Avaliação Modular Complementar 3

Embed Size (px)

Citation preview

Consideraes fundamentais acerca do mtodo da correlao em Paul Tillich e sua importncia para o contexto atual.

Adriano de Souza Dias matrcula 249499Plo Petrpolis-RJ.

Para o telogo Paul Tillich, toda reflexo teolgica, quando engajada, deve ser desenvolvida a partir do trabalho cognitivo. A conscincia metodolgica deve sempre seguir a aplicao de um mtodo, e nunca preced-lo, pois ele invariavelmente deriva de uma compreenso que precede o sistema teolgico. Por essa viso, no se pode abdicar de uma discusso reflexiva acerca do uso do mtodo emprico, pois nesse caso, primeiramente h o experimento para depois vir a reflexo sobre o objeto estudado, ou seja, ocorre uma mo invertida no caminho do pensar teolgico.Ora, a tarefa da teologia sistemtica explicar os contedos da f crist e, para responder s questes provenientes desse procedimento necessariamente faz-se uso de uma referncia de fundamento: a Bblia, qual seja, o documento original sobre os eventos em que est baseado o cristianismo.[footnoteRef:2] Conquanto isso no possa ser negado, para o referido autor, essa resposta ainda no suficiente que afirma: [2: TILLICH, P. Teologia Sistemtica. 2. ed. So Leopoldo: Editora Sinodal/Edies Paulinas, 1987, p. 38]

Tratando da questo das fontes da teologia sistemtica, devemos rejeitar a afirmao do biblicismo neo-ortodoxo de que a Bblia a nica fonte. A mensagem bblica no pode ser entendida, e no poderia ter sido recebida, se no houvesse uma preparao a ela na religio e na cultura da humanidade. E a mensagem bblica no se tornaria mensagem para ningum, incluindo o prprio telogo, sem a participao experiencial da igreja e de todo cristo. (TILLICH, 1987, p. 38)

Para o telogo prussiano, a Bblia a fonte bsica da teologia sistemtica. At mesmo, procura questionar a maneira como ela concebida por muitos estudiosos e/ou religiosos, que afirmam ser Palavra de Deus ou o ato da revelao, alm de fonte da teologia sistemtica, entretanto, h de se ponderar que a Palavra de Deus no pode estar limitada s palavras de um livro. Por esse ngulo, deve-se, sim, para o estudo sistemtico da teologia, utilizar-se de fontes adicionais alm da Bblia.No h dvida de que a Palavra de Deus manifesta uma mensagem revelada, porm, no pode haver revelao, sem que haja algum que a receba como revelao. Assim, a Bblia tanto um evento original, quanto um documento original. Ela d testemunha daquilo de que parte.[footnoteRef:3] Por essa compreenso, o telogo bblico no apresenta puros fatos, mas elementos teologicamente interpretados, a teologia sistemtica deve ser elaborada com base em um contedo histrico-crtico sem nenhuma restrio e, concomitantemente, interpretativo-existencial, por se tratar de questes de preocupao ltima.[footnoteRef:4] [3: Idem.] [4: Idem.]

A partir dessa viso, prope o chamado mtodo da correlao, com o qual tentava unir a mensagem crist com o que ele chama de situao[footnoteRef:5]. O mtodo de correlao explica os contedos da f crist numa interdependncia mtua entre as questes existenciais e as respostas teolgicas[footnoteRef:6] Ele prope uma teologia dinmica, que busca sempre confrontar as verdades fundamentais do cristianismo com a situao da realidade compreendida dentro das dimenses de um contexto cultural. [5: Para Tillich, situao compreendida como sendo todas as vrias formas culturais que expressam a interpretao de sua existncia do homem moderno.] [6: HIGUET, Etienne A. O mtodo da Teologia Sistemtica de Paul Tillich a relao da razo e da revelao. Estudos de Religio. So Bernardo do Campo, v. 10, n. 10, p. 40, 1995.]

Nesse sentido, a teologia deve funcionar como um liame entre as perguntas implcitas no contexto da realidade e as respostas implcitas na resposta a ser dada. Se no houver uma eficiente articulao entre esses dois plos, possvel que a mensagem perca o seu poder proftico. Assim, quando se contextualiza a mensagem bblica, adequando-a a cada gerao, na verdade, com esse procedimento pode-se dizer que a mensagem est dentro desse parmetro institudo pelo referido autor.A histria da religio e da cultura exerce forte impacto sobre o telogo sistemtico e comea com a linguagem que ele usa e a educao cultural que recebeu.Sua vida espiritual est moldada por seu encontro social e individual com a realidade. Isto est expresso na linguagem, poesia, filosofia, religio, etc. da tradio cultural na qual ele cresceu e da qual toma algum contedo em todo momento de sua vida, em seu labor teolgico e tambm fora dele. Alm deste contato imediato e inevitvel com sua cultura e religio, o telogo sistemtico lida com elas diretamente de vrias maneiras. Ele usa intencionalmente cultura e religio como seus meios de expresso. Ele aponta para elas a fim de confirmar suas afirmaes.(...) ele formula as perguntas existenciais implcitas nelas, s quais sua teologia pretende responder. (TILLICH, 1987, p. 41)Por essas indagaes, certamente Tillich se posiciona criticamente em relao ao fundamentalismo e ortodoxia, pois por sua viso esses movimentos tendem a transformar uma verdade teolgica do passado em algo imutvel, engessado, sem vida e que no permite responder aos anseios existenciais da realidade do tempo presente.Ora, nesse diapaso, uma verdade bblica eterna no deve ser expressa por sistemas teolgicos rgidos, mas por meio de smbolos, pois estes possuem a condio de avanar o seu sentido para alm de si mesmo, estendendo, assim, a mensagem eterna do cristianismo para outro tempo, outra cultura, enfim, outra realidade, sem perder, contudo, a sua fora e o efeito revelador manifestado nessa mensagem que, certamente, ir se adequar satisfatoriamente a cada nova situao.Sendo assim, sabendo que tanto o fundamentalismo como a ortodoxia no apresentam mdotos adequados para criar um liame efetivo entre a verdade eterna (querigma) e a situao (realidade contextual e cultural), certamente no devem ser considerados paradigmas de coerncia para retratar a f crist.Para se tratar da relao entre a teologia querigmtica e a apologtica deve-se fazer pelo vis da prudncia por seguirem caminhos extremos opostos, pois enquanto os apologistas tendem a se apegar demasiadamente situao, correndo o risco de abandonar o querigma, como, por exemplo, os cristos do primeiro sculo, pois na nsia de encontrar pontos de contato entre a verdade bblica e o pensamento da poca, acabaram por dissolver a mensagem crist. Em contrapartida, a teologia querigmtica tambm deve receber os devidos cuidados em sua expresso, haja vista que sendo certo que a situao no pode ser penetrada, ento restaria apenas a tarefa de repetir passagens bblicas isoladas, o que no se traduz suficiente para responder s perguntas existenciais formuladas pelo contexto contemporneo.[footnoteRef:7] [7: TORRES, C. D. Paul Tillich e uma Teologia mediada pela cultura. Revista Pos-Escrito. n 5, jan./ago., Rio de Janeiro, 2012.]

Para Paul Tillich Karl Barth deixa de ser um telogo querigmtico justamente porque tinha a coragem de se corrigir luz da situao, conseguindo ultrapassar os limites da ortodoxia e estabelecer um dilogo entre querigma e apologtica. Portanto, h de se considerar que o mtodo da correlao tem o seu devido valor nos estudos teolgicos, no entanto, deve-se sempre estar atento que esse mtodo no um instrumento que pode ser usado a bel-prazer. O prprio Tillich alerta para o fato de que quando tal mtodo empregado com a inteno de formular respostas a partir da pergunta,a mensagem crist fica ainda mais comprometida. Assim, se os apologistas se incidiram em erro ao valorizar demais a situao em detrimento do querigma, aqueles que cometem a inverso simplesmente ignoram a possibilidade de uma verdade imutvel, tendo em vista que apresentam uma nova verdade a cada nova pergunta.Por fim, no h como no considerar o mtodo da correlao para os dias de hoje, pois a teologia no pode ser comprometida por uma hermenutica que desconsidere a situao, pois se assim for, certamente, ir gerar um comprometimento sem limites na mensagem querigmtica, perdendo, assim, a garantia da mensagem central da verdade bblica, pois no ir atender s necessidades geradas pelo tempo presente.

Bibliografia:

HIGUET, Etienne A. O mtodo da Teologia Sistemtica de Paul Tillich a relao da razo e da revelao. Estudos de Religio. So Bernardo do Campo, v. 10, n. 10, p. 40, 1995.

MADUREIRA, J.M. Deus alm de Deus e a coragem de ser. Revista Eletrnica Correlatio, n 4, dezembro de 2003. Disponvel em < https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/COR/article/viewFile/1790/1775>

SOUZA, V. C. de. Da razo revelao: uma introduo ao mito em Paul Tillich. Revista Eletrnica Correlatio, v. 12, n 23 Junho de 2013. Disponvel em < https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/COR/article/viewFile/4277/3675>

TILLICH, P. Teologia Sistemtica. 2. ed. So Leopoldo: Editora Sinodal/Edies Paulinas, 1987.

TORRES, C. D. Paul Tillich e uma Teologia mediada pela cultura. Revista Pos-Escrito. n 5, jan./ago., Rio de Janeiro, Faculdade Batista do Rio de Janeiro, 2012. Disponvel em: < http://www.seminariodosul.com.br/posescrito/pdf/revista05/Torres,%20cleber.pdf>