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AVALIAÇÃO NO CONTEXTO ESCOLAR Elza Podgursk * Miriam Pan * RESUM0 O DEEIN - Departamento de Educação Especial e Inclusão Educacional da Secretaria de Estado da Educação do Paraná propõe uma política de “Avaliação no Contexto Escolar” a fim de orientar o processo educacional de inserção de alunos com deficiência Mental/Intelectual e Transtornos Funcionais do Desenvolvimento em Salas de Recursos de 5ª a 8ª Séries. O presente artigo tem por objetivo analisar a dimensão pedagógica da implementação desta política nas escolas do Estado. Para a execução desta análise foi realizado um estudo teórico-documental dos fundamentos contidos na legislação vigente, e pesquisa de campo com a realização do GTR – Grupo de Trabalho em Rede, constituído por 37 (trinta e sete) professores da Rede Pública Estadual, atuantes na área de Educação Especial, por meio de encontros virtuais pela Plataforma MOODLE. Participaram também 5 (cinco) membros de um Colégio Estadual, do município de Curitiba, com a realização de um Grupo de Estudos presencial, com a duração de 64 horas. Os resultados obtidos indicaram que a maioria dos participantes pesquisados não tem clareza sobre o processo de avaliação no contexto escolar para encaminhamento dos alunos para o serviço de apoio citado, o que parece acarretar maiores dificuldades como interação, discussão e efetivo trabalho com a equipe pedagógica bem como com a família. Pode-se concluir que o processo da avaliação no contexto escolar requer investimentos da formação continuada dos profissionais da educação, de forma a proporcionar um atendimento eficaz quanto ao ingresso a esse serviço de apoio especializado da Educação Especial. PALAVRAS-CHAVE: necessidades especiais, avaliação no contexto escolar, inclusão. ABSTRACT Professora Especialista da Rede Pública de Educação do Estado do Paraná e pesquisadora do PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional. Professora Doutora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Paraná, orientadora desta pesquisa.

AVALIAÇÃO NO CONTEXTO ESCOLAR RESUM0 no Contexto … · avaliação são componentes indissociáveis em qualquer projeto que se pretenda realizar. Esses elementos devem fazer parte

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AVALIAÇÃO NO CONTEXTO ESCOLAR

Elza Podgursk∗

Miriam Pan∗

RESUM0

O DEEIN - Departamento de Educação Especial e Inclusão Educacional da Secretaria de Estado da Educação do Paraná propõe uma política de “Avaliação no Contexto Escolar” a fim de orientar o processo educacional de inserção de alunos com deficiência Mental/Intelectual e Transtornos Funcionais do Desenvolvimento em Salas de Recursos de 5ª a 8ª Séries. O presente artigo tem por objetivo analisar a dimensão pedagógica da implementação desta política nas escolas do Estado. Para a execução desta análise foi realizado um estudo teórico-documental dos fundamentos contidos na legislação vigente, e pesquisa de campo com a realização do GTR – Grupo de Trabalho em Rede, constituído por 37 (trinta e sete) professores da Rede Pública Estadual, atuantes na área de Educação Especial, por meio de encontros virtuais pela Plataforma MOODLE. Participaram também 5 (cinco) membros de um Colégio Estadual, do município de Curitiba, com a realização de um Grupo de Estudos presencial, com a duração de 64 horas. Os resultados obtidos indicaram que a maioria dos participantes pesquisados não tem clareza sobre o processo de avaliação no contexto escolar para encaminhamento dos alunos para o serviço de apoio citado, o que parece acarretar maiores dificuldades como interação, discussão e efetivo trabalho com a equipe pedagógica bem como com a família. Pode-se concluir que o processo da avaliação no contexto escolar requer investimentos da formação continuada dos profissionais da educação, de forma a proporcionar um atendimento eficaz quanto ao ingresso a esse serviço de apoio especializado da Educação Especial.

PALAVRAS-CHAVE: necessidades especiais, avaliação no contexto escolar, inclusão.

ABSTRACT

Professora Especialista da Rede Pública de Educação do Estado do Paraná e pesquisadora do PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional. Professora Doutora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Paraná, orientadora desta pesquisa.

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The DEEIN - Department of Special Education and Educational Inclusion of the SEED - Secretary of Education of Paraná proposed a policy of "Assessing the School Context" to guide the educational process of integration of students with disabilities Mental / Intellectual and Functional Disorders of Development in Resource Room, 5 th to 8 th grade. This article aims to examine the extent of implementation of educational policy in schools in the state. To implement this analysis was a study of theoretical and documentary grounds contained in current legislation, and field research with the creation of the GTR - Network Working Group, consisting of 37 (thirty-seven) teachers from the public State, acting in the area of Special Education, through virtual meetings by Moodle Platform. They also five (5) members of the Team of Pedagogical State College, the city of Curitiba, in the conduct of a study group presence, with a duration of 64 hours. The results indicated that most participants surveyed do not have clarity on the process of evaluation in the school for referral of students to support the service said, which seems to cause more difficulties as interaction, discussion and work effectively with team teaching and as with the family. It can be concluded that the process of evaluation the school requires investment in training of professional continuing education in order to provide an effective service on the entrance to the service of specialist support of Special Education.

KEYWORDS: special needs assessment in the school, inclusion.

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INTRODUÇÃO

Atualmente, ao se pensar em Educação somos levados a

questionamentos referentes à Inclusão e, consequentemente, à Diversidade.

Percebe-se que, apesar de toda a disseminação sobre esse assunto, o

entendimento de seu significado ainda é vago. Esse posicionamento pode ser

observado em discussões sobre o tema em todos os segmentos sociais, inclusive

na própria escola.

Entende-se que os alunos que apresentem alguma deficiência

devem ser atendidos pelas políticas públicas inclusivas, como se apenas estes

estivessem à margem do processo educacional em virtude de sua evidente

diversidade. Contudo, a realidade escolar demonstra que há necessidade de

reflexão sobre todas as diferenças existentes. A heterogeneidade é inerente ao

ser humano e a escola deveria, a princípio, reconhecer e atender a toda a

diversidade.

A tendência mundial acerca da inclusão tem raízes na busca pela

dignidade da pessoa humana e pode ser considerada como o princípio

fundamental do qual decorrem os demais princípios, tais como o da igualdade e o

da isonomia, conforme assevera Nunes (2002).

O Princípio da Isonomia, segundo o qual todas as pessoas são

iguais perante a lei, assegurado também pela Constituição Federal (1988), tem

por objetivo fundamental o atendimento ao princípio de igualdade de direitos e

oportunidades. Também são previstos em vários documentos de âmbito

internacional e nacional que contemplam os direitos humanos.

De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Especial

para a Construção de Currículos Inclusivos (2006), no Paraná, a inclusão

educacional apresenta-se como um processo gradativo, dinâmico e em

transformação, que exige o absoluto respeito e reconhecimento às diferenças

individuais dos alunos e à responsabilidade quanto à oferta e manutenção dos

serviços apropriados ao seu atendimento.

Com a evolução histórica dos movimentos sociais para universalizar

o acesso às escolas, desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948),

a Constituição Federal (1988), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

– Lei 9394/96, convergem para as necessidades de serem estabelecidas

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condições à efetiva inclusão educacional e social. Assim, a Educação está voltada

para o reconhecimento do direito de aprender de todos, independentemente do

estilo de aprendizagem de cada um.

A dignidade nasce com o ser humano e, como este nasce, cresce e

vive inserido no meio social, natural que a dignidade deva estar presente nas

suas relações e liberdades, devendo sempre ser invocada quando houver

violação ou discriminação de algum de seus direitos e garantias, de modo que

não deixe de ser considerada em nenhum ato de interpretação, aplicação ou

criação de normas jurídicas, até mesmo por uma questão de dever social.

Frente a essa realidade, expressa e garantida legalmente, procura-

se buscar levantamentos sobre a garantia desse direito aos indivíduos que,

temporária ou permanentemente, encontram-se impossibilitados de exercê-lo.

A partir da Declaração de Salamanca (1994), documento que reflete

um consenso mundial sobre os rumos dos serviços educacionais especiais,

entende-se que “todas as escolas devem acolher todas as crianças,

independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais,

lingüísticas ou outras”. As escolas deverão, portanto, oferecer opções curriculares

que se adaptem aos alunos com capacidades e interesses diferentes. Os alunos

com necessidades educativas especiais devem receber apoio adicional em

programas de estudos adaptados às suas demandas.

Nessa linha, cabe um questionamento: quem seriam esses alunos?

Quais os mecanismos para identificá-los? Como reconhecê-los? Que

instrumentos avaliativos poderiam ser pensados e aplicados?

Pensar e escrever sobre avaliação tem sido ao longo do tempo, uma

preocupação constante entre educadores, bem como de todos aqueles que, de

uma forma ou de outra, acompanham a evolução de todo o sistema educacional.

Supõe-se, antes de tudo, a necessidade de reflexão sobre o objetivo

de avaliar, perguntar-se sobre as várias funções da avaliação, desde medir o nível

de aprendizagem obtido pelos alunos, bem como a busca do entendimento sobre

o processo ensino-aprendizagem.

Em todas as áreas da atividade humana, o tempo traz mudanças

que se fazem sentir por diversos níveis: mudam modelos teóricos, com eles os

conceitos, as práticas, as relações entre as pessoas, nossa forma de ver e de

pensar o mundo. E, enfim, nossa forma de interagir com o mundo.

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Em educação as coisas não são diferentes. Neste setor, as dúvidas

são muitas e de natureza diversa. Em nossa vida profissional somos atingidos

diariamente por infindáveis perturbações de natureza didático-pedagógica

referentes à metodologia de ensino e conseqüentemente à prática avaliativa.

A educação é uma prática humana direcionada por uma

determinada concepção teórica de homem e sociedade, tratando-se de um

fenômeno cultural, de acordo com Luckesi (1986). A educação, nas suas diversas

possibilidades, serve à reprodução, mas também à renovação da sociedade.

Segundo Paulo Freire (1986), cada indivíduo é sujeito de sua

própria história, pode transformar sua realidade, participando eficazmente de toda

e qualquer manifestação de idéias e atos que promovam sua ascensão enquanto

cidadão.

A capacidade do homem de poder discernir o que é melhor para si

está condicionada à sua condição de perceber, de avaliar, de persuadir e tomar

decisão. Assim, Freitas (1995), o processo de avaliação está intrinsecamente

relacionado a esta atividade objetiva/subjetiva de apropriação e objetivação. O

homem está constantemente “avaliando” suas realizações por meio de um

permanente confronto entre o realizado e suas novas necessidades.

Este processo faz parte de nossa vida, já que é através da avaliação

que asseguramos o controle de qualidade de todo empreendimento; esse

entendimento estende-se também ao campo educacional. Abordar a questão da

avaliação implica necessariamente em reconhecer a questão do controle, ou seja,

a do poder. Esse também é um posicionamento abordado por Foucault (1987).

Para esse filósofo, a relação saber/poder é expressa através da concretização de

práticas disciplinares. Na escola, os mecanismos de controle podem ser

traduzidos por notas, menções, manuais, relatórios, avaliações, entre outros.

A escola pode ser um espaço possível de luta, de denúncia da

domesticação e reprodutividade e de procura de soluções. Com relação a esta

temática, Luckesi (1996) destaca a importância da conscientização de cada

indivíduo no ato de avaliar, quando afirma que planejamento, execução e

avaliação são componentes indissociáveis em qualquer projeto que se pretenda

realizar. Esses elementos devem fazer parte do Projeto Político-Pedagógico que

orienta uma escola.

Ainda para Freire (1986), o processo educativo é um ato político;

não há educação neutra. Tal processo caracteriza-se por ações que resultariam

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em relação de domínio ou de liberdade entre os indivíduos. De um lado a

burguesia (opressores), de outro, os operários (oprimidos). Seria ideal uma

pedagogia libertadora passando por um efetivo, intenso diálogo (dialética),

contrária à educação bancária, tendo o professor como depositante e o aluno

como depositário, que redunda em cultura do silêncio do individualismo, da

competitividade, sendo estática, compartimentalizada, desconectada da realidade,

com alicerces na proposição de os alunos se ajustarem, se adequarem, se

adaptarem ao que lhes é imposto.

Todavia o que se constata é uma situação extremamente preocupante

de fracasso escolar, expressa por instrumentos de avaliação, amplamente

divulgados na mídia. De acordo com Patto (1999), para se entender o fracasso

escolar, deve-se procurar fazer a leitura de toda uma evolução da sociedade

capitalista, entendendo a história da educação vinculando-a com a história do

país e do mundo, suas inter-relações, os interesses das classes dominantes e de

tudo o que foi legislado pelos seus representantes.

A escola, que deve ser para todos, deve descobrir formas de tornar-

se um espaço para o exercício de liberdade e autonomia, para a expressão de

sentimentos e para o respeito pelo desenvolvimento daqueles que estão vivendo

o processo de escolarização. “Cada vez mais a história é entendida como obra de

muitas mãos” (Patto, 1999).

Torna-se imprescindível pontuar nesse momento que, na última

década do século XX, a inclusão torna-se objeto de discussão em todos os

espaços sociais de todo o mundo.

Embora esse movimento esteja predominantemente relacionado aos

indivíduos portadores de deficiências, é um equívoco supor que a proposta refere-

se apenas a esses sujeitos, posto que a inclusão educacional implica no

reconhecimento e atendimento às diferenças de qualquer aluno que, seja por

causas endógenas ou exógenas, temporárias ou permanentes, apresenta

dificuldades de aprendizagem.

A inclusão propõe-se como produto de uma educação plural e

democrática. Pode provoca uma crise escolar, repercutindo na identidade dos

professores e fazendo com que seja ressignificada a identidade do aluno.

“Extrapola o domínio técnico-teórico para se inscrever no campo ético e político,

colocando-nos em profunda indagação sobre nossas práticas, diante da fronteira

tênue a que nos remete entre o acolhimento e o abandono...” (Pan, 2005). Este

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aluno torna-se outro sujeito, que deixa de ter uma identidade fixada em padrões,

modelos ideais, permanentes, essenciais, imutáveis...

Chega-se então à Educação Especial que se norteia por um critério

básico: a definição de um grupo de indivíduos que, por razões diversas, não

correspondem à expectativa de normalidade ditada pelos padrões sociais

vigentes. Ao longo da história, caracteriza-se como uma área da educação

incumbida de apresentar respostas educativas a alguns alunos que, a priori, não

apresentariam possibilidades de aprendizagem no coletivo das classes comuns.

Conforme as Diretrizes Curriculares da Educação Especial para a

construção de currículos inclusivos (2006), o Paraná vem priorizando a prática de

uma inclusão educacional responsável, por entender que este processo não

pode ser dissociado dos demais aspectos básicos de responsabilidade de todos

os outros segmentos sociais, que inter-relacionados fortalecem os sentimentos

éticos e de cidadania da população paranaense.

Vale lembrar Luckesi (1986), que acrescenta ser a escola e

processo de escolarização são elementos possibilitadores aos indivíduos, do

instrumental necessário para se chegar à compreensão, discernimento, ética,

criticidade e ação.

As diretrizes para a avaliação escolar têm respaldo na Lei de

Diretrizes e Bases Nº 9394/96, e na Deliberação Nº 07/99 – CEE, Conselho

Estadual de Educação do Paraná e Indicação Nº 001/99 das Câmaras de Ensino

Fundamental e Médio. São referenciadas a avaliação, de uma forma geral,

recuperação de estudos e promoção de alunos em todo Sistema Estadual de

Ensino do Paraná.

A avaliação escolar, mesmo sendo alvo de inúmeras reflexões, ao

contrário de ser uma aliada do processo ensino-aprendizagem, ainda hoje, vem

emperrando-lhe, uma vez que continua se constituindo, na maioria das vezes, em

classificação, rotulação e discriminação dos alunos. E o uso da avaliação apenas

como instrumento para classificar os alunos, aprová-los ou reprová-los, revela o

lado cruel da escola: a exclusão.

A Educação Especial recebeu da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional – LDB 9394/96, a categoria de modalidade de ensino. Como

tal deve ser entendida como aquela que divide, partilha, os mesmos pressupostos

teóricos e metodológicos presentes nas diferentes disciplinas e demais níveis e

modalidades de ensino.

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A avaliação escolar, mesmo sendo alvo de inúmeras reflexões, ao

contrário de ser uma aliada do processo ensino-aprendizagem, ainda hoje, vem

emperrando-lhe, uma vez que continua se constituindo, na maioria das vezes, em

classificação, rotulação e discriminação dos alunos. E o uso da avaliação apenas

como instrumento para classificar os alunos, aprová-los ou reprová-los, revela o

lado cruel da escola: a exclusão.

A avaliação dos alunos com necessidades especiais configura-se

como um assunto amplamente debatido entre todos os profissionais da

Educação, de foro pedagógico com vistas ao estabelecimento de políticas

públicas, objetivando o movimento inclusivo.

Diante destes aspectos elencados acerca do tema e que são a

expressão legal dos procedimentos adotados pelo DEEIN/SEED, são inúmeros os

questionamentos que surgem. Considera-se de fundamental importância a

presente temática, visando a uma maior contextualização no atual movimento

inclusivo.

A presente pesquisa teve por objetivo analisar o processo e as

principais dificuldades encontradas pelas equipes pedagógicas das escolas, sobre

o encaminhamento dos alunos para inserção nas Salas de Recursos 5ª. a 8ª.

Séries – Deficiência Mental/Intelectual e Transtornos Funcionais do

Desenvolvimento, através da Avaliação no Contexto Escolar, proposta pelo

DEEIN - Departamento de Educação Especial e Inclusão Educacional, da

Secretaria de Estado da Educação do Paraná.

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MÉTODO

Participantes:

Participaram inicialmente da pesquisa 37 (trinta e sete) professores

da Rede Pública Estadual, atuantes nas diversas áreas, independentemente do

município e estabelecimento de ensino de lotação, através de encontros virtuais

pela Plataforma MOODLE.

Também fizeram parte desta pesquisa, 5 (cinco) membros da Equipe

Pedagógica de um Colégio Estadual , do município de Curitiba, em um Grupo de

Estudos presencial, com a duração de 64 horas.

Procedimentos e instrumentos:

Para a realização dessa pesquisa, elegeu-se o grupo de estudos

como principal instrumento de trabalho. Foram realizados dois grupos: um virtual

e outro presencial.

O GTR - Grupo de Trabalho em Rede, de forma virtual teve início em

setembro de 2007 com término em Junho de 2008. Este grupo de trabalho foi

concluído com 15 participantes. Os demais deixaram de participar, durante o

período de realização, por motivos de ordem particular.

O Grupo de Estudos presencial foi realizado durante o período de 14

de março de 2008 a 06 de junho de 2008, em um Colégio Estadual.

Os instrumentos utilizados foram as leituras indicadas, análise do

Plano de Trabalho da pesquisadora, elaborado para este fim, e ainda o

levantamento das dificuldades acerca da Avaliação no Contexto Escolar, através

de questionários.

Esta pesquisa inseriu-se em uma perspectiva metodológica de

valorização da relação pedagógica, buscando a colaboração entre os sujeitos

participantes, pois se entende que o ato de pesquisar refaz o relacionamento

adequado e ético entre os mesmos, tornando-os sujeitos que buscam a

emancipação. Para Demo (2000, p. 61), “a pesquisa é parte do processo de

formação da consciência crítica, que sempre começa pela capacidade de

questionar. Reaparece na formação da competência, como expediente central da

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qualidade formal e política. Reluz sempre no processo de sua constante

reconstrução e incorpora o movimento de conquista permanente”.

Análise dos dados:

Os dados levantados nos GTR e Grupos de Estudos foram

comparados para o levantamento de categorias de análise. Estas categorias

foram apresentadas em respostas dos participantes e analisadas com o apoio do

referencial teórico elencado.

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RESULTADOS

O levantamento dos dados mostrou as dificuldades encontradas

pelas equipes pedagógicas das escolas, quanto à Avaliação no Contexto Escolar,

para o encaminhamento de alunos nas Salas de Recursos 5ª. a 8ª. Séries –

Deficiência Mental/Intelectual e Transtornos Funcionais do Desenvolvimento.

Entende-se que a avaliação é um processo contínuo e qualitativo,

evidenciando o seu aspecto significativo e funcional nos níveis e modalidades do

sistema educacional. Indica uma fonte inesgotável de questionamentos ao longo

do tempo e deve acompanhar a evolução de todo o sistema educacional. O

levantamento dos dados indicou vários aspectos relevantes e que demonstram a

necessidade da continuidade de pesquisas na área de Educação Especial,

especificamente no que tange à Avaliação Educacional no Contexto, para

inserção de alunos em Salas de Recursos 5ª. a 8ª. Séries – Deficiência

Mental/Intelectual e Transtornos Funcionais do Desenvolvimento.

As categorias levantadas apresentam-se na tabele que se segue.

Tabela 1: Principais dificuldades encontradas pelas equipes pedagógicas das escolas, sobre o encaminhamento dos alunos para inserção nas Salas de Recursos 5ª. a 8ª. Séries – Deficiência Mental/Intelectual e Transtornos Funcionais do Desenvolvimento, através da Avaliação no Contexto Escolar.

Categoria No. de participantesInclusão e Diversidade 42O educador diante de sua prática de

avaliação

42

Quem é o aluno 35Formas de ingresso 28Importância da participação da família 20

A primeira categoria refere-se à Inclusão e Diversidade. Todos os

professores demonstraram a dificuldade de entendimentos sobre Inclusão e

Diversidade. Através dos relatos postados e discutidos percebe-se que a grande

maioria dos professores sente-se frágil, insegura e que expressa dificuldades em

lidar com estas questões, demonstrando medo frente ao desconhecido e às vezes

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apresentando profunda resistência à necessidade de mudanças. Ainda,

manifestam que, há mais de uma década, o Estado do Paraná encontra-se às

voltas com discussões relativas à Educação Inclusiva; muitas são as dúvidas,

questionamentos, incertezas, resistências, posicionamentos favoráveis e

desfavoráveis da população pesquisada. Citam: para quem se destina a inclusão,

como reconhecer os alunos que seriam de inclusão, como atender um aluno

deficiente junto aos demais na sala de aula, como o professor sem conhecimento

na área terá condições de atendê-los, entre outros.

A categoria o educador diante de sua prática de avaliação,

apresentou congruência entre todos os participantes, visto que foram unânimes

em afirmar que a avaliação é um tema abrangente, extremamente importante

para a continuidade da capacitação dos professores e demais profissionais

ligados a educação. Declaram ainda que, a avaliação permite ao educador

direcionar e/ou redirecionar seu trabalho, elaborar seu planejamento, fazer

intervenções, propor adaptações ou flexibilizações curriculares, considerando o

que o aluno é capaz de desenvolver. O processo de avaliação é uma prática

contínua e exige do professor um olhar mais amplo e criterioso sobre as

circunstâncias que pode estar interferindo no aprendizado do aluno. Aparece, no

rol das discussões, a questão do tratamento hegemônico como prática em sala de

aula: torna-se evidente, quando há afirmações de que alguns alunos chegam

avaliados para a Sala de Recursos “mas muitas vezes por falta de planejamentos

e intervenções adequadas no Ensino Comum, pois ainda na área educacional tem

se uma visão tradicional de que todos aprendem da mesma forma”. Ainda, 35

professores declararam que há necessidade da continuidade de discussões

acerca desse tema, visto que nem todos estão familiarizados com os significados

da avaliação, principalmente no que se refere à inclusão. Afirmam que se sentem

perdidos, não sabem como avaliar o aluno com necessidades educacionais

especiais. Consideram necessário um estudo aprofundando envolvendo autores,

teorias de avaliação, e ainda sobre as deficiências, visto que declaram só tendo

este conhecimento prévio, sentir-se-ão mais seguros e capacitados para uma

avaliação mais acertada.

Na terceira categoria, quem é o aluno, com uma participação

total de 35 professores, uma vez que 7 deixaram de responder, 11 profissionais

afirmaram ser aquele que apresenta necessidades próprias, diferente dos demais

alunos, no domínio das aprendizagens curriculares correspondentes à sua idade,

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requerendo recursos pedagógicos e metodologias educacionais específicas. Para

essa categoria 14 professores expressaram que alunos de sala de recursos de 5°

a 8° série, são aqueles que não acompanham as matérias em sala, ou algumas

matérias em ritmo de aprendizagem lenta dos demais alunos, ou então aqueles

com comportamentos inadequados apresentando hiperatividade ou outro distúrbio

emocional, deficiência mental leve, distúrbio de aprendizagem ou com alguma

dificuldade bem acentuada que os impeçam de acompanhar o processo ensino-

aprendizagem com sucesso. Chegam neste serviço de apoio, já pelo

acompanhamento insatisfatório no decorrer do dia-a-dia em sala de aula. Ainda,

10 professores responderam que o aluno da sala de recurso é aquele que

apresenta baixa auto-estima, falta de concentração e memorização, possuindo

um histórico de repetência e que necessita de oportunidades por apresentar

formas diferentes de aprender.

A quarta categoria formas de ingresso associa-se ao

conhecimento que os professores têm quanto à inserção do aluno na Sala de

Recursos. Os 28 participantes, nessa etapa, foram unânimes em afirmar que o

aluno poderá vir egresso de um atendimento de Sala de Recursos – Séries

Iniciais, Classe Especial de Deficiência Mental acompanhado da cópia do relatório

Avaliação no Contexto Escolar ou Psicoeducacional, e do último relatório

semestral do serviço de apoio freqüentado. Neste caso, obviamente já foi

submetido à avaliação para ingresso em programas e/ou serviços da Educação

Especial, sendo que apenas está se dando continuidade ao processo. Para

alunos não-egressos, isto é, aqueles que freqüentam o ensino comum, mas que

suscitam atendimento especializado, os participantes declaram ser sabedores de

que há procedimentos específicos a serem cumpridos. É a Avaliação no Contexto

Escolar, que definirá o encaminhamento ou não do aluno para a Educação

Especial.

A quinta categoria importância da participação da família revela

através dos 20 participantes desta etapa, que há unanimidade em apontar que a

atuação e o envolvimento da família são de suma importância nesse processo,

porém é difícil, pois a escola atende uma comunidade bastante carente. Desde a

abertura desse serviço de apoio, os professores procuram envolver a escola e

família para juntos vencer os obstáculos apresentados. Os avanços vêm

acontecendo de forma lenta, contudo significativos. Há entendimento de que

deve haver interação e discussão com a equipe pedagógica e a família,

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conhecendo com isso, as potencialidades do aluno, ritmo e estilo de

aprendizagem. Contudo, por inúmeros impedimentos, essa prática torna-se muito

rara.

Tendo em vista tais resultados, torna-se relevante uma revisão

do estudo teórico-documental dos fundamentos contidos na legislação vigente.

Com esta revisão, obtém-se um referencial da política pedagógica e

administrativa que vem sendo adotada no Estado do Paraná, por intermédio do

DEEIN/SEED. Esta demonstra respaldo nos fundamentos políticos-filosóficos,

expressos no documento Diretrizes Curriculares da Educação Especial para a

Construção de Currículos Inclusivos (2006), bem como nos principais dispositivos

legais Nacionais e Internacionais, a fim de assegurar o atendimento educacional

especializado, com oferta preferencial na rede regular de ensino, de modo a

promover a igualdade de oportunidades e a valorização da diversidade no

processo educativo.

A Deliberação N.º 02/03 - CEE estabelece as normas para a

Educação Especial que é a modalidade da Educação Básica para alunos com

necessidades educacionais especiais, no Sistema de Ensino do Estado do

Paraná. Observam-se no Capítulo V, disposições sobre a avaliação para a

identificação das necessidades educacionais especiais, esclarecendo que o

estabelecimento de ensino deve realizar avaliação no contexto escolar, para a

identificação das necessidades educacionais do aluno, do professor e da escola e

para a tomada de decisões quanto aos recursos e apoios necessários à

aprendizagem.

Frente às possibilidades apontadas principalmente nos textos da

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e das Diretrizes Educacionais

para a Educação Especial na Educação Básica, ainda em vigor, o Departamento

de Educação Especial em 2004, em construção coletiva com os NREs – Núcleos

regionais de Educação, organizou a Instrução Nº 05/04 para orientar o serviço de

apoio especializado - Sala de Recursos - Deficiência Mental e Distúrbios de

Aprendizagem – 5ª a 8ª séries, definindo o alunado, os procedimentos referentes

à avaliação no contexto escolar para identificação das necessidades educacionais

especiais, a organização, recursos (humanos e materiais) e aspectos

pedagógicos para atendimento especializado ao aluno.

Essa Instrução 05/04 foi substituída pela Instrução 13/08, como

resposta às necessidades que se fizeram presentes, pela evolução intrínseca a

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todos os atendimentos educacionais especializados. Contempla aspectos

relativos à: natureza, alunado, ingresso, avaliação organização, recursos

materiais, relatórios de acompanhamento, avaliação dos resultados,

desligamento, transferência, autorização, renovação e cessação desse serviço.

Importante lembrar que as “Diretrizes da Educação Especial para

a Construção de Currículos Inclusivos” (SEED/SUED/DEE 2006) recomendam

que é necessário prever: flexibilizações curriculares que visem o atendimento dos

objetivos propostos no Projeto Político Pedagógico; a necessária busca de

metodologias adequadas de ensino, além de recursos didáticos diferenciados,

bem como Avaliação no Contexto Escolar, durante o processo de ensino e

aprendizagem, para identificação das necessidades educacionais e a eventual

indicação dos apoios pedagógicos, especializado ou não, adequado a cada

situação.

Nesta perspectiva, o DEEIN orienta que, no decorrer do processo

educativo, a avaliação de qualquer aluno seja primeiramente realizada pelo(s)

seu(s) professor (es) de sala. Como auxílio, contará (ão) com a equipe

pedagógica da escola e/ou com o apoio do professor especializado da escola.

Eventualmente, poderá contar com os profissionais das equipes de ensino

(comum e/ou especial) das Secretarias Municipais de Educação, dos Centros

Regionais de Avaliação, dos Núcleos Regionais de Educação, assim como dos

Departamentos que compõem a SEED - Secretaria de Estado da Educação.

De acordo com a Instrução 013/08, na avaliação no contexto

escolar enfatizam-se as áreas do desenvolvimento (cognitivo, motor, psicomotor,

afetivo-emocional e social), habilidades adaptativas (comunicação, cuidados

pessoais, habilidades sociais, desempenho na família e comunidade,

independência na locomoção, saúde e segurança, desempenho escolar, lazer e

trabalho) e áreas do conhecimento acadêmico que constituem subsídios para o

processo de ensino-aprendizagem. Quando necessário, deverá se

complementada por profissionais externos (área neurológica, psicológica,

fonoaudiológica, e outras que se fizerem necessárias).

Esta prática da Avaliação no Contexto Escolar, intrínseca à Política

de Educação Inclusiva, tem como principal objetivo identificar as barreiras que

estão impedindo ou dificultando o processo educativo em suas múltiplas

dimensões, sendo os resultados indicadores para determinar os tipos e

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intensidade dos apoios às necessidades educacionais individuais que os alunos

requerem para aprender.

Assim, a avaliação educacional no contexto escolar é mais um dos

recursos utilizados para orientar o aluno, o professor especializado, os

professores do ensino regular, a equipe pedagógica e também as famílias, quanto

ao tipo e intensidade de apoio que o aluno necessita para aprender, para

perceber seus avanços e suas dificuldades; ao professor, para que reveja os

procedimentos utilizados em sala de aula, assim como o planejamento dos apoios

intervenientes para o sucesso do educando.

A partir desta compreensão, a política de “Avaliação no Contexto

Escolar” indica que essa avaliação é dinâmica, interativa, preventiva e

interventiva, tendo como função permanente a análise crítica e o

acompanhamento do processo ensino-aprendizagem. Ela não será mais

classificatória, unilateral, excludente, isto é, centrada exclusivamente no

desempenho acadêmico do aluno.

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DISCUSSÃO

Inclusão e Diversidade é tema precursor ou antecessor de toda

prática educativa, da concepção de aprendizagem e, consequentemente, das

práticas avaliativas. Uma das formas para que o processo de inclusão seja

efetivado, é a necessidade de conhecimento que, principalmente os profissionais

da Educação podem obter a respeito desse tema, tão amplamente difundido, sob

todas as formas de comunicação. Porém, esse fato é preocupante, visto que não

há familiaridade com o tema Inclusão e Diversidade, retratado pelos participantes

desta pesquisa. Toda a disseminação sobre esse assunto revela não ser

suficiente para as necessárias reflexões no âmbito escolar.

Considera-se a necessidade de mudanças no pensar e no fazer

de todos os envolvidos no processo educativo, momentos esses de reflexão sobre

a própria prática e consequentemente, a avaliação de alunos para

encaminhamento às Salas de Recursos. De acordo com Luckesi (1996), a

avaliação consiste num processo contínuo, embasado em observações

cotidianas, e através dela, direciona-se o trabalho docente e respeita-se o aluno

como um todo, com suas necessidades e capacidades.

Torna-se relevante ressaltar, neste momento, um

posicionamento retratado por alguns Professores quanto ao tratamento

hegemônico em sala de aula onde se identificaram relatos sobre atuação

expressiva da equipe pedagógica da escola, disponibilizando ao professor

variações metodológicas. No entanto, muitos deles não as acatam, mantendo

seus métodos tradicionais, muitas vezes reforçando a desigualdade, a

competitividade.

Essa questão relaciona-se diretamente com a necessidade da

continuidade da capacitação de professores, a formação continuada. Através

desse programa, as Salas de Recursos 5ª. a 8ª. Séries – Deficiência

Mental/Intelectual e Transtornos Funcionais do Desenvolvimento poder-se-á

integrar as várias contribuições das diversas áreas de conhecimento presentes

nas escolas por meio dos profissionais, bem como a possibilidade de interfaces

com os demais segmentos organizados da sociedade e possíveis parcerias.

A avaliação, inerente e indissociável da ação educativa é

considerada como mais uma oportunidade que favorece e amplia as

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possibilidades de aprendizagens significativas do educando. Os resultados da

avaliação refletem-se no desenvolvimento e aprendizagem do aluno e no

redirecionamento da prática educativa, conforme afirma Patto (1999). Portanto, a

avaliação configura-se como elemento dinâmico e transformador no processo

ensino-aprendizagem.

De acordo com Luckesi (1996), deve-se avaliar não só o aluno

com suas características, mas procurar entender seu processo individual de

aprendizagem, o contexto em que este se desenvolve, para que se alcance maior

eficácia na ação educativa. No entanto, percebeu-se que entre os professores

pesquisados, há concordância em declarar ser necessário rever as concepções

sobre o tema, bem como as atribuições de todos os profissionais envolvidos no

processo.

Ainda, para Luckesi (1996), a avaliação escolar tem como

principal objetivo conhecer o ponto de partida e o ponto de chegada do aluno, no

processo do conhecimento. Não se concebe mais a avaliação como unilateral,

centrada exclusivamente no desempenho do aluno, aferindo, selecionando, etc.

Necessita de mudanças no pensar e no fazer dentro de uma concepção interativa

e contextualizada no processo de ensino, do desenvolvimento e aprendizagem do

educando. Esses pressupostos estão reportados na legislação vigente, contudo

não houve nenhuma referencia aos documentos legais, pelos professores

pesquisados.

Verificou-se com esse trabalho, que o professor concebe a

avaliação para encaminhamento de alunos para as Salas de Recursos, como uma

prática devidamente fundamentada e necessária para o desempenho do seu

trabalho a fim de garantir o desenvolvimento do aluno, constituindo, porém, tema

de muitas dúvidas e incertezas.

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CONCLUSÂO OU CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa indicou vários aspectos relevantes e que

demonstram a necessidade da continuidade de pesquisas na área de Educação

Especial, especificamente no que tange à Avaliação Educacional no Contexto,

para inserção de alunos em Salas de Recursos 5ª. a 8ª. Séries – Deficiência

Mental/Intelectual e Transtornos Funcionais do Desenvolvimento.

As práticas avaliativas atuais, na área da Educação Especial,

especificamente para esse serviço de apoio, necessitam de muitos estudos e

discussões, diante das dificuldades abordadas nas categorias, na apresentação

dos resultados, bem como da complexidade da mesma. Há assim a possibilidade

de, gradativamente, com esse processo reflexivo, de se reconstruir as novas

ações e espaços de atuação. É um percurso desafiador e que precisa de ousadia

e determinação dos envolvidos, ou os discursos continuarão bem construídos e

idealizados, e as práticas contraditórias, gerando acomodação e/ou frustração.

Mostrou-se necessária a efetividade do processo de inclusão

educacional de forma a garantir os apoios e serviços especializados, bem como

sua funcionalidade, para que todos aprendam, resguardando-se suas

singularidades.

Esse é um grande desafio para a escola, pois ela necessita de

profunda revisão dos paradigmas, até então, voltados mais especificamente para

os alunos evidenciando suas dificuldades, e agora, volta-se para a educação,

buscando ações e recursos que deverão ser disponibilizados e efetivados pela

escola, atendendo as diferentes características e necessidades dos alunos,

respeitando a diversidade e buscando formas para promoção da inclusão social.

Oportuno destacar que a maioria dos participantes, comunga

com o posicionamento de Pan (2004, pág. 139) quando esta afirma que o

atendimento de pessoas com necessidades educacionais especiais na rede

regular de ensino, exige dos seus profissionais conhecimentos em diferentes

áreas, seja a psicologia, medicina, pedagogia, arquitetura, entre outros, para

gerar um saber interdisciplinar; e mais, exige a consciência da necessidade de

luta por uma sociedade mais sensível, que deseje conviver e aprender com a

diversidade.

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