AVALIAÇÃO POR COMPETÊNCIAS E HABILIDADES NO ENSINO DE MATEMÁTICA: PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES

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    COMUNICAÇÃO BREVE: AVALIAÇÃO POR COMPETÊNCIAS EHABILIDADES NO ENSINO DE MATEMÁTICA: PRIMEIRAS

    APROXIMAÇÕES. 

    Learcino dos Santos Luiz

    [email protected]  Universidade do Estado de Santa Catarina –  Brasil

    Tema: Formación y Actualización del ProfesoradoModalidad: CB Nivel educativo: Formação e atualização docentePalabras clave: Avaliação, competencia, ensino de Matemática

    ResumoEste trabalho traz uma discussão sobre os conceitos relacionados à avaliação da aprendizagemno ensino básico sob o enfoque dos saberes docentes e formação profissional. Tratando a prática avaliativa tanto como um saber curricular como experiencial conforme classificação de

    Maurice Tardiff (2007), iremos em breve explanação identificar os principais tipos de avaliaçãomais comuns em nossas escolas, suas características e implicações para a aprendizagem doaluno. Em seguida iremos apresentar os conceitos de habilidades e competências descritos porPerrenoud (1999, 2000) e como podemos planejar o trabalho pedagógico de uma formacompleta, incluindo aí a avaliação, baseado nas descrições de habilidades e competências aserem desenvolvidas no ensino de Matemática no ensino básico. Como fechamento do trabalhoapresentaremos um modelo de fichas avaliativas, baseadas em competências e habilidadesextraídas de documentos balizadores (matrizes de referência) da Prova Brasil (2008), queauxiliam na avaliação formativa e processual da aprendizagem de conceitos matemáticos noensino básico.

    Introdução

    De acordo com Tardiff (2007) os saberes docentes consistem em conhecimentos, o saber fazer e

    as competências e habilidades que os professores mobilizam na sua rotina diária de trabalho nas

    salas de aula e nas escolas. Estes saberes são classificados por Tardiff (opcit, pg 33) como:

    disciplinares, curriculares, profissionais e experienciais. Neste trabalho iremos estudar o tipo de

    Saber docente Curricular que é definido como (Tardiff, 2007, pag 38): “Saberes que

    correspondem aos discursos e métodos a partir dos quais a instituição escolar categoriza e

    apresenta os saberes sociais por ela definidos e selecionados como modelos da cultura erudita

    e de formação”. Este tipo de saber docente mostra-se no cotidiano profissional do professor soba forma de programas escolares (métodos, conteúdos curriculares, objetivos de ensino, etc) que

    os professores devem aprender e aplicar.

    A avaliação da aprendizagem do aluno que deve constar em todo planejamento de ensino e pode

    ser considerada como um saber docente Curricular, possui diferentes significados semânticos e

    aplicações de formas diversas no processo de ensino e aprendizagem escolar. Para Alvarez

    Mendez (2002) a avaliação pode ser entendida como uma simples ferramenta de diagnóstico

     para classificar, examinar e aplicar testes, ou podemos entender a prática avaliativa como

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]

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    “atividade crítica de aprendizagem, porque se assume que a avaliação é aprendizagem no

     sentido de que por meio dela adquirimos conhecimento” (Alvarez Mendez, 1993). 

    Sacristán (1998, pg. 298) contribui com esta ideia apontando que a escola atual entende a

    avaliação como uma atividade que, além de servir de forma de controle social, também possuium nível de significação muito superficial, prejudicando seu uso como atividade crítica:

     Na linguagem cotidiana se atribui ao verbo avaliar o significado deestimar, calcular, taxar, valorizar, apreciar ou apontar o valor, atribuir

    o valor a alguma coisa. A operação de avaliar algo ou alguém consisteem estimar seu valor não-material. Na prática cotidiana dominante, o

     significado de avaliar é menos polissêmico: consiste em classificar osalunos/as  –   e aplicar provas para obter informação a partir das quais

     se atribuirão essas classificações.

    Sacristán (1998, pg 298) nos trás uma definição de avaliação que podemos afirmar ser

    condizente com aquilo que desejamos apresentar neste trabalho como sendo “avaliação por

    competências”: 

    “ Avaliar se refere a qualquer processo por meio do qual alguma ouvárias características de um aluno/a, de um grupo de estudantes, de umambiente educativo, de objetos educativos, de materiais, professores/as,

     programas, etc., recebem a atenção de quem avalia, analisam-se evalorizam-se suas características e condições em função de algunscritérios ou pontos de referência para emitir um julgamento que seja

    relevante para a educação”. 

    Entendemos que uma das funções da escola seja o de propiciar aos alunos o acesso a todo o

    saber produzido e acumulado pela humanidade. Como bem afirmou Sacristán (1998, pg, 14) “a

     função da escola, concebida como instituição especificamente configurada para desenvolver o

     processo de socialização das novas gerações, aparece puramente conservadora: garantir a

    reprodução social e cultural como requisito para a sobrevivência da própria sociedade” .

    Porém, esta não deve ser a única função das unidades de educação básica. Como afirma Tony

    Wagner (2010, pg. xxi-introd.) já no título de seu livro “The global achievement gap: Why evenour best  schools don’t teach the new survival skills our children need  –   and what we can do

    about it 1”, a grande maioria das escolas deixaram de se preocupar com o desenvolvimento de

    competências necessárias para a sociedade atual, dando maior ênfase ao acumulo de

    informações e conhecimentos muitas vezes inócuos. Wagner afirma na introdução de seu livro

    que as escolas americanas (e não é diferente em nosso país) falham em possibilitar o

    desenvolvimento de habilidades e competências essenciais em uma sociedade que passa por

    1 As disparidades de resultados globais: Por que até mesmo as nossos melhores escolas não ensinam as novashabilidades de sobrevivência que nossos filhos precisam –  e o que podemos fazer sobre isso. (tradução nossa)

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    transformações rápidas nas áreas tecnológica, econômica e sociais e que esta falha pode ser

    trágica para o desenvolvimento de uma sociedade:

    “In today's highly competitive global knowledge economy all studentsneed new skills for colege, carrers and citizenship. The faluire to giveall students these new skills leaves today's youth and our country at an

    alarming competitive disadvantage”.2 

    A causa para esta falha de nossas escolas em não possibilitar aos nossos alunos o

    desenvolvimento das competências necessárias para o cidadão do século XXI é destacada no

    texto de Wagner logo em seguida: “Schools haven’t changed; the Word has”3.

     No livro “Education 3.0” o Professor da Universidade de Nova York, James Lengel, corrobora

    com esta ideia quando afirma:

    “The schools we have are not the schools we need. Not i f we wantcompete successfully in the global economy, not if we want all ourcitizens to enjoy the blessings of understanding, not if we want to take full advantage of the information technologies we have recently

    invented. We need schools that match the needs of tomorrow, but aquick survey shows that we are very few of them

    4”.

    Deste modo entendemos ser pertinente o estudo e a discussão sobre novas práticas avaliativas

    que contribuam para a formação do aluno e possibilitem ao professor um melhor diagnóstico da

    aprendizagem. Para Alvarez Mendez (2002) para que a avaliação possa cumprir seu papel deatividade crítica da aprendizagem ela deve apresentar algumas características básicas das quais

    destacamos duas que consideramos essenciais para nossa discussão:

      A avaliação deve fazer parte de um continuum e, como tal, deve ser processual,

    contínua, integrada no currículo e, com ele, na aprendizagem. Não são tarefas

    discretas, descontinuas, isoladas, insignificantes em seu isolamento; tampouco é um

    apêndice do ensino.

     

    Será sempre e em qualquer hipótese avaliação formativa, motivadora e orientadora. Aintenção sancionadora fica longe desta avaliação.

    2 Na economia do conhecimento global altamente competitivo de hoje todos os alunos precisam de novascompetências para a escola, carreira e cidadania. A falha em dar a todos os alunos estas novas competências deixa juventude de hoje e nosso país em desvantagem competitiva alarmante. (tradução nossa).

    3 Escolas não tem mudado; o mundo sim. (tradução nossa).

    4 As escolas que temos não são as escolas que precisamos. Não se queremos competir com sucesso na economia

    global, não se queremos que todos os nossos cidadãos possam desfrutar as bênçãos da inteligência, não se queremostirar o máximo de proveito das tecnologias de informação que recentemente inventamos. Precisamos de escolas queatendam às necessidades do amanhã, mas uma rápida pesquisa mostra que há muito poucas delas. (tradução nossa).

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    Temos aqui então duas facetas da avaliação que consideramos indispensável para o processo

    avaliativo: o caráter processual e o caráter formativo. No artigo V iten a) da LDB (lei de

    diretrizes e bases da educação, 1996) já foi previsto que a avaliação da aprendizagem do aluno

    deveria ser: “... contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos

    qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais

     provas finais.” Podemos perceber aqui que o termo “continua” aponta para a necessidade de

    uma avaliação que permeie todo o processo de ensino e aprendizagem de um determinado

    conteúdo, ou seja, que seja processual, realizada ao longo do processo. A avaliação processual é

    aquela que não é desvinculada do processo de ensino e aprendizagem e é já planejada para ser

    efetuada durante as atividades de ensino. Para muitos professores a avaliação é um mero

    exercício de medida da aprendizagem e deve ocorrer em momentos distintos de outras

    atividades colocando esta em espaços de tempos isolados em seu planejamento. A avaliação

     processual leva em conta toda a produção do aprendiz durante um determinado período

     planejado pelo professor, inclusive (porém não exclusivamente) o momento de uma prova

    escrita.

    Já para que uma atividade avaliativa seja formativa ela deve dar a oportunidade para que o aluno

    aprenda durante a avaliação, havendo a possibilidade de reflexão sobre seus erros e a correção

    da aprendizagem. Provas e exames isolados somente medem e classificam os alunos em uma

    escala de notas. Segundo Sacristán (1998, pg. 328), A avaliação formativa é aquela que tem

    como propósito favorecer a melhora do processo de aprendizagem do aluno, e conclui:

    “ A avaliação com fins formativos serve à tomada de consciência que

    ajuda a refletir sobre um processo, insere-se no ciclo reflexivo dainvestigação na ação: planejamento de uma atividade ou plano,

    realização, conscientização do ocorrido, intervenção posterior. Pretende ajudar a responder à pergunta de como estão aprendendo e

     progredindo, pois só assim poderão se introduzir correções,acrescentar ações alternativas e reforçar certos aspectos”. 

    Uma forma de tornar as atividades avaliativas processuais e formativas é incluir no

     planejamento da disciplina as competências e habilidades que se desejam desenvolver nos

    alunos. Notamos aqui que quando falamos em habilidades e competências a serem

    desenvolvidas e não ensino e aprendizagem de conteúdos e conceitos estamos dando um passo

    além das fronteiras do ensino tradicional conteudista. Perrenoud (1999, pg.7) levanta esta

    questão na introdução do sua obra “Construir competências desde a escola”: “ Afinal, vai-se à

    escola para adquirir conhecimentos, ou para desenvolver competências?”  Essa pergunta aponta

     para um mal entendido e um dilema vivenciado pela comunidade escolar. Na verdade quando se

     pauta o trabalho pedagógico no desenvolvimento de competências não se está deixando de foraos conhecimentos, pois conforme afirma Perrenoud (1999):

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    ...” superficial, outras vezes aprofundado, oriundo da experiência

     pessoal, do senso comum, “quase a totalidade das ações humanas exige

    algum tipo de conhecimento, às vezes da cultura partilhada em um

    círculo de especialistas ou da pesquisa tecnológica ou científica”. Deste

    modo, continua o autor, “quanto mais complexas, abstratas mediatizadas

     por tecnologias, apoiadas em modelos sistêmicos da realidade forem

    consideradas as ações, mais conhecimentos aprofundados, avançados,

    organizados e confiáveis elas exigem”.(pg.7)

    Podemos concluir então que a ação humana de desenvolvimento de competências está atrelada à

    construção de conhecimentos, porém a recíproca não é verdadeira: podem-se construir

    conhecimentos na escola deixando-se de fora o desenvolvimento de diversas competências

    essências para a formação do cidadão contemporâneo. Por exemplo, um aluno pode aprender a

    tabuada e a operacionalização do algoritmo da multiplicação, porém ser incapaz de interpretar,

    resolver e comunicar o resultado de um problema prático que envolva a ideia de multiplicação.

    Já, quando este aluno desenvolve as competências de interpretar, resolver e comunicar o

    resultado de um problema prático que envolva a ideia de multiplicação, o conhecimento

    matemático da tabuada e operacionalização do algoritmo da multiplicação estarão inerentes a

    esta ação.

    Competências e habilidades

    Para Perrenoud (1999, pg.7) Competência é “uma capacidade de agir eficazmente em um

    determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem se limitar-se a eles”.

    Segundo Luckesi (2011), competência significa “a capacidade de fazer alguma coisa de modo

    adequado, servindo-se, para tanto, de variadas habilidades”. Para este último autor habilidades

    e competências são maneiras de se realizar uma tarefa ou, mais precisamente, recursos

    cognitivos e procedimentais que implicam ação. Habilidades e competências se diferenciam

     pela abrangência, sendo a competência mais abrangente do que uma habilidade, e também pelarelação de dependência uma da outra: “ a posse de uma competência, qualidade complexa, exige

    a posse de um conjunto de habilidades simples” (Luckesi 1999, pg. 409). Por exemplo, o

    desenvolvimento da competência de um cozinheiro em fazer um prato saboroso (ação

    complexa) passa pelo desenvolvimento de habilidades (ações mais simples) como saber

    escolher bons produtos, combinar temperos com alimentos diversos, utilizar equipamentos

    adequados, entre outras. Da mesma forma a competência de resolução de problemas passa pelo

    desenvolvimento de habilidades mais específicas como: elaborar um ou vários procedimentos

    de resolução (como, por exemplo, realizar simulações, fazer tentativas, formular hipóteses),

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    comparar o resultado obtido com outras resoluções, pôr à prova os resultados, testar seus

    efeitos, comparar diferentes caminhos para obter a solução e comunicar seus resultados.

    Luckesi (2011, pg. 409) completa neste sentido:

    “Poderíamos perguntar, então, se competência e habilidade não tem a

    mesma definição. Na ótica da ação, sim, pois ambas têm a ver com ação. A

    distinção entre as duas têm sua base na complexidade da ação executada

    em uma e em outra dessas formas de agir. Nessa relação, as habilidades

    têm a ver com aprendizagens do desempenho em tarefas específicas,

    restritas, simples; as competências, por outro lado, são modos complexos

    de agir, que envolvem um conjunto de tarefas específicas. Uma competência

    exige uma cadeia de várias habilidades”. 

    A organização da atividade pedagógica por competências e habilidades no ensino de

    Matemática já foi relatado nos PCN’s (1997) lembrando que as reformas educacionais

    efetivadas mundialmente até esta época apresentaram pontos de convergência no

    “direcionamento do ensino fundamental para a aquisição de competências básicas necessárias

    ao cidadão e não apenas voltadas para a preparação de estudos posteriores” (pg. 21). Esta

    mesma ideia também é apresentada implicitamente na LDB (lei de diretrizes e bases da

    educação, 1996) que no seu artigo 1º e &2º nos diz que “a educação escolar deverá vincular-seao mundo do trabalho e à prática social ” e também no artigo 2º que nos aponta para o fato de

    que a educação escolar “...tem por finalidade o pleno desenvolvimento do aluno, seu preparo

     para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Parece-me claro neste ponto

    que a finalidade da escola não é a de ensinar conteúdos, conceitos e ideias sem nenhuma

    aplicação para a vida fora da escola. Deste modo, as atividades pedagógicas escolares não

     podem perder o foco no desenvolvimento de competências que o exercício da cidadania e o

    mundo do trabalho exigem na sociedade do século XXI, que de acordo com Wagner (2010) são

    chamadas de competências para sobrevivência no novo mundo:

      Pensamento crítico e resolução de problemas;

      trabalho colaborativo em redes;

      criatividade, iniciativa e empreendedorismo;

      comunicação oral e escrita de forma efetiva;

      Uso de tecnologias da informação e comunicação, etc...

    Em nossa atividade profissional em mais de 15 anos de trabalho em escolas públicas e privadas,no nível básico e superior, nas modalidades presencial e a distância, temos percebido que as

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    competências acima relacionadas tem passado a largo das atividades pedagógicas desenvolvidas

    no meio escolar. Pouco se usa de tecnologias digitais (calculadoras, tablets, celulares, etc),

    resolução de problemas são na maioria das vezes vistos como repetição de exercícios padrões,

    há pouquíssima oportunidade para que o aluno crie algo na escola e o trabalho em grupo

    desenvolve-se de maneira pouco efetiva. Desta forma propomos que a metodologia de trabalho

    chamada avaliação por competências, onde a avaliação permeia todo o planejamento de ensino

    e aprendizagem e permita o efetivo desenvolvimento de competências essenciais para o

    exercício da cidadania e preparação para um mercado de trabalho cada vez mais exigente.

    Esta metodologia de trabalho coloca a avaliação como centro de todo processo educacional,

     possibilitando que o aluno seja avaliado de forma processual e que esta avaliação seja

    formativa. Para isso necessitamos inicialmente fazer um levantamento de quais competências e

    habilidades são exigidas pelos documentos oficiais em nosso País.

    Os PCN’s apontam para cada nível de ensino (chamados de ciclos de aprendizagem)

    competências gerais que o professor deve planejar para que seus alunos desenvolvem-nas:

    Competências para o primeiro Ciclo de

    aprendizagem

    Competências para o segundo Ciclo de

    aprendizagem

    Resolver situações-problema que envolvamcontagem e medida, significados das operações e

    seleção de procedimentos de cálculo

    Resolver situações-problema que envolvamcontagem, medidas, os significados das operações,

    utilizando estratégias pessoais de resolução eselecionando procedimentos de cálculo

    Ler e escrever números, utilizando conhecimentossobre a escrita posicional

    Ler, escrever números naturais e racionais, ordenarnúmeros naturais e racionais na forma decimal, pela interpretação do valor posicional de cada umadas ordens.

    Comparar e ordenar quantidades que expressemgrandezas familiares aos alunos

    Realizar cálculos, mentalmente e por escrito,envolvendo números naturais e racionais (apenasna representação decimal) e comprovar osresultados, por meio de estratégias de verificação.

    interpretar e expressar os resultados dacomparação e da ordenação

    Medir e fazer estimativas sobre medidas,utilizando unidades e instrumentos de medida maisusuais que melhor se ajustem à natureza da

    medição realizada.Medir, utilizando procedimentos pessoais,unidades de medida não-convencionais ouconvencionais (dependendo da familiaridade) einstrumentos disponíveis e conhecidos

    Interpretar e construir representações espaciais(croquis, itinerários, maquetes), utilizando-se deelementos de referência e estabelecendo relaçõesentre eles.

    Localizar a posição de uma pessoa ou um objetono espaço e identificar características nas formasdos objetos

    Reconhecer e descrever formas geométricastridimensionais e bidimensionais.

    Recolher dados sobre fatos e fenômenos docotidiano, utilizando procedimentos deorganização, e expressar o resultado utilizandotabelas e gráficos

    Tabela 1: adaptado dos Parâmetros Curiculares nacionais (1997)

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    Da mesma forma, avaliações nacionais como o ENEM, Prova Brasil e Provinha Brasil também

    trabalham a suas avaliações baseadas no que chamam de matrizes de competências. No “Guia

    de elaboração de itens da provinha Brasil” (INEP, 2012) podemos observar muito bem a relação

    entre as competências gerais e habilidades específicas a cada uma delas. Primeiramente, nestas

    avaliações os conteúdos de matemática, em todos os níveis, são divididos em quatro grandes

     blocos (ou eixos): Números e operações, Geometria, Grandezas e medidas e Tratamento da

    informação. Para cada um destes eixos então, são listadas as competências a serem avaliadas e

    as habilidades específicas também chamadas de descritores. A tabela a seguir mostra-nos em

    exemplo disso na provinha Brasil:

    1º Eixo Números e operações

    Competências Descritores/habilidades

    C1  –   Mobilizar ideias, conceitos

    e estruturas relacionadas à

    construção do significado dos

    números e suas representações

    D1.2 –  Associar a contagem de coleções de objetos à representaçãonumérica das suas respectivas quantidades.

    D1.2  –   Associar a denominação do número a sua respectivarepresentação simbólica.

    D1.3  –   Comparar ou ordenar quantidades pela contagem paraidentificar igualdade ou desigualdade numérica.

    D1.4 - Comparar ou ordenar números Naturais.C2  –   Resolver problemas por

    meio da adição ou da subtração.

    D2.1 - Resolver problemas que demandam as ações de juntar,separar, acrescentar e retirar quantidades.

    D2.2 –  Resolver problemas que demandam as ações de comparar ecompletar quantidades.

    C3  –   Resolver problemas por

    meio da aplicação das ideias que

     preparam para a multiplicação e

    divisão

    D3.1  –   Resolver problemas que envolvam as ideias damultiplicação.

    D3.2 –  Resolver problemas que envolvam a ideia de divisão.

    Tabela 2: Listagem de competências e habilidades do eixo de números e operações da provinha Brasil.

    Da mesma forma no Enem (Exame nacional do ensino médio), em sua matriz de referência

    apresenta sua organização apresentando inicialmente competências cognitivas gerais e comuns a

    todas as áreas do conhecimento5, como é mostrado no quadro 1:

    5 O ENEM divide o conhecimento a ser avaliado em três grandes áreas: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias;Matemática e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias.

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     Quadro 1: competências cognitivas exigidas na avaliação em todas as áreas do ENEM.

    Para cada área do conhecimento são apresentadas competências específicas para cada uma

    delas, relacionadas com habilidades que fazem parte destas competências ou que ajudam no seu

    desenvolvimento. No caso da área “Matemática e suas Tecnologias” temos a seguinte lista de

    competências gerais a serem avaliadas:

    Competência de

    área

    Descrição

    1 Construir significados para os números naturais, inteiros, racionais e

    reais.

    2 Utilizar o conhecimento geométrico para realizar a leitura e a

    representação da realidade e agir sobre ela.

    3 Construir noções de grandezas e medidas para a compreensão da

    realidade e a solução de problemas do cotidiano.

    4 Construir noções de variação de grandezas para a compreensão da

    realidade e a solução de problemas do cotidiano.

    5 Modelar e resolver problemas que envolvem variáveis socioeconômicas

    ou técnico-científicas,usando representações algébricas.

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    6 Interpretar informações de natureza científica e social obtidas da leitura

    de gráficos e tabelas, realizando previsão de tendência, extrapolação,

    interpolação e interpretação.

    7 Compreender o caráter aleatório e não determinístico dos fenômenos

    naturais e sociais e utilizar instrumentos adequados para medidas,

    determinação de amostras e cálculos de probabilidade para interpretar

    informações de variáveis apresentadas em uma distribuição estatística.

    Tabela 3: competências específicas da área de atemáticas listadas na Matriz de referência do ENEM –  2013.

    Para exemplificar de maneira rápida o quadro 2 nos mostra a relação de habilidades de cada

    item vamos apresentar como a competência 2 é dividida:

    Quadro 2: habilidades relacionadas com a competência 2 da área Matemática e suas tecnologias. Matrizde referência do ENEM

    Da mesma maneira cada uma das demais competências possue um rol de habilidades

    relacionadas que irão ser avaliadas apontando para o desenvolvimento ou não por parte do aluno

    da competência geral.

     No âmbito da Educação Matemática ainda não temos muitos trabalhos relacionando o estudo de

    habilidades e competências com a avaliação dos conceitos e conhecimentos desta área. Como

     podemos observar todas as avaliações do nosso sistema de ensino já são baseadas na observação

    e análise do desenvolvimento de habilidades e competências, e não somente na aquisição de

    informações, técnicas e conceitos.

    Podemos então nos perguntar: por qual razão não devemos utilizar estes conceitos (habilidades

    e competências) para a efetivação de nossas atividades pedagógicas no ensino básico? De que

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    maneira inserir estes conceitos em nossas atividades pedagógicas? Que resultados podemos

    obter?

    Em minha última experiência no ensino básico questionei-me a este respeito e iniciei algumas

    atividades pedagógicas a fim de pesquisar e encontrar meios de utilizar estes conceitos emminhas atividade como professor de turmas dos anos finais do ensino fundamental. Deste modo

    criei uma metodologia de trabalho focada na avaliação: a avaliação por competências. A ideia

     principal é iniciar o trabalho pedagógico pelo planejamento de quais competências e habilidades

    desejamos que sejam desenvolvidas pelos alunos, e consequentemente, que iremos avaliar.

    Deste modo a avaliação tem um papel central neste tipo de atividade, permeando todo o

     planejamento pedagógico e direcionando as atividades de cada aula.

    Um segundo ponto importante nesta metodologia de trabalho é que a avaliação não deveacontecer em momentos estanques, mas sim ser processual e acontecer em diversas fases da

    aplicação da atividade pedagógica. Para isso acontecer deve-se utilizar-se de diferentes

    metodologias de ensino, para que seja possível ao aluno expressar-se em relação ao objeto de

    estudo. Deste modo metodologias inovadoras para o ensino de Matemática como uso de jogos,

    uso de softwares educacionais, modelagem matemática, resolução de problemas, entre outras.

    Deve-se ainda dar a oportunidade aos alunos de realizar atividades escritas, desenhos, leitura e

    interpretação de textos, etc., para que tenhamos registros de seu entendimento daquilo que está

    sendo estudado. Provas e testes também podem ser usados, porém nunca como a única fonte deavaliação.

    Para exemplificar esta metodologia de trabalho pedagógico, vou apresentar a atividade passo-a-

     passo tal qual realizei com meus alunos. Na época, trabalhando com uma turma de 6ª série

    (atualmente 7º ano), devia, segundo o planejamento anual da escola, iniciar o ensino do conceito

    de representação cartesiana de pontos do plano. Para tal criei uma tabela chamada “tabela de

     planejamento de competências” que tem por objetivo organizar a atividade pedagógica.

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    Tabela de planejamento de competências

    Conceito estudado: Representação cartesiana

    Nível de estudo: 7º ano do ensino fundamental

    Metodologias utilizadas: Jogos, resolução de problemas, aula expositiva.

    Formas de registros: Construção de mapas, folhas de atividades, registros de impressões (logoapós etapa do jogo), prova escrita.

    Número de aulas: 10

    Descrição metodológica: Utilizar inicialmente o jogo Caça ao tesouro 6   para possibilitar aaprendizagem por descoberta do conceito de representação cartesiana através de etapas comdificuldade gradual. Ao final de cada etapa (que coincide com duas aulas) será discutidas assoluções de cada equipe e será solicitado que cada aluno registre suas impressões sobre a

    atividade relatando suas dificuldades. Ao finalizar todas as etapas do jogo o aluno possivelmente terá uma ideia informal do conceito de coordenadas cartesianas e em sala de aulaserá feito a formalização do conceito com aplicação de listas de exercícios. Todas as atividadesdos alunos serão arquivadas em portfólios individuais de posse dos mesmos.

    Avaliação: Observação dos registros de cada aluno e análise do nível de desenvolvimento decada competência.CompetênciasGerais

    Descrição

    CG-1 Resolver problemas, criando estratégias próprias para sua solução,desenvolvendo a iniciativa, a imaginação e a criatividade.

    CG-2 Avaliar se os resultados obtidos na solução de situações-problema são ou não

    razoáveis.CG-3 Compreender e transmitir ideias matemáticas, por escrito ou oralmente,

    desenvolvendo a capacidade de argumentação.CG-4 Sentir-se seguro da própria capacidade de construir conhecimentos

    matemáticos, desenvolvendo a autoestima e perseverança na busca desoluções.

    Competências

    específicas

    Descrição

    CE-1 Criar mapas de localização com pontos de localização e orientaçãogeográfica

    CE -2 Interpretar mapas de localização conseguindo localizar-se no espaçoCE - 3 Identificar e representar pontos do plano cartesiano através de um parordenado e vice-versa

    Tabela 4: tabela de planejamento de competências

    Para ajudar na observação das competências e habilidades que cada aluno vai desenvolvendo ao

    longo das atividades pedagógicas, cria-se uma tabela auxiliar que irá guiar o professor na

    avaliação individual de seus alunos. Deve-se criar uma tabela de observação e avaliação para

    6

     Para melhor entendimento desta atividade sugerimos que seja lido o artigo: O jogo didático e aconstrução de conceitos matemáticos no ensino fundamental: relato de uma atividade. Em:http://if.ufmt.br/eenci/artigos/Artigo_ID75/v4_n1_a2009.pdf  

    http://if.ufmt.br/eenci/artigos/Artigo_ID75/v4_n1_a2009.pdfhttp://if.ufmt.br/eenci/artigos/Artigo_ID75/v4_n1_a2009.pdfhttp://if.ufmt.br/eenci/artigos/Artigo_ID75/v4_n1_a2009.pdf

  • 8/9/2019 AVALIAÇÃO POR COMPETÊNCIAS E HABILIDADES NO ENSINO DE MATEMÁTICA: PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES

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    cada aluno e nela o professor irá registrar suas impressões sobre o desenvolvimento, atitudes e

     produção intelectual de seus alunos.

    Tabela de observação e avaliação das competências

    Competência Critério de observação Descrição-conceito

    CG-1 Demonstra iniciativa na busca de soluções para o problemaPossui atitude positiva diante do erro

    É criativo na construção de estratégias de resolução do problema e comunicação dos resultados

    CG-2 Possui atitude positiva diante do erroDiscute com seus pares as soluções encontradas eaceita a ideia do outro

    CG-3 Transmite soluções do problema de modo oral e escrito

    Tem capacidade de argumentação quando contrariadoou questionadoCG-4 Compreende a atividade como importante para sua

    formaçãoDescobre por si só a relação entre o jogo e o conteúdoestudado

    CE-1 Cria mapas de localização superando os obstáculos do problemaCria mapas usando boa localização espacial com

     pontos de referênciaCE -2 Consegue interpretar os mapas de seus colegaslocalizando os pontos de referênciaUtiliza da representação cartesiana na construção dosmapas

    CE - 3 Identifica e representar pontos no plano cartesianoatravés de um par ordenado de números e vice-versa

    Tabela 5: Tabela de observação e avaliação das competências

    Conclusões

    Uma primeira análise sobre esta metodologia de trabalho onde a avaliação é processual e permeia todo o processo de ensino e aprendizagem pode nos dar a impressão que realizar todo

    este trabalho de planejamento, registro e análise seja muito trabalhoso. Realmente este processo

    requer mais tempo de planejamento e muito mais atenção aos detalhes de cada atividade, porém

    os resultados positivos que podemos alcançar com este trabalho, tais como um melhor

    conhecimento do nível de desenvolvimento cognitivo do aluno, possibilidade de autoavaliação

     por parte do aluno e a possibilidade de se desenvolver competências que na maior parte das

    vezes ficam de fora de uma atividade pedagógica tradicional nos levam a crer que todo o

    trabalho é válido.

  • 8/9/2019 AVALIAÇÃO POR COMPETÊNCIAS E HABILIDADES NO ENSINO DE MATEMÁTICA: PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES

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    Percebemos também que de nada adiantará construir o planejamento das competências para um

    determinado conteúdo a ser estudado se não utilizarmos uma ou mais metodologias de ensino

    que permitam ao aluno se expressar sobre o tema estudado. A aula tradicional onde o aluno

    copia e repete exercícios padrões feitos pelo professor é pobre quanto às possibilidades de

    expressão oral, escrita e falada. Deste modo a mobilização de uma ou mais metodologias de

    ensino e o registro e arquivamento em portfólios das atividades e relatos escritos dos alunos de

    suas impressões das atividades são os pontos “chave” desta metodologia de trabalho e avaliação.  

    Bibliografia

    ALVAREZ MÈNDEZ, J.M. Avaliar para conhecer, examinar para excluir. Porto Alegre:Artmed, 2002.

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    LENGEL, J. G. Education 3.0: Seven steps to better schools. New York: Teachers CollegePress. 2013.

    LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem: componente do ato pedagógico. São Paulo:Cortez, 2011.

    PERENOUD, P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre (RS) ArtesMedicas, 1999.

    PERENOUD, P. Formando professores profissionais : quais estratégias? Quais competências?Porto Alegre (RS) : Artes Medicas, 1999.

    TARDIFF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, Rj: Vozes, 2007. 8ª ed.

    PERENOUD, P. Avaliação : da excelência à regulação das aprendizagens entre duas lógicas.Porto Alegre (RS) : Artes Medicas, 2000.

    SACRISTÁN, J. G. Compreender e transformar o ensino. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

    WAGNER, T. The Global Achievement Gap: Why even our best schools don’t teach the newsurvival skills our children need –  and what we can do about it. New York: Basic Books, 2010.