constantes nas

planilhas preenchidas pelos profissionais dos serviços e do resultado das entrevistas

realizadas na SMADS, nos seis SAICAs “porta de entrada”, na CAPE, em sete

Conselhos Tutelares, em seis CREASs e em três VIJs de referência.

Os serviços “porta de entrada” foram criados de modo a contemplar

regionalmente a cidade de São Paulo, conforme demonstra a tabela a seguir:

Tabela nº 01 – Serviços “Porta de Entrada” da Capital

Nome da Mantenedora Nome do Serviço Bairro Região Atendida

Associação Vida Carrapicho Carrapicho I Sapopemba Sudeste Carrapicho II Itaquera Leste

Moradia Associação Civil Taiguara Bela Vista Centro-Oeste Ubuntu Parque Edu Chaves Norte

Associação de Auxílio Mútuo da Região Leste - APOIO

Santo Amaro Santo Amaro Sul Menino Jesus Leste Todas

8Em 17/12/2014 entrou em vigor a Resolução Conjunta nº 002 de 2014 – CMDCA e COMAS/SP, que dispõe sobre a regulamentação e normatização de Serviços de Acolhimento Institucional e Familiar no Município de São Paulo, e cujo artigo 16 prevê o Serviço de Acolhimento Inicial.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

O SAICA Menino Jesus é o único “porta de entrada” que não atende de modo

regionalizado. O serviço foi criado com o objetivo de servir de retaguarda para a

CAPE, atendendo a demanda de toda a capital.

Diferentemente dos demais SAICAs “porta de entrada” que surgiram a partir

do acordo firmado entre SMADS e PJDIDCIJC, o serviço Carrapicho I foi criado em

janeiro de 2012 enquanto projeto especial para crianças e adolescentes de 0 a 18

anos em situação de rua, egressos da Fundação CASA, usuários de drogas e

aqueles que compunham grupos grandes de irmãos. Em agosto de 2012, após a

efetivação do acordo, o serviço passou a funcionar como “porta de entrada”.

a. Número de atendidos

No período de fevereiro de 2012 (início de funcionamento do primeiro serviço

“porta de entrada”) a setembro de 2014 (data de corte estabelecida para inserção

dos dados na planilha), 2076 acolhidos9 passaram pelos seis SAICAs “porta de

entrada” da capital, conforme segue:

Tabela nº 02 – Número de acolhimentos pelos serviços no período pesquisado

SAICA “Porta de Entrada”

Número de Acolhimentos

Período Pesquisado

Carrapicho I 632 Fevereiro/2012 a Setembro/2014

Carrapicho II 151 Outubro/2013 a Outubro/2014

Taiguara 168 Janeiro/2014 a Setembro/2014

Ubuntu 79 Dezembro/2012 a Fevereiro/2014

Santo Amaro 430 Dezembro/2012 a Setembro/2014

Menino Jesus 616 Agosto/2012 a Setembro/2014

Total 2076

Os dados indicam que os SAICAs Carrapicho I e Menino Jesus concentram o

maior número de acolhidos. No entanto, cabe ressaltar que o serviço Carrapicho I

teve sua implantação com características de “porta de entrada” em fevereiro de

2012, período anterior ao acordo que ensejou a criação desse tipo de serviço. Já o

SAICA Menino Jesus, por ser referência para todo o município, tende a atender 9 O total de 2076 corresponde ao número total de acolhimentos, e não de acolhidos. Todos os serviços atendiam, no momento da visita, o número máximo de acolhidos previsto nas normativas vigentes.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

maior número de acolhidos, bem como a apresentar uma diversidade maior de

demandas (pessoas perdidas, oriundas de outros Estados/Países, etc.).

Quanto à CASA Taiguara, a informação encaminhada pelo serviço

contemplou, apenas, dados referentes ao período de janeiro a setembro de 2014,

não correspondendo à totalidade de atendidos desde o início do trabalho como

“porta de entrada” (agosto de 2012).

O SAICA Ubuntu apresentou número de acolhimentos consideravelmente

menor em relação aos demais serviços. Isso se deve ao fato do serviço estar com

restrição para receber novos acolhidos desde fevereiro de 2014, por solicitação da

Supervisão de Vigilância em Saúde – SUVIS (condições inadequadas do imóvel).

O serviço Carrapicho II iniciou suas atividades como “porta de entrada” em

outubro de 2013, quatorze meses após a implantação dos demais serviços. No que

diz respeito ao SAICA Santo Amaro, esse iniciou suas atividades em dezembro de

2012, encaminhando dados a partir de então.

5.2 Perfil do Acolhido

a. Prevalência de faixa etária

Os dados da tabela 03 demonstram que a prevalência da população atendida

pelos SAICAs “porta de entrada” é de adolescentes que estão próximos à

maioridade:

Tabela nº 03 – Prevalência Etária

Serviço Prevalência Etária

Carrapicho I 16 a 17 anos

Carrapicho II 15 a 17 anos

CASA Taiguara 15 a 17 anos

SAICA Ubuntu 15 a 17 anos

SAICA Santo Amaro 16 a 17 anos Menino Jesus 15 a 17 anos

As informações obtidas através das entrevistas corroboram o resultado do

levantamento quantitativo. Esses serviços acabam por atender, majoritariamente, ao

público adolescente, conforme a proposta inicial da PJDIDCIJC para os serviços

“porta de entrada”.

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16

Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

Além disso, os referidos serviços encontram dificuldades para

encaminhamento desses adolescentes aos SAICAs regulares, bem como para

promover o retorno à convivência familiar (seja para família de origem, extensa ou

substituta). Deve-se considerar que, nos casos cujo encaminhamento seria a

adoção, os adolescentes estão distantes do perfil de preferência da sociedade que,

de modo geral, prioriza bebês da cor branca e do sexo feminino10.

Os dados relativos à faixa etária predominante nos SAICAs “porta de entrada”

demonstram uma proporção inversa em relação àquela encontrada nos serviços de

acolhimento regulares, conforme apontado pelo Relatório da Resolução nº 71/2011

do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), do ano de 2013. Segundo o

Relatório citado, a faixa etária encontrada nos SAICAs corresponde a meninos e

meninas de 0 a 15 anos e, especificamente no Estado de São Paulo, a prevalência é

de 6 a 15 anos.

b. Sexo

No que diz respeito ao sexo, os entrevistados referem que a maioria dos

acolhidos é do sexo masculino, dado confirmado pela pesquisa quantitativa. A tabela

a seguir demonstra que o acolhimento de crianças e adolescentes do sexo

masculino equivale a 63% do total de 2076 acolhidos:

Tabela nº 04 – Sexo

Serviço Masculino % Feminino %

Carrapicho I 407 20% 225 11%

Carrapicho II 101 5% 50 2%

Taiguara 119 6% 49 2%

Ubuntu 53 3% 26 1%

Santo Amaro 238 11% 192 9%

Menino Jesus 400 19% 216 10%

Total 1318 63% 758 37%

10 “(...) nos abrigos do País encontram-se, na maioria, meninos (58,5%), afrodescendentes (63%) e mais velhos, isto é, com idade entre 7 e 15 anos (61,3%)”. Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária. Brasília: 2006.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

Esse dado não difere dos elementos apresentados pela pesquisa11 do

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), realizada em 2003, a qual coloca

que a proporção de meninos nos Serviços de Acolhimento Institucional é maior que

a de meninas, e que essa diferença aumenta na faixa etária compreendida entre 16

e 18 anos, característica também encontrada nos serviços “porta de entrada”. A

maior incidência de acolhidos do sexo masculino também aparece no Relatório da

Resolução nº 71/2011 do CNMP, ao apresentar o perfil dos acolhidos observado nos

serviços de acolhimento.

Levando-se em consideração que o público atendido nos SAICAs “porta de

entrada” constitui-se, majoritariamente, por adolescentes que vivenciam a situação

de rua (conforme veremos adiante), pode-se refletir sobre o porquê do atendimento

às meninas ser menos frequente nesses serviços.

Esse fenômeno remete, dentre outras, às questões de gênero que foram

construídas e mantidas culturalmente, em que são atribuídos papéis sociais

específicos para homens e mulheres. Tais papéis, por sua vez, estão relacionados a

“lugares” sociais específicos para ambos os gêneros, os quais também são

construídos historicamente.

Ainda hoje, na sociedade brasileira, as mulheres têm sido destinadas ao

espaço privado, em que suas identidades são moldadas para reproduzirem certos

tipos de comportamentos (como delicadeza, abnegação, etc.) e atribuições sociais

definidas como femininas (cuidar da casa e dos familiares sem condições de prover

os próprios cuidados). Já os homens são formados culturalmente para adentrarem

ao espaço público, a partir da reprodução de atribuições e comportamentos que são

considerados socialmente masculinos, tais como iniciativa, racionalidade, etc. Assim,

conforme explicita Serrano:

[...] as meninas têm um papel em casa, frequentemente auxiliam (ou assumem) os trabalhos domésticos, cuidando dos irmãos menores, entre outros. E os meninos, sobretudo na adolescência podem ser considerados mais difíceis para se lidar, inclusive por causa da força física e o receio de que possam se envolver com drogas e em atos infracionais. (SERRANO, 2009, p. 85).

Silva (2009), em sua pesquisa com a população de rua adulta, infere que as

mulheres recorrem menos às ruas como forma de sobrevivência e morada, posto 11 Levantamento Nacional dos Abrigos para criança e Adolescentes – Pesquisa realizada em 2003 pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

que são educadas a cuidarem da prole e da casa, confinando-se ao âmbito

doméstico. Enquanto isso, muitos homens, mediante a cultura que os coloca como

“chefes de família”, ante ao desemprego e a ausência de recursos financeiros para

sustentar a casa, se aventuram em caminhos tortuosos que podem levá-los à

situação de rua. De acordo com o senso comum, portanto, a ideia de que apenas os

meninos possam vivenciar a situação de rua é culturalmente “mais apropriada”,

enquanto às meninas é adequada a permanência em casa, uma vez que as ruas

lhes são apresentadas como um lugar hostil (e, na maioria das vezes, realmente o

são).

O fato de as meninas serem a minoria nas vias públicas e no atendimento

institucional pode culminar no entendimento de que elas são apenas usuárias

residuais, não demandando ações dirigidas às suas especificidades de gênero, de

raça/etnia e de classe. Por sua vez, a situação de violência de gênero perpetrada no

âmbito doméstico pode ser um fator que contribui para que meninas e mulheres

recorram à situação de rua, ante a ausência ou insuficiência de atendimento das

políticas protetivas. Nessa perspectiva, faz-se fundamental o diagnóstico dos

motivos que levaram as meninas atendidas a essa situação, em que pese uma

análise de gênero, classe e raça/etnia.

c. Motivos de acolhimento

Os dados sobre os motivos de acolhimento demonstram que o de maior

incidência nos serviços “porta de entrada” tem sido situação de rua, seguido por

conflito familiar, somando 58%. Tais informações foram examinadas em conjunto

devido à correlação existente entre esses motivos, considerando que, em muitos

casos, a situação de rua é ensejada por conflitos familiares e/ou rompimento de

vínculos.

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19

Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

Tabela nº 05 – Motivos de Acolhimento

Motivo do acolhimento

Carrapicho I Carrapicho II

Taiguara Ubuntu Santo Amaro

Menino Jesus

Total %

Situação de Rua 224 71 49 - 183 252 779 38%

Conflito Familiar 92 17 46 22 101 145 423 20%

Ameaça / PPCAAM 52 27 - - 34 57 170 8%

Motivos diversos 44 03 28 - 12 40 127 6%

Violência Doméstica / Negligência / Maus tratos

07 29 28 - 06 50 120 6%

Violência ou Exploração Sexual

35 - 07 - 10 05 57 3%

Abandono 23 04 - 03 03 21 54 3%

Envolvimento com o tráfico

- - 03 38 - - 41 2%

Egresso da Fundação CASA

- - 03 23 26 1%

Situação financeira 06 - - 06 - 03 15 1%

Drogadição dos Responsáveis ou do Adolescente

01 - - 01 06 04 12 1%

Sem informação 148 - 07 09 72 16 252 12%

2076 100%

Enquanto motivos diversos que suscitaram acolhimento, pode-se destacar:

pais em sistema prisional, pessoas perdidas, questões comportamentais, devolução

de guardiões, doença/falecimento dos genitores, questões habitacionais e pernoite

no SAICA.

Em geral, os motivos de acolhimento indicados nessa pesquisa sugerem a

precariedade das políticas públicas para crianças e adolescentes em situação de

risco. Conforme aponta Menezes (2009):

O abrigo é um equipamento da assistência social e não uma política pública, ele é parte de um sistema de proteção que para cumprir com seu papel de proteção precisa contar com a intersetorialidade das demais políticas públicas (saúde, habitação, assistência social, educação, segurança, etc.). Ele não é um fim em si mesmo. Apresenta um caráter de moradia provisória, lugar de morar, para proteger e acolher. Portanto não é o lugar para se tratar de drogadição, problemas psicológicos/psiquiátricos, de conduta. Ele não é uma clínica especializada, de reabilitação, orfanato, confinamento e lugar para disciplinar adolescente.12

Os dados qualitativos comprovam a fala da autora, pois indicam que o

acolhimento é utilizado enquanto primeira medida de proteção. Entre os diversos

12 Disponível em < http://www.crianca.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=73 >. Acesso em 09 de março de 2015.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

fatores que contribuem para tal cenário estão a fragilidade na articulação da rede de

proteção, a fragmentação das ações dessa rede e a ausência de

corresponsabilidade entre os serviços que atendem essa população. Desse modo,

percebe-se que a cultura da institucionalização das expressões da questão social

ainda permeia as ações voltadas à proteção da criança e do adolescente.

d. Demandas específicas13

Todos os serviços apresentaram acolhidos com características que se

referem às chamadas demandas específicas, tanto no levantamento quantitativo

quanto nas entrevistas. Contudo, os dados quantitativos denotaram insuficiência de

informações, não sendo possível ratificar, a partir deles, os dados qualitativos.

A tabela seguinte ilustra a quantidade de ocorrência de demandas específicas

em todos os serviços pesquisados. Ressalta-se que houve referência de mais de

uma demanda para o mesmo acolhido, bem como houve mais de uma passagem de

alguns acolhidos pelo mesmo SAICA.

Tabela nº 06 – Demandas Específicas (todos os serviços)

DEMANDAS ESPECÍFICAS SIM NÃO S/I DADOS VÁLIDOS

(SIM+NÃO)

OCORRÊNCIA DE DEMANDAS

Histórico de Uso de Drogas 731 586 759 1317 56%

Situação de Rua 506 560 910 1166 43%

Problemas de Indisciplina 411 771 894 1182 35%

Egresso da Fundação CASA 119 960 997 1079 11%

Cumprimento de MSE/MA 85 942 1049 1027 8%

PPCAAM 46 1003 1027 1049 4%

Deficiência ou Mobilidade Reduzida

26 859 859 1217 2%

Embora haja insuficiência de dados, um número expressivo de acolhidos

provinha de situação de rua, fazia uso de drogas, era egresso da Fundação CASA e

apresentava problemas de indisciplina, considerando-se o total de dados

efetivamente respondidos.

A análise da relação entre os motivos para acolhimento e as demandas

específicas ficou prejudicada por conta do não preenchimento completo da planilha.

13 As demandas específicas foram consideradas a partir do estabelecido no Anexo I (Roteiro para Inspeção Periódica dos Serviços de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes) da Resolução 71/2011 do CNMP.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

Situação de rua foi a única demanda específica apresentada significativamente

como principal motivo para o acolhimento. Quanto às demais, mesmo que não

constem nos dados quantitativos sobre motivos de acolhimento de modo expressivo

(tabela 05), elas compõem o histórico de boa parte dos acolhidos, conforme

indicaram os entrevistados e os dados obtidos na tabela acima.

A fala das técnicas da SMADS, primeiras entrevistadas da pesquisa, está em

conformidade com a dos demais entrevistados e com os dados expressos na tabela

06, ao considerar que o público dos SAICAs “porta de entrada” é composto,

predominantemente, por adolescentes maiores de 16 anos (muitos deles próximos à

maioridade), egressos da Fundação CASA, integrantes do PPCAAM, em situação de

rua, com histórico de uso de drogas e, em alguns casos, grupos de irmãos.

Levando-se em conta o perfil do acolhido nos SAICAs “porta de entrada”, os

motivos que ocasionaram o acolhimento e as demandas específicas apresentadas,

há de se considerar aqui algumas características inerentes à fase da adolescência.

Sobre essa temática, Gulassa et al (2010, p.30) pontuam a transgressão como “[...]

uma característica típica da adolescência. É o momento em que o jovem quer seguir

seu caminho, ser dono de si mesmo, decidir sua própria vida”. Tais características

podem ser exacerbadas em situações de vulnerabilidade, entre elas as que ensejam

medida protetiva de acolhimento:

[...] os jovens se rebelam, vão contra as regras do abrigo, dos adultos, do mundo. Estes momentos podem acontecer por eles estarem revoltados contra a situação em que se encontram, ou por terem vivido perdas importantes, ou por se sentirem contrariados, humilhados, roubados. Atacam por ser uma forma mais valente de reagir, mais poderosa do que se encolher e chorar. (GULASSA, 2010, p. 30)

Em vista disso, é importante que os serviços de acolhimento e todos os atores

do Sistema de Garantia de Direitos (SGD) responsáveis pela política de acolhimento

institucional entendam quem é o seu público e as especificidades que ele apresenta.

Para isso seria necessário, primeiramente, que a proposta dos SAICAs “porta de

entrada” fossem condizentes com a realidade e houvesse espaços para que os

profissionais pensassem e aprofundassem suas práticas.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

6. HISTÓRICO DE PASSAGEM

A análise do histórico de passagem pelos serviços “porta de entrada” foi

realizada através das entrevistas e planilhas preenchidas pelos SAICAs. Do total de

2076, os acolhidos com duas passagens representaram 5,35%; três passagens,

0,43%; quatro passagens, 0,34%; e seis passagens, 0,05%14. Com exceção do

último dado, nos demais casos não houve diferenciação se a passagem foi em razão

de pernoite15 ou acolhimento regular, sendo assim todos foram contabilizados como

entrada comum.

Tabela nº 07 – Número de passagens

Nº de Passagens

Carrapicho I

Carrapicho II Taiguara Ubuntu Santo

Amaro Menino Jesus Total %

Duas 60 7 7 2 33 2 111 5,35%

Três 3 - - - 6 - 9 0,43%

Quatro 7 - - - - - 7 0,34%

Seis 1 - - - - - 1 0,05%

Os técnicos dos serviços “porta de entrada” entrevistados foram unânimes em

afirmar que havia um alto índice de crianças ou adolescentes que apresentam

histórico de múltiplas passagens no mesmo serviço. Essa informação não foi

corroborada pelos dados quantitativos, segundo os quais somente 128 acolhidos do

total de 2076 (6,17%) apresentaram duas ou mais passagens pelo mesmo

equipamento. Destaca-se o Carrapicho I e o Santo Amaro como os serviços que

tiveram maior número de acolhidos em segunda passagem.

No histórico de passagem não foi possível comparar se o mesmo acolhido

deu entrada em mais de um serviço “porta de entrada”, sendo necessário um estudo

específico para avaliar tal realidade.

7. FLUXO DE ATENDIMENTO

Os dados referentes ao fluxo de atendimento são decorrentes das entrevistas

realizadas com gerentes e equipe técnica dos serviços “porta de entrada”, com os

técnicos dos CREASs, com os técnicos das Varas da Infância e Juventude, com os

14 Nesse caso todas as entradas ocorreram por situação de pernoite. 15 Nesses casos crianças e adolescentes são levados aos serviços no período noturno pela Polícia Militar, pela Guarda Civil Metropolitana ou pelo Conselho Tutelar, para permanência até o dia seguinte e posterior providência dos encaminhamentos necessários.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

conselheiros tutelares, com a equipe da CAPE e com as técnicas de referência da

SMADS na área de serviços de acolhimento da cidade de São Paulo.

7.1 Critérios para encaminhamento

As técnicas de referência da SMADS informaram que o fluxo de

encaminhamento ocorre de maneira diferenciada, de acordo com o período em que

a solicitação é feita. A fala dos demais entrevistados trouxe as mesmas informações

nesse aspecto.

De segunda à sexta-feira (das 8h às 18h), o controle de vagas para

acolhimento é realizado pela Central de Regulação de Vagas (CRV)16, órgão

autônomo vinculado à Coordenadoria de Proteção Especial. Ao ser acionada, em

geral por Conselhos Tutelares, a CRV entra em contato com o CREAS da região de

origem da criança ou do adolescente, verifica se o caso é referenciado e busca

informações para o melhor encaminhamento da situação.

Já no período noturno e nos finais de semana, a administração das vagas é

realizada pela CAPE, que faz o atendimento de urgência e emergência. Nessas

situações o acolhimento é realizado e o caso discutido no dia seguinte (ou no

próximo dia útil).

De acordo com as técnicas, este formato de encaminhamento foi adotado por

volta de maio de 2014, e com ele houve a diminuição do número de acolhimentos

indevidos, pois a escuta tornou-se mais qualificada e passou a haver discussão

prévia dos casos. As técnicas relataram, ainda, que recebem diariamente de 10 a 15

solicitações, na maioria das vezes feitas por conselheiros tutelares.

Sobre a definição de vagas, as técnicas da SMADS informaram que a

Secretaria realiza o convênio para atendimento da faixa etária de 0 a 18 anos

incompletos e de ambos os sexos, num total de 20 vagas por SAICA. Foi criado um

instrumental pela CAPE para o preenchimento dos serviços sobre as vagas

disponíveis, no qual consta uma divisão por faixa etária e sexo para melhor

distribuição das vagas. A partir desse instrumental, as organizações responsáveis

pelos serviços de acolhimento entenderam que estavam autorizadas a definir as 20

16 A CRV possui 2 agentes de triagem, 1 assistente social e 1 estagiário para realizar o atendimento das solicitações de vaga.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

vagas da maneira que considerassem melhor, e dessa forma, a disponibilidade de

vagas para adolescentes e para o sexo masculino tornou-se menor.

A SMADS tenta realinhar essa situação conforme o estabelecido no termo de

convênio; no entanto, segundo as técnicas, há dificuldade por parte das

organizações em aceitar o atendimento universal.

Segundo as técnicas da SMADS, a triagem para encaminhamento dos casos

aos SAICAs “porta de entrada” não é realizada pelo perfil do acolhido, mas pela

disponibilidade de vaga; primeiramente há a procura de vaga nos SAICAs regulares

e, na inexistência dessa, o encaminhamento é feito para o serviço “porta de

entrada”. Quando não há vaga em serviços da região de moradia, o acolhido

permanece no SAICA “porta de entrada” até que a vaga esteja disponível, inclusive

no caso de grupos de irmãos.

Infere-se, a partir das falas dos gerentes dos SAICAs, que não existem

critérios específicos para o encaminhamento majoritário de adolescentes aos

serviços “porta de entrada”. Os critérios para acolhimento nesses SAICAs seguem

as normativas vigentes para os demais serviços. A única restrição para acolhimento

ocorre quando algum adolescente está em situação de ameaça na região do serviço

ou no próprio serviço, seja ele o autor ou a vítima. Do ponto de vista dos técnicos

dos SAICAs, também não existe especificidade para o acolhimento. O único critério

seria a disponibilidade de vagas.

Para os técnicos dos CREASs, não há critério para diferenciar o

encaminhamento para os serviços “porta de entrada” ou para SAICA regular, mas

observam, em geral, que naqueles serviços são acolhidos adolescentes próximos à

maioridade. Já as profissionais da CAPE informaram que a disponibilidade de vagas

é repassada para os CREASs e estes realizam os encaminhamentos aos SAICAs

“porta de entrada”, bem como promovem a transferência de acolhidos para SAICAs

regulares.

Os técnicos das Varas da Infância e Juventude informaram que os

encaminhamentos para os serviços se dão via CAPE e, portanto, a VIJ não interfere

no direcionamento dos casos – se irão para os “porta de entrada” ou para SAICA

regular.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

Quanto ao Conselho Tutelar (CT), os conselheiros referem que a solicitação

de acolhimento deve ser feita à CRV, que informa em qual SAICA há disponibilidade

para o encaminhamento, independentemente da região ou da característica do

serviço (regular ou “porta de entrada”). Informam que o CT recebe, em geral,

solicitação de vaga para crianças e adolescentes que estão em situação de rua, com

vínculos familiares rompidos/fragilizados, abandonados, oriundos de hospitais,

conduzidos pela Polícia Militar, vítimas de maus tratos, negligência, violência

doméstica, abuso sexual, dentre outras situações.

Alguns CTs adotam, como conduta de trabalho, o contato direto com os

SAICAs ou com o CREAS (via telefone), a fim de ajustar o encaminhamento e a

concessão da vaga. Não houve menção, por parte dos conselheiros, do que eles

consideram como critérios para encaminhamento (citaram os tipos de solicitação

que recebem, e não como as avaliam).

7.2 Responsabilidade no encaminhamento

Os dados da tabela abaixo demonstram que o Conselho Tutelar é o maior

responsável por encaminhamentos aos serviços “porta de entrada”, com 58% do

total de solicitações. Essa informação é validada pelas entrevistas com os

profissionais dos serviços, das VIJs, dos CREASs, dos Conselhos Tutelares e

também com os acolhidos. Os dados quantitativos também evidenciam que há um

percentual de 5% de solicitações realizadas pelas VIJs – informação referenciada

por seus técnicos.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

Tabela nº 08 – Responsáveis pelo Encaminhamento

Responsável pelo Encaminhamento

Carrapicho I Carrapicho II

Taiguara Ubuntu Santo Amaro

Menino Jesus

Total %

Conselho Tutelar 272 78 145 09 240 451 1195 58%

Vara da Infância e Juventude

49 19 05 - 18 14 105 5%

Outros serviços (não especificados)

34 - - - 13 39 86 4%

Fundação CASA 26 09 03 - 12 33 83 4%

Outro SAICA “porta de entrada”

36 26 02 06 - 06 76 4%

CAPE 24 14 - 01 09 26 74 4%

SAICA Regular 05 - 01 04 56 02 68 3%

DEIJ, Defensoria Pública, GCM e PM

- - - - 03 25 28 1%

Permuta 14 01 - - - 10 25 1%

CREAS/CRAS 07 04 02 - 09 22 1%

Projeto Quixote 14 - - - - 14 1%

Sem informação 151 - 10 59 70 10 300 14%

2076 100%

Percebe-se que o Conselho Tutelar é responsável por mais da metade dos

encaminhamentos para os SAICAs “porta de entrada”. Contudo, as solicitações do

CT deveriam somente ser feitas para casos excepcionais e de caráter emergencial,

uma vez que a indicação da medida protetiva de acolhimento institucional é de

competência exclusiva da autoridade judiciária17. Além disso, as informações obtidas

através das entrevistas indicam que a maioria dos CTs não realiza estudo

diagnóstico prévio para indicar a medida ou não emite o termo de acolhimento,

tampouco buscam alternativas para encaminhamento dos casos antes de indicar

essa medida protetiva.

Os CTs acabam utilizando, de modo geral, o acolhimento institucional como

primeira medida protetiva a ser adotada. Logo, o princípio da excepcionalidade deixa

de ser levado em conta, o que favorece a ocorrência de acolhimentos

desnecessários.

17 Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), art. 101.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

7.3 Meios de saída

No que se refere aos meios de saída, os dados obtidos mostram que 42% dos

casos estão relacionados à saída não autorizada. Segundo os entrevistados, esse

tipo de saída é motivada por conflitos internos e externos ao serviço, dificuldade de

cumprir as regras estabelecidas, uso de drogas, vivência de rua, participação em

“bailes funk/pancadão”, ausência de escuta qualificada antes do acolhimento,

acolhimentos desnecessários, entre outros. Segundo as técnicas da SMADS, por

outro lado, alguns adolescentes utilizam esses serviços para satisfação de

necessidades imediatas18.

Os adolescentes ouvidos confirmam essa realidade, principalmente no que se

refere à dificuldade de cumprimento de regras e acordos de convivência. Em alguns

serviços, eles referiram a proibição do uso do cigarro e do namoro enquanto motivos

para saída não autorizada.

Tabela nº 09 – Meios de Saída

Motivo do Desacolhimento

Carrapicho I

Carrapicho II

Taiguara Ubuntu Santo Amaro

Menino Jesus

Total %

Saída não autorizada

225 63 71 12 179 323 873 42,05%

Maioridade 06 02 01 - 04 - 13 0,63%

Retorno Familiar 41 06 20 - 13 66 146 7,03%

Sem informação 150 20 23 59 75 17 344 16,57%

Transferência para República Jovem

01 01 - - - - 02 0,10%

Transferência para SAICA “porta de entrada”

49 17 03 - - 37 106 5,11%

Transferência para SAICA Regular

160 42 50 08 159 173 592 28,52%

2076 100%

O fato de a saída não autorizada ser o principal meio de saída dos serviços

“porta de entrada” pode estar relacionado à utilização do acolhimento institucional

como primeira medida protetiva, em detrimento das demais previstas no art. 101 do

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Novamente, pode-se apontar a

participação dos CTs na solicitação dessa medida, uma vez que são os 18 Higiene, alimentação, descanso, necessidades fisiológicas.

Page 28: Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de

28

Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

responsáveis pelo maior número de encaminhamentos aos serviços “porta de

entrada” e, em geral, não consideram a possibilidade de indicação de outras

medidas protetivas.

Essa prática pode ser resultado de uma escuta fragilizada, da ausência ou

incipiência de estudo diagnóstico e da não garantia do melhor interesse da criança e

do adolescente. Tais dados remetem, também, à fragilidade das políticas públicas

de atendimento a crianças e adolescentes em situação de risco e à cultura da

institucionalização das manifestações da questão social, conforme anteriormente

citado no item “motivos de acolhimento”.

Ao se comparar os dados da tabela acima com os dados acerca dos motivos

para acolhimento, pode-se observar uma incongruência no tocante à reinserção

familiar. Embora 20% dos acolhimentos (ou mais, considerando os dados em que

consta “sem informação”) tenham sido demandados por conflitos familiares, o

número informado de encaminhamentos para retorno familiar (7,03%) sequer atingiu

a metade do percentual daqueles acolhimentos.

Outro ponto que vale destacar é a questão da maioridade, que representa um

estrangulamento no fluxo de saída dos jovens. Há uma drástica redução nas

possibilidades de encaminhamento desse público para recursos da rede, como as

Repúblicas Jovens, que apresentam pouquíssimas vagas e critérios para inserção

para os quais boa parte desses jovens é inelegível.

7.4 Tempo médio de acolhimento

A tabela a seguir mostra o período médio de acolhimento em cada serviço

visitado. A pesquisa quantitativa indicou que 77% dos acolhidos permaneceram nos

serviços “porta de entrada” por até 60 dias, conforme determinado pelo Termo de

Convênio entre SMADS e mantenedoras. Entretanto, não se pode afirmar que foram

realizados os encaminhamentos desses acolhidos de acordo com as normativas

vigentes, haja vista que a composição desse percentual pode incluir a quantidade de

desacolhimentos por saída não autorizada (42%)19.

19 No SAICA Taiguara, por exemplo, 59% dos desacolhimentos em até 60 dias foram por saída não autorizada.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

Tabela nº 10 – Tempo Médio de Acolhimento

Tempo médio de acolhimento

Carrapicho I

Carrapicho II

Taiguara Ubuntu Santo Amaro

Menino Jesus

Total %

1 a 30 dias 451 71 112 19 225 481 1359 65%

31 a 60 dias 82 29 15 16 53 59 254 12%

61 a 180 dias 51 18 29 18 49 38 203 10%

181 dias a 1 ano 9 - 08 09 04 03 33 2%

Acima de 1 ano 01 - 02 14 08 19 44 2%

Sem informação 38 33 02 03 91 16 183 9%

2076 100%

Outro dado a ser considerado é o percentual de 14% de acolhidos que

permanecem no serviço por um período superior ao determinado pelo Termo de

Convênio, alguns casos excedendo a um ano de permanência. Essa situação

sugere que há problemas na articulação dos serviços com os demais equipamentos

da rede, o que ocasiona dificuldades de encaminhamento adequado dos casos

pelos SAICAs “porta de entrada”.

8 RECURSOS HUMANOS

Em relação ao quadro de recursos humanos, todos os serviços apresentaram

equipe mínima20 composta por:

Tabela nº 11 – Recursos Humanos

Recursos Humanos Quantidade Função

01 Gerente

02 Psicólogos

02 Assistentes Sociais

10 Educadores

02 Cozinheiras

02 Auxiliar de Limpeza

01 Auxiliar de Serviços Gerais

Apesar da manutenção da equipe mínima e do diferencial relativo à

quantidade de técnicos com formação em Serviço Social e Psicologia (dois

20 Conforme estabelecido no documento “Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes”.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

profissionais de cada área, o que não é visto em SAICAs regulares), as informações

coletadas através das entrevistas indicam que, na maioria dos serviços “porta de

entrada”, há uma constante rotatividade de funcionários, situação que interfere no

desenvolvimento do trabalho técnico e operacional.

Ao passo em que mudanças na composição do quadro de Recursos

Humanos acontecem continuamente, considerando como hipóteses para tal a

complexidade do trabalho e as baixas remunerações, a execução e a sistematização

das atividades de cada profissional não ocorrem de maneira satisfatória, tendo como

consequência a sobrecarga de trabalho e, em maior gravidade, a constante quebra

de vínculo com o acolhido e o não atendimento de suas necessidades.

Em suma, a inadequação no quadro de recursos humanos gera

consequências prejudiciais não só ao fazer profissional, mas principalmente aos

acolhidos, que dependem desse trabalho para o correto direcionamento de sua

situação.

9 CAPACITAÇÃO

Os profissionais entrevistados nos SAICAs “porta de entrada” informaram

que, em geral, não há capacitação inicial para os funcionários. Alguns serviços

proporcionam uma integração ao novo funcionário, na qual são abordadas as

especificidades e a dinâmica do trabalho. Por outro lado, todos os serviços

afirmaram haver formação continuada, através da qual são trabalhados diversos

temas: adolescência, sexualidade, desenvolvimento infanto-juvenil, ECA e

legislações pertinentes. As capacitações são direcionadas a todos os funcionários e

as temáticas são escolhidas pelo serviço ou pela mantenedora. Também participam

de cursos, palestras, seminários e fóruns oferecidos por órgãos públicos e privados.

Os entrevistados apontaram dois tipos de supervisão para esse serviço: a

institucional, realizada pelo CREAS e pela CAPE (especificamente ao SAICA

Menino Jesus), e a externa, que em muitos serviços são capacitações entendidas

como espaço de supervisão. Há serviços em que a mantenedora disponibiliza,

também, um profissional para realizar supervisão através de discussão de casos, de

temáticas específicas, da rotina do serviço, do cotidiano e organização do trabalho,

entre outros.

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31

Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

Tendo em vista que a proposta dos serviços “porta de entrada” é a curta

permanência no serviço, podem acontecer mudanças repentinas no perfil dos

acolhidos num curto período de tempo, exigindo dos profissionais versatilidade na

forma de conduzir o trabalho, o que requer capacitações sistemáticas, abrangentes

e com maior frequência. Reforça-se, deste modo, que a formação continuada não

deve se limitar a atividades pontuais, como palestras, fóruns e seminários, que não

apresentem continuidade e vinculação com as demandas institucionais. A formação

continuada deve estar pautada no cotidiano e nas necessidades dos serviços.

10 ATIVIDADES SOCIOEDUCATIVAS

A avaliação dos dados quantitativos referentes à inserção em escola e outras

atividades/equipamentos da rede ficou prejudicada em razão do preenchimento

incompleto da planilha encaminhada pelos serviços. Assim, a análise a seguir terá

como base os dados qualitativos coletados durante as entrevistas.

10.1 Inserção na escola

No âmbito escolar, os serviços têm buscado inserir crianças e adolescentes

na rede de ensino no início do acolhimento, porém esse processo não ocorre com

brevidade, haja vista dificuldades relativas à história de vida do acolhido, seu

histórico e situação escolar e documentação pessoal incompleta.

Consequentemente, os serviços encontram problemas para efetivar o cadastro dos

acolhidos no sistema de vagas e, muitas vezes, há demora para obtenção da vaga.

Quando tal processo é finalmente concluído, surgem outros entraves para

efetivar a inserção escolar, como resistência de muitos adolescentes em frequentar

a escola, saída não autorizada do serviço, transferência para outros SAICAs ou

retorno para a família fora da região de referência da escola. Não se pode

desconsiderar que, aliada a essas adversidades, há o relato da estigmatização dos

acolhidos por parte das escolas.

Conforme aponta o documento Orientações Técnicas, “a escola constitui

importante instrumento para assegurar o direito à convivência comunitária de

crianças e adolescentes e os serviços de acolhimento devem manter canais de

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

comunicação com as escolas”. Faz-se necessária, assim, a utilização de espaços de

interlocução com a rede e com outros serviços de acolhimento para buscar

estratégias locais que visem à desmistificação do acolhimento institucional junto às

escolas, promovendo a aproximação dessas à realidade dos SAICAs.

10.2 Inserção em atividades externas

Conforme a fala dos entrevistados, os serviços buscam inserir os acolhidos

em atividades complementares independentemente da matrícula escolar. As

atividades mais utilizadas pelos acolhidos são o reforço escolar e as oferecidas em

Centros da Criança e do Adolescente (CCA), Centros da Juventude (CJ) e Centro

Educacional Unificado (CEU), além de outras atividades externas nas quais os

educadores os acompanham (passeios e visitas a locais públicos).

As atividades externas de cultura, esporte, lazer, religião e as voltadas à

profissionalização são escolhidas de acordo com sua disponibilidade no território e

com o interesse dos acolhidos. Para tanto, os serviços “porta de entrada” buscam

parcerias com os serviços públicos (parques, museus, escolas), privados (igrejas,

universidades) e do terceiro setor (Organizações Não Governamentais,

Organizações Sociais, entidades filantrópicas).

10.3 Atividades organizadas pelo SAICA

Além das atividades externas, os serviços “porta de entrada” também

propiciam aos acolhidos atividades internas diárias. São realizadas sessões de

filmes, discussão de vídeos, atividades manuais (artesanato, pintura em tecido e em

tela), rodas de conversas, jogos e brincadeiras. Além disso, os profissionais

referiram inserir os acolhidos na organização da rotina do serviço.

Os adolescentes entrevistados ratificaram muitas das atividades acima

referidas, e acrescentaram que participam de processos seletivos para inserção no

mercado de trabalho e cursos profissionalizantes.

Para os acolhidos que não estão inseridos na rede formal de ensino, tanto as

atividades internas quanto algumas das externas acabam sendo utilizadas pelos

serviços para preenchimento do tempo em que deveriam estar na escola. Em muitos

casos, os acolhidos relataram não encontrar sentido em certas atividades, bem

como não identificaram aprendizado através delas.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

11 RELAÇÃO DOS ACOLHIDOS COM OS FUNCIONÁRIOS

Os profissionais dos SAICAs “porta de entrada” informaram que, de modo

geral, existe relação de respeito e vinculação entre os acolhidos e destes com os

funcionários, apesar dos conflitos internos, das saídas não autorizadas e dos

problemas relacionados a regras e combinados de convivência. No entanto, muitos

relataram que há dificuldade no trabalho com os adolescentes, em especial nos

casos em que consideram que sua autoridade é colocada à prova. Acreditam que o

descumprimento de regras não traz maiores consequência para o adolescente,

como a garantia de retorno no prazo de 24 horas depois de saída não autorizada.

No cotidiano institucional, os funcionários têm autonomia para dialogar com

os acolhidos e, em muitos casos, as tensões são resolvidas através de orientação e

escuta. Isso ocorre principalmente no trabalho dos educadores que, devido ao

contato permanente com os acolhidos, são os profissionais com quem constroem

maior vinculação e que elegem como referência. Em caso de conflitos ou não

cumprimento das regras institucionais e de convivência, os profissionais realizam

intervenções por meio de rodas de conversa, assembleias e, se necessário,

atendimento individual.

Os adolescentes entrevistados consideraram boa sua relação com os

funcionários dos serviços, destacando as rodas de conversa como espaço para

falarem sobre os problemas, as brigas, os conflitos, as regras e os acordos de

convivência, bem como para fazerem solicitações. Contudo, eles referiram que

alguns dos profissionais não se identificam com o que fazem ou que trabalham

nestes locais por “falta de opção”. Reconheceram, por outro lado, que alguns

acolhidos não respeitam os funcionários.

12 PLANO INDIVIDUAL DE ATENDIMENTO (PIA)

A partir das entrevistas foi possível identificar que todos os SAICAs “porta de

entrada” elaboram o PIA, alguns deles a partir da entrevista inicial de acolhimento.

Dentre os serviços, o prazo para sua estruturação varia de 10 a 60 dias, e algumas

etapas para a confecção do PIA são comuns a todos: entrevista inicial, discussão de

caso, atendimento à família e contato com a rede.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

Há diferentes instrumentais para a construção do PIA. Alguns serviços

utilizam modelo próprio e outros usam o modelo do CREAS ou da VIJ, adaptados à

sua realidade. A alimentação de dados é feita semanalmente ou conforme surgem

questões significativas a serem registradas.

Cabe salientar que os serviços mencionaram dificuldades na coleta de dados

para construção do PIA de alguns acolhidos, oriundas da ausência de estudo

diagnóstico, de informações pessoais e familiares, de referências escolares, entre

outras questões.

13 ARTICULAÇÃO

13.1 Articulação interna

Quanto à articulação interna, todos os serviços referiram a ocorrência de

reuniões em dois momentos distintos: semanais, entre gerente e equipe técnica –

para discussão de casos –, e mensais, com a participação de todos os trabalhadores

– para avaliação e encaminhamento das ocorrências cotidianas, revisão e

sistematização da metodologia do trabalho e construção de consensos. Através

desses espaços é possível melhor estabelecer as atribuições profissionais, de modo

a definir objetivamente quem, dentro da equipe, encarrega-se de determinadas

tarefas.

Pode-se entender, nesse sentido, que os espaços de articulação interna

favorecem a troca de experiências, o alívio das tensões, a qualidade do projeto

político pedagógico e a revisão e melhoria da metodologia do serviço. A troca de

conhecimentos entre os profissionais possibilita a agilidade do trabalho em equipe e

o cumprimento de metas e objetivos compartilhados.

13.2 Articulação intersetorial

Segundo os entrevistados, o mapeamento da rede de serviços do território é

realizado por todos os SAICAs “porta de entrada”, com base no princípio da

incompletude institucional21. Para tanto, os profissionais realizam contatos

telefônicos e visitas aos equipamentos, visando aproximação, articulação e

21 O documento Orientações Técnicas aponta que os serviços de acolhimento não devem “ofertar em seu interior atividades que sejam da competência de outros serviços”. (item 3.4 Articulação Intersetorial).

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

estabelecimento de parcerias, de modo a garantir a proteção integral a qual têm

direito crianças e adolescentes.

Os profissionais dos serviços referiram parceria com os CREASs através de

supervisão, suporte técnico e reuniões periódicas para o acompanhamento dos

casos, o que possibilita o planejamento conjunto de estratégias de ação e

articulação.

Com relação à Saúde, não foram citados entraves significativos na rede de

atenção básica. No entanto, a insuficiência de documentação de alguns acolhidos

gera dificuldades para acesso ao atendimento, e quando são encaminhados para

especialidades existe a carência de vagas, principalmente nas seguintes áreas:

odontologia, psicologia, neurologia e psiquiatria. Outrossim, os entrevistados

relataram morosidade no atendimento dos CAPS Infantil e Álcool e Drogas (AD),

tanto o inicial quanto o terapêutico, bem como o não atendimento do acolhido sem

documentação. Além disso, esses equipamentos não atendem a todas as regiões e,

em muitos casos, os programas de atendimento não são direcionados às demandas

apresentadas pelos acolhidos – os adolescentes não se identificam com o

atendimento oferecido, logo não aderem.

Sobre a relação com a VIJ, os entrevistados dos serviços “porta de entrada”

pontuaram que costumam ser recebidos pelos técnicos conforme solicitado, e que

discutem conjuntamente os casos para seu melhor encaminhamento. Embora haja

dificuldade em relação à demora no andamento dos processos, a interlocução é

garantida.

O Conselho Tutelar é o serviço que apresenta maior distanciamento para

interlocução e parceria, e ainda assim acaba, por vezes, dificultando o trabalho do

SAICA. De modo geral, os demais entrevistados referiram despreparo por parte dos

conselheiros para intervenção nos conflitos familiares e para indicação das medidas

protetivas, ao utilizarem o acolhimento institucional como primeira medida de

proteção e desconsiderarem os critérios estabelecidos pelas prerrogativas legais

para estabelecimento dessa medida.

No que diz respeito à rede de ensino, a escola é apontada como um

equipamento com o qual os serviços encontram dificuldades para um trabalho

conjunto e articulado, que possibilite e priorize a inclusão do acolhido, conforme

elucidado no item referente a atividades socioeducativas.

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36

Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

Embora haja relatos de aspectos positivos, no geral os entrevistados dos

SAICAs “porta de entrada” ponderaram que a relação com a rede de serviços se

mostra fragilizada, desarticulada e dificultada pelo pouco comprometimento dos

atores envolvidos no cumprimento de suas atribuições. Ademais, a ausência de

responsabilização conjunta pelos casos atendidos sobrecarrega os profissionais dos

serviços de acolhimento, que acabam desamparados pela rede e isolados no

desenvolvimento de seu trabalho.

É importante pensar que “articular-se significa sobretudo fazer contato, cada

um mantendo a essência, mas abrindo-se a novos conhecimentos, à circulação das

ideias e propostas que podem forjar uma ação coletiva concreta na direção do bem

comum”. (GONÇALVES; GUARÁ, 2010, p. 12). Assim, todos os atores deveriam

contribuir para que tal articulação de fato aconteça, possibilitando a inserção dos

acolhidos e suas famílias em programas e ações que favoreçam o processo de

fortalecimento da autonomia, a socialização, a proteção integral dos acolhidos e a

construção de condições favoráveis à reintegração familiar. Ainda, o trabalho em

rede pode promover a descoberta de recursos próximos que contribuam para a

integração comunitária e social e para o desenvolvimento das atividades no serviço.

Sobretudo “(...) a proposta de articulação em redes deve ser ancorada numa

intencionalidade clara e aberta, que respeita ritmos e espaços e estabelece os

pactos necessários à continuidade de cada ação”. (GONÇALVES; GUARÁ, 2010,

p.12). Consequentemente, é necessário que haja estreita articulação entre os

diversos atores envolvidos no atendimento às crianças e aos adolescentes acolhidos

e suas famílias. É importante que esta articulação proporcione o planejamento e o

desenvolvimento conjunto de estratégias de intervenção, para fortalecer a

complementaridade das ações e evitar sobreposições, sendo definido o papel de

cada instância que compõe a rede de serviços local e o Sistema de Garantia de

Direitos, na busca de um objetivo comum (Orientações Técnicas).

Assim, a articulação em rede é importante para evitar o isolamento do serviço

“porta de entrada” e promover uma intervenção mais assistida e integrada, que

permita um olhar e um agir mais efetivo sobre a prática e a construção de novos

sentidos para a ação comum.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

14 CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA

No que se refere à convivência familiar, todos os técnicos dos serviços “porta

de entrada” afirmaram que trabalham no sentido de garantir o convívio familiar, e

que esse trabalho, embora também seja atribuição de outros atores do SGD, é feito

somente pelo SAICA.

Visando o resgate e o fortalecimento dos vínculos, os serviços buscam a

localização da família, a escuta e o levantamento de seu histórico através de contato

telefônico, entrevista ou visita domiciliar. Em casos de dificuldades, acionam a rede

da região de moradia da família (CREAS, CRAS, Saúde e Conselho Tutelar) para

auxiliar no contato e para atendimento/acompanhamento dos casos.

Seguindo a diretriz22 da legislação vigente, que reconhece e preconiza a

família enquanto estrutura vital, lugar essencial à humanização e à socialização da

criança e do adolescente, as famílias contatadas pelos técnicos são convidadas para

participar da rotina dos acolhidos em atividades internas (oficinas, atendimento

individual e em grupos, dinâmicas, eventos, festas comemorativas) e externas

(reuniões escolares, atendimento de saúde, passeios, dentre outros), de forma que,

mesmo que o vínculo familiar tenha sofrido algum tipo de ruptura, sejam esgotadas

as possibilidades de retomá-lo.

O trabalho de fortalecimento de vínculos envolve, ainda, os acolhidos, através

de ações diversas – atendimentos individuais, orientações e rodas de conversa –

que propiciem conhecer o grupo familiar sob sua perspectiva.

A família é peça fundamental para que a medida protetiva alcance os seus

objetivos. Portanto, faz-se necessário compreender que existem diversos arranjos

familiares23, que convivem no mesmo espaço social e ao mesmo tempo, tendo a

família se transformado ao longo da história de acordo com as “(...) mudanças na

estrutura econômica e política do nosso país, e (...) mudanças de valores que foram

construídas ao longo das gerações” (MOREIRA, 2013, p. 12). Destarte, é preciso

entender que não existe um modelo ideal de família, melhor ou pior, e sim

configurações diversas que precisam ser respeitadas nesse contexto.

22 Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária. 23 Nuclear simples; monoparental feminina simples; monoparental masculino simples; monoparental feminina extensa; monoparental masculina extensa; nuclear extensa; família convivente; família nuclear reconstituída; família de genitores ausentes; família nuclear com crianças agregadas; família colateral; família homoparental. Para melhor compreender essas configurações ver MOREIRA, Maria Ignez Costa. Novos Rumos para o trabalho com as famílias. São Paulo: NECA, 2013.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

Tendo em vista que toda família tem dever e responsabilidade com seus

filhos, seja qual for o modelo em que se configura, ela é fundamental para a

realização e a defesa dos direitos da criança e do adolescente. Para tanto, ações de

atenção primária devem ser oferecidas e garantidas no sentido de ampará-la e de

possibilitar que os motivos que ensejaram o acolhimento institucional sejam

superados.

Sobre as ações voltadas à convivência comunitária, os serviços convidam a

comunidade local a participar de atividades e festas comemorativas e também

estimulam a inserção dos acolhidos em ações e recursos externos, garantindo que

os indivíduos atendidos sejam vistos de forma indissociável de seu contexto familiar

e comunitário.

Percebe-se que o trabalho dos técnicos e educadores reconhece a

necessidade de fortalecer a convivência comunitária, entendendo que a comunidade

também possui fundamental importância na proteção e na socialização de crianças e

adolescentes. No entanto, esse trabalho fica restrito à região onde o serviço está

inserido, não sendo possível garantir a convivência comunitária na região de origem

do acolhido, principalmente nos casos em que a regionalização não é respeitada.

Em muitas situações, o acolhido fica afastado não só de sua família (nuclear e

extensa), mas também do convívio com seus colegas e vizinhos e das atividades

que costumava realizar antes do acolhimento (escola, esportes, cultura, religião,

entre outras).

15 OBJETIVOS DO TRABALHO

Os objetivos do trabalho dos SAICAs “porta de entrada” foram apresentados

de modos diferentes nas instituições entrevistadas. Contudo, demonstram caminhar

para o sentido do cuidado e da proteção da criança e do adolescente acolhido.

No geral, as Varas da Infância e Juventude compreendem como objetivo do

trabalho do SAICA “porta de entrada” o acolhimento e garantia da proteção integral à

criança/adolescente em situação de risco pessoal, social e de abandono.

Para os CREASs, o trabalho deve ser voltado para ações de garantia de

direitos, atenção à família e inserção dos acolhidos na rede socioassistencial, na

escola e em atividades que possibilitem a autonomia.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

Os gerentes dos SAICAs “porta de entrada” consideram que os objetivos do

serviço junto aos atendidos são: acolher; entender o que levou ao acolhimento

institucional; construir vínculo afetivo e relação de confiança; trabalhar a autoestima,

a independência e o empoderamento; possibilitar atividades da vida cotidiana,

convivência e fortalecimento dos vínculos com a família e a comunidade;

investimento na reinserção familiar ou encaminhamento para outro SAICA em até 60

dias.

Segundo os técnicos dos SAICAs, a atenção está voltada para a escuta

qualificada, buscando garantir e viabilizar os direitos violados, protegendo os

acolhidos de situações de risco e, mais especificamente, atuando no sentido da

manutenção dos vínculos com a família, articulação intersetorial, identificação do

potencial e da autonomia de crianças e adolescentes, resgate da autoestima,

desenvolvimento da “criticidade” e a reflexão sobre sua

realidade/conduta/perspectiva de futuro.

Os educadores entendem que o objetivo do seu trabalho é auxiliar, cuidar,

ajudar, acolher, orientar e resguardar o acolhido; acompanhá-los em atividades

internas/externas; propiciar um acolhimento embasado no respeito mútuo e trabalhar

a mediação de conflitos.

Importante considerar que o desenvolvimento da criança e, mais tarde, do

adolescente, caracteriza-se por intrincados processos biológicos, psicoafetivos,

cognitivos e sociais, que exigem do ambiente que os cerca, do ponto de vista

material e humano, uma série de condições, respostas e contrapartidas para

realizar-se a contento. Logo, o objetivo do trabalho de um SAICA deve estar para

além do viés assistencialista, reconhecendo o paradigma da proteção integral da

criança e do adolescente.

16 CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DO SAICA “PORTA DE

ENTRADA”

Quanto às características específicas dos serviços “porta de entrada”, os

entrevistados da SMADS, dos SAICAs, dos Conselhos Tutelares, da CAPE, dos

CREASs e das VIJs concordam que as principais características desses serviços

são a predominância de adolescentes do sexo masculino, especialmente com

histórico de uso de drogas, PPCAAM, situação de rua, em cumprimento de medidas

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

socioeducativas e egressos da Fundação CASA; a composição da equipe técnica,

que conta com 4 técnicos (2 assistentes sociais e 2 psicólogos por turno); e a curta

permanência (até 60 dias).

Por outro lado, os entrevistados pontuaram que os referidos serviços

apresentam características semelhantes aos SAICAs regulares, em especial por não

conseguirem garantir, em muitos casos, o cumprimento do prazo estabelecido para

acolhimento pelo Termo de Convênio. Nesses casos, a equipe do SAICA fica na

incumbência de intensificar o atendimento aos acolhidos nos moldes dos serviços de

acolhimento regulares – inserção na rede de Saúde/Educação/Assistência e em

serviços da comunidade, trabalho de longo prazo com as famílias, elaboração do

PIA, etc.

17 VIABILIDADE DO SERVIÇO

17.1 Aspectos positivos

De modo geral, os entrevistados de todos os equipamentos consideram a

concepção do serviço “porta de entrada” como necessária ao atendimento de

adolescentes em situações de vulnerabilidade, principalmente quando apresentam

histórico de uso de drogas e situação de rua, público que na maioria das vezes

enfrentam a indisponibilidade de vagas nos SAICAs regulares. Além disso,

entendem que o trabalho desse serviço possibilita intervenções anteriores ao

encaminhamento para SAICAs regulares.

Embora considerem o modelo positivo, os entrevistados inferem que o serviço

não funciona, de fato, conforme o idealizado, nem mesmo desenvolve ações

pensadas para essa nova proposta de acolhimento institucional.

17.2 Aspectos a serem melhorados

A partir das entrevistas realizadas, diversos aspectos a serem melhorados

foram elencados para a continuidade do serviço “porta de entrada”.

Para as Varas da Infância e Juventude, é necessário:

� Aumento do tempo de acolhimento para viabilizar os encaminhamentos

necessários e o estabelecimento de parcerias entre SAICAs e cooperativas

para geração de renda devido ao perfil dos acolhidos;

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

� Mapeamento dos casos atendidos pelos serviços “porta de entrada”;

� Encaminhamento de documentação da criança e do adolescente, como a guia

respectiva ou, em caso de demora, envio da cópia da decisão para o

acolhimento, uma vez que nem sempre portam tal determinação;

� Melhoria das instalações físicas e escolha de locais distantes do tráfico de

drogas;

� Revisão da possibilidade de retorno em 24 horas via Conselho Tutelar, nos

casos de saída não autorizada;

� Trabalho relacionado à alta rotatividade de funcionários;

� Articulação com a rede de Saúde para atendimento de adolescentes com

histórico de uso de drogas;

� Melhoria da comunicação entre os serviços e os Conselhos Tutelares.

Para os Conselhos Tutelares, é preciso:

� Garantir a inserção dos acolhidos em serviços da rede;

� Garantir que os serviços “porta de entrada” cumpram a finalidade para a qual

foram criados;

� Inserir os acolhidos na escola, em atividades e em ações da rede, buscando

prevenir a ociosidade.

Para o CREAS, é importante:

� Definição do público encaminhado, buscando melhor direcionamento e foco

do trabalho;

� Melhoria do fluxo de encaminhamento, pois a falta de vagas em outras

regiões estende o tempo de permanência do adolescente no serviço,

reforçando o vínculo e criando resistência à transferência;

� Melhoria da atuação do Conselho Tutelar de modo que esteja comprometida

com o restabelecimento de vínculos familiares;

� Capacitação e formação continuada aos conselheiros tutelares;

� Melhoria da oferta de recursos na área da Saúde (UBS, CAPS-AD e CAPSi);

� Maior suporte dos SAICAs regulares aos SAICAs “porta de entrada”.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

Para os Gerentes, Técnicos e Educadores, é imprescindível:

� Garantir que o serviço atue dentro de sua especificidade, principalmente em

relação ao tempo de acolhimento previsto. Em algumas situações não é

possível cumprir o prazo, interferindo na vinculação e na confiança

depositada no serviço por parte dos acolhidos;

� Melhorar ações do Conselho Tutelar nos seguintes aspectos: a) busca de

informações acerca dos acolhidos e de sua família, de modo a garantir a

excepcionalidade da medida protetiva e evitar o acolhimento punitivo e

desnecessário; b) acompanhamento dos casos no que se refere à saída não

autorizada e ao retorno ao serviço; c) atuação de forma parceira na

construção conjunta de ações para encaminhamento dos casos; d)

participação em reuniões de articulação da rede; e) melhoria dos processos

de recâmbio;

� Melhorar as instalações físicas dos serviços;

� Elaborar estratégias para evitar a rotatividade de funcionários;

� Aumentar a verba repassada aos serviços “porta de entrada”, haja vista que a

alta rotatividade dos acolhidos gera despesas para além do programado;

� Propiciar um maior número de atividades internas e diversificadas aos

acolhidos;

� Garantir equipamentos para a realização de atividades externas de esporte,

cultura e lazer;

� Ampliar atividades de capacitação dos profissionais, voltadas para questões

cotidianas.

Para os adolescentes, é indispensável:

� Melhoria na oferta de cursos;

� Inserção no mercado de trabalho;

� Maior contato com a família;

� Acolhimento próximo à região de referência de moradia;

� Não desmembramento de grupo de irmãos;

� Participação na construção das regras e contratos de convivência.

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43

Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

18 PRINCIPAIS QUEIXAS

Os entrevistados de todos os equipamentos trazem como principal queixa o

fato do serviço “porta de entrada” desenvolver um trabalho destoante de sua

concepção inicial. Além disso, a falta de uma coordenação específica para tais

serviços na SMADS acarreta nas dificuldades apresentadas no fluxo de atendimento

– descumprimento da regionalização e indefinição do público a ser atendido –, na

precária formação profissional para trabalhar com adolescentes e na dificuldade de

articulação intersetorial e respostas para as questões cotidianas.

Por parte dos adolescentes, as queixas trazidas relacionam-se à distância de

sua região de origem, à perda de contato com amigos e familiares, ao “excesso” de

regras, à ociosidade, à ausência de cursos de seu interesse e às atividades

oferecidas internamente (colocaram-nas como limitadas e obsoletas).

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

19 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo apresentado permitiu aproximação à realidade dos 06 serviços

“porta de entrada” da cidade de São Paulo, implantados no município pela

Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, após a instauração

do IC nº 114/11.

A proposta de trabalho da SMADS tinha a finalidade de implantar esses

SAICAs com a intenção de atender a crianças e adolescentes em casos de

inexistência imediata de vagas em outros serviços de acolhimento. Essa proposta

diferenciava da sugerida pela PJDIDCIJC na Ação Civil Pública (2010) e no Inquérito

Civil (2011), que propunha o acolhimento de adolescentes egressos da Fundação

CASA, em situação de rua ou usuários de drogas, de modo a evitar o seu convívio

com acolhidos que não possuíssem esse perfil e lhes preparar para o acolhimento

regular.

No entanto, observou-se que, não obstante a divergência de objetivos, as

propostas trilharam o mesmo caminho. A insuficiência de vagas nos serviços

regulares colaborou com essa situação, principalmente para adolescentes e grupos

de irmãos. Essa condição contribuiu para que os serviços “porta de entrada”

atendessem conforme a proposta da Promotoria24.

Outrossim, os serviços “porta de entrada” atuam, em muitas situações, como

serviços de acolhimento regular, bem como apresentam as mesmas dificuldades

encontradas à época dos CRECAs, apesar de reestruturado e melhor organizado,

tais como: acolhimentos motivados por situação de rua e conflito familiar; ausência

de informações sobre o histórico de vida; documentação insuficiente; dificuldades

dos profissionais em trabalhar com demandas específicas (uso de drogas e situação

de rua, por exemplo); conflitos entre os acolhidos e entres esses e os educadores;

alto índice de saídas não autorizadas; alta rotatividade de acolhidos e profissionais.

Essas características dificultam a realização de trabalho personalizado, o

estabelecimento de vínculos e cumprimento do prazo de até 60 dias,

descaracterizando o atendimento emergencial proposto e propiciando o acolhimento

de casos com indicação para SAICA regular. 24 Adolescentes anteriormente atendidos nos CRECAs, quais sejam: com histórico de uso de drogas, situação de rua e egressos da Fundação CASA.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

Em relação aos acolhimentos de adolescentes que fazem uso abusivo de

drogas, percebeu-se que há uma queixa recorrente quanto às dificuldades de

encaminhamento para serviços de Saúde25, ao trabalho e à convivência cotidiana

com esse público, dificuldades já apontadas na época dos CRECAs e utilizadas pela

PJ aqui referida como um dos argumentos para o seu fechamento.

Identificou-se, ainda, que na maioria dos casos que ultrapassaram 60 dias de

acolhimento, havia a prevalência não só de adolescentes, mas também de grupos

de irmãos. Além da insuficiência de vagas em serviços regulares para acolhimento

desse público, a resistência dos SAICAs em receber adolescentes contribui para o

entendimento desse fato. Em ambas as situações, é comum que o tempo do

acolhimento não seja breve. No caso dos adolescentes, a efetividade da intervenção

depende do estabelecimento de vínculos, o que nem sempre é possível. Em relação

a grupo de irmãos, o retorno à família de origem ou inserção em família substituta

demanda ações de longo prazo. Logo, o SAICA “porta de entrada” não seria o local

mais indicado para o desenvolvimento do trabalho técnico que tais públicos

necessitam, em especial pelo período previsto para acolhimento nesse serviço.

Isso posto, se o critério para encaminhamento é o número de vagas e não o

tipo de situação vivenciada pela criança ou adolescente a ser acolhido (conforme

dito pelos entrevistados), uma questão a ser discutida é se o atendimento do serviço

“porta de entrada” tem sido realmente emergencial ou regular, considerando que a

distribuição das vagas26 ocorre de maneira aleatória e independe do que ensejou a

necessidade de acolhimento.

Outra questão que suscita indagações é a dificuldade desses serviços quanto

ao armazenamento de informações sobre os acolhidos, podendo ser um dos motivos

pelo qual apresentaram problemas na transmissão dos dados. Essa situação pode

ser um reflexo da ausência ou da precariedade de um Sistema27 de Informação para

a Infância e Juventude que assegure o registro e o tratamento de dados para cada

acolhido. Isso pode interferir na continuidade do atendimento, ponderando-se que a

insuficiência de informações compromete a garantia integral dos direitos da criança

e do adolescente.

25 Nos CAPS-AD, os atendimentos são direcionados para adultos, pressupondo a autonomia do paciente, perfil no qual os adolescentes não se enquadram. 26 Aqui se consideram as vagas disponíveis nas Centrais de Regulação CREAS/CAPE. 27 Resolução Conjunta 1/2010 – CMDCA/COMAS, Art. 15.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

Com relação aos recursos humanos, os serviços “porta de entrada”

vivenciam as mesmas dificuldades enfrentadas pelos SAICAs regulares no que se

refere à rotatividade de funcionários e à insuficiência de capacitação28. A ausência

de capacitação inicial relatada por muitos entrevistados, bem como de investimento

em formação continuada, configuram-se como situações críticas, que interferem no

desenvolvimento das ações cotidianas e na relação dos profissionais com os

acolhidos.

Quanto à articulação intersetorial, as entrevistas mostraram fragilidade na

comunicação e na articulação dos serviços “porta de entrada” com a rede, que não

se veem como corresponsáveis na condução, encaminhamento e acompanhamento

dos casos de acolhimento institucional, realizando seu trabalho de forma

independente dos demais. Isso dificulta a construção de um olhar multidisciplinar e

resulta em intervenções fragmentadas, contrariando a premissa do atendimento

integral de crianças e adolescentes.

Em relação ao fluxo de encaminhamento, mesmo com a criação de um

serviço por região, ocorrem encaminhamentos fora da área de referência de moradia

das crianças e dos adolescentes, havendo distanciamento do que preconiza o

ECA29. Essa situação foi enfaticamente mencionada, principalmente, pelos

conselheiros tutelares, que reclamaram das distâncias percorridas para efetivar os

acolhimentos e da ausência de vagas nos serviços que deveriam atender à sua

região de atuação.

Os Conselhos Tutelares são apontados como os maiores responsáveis pelas

solicitações de acolhimento. Ainda assim, a maioria dos conselheiros refere entraves

para efetivá-los, como a indagação quanto à necessidade da medida e a

imprescindibilidade de se reportar à Central de Regulação de Vagas, o que os

conselheiros consideram uma intervenção na sua autonomia. Por outro lado, os

demais entrevistados (CREAS, VIJ e profissionais dos SAICAs) assinalaram a

existência de casos de acolhimentos desnecessários promovidos pelo CT, nos quais

não são buscadas outras medidas protetivas. Não por acaso, o principal motivo de

28 Para maior compreensão dessa realidade, consultar: “A Sistematização das Capacitações” – NAT RI 310/14. 29 Art. 101, § 7º – O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá no local mais próximo à residência dos pais ou do responsável e, como parte do processo de reintegração familiar, sempre que identificada a necessidade, a família de origem será incluída em programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção social, sendo facilitado e estimulado o contato com a criança ou com o adolescente acolhido.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

saída dos serviços “porta de entrada” é a saída não autorizada, que pode estar

diretamente relacionada aos referidos acolhimentos.

A Resolução Conjunta nº 002 de 2014 – CMDCA e COMAS/SP passa a

reconhecer o SAICA “porta de entrada” como serviço de acolhimento inicial, que

deverá incluir a realização de estudo diagnóstico a fim de avaliar a medida protetiva

adequada, sendo também um local de transição para adaptação ao acolhimento

regular, especificamente de crianças e adolescentes com questões referentes à

saúde mental, em situação de rua, com histórico de drogadição e em cumprimento

de medida socioeducativa. Ou seja, parte do público que, a princípio, demanda

acolhimento de longo prazo, irá compor o grupo de acolhidos desses serviços.

Dessa forma, observa-se que não houve mudanças quanto à proposta anterior dos

serviços “porta de entrada”.

Assim, se o serviço porta de entrada funciona, na prática, como “alternativa”

para a falta de vagas na cidade São Paulo, principalmente para públicos específicos,

a nova Resolução Conjunta poderá agravar essa situação, uma vez que essa

estabelece a redução da capacidade de atendimento dos SAICAs de 20 para 15

crianças e adolescentes, o que consequentemente demandará a criação de mais

serviços. E caso não haja SAICAs regulares suficientes para o atendimento da

demanda, serão criados mais serviços iniciais para atendimento dos excedentes?

Percebe-se que o serviço “porta de entrada” para acolhimento inicial não é

viável da forma como está organizado, funcionando em grande parte como SAICA

regular por não conseguir garantir, em muitos casos, o cumprimento do prazo

estabelecido para acolhimento pelo Termo de Convênio, necessitando buscar

informações sobre o histórico de vida dos acolhidos e, ao mesmo tempo, conviver

com crianças e adolescentes que permanecem no serviço por longos períodos. Isso

suscita certa incredulidade quanto às diretrizes que norteiam funcionamento do

serviço “porta de entrada” e também quanto à sugestão da necessidade de aumento

da verba repassada a esses serviços. Portanto, na configuração atual, os acolhidos

poderiam ser encaminhados diretamente aos SAICAs regulares.

O serviço “porta de entrada”, como atendimento emergencial e provisório,

poderia ser mais viável para atendimento de casos em que os Conselhos Tutelares

muitas vezes são acionados e que não necessitariam, inicialmente, de um processo

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judicial30, como: crianças e adolescentes encontrados perdidos na rua; refugiados

desacompanhados ou sem representante legal, enquanto aguardam o processo

migratório31; e situações de conflitos familiares. A permanência de crianças e

adolescentes nesse serviço perduraria até que a família fosse encontrada ou o

conflito solucionado. Além disso, o trabalho a ser realizado nas situações

mencionadas seria favorecido pela quantidade maior de técnicos e educadores.

Finalmente, há a necessidade de aprimorar o modelo proposto de

acolhimento inicial e, para este fim, é imprescindível fomentar o diálogo entre os

diferentes atores envolvidos no Sistema de Garantia de Direitos, tanto no âmbito

municipal quanto no estadual.

30 Por exemplo, o caso de uma criança boliviana perdida que estava no SAICA Carrapicho I enquanto aguardava que sua família fosse encontrada, ou mesmo nas situações que encontramos durante as visitas de rotina, em que os técnicos relatam os inúmeros casos nos quais crianças e adolescentes são trazidos pelo CT por situações de conflito familiar, que não necessitaria do acolhimento e que causam angustia/esgotamentos/preocupações/conflitos desnecessários às famílias. 31 Conforme acordado em reunião ocorrida em 10 de março de 2015 entre a PJDIDCIJC e a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social – SMADS, esta última disponibilizou os SAICAs “porta de entrada” para acolher crianças e adolescentes imigrantes. Inquérito Civil nº 53/15.

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

ANEXO I

LISTA DOS SERVIÇOS “PORTA DE ENTRADA”

Serviço: SAICA Carrapicho I Mantenedora: Associação Vida Carrapicho Endereço: Rua Sinfonias do Ocaso, 16 F – Bairro Lar Nacional – Sapopemba Telefones: 2701-6319 / 2695-7940 Início do trabalho como “porta de entrada”: Janeiro de 2012 como Projeto especial para crianças e adolescentes de 0 a 18 anos, com características de “porta de entrada”. Após acordo entre PJ e SMADS oficializou-se como “porta de entrada” da região leste. 1º Entrada. Serviço: SAICA Menino Jesus Mantenedora: Associação de Auxílio Mútuo da Região Leste – APOIO Endereço: Rua Serra de Jairé, 1532 – Água Rasa Telefone: 2371-0907 Início do trabalho como “porta de entrada”: Agosto de 2012 Serviço: SAICA Casa Taiguara Mantenedora: Moradia Associação Civil Endereço: Rua Vicente Prado, nº 93/95 Telefones: 3241-3146 / 3105.7748 Início do trabalho como “porta de entrada”: Dezembro de 2012. Serviço: SAICA Santo Amaro Mantenedora: Associação de Auxílio Mútuo da Região Leste – APOIO Endereço: Rua Promotor Gabriel Netuzzi Perez, 81 – Santo Amaro Telefones: 5523-2923/4304.4002 Início do trabalho como “porta de entrada”: Dezembro de 2012 Serviço: SAICA Ubuntu Mantenedora: Moradia Associação Civil Endereços: Rua Edu Chaves, 164 – Parque Edu Chaves Telefone: 2241-4998 Início do trabalho como “porta de entrada”: Dezembro de 2012 Serviço: SAICA Carrapicho II Mantenedora: Associação Vida Carrapicho Endereço: Rua Marcondes Homem de Melo, 305 - Parque do Carmo Telefone: 2746-0327 Início do trabalho como “porta de entrada”: Outubro de 2013

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Avaliação dos Serviços de Acolhimento Institucional “Porta de Entrada” no Município de São Paulo

ANEXO II QUESTIONÁRIOS

A ) CENTRO DE REFERENCIA ESPECIALIZADO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – CREAS

1. Qual o papel do CREAS no fluxo dos SAICAs “porta de entrada”? Diferenciar o fluxo de entrada e saída (o que o CREAS faz para obtenção de vagas)

2. Como avaliam os SAICAs “porta de entrada”? Quais as vantagens e desvantagens? (dificuldades, o que pode ser melhorado, etc.)

3. Quais são as atividades realizadas pelo CREAS junto aos SAICAs “porta de entrada”? (supervisão, atendimento às famílias, etc.)

4. Como é a relação com os Conselhos Tutelares, especificamente nos assuntos relativos aos SAICAs “porta de entrada”?

B ) CONSELHO TUTELAR 1. Em que circunstancias vocês solicitam vaga para acolhimento (critérios para acolhimento)? 2. Como é realizado esse encaminhamento? (relatório, documentação pessoal, entre outros) 3. Há continuidade no acompanhamento da criança e adolescente após o acolhimento no “porta

de entrada”? 4. Em que você diferenciaria um serviço “porta de entrada” de outro convencional? (qual o

entendimento do Conselho sobre “porta de entrada”) 5. Por ocasião da solicitação de vaga, há diferença entre um serviço “porta de entrada” ou

convencional? 6. Quais as vantagens e desvantagens da Central de Regulação de Vagas? 7. Em caso da vaga não ser concedida, quais os procedimentos adotados?

C) VARA DA INFÂNCIA (EQUIPE TÉCNICA)

1. Vocês fiscalizam algum serviço “porta de entrada” (art. 95 do ECA e Art. 28 da Resolução Conjunta nº 1/ 2010 COMAS e CMDCA São Paulo)?

2. Como é diferenciado, pela Vara da Infância, um serviço “porta de entrada” de outro convencional?

3. Qual o fluxo para obtenção de vagas em serviço “porta de entrada”? Há diferença? A Vara interfere de algum modo nesse fluxo?

4. Qual a avaliação que a Vara da Infância faz sobre o serviço “porta de entrada”? 5. Em sua opinião, qual seria o público a ser atendido por um serviço “porta de entrada”?

D) “PORTA DE ENTRADA” – GERENTE E EQUIPE TÉCNICA

1. Como é o fluxo de entrada durante o dia? (quem traz/ a que tipos de informações o serviço tem acesso quando a criança-adolescente chega: guia de acolhimento, histórico, termo de entrega CT, relatório, etc.)

2. Como é o fluxo de entrada durante a noite? (quem traz/ a que tipos de informações o serviço tem acesso quando a criança-adolescente chega: guia de acolhimento, histórico, termo de entrega CT, relatório, etc.)

3. Como é o fluxo de entrada durante os finais de semana? (quem traz/ a que tipos de informações o serviço tem acesso quando a criança-adolescente chega: guia de acolhimento, histórico, termo de entrega CT, relatório, etc.)

4. Qual o critério de encaminhamento para esse tipo de serviço? Quem são os acolhidos? 5. Como é feita a apresentação do serviço para a criança/adolescente? (recepção, acolhimento,

o que os profissionais dizem para o acolhido sobre o serviço, etc.) 6. Quem apresenta maiores problemas de indisciplina? 7. Quais são os objetivos do trabalho? 8. Qual o trabalho técnico realizado: com o acolhido, com a família, com a rede de referência? 9. É realizado o PIA? Quanto tempo após o acolhimento? Que modelo vocês utilizam? 10. Qual o procedimento em casos de saída não autorizada? Quem o definiu? (se fazem busca,

B.O., após quanto tempo...) 11. Como se dá a articulação interna? (reuniões de equipe, relação interprofissional, conflitos na

equipe, etc.) 12. Como é realizada a articulação com rede municipal? (importante saber se o profissional

considera o fato de que acolhimento deva ser de curto prazo ao se articular com a rede)

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13. Depois de quanto tempo de acolhimento, os acolhidos são matriculados na escola? O que eles fazem durante o tempo ocioso?

14. Quais são as atividades desenvolvidas dentro e fora do serviço? Quem são os parceiros? Todos os acolhidos estão inseridos nessas atividades?

15. É realizado algum tipo de capacitação profissional antes do ingresso no serviço? O processo de formação (participação em cursos, seminários, palestras; supervisão) está em consonância com os objetivos do serviço?

16. Como é a relação entre os acolhidos, desses com os educadores e equipe técnica, e do serviço com a vizinhança?

17. Como é realizado o desacolhimento? 18. Como os técnicos avaliam o trabalho desenvolvido? E como avaliam o modelo “porta de

entrada”? 19. Quais as principais dificuldades? (alta rotatividade de acolhidos e de funcionários, CT, tempo

de acolhimento, rede, público-alvo, etc.) 20. O que você acha que deveria mudar?

OBS: perguntar qual a pessoa do CREAS responsável pela supervisão do serviço

E) “PORTA DE ENTRADA” – EDUCADORES 1. Como os acolhidos têm chegado ao serviço? Tem diferença se chegam no horário diurno ou

noturno ou final de semana? 2. Como a equipe de educadores recebe? Há diferença entre a recepção das equipes do dia e

da noite? Existe alguma orientação da equipe técnica? 3. Como vocês apresentam o serviço para os acolhidos? 4. Quais os objetivos do trabalho? 5. Qual o trabalho realizado junto aos acolhidos? 6. Como é a relação entre educadores e acolhidos? E dos acolhidos entre si? 7. Em caso de conflitos entre acolhidos e entre esses e os educadores, como vocês lidam? Há

autonomia para lidar com essas questões? 8. É realizado algum tipo de capacitação antes do ingresso no serviço? Participam de cursos,

palestras, supervisões, reuniões para discutir o trabalho? Se sim, são úteis para o cotidiano do trabalho? Por quê?

9. Quais as principais dificuldades? (alta rotatividade de acolhidos e de funcionários, CT, tempo de acolhimento, rede, público-alvo, etc.)

10. O que você acha que deveria mudar?

F) “PORTA DE ENTRADA” – ACOLHIDOS a) Quem apresentou o abrigo pra você? O que ele disse? b) O que você acha do abrigo? (o que tem de bom e de ruim) c) Você gosta das pessoas que trabalham aqui? O que você conversa com elas? Vocês fazem

rodas de conversa? d) Você tem amigos aqui? Tem briga? Tem amigos que já foram embora? O pessoal fica aqui

muito tempo ou vai embora rápido? e) O que faz durante o dia? Você gosta do que faz aqui? f) Você encontra com os amigos antigos e com os seus familiares? (preservação de vínculos)

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ANEXO III

PLANILHA DE DADOS INFORMADOS PELOS SAICAS “PORTA DE ENTRADA”

Nº de acolhidos Data de entrada Data de Saída Nome completo do Acolhido

Nome da mãe

Nome do pai

Data de

nascimento Idade Sexo Região de origem

Está no SAICA “porta de entrada” de referência?

Foi encaminhado por:

Motivo do acolhimento

Vara da infância e da juventude onde há processo atual:

Está inserido em escola? (S/N)

Quando foi inscrito em escola (após o

acolhimento)

Está inserido em outras atividades/equipamentos da rede?

(S/N) Quais?

Possui alguma deficiência

(S/N)? Qual?

Possui histórico de

uso de drogas?

(S/N)

Estava em situação de rua? (S/N)

Egresso da

Fundação CASA? (S/N)

Cumpre MSEMA?

Participa do PPCAAM? (S/N)

Apresenta problemas de indisciplina?

(S/N)

Possui irmãos em serviços de acolhimento? (S/N)

No mesmo serviço? (S/N)

Está destituído do poder

familiar? (S/N)

Há perspectiva de reinserção familiar? (S/N)

Motivo do desacolhimento: - transferência para SAICA regular? De referência ou não? - retorno familiar - família substituta - saída não autorizada - maioridade