Avaliação Psicológica Infantil Em Contexto de Vulnerabilidade Social

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     AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA INFANTIL EM CONTEXTO DE VULNERABILIDADE

    SOCIAL: UM ESTUDO DE CASO¹

    PENTEADO, R. de V.2; SILVA, D. M. da ²; ABAID, J. L. W. 3 1 Estudo de Caso _UNIFRA2 Acadêmica do Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS,Brasil3 Docente do Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS,BrasilE-mail: [email protected]; [email protected][email protected] 

    RESUMO

    O psicodiagnóstico apresenta-se como um meio para auxiliar na compreensão dos processosmentais. No caso da avaliação psicológica infantil, vem a colaborar com procedimentos pedagógicos,bem como diagnóstico diferencial e de comorbidades frente a suspeita de transtornos deaprendizagem. Objetivou-se nesse trabalho discutir um caso de avaliação psicológica de uma criança

    de nove anos, realizado durante um estágio em psicologia, descrevendo e discutindo os resultadosparciais e finais das técnicas utilizadas, no ambiente institucional de uma ONG. Dentre os resultadosobtidos tem-se que a criança apresentou dificuldade significativa de leitura, impulsividade,agressividade, baixa tolerância à frustração e dificuldade de concentrar-se em um contextoespecífico. O quadro clínico-sintomático apresentado causava à criança prejuízos significativos aoseu aprendizado escolar. Logo, destaca-se a necessidade de um acompanhamento multiprofissionalviabilizando uma avaliação psicopedagógica e neuropsicológica, a fim de corroborar um diagnóstico eum prognóstico mais preciso que embase ações junto à criança.

    Palavras-chave: Avaliação Psicológica; Vulnerabilidade Social; Processoseducacionais. 

    1 INTRODUÇÃO

    A avaliação psicológica é uma atividade restrita ao psicólogo, assim como o uso de

    diversos instrumentos, como os testes psicológicos. Tal avaliação é um processo de

    construção de conhecimentos sobre os aspectos psíquicos, a fim de produzir, orientar,

    monitorar e encaminhar intervenções sobre o avaliando. Portanto, requer cuidados no

    planejamento e na análise dos resultados (CFP, 2010). Quando a avaliação psicológica é

    realizada em um contexto clínico, ela passa a ser nomeada de psicodiagnóstico,constituindo-se em um processo com um limite de duração para ser realizado, conforme as

    necessidades de cada caso; e cujo planejamento de trabalho procura identificar recursos

    que viabilizem estabelecer conexões e relações entre os questionamentos iniciais sobre um

    possível diagnóstico e as respostas obtidas (CUNHA, 2000).

    Além disso, o psicodiagnóstico apresenta importância relevante quanto à conclusão

    diagnóstica, bem como ao modo do psicólogo acolher e relacionar-se com o paciente, sem

    torná-lo objeto de suas investigações; visto que, há que se considerar que no processo de

    psicodiagnóstico pode coexistir um efeito terapêutico, o qual, decorreria da relaçãoestabelecida entre paciente-psicólogo (SANTIAGO, 2002).

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    A avaliação psicológica realizada transcorreu-se nas dependências de uma

    Organização Não-Governamental (ONG), no interior do Rio Grande do Sul. Essa instituição

    tem seu funcionamento no período diurno e recebe cerca de 20 usuários entre crianças e

    adolescentes, todos em situação de vulnerabilidade social. A organização visa contribuir

    para a redução do abandono infantil, bem como facilitar o desenvolvimento e a autonomia

    das famílias usuárias dos serviços prestados pela ONG. As atividades diárias realizadas

    neste local englobam o cuidado às crianças, alimentação, educação de séries iniciais de

    modo a complementar o ensino recebido na escola e orientação aos pais para cuidado e

    proteção de seus filhos, visando o fortalecimento e a integração da família e a redução da

    violência intrafamiliar.

    As ações da entidade respaldam-se no fato de que dificuldades econômicas são

    apontadas como um dos fatores principais da perda de poder familiar. Por isso, há grande

    importância em se desenvolverem trabalhos voltados ao fortalecimento dos vínculos

    familiares e ao apoio às famílias em situação de vulnerabildade social, intuindo na redução

    do risco de abrigamento de crianças e adolescentes (VITALE, 2006).

    Cabe destacar também que a ONG, ao investir no aprendizado escolar dos menores

    que ali estão, promove a educação enquanto um fenômeno social, dado que é no ambiente

    coletivo que as manifestações comportamentais tornam-se mais evidentes (SILVA, 1986).

    Assim, o processo educacional ao ser desenvolvido torna-se um veículo capaz de marcar

    diferenças individuais, protagonizar meios para a superação da opressão e agir como um

    gerador e fortalecedor de autonomia (MARINHO-ARAÚJO; ALMEIDA, 2005).A realização deste estudo viabilizou uma discussão sobre o exercício da prática do

    psicodiagnóstico infantil em situação de vulnerabilidade social, em que a via para a

    realização do mesmo dá-se pelo acesso ao meio educacional, o qual é também fonte de

    encaminhamentos e de possíveis informações relevantes para a avaliação psicológica da

    criança. Portanto, a análise do estudo de caso da avaliação psicológica realizada, objetivou

    aguçar o olhar clínico e investigativo do avaliador, a partir das demandas oriundas do

    paciente e do meio socioeducacional em que o mesmo estava inserido.

    2. METODOLOGIA

    Estudo de caso de psicodiagnóstico infantil, de um menino, Pedro (nome fictício),

    com nove anos de idade, realizado em uma ONG, a qual exerce funções pedagógicas e de

    cuidado para com crianças e adolescentes, em situação de vulnerabilidade social. A

    avaliação psicológica foi realizada durante a prática de estágio, e a indicação da criança

    para o processo avaliativo proveio da equipe pedagógica do local.

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    3. PROCEDIMENTOS

    Foram realizados seis encontros com o paciente, uma entrevista com a mãe da

    criança e uma entrevista com a professora.

    Em um primeiro momento ouviu-se a queixa inicial dos professores da ONG quanto

    ao comportamento de Pedro e analisou-se o parecer pedagógico do mesmo, visando dados

    pertinentes a sua história de vida. Então, por meio deste encaminhamento da instituição,

    buscou-se solicitar a autorização da cuidadora de Pedro, para que a avaliação psicológica

    pudesse ser efetuada. Foi realizado contrato psicológico com a cuidadora, no caso, a mãe e

    com a criança. E somente após a autorização da responsável, obtida pela ONG, é que se

    procedeu o contato inicial com Pedro.

    Os atendimentos compreenderam duas entrevistas semi-estruturadas, uma com a

    mãe, 32 anos; e outra com a professora da turma de Pedro; a aplicação de dois

    instrumentos psicométricos, sendo o teste de Matrizes Progressivas Coloridas de Raven :

    Escala Especial, aplicado no terceiro encontro e o Teste Wisconsin   de Classificação de

    Cartas (WCST) aplicado no quarto encontro.

    Além desses métodos padronizados foram realizadas duas tarefas, a primeira

    consistia em recortar e colar, para a observação do desenvolvimento da motricidade fina e a

    segunda, em reconhecer e verbalizar letras e palavras, a fim de observar aspectos

    pertinentes às habilidades de leitura.

    3.1 Etapas do processo avaliativo

    Inicialmente, houve a familiarização da acadêmica avaliadora com a instituição,

    reunião com a equipe pedagógica e escuta de sua queixa referente ao aluno Pedro. As

    educadoras elencaram como queixas a agressividade, a falta de limites, a dificuldade para

    concentrar-se nas atividades pedagógicas propostas, além do comportamento agitado e

    dispersivo em sala de aula e o atraso significativo em seu desempenho escolar quando

    comparado ao desempenho de seus colegas de classe e de mesma idade. Frente a essequadro, Pedro havia sido reencaminhado pela ONG ao Centro de Atenção Psicossocial

    Infantil (CAPS i) a fim de retomar o atendimento psiquiátrico e psicológico que outrora

    realizara. Pedro também foi encaminhado pela ONG para avaliação neurológica.

    No primeiro encontro com o avaliando realizou-se o contrato psicológico, abordando

    aspectos do sigilo, utilizando uma linguagem compreensível à criança. Foi combinado

    também o tempo de duração das sessões, quantas seriam e quando terminariam;

    esclarecendo que haveria um começo e um fim para os encontros e o motivo pelo qual

    estava ali. Pedro permaneceu calado a maior parte do tempo, apenas sinalizando com a

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    cabeça afirmando que estava compreendendo o que estava sendo dito a ele. Após, foi

    proposto a ele que desenhasse livremente, para que se estabelecesse um rapport inicial. 

    Pedro gostou da proposta e desenhou um carro. Em seguida foi solicitado a ele que

    recortasse figuras de revistas e as colasse em uma folha de ofício, no intuito de observar

    aspectos desenvolvimentais de sua motricidade fina. Realizada essa tarefa, foi feito o

    encerramento da sessão.

    No segundo encontro, Pedro realizou contato com algumas revistas e “gibis”

    disponíveis na sala de atendimento e lhe foi solicitado como tarefa que lesse algumas

    palavras de diferente extensão, cuja variação dava-se entre palavras de uma sílaba, como

    “sol” a palavras de três sílabas como “árvore”. Pedro, ao ter dificuldade em ler, manifestou

    grande ansiedade, desistiu da tarefa e quis encerrar a sessão, afirmando que desejava

    brincar com seus colegas.

    No terceiro encontro foi realizada entrevista com a mãe na presença de Pedro, pois

    ele não queria sair do colo dela. Realizou-se o contrato psicológico com a cuidadora e foi

    agendada a data para a devolução da avaliação psicológica.

    Sendo questionada sobre o processo escolar do filho, a mãe afirmou que Pedro

    reprovou três anos na primeira série, inclusive no último ano. Sobre o nascimento da criança

    referiu que ele “passou da hora de nascer porque trancou no parto” (sic) e que ele “nasceu

    preto” (sic), ou seja, cianótico, e que “ficou no oxigênio por várias horas”(sic) . O parto foi do

    tipo natural. A mãe mencionou ainda que realizou pré-natal, que fumou tabaco durante a

    gestação e que amamentou Pedro até seus seis anos de idade.Sobre o desenvolvimento motor do menino afirmou que ele não teve dificuldades

    para caminhar, iniciando esse processo aproximandamente com um ano e três meses. Em

    relação a fala, disse que começou a falar suas primeiras palavras aos dois anos. Quanto ao

    sono de Pedro, afirmou que era tranquilo. A mãe comentou também que, aos dois anos,

    Pedro realizou uma consulta neurológica, em que o médico constatou que Pedro era

    “hiperativo”(sic), mas que não necessitava uso de medicação naquele momento. Nessa

    mesma época foi feita consulta oftalmológica e Pedro usou óculos para correção de desvio

    visual, mas o tempo de uso foi pequeno, dado que ele não se adaptou ao objeto.A mãe informou também que aos quatro anos Pedro foi encaminhado pela ONG ao

    CAPS I, sob a queixa de que ele não “parava quieto” (sic). Pedro tinha consultas duas vezes

    por semana. Encerrada a entrevista com a mãe, deu-se início à sessão com Pedro.

    Realizou-se a aplicação do teste psicométrico Matrizes Progressivas Coloridas de Raven :

    Escala Especial, que teve duração de quatroze minutos.

    No quarto encontro, realizou-se a aplicação do teste WCST, sendo utilizada a versão

    reduzida do instrumento, ou seja, 64 ensaios de categorização e não 128 como é em sua

    forma completa (HEATON, 2005). Tal procedimento foi realizado visando não fadigar a

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    criança, já que a análise clínica apontava para certo nível de dificuldade de manter-se

    concentrado em uma tarefa por mais de cinco minutos.

    No quinto encontro houve a realização de tarefa escrita, sendo solicitado que Pedro

    copiasse algumas palavras de um livro infantil. Ele estava agitado e não permaneceu mais

    do que vinte minutos em sessão. Também foi feito entrevista com a professora da turma de

    Pedro.

    No sexto encontro ocorreu a devolução da avaliação à mãe, à professora e à criança,

    em momentos distintos, seguidos do encerramento do processo avaliativo com Pedro.

    4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

    Durante o rapport   Pedro desenhou livremente; tal proposta foi adotada tendo em

    vista que as crianças desenham antes mesmo de saberem ler e escrever, de modo a

    representarem seu mundo através de símbolos, sendo esta a primeira forma de

    compreensão do universo infantil (WECHSLER, 2003). Pedro desenhou um carro;

    entretanto, a avaliação não se ateve ao significado do desenho, mas ao fato de que ele o

    refez várias vezes, apagando e redesenhando ou utilizando outra folha. Tal processo se

    dava sob a autoafirmação de que seu desenho estava feio. Esse comportamento permite

    inferir um relevante senso de autocrítica, bem como o delineamento de uma crença negativa

    sobre si e suas produções. Podendo este aspecto estar relacionado a sua dificuldade em

    completar as atividades propostas pela pedagoga em aula.Quanto à tarefa de recortar e colar figuras de revistas, Pedro não apresentou

    dificuldade perceptível à observação. Todavia, apresentou dificuldade significativa na

    atividade de leitura, pois reconhecia as letras do alfabeto, trocando algumas. Conseguia unir

    as letras para formar sílabas, mas manifestava dificuldade para processar aquelas em que a

    letra vogal apresentava-se anterior à consoante, como em “ar e es”; dificuldade não

    apresentada quando ocorria o inverso, como em “ra e se”. Pedro também não conseguiu ler

    palavras com mais de duas sílabas, afirmando que não sabia ler.

    Em alguns momentos Pedro lia determinadas palavras evidenciando um processomnemônico destas, e não uma estruturação de sintaxe da palavra. Apresentou frustração

    diante da tarefa, abandonando-a. Essa limitação de Pedro pode estar relacionada as suas

    reprovações na primeira série, sendo três ao total. O que também pode atuar como um

    reforçador de uma crença negativa sobre sua capacidade. Entende-se por crença negativa,

    construções cognitivas disfuncionais, as quais tornam o sujeito susceptível a algum

    transtorno ou instabilidade emocional quando elas são ou estão ativadas (DUARTE;

    NUNES; KRISTENSEN, 2008).

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    Diante do quadro apresentado, questionou-se a possibilidade de um diagnóstico de

    transtorno da leitura, o qual se expressa por dificuldade específica de aprendizagem da

    leitura, ou seja, na decodificação de palavras simples, na aquisição e na capacidade de

    escrever e soletrar. Entretanto, a criança apresenta inteligência adequada a sua faixa etária.

    Assim, esse comprometimento não pode ser atribuído exclusivamente à idade

    mental, a transtornos de acuidade visual/auditivo ou a escolarização inadequada. Há que se

    considerar ainda que o mesmo interfere, significativamente, no rendimento escolar para

    atividades que necessitam a habilidade de ler (DSM-IV-TR, APA, 2002).

    O critério diagnóstico que menciona a existência de um nível de inteligência próprios

    para a idade do indivíduo corrobora o resultado apresentado por Pedro no teste Raven .

    Esse instrumento avalia a inteligência geral e fornece uma estimativa da capacidade de

    raciocínio de crianças a partir do modo não-verbal (ANGELINI, 1999; COSTA, 2004). O

    resultado da testagem foi considerado consistente, podendo ser dado como uma estimativa

    válida do nível intelectual da criança. Pedro obteve uma classificação de grau III, o que

    corresponde a um nível intelectualmente médio; portanto, considerado adequado a sua

    idade cronológica.

    Contudo, Pedro, no teste WCST apresentou resultados que denotam baixo controle

    inibitório, ou seja, baixa capacidade em inibir respostas não adaptadas, voltando-se para

    outras mais eficazes a partir de feedbacks   ambientais (GIL, 2002; MALLOY-DINIZ et al.,

    2008) fato que se expressa na elevada impulsividade, em que há realização de uma ação

    sem que seja feito um julgamento ou planejamento consciente prévio (MALLOY-DINIZ et al,2010). Foi observada também significativa dificuldade em manter-se concentrado em um

    dado contexto, baixa responsividade a feedbacks   proporcionados pelo teste e baixa

    tolerância à frustração.

    Os dados coletados na entrevista com a professora, a qual afirmou que “ele inicia as

    atividades, mas não as conclui” (sic), confirma o dado do teste WCST quanto à dificuldade

    na manutenção do contexto. Ela mencionou ainda que Pedro “não reconhece algumas letras

    do alfabeto com rapidez” (sic). Segundo a educadora, ele não gosta de ser contrariado e

    não tem limites, demonstrando agressividade nessas situações, tanto com a professoraquanto com seus colegas. Fatos da vida diária escolar de Pedro que se somam à

    impulsividade e a baixa tolerância à frustração apontados pelo teste WCST.

    Diante desses dados clínicos cogitou-se a hipótese de ocorrência de um Transtorno

    de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), pois tal patologia tem como características

    manifestas desatenção, atividade motora excessiva e, por vezes, impulsividade, devendo

    tais sintomas estarem presentes em ao menos dois ambientes distintos ocasionando um

    rendimento escolar deficitário (BARKLEY, 2002). Além disso, frequentemente, as crianças

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    são rotuladas como "problemáticas", "avoadas", "malcriadas" e "indisciplinadas", ou "pouco

    inteligentes", o que repercute em sua vida social como um todo (ROHDE; BENCZIK, 1999).

    Soma-se a esse aspecto resultados de estudos neuropsicológicos, os quais sugerem

    que o TDAH pode estar associado a alterações do córtex pré-frontal e de suas projeções a

    estruturas subcorticais, o que caracterizaria nesse transtorno os frequentes níveis de

    desatenção, impulsividade, hiperatividade, desorganização e inabilidade social, posto que

    envolve um déficit do sistema inibitório e do exercício pleno das funções executivas

    (MESSINA; TIEDEMANN, 2009).

    Por conseguinte, faz-se imprescindível nesses casos o exercício do trabalho

    multiprofissional, de modo a fornecer um diagnóstico diferencial ou a confirmação de

    comorbidades do TDAH e do Transtorno de leitura, a fim de estruturar o acompanhamento

    pedagógico que seja mais adequado ao caso em questão. Atentando também à influência

    do meio sobre eles, visto que situações de vulnerabilidade social podem provocar alterações

    psicológicas, manifestas, por exemplo, em comportamentos agressivos (MACIEL; CRUZ,

    2009).

    5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Ao realizar-se avaliação psicológica em instituições é necessário atentar,

    cautelosamente, ao que tange a questões referentes ao sigilo tanto sobre o que foi

    verbalizado pela criança, bem como no cuidado com o material oriundo da avaliação. Háque se observar também que o psicodiagnóstico pode reforçar “rótulos”, podendo causar

    constrangimentos à criança e tornando a patologia ainda mais disfuncional. Por outro lado,

    salienta-se o fato de que o processo avaliativo pode auxiliar a encontrar subsídios para

    intervenções mais eficazes.

    Além disso, considera-se o caso estudado de significativa complexidade dadas as

    variáveis envolvidas, expressas no contexto de vulnerabildade social e nas dificuldades

    pedagógicas da leitura e da escrita da criança, salientando-se a primeira como a mais

    significativa e que portanto, necessitaria de uma avaliação neuropsicológica epsicopedagógica, para maiores esclarecimentos e proficiência de um diagnóstico. Destaca-

    se também a importância da ONG ao investir no aprendizado escolar e ao viabilizar meios

    geradores de fortalecimento social.

    REFERÊNCIAS

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    Paulo: Centro Editor de Testes e Pesquisas em Psicologia, 1999.

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