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Avaliação do “Zoneamento Ambiental para atividades de mineração do Lago
Guaíba”
A AMA - Associação Amigos do Meio Ambiente é uma ONG sediada no município de
Guaíba, e que dentre suas diversas atividades possui assento no Comitê de Gerenciamento da
Bacia Hidrográfica do Lago Guaíba, na categoria Entidades Ambientais, e esta acompanhando a
discussão da mineração de areia no Guaíba. Através da presente avaliação expomos a posição
da entidade quanto a esta questão.
Apesar de estar em elaboração o ZEE - Zoneamento Ecológico-Econômico do RS, e de
haver solicitação de concessão de tutela provisória de urgência, do Ministério Público Federal,
na Ação Civil Pública nº 5010680-93.2013.4.04.7100 para que:
"a) sejam suspensos, até a conclusão do Zoneamento
Ecológico-Econômico, todos os procedimentos administrativos que
tramitam na FEPAM e no DNPM tendentes à liberação da exploração
da atividade de mineração de areia no Lago Guaíba, inclusive as
autorizações para pesquisa, sob pena de multa diária de R$ 5.000,00
(cinco mil reais) para a hipótese de descumprimento;
b) seja determinado à FEPAM e ao DNPM que informem nos
autos todos os processos em tramitação naqueles órgãos, ativos ou
sobrestados, para licenciamento da extração de areia no Lago Guaíba,
devendo ser declinados I) o número do processo no órgão; II) os nomes
das partes interessadas; III) o andamento atual do processo; IV) se já
foi deferida qualquer tipo de licença, também sob pena de multa diária
de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para a hipótese de descumprimento da
determinação.” (MPF, 2016)
O Comitê do Lago, demandado pelo setor da mineração, está propondo discutir um
zoneamento específico para a atividade de mineração de areia no Guaíba, que, segundo a
presidência do Comitê, teria caráter complementar ao ZEE.
A SEMA – Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, também
demandada pelo setor da mineração, apresentou uma proposta para este zoneamento em reunião
do Comitê realizada em 24/05/16, e em 20/06/16 encaminhou um relatório que deveria embasar
esta proposta de zoneamento.
Os conselheiros do Comitê teriam prazo, inicialmente, até dia 04/07 para manifestarem-
se quanto à proposta, este prazo foi estendido até 12/07. A proposta será discutida em reunião
ordinária do Comitê no dia 19/07.
A AMA consultou técnicos das áreas pertinentes ao tema com o intuito de realizar uma
avaliação independente e técnica da referida proposta, um contraponto, já que entendemos que o
documento apresentado, no mínimo, carece de rigor técnico.
Cabe salientar que nossa entidade entende a importância da atividade de mineração de
areia e seu papel em nossa economia, porém, adiantando, não nos parece que esta proposta de
zoneamento tenha bases suficientes para subsidiar, de maneira segura, a decisão de autorizar a
realização desta atividade no Guaíba.
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Primeiramente ressaltamos que o tempo disponibilizado para a avaliação do material
apresentado foi curto, neste sentido não foi possível a inclusão da análise de diversos técnicos
consultados, comprometendo assim nossa contribuição com este debate.
Esta avaliação do documento com a proposta de “Zoneamento ambiental para atividade
de mineração no Lago Guaíba”, parte da forma, estrutura e apresentação geral, até a análise dos
pontos específicos.
O estado geral do documento disponibilizado, como base para a proposta de
zoneamento, é de um relatório sem referências ou referências indevidas, contendo cópias literais
de artigos sem a adequada citação e referência, o que se configura como plágio, e não possibilita
consultar o texto original, além disto, esta mal estruturado e claramente não passou por revisão.
O leitor não é conduzido por um trabalho fluido, com objetivos e métodos claros, dados e
resultados sólidos, que deem base para uma proposta com conclusões consistentes. Não se teve
cuidado com as figuras, gráficos e tabelas apresentadas. Muitas das ilustrações com baixa
resolução, ou em escala muito reduzida, dificultando (ou não possibilitando) a visualização.
Diferentes capítulos contêm repetição de parágrafos e informações deslocadas ou misturadas,
muitas vezes fora de contexto, faltando o que realmente se esperava de embasamento para cada
tema tratado. Enfim, um péssimo exemplo acadêmico e técnico. Perguntamos: essa realmente é
a versão final do documento para avaliação do Comitê do Lago? É alarmante a falta de
seriedade para um tema de grande complexidade e potencial de graves repercussões
socioambientais e econômicas para toda a região.
O capítulo “Apresentação” não contextualiza o leitor ao problema e o que esperar desse
documento. Isso é o que se espera de uma apresentação – subsídios para o leitor sobre qual o
conteúdo. São apresentadas informações que não são nem citadas no desenvolvimento do
relatório, muito menos comprovadas que são verdadeiras: “É preciso considerar que a abertura
de pontos de extração de areia no Lago Guaíba seria uma alternativa à mineração no Jacuí
(principal formador do Lago), que está com suas reservas reduzidas, bem como o
desassoreamento do Lago, minimizando o risco de inundações e aumentando a sua capacidade
de autodepuração...”; a afirmação de que “não foi constatado nenhum dano ambiental referente
à mineração” (durante o período que se realizou a mineração no Guaíba) não é sustentada ao
longo do trabalho e é até contradita no capítulo do Meio Biótico. Quanto à minimização do risco
de inundações: qual o volume de areia deveria ser retirado para refletir nas inundações? Quanto
à afirmação sobre um possível aumento em sua capacidade de autodepuração: A remoção do
substrato do fundo do Guaíba aumentaria a capacidade de autodepuração? Como este processo
ocorre? Esta informação é absolutamente questionável. Entendemos que com a remoção do
substrato de fundo, estão sendo removidos também organismos bentônicos decompositores
(bactérias, fungos) e detritívoros (invertebrados trituradores de matéria orgânica, raspadores,
perfurados, filtradores de matéria particulada fina, predadores, etc.), responsáveis por grande
parte dos ciclos biogeoquímicos da matéria no ambiente aquático. A remoção controlada do
sedimento de ambientes aquáticos é uma ferramenta para o tratamento de lagoas eutrofizadas,
objetivando diminuir o grau de eutrofização, uma vez que se está retirando matéria orgânica e
nutrientes do sistema, que estavam armazenados no compartimento "sedimento". Mas
entendemos não ser este o caso da extração de areia para fins comerciais.
Ainda ficam algumas perguntas: Qual é o corpo técnico do grupo de trabalho
responsável por este estudo e proposta? São todas aquelas pessoas que vem no final do texto?
Os responsáveis deveriam vir logo no início do documento, com informações mais completas
sobre cada formação, especialidade e sobre qual parte cada técnico/a é responsável. Foram
feitas somente compilação de dados ou o grupo executou algum estudo especifico? Quais foram
as entidades ou órgãos parceiros, por que estes não “assinam” também o documento?
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O capítulo “Introdução e Objetivos”, não introduz o tema, não dá uma justificativa clara
ao estudo e não apresenta o objetivo do zoneamento. O que está escrito como objetivo é
meramente a reprodução do parágrafo II do art. 17°, do Código Estadual do Meio Ambiente
(Lei 11.520/2000). De certa maneira, há objetivos descritos no capítulo anterior - Apresentação
- “Este zoneamento servirá para definir as áreas e períodos de exclusões, onde não ocorrerá a
extração de areia, além de definir as melhores metodologias para o monitoramento biológico
que servirá para avaliar a qualidade ambiental do Guaíba durante a possível operação de
extração de areia”. Mas no capitulo “Introdução e Objetivos” não há nada, confuso isso, não?
No capitulo “Abrangência Geográfica”, onde está a figura de localização? A “Figura 1”
citada, não tem nada a ver com este capitulo, é um gráfico climático. Neste capítulo, poderia se
falar da Bacia Hidrográfica do Guaíba como um todo, citando os rios que desaguam no lago,
falar sobre as sub-bacias, entre outras coisas, com figuras (sobretudo mapas) abrangendo todo o
contexto da Bacia, e mais especificamente do Guaíba, contendo a área, os municípios que fazem
margem, etc. Realmente localizando, apresentando espacialmente a área de estudo. Ainda, é
fundamental a conferencia dos dados, pois a população estimada, apresentada para a bacia, é
igual à 1.285.614 habitantes, Qual a referencia deste dado? Só Porto Alegre tem população
estimada para 2015 de 1.476.867 hab. (IBGE, 2016). Dados do Parecer Técnico Nº 3038/2008
do Ministério Público do RS apresenta uma população média total para os municípios que
abrangem a Bacia é de 2.122.810, sendo uma população total com influência direta na Bacia
Hidrográfica de 964.766 habitantes (Scheeren et al., 2008). O texto também apresenta variações
(mesmo que pequenas) da área do Guaíba (confirmando a falta de revisão). A apresentação dos
dados populacionais e de área do Guaíba de maneira correta e atualizada, não é questão menor,
e demonstraria a solidez, seriedade e rigor do trabalho.
O capítulo “Método de Trabalho”, não apresenta os métodos. Esse capítulo deveria ser
completo e abranger além dessa “introdução”, realmente quais foram os materiais e métodos
utilizados para avaliar e subsidiar o zoneamento. Todos os métodos técnicos utilizados para
avaliação do meio físico, biótico, etc. As metodologias não podem estar perdidas em cada
capítulo. O texto diz que “O zoneamento foi elaborado a partir da integração e interpretação
de dados obtidos em diagnósticos multi e interdisciplinares das condições dos meios físico,
biótico e socioeconômico...”. Quais foram os dados e diagnósticos? Estes foram levantados pelo
grupo de trabalho diretamente ou são fruto de compilação de dados somente? Todos os órgãos
citados foram realmente consultados e considerados? Foram consultadas todas as Prefeituras
Municipais ou somente Porto Alegre? Por que o CECO - Centro de Estudos de Geologia
Costeira e Oceânica da UFRGS está citado no documento, já este se manifestou publicamente
comunicando NÃO ter participação em pesquisa sobre mineração no Guaíba, nem ter convênios
com a SEMA?
A avaliação do Meio Físico é um verdadeiro desastre. Meio Físico compreende
Geologia, Geomorfologia, Clima (temperatura, precipitações e ventos), Sedimentologia, entre
outras coisas, que poderiam ser apresentados nessa ordem, para manter uma lógica, pois os itens
e subitens não estão claros e muitas vezes estão misturados. Ainda, seria válida a inclusão de
itens que abriguem temas como, fisiografia do Guaíba (com dados batimétricos), vazão dos
afluentes (responsáveis pelo aporte sedimentar) e do Guaíba e suas correntes (velocidades,
sentidos, etc), além do aporte sedimentar. Estes dados poderiam ser agrupados na
Sedimentologia. Devido à dificuldade de análise do texto em função de sua estrutura, serão
feitas algumas considerações pontuais.
O item “Clima” apresenta somente um parágrafo, curto, com frases soltas e sem
referência alguma. Qual a fonte do dado? Ano? Temperatura e pluviosidade média de Porto
Alegre e os outros municípios que abrangem a Bacia? Qual a intensidade das chuvas? Quais as
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variações sazonais? O índice de pluviosidade nas cabeceiras dos rios que desaguam no Guaíba,
ou seja, nos 14 Municípios que pertencem as Região hidrográfica do Guaíba, influencia no
aporte sedimentar para dentro do Lago. Outra questão de apresentação, não se pode colocar
gráficos e tabelas soltas sem citá-las e contextualizá-las no texto. Da forma que está, esses
gráficos e tabelas não significam nada nesse relatório (Figuras 1 e 2, Tabela 1), além disso
apresentam legendas mal elaboradas e seus dados deveriam estar discutidos no texto.
O item “Ventos” é um total equívoco. Primeiramente porque seu conteúdo na verdade
trata de Ondas. E em segundo lugar, porque ele é cópia de parágrafos de Nicolodi et al. (2010).
A metodologia, os dados, tudo é do artigo referido, sem nenhuma referência. Plagio! E ainda
estão cortadas diversas informações relevantes contidas nesse estudo. Utilizaram os dados de
ONDAS e não utilizaram os dados de VENTOS, totalmente incompreensível. Por que não
falaram dos ventos W, NW, N, NE e SW? O padrão de ventos é o mesmo o ano inteiro? Qual o
dominante? Os ventos são sempre S e SE? Varia sua intensidade sazonalmente? Quais são as
situações de maior intensidade do vento? Existem referências para os parâmetros utilizados e
modelados? Os resultados saíram de uma modelagem numérica, onde está essa modelagem?
Onde estão as imagens? Onde estão os mapas e modelos citados? Aqui deveriam falar dos
padrões de ventos, quais os mais expressivos, qual a incidência, períodos, etc. E sem sombra de
dúvidas, utilizar mais de um estudo para embasar, dados mais atuais e citá-los, não os copiar.
Não existe uma série de dados mais longa (período de 5 ou 10 anos) e mais recente (e não da
década de 90)?
Como é uma cópia de parágrafos de Nicolodi (op. cit.), fica difícil até de se fazer
críticas, porém, por exemplo, por que a afirmação de que “em função das pequenas
profundidades e baixas velocidades médias das correntes de fundo, o transporte de sedimentos
finos é particularmente governado pelas ondas, uma vez que as mesmas são responsáveis pela
inserção dos sedimentos na coluna d’água”? Da forma como está escrito, não está totalmente
correto. As ondas podem ser responsáveis pelo transporte (correntes induzidas por ondas,
carregando grãos finos em suspensão) e pelo retrabalhamento (ressuspensão por turbulência, nos
locais onde o fundo é atingido pelo seu movimento) dos sedimentos finos, mas não são as
responsáveis pelo transporte e pela inserção destes sedimentos na coluna d’água como um todo.
Para sedimentos finos (pelitos), o mecanismo de transporte é suspensão, e sua inserção no
Guaíba deve estar associada às correntes de turbidez de baixa densidade que provem do Delta
do Jacuí, sendo conduzidos para as porções mais distais (e.g. zonas profundas), depositados por
decantação nas zonas com ausência de energia (sem correntes ou ondas). Isto faria parte do tema
“sedimentologia” e deveria ser discutido lá. Porém nada disso foi mencionado nesse item, não
se teve nenhum pensamento crítico ao trabalho e não foram discutidos seus dados, para que
dessem subsídios ao zoneamento.
O item “Geomorfologia” deveria vir depois de Geologia, pois a configuração
morfológica do relevo é o resultado dos tipos de rochas/substratos e todos os eventos geológicos
que afetaram uma determinada região. Neste item percebe-se que até agora não ficou claro qual
é a área de estudo, consequência da deficiência no capítulo “Abrangência Geográfica”. Por
vezes se fala da Bacia Hidrográfica como um todo (área com os 14 municípios), outras vezes se
fala especificamente do Guaíba. Esperava-se uma linha lógica, como se estivesse saindo de uma
visão regional para uma mais pontual (zoom do abrangente para o específico). No texto, a
situação mais geral (Planície Costeira) com a específica (Guaíba) está misturada. Não se tem um
texto fluido e lógico tratando da Geomorfologia. Neste item também, começa-se a misturar
dados de sedimentologia e a única figura apresentada é um mapa de ambientes sedimentares do
Guaíba, extraído de Nicolodi et al. (2010). O que isso tem a ver com o contexto geomorfológico
da Bacia? A não ser se já estivermos começando a falar em fisiografia do lago. Então, mais uma
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vez, o texto foi mal conduzido e de certa forma deslocado. Sente-se falta de citações aos
trabalhos de Tomazelli e Villwock (e.g. 2000, 2005, entre outros) na Planície Costeira.
No item “Geologia”, de início é dito que o contexto é predominantemente constituído
por “rochas cristalinas do Escudo Sul-Riograndense e as formações sedimentares associadas à
evolução sedimentar da Planície Costeira Interna”. No capítulo anterior, “Geomorfologia”, a
área foi descrita como pertencente à Planície Costeira, em nenhum momento foi mencionado
Escudo como Unidade Geomorfológica. Mais uma vez a confusão de área e linha de estudo. Se
estivermos falando de Bacia Hidrográfica (14 municípios), a área se insere nestas duas
Unidades. Mas se estivermos falando somente do Guaíba, sua história está ligada a evolução da
Planície Costeira. Há uma mistura muito grande com descrições geomorfológicas, surge a
dúvida: Por que separar os dois itens? Além disso, metade do texto aborda dados de
sedimentologia. Não existe o item “Sedimentação”? Faltam referências e revisão de texto.
O item “Sedimentação” é cerca de 80% cópia literal de Bachi et al. (2004). Inclusive
com o resumo, dados de localização, metodologia, etc. Artigo inteiro copiado sem a devida
referência. Qual comentário tecer sobre isso? Novamente plágio! Plágio é crime (Lei
9.610/1998)! Além disso, os mapas deveriam estar em uma escala e resolução compatível com a
visualização de suas informações. Aqui se poderia falar de Ondas, pois é um dos agentes
responsáveis pelo transporte e retrabalhamento de sedimentos e tem assinaturas de deposição
especificas. Todos os dados citados são de mais de 10 anos, não existem dados mais atuais? Por
exemplo, quanto à afirmação: “As taxas de sedimentação estimadas para o ambiente do Lago
Guaíba variam entre os valores de 3,5 a 8,3 mm/ano, sendo esta condição atuante somente
para os últimos 150 anos (MARTINS et al., 1989)" estes dados ainda são plausíveis? As áreas
de extração se recuperam ao longo do tempo? O Lago é dinâmico, muita coisa pode ter mudado
de lá para cá e isso deve ser considerado na análise. A dinâmica sedimentar é algo bastante
complexo e deve ser bem conhecido para se fazer qualquer conclusão. Não se aprofunda a
questão das correntes! Qual a relevância, para o objetivo do trabalho, da informação copiada
(sem a devida citação) do site Wikipédia (!): “Um dos pioneiros no estudo da sedimentologia foi
o engenheiro hidráulico Hans Albert Einstein, filho do famoso físico Albert Einstein"?
Esperava-se muito mais deste item, devido o tema ser a reserva de areia no Guaíba, porém passa
longe de trazer subsídios concretos para o zoneamento. Novamente faltam referências e
apresentação de trabalhos mais atuais.
O capítulo “Qualidade da água” é basicamente outro plagio, já que reproduz capítulos
inteiros do trabalho “Lago Guaíba (RS): índice de qualidade da água – IQA, 2000 a 2009” de
Andrade et. al. publicado em 2012 na revista Ecos Técnica do DMAE, sem a mínima citação de
autoria. Este trabalho do DMAE é reconhecidamente importante para o conhecimento da
qualidade da água do Guaíba, apresentando uma boa série histórica e quantidade de pontos de
amostragem considerável, porém a simples reprodução de parte deste trabalho nesta proposta de
zoneamento torna-se completamente sem sentido prático. O IQA – Índice de Qualidade da água
é uma ferramenta de gestão que tem como um dos objetivos principais facilitar ao público leigo
compreender resultados técnicos de monitoramentos, para um zoneamento como este o
monitoramento dos parâmetros básicos (oriundos de esgotos domésticos sem tratamento) que
são levados em conta para gerar o IQA não suprem a necessidade de conhecimento da
composição físico-química das águas do Guaíba. Não é citado nenhum dado ou pesquisa, e nem
mesmo se aponta como uma demanda, o monitoramento de parâmetros como metais pesados e
agrotóxicos residuais apesar de ser de conhecimento de todos o grande volume de efluentes
líquidos industriais e agrícolas lançados diariamente no Guaíba. Além disto, os dados
apresentados, mesmo que abordando parâmetros básicos, não foram comparados com os
padrões da Res. CONAMA 357/05 ou com o enquadramento estabelecido. Novamente as
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figuras apresentadas estão em péssima resolução. Quais as relações dos dados apresentados com
o objeto deste zoneamento?
Ainda quanto à qualidade da água, uma das principais preocupações é quanto à
qualidade da água bruta captada pelos Sistemas de Abastecimentos de Água da CORSAN
(Guaíba/Eldorado do Sul e Barra do Ribeiro) e do DMAE (Porto Alegre) e os reflexos que as
alterações de qualidade, a partir da atividade mineradora, podem causar. Sem um estudo
hidrosedimentológico e de plumas consistente e sem análises consistentes de metais pesados
e/ou outros compostos potencialmente tóxicos armazenados no sedimento, como definir qual
distância é segura para a atividade de mineração em relação aos pontos de captação?
Cabe citar o que diz a recomendação do Ministério Público Estadual, enviado à
Secretaria Estadual do Meio Ambiente em 2015, ao solicitar a suspensão da “liberação
experimental” de extração de areia divulgada em março/2015:
“CONSIDERANDO que eventual atividade de pesquisa ou
de extração de areia no Lago Guaíba pode comprometer o
abastecimento de água de Porto Alegre, conforme informação
prestada pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos - DMAE,
em 16 de março de 2011, através da Química IARA CONCEIÇÃO
MORANDI, segundo a qual:
“As alterações na qualidade da água do Lago Guaíba
constituem um impacto ambiental extremamente significativo e de
efeito imediato a partir do início das atividades de mineração."... e
adiante... "As unidades de tratamento de água não são projetadas
para atender alterações severas da qualidade da água, decorrentes
do revolvimento de sedimentos.” (MPE. Ofício n° 812 /2015 – MA
Porto Alegre, 31 de março de 2015.)
Quem pagará a conta de uma, possível, maior utilização de químicos, como sulfato de
alumínio, e/ou uma maior geração de lodo, nas Estações de Tratamento de Água? De quem a
CORSAN e o DMAE poderão cobrar por perdas na arrecadação em caso de mudanças nos
aspectos organolépticos (odor, sabor, cor...) ocasionadas pela atividade de mineração? Que
garantias tem a população dos municípios atualmente abastecidos pelo Guaíba, cerca de
1.613.690 de habitantes (IBGE, 2016) que os padrões de potabilidade da água serão mantidos?
O capítulo de Meio Biótico, dentro deste contexto, está nitidamente melhor abordado,
explicitando inclusive que é um levantamento de dados “...parte de estudo preparatório à
proposta de zoneamento...” ficando evidente que com o conhecimento disponível hoje é difícil
realizar um prognóstico das “respostas que a fauna dará frente à exploração de recursos
naturais almejados”. Cita também que a área de interesse “abriga grande diversidade, apesar
da marcada fragilidade ecológica dos ecossistemas em que esta inserida”. Os dois anexos
citados na página 32 do relatório não foram repassados ao Comitê.
O item “fitoplânctons” através dos dados dos estudos apresentados (CMPC) explicita
que:
“A movimentação do substrato resultou na elevação das
concentrações de nutrientes e metais passados (leia-se “pesados”,
correção nossa), o que promoveu alteração na vida aquática,
impactando primeiramente o fitoplâncton. Uma grande quantidade
de material particulado ocupou o espaço que antes era ocupado
pelos organismos, fazendo com que a turbidez da água diminuísse a
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extensão da zona eufótica e consequentemente a presença de
organismos mais sensíveis. Estes impactos estão diretamente
associados às atividades de extração de areia. Os dados obtidos
durante as cinco primeiras campanhas da CMPC confirmaram a
comunidade fitoplanctônica como sendo a primeira a ser
diretamente afetada, porém este grupo é também o primeiro a se
recuperar quando a atividade cessa (CEPEMAR/VALE, 2010).”
Aqui a falta de dados sobre a composição físico-química dos sedimentos impede uma
adequada avaliação. Entretanto, entendemos que, com a ressuspensão dos sedimentos durante a
atividade de extração, uma quantidade significativa de nutrientes será liberada do sedimento
para a coluna d'água. Estes nutrientes e matéria orgânica estavam armazenados no sedimento
(um compartimento do ecossistema que atua como reservatório de matéria orgânica e nutrientes,
dentre outras funções). A matéria orgânica particulada e materiais minerais logo irão
sedimentar, após passar a intervenção. Mas os compostos dissolvidos que foram aportados à
coluna d'água (nutrientes e matéria orgânica dissolvida) permanecem disponíveis para os
organismos por mais tempo. Como consequência destes fatos, os episódios de desenvolvimento
descontrolado de grupos específicos do fitoplâncton (blooms, florescimentos...) podem vir a ser
mais frequentes nas áreas de abrangência do impacto. Baseando-se em Andrade&Giroldo
(2014) é possível auferir que há risco de redisposição de fósforo depositado no sedimento de
fundo, em caso de revolvimento, contribuindo para a eutrofização do sistema. Pode-se trazer
também a discussão de que este processo libera também metais pesados que estavam
sedimentados. Estes podem ser absorvidos pela biota e entrar na cadeia alimentar. Costa&Hartz
(2009) apresentam dados sobre acúmulo de metais por peixes (Leporinus obtusidens Piava) no
Guaíba. Estas questões não foram consideradas adequadamente neste trabalho de zoneamento.
Entendemos que deveriam ser levadas em consideração as características físico-
químicas dos sedimentos, em seus diferentes estratos (profundidades). E evitar a realização da
atividade de mineração em áreas em que as concentrações de matéria orgânica, nutrientes e
metais pesados nos sedimentos são elevadas a ponto de provocar impactos no meio biótico.
O item “Levantamento de invertebrados bentônicos” traz entre outras informações,
resultados de um estudo do emissário da CMPC, em nosso entendimento esta é uma informação
sem muita "robustez". Faltaram mais campanhas para verificar se após concluídas as
intervenções a abundância de organismos voltaria ao estado anterior (perto de 466), como
diagnosticado na primeira campanha, antes das intervenções. A última campanha deste estudo
apresentou uma abundância de 212, menos da metade da abundância inicial. Além disto
representa o comportamento pontual da fauna bentônica e não pode ser extrapolada para todo o
Guaíba.
No item “Levantamento ictiológico”, é recomendado não autorizar a mineração em
áreas próximas ou interna a juncais, porém entendemos que, devido ao seu importante papel
ecológico, é importante também incluir outros biotipos do grupo das macrófitas aquáticas
(enraizadas submersas, enraizadas emergentes, enraizadas com folhas, flutuantes, e flutuantes
submersas) nesta restrição, principalmente em áreas próximas as margens, áreas mais rasas,
áreas de remansos, e "baías".
Para o monitoramento recomendado, sugere-se que sejam aplicados os índices citados
na página 56 do texto (diversidade, riqueza de espécies e abundancia por amostra) não só para a
ictiofauna mas para todos os grupos da biota aquática, e poderia incluir ainda algum índice de
equidade, como “equidade de Pielou”, por exemplo. E além das análises citadas para peixes
sugere-se a realização também com os invertebrados bentônicos, principalmente quironomídeos,
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pois estes respondem mais rapidamente aos impactos ambientais do que os peixes. Ou seja,
antes de verificar o aumento destas anomalias nos peixes, é possível verificar sua ocorrência
primeiramente nos invertebrados.
O capítulo “Meio Socioeconômico” também carece de referências adequadas, muitas
informações fundamentais são apresentadas de maneira superficial e muitas informações não
fundamentais são aprofundadas.
Em "Estrututura socioeconômica e organização social", as caracterizações dos
municípios de Guaíba, Eldorado do Sul e Barra do Ribeiro são absurdamente pobres e sem
referências, não “dialogando” uma com a outra, ou seja, não há semelhanças nas informações de
cada município, de forma que se possa comparar ou conhecer cada um naquilo que é relevante
pra fins deste zoneamento. A descrição de Guaíba é praticamente uma propaganda de governo
demonstrando as ações que este tem feito para tornar o município economicamente atraente.
Sobre Eldorado do Sul parágrafos desvinculados entre si. E sobre Barra do Ribeiro apenas
aspectos históricos.
Este “capítulo” aborda ainda alguns aspectos sobre a areia e o “empreendimento” em
questão. A exposição sobre a importância da areia é uma reprodução literal de um texto do Arq.
Iberê M. Campos, sem a menor citação, um texto facilmente encontrado em uma pesquisa na
internet. Aqui o texto poderia aprofundar informações sobre o potencial ou importância da
extração de areia para a economia dos municípios, mas isso foi feito de uma maneira muito rasa,
rápida e em posição de defesa: "A importância do empreendimento em análise, no contexto
econômico social da Região e dos 14 municípios, é evidente, tendo em vista as gerações de
empregos que dele decorrerão." Isto é marketing, não é estudo, pesquisa, relato. Poderia ser
dimensionado o potencial para geração de emprego nos municípios envolvidos, diretos e
indiretos, a necessidade de areia pra construção civil, etc.
No item “Perfil da cidade de Porto Alegre” a caracterização de Porto Alegre é extensa,
exaustiva e, mesmo assim, pobre para os propósitos do zoneamento, pois são apresentadas
muitas informações, que sem a devida interpretação e discussão não conduzem a lugar algum.
Sobre só se aprofundar as informações de Porto Alegre. Sempre que é privilegiado um
lado, um ponto, um aspecto, como aconteceu no documento, é importante que isso seja
justificado. Por exemplo, se fosse Porto Alegre o município mais afetado pela mineração no
Guaíba isso poderia ser justificativa, mas deveria estar evidente. Ocorre que se observa,
consultando o “mapa” de conclusão do zoneamento, que as áreas que serão mais impactadas são
justamente Guaíba, Eldorado do Sul e Barra do Ribeiro.
Entendemos que é importante, para cada município envolvido, uma caracterização sobre
população (número, escolarização, IDH), e uma análise da economia dos municípios - setor
mais forte, potencialidades, produção agropecuária, potencial turístico. E além destes dados, se
conhecer a relação da população com o Guaíba. Qual a importância do Guaíba para as
comunidades vizinhas a ele, e para a economia dos municípios? Como se dá o uso da orla como
balneário, o uso público para fins de lazer, uso estético/paisagístico, atividade pesqueira? Estes
aspectos praticamente não aparecem. Como a mineração pode afetar estes usos? Estas são
informações difíceis de encontrar em dados secundários, demandaria pesquisa própria, consulta
à especialistas das áreas da Economia, Sociologia, Urbanismo, e também à representantes e
lideranças nas comunidades, para se entender a percepção e as preocupações das populações
com esses empreendimentos. Em nosso entendimento esta abordagem seria fundamental.
No geral, parece que a “análise socioeconômica” foi, praticamente, “só para constar”.
Fica evidente que o que já foi produzido nos licenciamentos anteriores, e outros dados
9
secundários, não dá conta de responder as questões socioeconômicas relacionadas com a
atividade de extração de areia no Guaíba. Não nos parece que este componente tenha sido, de
fato, levado em consideração no zoneamento.
O capítulo “Mineração de areia” é uma cópia de partes do Relatório Técnico do Grupo
Técnico do Comitê do Lago Guaíba (2016), este Grupo realizou um levantamento das
informações disponíveis em processos de licenciamento ambiental junto à FEPAM para
atividade de extração de areia no Guaíba. Conclusões relevantes deste relatório foram omitidas
no relatório de “zoneamento”, tais como:
“...o presente relatório foi elaborado destacando a
modalidade de licenciamento, de forma a minimizar o comparativo
direto entre as diferentes metodologias, cujo objetivo principal era
gerar dados primários para atender ao licenciamento, sem haver
critérios técnicos que contribuíssem para a uniformização da
qualidade dos dados gerados” (página 51)
“Dados técnicos pertinentes ao meio biótico são em sua
grande maioria dados secundários, referentes a revisões
bibliográficas e estudos desenvolvidos por terceiros” (página 52)
“Os dados técnicos identificados nos processos de
licenciamentos de extração de areia no Lago Guaíba demonstram
um conjunto de informações técnicas que caracterizam o Lago
quanto aos aspectos químicos, físicos e bióticos das áreas de
influência direta e indireta. Porém, importante salientar o
dinamismo natural das áreas estudadas”. (página 52)
“O presente relatório identificou a existência de processos
administrativos para extração de areia no período entre 2004 a
2012, fator este relevante para a definição dos critérios para
avaliação e aplicabilidade dos dados disponibilizados”. (página 53)
“...resultando deste levantamento, a existência de dados
primários em uma área relativa de 6,5% da superfície de lâmina
d’água do Lago Guaíba. Mesmo com pequena representatividade
frente à extensão do corpo hídrico, é relevante por contribuir com
informações e conhecimento acerca do Lago Guaíba”. (página 53)
Tais conclusões demonstram que é difícil realizar comparações dos dados existentes
devido às diferentes metodologias aplicadas, a maioria dos dados de meio bióticos são
secundários, o Grupo ressalta que o dinamismo natural das áreas estudadas e o período dos
dados são relevantes e devem ser levados em consideração na aplicabilidade atual dos dados, ou
seja dá a entender que por estarem desatualizados, praticamente devem ter um uso restrito a
conhecer a realidade pontual do período estudado, e ainda demonstra há dados primários
somente em uma área de 6,5% do Guaíba, o que classifica como “pequena representatividade
frente à extensão do corpo hídrico”.
Os apontamentos do capitulo “Resultados da Análise Integrada e Zoneamento
Ambiental” parecem com conclusões mais do que resultados. Aqui aparecem muitas vezes no
texto a palavra “rio” para se referir ao corpo d’água do Guaíba. Afinal, é Lago ou é Rio?
Entendemos que não há consenso sobre esta definição, e não esperamos que este relatório
definisse isto, porém não manter a coerência no texto é mais um sinal de falta de revisão.
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O primeiro item do Meio Físico diz:
“Para fins do zoneamento inicial, a mineração não seria
permitida em áreas que os sedimentos da superfície do leito
apresentam alto teor de finos (mais que 50% de silte + argila), bem
como deverá ser atendido aos padrões estabelecidos pela Resolução
do CONAMA nº 454/2012 para dragagem, na falta de legislação
específica. O empreendedor deverá apresentar as análises físicas,
químicas e mineralógicas para comprovação.”
Primeiramente o que seria “zoneamento inicial”? O “zoneamento” terá outras fases ou
etapas?
Sobre a restrição da mineração em áreas com alto teor de finos. Entendemos que a
principal questão à respeito da mineração de areia no Guaíba é o risco socioambiental que, nos
parece que, com o conhecimento disponível hoje não é possível avaliar, e muito menos afirmar
que não há risco algum. O argumento que o relatório de zoneamento utiliza é que os finos (que,
apesar de não dizer em parte alguma do relatório, teoricamente seriam o risco, por estarem, a
estas partículas, adsorvidos compostos que trariam risco em caso de ressuspensão/redisposição)
apenas se depositam nas áreas mais profundas (>3m), citando Bachi et. al., 2000, porém não
apresenta dados recentes para comprovar esta alegação, nem leva em consideração a questão das
correntes. É possível que dinâmica do Guaíba tenha sofrido mudanças neste meio tempo,
podendo afetar toda dinâmica de sedimentação. Quanto à composição físico-química dos
sedimentos, a restrição de áreas com “mais que 50% de silte + argila” garante algo? A
mineração em uma área com teor de 10% de finos não pode causar danos socioambientais, se
conter, por exemplo, metais pesados e/ou fósforo?
Entendemos ainda que a Res. CONAMA 454/2012 não é adequada para a realidade do
Guaíba, sendo necessária uma norma específica para tal. Se comparado aos valores desta
Resolução, raramente haverá alguma alteração, pois os limites são altos.
No segundo item é apresentada a restrição de mineração nos esporões arenosos “que
aparecem na carta batimétrica do CECO”. Não tem citação. Carta batimétrica de que ano?
No terceiro item é apresentada a restrição de 0,4 km de raio dos pontos de captação.
Sem um estudo hidrosedimentológico e de plumas consistente e sem análises consistentes de
metais pesados e/ou outros compostos potencialmente tóxicos armazenados no sedimento, como
definir qual distância é segura para a atividade de mineração em relação aos pontos de
captação?
No quarto item o afastamento dos balneários. A alteração da profundidade do Guaíba
não impactará no aumento da altura das ondas e consequente erosão marginal do manancial?
Haverá alteração do nível base do fundo do Guaíba e suas consequências são desconhecidas.
O sexto item cita que:
“ O ZEE-RS em elaboração fornecerá
informações complementares e atuais da
hidrossedimentodologia, Mineralogia Detrítica,
Ecobatimetria e Perfis de Sísmica de Reflexão, padrões de
onda e de correntes e cenários do Lago, que deverão ser
considerados e realizada nova avaliação.”
Como é possível gerar o ZONEAMENTO, com deficiência de compilação de
referências e dados mais atuais e sem dados tão importantes como
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HIDROSSEDIMENTOLOGIA, BATIMETRIA, PERFIS DE SÍSMICA, E PADRÕES DE
ONDAS E CORRENTES?
À quais “emissários” especificamente se refere o item sétimo? Ainda cabe destacar que
na apresentação do zoneamento realizada pela equipe da SEMA na reunião do Comitê do Lago
em 25 de maio de 2016 foi apresentada uma restrição de 60 metros de todas as margens. Esta
restrição não é nem sequer mencionada no relatório do zoneamento.
Quanto às “Condições e restrições que deverão constar no licenciamento”. No item “a”
a descrição do que seria batimetria está errada. Quanto à recomendação de utilização da Res.
CONAMA 454/2012, em nosso entendimento, conforme citado anteriormente, não seria
adequada, devendo ser estabelecidos padrões específicos para este caso.
Quanto aos itens “Hidrossedimentometria e Hidrodinâmica”, “Prognóstico e Simulação
Hidrossedimentométrica e Hidrodinâmica” e “Prognóstico e Simulação da Erosão das
Margens”. Novamente questionamos: Como é possível gerar o ZONEAMENTO sem estes
estudos?
Destes itens se esperava os resultados de tais estudos. Porém não foram apresentadas
nem indicação de metodologias especificas e detalhadas para sua execução, a exemplo do que
foi feito para o Meio Biótico. Quanto ao Meio Biótico, ver os apontamentos realizados nas
páginas 6, 7 e 8 da presente análise.
E finalmente as “Conclusões”. Onde estão? Não há nada escrito, somente uma figura
colorida que diz ser o “Mapa com o Resultado da Análise Integrada”. Figura sem coordenadas,
sem escala e sem norte, com problemas nos ajustes dos layers.
A lista de “Referências” também deve passar por revisão. Olhando rapidamente a lista
de referência se percebe que ocorrem problemas. Por exemplo, há necessidade de se revisar
Nicolodi, pois deve se referir aos trabalhos (mal) citados no texto, Nicolodi (2007) e Nicolodi et
al. (2010), não sendo possível nem consultar os trabalhos citados. Outros exemplos: por que
Folk (1974) e Breda et. al. (2008) constam nas referências? Se não estão citados no documento.
Também à titulo de exemplo: por que Maltchik et al. (2003) e SBH (2012a e 2012b) são citados
no documento e nãos constam nas referências? De que adianta apresentar uma lista enorme de
referências se elas não foram utilizadas no texto, e outras que foram citados não constarem na
lista? Assim como esses exemplos, devem ter outros. Explicita, novamente, a completa falta de
rigor do documento.
A título de conclusão da presente análise, considerando o exposto, entendemos que:
O relatório apresentado, que deveria embasar tecnicamente a proposta de “Zoneamento
Ambiental para atividades de mineração do Lago Guaíba”, em termos de forma e apresentação,
é um documento mal estruturado, e sem revisão. Em termos técnicos, apresenta muitas
informações contraditórias, superficiais, desatualizadas e sem citações adequadas. Estes fatos
comprometem seriamente a legitimidade desta proposta de zoneamento.
Questões fundamentais, para possibilitar um zoneamento, tais como o conhecimento da
dinâmica das correntes, da hidrosedimentologia, do perfil de sub-fundo, da composição físico-
química do sedimento, do comportamento de plumas de dispersão, do impacto sobre à
hidrodinâmica e às margens, dentre outras, não estão suficientemente elucidadas.
Entendemos que um processo como este não pode ser conduzido de maneira apressada,
tendo em vista a complexidade do tema e o potencial de graves repercussões socioambientais e
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econômicas para toda a região em caso de impactos oriundos de uma atividade autorizada após
licenciamento ambiental embasado em um zoneamento que não apresente a segurança
necessária.
É preciso ainda que se leve em consideração os resultados do Zoneamento Ecológico-
Econômico do Estado do Rio Grande do Sul que está em elaboração, e a partir destes resultados,
complementar e aprofundar com informações específicas e sólidas nos casos em que haja
necessidade de zoneamentos para atividades específicas.
Entendemos que, a elaboração de tais zoneamentos (como seria o caso deste proposto
para a atividade de mineração) deva apresentar, em seu embasamento técnico, o “estado da arte”
quanto ao conhecimento que se tem disponível sobre o tema (neste caso o Guaíba e a atividade
de mineração de areia em corpos hídricos), a partir deste ponto se definiriam metodologias
(termos de referência) específicas de estudo do meio físico, biótico e social, para preencher as
lacunas de conhecimento encontradas, para, após a realização e avaliação dos estudos
apontados, definir, através de um amplo processo de discussão com a sociedade, um
zoneamento.
Neste sentido somos de parecer que o “Zoneamento Ambiental para atividades de
mineração do Lago Guaíba” não tem a mínima condição de ser colocado para votação no
Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Lago Guaíba. E, se for o caso, deve ser
profundamente revisto, considerando os resultados do ZEE e os apontamentos realizados por
nossa e outras entidades que venham a se manifestar, para ser reapresentado, iniciando nova
discussão.
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Referências
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variation in a subtropical shallow lake (Guaiba Lake, Brazil): a long-term study. Acta
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I Mostra de Trabalhos Técnicos, Científicos e Comunitários da Bacia Hidrográfica do Lago
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COSTA, S.C.; HARTZ, S.M. Evaluation of trace metals (cadmium, chromium, copper and zinc)
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