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AVALlAÇ AO DO FILME TR ANSPARE NTE DE POLlUR ETANO EM QUEIMADUR AS E ÁRE AS DOA DORAS DE P E LE * Maria Jo da Silva ** Eni-Leci Monteiro d e Menezes *** Yolanda Lopes de Souza *** Nr Colhado Gimenez *** RESUMO - Foram avaliadas pelas auto ras a aplicação c lrnica e técnica de utili- zação do curativo transparente de poliuretano, num total de cinquenta e cinco pa- cientes: trinta e três com qu eimaduras de segundo grau superficiais e vinte e dois submetidos a enxertia de pele. O tempo de permanê ncia dos f ilmes variou de u m a quatorze dias nos dois gr upos de pacientes. A util ização do curat ivo transpa- rente de poliuretano, nestes casos, demo nstrou ser uma excele nte alternativa atendendo às necessidades dos pacientes e da equip e médica no qu e se refere a ausência de dor, facilidade de aplicação e man useio, פrmanência do fil me até a complet ,a epitelização dos ferimentos, proteção cont ra a contaminação, além de prop orcionar menor tempo gasto pelo pessoal de enf ermag em e redução de cus- to. ABSTRACT - The autors hav e analysed the c linica i ap plicat ion and the ut ilization technique of the transparente polyurethane dressing, us ed in fifty-five patients; thirty-thee wi th superficial second degree burns and t enty-two skin graft donor sites. , The transpare t polyurethane film stayed trm one to fourteen days coven ng the wounds In both groups of patients. T he util izat ion of transparent polyurethane dressi ng, in thes e cases, seems to b e an exc e l lent alternative to furfill the pa tients and staff's ne edo regarding the following asp ects: absence o f pain, easy to apply and to h andle, perman ence of the dressing un til the complet ion of epithelization, protection against contamination , les s expense of th e staf t and low cost. 1 INTRODUÇÃO Dee os us pr6rdios, o homem vem sofren- do agrss que, lesando os us tidos, denca- dei uma sequência biol6gica natur, no nti de restaurar a sua ingridade. O processo de cicaão vem ndo obrvado e estudado desde o início da ht6ria da medina. Hites dizia: "A catrizão é u questão de tem, , vezes, tm de ortunidade". A ci, tão é vda até hoje, rembrando-nos de que é a lesão e o o tratento, que induz ao fene biol6go da cicatrização. Em 1586, Ambroi Pé toma o princípio da mma interfencia: "A natureza fará a cicao, dee que o mécico não atrapalhe a sua evolão". N ól décad, os estos em biolog mo- lecular tzem à luz a imrncia daqueles concei- tos, enfazando os cuidados l, que vis atenuar a desuição sular e evitar a infção. O canismo da cicatrizão envolve uma se- quência de eventos suפrpostos e interdeפndentes. Pa simpficar, dividiremos o processo em ts fs dtt: 1 . Inflt6: onde or uma gração de leucitos e etitos para o lal da ferida, foan- do um exsudato e pmovendo uma crosta. 2 iniciada por volta do 22 ou 32 di as o trauma, onde idenfica-se uma população de células (fibrobltos), que apresentam intensa ativida- de mit6ca e de Stese de DNA. Estas células ão fo o tido de grulação, que ssui capacidade contt, ruzdo a cruenta da ferida. Conco- mitmen orm a Ste de coláno e substâ fuent. 3. Maturio: cterizada pela deposição, agruento e melação do colágeno, e ada re- gssão eote, cudo com o po da de e generão epira. Com algum diferenç na duração e resultados todos os s de fedas cicatrizam פlo smo p- cesso. Es icia no momento exato em que se pro- cessa o trau, não ange a complementão, até que o fator que a lesão tenha sido neutdo. A teratura sob os ms divers tis de cura- tivos, que benefici a çicatrização, é btante exten- sa. Vios mates, com propriedade quicas e si- cas difentes, têm sido denvolvidos, com o intuito de atender necessidades dos diferentes s de fe- rimentos 11 . Esta procura pelo curativo ideal tomou um grande impulso n últimas duas décadas, com o advento de פcula trsparente de poliutano, mi- permeável e adesiva 1 5 , 1 3 , 1, 3, 9, 6. Assim como a pele humana, 'es pecula פite a difuo gosa e a * Pio Jai Cina Vida! - 2� lugar - 42� Con Bsilei de Enfeag - Nal-RN. ** Enfeeira do Seiço de Conle de Inf Hospilar e ex-enfeeira Suפisora da CUnica de Queimados e Cirurgia Repdo do Hospil Municipal Dr. Cai Caricchio. *** Enfeeir CUnica de Queimados e Cirurgia Reradora do Hospil M unicipal Dr. Caino Caricchio. R. B. Enfe., Bflia, 43 ( 1 , 2, 3/4): 1 1 7- 1 22, jJdez. 1 990 117 w

AVALlAÇAO DO FILME TRANSPARENTE DE POLlURETANO EM ... · Para simplificar, dividiremos o processo em três fases distintas: 1.Inflamat6ria: onde ocorre uma migração de leucócitos

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AVA LlAÇAO DO FI LME TRANSPARENTE DE PO LlURETANO EM QU EIMADURAS E ÁREAS DOADORAS DE PE L E *

Maria José da Silva * * Eni-Leci Monteiro d e Menezes * * * Yolanda Lopes de Souza * * * Nair Colhado Gimenez * * *

RESUMO - F o ram a v a l i adas pe las a u toras a a p l i c a ç ã o c l rn i c a e té c n i c a de u t i l i ­zação d o cu rat ivo t ra n s p a rente d e po l i u re ta n o , n u m t o t a l d e c i n q u e n ta e c i n c o pa­c iente s : t r i nta e três com q u e imad u ras d e s e g u n d o g ra u s u p e r f i c i a i s e v i n t e e do i s s u bmet idos a e n x e rt ia d e pe le . O tempo d e pe rman ê n cia dos f i l m e s var iou d e u m a q u atorze d ias nos d o i s g r u pos d e pac ien tes . A u t i l ização d o c u rat i vo t ran s pa­rente d e po l i u reta n o , nestes ca s o s , d e m o n st ro u s e r uma e x ce l en te a l te rnat iva ate ndendo às necess i dades dos pac ie ntes e d a eq u i pe méd ica n o que s e refe re a � au sênc ia d e do r , fac i l i dade d e a p l i cação e m a n u s e i o , perman ê n c i a d o f i lme até a c o m p let,a ep i te l i zação d o s fe r imen to s , p roteção con t ra a co ntam i nação , a lém d e p roporc ionar m e n o r te mpo g asto pe lo pessoa l d e e n fe rm a g e m e red u ç ão d e c u s ­to.

ABSTRACT - The autors have ana lysed the c l i n i c a i app l ic at ion and t h e u t i l i z at ion tec h n i q u e of the transparente po lyu rethane d re s s i ng , u se d i n f i fty- f i v e pat i e n ts ; t h i rty-thee with s u perf i c ia l second deg ree b u rn s an d t e n ty-two s k i n g raft d o n o r s ites .

, T h e trans pare�t po lyu rethane f i l m stayed trGlm o n e to fo u rteen d a y s

covenng t h e wou nd s I n both g ro u p s of pat ients . The u t i l i za t ion of t ran s p arent po lyu rethane d res s i n g , i n t hese cases , seems to be a n exce l l en t a l te rnat i v e to fu rf i l l t he patients and s taff' s needo regard ing the fo l lowing aspects : absence o f pa in , eas y to app l y and to hand le , pe rmanence o f the d res s i n g u nt i l t h e comp le t ion of e p ithe l i zat ion , p rotect ion aga inst contami nat ion , les s ex pen se of the s ta f t and low cost .

1 INTRODUÇÃO

Desde os seus prim6rdios, o homem vem sofren­do agressões que, lesando os seus tecidos, desenca­deiam uma sequência biol6gica natural, no sentido de restaurar a sua integridade.

O processo de cicatrização vem sendo observado e estudado desde o início da hist6ria da medicina. Hip6crates dizia: "A cicatrização é uma questão de tempo, mas, às vezes, também de oportunidade". A ci,. tação é válida até hoje, relembrando-nos de que é a lesão e não o tratamento, que induz ao fenÔflemo biol6gico da cicatrização.

Em 1586, Ambroise Paré retoma o princípio da mínima interferência: "A natureza fará a cicatrização, desde que o mécico não atrapalhe a sua evolução".

Nas óltimas décadas, os estudos em biologia mo­lecular trazem à luz a importância daqueles concei­tos, enfatizando os cuidados locais, que visam atenuar a destruição tissular e evitar a infecção.

O mecanismo da cicatrização envolve uma se­quência de eventos superpostos e interdependentes. Para simplificar, dividiremos o processo em três fases distintas:

1 . Inflamat6ria: onde ocorre uma migração de leucócitos e eritr6citos para o local da ferida, forman­do um exsudato e promovendo uma crosta.

2. F'ibrcJP8Iria: iniciada por volta do 22 ou 32 dias

após o trauma, onde identifica-se uma população de células (fibroblastos), que apresentam intensa ativida­de mit6tica e de SÚltese de DNA. Estas células irão formar o tecido de granulação, que possui capacidade contrátil, reduzindo a área cruenta da ferida. Conco­mitantemente ocorrem a SÚltese de colágeno e substância fundamental.

3. Maturaçio: caracterizada pela deposição, agrupamento e remodelação do colágeno, e ainda re­gressão endotelial, culminando com o reparo da derme e regeneração epidérmica.

Com algumas diferenças na duração e resultados todos os tipos de feridas cicatrizam pelo mesmo pro­cesso. Este se inicia no momento exato em que se pro­cessa o trauma, mas não atinge a complementação, até que o fator que mu:zju a lesão tenha sido neutralizado.

A literatura sobre os mais diversos tipos de cura­tivos, que beneficiam a çicatrização, é bastante exten­sa. Vários materiais, com propriedade químicas e físi­cas diferentes, têm sido desenvolvidos, com o intuito de atender às necessidades dos diferentes tipos de fe­rimentos 1 1 . Esta procura pelo curativo ideal tomou um grande impulso nas últimas duas décadas, com o advento de película transparente de poliuretano, semi­permeável e adesiva 1 5, 1 3, 1 , 3, 9, 6 . Assim como a pele humana, 'essa película permite a difusão gasosa e a

* Prêmio Jaira Cintra Vida! - 2� lugar - 42� Congresso Brasileiro de Enfennagem - Natal-RN. * * Enfermeira do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar e ex-enfenneira Supervisora da CUnica de Queimados e Cirurgia

Reparadora do Hospital Municipal Dr. CarmiDO Caricchio. * * * Enfermeiras da CUnica de Queimados e Cirurgia Reparadora do Hospital Municipal Dr. Carmino Caricchio.

R. Bras. Enfenn., Brasflia, 43 ( 1 , 2, 3/4): 1 1 7- 1 22, janJdez. 1 990 1 1 7

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evaporação como a pele humana, essa película penni­te a difusão gasosa e a evaporação da água do exsuda­to seroso através dos seus micro poros, sendo porém impermeável a fluídos e microorganismos.

Suas principais características são: - Não aderente às superfúcies úmidas e

aderente às superffcies secas. - Elasticidade e extensibilidade. - Estéril e livre de partículas residuais. - Permeável ao vapor d'água, o que equi-

libra a hidratação da superfície do feri­mento.

- Pennite a difusão gasosa de oxigênio e di6xido de carbono, de forma seme­lhante à pele íntegra.

- Impermeável à água. - Impede a penetração de bactérias, o que

protege o ferimento contra infecções secundárias. .

Este estudo teve por fmalidade avaliar a aplicação clfnica e técnica do curativo transparente do poliure­tano, em pacientes vítimas de queimaduras, no que se refere ao atendimento das necessidade dos pacientes e da equipe médica, tais como: diminuição da dor e des­conforto, baixo risco de infecção, favorecimento da epitelização, diminuição do tempo gasto na realização e troca dos curativos e redução de custos.

Em nosso meio, é recente a introdução desse es­quema de tratamento, sendo este o primeiro estudo com pacientes queimados.

2 PAC I ENTES E MÉTODOS

Foram observados 55 pacientes de ambos os se­xos, 33 com queimaduras de 22 grau superficiais e 22 submetidos a retirada de pele para enxertia.

As idades variaram de 9 meses a 40 anos no gru­po de queimados e de 9 anos a 70 anos nos pacientes submetidos a transplante de pele.

Desenvolveu-se um protocolo para o estudo clí­nico com fichas de acompanhamento individual. Os parâmetros observados foram: tempo de permanência e frequência de troca de ftlmes, acúmulo de exsudato, fenÔmenos irrativos da pele adjacente, tempo de epite­lização e ocorrência de infecção. Foram analisadas ainda sua praticidade e aplicação.

Somente dois casos de queimaduras foram trata­dos em regime de internação, devido ao comprometi­mento de áreas como face e pescoço. O restante dos pacientes foi tratado em ambulat6rio. Não foram utili­zados agentes t6picos nem sistêmicos neste grupo. A limpeza dos ferimentos foi realizada por debridamen­to, soro fisiol6gico e/ou água e sabão neutro. Foram excluídas as queimaduras por agentes químicos e elé­tricos.

O início do tratamento dos casos variou de 4 ho­ras a 4 dias ap6s o acidente sendo que, 25 pacientes foram atendidos com menos de 24 horas. Dos casos restantes, 7 estiveram entre 24 e 72 horas e 1 único paciente foi atendido no 42 dia ap6s a queimaduras.

Todos os casos de áreas doadoras de pele foram auto-enxertos, retirados de coxa e tratados em regime de internação. Utilizaram-se a faca de Blair e o dermátomo de Padget, para a retirada da pele, sendo que a espessura do enxerto ficou na faixa intermediá­ria, variando de paciente para paciente. Para ajudar na

hemostasia foram colocadas compressas de soro -fi­siol6gico gelado, logo ap6s o procedimento, por um pedrodo de 30 a 45 minutos. Em 7 (30%) dos pacien­tes, foi utilizada solução de adrenalina 1 : 1000, em soro fisiol6gico a 0,9%, na concentração de 1 : 1 20.000, por 5 minutos.

Outra alternativa para alcançar a hemostasia foi o enfaixamento, com atadura de crepe, durante 24 ho­ras, lembrando- se que, nos casos onde a adrenalina é utilizada, pode ocorrer sangramento tardio ap6s o efeito rebote da mesma ou por elevação da pressão ar­terial.

Em todos os casos o desengorduramento da pele adjacente foi realizado com benzina ou similar.

Nos casos onde houve excesso de exsudato pro­cedeu-se a sua aspiração por punção com agulha hi­podénnica estéril, colocando-se um remédio de um novo ftlme, no oriffcio da punção.

O controle bacteriol6gico foi feito através da co­lheita de material dos ferimentos, com cotonetes, ime­diatamente antes da colocação do ftlme, no primeiro dia de tratamento.

3 R E SULTADOS - No grupo de pacientes com queimaduras do 22

grau superficiais, de um total de 33 pacientes, 22 (66,7%) foram acompanhadas até a completa epiteli­zação dos ferimentos.

Dos 1 1 (33,3%) pacientes restantes, 5 abandona­ram o tratamento e 3 apresentaram epidennite. Em 1 dos pacientes veriricou-se, ap6s a colocação do ftlme, que a queimadura era de 32 grau, inviabilizando a con­tinuidade do uso. O tratamento com o ftlme transpa­rente de poliuretano foi interrompido em 2 pacientes, por descohecimento de um dos membros da equipe. No que se refere ao grupo de áreas doadoras de pele, os 22 pacientes estiveram sob o regime de internação, sendo acompanhados até a completa epitelização dos ferimentos (tabela 1).

O escaldo foi o agente mais comum no grupo dos pacientes queimados (tabela 2).

O tempo de permanência dos ftlmes variou de 1 a 14 dias nos dois grupos de pacientes. Vale a pena res­saltar que a pouca prática da equipe, no início do estu7. do, em manusear e avaliar os ftlmes antecipou as tro­cas em muitos casos, diminuindo o tempo de per­manência. Isto deveu- se principalmente a não ob­servância da área de fIXação na pele íntegra, que deve ser no mínimo de 3 cm ao redor do ferimento, e a um desengorduramento ineficiente anterior à colocação, que podem provocar o · deslocamento dos ftlmes (ta­bela 3).

De cada grupo avaliado, 10 (45,5%) pacientes não tiveram os seus curativos trocados até a completa epi­telização dos ferimentos. No restante dos pacientes foram promovidas até 2 trocas de curativos durante todo o tratamento pelos motivos expostos acima (ta­bela 4).

O tempo médio para a epitelização dos ferimentos variou, no grupo dos pacientes queimados, entre '; a 9 dias em 1 7 (77,3%) pacientes. Os 5 (22,7%) pacientes restantes tiveram os seus ferimentos epitelizados no intervalo de 10 a 14 dias. Enquanto que, nos pacientes com áreas doadoras de pele, 1 3 (59", 1%) estiveram na faixa de 5 a 9 dias e 9 (40,9%) entre 10 e 14 dias (ta­bela 5).

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A relação entre o acúmulo de exsudato e o tempo de absorção pelo organismo, sem necessidade de tro­cas dos filmes, foi um dos parâmetros analisados, veri­ficando-se que 10 (45,5%) pacientes em cada um dos grupos apresentaram o fenÔmeno. Destes, 6 (60%) pa­cientes portadores de queimaduras tiveram o exsudato absorvido no período de 24 a 48 horas enquanto que no mesmo número de pacientes, do grupo de áreas doadoras de pele, foi observada a absorção entre 3 e 5 dias (tabela 6).

É importante a cautela na observação deste exsu­dato, porque o seu aspecto não é agradável e a quanti­dade pode impressionar, levando a equipe a trocas e manuseios desnecessários, uma vez que o exsudato pode ser aspirado e o organismo se encarrega de reab­sorvê-lo quando não há infecção.

Não houve evidência cHnica de infecção em ne­nhum dos casos tratados,ressaltando-se 'que dos pa- ; cientes de áreas doadoras de pele, 1 7 (77,3%) estavam em uso de antimicrobianos por ocasião da enxertia. Não foi necessário portanto, o acompanhamento bac­teriológico em nenhum dos pacientes avaliados.

O tempo gasto pelo pessoal de enfermagem na colocação, observação e troca dos curativos foi redu­zido em pelo menos 60%, comparando-se com o tem­po dispendido anteriormente com os curativos tradi­cionais.

Realizando-se um estudo de custo comparativo, verificou-se que o curativo com filme transparente de poliuretano fica em média 60% mais barato que o cu­rativo tradicional nos dois procedimentos estudados (tabelas 7 e 8).

4 D ISCUSSÃO

Até bem pouco tempo atrás, o curativo tradicio­nal utilizado no esquema de tratamento de queimadu­ras de 2!? grau superficiais e áreas doadoras de pele, implica na utilização de apositos de rayon, gazes de rolo, algodão hidrófIlo e faixa crepe. Este curativo era trocado de acordo com as necessidades até a epite­lização dos ferimentos, o que correspondia, aproxima­damente, em uma troca a cada 48 horas, durante 2 se­manas em média. Além disso, este tipo de curativo provocava grande desconforto ao paciente, maior ris­co de infecção, custo elevado e maior tempo dispendi­do pela enfermagem.

f:m um estudo comparativo em pacientes queima­dos, verificou-se que a dor experimentada com o cu­rativo transparente é bem menos intensa do que com o curativo convencional ' 2 .

A valiando a experiência com o curativo transpa­rente de poliuretano no tratamento de queimaduras,

CONKLE 7 se refere ao ceticismo de parte do staff quando da introdução desta nova alternativa. Após al­gum tempo, o curativo já era utilizado em cerca de 90% das queimaduras tratadas. A autora cita ainda a ausência de crosta e uma cicatrização mais rápida e mais eficiente. Além disso, o tempo dispendido pela enfermagem nos cuidados com os curativos caiu pela metade.

Vários estudos clínicos referentes a avaliação do curativo transparente em área doadoras de pele se re­ferem às vantagens da sua utilização, tais como: a re­dução considerável de dor, Úldices muito baixo de in­fecção, auxflio na cicatrização e custo reduzido ' 2 1 4 8 5

Este estudo veio corroborar os resultados obtidos com o fIlme transparente de poliuretano como curati­vo em queimaduras de 2!? grau superficiais e áreas doadoras de pele.

.

As vantagens verificadas pela sua utilização fo­ram:

1. Ausência da dor, pela cobertura total das ter­minações nervosas, diminuindo consideravel­mente o desconforto.

2. Facilidade de aplicação e manuseio. 3. Redução em pelo menos 60% do tempo gasto

pela equipe com a realização, troca e obser­vação dos curativos.

4. Permanência dos fIlmes até a completa epite­lização, quando não há complicações e se a equipe estiver familiarizada com o procedi­mento.

5. proteção da ferida contra a contaniinação. 6. Liberdade total de movimentação do paciente. 7. Possibilita a completa higienização do pacien­

te, sem haver necessidade de troca do curati­vo.

8. Permite o acompanhamento da evolução do ferimento através da sua visualização, evitan­do assim a instalação de infecção.

9. Proporciona excelente cicatrização, por man­ter a umidade na superffcie da ferida, evitan­do a formação de crostas, o que resulta em uma cicatrização uniforme, de qualidade esté­tica superior.

10. Custo total reduzido em média 60%.

5 CO NC LUS ÃO A valiando-se as vantagens acima mencionadas,

concluiu-se que o fIlme transparente de poliuretano, pode ser recomendado como excelente alternativa, nos casos de queimaduras de 2!? grau superficiais e áreas doadoras de pele, por atender a maior parte dos requi­sitos de um curativo ideal, principalmente no que se refere a dor e ao conforto dos pacientes, prevenção de infecção, tempo gasto pela equipe, qualidade estética da cicatrização epitelial e custo reduzido.

R. Bras. Enferm., Brasfiia, 43 ( 1 , 2, 3/4): 177- 122, janJdez. 1990 1 19

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Motivo do término do tratamento

Cura

Abandono

Outros

Total de pacientes

TABELA 1 Casos estudados

Que11Dllduras

22 (66,7%)

5 ( 15,1%)

6 (18 2%)

33

TABELA 2

N2 de pacientes Areas doadoras

pele 22

(100%) O

O

22

Agentes causadores das queimaduras de 22 grau superficiais Agente Escaldo

Fogo

Vapor

Contato

Total de pacientes

N2 de pacientes 20

(60,6%) 4

( 12,1%) 6

( 18,2%) 3

(9,1%) 33 *

* Dos 33 pacientes, apenaS 22 foram acompanhados até o final do tratamento. Dos demais, 5 abandonaram e em 6 ocorreram intercorrências relacionadas ao manuseio inadequado dos curativos.

TABELA 3 empo e pel nCla os es T d rmanê ' d [Ilm

Intervalo N2 de pacientes (dias) Oueimaduras Areas doadoras 1 - 4 8 6

(36,4%) (27,3%) 5 - 9 1 1 14

(50%) (63,6%) 10 - 14 3 2

(13,6%) (9 1%) Total de pacientes 22 22

TABELA 4 F "ê . d d film requ nCla e trocas os es

N2 de trocas N2 de pacientes Queimaduras Areas doadoras

Nenhuma 10 10 (45,5%) (45,5%)

1 9 7 (40,9%) (3 1 ,8%)

2 3 5 (13 6%) (22 7%)

Total de pacientes 22 22

TABELA S Temoo médio de eoitelizacão

Intervalo N2 de pacientes (dias) Queimaduras Areas doadoras

5 - 9 17 13 (77,3%) (59,1%)

10 - 14 5 9 (22 7%) (40,9%)

Total de pacientes 22 22

120 . R. Bras. Enferm.; Brasfiia, 43 ( 1 , 2, 3/4): 1 17- 122, janJdez. 1990

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TABBLA 6 A ' I d cumu o e exsu d ato e tempo de absorção pelo organismo sem haver n!!cessidade de troca dos fIlm es *

Tempo N!! de pacientes O ueimaduras Areas doadoras

24 - 48 horas 6 4 3 - 5 dias 3 6 6 - 10 dias 1 O Total 10 10 * -Em um total de 22 pacIentes de cada grupo, 1 2 (54,5%) nao apresentaram acúmulo de exsudato.

TABELA 1 M 'al aten Grupo

, tempo e número de trocas necessárias à realização dos curativos. Quando não há intercorrências. Material para 1 curativo Trocas Tempo Gasto

(minutos) Queimadurlu Curativo Tradicional I!! atendimento 60 minutos de 2!! grau • Ataduras (crepe, algodão, ortopédico, gaze e rayon) + 2 trocas

• Soro fIsiológico superficiais • Luvas de procedimento Curativo Transparente Não há trocas. 20 minutos • Soro fisiológico (Somente no • Luvas de procedimento primeiro aten-• Compressas de gaze dimento) • Éter ou benzina • 2 fIlmes BioclusiveR 10,2 cm x 1 2,7 cm • Seringas 5m1 • Agulha descartável

Areas doado Curativo Tradicional I!! antendimen- 1 hora e ras de pele • Ataduras (crepe, algodão ortopédico, gaze e rayon) to + 4 trocas 15 minutos

• Vaselina Curativo Transparente Não há trocas 20 minutos . 2 ·fIlmes BioclusiveR lOl cm x 25,4 cm • ter ou benzina • A tadura de crepe • Seringa 5m1 • Agulha descartável

-* - Nao fOI. levado em conta o tempo gasto na clfurgIa.

TABELA 8 Custo individual dos curativos nos casos sem intercorrências

(Base' maio/90) Grupo Custo individual em US$ % de redução de custo do cu-

Tradicional Transparente rativo transparente em relação ao tradicional.

Queimaduras 30,76 13 ,84 55 de 2!! grau superfIciais Areas doadoras 48,60 17,07 65 de pele

R EFER Ê N C IAS B I B L IOG RÁF ICAS

1 AHMED, MC. Op-site for decubitus care. Am J Nurs 82: 6 1 -64, 1982.

. 2 AI;LING, P.NORTH A. F. Polyurethane fIlm for , coverage of skin graft donor sites. J Oral Surg, 39: 970-97 1 , 198 1 .

3 ALPER, J. C. , WELCH . E . A., GlNSBERG, M. Moist wound heaIing under a vapor permeable membrane. J Am Acad Dennatol, 8: 347-353, 1983.

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R . Bras. EnfeIDl., Brasfiia, 43 O , 2, 3/4): 1 17- 122,janJdez. 1990 1 2 1

Page 6: AVALlAÇAO DO FILME TRANSPARENTE DE POLlURETANO EM ... · Para simplificar, dividiremos o processo em três fases distintas: 1.Inflamat6ria: onde ocorre uma migração de leucócitos

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