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AVALIAÇÃO DA APLICAÇÃO DA
FERRAMENTA PRODUÇÃO MAIS
LIMPA EM LABORATÓRIO DE
ANATOMIA PATOLÓGICA E
CITOLOGIA: UM ESTUDO DE CASO EM
UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO.
MARIA DE FATIMA NOBREGA BARBOSA (UFCG )
Ana Flavia Alves de Lima (UFCG )
Os laboratórios de anatomia patológica e citologia - LAPC, auxiliam
na produção do conhecimento científico e também podem produzir um
passivo ambiental significativo em virtude dos processos que utiliza.
Os riscos de contaminação estão semppre presentes na maior parte dos
processos da produção dos serviços laboratoriais. Além das
substâncias perigosas como metais pesados, ácidos e sais que possuem
risco potencial de contaminar as pessoas e os recursos naturais, a
segurança dos trabalhadores também se configura como um fator
importante a ser considerado no gerenciamento ambiental. Este
trabalho busca identificar as oportunidades de aplicação da
ferramenta de gestão ambiental Produção Mais Limpa em um
laboratório de anatomia patológica e citologia de um hospital
universitário, como forma de propor a redução de impactos ambientais
bem como desenvolver uma maior sensibilização com relação às
questões ambientais entre os funcionários e gestores, dando ênfase a
importância da mudança de percepção e de pensamentos em prol da
sustentabilidade.
Palavras-chave: Produção Mais Limpa, laboratórios, resíduos
químicos, sustentabilidade
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
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1. Introdução
Os laboratórios de anatomia patológica e citologia – LAPC - são indutores nos processos de
produção do conhecimento científico, nos quais sempre é exigida a comprovação das
hipóteses diagnósticas por meios seguros e confiáveis e, portanto, o papel do laboratório na
instituição hospitalar é imprescindível. Embora seja um importante instrumento que contribui
para o desenvolvimento da ciência, o laboratório de anatomia patológica e citologia (LAPC),
ao usar reagentes químicos, pode gerar importantes danos ambientais, através da
contaminação do ar, do solo, dos recursos hídricos, como também colocar em risco a saúde de
funcionários e da comunidade em geral.
Os reagentes químicos são, segundo Fernandes Júnior et al (2011), substâncias com alto poder
de contaminação que contém metais pesados, bem como os ácidos e os sais em geral, cujos
potenciais poluidor/contaminante demandam a necessidade de adoção de um plano de manejo
adequado, que vise reduzir os riscos para as pessoas e para o meio ambiente.
Os resíduos químicos gerados em LAPC são classificados, de acordo com a NBR 10004
(2004), como sendo de classe I, podendo-se mencionar o formaldeído, o óxido de mercúrio, o
sulfato de mercúrio, o acetato de chumbo neutro, o óxido de chumbo, a hematoxilina e o xilol.
Os resíduos sólidos produzidos nas diversas atividades dos laboratórios, também conhecidos
como resíduos dos serviços de saúde – RSS, ao serem destinados de modo incorreto, poderão
provocar danos ambientais e patologias diversas às populações que habitam nas proximidades
de aterros ou de lixões a céu aberto.
No caso dos reagentes químicos, a presença de mercúrio e chumbo no corpo dos seres vivos
pode acarretar severos danos à saúde. Estes elementos são conhecidos como metais pesados e
tem efeito cumulativo quando ingeridos, inalados ou absorvidos pela pele, causando lesões
graves nos diversos órgãos e no sistema nervoso central, inclusive neoplasias.
A presença de mercúrio no corpo humano pode causar lesões graves nos rins, fígado e nos
sistemas digestivo e nervoso central, segundo Alexandre (2006). A autora afirma que o
mercúrio em solos e em ambientes aquáticos passa por transformações físico-químicas,
formando compostos organometálicos, a exemplo do metilmercúrio, que pode ser absorvido
por peixes e outros organismos e que poderão, posteriormente, atingir seres humanos.
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Um estudo de caso realizado em um laboratório de análise de água para implantar um Sistema
de Gestão Ambiental, realizado por Batalha et al (2005), levantou os aspectos e impactos
inerentes e decorrentes das atividades deste. Os resultados demonstraram que as maiores
frequências de aspectos nocivos ao meio ambiente foram geração de resíduos sólidos e de
efluentes, seguidos de consumo de energia e água, geração de calor e emissões atmosféricas,
os quais causam os seguintes impactos: poluição do solo, poluição hídrica, atmosférica e o
uso considerável de recursos naturais.
Portanto, o conhecimento dos impactos ambientais resultantes das entradas (inputs), saídas
(outputs) ou mesmo dos processos de execução de serviços em LAPC possibilitará a sua
resolução em prol da melhoria da qualidade de vida dos próprios empregados bem como da
sociedade, em termos de segurança, preservação de recursos naturais e melhoria nos níveis de
sustentabilidade para as gerações presentes e futuras.
Neste contexto, torna-se imprescindível a melhoria do desempenho ambiental dos laboratórios
através da aplicação de ferramentas de gestão ambiental, a exemplo da Produção Mais Limpa
– P+L, como uma estratégia ambiental preventiva integrada para aumentar a ecoeficiência e
evitar ou reduzir os danos ao homem e ao meio ambiente, podendo ser aplicada no setor
industrial, em seus processos e produtos, bem como no setor de serviços (UNIDO, 2012).
O setor de serviços tem uma importância significativa na sociedade pela posição que ocupa na
economia, através da participação no Produto Interno Bruto, na geração de empregos e pela
análise de tendências e transformações pelas quais a sociedade está passando (GIANESI e
CORRÊA, 1996).
Desta forma, os laboratórios hospitalares devem participar da busca constante de melhoria da
qualidade em processos de prestação de serviços, cada vez mais crescente no Brasil (SBPC,
2005).
Além de promover a atenção com excelência aos pacientes, aos laboratórios cabe buscar
produzir de modo mais limpo, agindo proativamente, a fim de contribuir com a melhoria da
qualidade ambiental. Diante do exposto, o problema desta pesquisa pode ser enunciado da
seguinte maneira: que aspectos ambientais inerentes ao processo de execução dos serviços do
LAPC podem ser melhorados a partir do uso da ferramenta de P+L?
2. Objetivo
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Identificar oportunidades de aplicação de P+L como forma de melhoria do desempenho
ambiental de processos de execução de serviços desenvolvidos em um LAPC.
Para tanto, este trabalho está estruturado em cinco partes: além da introdução e do presente
objetivo, na terceira parte consta a fundamentação teórica que traz os conceitos da ferramenta
P+L, a utilização e os resultados da ferramenta como forma de mudar realidades na gestão
ambiental e as diferenças entre as tecnologias de fim-de-tubo e a ferramenta Produção Mais
Limpa; a quarta parte trata da metodologia enfocando o tipo de pesquisa, a qual se trata de um
estudo de caso realizado no Laboratório de Anatomia Patológica e Citologia de um Hospital
Universitário; na quinta parte, os resultados mostram a situação atual da execução dos
serviços de realização dos exames escolhidos para o estudo (anatomopatológico e citologia); e
as considerações finais trazem as sugestões de melhoria a partir do uso da ferramenta P+L
para uma efetiva aplicação que venha trazer modificações em termos de ganhos ambientais.
3. Fundamentação Teórica
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA desenvolveu o conceito de
Produção Mais Limpa ou P+L, descrevendo-o como um enfoque preventivo de gestão
ambiental (GASI E FERREIRA, 2006). A aplicação desta ferramenta irá refletir uma
mentalidade de produzir com impacto ambiental bastante reduzido, obedecendo ao que
preceitua os princípios da Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, ou seja, dentro dos atuais limites tecnológicos e econômicos, sem se
contrapor ao crescimento.
Este modelo de produção chamado P+L também considera que resíduos são produtos com
valor econômico negativo, uma vez que estes podem gerar passivos ambientais quando
gerenciados de maneira incorreta.
A Produção Mais Limpa ou cleaner production, é definida por Barbieri (2007, p. 134), como
sendo uma estratégia ambiental preventiva aplicada a processos, produtos e serviços para
minimizar os impactos sobre o meio ambiente. Desde a década de 1980, este modelo vem
sendo desenvolvido pelo PNUMA e pela Organização das Nações Unidas para o
Desenvolvimento Industrial (Onudi), dentro do esforço para instrumentalizar os conceitos e
objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
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A ferramenta P+L é, segundo Silva e Medeiros (2006), a aplicação contínua de uma estratégia
ambiental preventiva integrada aos processos, produtos e serviços para aumentar e
ecoeficiência e reduzir riscos à sociedade e ao meio ambiente.
A metodologia checkland (que visa comparar o sistema de produção atual com o modelo
conceitual utilizado pela empresa), foi utilizada por Silva (2007), que definiu ações
necessárias para a adoção da ferramenta P+L nas operações de serviços, a partir da
estruturação de problemas ao meio ambiente, focalizando relações humanas, construção social
das decisões e interações com o meio ambiente. Neste estudo, a autora buscou comparar
empresas com e sem práticas ambientais e concluiu que as diferentes culturas organizacionais
poderão interferir nas visões acerca dos propósitos para a implementação da ferramenta P+L.
As tecnologias de “fim-de-tubo“, segundo o Centro Nacional de Tecnologias Limpas (2003)
procuram resolver os efeitos da poluição no fim do processo produtivo, sem, no entanto,
resolver o problema onde o mesmo é gerado. Ademais, a ferramenta P+L é uma estratégia
tecnológica de caráter permanente e preventivo.
Segundo o Centro Nacional de Tecnologias Limpas – CNTL (2003) as empresas que adotam
tecnologias de “fim-de-tubo” apenas controlam a poluição no fim do processo sem, contudo,
combater as causas do problema, ou seja, os impactos são controlados, mas os aspectos
continuam existindo. A tabela 1 abaixo mostra as diferenças entre tecnologias de “fim-de-
tubo” e Produção Mais Limpa.
Tabela 1 – Diferenças entre tecnologias de “Fim-de-Tubo” e Produção Mais Limpa.
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Fonte: Centro Nacional de Tecnologias Limpas (2003)
A implementação de P+L em empresas prestadoras de serviços, segundo Silva e Medeiros
(2006), deve ser realizada de maneira diferenciada, considerando as características de cada
setor, tais como o grau de contato com o cliente, o grau de personalização, julgamento pessoal
dos funcionários e a tangibilidade do serviço.
Para a aplicação do Programa de P+L, a CNTL (2003) desenvolveu uma metodologia, a qual
utiliza, inicialmente, a pré-sensibilização dos envolvidos, através de uma visita técnica, onde
se fará a exposição de casos bem sucedidos, ressaltando benefícios econômicos e ambientais.
Em seguida, são elaborados estudos, diagnósticos, avaliações técnicas, econômicas e
ambientais para posterior elaboração de planos de implantação e aplicação da ferramenta.
Na metodologia de P+L, a qual inclui a realização da visita técnica, ocorrerão cinco
etapas descritas na figura 1, a seguir.
Figura 1- Passos para implantação de um programa de Produção Mais Limpa
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Fonte: Adaptado do CNTL (2003)
A visita de pré-sensibilização consta de uma apresentação dos pontos relativos à prevenção
como etapa anterior às ações de fim-de-tubo. Após a realização da visita técnica, a etapa 1
contempla as sub-etapas referentes à obtenção do comprometimento gerencial, a partir da
sensibilização da gerência ou da alta cúpula; a identificação de barreiras, o estabelecimento da
amplitude do programa e a formação do ecotime, que realizará diagnósticos, a implantação,
identificará oportunidades de P+L, além de monitorar e dar continuidade ao programa.
A etapa 2 constitui-se da realização do estudo do fluxograma dos processos; a etapa 3 consiste
na análise quantitativa das entradas e saídas e o estabelecimento de indicadores; a etapa 4
constitui-se de da avaliação técnica, ambiental e econômica, bem como a seleção de
oportunidades viáveis; a etapa 5 e última requer a constituição do plano de implantação e
monitoramento e do plano de continuidade.
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As etapas constantes da metodologia possibilitam despertar a percepção dos envolvidos
quanto às possibilidades de implantação deste sistema de gestão, estruturado, entretanto mais
simples que um sistema de gestão ambiental completo, sendo este adaptado ao porte e ao
segmento no qual a empresa atua.
No caso de LACs, as descrições dos processos de execução dos serviços e a caracterização
das saídas permitirão identificar quais as práticas de P+L que deverão ser utilizadas para
melhorar o desempenho ambiental destes.
4. Metodologia
A abordagem da pesquisa será quali-quantitativa, em virtude da necessidade de utilização de
dados para a compreensão e interpretação dos aspectos a serem observados no ambiente
objeto de estudo focando em dois processos de execução de serviços (realização de exames
anatomopatológicos e citológicos).
O método escolhido é o estudo de caso realizado no Laboratório de Anatomia Patológica e
Citologia de um Hospital Universitário. A escolha do LAPC deveu-se ao número considerável
de procedimentos ali realizados e à importância do mesmo para o Hospital. O instrumento de
coleta utilizado foi entrevista semiestruturada. Foram entrevistadas duas bioquímicas
responsáveis pela execução dos exames anatomopatológicos e citológicos. O roteiro da
entrevista se baseou na ferramenta de P+L a partir do modelo proposto pelo Guia de Produção
Mais Limpa (CNTL, 2003).
5. Apresentação e Análise dos Resultados
A identificação do processo de execução dos serviços e suas respectivas etapas, bem como os
aspectos ambientais presentes em cada etapa, tornam-se imprescindíveis para o levantamento
das condições ambientais dos processos de trabalho no LAPC. As figuras 1 e 2 abaixo
representam as etapas encontradas nos processos de realização de dois tipos de exames: o
anatomopatológico e o citológico.
Quanto ao processo de execução do exame anatomopatológico, este está composto de 6 etapas
(ver figura 2).
Figura 2 - Processo de execução do exame anatomopatologico
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Tratando-se do processo de execução do exame citológico, este está composto de 4 etapas e
encontra-se descrito na figura 3, abaixo:
Figura 3- Processo de execução do exame citológico
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Uma vez identificadas as etapas de cada processo de execução dos serviços acima descritos,
foram analisadas as entradas e saídas de cada etapa dos exames, os equipamentos utilizados,
os consumos de materiais, geração de resíduos e, por fim, propostas de melhorias a partir da
ferramenta de produção mais limpa (figura 4).
Figura 4 - Entradas e saídas das etapas de execução do exame anatomopatológico
ENTRADAS PROCESSO SAÍDA
Energia elétrica
Material (peça anatômica)
Recipiente (vidro/plástico)
Papel (requisição)
Chegada do paciente
Entrega do material (peça) para
cadastro
Cadastro interno do paciente
Protocolo para paciente
Água e sabão
Energia elétrica
Preparo da peça Desprezo de efluentes
Bisturi descartável
Luva
Mascara
Energia elétrica Uso do Histotécnico Resíduos: recipiente
Álcool, Xilol e parafina
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Parafina
Energia elétrica
Resfriamento Resíduos: parafina
Lâmina e corante (hematoxilina)
Energia elétrica Leitura no microscópio -
Energia elétrica
Papel
Tinta de impressora
Impressão dos resultados
Papel
As etapas de execução do exame anatomopatológico iniciam-se com a chegada do paciente ao
LAPC. No momento da entrega da peça anatômica, é realizado o cadastro do exame. Após o
cadastro, é impresso o protocolo e este é entregue ao paciente.
Em seguida, o material (peça anatômica) é enviado ao setor de realização de exames, onde são
realizados a clivagem da peça, que é o corte para diminuir o seu tamanho e facilitar o exame.
Em seguida, o tecido humano é processado no equipamento chamado histotécnico, o qual irá
retirar a umidade da peça anatômica, utilizando-se formaldeido, xilol, álcool e parafina a 60º
Celsius, em quatro etapas distintas, com duração de 1 hora cada uma delas.
O corte que é feito em seguida visa diminuir ainda mais o tamanho da peça a ser examinada e
o resfriamento permite uma melhor fixação do material. Para a clivagem ou corte, utiliza-se o
micrótomo e para o resfriamento uma geladeira comum.
A coloração utilizando-se corantes permite melhorar a visualização do material no
microscopio. Para isso, são usados os corantes hematoxilina, orange e o EA36.
Ao final, a emissão de laudo técnico indica o resultado do exame anatomopatológico, ou seja,
o que foi encontrado através da visualização microscópica.
Quanto às quantidades de material e recursos utilizados para as entradas na realização do
exame anatomopatológico têm-se:
a) Papel : 2 folhas tamanho “A4”/por paciente ( 1 folha para requisição, outra
para resultado do exame);
b) Água: 500 ml (para cada exame);
c) Sabão: 5 ml (para cada exame).
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As quantidades de material ou insumos para cada paciente são pequenas, no entanto, se for
considerada a quantidade anual de realização do exame, 2.800/ano, percebe-se que foram
gastos:
a) Papel: 5.600 folhas de papel tamanho A4;
b) Água: 1.400 litros;
c) Sabão: 14 litros.
As etapas de execução do exame citológico são mostradas na figura 4 abaixo.
Figura 4 - Entradas e saídas das etapas de execução do exame citológico
ENTRADAS PROCESSO SAÍDA
Energia elétrica
Papel (requisição)
Chegada do paciente
Cadastro
Protocolo para paciente
Cadastro interno do paciente
Água e Sabão
Tubos com lâminas
Energia elétrica
Álcool, Xilol, Corante, Verniz
Máscara e luva
Laminulas
Montagem das lâminas Material químico
Mascara e luva
Energia elétrica Leitura no microscópio -
Energia elétrica
Papel
Fita da impressora
Impressão dos resultados Papel
Para as etapas de realização dos exames descritos acima, são utilizados corantes –
Hematoxilina, Orange ou EA36 – álcool a 70% e a 99%, Xilol e verniz acrílico.
Destes materiais químicos, o que mais representa perigo para a saúde humana e o meio
ambiente é o Xilol, composto orgânico volátil, pois é nocivo e inflamável, além de provocar
dores de cabeça, tosse, dificuldades respiratórias, perda de memoria, dermatites, irritação
ocular e depressão no sistema nervoso central. Ele é utilizado para diafanizar o material, ou
seja, deixá-lo o mais transparente possível.
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O Xilol é um material químico classificado pela resolução nº. 358, de 29 de abril de 2005, do
Conselho Nacional de Meio Ambiente (BRASIL, 2005), como pertencente ao grupo B,
devendo ter destinação final diferenciada, ou seja, ser tratado por empresa especializada.
Os tubos são descartados como resíduo infectante, também obedecendo a Resolução Conama
nº. 358/2005.
As lamínulas não são descartadas, pois são arquivadas por cinco anos, como recomenda
Parecer do Conselho Federal de Medicina nº. 27/94. Quando finda este prazo, o material é
entregue ao pessoal de apoio responsável pela coleta do resíduo infectante para ser
encaminhado à empresa especializada.
Outro reagente utilizado é o corante (hematoxilina) para ser adicionado ao material para
melhorar a visualização. O descarte deste tipo de material também deve obedecer a RDC nº.
306/2004 da ANVISA. Devendo receber tratamento prévio ou ser recolhido por uma empresa
contratada para a destinação ambientalmente segura deste resíduo.
O controle de consumo de água não é realizado por setor, uma vez que a fatura demonstra o
consumo total do prédio. Da mesma forma, acontece com a fatura do consumo de energia
elétrica. No entanto, para a realização de exame citológico foram estimados os totais para:
a) Água: 500 ml;
b) Papel: 2 fls. Tamanho A4;
c) Álcool: 2 ml;
d) Corante: 3 ml para cada lâmina;
e) Sabão: 10 ml.
De acordo com o total de exames realizados em 2015, 1.500 exames, têm-se as seguintes
quantidades anuais:
a) Água: 750 litros;
b) Papel: 3.000 fls. tamanho A4;
c) Álcool: 3 litros;
d) Corante: 4,5 litros;
e) Sabão: 15 litros.
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Os riscos provenientes do descarte do material químico na pia são, além dos efluentes
contendo agentes tóxicos, o fato da evaporação dos resíduos que se depositam no sifão da pia,
pois podem evaporar e contaminar o ar. Em relação às emissões gasosas, o LAPC não dispõe
de aparelhos para medir as quantidades geradas, sendo necessário realizar outras pesquisas
sobre segurança do trabalho, utilizando-se aparelhos específicos para estas medições, que
poderão ser cedidos pelos laboratórios da universidade. Encontrados os resultados e
comparados com a legislação de segurança e saúde do trabalhador, devem ser aplicadas
medidas de minimização destes aspectos nocivos aos funcionários.
A manutenção dos equipamentos utilizados para realização dos exames de anatomopatologia
é realizada por empresas contratadas para este fim.
A Sociedade Brasileira de Patologia Clínica (SBPC, 2005) recomenda o uso de luvas e de
máscaras para proteção das mãos e das vias respiratórias, respectivamente, antes e após o
contato com cada material a ser examinado. O Xilol é um material químico que pode
favorecer o aparecimento de rachaduras na pele das mãos.
Para a higienização das mãos, a fricção com álcool diminui em 1/3 o tempo despendido pelos
profissionais de saúde para a higiene das mãos, porém as desvantagens do uso do álcool são o
odor que fica nas mãos e a inflamabilidade das soluções de etanol acima de 70%.
6. Considerações finais
Em relação ao consumo de água (no uso doméstico – asseio pessoal) e de energia elétrica,
medidas educativas esclarecerão os tempos de uso correto para abertura de torneiras e desligar
equipamentos e interruptores quando não estiverem em uso.
Nos processos de realização dos exames a previsão de redução de insumos não é necessária,
uma vez que os controles de quantidades atendem rigorosamente às demandas mensais e os
estoques são controlados e vistoriados de modo que os produtos não passem do prazo de
validade antes de seu uso. Neste caso, não é necessário o corte de gastos, uma vez que o
trabalho com material de forma limitada implicaria em perda de qualidade dos serviços.
O que deve ser observado é a questão dos efluentes em relação ao despejo do material
químico na pia que, além de serem resíduos contaminantes, ao evaporar no sifão acaba por
contaminar o ar e a rede de esgoto que vai acabar por contaminar os corpos d´água da bacia
hidrográfica do município. Como trata-se de RSS, estes devem ser descartados atendendo à
Resolução RDC ANVISA nº. 306/2004.
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A verificação de oportunidades de aplicação da ferramenta P+L implica em ganhos
econômicos atraentes e reduções significativas nos impactos ambientais. O atendimento à
legislação evita o recebimento de sanções como multas e outras penalidades e a adoção do
Programa de P+L traz vários benefícios ambientais tais como, o conhecimento dos processos,
a eliminação dos desperdícios, a minimização de matérias-primas, redução de resíduos e de
emissões, além de incremento na saúde e segurança no trabalho. Além do mais, a adoção de
P+L contribui para melhorar a imagem da empresa e ampliar a conscientização ambiental dos
funcionários.
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