Upload
nanci-barillo
View
15.408
Download
7
Embed Size (px)
Citation preview
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA - PROTOCOLO BREVE
SILVA, Maria Luiza Quaresma Soares – CENEP-HC-UFPR [email protected]
Área Temática: Psicopedagogia
Agência Financiadora: Não contou com financiamento Resumo O presente trabalho relata um modelo de avaliação breve que vem sendo utilizado pela psicopedagogia para a realização de triagens e avaliações em equipe multidisciplinar. Em tais equipes, profissionais da psicopedagogia e de outras clínicas, como psicologia, neuropsicologia, neuropediatria, serviço social, fonoaudiologia e terapia ocupacional, atuam conjuntamente. No procedimento de triagem, cada criança ou adolescente é encaminhado a uma das especialidades e durante 25 minutos realiza tarefas específicas com foco em sua aprendizagem e desenvolvimento. Em seguida, há o revezamento para as outras clínicas, sendo que a duração total da triagem para cada sujeito é de duas horas. A avaliação psicopedagógica completa somente é solicitada quando o resultado da triagem identifica disfunções acentuadas nas habilidades investigadas. Como esse é um protocolo extenso e tendo em vista que no modelo interdisciplinar as demais áreas terapêuticas colaboram com seus saberes para a compreensão do fenômeno; a psicopedagogia optou por adaptar alguns dos instrumentos clássicos de sua área e desenvolver outros. Assim, a Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem-EOCA foi substituída pela Mini EOCA. E, surgiram também, dois roteiros descritivos de habilidades denominados Categorias da Triagem e Categorias da Avaliação Psicopedagógica. O trabalho fundamentou-se na Epistemologia Convergente de Jorge Visca e em autores que analisam a aprendizagem da leitura, da escrita e da matemática. A proposta aqui apresentada tem se mostrado eficaz para o objetivo a que se destina, ou seja, contribuir, dentro de uma equipe multidisciplinar, fornecendo pareceres sobre a característica da aprendizagem de cada sujeito, em termo de aptidões, interesses e desempenho em habilidades cognitivas e acadêmicas. Além disso, possibilita a identificação de áreas de desempenho que necessitem ser mais estimuladas e fornece subsídios para a reorganização dos ambientes da aprendizagem do sujeito avaliado. Palavras-chave: Psicopedagogia. Avaliação. Triagem. Aprendizagem. Multidisciplinar.
Introdução
A democratização do saber, institucionalizada pelo direito e obrigatoriedade a uma
formação escolar básica, garantia do Estado a toda criança, é uma conquista social recente e
inédita na história da humanidade. Como tudo que é novo, requer um tempo para acomodar-
se. Assim, verifica-se como nunca antes, um grande número de crianças em plena atividade
8420
escolar, mas que enfrentam inúmeras dificuldades, por vezes perdem o interesse e deixam de
considerar o estudo como uma oportunidade para a vida e de ascensão social, algo bastante
presente nos discursos de duas a três gerações passadas. Para o aluno que apresenta algum
tipo de dificuldade na aprendizagem, o que era uma conquista passa a ser uma penitência.
Como é na escola que a criança inicia seu processo de socialização, interagindo com os pares
e com os adultos daquele ambiente, entraves nesse percurso trarão impactos desfavoráveis à
saúde psíquica, interferindo na auto-imagem e num futuro projeto de vida desse sujeito.
O tempo escolar é algo dinâmico e delimitado. Nele, os dias letivos são preenchidos
com atividades e objetivos a serem atingidos pelos alunos. Frente às dificuldades surgidas,
sejam elas inerentes ao aprendiz e/ou a seu contexto, relativas a metodologias ou específicas
aos conteúdos abordados, é necessário que o fenômeno seja compreendido com a maior
clareza possível pelo professor, de modo que ele possa buscar recursos para reorientar a
aprendizagem dessas crianças. Entretanto, não é possível exigir tal competência unicamente
do docente, e a escola conta também com a intervenção de equipes especializadas atuando em
seu próprio interior ou externamente, no intuito de promover a aprendizagem acadêmica.
Na escola pública, entre outras medidas surgem ações como, formação docente
continuada, lei da inserção do profissional pedagogo, psicólogo e assistente social no quadro
escolar, Salas de Recursos, Centros Especializados de Atendimentos e parcerias em Projetos
Pedagógicos e culturais como os oferecidos em Programas Universitários de Extensão. Todas
essas intervenções buscam ampliar redes de apoio para que a aprendizagem aconteça.
O presente trabalho insere-se no contexto apresentado, situação na qual a
psicopedagogia desenvolveu e utiliza um modelo de avaliação breve, como parte integrante de
um protocolo multidisciplinar. As triagens e avaliações realizadas nesse modelo são aplicadas
individualmente a alunos de escolas públicas cursando o Ensino básico, com baixo
rendimento na aprendizagem escolar. Visam fornecer pareceres sobre a característica da
aprendizagem dos sujeitos, em termo de aptidões, interesses e desempenho em habilidades
cognitivas e acadêmicas. Possibilitam ainda, a identificação de áreas de desempenho que
necessitam uma maior estimulação e podem fornecer subsídios para a reorganização dos
ambientes de aprendizagem do sujeito avaliado.
8421
Práxis psicopedagógica – filiação teórica
O papel da psicopedagogia, frente a uma queixa de dificuldade na aprendizagem, seja
ela de caráter primário ou associada a distúrbios psico-neurológicos, é investigar como aquele
sujeito, particular e único, interage com os objetos e realiza essa acomodação. Para tanto, faz
uso de procedimentos para colher e analisar informações em busca de parâmetros para a
compreensão do fenômeno.
A matriz diagnóstica utilizada na elaboração dos procedimentos aqui descritos
fundamentou-se na Epistemologia Convergente de Jorge Visca e em estudos sobre a
aprendizagem da leitura, da escrita e da matemática.
A Epistemologia Convergente é uma teoria que agrega contribuições de três áreas do
conhecimento: Psicologia Genética, Psicanálise e Psicologia Social (VISCA, 1994, p. 9 e 16).
Nessa abordagem, o sujeito é visto como uma totalidade psicossomática, na qual,
primeiramente existe um corpo (substrato biológico) inserido no mundo, que em interação
com um objeto (ser maternante), desabrocha para uma consciência psíquica de si mesmo (eu
psicológico - mente). Visca (1994, p.68) denomina esse pensar como um esquema
referencial, e o vincula às teorias construtivista, estruturalista e interacionista. Construtivista,
segundo o autor, porque tanto sujeito quanto conhecimento vão sendo construído por etapas,
a partir de sucessivas sínteses entre o que já se sabe e novas aquisições. Estruturalista, porque
a construção que está surgindo é uma estrutura total, envolvendo a dimensão cognitiva e
afetiva de forma interatuante, frente aos desequilíbrios. E é interacionista, porque para se
construir uma estrutura é necessário haver interação com o outro e com o meio. A
aprendizagem ocorre na relação sujeito objeto, possuindo um aspecto cognitivo e um afetivo.
Psicologia Genética é o nome dado à teoria nascida da investigação que Piaget
empreendeu sobre a gênese da lógica no ser humano. Inicialmente era uma formulação
epistemológica, mas buscando responder a sua questão de estudo, e não dispondo do homem
pré-histórico para o intento, elegeu a criança como seu sujeito de pesquisa. Durante anos
analisou e descreveu as primeiras aquisições lógicas na criança o que resultou na elaboração
de uma teoria do desenvolvimento e uma concepção de aprendizagem (MORO, 2002, p.118).
O próprio Piaget1 (1979, Apud COLL e MARTÍ, 2004, p. 45) definia sua epistemologia
genética como a disciplina que estuda os mecanismos e os processos mediante os quais se
1 Piaget. Tratado de lógica y conocimiento científico (1). Naturaleza y métodos de la epistemología.
Buenos Aires: Paidós [Publicación original en francés, 1967].
8422
passa “dos estados de menor conhecimento aos estados de conhecimento mais avançados”.
Identificou na criança, três grandes estágios ou períodos evolutivos no desenvolvimento
cognitivo: um estágio sensório motor, indo do nascimento até os 18-24 meses
aproximadamente e culminando com a construção da primeira estrutura intelectual, o grupo
dos deslocamentos; um estágio de inteligência representativa ou conceitual, dos 2 aos 10-112
anos aproximadamente, que culmina com a construção das estruturas operatórias concretas; e
finalmente, um estágio de operações formais, no qual se dá a construção das estruturas
intelectuais próprias do raciocínio hipotético-dedutivo aos 15 ou 16 anos (COLL; MARTÍ,
2004, p.46).
Nos anos 70, Barbel Inhelder, uma das colaboradoras de Piaget, organizou os
procedimentos metodológicos utilizados por eles nas pesquisas clínicas e divulgou parte desse
material com o título de provas piagetianas. A característica deste protocolo é seu caráter
qualitativo distinto da psicometria que fornece dados quantitativos. Mais tarde, esse material
passou a compor protocolos de avaliação psicopedagógica com o objetivo específico de
identificar o estágio do desenvolvimento cognitivo alcançada pelos sujeitos. (DOMAHIDY-
DAMI; BANKS-LEITE, 1992, p.118).
As outras duas contribuições teóricas que compõem a Epistemologia Convergente são
as advindas da Psicanálise, área que descreve o psiquismo humano e suas motivações
inconscientes; e da Psicologia Social de Pichon-Rivière que analisa a influência de fatores
sócio-culturais na conduta dos sujeitos (VISCA, 1994, p.15).
Uma avaliação psicopedagógica, segundo o modelo da espistemologia convergente,
fará uso de recursos diagnósticos provenientes dessas três áreas. O sujeito realizará atividades
que forneçam subsídios a uma compreensão de seu desenvolvimento no que tange à cognição
e vínculos afetivos estabelecidos com objetos e situações de aprendizagem. Visca (1994,
p.68) considera três tipos de obstáculos à aprendizagem: epistêmico, epistemofílico e
funcional. A interrupção ou lentificação no desenvimento cognitivo do sujeito, caracteriza o
obstáculo epistêmico, e determina o nível de operatividade daquela pessoa. No obstáculo
epistemofílico, existe um vínculo inaquedado com objetos e situações de aprendizagem,
desencadeando um estado afetivo alterado que, segundo a teoria, pode se manifestar como
uma ansiedade confusional, esquizo-paranóide ou depressiva; agindo de forma predominante,
alternada ou coexistente. Já o conceito de obstáculo funcional possui duas variantes: quando
2 Coll não subdivide o período das operações concretas em pré-operatório, dos 2 aos 7-8 anos e só então o operatório concreto, como o faz o próprio Piaget (1993).
8423
ainda não houve uma reflexão sobre um determinado problema ou setor da realidade por parte
da teoria psicoanalítica ou piagetiana; ou mesmo se já o fizeram, não apresentaram
instrumento específico de avaliação para o dito setor ou aspecto do real. Nesse caso, Visca
(1991, p. 30; 1994, p.68) diz recorrer a instrumentos de filiação sensual-empirista, da
psicometria tradicional; oposto aos princípios construtivista, estruturalista e interacionista
adotados em sua teoria, mas que lhe fornecem como resultado, os obstáculos funcionais; e
nesse contexto, tal resultado é considerado como uma hipótese diagnóstica auxiliar. A outra
maneira de conceber um obstáculo funcional corresponderia às diferenças funcionais
peculiares da cognição, frente a certas patologias e identificadas quando da aplicação do
método clínico piagetiano. (VISCA, 1994, p.68-69; AJURIAGUERRA, 1992, p. 124).
Aprendizagem escolar
No contexto da aprendizagem escolar, a linguagem é uma das funções cognitivas mais
solicitadas. É por meio desse recurso que a criança tem acesso ao conhecimento. Numa
concepção vigotskiana, a linguagem surge como instrumento lógico e analítico do
pensamento. O sujeito, ao interagir com o ambiente, internaliza elementos deste ambiente
recriando significados rumo a uma auto-regulação de seu agir que se completa no momento
da autonomia (STOLTZ, 2004). Sem uma linguagem a autonomia não se realiza, uma vez que
o pensamento reflexivo para exercer sua função especulativa carece de uma forma, código
lingüístico. A leitura e a escrita surgem como uma segunda modalidade de linguagem.
Verifica-se que nos primeiros anos escolares, a tarefa mais importante é o domínio da notação
e decifração desse código.
Ler e escrever são invenções humanas, habilidades socialmente construídas e
necessárias no atual estágio civilizatório. Para alguns pode ser uma tarefa simples, para outros
uma árdua aprendizagem. Isso porque, como diz Cagliari (1998, p. 37), aprender é um ato
individual: “depende muito da história de cada aprendiz, de seus interesses, de seu
metabolismo intelectual”. No que concerne a esse metabolismo, várias funções cognitivas são
exigidas, entre as quais, memória, percepção, atenção, processamento visual, processamento
fonológico e adequada resposta motora. Contudo, estudiosos são unânimes em reconhecer que
essa aprendizagem requer um ensino sistemático quanto aos seus princípios e regras, bem
como, que o aprendiz se envolva em atividades práticas nas quais possa exercitar, avaliar e
8424
ajustar-se às convenções da língua (SOARES, 2004; FARACO, 1992; SCLIAR-CABRAL,
2003).
A aquisição de conhecimentos matemáticos, por sua vez, abrange uma diversidade de
áreas e de habilidades cognitivas. Dentre estas, destacam-se os princípios aritméticos de
associatividade, comutatividade, estimativa e sua correta aplicabilidade na resolução de
problemas orais e escritos. Para a interpretação de representações numéricas é fundamental
que a informação seja compreendida de maneira lógica e ordenada. Dificuldade na elaboração
de conceitos verbais e não verbais e/ou disfunções no processamento visoespacial constituem
obstáculos para a compreensão das relações quantitativas, raciocínio classificatório e de
seriação (OLIVEIRA, et al., 2006, p.124). Dornelles (2006, p.141) salienta que, “é preciso
conhecer o desenvolvimento de habilidades necessárias para a aprendizagem de cada
conteúdo matemático e é necessário reconhecer as características dos alunos com dificuldade
para favorecer sua aprendizagem”.
Portanto, para que se possa identificar a maneira como a criança raciocina, re-elabora
os conteúdos da aprendizagem formal e efetivamente aprende, ou não; é necessário que os
instrumentos utilizados sejam sensíveis o suficiente para captar aspectos de cada um dos
temas abordados até aqui. Como já mencionado, tradicionalmente, a psicopedagogia faz uso
de um extenso protocolo, próprio para esse fim; enquanto que, a proposta deste artigo é
apresentar um modelo de avaliação igualmente eficaz, mas de aplicação breve e que possa
compor um protocolo multidisciplinar.
Triagem e Avaliação psicopedagógica em equipe multidisciplinar
Quando a criança chega à sala do psicopedagogo pela primeira vez, ela encontra uma
mesa com materiais pedagógicos dispostos estrategicamente. O objetivo é que, na interação
com esse material, a criança forneça dados que possibilitem identificar, entre outros aspectos
de seu desenvolvimento e aprendizagem, preferências, aversões, reações evitativas, nível de
independência emocional e cognitivo, linguagem e conhecimentos adquiridos; ou seja,
manifestações cognitivo-afetivas do sujeito em situação de aprendizagem. O recurso utilizado
para isso é o aqui denominado de Mini EOCA. O Profissional utiliza a mesma solicitação
feita na EOCA tradicional proposta por Jorge Visca (1996, p.44): “... gostaria que você,
usando esse material, me mostrasse o que sabe fazer, o que lhe ensinaram, o que você já
aprendeu.” Enquanto a criança inicia ou não a exploração do material, o terapeuta registra
8425
aspectos dessa interação no protocolo Categorias da triagem psicopedagógica, Tabela 1, ao
mesmo tempo em que direciona a atividade da criança para início da testagem proposta no
Esquema seqüencial da triagem e avaliação Psicopedagógica, Tabela 2.
Tabela 1 – Categorias da Triagem psicopedagógica
Categoria Desempenho Vínculo com o ambiente escolar (1) Alterado (2) Não-alterado Vínculo com a aprendizagem da matemática (1) Alterado (2) Não-alterado Vínculo com a aprendizagem da linguagem escrita (1) Alterado (2) Não-alterado Desempenho acadêmico em relação à série em curso (1) Alterado (2) Não-alterado Desempenho na leitura (1) Alterado (2) Não-alterado Desempenho na escrita (1) Alterado (2) Não-alterado Desempenho na matemática (1) Alterado (2) Não-alterado Controle da atenção observado durante a triagem (1) Alterado (2) Não-alterado Organização e planejamento das ações (1) Alterado (2) Não-alterado Comunicação verbal (1) Alterado (2) Não-alterado Expressividade e tônus corporal (1) Alterado (2) Não-alterado Autonomia e criatividade no uso dos materiais (1) Alterado (2) Não-alterado
Os materiais pedagógicos mencionados anteriormente constituem o próprio material
avaliativo da triagem e também extensivo à avaliação completa, que pode ou não ser
realizada, dependendo da necessidade verificada a partir da análise desse primeiro
procedimento. São jogos confeccionados especificamente para esse fim, nos quais as
habilidades acadêmicas, cognitivas e aspectos vinculares são testados.
Tabela 2 - Esquema seqüencial da triagem e avaliação Psicopedagógica
Ações do psicopedagogo Estratégias do psicopedagogo Mini Entrevista Operativa centrada na aprendizagem – Mini EOCA
Elaboração de uma 1ª Categorização de desempenho da triagem psicopedagógica a partir de informações colhidas da Mini EOCA
Testagens
Elaboração de uma 2ª Categorização de desempenho da avaliação psicopedagógica, a partir dos resultados obtidos da aplicação das provas:
- Projetivas (par educativo e/ou família educativa);
- Leitura (reconhecimento do alfabeto, decodificação de palavras e pseudopalavras, compreensão e fluência leitora);
- Escrita (ditado, cópia e produção de texto);
- Operatórias (Seriação, classificação e conservação de quantidades);
- Conhecimentos da matemática (contagem, notação numérica, resolução de operações e de problemas orais e escritos).
Discussão interdisciplinar sobre os dados da Anamnese recolhidos pelo Serviço Social e Psicóloga.
Elaboração, em equipe multidisciplinar, de um relatório da avaliação aos pais, contendo os resultados por áreas pesquisadas.
Devolutiva multidisciplinar aos pais e criança.
Entrevista com o aprendiz, pais, e/ou demais pessoas envolvidas.
Encaminhamento do relatório de avaliação à Escola e convite para uma reunião em equipe, quando
Elaboração, em equipe multidisciplinar, de um relatório da avaliação para a escola contendo os resultados por áreas pesquisadas.
8426
necessário.
Para a avaliação do vínculo com a aprendizagem, a criança dispõe de folha de papel
sulfite, lápis preto e borracha. Recebe a solicitação própria para realizar as provas projetivas
Par Educativo e/ou Família Educativa (VISCA, 1998, p.21-30). Para a prova Par Educativo,
elaborou-se um modelo imprenso no qual os resultados encontrados são anotado, conforme
Figura 1.
Protocolo de Avaliação Psicopedagógica
PROVA PROJETIVA – “PAR EDUCATIVO” Material: papel sulfite, lápis preto e borracha Procedimento: pede-se ao entrevistado que desenhe duas pessoas; uma que ensina e outra que aprende. (anotar a forma como a atividade é realizada: dinâmica, temática e produto). _________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
Após conclusão, solicita-se:
� Relato do que foi desenhado ______________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
� Idade e nome de cada pessoa desenhada ____________________________________________
_________________________________________________________________________________
� Título para o desenho_____________________________________________________________
Resultados: Tipo de vinculação estabelecida ( + ou - )
� ( ) aprendizagem formal ou sistemática ( ) aprendizagem informal ou assistemática
� Ênfase em um dos itens abaixo Ênfase em um dos itens abaixo
( ) nos objetos de aprendizagem ( ) nos objetos de aprendizagem ( ) na pessoa que ensina ( ) na pessoa que ensina ( ) na pessoa que aprende ( ) na pessoa que aprende
� Posição do desenho – inferior: à esquerda ( ) à direita( ); superior: à esquerda ( ) à direita( )
� Distribuição do desenho na folha: ( ) uniforme ( ) irregular
� Tamanhos do desenho na folha: ( ) pequeno ( ) grande ( ) médio
� Correlação entre os detalhes dos desenhos, título e conteúdo do relato: sim ( ), Não ( )
Conclusão: _______________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
|_____|_____|______|_____|_____|_____|_____|
Figura 1 – Impresso da Prova Projetiva Par educativo
As provas operatórias ou piagetianas de seriação, classificação e conservação de
quantidade também possuem formulário impresso próprio, como medida a garantir o registro
de argumentações importantes realizadas pela criança no decorrer da atividade. Contudo,
neste trabalho esses modelos não serão apresentados. Ressalta-se que a aplicação de provas
piagetianas é um recurso utilizado exclusivamente na avaliação, e em algumas situações, é
substituído por procedimentos realizados por outros profissionais da equipe multidisciplinar,
principalmente da neuropsicologia.
Para a avaliação da leitura, escrita e conhecimentos matemáticos foram adaptadas ou
desenvolvidas provas que investigam essas habilidades, e os resultados são apresentados em
8427
um 2º relatório descritivo que categoriza o desempenho da criança ou adolescente em cada
um desses itens, de acordo com a Tabela 3.
Tabela 3 – Categorias da Avaliação psicopedagógica
Descrição da habilidade 1 2 3 Vínculo com Aprendizagem no ambiente escolar
Reconhecimento do alfabeto
Decodificação de palavras reais regulares
Decodificação de palavras reais irregulares Decodificação de palavras inventadas Fluência leitora
Leitura
Compreensão sintático-semântica Uso de letra cursiva, qualidade do grafismo Escrita pré-silábica
Escrita silábica alfabética
Escrita alfabética
Normatização (uso de letras maiúsculas, parágrafos, pontuação)
Correspondência letra som em sílabas diretas ou regulares
Correspondência letra-som em sílabas complexas: invertidas (VC), representações múltiplas, dígrafos, encontros consonantais e fonemas nasais
Correspondência letra som em pares surdos / sonoros Escrita baseada na fala coloquial Hipercorreção Omissões, deslocamentos ou acréscimos de letras Segmentações e/ou junções inadequadas Troca na direção das letras ou algarismos (visual) Coerência e coesão na produção escrita
Escrita
Uso de acentuação
Compreensão do sistema numérico decimal (contagem e notação)
Operações matemáticas (+, -, x, : )
Problemas apresentados oralmente
Apr
endi
zage
m F
orm
al o
u S
iste
mát
ica
Raciocínio Matemático
Problemas apresentados de forma escrita Raciocínio de conservação de quantidades Raciocínio de classificação
Desenvolvimento cognitivo
Raciocínio de seriação Legenda do Nível do desempenho: 1 – Alterado 2 – Em desenvolvimento 3 – Conservado
Considerações Finais
Face à necessidade de um procedimento de triagem e avaliação psicopedagógica breve
a compor um protocolo multidisciplinar, a proposta aqui apresentada vem sendo bem aceita
pela equipe terapêutica e está cumprindo seu objetivo, o de realizar um diagnóstico amplo,
dentro de sua especificidade com qualidade e rapidez.
8428
Até o momento foram realizadas 15 triagens e 10 avaliações, seguindo esse modelo.
Nesse percurso, o protocolo foi alterado em vários aspectos, com o objetivo de adequar-se ao
que se espera do instrumento. Acredita-se que ao ser exposto aos profissionais da área, novos
olhares críticos possam surgir e, assim, enriquecê-lo.
Referências AJURIAGUERRA, Julian de. Piaget e a neuropsiquiatria. In: BANKS-LEITE, Luci; MEDEIROS, Ana A. de. (Orgs.) Piaget e a escola de genebra. São Paulo: Cortez, 1992, p. 124-138). BANKS-LEITE, Luci; DOMAHIDY-DAMI, Catherine. As provas operatórias no exame das funções cognitivas. In: ______; MEDEIROS, Ana A. de. (Orgs.) Piaget e a escola de genebra. São Paulo: Cortez, 1992, p.111-123.. CAGLIARI, Luiz C. Alfabetização e lingüística. São Paulo: Scipione, 1997. _____. Alfabetizando sem o bá-bé-bi-bó-bu. São Paulo. Scipione, 1998. COLL, César; MARTÍ, Eduardo. Aprendizagem e desenvolvimento: a concepção genético-cognitiva da aprendizagem. In: _____; MARCHESI, Álvaro; PALACIOS, Jesus. (Orgs). Desenvolvimento psicológico e educação 2: psicologia da educação escolar. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2004, p.45-59. DORNELES, Beatriz, V. Obstáculos cognitivos na aprendizagem matemática inicial: a contagem, as operações iniciais e os diferentes sentidos de número. In: Aprendizagem: tramas do conhecimento, do saber e da subjetividade. MALUF, Maria Irene (Coord.). Petrópolis, RJ: Vozes: São Paulo: ABPp-Associação Brasileira de Psicopedagogia, 2006, p. 131-143. FARACO, Carlos Alberto. Escrita e alfabetização. São Paulo: Contexto, 1992. MORO, Maria L. F. Implicações da epistemologia genética de Piaget para a educação. In PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza. (Org) Psicologia e educação: revendo contribuições. São Paulo: Educ, 2002, p.117-144. OLIVEIRA, Raquel Pinto de et al. Instrumentos psicopedagógicos de avaliação e/ou diagnóstico. In: Aprendizagem: tramas do conhecimento, do saber e da subjetividade. MALUF, Maria Irene (Coord.). Petrópolis, RJ: Vozes: São Paulo: ABPp-Associação Brasileira de Psicopedagogia, 2006, p. 112-130. SCLIAR-CABRAL, Leonor. Guia prático de alfabetização. São Paulo: Contexto, 2003. SOARES, Magda. B. Alfabetização e letramento: caminhos e descaminhos. Revista Pátio. Porto Alegre, ano VIII, n. 29: p.19-22, fev/abril, 2004.
8429
STOLTZ, Tânia. Vigotski. Curitiba, 2004. Notas de aula da disciplina Educação e trabalho: dimensão neurobiológica, professora Marta Pinheiro, Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Paraná. VISCA, Jorge L. Psicopedagogia: novas contribuições. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991. VISCA, Jorge L. Clinica psicopedagogica: epistemología convergente. 2. ed. Buenos Aires: Edição do autor, 1994. VISCA, Jorge L. Psicopedagogia: teoria, clínica e investigação. 2. ed. Buenos Aires: Edição do autor, 1996. VISCA, Jorge L. Técnicas Proyectivas psicopedagogicas. Buenos Aires: Edição do autor, 1998.