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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS AVANÇOS E RETROCESSOS DA POLÍTICA BILATERAL BRASIL-BOLÍVIA NA QUESTÃO MIGRATÓRIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Tarsila Lemus do Nascimento da Silva Santa Maria, RS, Brasil. 2015

AVANÇOS E RETROCESSOS DA POLÍTICA BILATERAL … · ³custo´ (SAYAD, 1998, p.50). Por isso que infelizmente, a imigração é conduzida por muitos Estados como uma questão de segurança

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

AVANÇOS E RETROCESSOS DA POLÍTICA

BILATERAL BRASIL-BOLÍVIA NA QUESTÃO

MIGRATÓRIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Tarsila Lemus do Nascimento da Silva

Santa Maria, RS, Brasil.

2015

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AVANÇOS E RETROCESSOS DA POLÍTICA BILATERAL

BRASIL-BOLÍVIA NA QUESTÃO MIGRATÓRIA

Tarsila Lemus do Nascimento da Silva

Monografia realizada como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel

em Relações Internacionais pelo curso de Relações Internacionais, da

Universidade Federal de Santa Maria.

Orientador: Giuliana Redin

Santa Maria, RS, Brasil.

2015

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Universidade Federal de Santa Maria

Centro de Ciências Sociais e Humanas

Curso de Relações Internacionais

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Monografia.

AVANÇOS E RETROCESSOS DA POLÍTICA BILATERAL BRASIL-

BOLÍVIA NA QUESTÃO MIGRATÓRIA

elaborada por

Tarsila Lemus do Nascimento da Silva

como requisito parcial para obtenção do grau de

Bacharel em Relações Internacionais

COMISSÃO EXAMINADORA

Giuliana Redin, Dr.

(Presidente/Orientador)

(UFSM)

José Renato Ferraz da Silveira, Dr.

(UFSM)

Danielle Jacon Ayres Pinto, Me.

(UFSM)

Santa Maria, 29 de junho de 2015.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, minha razão de viver, meu fôlego de vida, se cheguei até aqui é

porque foi o Senhor que me ajudou!

Agradeço ao meu amado esposo, Diego, por sempre estar do meu lado, me

incentivando a conquistar meus sonhos, e por ser tão paciente e compreensivo comigo. Você é

meu porto seguro.

Agradeço aos meus pais, Eduardo e Carmem, que nunca mediram esforços para me

ver feliz, o sonho de me formar na UFSM sempre foi inspirado em vocês, e por isso essa

conquista é nossa. Não existem palavras para agradecer por tudo o que vocês fizeram por

mim!

Agradeço aos meus irmãos, Sara e Jonas, que são meus companheiros e cúmplices.

Agradeço aos meus avós, Vicente e Maria Eloi, por serem meus segundos pais em

Santa Maria.

Agradeço aos meus sogros, Erli e Marilene, por me receberem de como uma filha na

família de vocês.

Agradeço a minha amiga, Mariani, nesses 10 anos de amizade, você se tornou uma

amiga mais chegada que um irmão.

Agradeço as minhas amigas e colegas de curso, Êmily, Leila, Thais, por fazerem desta

jornada mais doce e alegre.

Agradeço a minha orientadora, Giuliana Redin, por me ensinar, me incentivar, e me

mostrar o quão importante é o tema da imigração, a sua dedicação pela causa me fascina e me

incentiva a seguir estudando o tema.

Agradeço aos meus queridos amigos e colegas do MIGRAIDH, nossos ricos debates e

as divertidas viagens de campo marcaram a minha vida acadêmica.

Agradeço aos meus professores que estiveram presentes em toda a minha vida

acadêmica, em especial, o professor José Renato, que sempre se dedicou em melhorar o curso

de Relações Internacionais da UFSM. E também meus agradecimentos a professora Danielle

pelos inquietantes debates na sala de aula, e pelas aulas incentivadoras.

E a todos que fizeram direta e indiretamente parte da minha formação, o meu muito

obrigado.

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RESUMO

AVANÇOS E RETROCESSOS DA POLÍTICA BILATERAL BRASIL-

BOLÍVIA NA QUESTÃO MIGRATÓRIA

AUTORA: TARSILA LEMUS DO NASCIMENTO DA SILVA

ORIENTADOR: Prof. Dr. GUILIANA REDIN

Santa Maria, 29 de julho de 2015.

A imigração nos tempos atuais tem sido destaque no cenário internacional, por se

inserir no processo típico das grandes transformações internacionais, caracterizando países

por serem exportadores de mão de obra ou vice-versa. A vista disto, o imigrante econômico

sai de seu país economicamente pobre, para buscar novas oportunidades em um país

industrializado, com uma economia aquecida e também para países menos industrializados,

mas em fase de desenvolvimento. Acontece, sobretudo, para os oriundos de países

explorados, denominados por uma linguagem de exclusão como de “terceiro mundo”,

exportadores de mão de obra barata e clandestina. Este fenômeno também pode ser observado

na América Latina, como é o caso deste estudo. Um dos fluxos migratórios mais intensos da

América Latina, o caso dos imigrantes bolivianos os quais seguidos da Argentina, têm sido

uma presença significativa em crescimento no Brasil e especificamente na cidade de São

Paulo. O tema dos Direitos Humanos é muito importante e recorrente na agenda internacional

brasileira, reflexo do processo de democratização do Brasil e também da sua política externa

baseada nos ideais do multilateralismo. A partir desta conjuntura, o presente trabalho analisou

os avanços e retrocessos da política bilateral Brasil e Bolívia na questão migratória, e

demonstrou a necessidade de uma nova racionalidade a partir dos direitos humanos, e não da

segurança nacional, para tratar da questão migratória. A presente pesquisa utilizou abordagem

dedutiva, a partir da concepção da proteção dos direitos humanos de imigrantes, bem como a

técnica de pesquisa descritiva.

Palavras-chave: Política bilateral Brasil e Bolívia, Imigração, Direitos Humanos.

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ABSTRACT

PROGRESS AND SETBACKS BILATERAL POLICY BRAZIL -

BOLIVIA IN MIGRATION ISSUE

AUTHOR: TARSILA LEMUS DO NASCIMENTO DA SILVA

TEACHER: Dr. GIULIANA REDIN

Santa Maria, July 29rd

, 2015.

The immigration on current times has been prominent in international scenario, once

inserted itself in the typical process of the great international transformations, featured

countries in be manpower exporting or importing or vice versa. The view of this, the

economic immigrants leave his economically poor country, to seek new opportunities in a

developed country, with a heated economics and also to less industrialized countries, but in

development phase. Happens, overcoat, to them who coming from exploited countries, named

by the exclusion of language as a "Third World" exporters of cheap and illegal work

manpower. This phenomenon may also be observed in Latin America, such as this study. One

of migratory flows more intense in Latin America, the case of the Bolivian immigrants

followed by argentine, has been a significant presence in growth in Brazil and specifically in

the city of São Paulo. The theme of Human Rights is very important and recurring in the

Brazilian international agenda, reflection of democratization process in Brazil and also of

foreign policy based on the ideals of multilateralism. From that scenario, the migratory

question is analyzed, for this project, through advances and setbacks of bilateral policy Brazil

and Bolivia and demonstrated a need for a new rationality from the Human Rights and not

from the National Security treat to lead to the migratory issue. This search used deductive

approach, from the design of the Immigrant Human Rights Protection conception as well as a

descriptive research technique.

Keywords: Brazil and Bolivia bilateral policy; Immigration; Human Rights.

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LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS

ASSEMBOL - Associação de Empreendedores Bolivianos

CadÚnico - Cadastros Único para Programas Sociais

CLT - Consolidação das Leis do Trabalho

CMC - Conselho do Mercado Comum

COMIGRAR - Conferência Nacional sobre Migrações

CPF - Cadastro de Pessoas Físicas

CPMig - Coordenação de Políticas Públicas para Migrantes

CRAI - Centro de Referência e Acolhida para Imigrantes

CREDN - Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional

DUDH - Declaração Universal dos Direitos Humanos

MERCOSUL - Mercado Comum do Sul

MJ - Ministério da Justiça

MPT - Ministério Público do Trabalho

MRE - Ministério das Relações Exteriores

OEA - Organização dos Estados Americanos

OIT - Organização Internacional do Trabalho

ONU - Organização das Nações Unidas

PF - Polícia Federal

PLS - Projeto Lei do Senado

RNE - Registro Nacional de Estrangeiros

SMADS - Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento

SMDHC - Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania

SMRG - Secretaria Municipal de Relações Governamentais

TAC - Termo de Ajuste de Conduta

UNASUL - União das Nações Sul-Americanas

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 8

1 MIGRAÇÃO HUMANA, SEGURANÇA E INTERESSE NACIONAL versus

DIREITOS HUMANOS. ............................................................................................................ 9

2 DESCRIÇÃO DA RELAÇÃO BILATERAL BRASIL E BOLÍVIA NO

TRATAMENTO POLÍTICO E JURÍDICO DO IMIGRANTE BOLIVIANO ....................... 16

2.1 O fluxo imigratório de bolivianos para o Brasil: condicionantes e cenário de violação

de direitos humanos .............................................................................................................. 16

2.2 Normativas, diálogos e ações unilaterais, bilaterais e regionais a respeito da

imigração boliviana para o Brasil ......................................................................................... 25

3 ANÁLISE DOS AVANÇOS E RETROCESSOS DA POLÍTICA BILATERAL BRASIL

E BOLÍVIA EM RELAÇÃO À IMIGRAÇÃO BOLIVIANA PARA O BRASIL ................. 38

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁGICAS..................................................................................... 46

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INTRODUÇÃO

O tema da imigração é cada vez mais recorrente no cotidiano do Brasil, devido ao

intenso fluxo de imigração que tem recebido atualmente, em especial do imigrante boliviano,

decorrente das relações com a América Latina, MERCOSUL.

A imigração boliviana por ser um dos fluxos de imigração mais intensos recentemente

no Brasil torna-se um fator de extrema relevância para a análise deste estudo acadêmico, pois

surgem novos pontos que precisam ser explorados e investigados como a questão de como o

Estado brasileiro está compreendendo a questão migratória e também quais as políticas de

proteção para o imigrante boliviano?

Uma vez que a Bolívia é signatária do Acordo de Residência do MERCOSUL. A

partir deste contexto insere-se o objeto de estudo do presente trabalho: a análise dos avanços e

retrocessos da política bilateral Brasil e Bolívia na questão imigratória atual.

A análise é feita em três capítulos, o primeiro, Migração humana, segurança e

interesse nacional versus Direitos Humanos, aborda inicialmente a fundamentação teórica

sobre o paradoxo da imigração, para assim, se compreender a complexidade do tema da

imigração em ralação como o Estado conduz a política migratória a partir dos seus interesses,

esquecendo o viés dos fundamentos dos Direitos Humanos.

O segundo capítulo, Descrição da relação bilateral Brasil e Bolívia no tratamento

político jurídico do migrante boliviano, inicia com dos condicionantes do fluxo imigratório

boliviano, e a apresentação do cenário de violação de diretos humanos a que são submentidos

os imigrantes bolivianos que vivem na clandestinidade. Em sequência, descreve-se

enfrentamento sobre legislação e política existente para a regulação a respeitos da imigração

boliviana para o Brasil.

No terceiro capítulo, Análise dos avanços e retrocessos da política bilateral Brasil e

Bolívia em relação à imigração boliviana para o Brasil, faz uma conclusão sobre o conteúdo

abordado, avaliando que por mais que existam avanços, ainda não são em total eficazes para

solucionar o problema da falta de documentação.

Destarte, nas considerações finais é realizada uma observação da importância de se

estabelecerem no Brasil, regras efetivas e concretas de políticas públicas que tenham como

base os fundamentos dos Direitos Humanos, em superação à agenda da segurança e do

interesse nacional do Estado.

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1 MIGRAÇÃO HUMANA, SEGURANÇA E INTERESSE

NACIONAL versus DIREITOS HUMANOS.

A imigração nos tempos atuais tem sido destaque no cenário internacional, por se

inserir no processo típico das grandes transformações internacionais, caracterizando países

por serem exportadores de mão de obra ou vice-versa.

Esta mobilidade humana acentuada é decorrente da globalização mundial, que

estimula o crescimento econômico, a falta de ofertas de emprego, a repulsão e o impulso as

migrações. O fluxo imigratório gera preocupação dos Estados receptores de imigrantes, por

representar um potencial de ameaça à soberania e a identidade nacional. Por outras palavras,

há uma proteção aos empregos e ao bem-estar de seus civis nacionais. O imigrante só é visto

de maneira “desejável”, quando este possui mão de obra especializada, logo, é aceito.

A questão imigratória só se faz ter um sentido e uma razão de ser, se o quadro duplo

erigido com o fim de contabilizar os “custos e os lucros“ apresentar um saldo positivo, por

seguinte, idealmente a imigração deveria comportar apenas “vantagens” e no limite nenhum

“custo” (SAYAD, 1998, p.50).

Por isso que infelizmente, a imigração é conduzida por muitos Estados como uma

questão de segurança e interesse nacional, assim, aplicam-se políticas repressivas de controle

à entrada de imigrantes em seus territórios, violando os direitos humanos e dando margem

para a clandestinidade.

As migrações internacionais, atualmente, constituem um espelho das assimetrias das

relações socioeconômicas vigentes em nível planetário. São termômetros que

apontam as contradições das relações internacionais e da globalização neoliberal.

Numa perspectiva sociológica, as migrações são percebidas sob a ótica estruturalista

como uma das consequências da crise neoliberal contemporânea. No contexto do

sistema econômico atual, verifica-se o crescimento econômico sem o aumento da

oferta de emprego. O desemprego passa a ser uma característica estrutural do

neoliberalismo, e as pessoas, então, migram em busca, fundamentalmente, de

trabalho. E isto se verifica tanto no plano interno como no internacional. Sobre a

lógica do progresso econômico e do desenvolvimento social impera a lógica do

lucro, onde todos os bens, objetos e valores são passíveis de negociação, como as

pessoas e até os seus órgãos, a educação, a sexualidade e, inevitavelmente, os

migrantes. Tomando por base o referencial demográfico, tem-se que os

deslocamentos migratórios fazem parte da natureza humana, mas são estimulados,

quando não forçados, nos dias de hoje, pelo advento da tecnologia e pelo impacto da

problemática econômica, nesta lógica inversa de sua preponderância em relação ao

ser humano. (MARINUCI; MILESI, 2013, [s.p.])

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Portanto, ao utilizar a expressão de Milton Santos (2012, p. 31) “o espaço que une e

que separa”, demonstra que se compartilha do mesmo espaço físico, mas existe dentro dele a

divisão social, ou uma seleção por parte do Estado, de quem é nacional e de quem tem ou não

autorização de permanecer nele.

Este controle calcado na segurança por parte do Estado é bem retratado por Foucault

(2008, p. 61), ele explica que a segurança tem por essencial função responder a realidade, e a

resposta, que anule, ou limite, ou regule essa realidade a que ela corresponde. Em sua visão, é

nesta regulação no elemento da realidade, que é fundamental nos dispositivos da segurança.

Por conseguinte, Redin (2013, p. 35) destaca que se governa na perspectiva da

economia, e projeta-se medidas de segurança e controle em que o público é pensado a partir

do privado; a razão do Estado está nele próprio; “a governabilidade está pautada na tríade

população-território-produção econômica, portanto o humano é elemento e fator econômico

fundamental”. Redin cita como exemplo, o valor das políticas públicas para justificar direitos

do cidadão, de um lado e de outro a “reserva dos excluídos”, o que intensifica o trabalho de

mão de obra subumana do imigrante clandestino.

Em suma, na intenção do Estado em proporcionar segurança é paradoxal, na medida

em que inclui, também exclui, e a parte de excluídos, consequentemente, está desprovida de

proteção, e encontra-se no oposto, na insegurança.

Situação esta que Redin (2013, p. 22, grifo do autor), ao acolher a expressão

conceitual de Agamben acerca da “vida nua”, é demonstrada pela exclusão do direito do

imigrante a ter direitos, sobretudo de ingresso e permanência. Além disso, diz que a

compreensão do espaço-tempo do imigrante econômico internacional, é aquele de uma

minoria sem voz e sem ação.

Seguindo esta mesma linha de pensamento, é facilmente aceito o discurso de que o

imigrante tem seu lugar durável à margem da sociedade, e se enquadra na parte inferior da

hierarquia social. Portanto, taxando-lhes de parasitas, julgando que não se deva nada ao

imigrante por seu elevado “custo social” (virtude das tradições políticas e sociais que se

denominam humanitárias, liberais, igualitárias, etc.) que sua presença impõe sobre a

sociedade que o recebe. (SAYAD, 1998, p. 51). Assim, é a condição do migrante imbuída em

uma “vida nua”, desprovida de direitos e condições, uma vida despolitizada. (REDIN, 2013,

p.25).

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Para SAYAD (1998, p. 54) a definição mais próxima do modelo ideal típico do

imigrante e da imigração, explica-se essencialmente por uma força de trabalho, e uma força

de trabalho provisória, temporária em trânsito. A vida e toda a sua estadia no país receptor é

definido e tratado como provisório, revogável em qualquer momento.

A estadia autorizada ao migrante está inteiramente sujeita ao trabalho, única razão

de ser que lhe é reconhecida: ser como imigrante, primeiro, mas também como

homem – sua qualidade de homem estando subordinada a sua condição de

imigrante. Foi o trabalho que fez “nascer o imigrante, que fez existir; é ele, quando

termina, que faz “morrer” o imigrante, que decreta sua negação ou que empurra para

o não-ser. (SAYAD, 1998, p. 55)

È importante ressaltar que, mais que qualquer outro objeto social, não existe outro

discurso sobre o imigrante e a imigração que não seja um discurso imposto; muito mais do

isto, é até mesmo toda a problemática da ciência social da imigração que é uma problemática

imposta. Sendo assim, uma das formas de compreender esta imposição é perceber o

imigrante, defini-lo, pensá-lo, ou mais simplesmente, sempre falar dele como um problema

social (SAYAD, 1998, p. 56).

Problema social, pois não se equipara aos demais, o imigrante econômico é

estigmatizado por vir de um país pobre, com outros costumes, cultura, religião, etc. É

excluído não só pelo Estado, mas também pelos seus nacionais pelo sentimento de xenofobia,

de repulsão ao que lhe é aparentemente diferente.

Realidade esta que é muito bem retratada por Norbert Elias (2000, p. 22) em seu livro

Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder de uma pequena

comunidade. Elias aponta a exclusão e a estigmatização dos outsiders pelo grupo estabelecido

como armas poderosas, para que este último preservasse sua identidade e afirmasse sua

superioridade, mantendo os outros firmemente no seu lugar.

Sobre a realidade do imigrante econômico internacional, ele migra na clandestinidade

do Estado de destino por esperança de melhores condições de vida, logo se cria a partir disso,

uma gama de eventos (econômico, social, cultural) que se inter-relacionam com o impacto no

humano e na sociedade, os quais produzem, infinitamente, novos eventos (REDIN, 2013, p.

22).

A vista disto, o imigrante econômico sai de seu país economicamente pobre, para

buscar novas oportunidades em um país industrializado, com uma economia aquecida, e

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também para países menos industrializados, mas em fase de desenvolvimento. Acontece,

sobretudo, para os oriundos de países explorados denominados por uma linguagem de

exclusão, como de “terceiro mundo”, exportadores de mão de obra barata e clandestina.

Este fenômeno também pode ser observado na América Latina, como é este caso de

estudo, um dos fluxos migratórios mais intensos da América Latina, o fato dos imigrantes

bolivianos, os quais depois da Argentina têm sido uma presença significativa em crescimento

no Brasil e particularmente na cidade de São Paulo.

Logo, se pode concluir que há um paradoxo na compreensão da mobilidade humana,

pois, de um lado o Estado não trata o imigrante econômico como um sujeito de direitos

humanos, de outro lado, ele detém direitos, medidas de segurança e controle nacional como já

vistas. Segundo Redin (2013, p. 30) “o Estado reconhece que esse estrangeiro é um sujeito de

direitos humanos. No entanto, o impede de participar do espaço público como sujeito do seu

próprio destino”.

No que tange aos diretos dos imigrantes, cabe destacar que a Declaração Universal dos

Direitos Humanos (DUDH), adotada e proclamada pela resolução 217 a (III) da Assembleia

Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948; garante aos indivíduos, no artigo 15, o

direito a ter direitos, deste modo, o direto a ter uma nacionalidade de não perdê-la e de poder

trocar de nacionalidade, no artigo 14 o direito de buscar asilo em situações de perseguição, e

no artigo 13 parágrafo 2 o direito de sair, ou seja, o direito de deixar seu país de origem, e de

voltar quando sentir vontade ou necessidade. (NAÇÕES UNIDAS, 1948, [s.p.]).

Por mais que o imigrante tenha direitos garantidos pela DUDH (Declaração Universal

dos Direitos Humanos), a autonomia decisória do Estado, a respeito de quem tem autorização

para entrar ou residir em seu território continua em seu poder. A prova disso está no artigo 13,

parágrafo 1, onde fica evidente que a liberdade de circulação e de residência é restrita ao

“interior das fronteiras de cada Estado”. Observa-se que não há existência de um “direito de

entrada” que possa ser igualado ao direto de saída do território. Outra prova está no artigo 14,

parágrafo 1, que assegura à “vítima de perseguição o direito de procurar e se beneficiar de

asilo em outros países”, no entanto, nenhum país possui a obrigação de aceitá-la ou de recebê-

la em seu território.

Torna-se imprescindível também citar a Organização Internacional do Trabalho (OIT)

e a Convenção Internacional, sobre a proteção dos Direitos de todos os Trabalhadores

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Migrantes e dos Membros das suas Famílias de 1990, por serem organismos internacionais

que se preocupam com a questão migratória.

A OIT (Organização Internacional do Trabalho) é uma das agências das Nações

Unidas que possui por objetivo promover oportunidade para que homens e mulheres

consigam ter acesso a um trabalho decente e produtivo, em condições de liberdade, equidade,

segurança e dignidade. A OIT tem a responsabilidade de formular e aplicar as normas

internacionais do trabalho (convenções e recomendações). È importante destacar que, as

convenções quando ratificadas por decisão soberana de um país, passam a fazer parte do seu

ordenamento jurídico. O Brasil é um dos membros da OIT, e mantém uma participação ativa

na Conferência Internacional do Trabalho desde sua primeira reunião.

O Trabalho Decente, conceito formalizado pela OIT em 1999, sintetiza a sua missão

histórica de promover oportunidades para que homens e mulheres possam ter um

trabalho produtivo e de qualidade, em condições de liberdade, equidade, segurança e

dignidade humanas, sendo considerado condição fundamental para a superação da

pobreza, a redução das desigualdades sociais, a garantia da governabilidade

democrática e o desenvolvimento sustentável.

O Trabalho Decente é o ponto de convergência dos quatro objetivos estratégicos da

OIT: o respeito aos direitos no trabalho (em especial aqueles definidos como

fundamentais pela Declaração Relativa aos Direitos e Princípios Fundamentais no

Trabalho e seu seguimento adotada em 1998: (i) liberdade sindical e

reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva; (ii) eliminação de todas as

formas de trabalho forçado; (iii) abolição efetiva do trabalho infantil; (iv) eliminação

de todas as formas de discriminação em matéria de emprego e ocupação), a

promoção do emprego produtivo e de qualidade, a extensão da proteção social e o

fortalecimento do diálogo social. (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO

TRABALHO, [200-?], [s.p.]).

A Convenção Internacional sobre a proteção dos Direitos de todos os Trabalhadores

Migrantes e dos Membros das suas Famílias de 1990, em vigor desde 2003, é um importante

instrumento internacional, pois reconhece e protege a dignidade e os direitos básicos de todos

os trabalhadores migrantes, independentemente de estarem em situação migratória regular ou

não.

O art. 2º da Convenção define que "trabalhador migrante é a pessoa que vai exercer,

exerce ou exerceu uma atividade remunerada num Estado do qual não é nacional".

E, na Parte III, estabelece uma série de direitos que são assegurados a todos os

trabalhadores migrantes e membros de suas famílias, documentados ou não, estejam

ou não em situação regular. Destacam-se, dentre outros: direito à vida, à dignidade

humana, à liberdade, à igualdade entre homens e mulheres, à não discriminação e

submissão ao trabalho desumano, forçado ou degradante, à liberdade de expressão e

de religião, à segurança, à proteção contra prisão arbitrária, à identidade cultural, à

igualdade de direitos perante os tribunais e ao direito inalienável de viver em

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família. Assegura, ainda, que os trabalhadores migrantes devem beneficiar-se de um

tratamento não menos favorável que aquele concedido aos trabalhadores nacionais

de emprego em matéria de retribuição e outras condições de

trabalho. (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, [200-?], [s.p.]).

Todavia, infelizmente o Brasil ainda não ratificou a Convenção sobre a Proteção dos

Direitos dos Trabalhadores Migrantes e Membros de suas famílias, mesmo que em 1996,

tenha incluído em seu Plano Nacional de Direitos Humanos o compromisso com a ratificação.

Vale ressaltar que, o Brasil é o único país membro do MERCOSUL a não integrar o

instrumento, e das grandes convenções da ONU apenas esta ainda não foi assinada pelo país.

Com efeito, o espaço-tempo identificado nos instrumentos legais nacionais e

internacionais, não é adequado para tratar uma realidade corrompida de uma violência

característica que envolve a imigração internacional econômica. A estrutura da modernidade

esconde, por meio do direito a violência implícita na lógica do sujeito individual, que se

projeta nos chamados direitos subjetivos, os quais o isolam do mundo e retiram-lhe a

subjetividade, a identidade e a capacidade de escolha e ação (REDIN, 2013, p. 29).

É importante destacar que, o tema dos Direitos Humanos é muito importante e

recorrente na agenda internacional brasileira, reflexo do processo de democratização do Brasil

e também da sua política externa de regime multilateral.

A propósito, Milani (2011, p.45-47) aponta que o Brasil desde a publicação da

Constituição de 1988, tem se dedicado em assumir medidas que buscam a incorporação de

tratados internacionais direcionados à proteção dos Diretos Humanos. O autor referencia que,

o Brasil tornou-se signatário dos fundamentais tratados internacionais de Direitos Humanos,

como, por exemplo: o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos; o Pacto Internacional

dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais; a Convenção Contra a Tortura e Outros

Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou degradantes; e a Convenção Americana sobre

Direitos Humanos.

Complementa Milani (2011, p. 45) que o “Brasil é, dessa forma, um dos países em

desenvolvimento que mais ratificaram convenções e tratados internacionais no campo dos

direitos humanos, ao lado de Argentina, Chile, México e Uruguai, que também se destacam”.

A abordagem dos Direitos Humanos fica explícita no artigo 4º da Constituição Federal

brasileira de 1988, onde são regidas as suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

independência nacional, prevalência dos direitos humanos, autodeterminação dos povos, não

intervenção, igualdade entre os Estados, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos, repúdio

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ao terrorismo e ao racismo, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade,

concessão de asilo político (BRASIL, 1988, [s.p.]).

Dessa forma, o artigo 4º da Constituição brasileira, como um todo representa a

relevância do tema tanto nos assuntos domésticos, como nos internacionais, por evidenciar o

comprometimento brasileiro em respeitar e contribuir na promoção dos Direitos Humanos de

todos os povos, sem exceções independente de suas nacionalidades.

Os avanços na proteção dos direitos humanos no Brasil permitiram ao País

consolidar posição de interlocutor coerente e equilibrado no sistema multilateral,

com capacidade de influenciar o debate sobre direitos humanos e colaborar para

melhorias efetivas no respeito a esses direitos em outros países. Temos priorizado o

desenvolvimento de agenda positiva de proteção dos direitos humanos, que rompa

com a tradição de debates estéreis sobre o assunto baseados mais na conveniência

política dos países do que nas reais necessidades das pessoas que sofrem os efeitos

de violações. Uma militância construtiva em favor dos direitos humanos leva em

conta as peculiaridades de cada situação e as verdadeiras necessidades das vítimas

das violações. Em reação a crises humanitárias, a comunidade internacional deve

buscar o difícil equilíbrio entre o fortalecimento dos esforços pela paz e a

necessidade de resposta condenatória às violações dos direitos humanos. A mera

condenação leva ao isolamento. O diálogo e a persuasão são muitas vezes mais

eficazes para a melhoria da situação no terreno ao trazer à cooperação as partes

responsáveis pelo cumprimento das decisões dos fóruns multilaterais. (AMORIN,

2009, [s.p.]).

Portanto, com a ampliação da projeção do Brasil no cenário internacional, por meio de

uma agenda internacional fundamentada nos princípios dos Direitos Humanos, tem

conquistado respeito e credibilidade, não só em âmbito regional como internacional. Assim,

destacando-o como um potencial de liderança regional na América Latina.

O padrão qualitativo de adesão do Brasil ao regime multilateral pode ser comparado

ao de algumas superpotências e outras potências médias do sistema internacional. (MILANI, 2011, P.45)

É dentro deste contexto, que se insere a perspectiva brasileira quanto à pauta dos

direitos humanos e a imigração, neste caso de estudo a imigração boliviana para o Brasil, e

enfrentamento sobre legislação e política existente para a regulação do tema, sendo o

imigrante boliviano, uma vez que a Bolívia é signatária do Acordo de Residência do

MERCOSUL.

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2 DESCRIÇÃO DA RELAÇÃO BILATERAL BRASIL E BOLÍVIA

NO TRATAMENTO POLÍTICO E JURÍDICO DO IMIGRANTE

BOLIVIANO

2.1 O fluxo imigratório de bolivianos para o Brasil: condicionantes e cenário de

violação de direitos humanos

A imigração boliviana no Brasil não é um fenômeno novo, é registrada já na década de

1950, por estudantes que vinham com a intenção de estudar em nosso país, em decorrência de

estímulos por convênios de intercâmbios científico e cultural entre ambos os países. Outros

vieram não por escolha, mas por motivos econômicos ou políticos, pois naquele momento a

Bolívia não lhes proporcionava oportunidades de emprego ou de exercício da liberdade de

expressão (SILVA, 1997, p. 83).

Nos anos 80, foi se arquitetando um perfil característico desses migrantes, singular por

abranger em suas maiorias jovens dos gêneros feminino e masculino, solteiros, com

escolaridade média, atraídos substancialmente por promessas de uma melhor qualidade de

vida, atribuída pelos bons salários oferecidos pelos empregadores coreanos, brasileiros e até

mesmo por seus próprios conterrâneos donos das oficinas de costura pertencentes â cidade de

São Paulo (SILVA, 1997, p. 85).

Segundo o último Censo (2010), os bolivianos tornaram-se a segunda maior colônia de

imigrantes na cidade de São Paulo, ficando atrás dos imigrantes portugueses. Pelo registro

oficial entre os anos de 2000 e 2010, o número de bolivianos registrados em São Paulo

aumentou em 173%, e deu um salto de 6.578 para 17. 960 o número de imigrantes bolivianos

registrados. De acordo com o Consulado da Bolívia em São Paulo, o número pode ser cinco

vezes maior quando incluirmos os imigrantes bolivianos que vivem em situação clandestina

estima-se que pode ultrapassar 100 mil. (Folha de São Paulo, 16 de junho de 2013).

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Devido à facilidade de entrar no Brasil pela rota da clandestinidade, vários imigrantes

contam com a ajuda de aliciadores para chegar ao Brasil clandestinamente, por meio das

fronteiras de Cáceres1, Corumbá

2, e Guarajá-Mirim

3 (Silva, 2008, p.24).

A rota de entrada no país mais conhecida é a que liga Santa Cruz de La Sierra na

Bolívia e Corumbá (MS), no Brasil. Quem optar por esta rota terá que enfrentar uma

longa viagem de trem até Puerto Quijaro, próximo à fronteira brasileira, e depois

seguir em ônibus até Campo Grande, e daí, até São Paulo. Entretanto com o

aumento da fiscalização neste posto de fronteira, uma outra rota foi criada, a que tem

início em Santa Cruz de La Sierra, passando pelo Chaco paraguaio, até chegar a

Ciudad Del Leste, fronteira com o Brasil. Depois de cruzarem a Ponte da Amizade,

sem muita dificuldade, os bolivianos seguem rumo à capital paulista, partindo de

Foz do Iguaçu em ônibus, em geral aqueles utilizados pelos sacoleiros, que vão ao

Paraguai fazer compras. Quando a fiscalização aperta o cerco, os coiotes orientam os

bolivianos para seguirem até cidades mais próximas, como Medianeira ou até

Cascavel, e de lá pegar um Ônibus de linha até o destino final. O custo da viagem

até São Paulo é de aproximadamente U$160 dólares. (SILVA, 2008, p. 25).

A via de entrada no Brasil se dá na maioria das vezes por transporte terrestre, já que

por via aérea o custo da viagem se torna mais dispendioso. Um dos principais destinos de

imigrantes bolivianos no Brasil é a cidade de São Paulo, por esta representar para eles a

possibilidade de uma mobilidade social, tanto para aqueles com menor qualificação

profissional, os quais estão incorporados no setor da costura, quanto para os com maior grau

de escolaridade, como por exemplo, os profissionais liberais entre eles médicos, dentistas,

engenheiros, técnicos, e etc. (SILVA, 1997, p. 84).

Esta força de trabalho que condiciona toda a existência do imigrante, não pode ser

encontrada em qualquer lugar e não é qualquer tipo de trabalho, é o trabalho que o “mercado

de trabalho para imigrantes” proporciona, portanto imigrantes para trabalhos que se tornam

desta forma, trabalhos para imigrantes (SAYAD, 1998, p. 55).

Em relação a origem destes imigrantes bolivianos, destaca-se em sua maioria:

pacenhos, cochabambinos, orurenhos, potossinos, cruzenhos, entre outros (SILVA, 1997, p.

93).

A verdade é que muitos deles escondem sua procedência, dizendo que são naturais

da cidade grande, talvez pelo fato de que se identificar-se como camponês implica

1 Cáceres: município do estado brasileiro de Mato Grosso

2 Corumbá: município do estado brasileiro de Mato Grosso do Sul

3 Guajará-Mirim: município brasileiro do estado de Rondônia

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assumir a identidade indígena, a qual é carregada de preconceitos tanto na Bolívia

quanto no Brasil. (SILVA, 1997, p. 89).

No quesito convivência entre migrantes bolivianos e brasileiros, segundo Dominique

Vidal (2012) pode se caracterizar como uma convivência pacífica de fluidez, harmonia e

poucas tensões, devido ao comportamento de sociabilidade mais recatado e contido do

migrante boliviano, e também por não apresentarem ameaças aos empregos dos brasileiros, já

que estes consideram como um trabalho análogo à escravidão. [...] ”Como se nota, a palavra

«escravo» é do ponto de vista dos brasileiros, um estigma que separa radicalmente dois

mundos, muito além da separação entre «nacionais» e «estrangeiros»” (VIDAL, 2012, p.

102).

Trata-se das poucas reações de hostilidade que provocam dentro da população

brasileira morando nesse mesmo espaço urbano. Embora a literatura sobre as

migrações internacionais tenha amplamente analisado a emergência de

manifestações de xenofobia ligadas à instalação de estrangeiros; não se observa nada

semelhante no caso dos bolivianos. Pelo contrário, as relações sociais entre

migrantes internacionais e brasileiros se caracterizam por um certo grau de fluidez e

convivência tanto no Brás e no Pari como no Bom Retiro e na Mooca. Aqui vale até

salientar que, exceto alguns casos, a maioria dos bolivianos e brasileiros encontrados

durante a pesquisa de campo não fazem comentários negativos a respeito uns dos

outros. (VIDAL, 2012, p. 94).

Vidal (2012) também analisa em sua pesquisa três caracteres de percepção dos

migrantes bolivianos a “indianidade”, a “cultura” e a “metáfora do trabalho escravo”, que por

sua vez, os fazem considerar diferentes e os essencializam.

Por relativamente bem aceitos que sejam pelos moradores brasileiros dos bairros

centrais de São Paulo, os migrantes bolivianos não deixam de ser vistos como

formando um grupo à parte definidos por três características principais: ser uma

população de «índios», ter «outra cultura» e trabalhar como «escravos». Para

entender a vida dos bolivianos do setor da confecção é preciso levar em conta os

efeitos dessas três representações (ou categorizações) que muitas vezes se cruzam na

prática, mas podem ser analiticamente distinguidas. Com efeito, o uso permanente

dessas categorizações para definir os bolivianos contribui à homogeneização e à

essencialização de uma população migrante diferenciada em termos de origens,

trajetórias e posições ocupadas. Também participa do processo de construção da

etnicidade dos bolivianos em São Paulo a partir de fronteiras sociais traçadas entre o

grupo definido pelas categorizações e a interação entre os membros desse grupo e o

resto da sociedade num determinado contexto sócio-histórico. (VIDAL, 2012, p. 99)

Destarte, no que se refere à condição social dos mesmos, Silva (1997, p. 93) em sua

pesquisa verificou que, grande parte são pobres, por habitarem nos bairros localizados em

regiões periféricas ou serem provenientes da zona rural em seu país de origem. O autor diz

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que é importante ressaltar, “que em alguns casos, principalmente de famílias, foi constatado a

existência de algum bem durável, como casas, terras, porém dentro do padrão de pequenas

propriedades”.

Em relação a distribuição espacial dos migrantes bolivianos na cidade de São Paulo,

pode-se destacar os bairros centrais, por sua vez, mais concentrados por ordem decrescente

nos bairros: Bom Retiro, Belém, Brás, Pari, República e Santa Cecília. Que por sua vez

possuem um marco histórico da presença de imigrantes internacionais por décadas. Por

conseguinte, reforça não só a presença histórica de diferentes ondas migratórias

internacionais, mas também internas, e que encontram nesses espaços condições importantes

para sua concentração na cidade. Iara Rolnik Xavier conclui que “aparentemente, existem nos

bairros centrais determinados atributos que parecem servir tanto aos migrantes do passado

quanto aos mais recentes” (XAVIER, 2012 p.131).

Embora cada um dos bairros centrais citados possua uma história particular,

podemos dizer que são distritos historicamente industriais e operários, sendo que, do

ponto de vista de sua constituição e crescimento, como dito, estiveram muito

associados ao período de imigração internacional em massa. A atividade industrial

principal nesses espaços (sobretudo Brás, Bom Retiro e Belém) girou em torno do

setor de confecção de roupas, que contribuiu para a sua estruturação espacial e

produtiva, formando o que Becattini denominou como distrito industrial

especializado – o que remete à lógica de concentração espacial de uma atividade

produtiva específica. A participação dos diversos grupos migrantes nessa indústria e

nesse espaço parece ir além, no entanto, de uma simples associação entre grupos,

atividades e espaço, criando uma lógica que alia imigração e especialização laboral

que caracterizou a indústria do vestuário também em outros contextos, como na

França (XAVIER, 2012, p. 131).

É importante lembrar que, além dos bairros centrais tradicionais já citados, bolivianos

e outros migrantes hispanos americanos4 encontram-se também concentrados na Zona Leste,

Norte, e Oeste da cidade de São Paulo. Todavia, existem outros lugares que podem ser

encontrados, como também na Zona Sul da cidade e em municípios da Grande São Paulo

como: Diadema, Santo André, Ribeirão Pires, Osasco, Barueri, São Roque, Guarulhos e

outros mais afastados, como Francisco Morato, Jundiaí, Campinas, Sumaré, Americana,

Araçatuba, São Carlos, Ribeirão Preto, Ourinhos e tec. (SILVA, 2008, p.20).

Este afastamento ou espalhamento espacial na cidade de São Paulo se dá por causa da

preocupação em serem descobertos pela fiscalização do Ministério do Trabalho e da Polícia

4 Imigrantes paraguaios e peruanos.

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Federal, por serem indocumentados no Brasil e por trabalharem em fábricas clandestinas,

submetendo-se a condições insalubres e exploratórias de mão de obra.

Para escapar da fiscalização do Ministério do Trabalho e da Polícia Federal, que às

vezes atuam juntos nas investigações, os imigrantes indocumentados adotam a

estratégia do afastamento de bairros onde há uma grande concentração de hispano-

americanos, como é o caso do Brás, Pari e Bom Retiro, lugares estes outrora

habitados por italianos, judeus entre outros. Tal estratégia, conjugada com outros

fatores econômicos, como, por exemplo, o preço dos aluguéis, tem fomentado uma

desconcentração espacial, articularmente daqueles que trabalham no ramo da

costura. (SILVA, 2008, p. 20)

Em suma, o texto acima nos deixa claro que a localização espacial dos migrantes

bolivianos na cidade de São Paulo, possui uma correspondência direta com o modelo de

atividade produzida por eles na cidade, que é neste caso o ramo da costura.

Sidney Antônio da Silva (2008, p.24) ressalta que, primeiramente importa ter o

conhecimento no qual em sua maioria a mão de obra boliviana apresenta-se para preencher

demandas já existentes dos setores do mercado de trabalho, que não requisitam uma

qualificação prévia. Em segundo, não possuem o respeito dos direitos dos trabalhadores

agraciados na Convenção Geral das Leis brasileiras do Trabalho (CLT), em terceiro, onde

ocorre uma intensa circulação de trabalhadores.

Silva (2008, p.25) conclui [...] ”Sendo assim, não se sustenta a percepção do senso

comum de que eles estariam “roubando” empregos dos brasileiros, até porque seria difícil

encontrar algum brasileiro disposto a aceitar as condições de trabalho impostas a estes

imigrantes, em razão da sua frágil condição de indocumentação no país”.

Situação esta que Sayad (1998, p.55) interpreta como o “mercado de trabalho para

imigrantes”, portanto, uma força de trabalho condicionada a situação que lhe é submetida ou

mesmo exposta. A grande ampliação da economia, um dos principais fatores que estimulam a

imigração por ser a maior consumidora de fato da imigração, necessita de mão de obra

imigrante permanente e sempre mais numerosa. Assim, contribui para assentar e fazer com

que todos dividissem a ilusão coletiva que se encontra a base da imigração.

Ainda é difícil avaliar com relativa exatidão o número de imigrantes latino-

americanos que trabalham na confecção, sendo que a grande maioria são

informalmente ocupados. No entanto, podemos supor que o número de empregos na

confecção em São Paulo não tenha diminuído de forma drástica, dado que, se fosse

confirmado, colocaria o setor numa situação de exceção no conjunto das atividades

industriais em São Paulo, as quais sofreram importantes reduções de suas atividades

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e efetivos de mão de obra. Sem embargo, a organização econômica e sociologia dos

ocupados do setor na metrópole evoluíram com a participação crescente dos

estrangeiros e recuo progressivo da mão de obra nacional. (SOUCHAUD, 2012,

p.83)

Devido à falta de documentação, os migrantes bolivianos clandestinos por não terem

outras opções, acabam se submetendo ao que lhes é oferecido, na grande maioria das vezes

ainda no seu país de origem. Situação resultante das redes familiares e de agenciamento de

trabalhadores ilegais já fixados na Bolívia, deste modo, direcionando a mão de obra para o

setor específico do mercado de trabalho, como é o caso da costura. (SILVA, 2008, p. 25).

Por conseguinte, os salários de uma jornada de trabalho nem sempre são miseráveis,

e os casos de mão de obra cativa acontecem geralmente com os migrantes recém-

chegados que ainda não perceberam as regras e possibilidades do mercado.

(SOUCHAUD, 2012, p. 86)

Os imigrantes bolivianos encaram a atividade da costura como algo temporário, pois a

maioria não teve o desempenho desta profissão em seu país de origem. Em geral, muitos se

dedicavam a atividades completamente distintas com as que exercem aqui no Brasil, como

por exemplo: atividades na agricultura, no comércio, no setor de prestação de serviços, e

também aos estudos, caso mais específico dos jovens. Portanto, evidencia-se que para muitos

o processo de aprendizado na costura se torna um extremo sofrimento e trauma, como

também representar de certa forma, uma modificação no seu status profissional de origem.

(SILVA, 2008, p. 26).

O sentimento de temporariedade vivido pelo imigrante (neste caso o imigrante

boliviano) é muito bem traduzido por Abdelmalek Sayad (1998, p.45) em seu livro: A

Imigração ou os Paradoxos da Alteridade, defende a ideia que uma das características

principais da imigração, exceto algumas situações, é o sentimento do imigrante dissimular a

sua própria verdade da sua realidade. Assim, colocando-o em uma dupla contradição:

sentimento de estado provisório, ou sentimento de um estado provisório que pode prolongar-

se por mais um pouco. Tudo se explica por não se conseguir pôr em conformidade, o direito e

o fato, portanto condena-se a criar uma situação de dupla contradição citada anteriormente.

Contudo, fica evidente que adaptar-se às normas e condições insalubres de trabalhos

em setores, onde a regulamentação é nula, é uma etapa extremamente difícil para os

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imigrantes bolivianos residentes na cidade de São Paulo. Condições estas que expõem um

cenário de violação dos Direitos Humanos e das leis do Ministério do Trabalho brasileiro.

Ambientes de trabalho pouco ventilados propiciam uma série de doenças aos

costureiros (as), afetando-lhes os olhos, como é o caso da conjuntivite, ou ainda os

pulmões, em razão do pó aspirado durante o período de trabalho. Outras doenças

comuns são as que afetam as pernas e pés, causando-lhes inchaço, por falta de

circulação, ou a anemia, consequência de uma alimentação pobre em proteínas e

vitaminas, já que uma das fontes de proteínas, o feijão, é pouco consumida por eles,

em razão de hábitos culturais. Tais condições de vida propiciam o reaparecimento de

uma doença já pouco falada no contexto brasileiro, que é a tuberculose. (SILVA,

2008, p. 26)

Segundo Dominique Vidal, o discurso da Organização Internacional do Trabalho

(OIT) a respeito da luta contra a escravidão moderna, baseia-se [...] no fato de que muitos

migrantes bolivianos clandestinos vivem em oficinas de costura em que trabalham até

dezessete horas por dia, seis dias por semana. (VIDAL, 2012, p.100).

Salienta-se que os mesmo estão sujeitos às instabilidades do mercado, que por sua vez

impõem os preços a serem pagos por peça costurada, da mesma maneira que também

subjugados aos domínios e vontades de seus empregadores que lhes cobram uma farta

produção, não obstante, efetuando o pagamento da maneira que lhes convém, podendo reter o

salários deles por vários meses. (SILVA, 2008, p.26).

No preço pago a cada peça costurada estão incluídos os gastos que o oficinista tem

com a alimentação e residência dos seus costureiros (as). Assim, os “salários”

variam de acordo com o tipo de roupa costurada, ou seja, masculina ou feminina,

mais complexa ou mais simples, e depende também da habilidade do trabalhador (a)

em aprender rapidamente os macetes da costura. Dessa forma, os homens podem

ganhar mais que as mulheres, em razão da sua agilidade, resultante do seu vigor

físico. Na fase inicial, um aprendiz pode ganhar cerca de R$150,00 a R$200,00. Já

numa fase posterior, os seus rendimentos giram em torno de R$350,00 a R$400,00,

longe de atingir o piso salarial da categoria que é de R$659,00. (SILVA, 2008, p.

26)

É importante ressaltar que, neste setor da costura existem outras especificidades, tais

como: passadores de roupa, cortadores ou modelistas que por apresentarem um grau de

experiência e técnica, ganham mais do que um simples trabalhador costureiro. Também não

se pode esquecer que com a alta demanda do mercado de trabalho normalmente ocorrida no

final do ano, os momentos de alta produção proporcionam um acréscimo no salário, contudo,

à custa de muito trabalho (SILVA, 2008, p. 27).

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A total desregulamentação desta forma de produção terceirizada, que em grande

parte, inclui os membros da família nuclear e ampliada, como é o caso de parentes e

conhecidos do lugar de origem, abre espaço para relações de trabalho

superexploradas e, em alguns casos, de trabalho escravo. Isto se torna possível em

razão da condição de indocumentação dos imigrantes e pelas relações de favor que

se criam entre empregados e empregadores, uma vez que estes bancaram a vinda

daqueles e lhes forneceram casa e alimentação (SILVA, 1997, p. 121)

Não obstante, estas relações de dependência são suspensas com regularidade, e muitas

vezes com o auxílio de algum conterrâneo, colega ou amigo são capazes de escapar do

cativeiro. Já para as mulheres a fuga torna-se muito mais complicada, por sentirem-se mais

frágeis com a falta de conhecimento da língua portuguesa e também a falta de referências na

cidade, a grande maioria desconhece até mesmo o endereço que moram. (SILVA, 2008, p.

27).

Estas formas de relações de trabalho, tidas como “arcaicas” para os padrões

“modernos” do século XXI, nos remete ao contexto da Revolução Industrial do

século XVIII, quando mulheres e crianças eram incorporadas à produção fabril em

condições insalubres e ganhando menos do que os homens. Neste contexto, o

trabalho a domicílio, como constatou Marx, era ‘uma seção externa da fábrica, da

manufatura ou do estabelecimento comercial’ (MARX, 1985, p. 529-530). A

verdade é que a modernidade convive com formas anacrônicas de produção, pois o

que está em jogo é a reprodução ampliada do capital, sem nenhuma responsabilidade

social. Um exemplo disso é a prática adotada por algumas redes de lojas no Brasil,

entre elas a C&A, que em nome da competitividade, tem se utilizado de mão de obra

indocumentada para confeccionar os seus produtos. Segundo um oficinista que

prestava serviços para uma empresa coreana, a mediadora entre os bolivianos e a

referida loja, havia pelo menos sessenta oficinas de costuras envolvidas em tal

processo de produção. (SILVA, 2008, p. 28)

É importante notar que, outras empresas além da C&A foram investigadas pelo

Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), como por exemplo: a Zara, Marisa,

Pernambucanas, Riachuelo, Renner, Hering, Gregory, Bo.Bô, Le Lis Blanc, Talita Kume,

Cori, M. Officer.

Reportagem da revista Brasil de Fato sobre a questão do trabalho escravo no setor

têxtil:

Nos últimos quatro anos, fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)

flagraram trabalhadores bolivianos em condições degradantes em oficinas de costura

fornecedoras de marcas populares e caras. Autuada 48 vezes em 2010 e multada, a

Marisa assinou um TAC e afirma fiscalizar, mas não divulga os resultados.

Absolvida em primeira instância, questiona o governo na Justiça por publicar a “lista

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suja” do trabalho escravo. O MTE recorre da absolvição. A C&A não chegou a

receber autuação formal, mas passou a fazer auditorias surpresa e divulga na internet

casos de trabalho infantil e pagamento abaixo do salário mínimo. A Collins assinou

TAC e passou a fiscalizar os parceiros. Já a 775 não fiscaliza nem informa as ações

para evitar o trabalho escravo na produção. Com oficinas flagradas em 2011, as

Pernambucanas se recusaram a assinar acordo para sanar os problemas e não

publicam dados das auditorias que garantem fazer. A Gregory que, em 2012,

recebeu 25 autos de infração, não assinou TAC e não diz o que faz para combater o

trabalho escravo. No ano passado, foi a vez de oficinas da Bo.Bô, Le Lis Blanc e

John John, e da Cori, do mesmo grupo de Emme e Luigi Bertolli. As marcas não

declaram ações contra trabalho escravo ou se descartam fornecedores. Em maio

passado, fiscais encontraram bolivianos costurando para a M. Offi cer – o que já

tinha acontecido em novembro de 2013. Em julho, o MPT pediu à Justiça que

responsabilize a marca por trabalho escravo, além de multa de R$10 milhões por

danos morais e que seja proibida de atuar no estado de São Paulo. (BRASIL DE

FATO, 19 de ago. 2014).

Portanto, evidencia-se que existe uma rede de beneficiados com a exploração de mão

de obra exploratória, e muitas vezes, passa despercebida aos seus consumidores finais. O que

se necessita é a consciência de qual é a procedência dos produtos que são adquiridos, para

combater o trabalho escravo ”contemporâneo”.

O Ministério Público do Trabalho (MPT) tem feito investigações e autuando empresas

que participam de práticas exploratórias ligadas direta e indiretamente ao trabalho escravo,

vários trabalhadores bolivianos já foram libertos dos seus cativeiros pela Polícia Federal (PF)

e o MPT. (LOPES, 2015, p.228)

Destarte, mesmo com as medidas tomadas pelo MPT, o imigrante boliviano encontra-

se em uma situação de vulnerabilidade, por estar submetido a um sistema de privação e

violação de direitos humanos.

Portanto, depois de analisar o fluxo imigratório de bolivianos para o Brasil e de

descrever os condicionantes e o cenário de violação de direitos humanos, torna-se claro que a

imigração boliviana é um dos fluxos de imigração mais intensos no nosso país, e que ainda

assim, vive em sua maioria na clandestinidade. Em sequência se presentará a questão de como

o Estado brasileiro está compreendendo a questão migratória e também quais as políticas de

proteção para o imigrante boliviano, uma vez que a Bolívia é signatária do Acordo de

Residência do MERCOSUL.

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2.2 Normativas, diálogos e ações unilaterais, bilaterais e regionais a respeito da

imigração boliviana para o Brasil

Segundo o Ministério das Relações Exteriores (MRE), as relações bilaterais com a

Bolívia são prioritárias para o Brasil, e abrangem iniciativas em áreas como: cooperação

energética, cooperação fronteiriça e combate a ilícitos transnacionais, da mesma maneira que,

a articulação em foros regionais e globais.

Por compartilhar a maior parte da sua fronteira com o Brasil, torna-se de grande

importância geoestratégica as relações entre Brasil e Bolívia, (ao todo são 3.423 km de

extensão fronteiriça), devido a sua posição geográfica localizada no centro da América do Sul,

a Bolívia torna-se um parceiro favorecido para o aperfeiçoamento de integração física e

regional. (Ministério das Relações Exteriores, [200-?], [s.p.]).

O Brasil é, historicamente, o principal parceiro comercial da Bolívia. É o primeiro

destino das exportações bolivianas – equivalendo a cerca de 40% do total – em

função da venda do gás natural, e segunda origem das importações, atrás apenas do

Chile. As relações econômicas com o Brasil têm impulsionado o desenvolvimento

boliviano. A presença econômica brasileira o país, em termos de superávit

comercial, investimentos e remessas de imigrantes, alcança a ordem de US$ 1,6

bilhão anuais. Brasil e Bolívia têm desenvolvido importante política de integração

fronteiriça, a fim de tornar a fronteira um espaço de paz, cooperação e

desenvolvimento econômico e social. Em 2011, foram criados os "Comitês de

Integração Fronteiriça", com o objetivo de buscar soluções para questões específicas

das zonas de fronteira. Foram realizadas as reuniões dos Comitês que operam em

Corumbá/Puerto Suárez (2011), Brasileia-Epitaciolândia/Cobija (2012), Cáceres/San

Matías (2013) e Guajará-Mirim/Guayaramerín (2013). Essa nova política de

integração fronteiriça busca dar novo ímpeto à cooperação e trazer efetivas

melhorias à população local. (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES,

[200-?], [s.p.]).

As relações bilaterais entre Brasil e Bolívia, sobre a imigração, resultaram dois

acordos: o Acordo Brasil-Bolívia de Facilitação para o Ingresso e Trânsito de seus Nacionais

em seus territórios, assinado em 08 de julho de 2004, e o Acordo, por troca de Notas, sobre

regularização Migratória, assinado em 15 de agosto de 2005.

O Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da

República da Bolívia sobre Facilitação para o Ingresso e Trânsito de seus Nacionais em seus

Territórios, foi firmado em Santa Cruz da Serra, em 08 de julho de 2004, e entrou em vigor

internacionalmente em 16 de setembro de 2005, pelo Decreto de Lei nº 5.541. Tem como

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propósito acordar um regime simplificado que estimule e facilite o trânsito de pessoas com

fins oficiais, de turismo, ou negócios, entre os territórios de ambos os países, assim, ressalta-

se a importância do turismo como fator de incentivo econômico e da geração de empregos.

(BRASIL, 2005).

O Acordo Brasil-Bolívia de Facilitação para o Ingresso e Trânsito de seus Nacionais

em seus territórios mostra no Artigo 02 que é permitido aos seus nacionais ingressar, transitar

e sair do território da outra parte, mediante a apresentação de seu documento nacional de

identificação vigente e o cartão imigratório correspondente, sem necessidade de visto, com a

condição de permanecer no território da outra parte para realizar atividades oficiais de turismo

ou negócios, por um período de até noventa dias prorrogáveis por outros noventa dias em um

ano.

Portanto, o Acordo presente não visa resolver a situação dos imigrantes bolivianos

sem documentação que já residem no Brasil, no Artigo 07, fica evidente a intenção de não

permitir ao imigrante de fixar residência e de trabalhar de forma regular, assim, coloca o

imigrante boliviano indocumentado em condição de vulnerabilidade.

O presente Acordo não autoriza aos nacionais de uma Parte exercer qualquer

atividade, profissão ou ocupação que tenha caráter remunerado ou fins de lucro,

fixar residência no território da outra Parte nem trocar de status migratório dentro do

território da outra Parte. (BRASIL, 2005, [s.p.])

A seguir com a visita do Ministro Celso Amorin, a capital da Bolívia, La Paz,

estabeleceu-se mais uma relação bilateral entre Brasil e Bolívia na questão migratória, foi

assinado o Acordo por troca de Notas sobre regularização Migratória, firmado em 15 de

agosto de 2005, com ressalva o referido Acordo posteriormente sofreu um Ajuste

Complementar firmado por Notas Reversais de 06 de setembro de 2006. (BRASIL, 2005)

O Acordo por troca de Notas sobre regularização Migratória tem como principal

objetivo, prosseguir e promover a integração socioeconômica dos nacionais dos dois países,

que se encontra em situação imigratória irregular. Deste modo, um marco apropriado às

condições dos imigrantes dos dois países, viabiliza de maneira efetiva sua inserção na

sociedade do país receptor.

O presente Acordo visa alcançar nacionais de uma das partes que ingressaram no

território da outra parte até 15 de agosto de 2005, e que se encontra em situação imigratória

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irregular, o registro e a autorização de permanência também é extensivo ao grupo familiar que

também se encontra no território da parte receptora.

È importante ressaltar que o Acordo por troca de Notas, sobre regularização

Migratória, foi substituído pelo Acordo sobre Residência para Nacionais dos Estados Partes

do Mercado Comum do Sul, mais Bolívia e Chile, em 08 de outubro de 2009, acordo este que

disciplina as questões migratórias e de residência entre os Estados Partes e associados.

Este Acordo em Âmbito MERCOSUL ampliado foi incorporado pelo Brasil, por meio

do Decreto nº 6.975, e entrou em vigor desde a data de sua publicação em 07 de outubro de

2009. (MERCOSUL, 2009).

O Acordo sobre residência para nacionais dos Estados Partes do MERCOSUL, Bolívia

e Chile, aprovado por decisão do Conselho do Mercado Comum N.º 28/02, é fruto do

MERCOSUL, criado como instrumento de política regional fundamental para o tema da

imigração. (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2010).

O presente acordo proporciona a garantia aos nacionais dos países membros, o direito

à residência temporária de dois anos, sujeito a alteração para residência permanente após os

noventa dias do referente vencimento. Acordo de Residência:

O Acordo, aprovado pela Decisão CMC Nº 28/02, concede o direito à residência e

ao trabalho para os cidadãos sem outro requisito que não a nacionalidade. Cidadãos

dos Estados Partes e dos Estados Associados que integram o acordo gozam de

trâmite facilitado para a solicitação de visto de residência, desde que tenham

passaporte válido, certidão de nascimento e certidão negativa de antecedentes

penais. É possível requerer a concessão de “residência temporária” de até dois anos

em outro país do bloco. Antes de expirar o prazo da “residência temporária”, os

interessados podem requerer sua transformação em residência permanente. (MERCOSUL, 2009, [s.p.])

Na evolução do processo de integração Brasil e Bolívia, e também sul-americana, o

Acordo de Residência do MERCOSUL mostra-se como um marco na questão migratória, sem

dúvidas um grande avanço, pois simplifica a regularização dos imigrantes dos Estados

membros por meio de visto temporário e permanente.

O Acordo de Residência do MERCOSUL tem como principais benefícios:

Direito de exercer qualquer atividade: Por conta própria ou por conta de terceiros,

nas mesmas condições que os nacionais do país de recepção, particularmente o

direito a trabalhar e exercer toda atividade lícita nas condições que dispõem as leis;

peticionar às autoridades; ingressar, permanecer, transitar e sair do território das

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Partes; associar-se com fins lícitos e professar livremente sua religião, em

conformidade com as leis que regulamentem seu exercício;

Direito à reunificação familiar: Os membros da família que não possuam a

nacionalidade de um dos Estados Partes poderão solicitar uma residência de idêntica

vigência daquela que possua a pessoa da qual dependam, desde que apresentem a

documentação que se estabelece como requisito para a comprovação da relação

familiar e não possuam impedimentos;

Direito à igualdade de tratamento: Os imigrantes gozarão, no território das Partes, de

um tratamento não menos favorável daquele que recebem os nacionais do país de

recepção, no que se refere à aplicação da legislação trabalhista, especialmente em

matéria de remunerações, condições de trabalho e seguros sociais;

Direito a transferir remessas: direito a transferir livremente ao seu país de origem

sua renda e economias pessoais, particularmente os fundos necessários para o

sustento dos seus familiares, em conformidade com a normativa e a legislação

interna de cada uma das Partes;

Direitos dos filhos dos migrantes: os filhos dos imigrantes que tenham nascido no

território de uma das Partes terão direito a ter um nome, um registro de nascimento e

uma nacionalidade, em conformidade comas respectivas legislações internas. Os

filhos dos imigrantes gozarão, no território das Partes, do direito fundamental de

acesso à educação em condição de igualdade com os nacionais do país de recepção.

O acesso às instituições de ensino pré-escolar ou às escolas públicas não poderá ser

negado ou limitado devido à circunstancial situação irregular da estada dos pais.

(MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2010, p.19).

Como visto anteriormente, os imigrantes favorecidos pelo Acordo de Residência do

MERCOSUL dispõem de igualdade de direitos civis e também de deveres e responsabilidades

trabalhistas e previdenciárias.

A propósito vale lembrar que, no quesito da Previdência Social para o imigrante

residente no Brasil, não se aplica o Acordo do MERCOSUL, mas o Acordo Internacional de

Direitos Previdenciários5, assinado em 12 de abril de 2007, os quais fazem parte: Brasil,

Argentina, Cabo Verde, Chile, Espanha, Grécia, Itália, Luxembrugo, Paraguai, Portugal e

Uruguai. (Zamberlam et al, 2013, p. 50).

Mas em específico Brasil e Bolívia na questão da Previdência Social, é vigente o

Acordo e Assinatura do Acordo de Aplicação da Convenção Multilateral Ibero-Americana de

Seguridade Social. Acordo este que proporciona aos trabalhadores regras iguais para países

membros assim, facilita-se a obtenção de benefícios previdenciários. A Convenção já está em

vigor desde 19 de maio de 2011 para os seguintes países: Bolívia, Brasil, Chile, El Salvador,

5 Os Acordos Internacionais têm por objetivo principal garantir os direitos de seguridade social previstos nas

legislações dos dois países aos respectivos trabalhadores e dependentes legais, residentes ou em trânsito no país.

Os Acordos Internacionais de Previdência Social estabelecem uma relação de prestação de benefícios

previdenciários, não implicando na modificação da legislação vigente no país, cumprindo a cada Estado

contratante analisar os pedidos de benefícios apresentados e decidir quanto ao direito e condições, conforme sua

própria legislação aplicável, e o respectivo Acordo. Disponível em: < http://www.previdencia.gov.br/a-

previdencia/assuntos-internacionais/assuntos-internacionais-acordos-internacionais-portugues/> Acesso em: 17

de maio de 2015.

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Equador, Espanha, Paraguai, Portugal e Uruguai. (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA

SOCIAL, [200-?], [s.p.]).

È importante ressaltar que em dezembro de 2012, a Bolívia assinou o Protocolo de

Adesão ao MERCOSUL o que estreitou ainda mais as relações regionais Brasil e Bolívia.

O Acordo de Residência de Nacionais obteve inspiração na Convenção Internacional

sobre Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes, e dos Membros das suas

Famílias desde 1990. (REDIN, 2013, p.131). Vale lembrar que o Brasil ainda não ratificou a

Convenção, mesmo que em 1996, tenha incluído em seu Plano Nacional de Direitos Humanos

o compromisso com a ratificação.

Conforme o Acordo sobre Residência para nacionais dos Estados partes do

MERCOSUL, Bolívia e Chile, em seu preâmbulo deixa explícito a intenção de solucionar a

questão migratória dos Estados partes, e os países associados. A fim de combater o tráfico

humano para exploração de mão de obra entre outros.

VISANDO a solucionar a situação migratória dos nacionais dos Estados Partes e

Países Associados na região, a fim de fortalecer os laços que unem a comunidade

regional; CONVENCIDOS da importância de combater o tráfico de pessoas para

fins exploração de mão de obra e aquelas situações que impliquem degradação da

dignidade humana, buscando soluções conjuntas e conciliadoras aos graves

problemas que assolam os Estados Partes, os Países Associados e a comunidade

como um todo, consoante compromisso firmado no Plano Geral de Cooperação e

Coordenação de Segurança Regional (MERCOSUL, 2009, [s.p.])

Em relação ao Acordo de Residência de Nacionais, Redin (2013, p. 131) caracteriza

que se trata de um importante progresso, especificamente, “o principal avanço mercosulino

para uma livre circulação de pessoas e que realiza um esforço de incluir de forma significativa

o estrangeiro, para dentro de sistema que compreende como objeto produtivo (esquema do

Estado Nação)”.

Com efeito, ao Acordo de Residência, junto com o Acordo de Isenção de Visto e do

Tráfico Ilícito de Migrantes, são iniciativas essencialmente importantes, porém não

representam uma reorientação, pelo menos do ponto de vista regional, dos estigmas que

recaem sobre a pessoa do estrangeiro, dentre os quais o de “não sujeito”. (REDIN, 2013,

p.133).

Dentro da estrutura institucional do MERCOSUL, o tema da imigração foi remetido

ao subgrupo de trabalho nº12, vinculado ao Grupo Mercado Comum, nomeado

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Assuntos de Trabalho, Emprego e Seguridade Social. No Parlamento do

MERCOSUL, o tema está destinado à Comissão de Assuntos Interiores, Segurança e

Defesa, com as pautas “assuntos migratórios” e “integração fronteiriça”. Ou seja, a

imigração é antes e tudo uma questão econômica. (REDIN, 2013, p. 134)

Em relação às ações unilaterais entre Brasil e Bolívia, é importante destacar as anistias

dadas pelo Brasil aos imigrantes que se encontravam em condições irregulares. Ao total

foram quatro anistias concedidas pelo governo brasileiro aos estrangeiros ilegais, a primeira

foi no ano de 1980, a segunda no ano de 1988, a terceira no ano de 1998, e a última concedida

no ano de 2009. Vale lembrar que, esta última anistia foi decorrente do Acordo sobre

Residência para Nacionais dos Estados Partes do Mercado Comum do Sul, Bolívia e Chile de

2009.

A última anistia foi aprovada pelo Congresso brasileiro por meio do Projeto de Lei nº

1664 em junho de 2009, e sancionada em julho de 2009, pelo presidente da época, Luiz Inácio

Lula da Silva. Assim, beneficiou os imigrantes que entraram no território brasileiro

clandestinamente até fevereiro de 2009, e valeu também para quem entrou de forma regular

mas excedeu o período concedido pelo visto de entrada.

Segundo o Ministério da Justiça (MJ) a comunidade de imigrantes bolivianos foi a

que alcançou o maior número de beneficiados com a Anistia em 2009, com mais de 17 mil

imigrantes bolivianos contemplados. A maioria absoluta deles com 16,3 mil se apresentaram

no Estado de São Paulo, dos 43 mil imigrantes beneficiados destacaram-se também o número

de chineses (5,5 mil), peruanos (4,6 mil), paraguaios (4,1 mil), coreanos (1,1 mil) e também

aproximadamente 2,4 mil europeus que procuraram a Polícia Federal (MINISTÉRIO DA

JUSTIÇA, 2009, [s.p.]).

Em suma, a Anistia de 2009, contribuiu para que os imigrantes residentes no Brasil

obtivessem acesso ao mercado de trabalho com as mesmas garantias legais dos nacionais

como, por exemplo: a garantia da carteira de trabalho assinada, saúde pública, educação

gratuita, permissão de acesso ao sistema bancário e ao crédito, e também o direito de ir e vir

dentro do território. Portanto, é evidente que o principal objetivo da medida estava na

intenção de conseguir retirar os imigrantes de situações de trabalho abusivas, análogas à

escravidão e de violação aos Direitos Humanos.

Redin (2013, p.158), cita que “a residência regular no Brasil garante todos os direitos

inerente ao brasileiro, exceto os políticos, e tem sido compreendida no âmbito do Poder

Executivo como uma “ação humanitária” brasileira”.

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Muitas foram as dificuldades enfrentadas pelos imigrantes bolivianos para se obter a

anistia, tais como: falta de informação, antecedentes criminais, ausência de comprovante da

data de entrada no território brasileiro, falta de comprovação de renda, medo da deportação e

de ser punido, taxas onerosas dificultando o registro para quem precisa registrar a família.

É importante lembrar que, está em andamento no Congresso Nacional um Projeto de

Lei (Lei 6300/13) que atualiza a lei de Anistia de 2009, destinado aos imigrantes clandestinos

que ingressaram no Brasil até o dia 30 de junho de 2013 (CÂMARA DOS DEPUTADOS,

2013, [s.p.]).

A proposta modifica a atual Lei de nº. 11. 961/09, a norma criou um trâmite mais

rápido para os processos de regularização imigratória. O Projeto tem como objetivo principal

beneficiar os estrangeiros que entraram de forma clandestina no território brasileiro, bem

como os que entraram de maneira regular, porém estão com o prazo de seus vistos vencidos.

Segundo a Agência Câmara Notícias o Projeto da Lei 6300/13, tramita em caráter

conclusivo nas comissões de Relações Exteriores e de Defesa Nacional e Constituição e

Justiça e de Cidadania. È lamentável que tramitação da Lei 6300/13, está demorada demais e

avançando aos poucos.

Nas ações unilaterais entre Brasil e Bolívia, é também importante lembrar as políticas

municipais para migrantes feitas pela prefeitura da capital do Estado de São Paulo.

Pode-se citar como exemplo: o primeiro Centro de Referência e Acolhida para

Imigrantes da Prefeitura de São Paulo, a regularização da feria de bolivianos na Rua Coimbra

na cidade São Paulo, criação dos Conselhos Participativos, onde imigrantes residentes na

cidade obtiveram a chance de concorrer às cadeiras de conselheiros extraordinários por meio

de eleição, realização de diálogo aberto com a comunidade para discutir sobre as políticas

municipais para migrantes.

No dia 29 de agosto de 2014, foi inaugurado o primeiro Centro de Referência e

Acolhida para Imigrantes da Prefeitura de São Paulo:

O primeiro Centro de Referência e Acolhida para Imigrantes (CRAI) da Prefeitura de

São Paulo foi aberto nesta sexta-feira, dia 29, com 110 leitos e oferecerá serviços

complementares ao abrigamento como suporte jurídico, apoio para documentação e

aulas de português. Com abertura do CRAI, a administração desativou o abrigo

emergencial aberto em maio para o atendimento de imigrantes haitianos. O novo

abrigo funciona em um prédio reformado na Bela Vista, região central, e dará

prioridade aos imigrantes mais vulneráveis e recém-chegados ao País. O objetivo é

oferecer a estrutura de uma “casa de passagem” e auxiliar os imigrantes na adaptação

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à vida em São Paulo e dar condições para a autonomia. O atendimento será realizado

em parceria entre as secretarias municipais de Assistência e Desenvolvimento Social

(SMADS) e de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC). Uma equipe

multidisciplinar acolherá e dará suporte a imigrantes em trânsito, independentemente

da nacionalidade, gênero, do status migratório ou do amparo legal para a sua estada

em território nacional. (Prefeitura de São Paulo Direitos Humanos e Cidadania, 2014,

[s.p.]).

Sobre a regularização da feira de bolivianos na Rua Coimbra da cidade de São Paulo,

foi legitimada no dia 18 de novembro de 2014, pela Secretaria Municipal de Direitos

Humanos e Cidadania, junto ao subprefeito da Mooca, a feira existe desde o ano de 2003, e ao

longo desses 11 anos, foi crescendo e se popularizando pelos moradores, por ser uma espécie

de centro comercial dos alimentos e produtos típicos bolivianos. Onde se encontra também

um posto avançado do Consulado da Bolívia, agências de remessas de dinheiro para o exterior

e compras de passagens aéreas, cabines telefônicas, entre outros serviços (Prefeitura de São

Paulo Direitos Humanos e Cidadania, 2014, [s.p.]).

Hoje é um dia histórico. Os imigrantes são parte importante da cultura e do

desenvolvimento da nossa cidade e sempre foram vistos com desconfiança, a menos

que alcançassem as esferas mais altas da sociedade. Quero ver a feira da rua

Coimbra ser reconhecida daqui a alguns anos como um local de turismo, como hoje

é o bairro da Liberdade”, disse Rogério Sottili, secretário de Direitos Humanos e

Cidadania da Prefeitura de São Paulo. Sottili lembrou que a regularização da feira é

uma demanda antiga da comunidade boliviana que vive em São Paulo e é obrigação

da Prefeitura criar políticas públicas para que a população e os imigrantes possam

desenvolver sua economia e cultura. (Prefeitura de São Paulo Direitos Humanos e

Cidadania, 2014, [s.p.])

Ainda nos programas e projetos da Prefeitura de São Paulo, é importante relatar a

criação dos Conselhos Participativos, onde imigrantes residentes na cidade obtiveram a

chance de concorrer às cadeiras de conselheiros extraordinários por meio de eleição, os

demais imigrantes foram às urnas votar em eleger seus candidatos representantes de suas

causas.

A criação dos Conselhos Participativos pela atual gestão municipal foi um marco na

luta pela ampliação da participação social no poder público. O Decreto nº 54.156, de

1º de agosto de 2013, definiu o escopo de atuação destes órgãos: “O Conselho

Participativo Municipal (...) é um organismo autônomo da sociedade civil,

reconhecido pelo Poder Público Municipal como instância de representação da

população de cada região da Cidade para exercer o direito dos cidadãos ao controle

social, por meio da fiscalização de ações e gastos públicos, bem como da

apresentação de demandas, necessidades e prioridades (...)”. A Secretaria Municipal

de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), por meio das coordenações de

Políticas para Migrantes e da Política de Participação Social, buscou desde o

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princípio, em parceria com outros órgãos da Prefeitura, como subprefeituras, a

Secretaria Municipal de Relações Governamentais (SMRG) e a Secretaria Municipal

dos Negócios Jurídicos (SNJ), inserir a população de imigrantes nesse processo, o

que foi alcançado na assinatura do Decreto nº 54.645, de 29 de novembro de 2013.

Este decreto prevê a criação da cadeira de conselheiro extraordinário nos Conselhos

Participativos, “visando garantir a participação dos imigrantes moradores da

Cidade”, complementando, assim, o decreto anteriormente citado. (Prefeitura de São

Paulo Direitos Humanos e Cidadania, 2014, [s.p.]).

Também é importante lembrar, a realização do encontro “Direitos Humanos e

Migrações: Diálogo sobre as políticas municipais para migrantes”, aberto a comunidade, para

discutir sobre as políticas municipais para migrantes, ocorrido no dia 06 de maio de 2015.

Onde foi executada a discussão de metas para os próximos dois anos de gestão

da Coordenação de Políticas para Migrantes (CPMig) da Secretaria Municipal de Direitos

Humanos e Cidadania (SMDHC). O encontro teve por objetivo apresentar um balanço das

ações realizadas nos dois primeiros anos da gestão, e ouvir diretamente dos imigrantes suas

histórias, necessidades e anseios, esta foi a terceira reunião de diálogo aberta criado pela

Coordenação, e contou com presença do secretário municipal de Direitos Humanos e

cidadania, Eduardo Suplicy.

“Partimos do pressuposto de que não faremos políticas públicas eficazes sem a

participação social”, disse, logo no início do encontro, Rogério Sottili, secretário-

adjunto da SMDHC. [...] Começamos a fazer um trabalho para que São Paulo veja o

imigrante com a importância que ele merece. São Paulo é uma cidade feita por

imigrantes mas, contraditoriamente, o imigrante hoje não é valorizado, é invisível”,

ponderou Sottili.” (Prefeitura de São Paulo Direitos Humanos e Cidadania, 2015,

[s.p.])

As políticas públicas da Prefeitura de São Paulo visam criar e implementar a política

municipal para imigrantes, combate a xenofobia, promover uma cultura de cidadania e

valorização da diversidade para, assim, reduzir as manifestações de discriminação de todas as

naturezas políticas estas que ajudam a garantir a efetividade dos direitos dos imigrantes e a

sua integração social e cultural na cidade de São Paulo.

Não obstante, é imprescindível falar sobre o que rege as leis de imigração no Brasil, o

Estatuto do Estrangeiro foi criado no período da ditadura militar, Decreto-lei nº 941, e depois

reformulado em 19 de agosto de 1980, em Lei 6.815/80, calcado no conceito da ideologia de

segurança nacional, adota a política de controle favorecendo a mão de obra qualificada para

entrada no Brasil, ou seja, como se fosse uma moeda de troca. Portanto, a imigração é

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condicionada por legislação ordinária, assim, forma barreiras para a entrada no território

brasileiro de imigrantes, em consequência, provoca a entrada clandestina. Por outras palavras,

dá margem ao “utilitarismo econômico”.

Logo, além da Lei 6.815/80 ser baseada na doutrina da segurança nacional, inspira-se

também no atendimento à organização institucional e nos interesses políticos,

socioeconômicos e culturais do Brasil.

Tal legislação, aprovada em plena vigência do regime militar no país, vem

estabelecer normas restritivas à entrada de estrangeiros no Brasil, penalizando

principalmente aqueles que eram oriundos de países latino-americanos, e provinham

de outras ditaduras militares, como é o caso dos chilenos, argentinos e uruguaios, e

que eram também trabalhadores em busca de uma melhor oportunidade de emprego

no Brasil. Portanto a questão do estrangeiro passa a ser uma questão de segurança

nacional, o qual era visto como possível ameaça à mesma. (SILVA, 1997, p. 104)

O autor Echeverry apud Zamberlam et al, (2013, p. 43) faz uma referência critica

sobre o Estatuto, pois permanece praticamente inalterado desde sua criação na ditadura

militar, apesar que algumas normativas do Conselho Nacional de Imigração, foram

introduzidas a pouco tempo, exprimindo a atenção do governo brasileiro ao inserir normas

internacionais do qual o Brasil é signatário e que referem a à execução dos direitos humanos

para imigrantes.

Ao saber que o Estatuto adotou a concepção filosófica de segurança nacional, pode-se

verificar que interpreta o imigrante como um potencial subversivo, por isso a adoção da

política de controle, com relativa abertura para a mão de obra qualificada. “Apesar da

Constituição do ano de 1988 transpirar um clima de direitos humanos, estendidos ao

imigrante, o avanço da lei ordinária, das políticas e programas está sendo lento e penoso”.

Zamberlam et al, (2013, p. 44)

O Estatuto do Estrangeiro estabelece para se obter os vistos no Brasil somente sete

variedades de vistos para a entrada de estrangeiros:

Visto de Trânsito

Visto de Turista

Visto temporário

Visto Permanente

Visto de Cortesia

Visto oficial

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Visto Diplomático

É importante frisar, que o Estatuto do Estrangeiro obstaculiza a mudança de um tipo

de visto para outro, isto é, um migrante que se encontre no território brasileiro com o visto de

turista, não consegue requerer um visto de permanência e nem de estudante. (ZAMBERLAM,

et al, 2013, p. 45)

Em síntese, as restrições da Lei dos Estrangeiros tornaram-se anacrônicas, uma vez

que acabou criando a figura do imigrante indocumentado e a do clandestino, o qual é

duramente penalizado com pesadas multas por tal “crime”, sendo convidado a

retirar-se do país num prazo de oito dias. Caso isso não aconteça, o Estatuto do

Estrangeiro no art.125, inciso ɪ, prevê a deportação do mesmo. ( SILVA, 1997, p.

105)

Ou seja, tal questão proporciona o aumento da clandestinidade no território brasileiro,

torna o imigrante mais vulnerável e exposto a violações de seus direitos humanos e por não

ter uma definição clara dos direitos dos imigrantes no Brasil.

Ressalta-se que, o Estatuto do Estrangeiro não se aplica para o imigrante boliviano,

pois para ele é válido o Acordo sobre Residência para Nacionais dos Estados Partes do

Mercado Comum do Sul, Bolívia e Chile, em 07 de outubro de 2009, previsto pelo Decreto de

Lei nº. 6.975 de 7/10/2009.

Por isso, que surge um novo debate com propostas para se criar um novo Estatuto do

Estrangeiro, em decorrência da necessidade de modernizar a legislação relativa à imigração.

Em 21 de maio de 2015, a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CREDN)

aprovou o Projeto de Lei do Senado nº. 288 de 2013 (PLS 288), que institui a Lei da

Imigração e regula a entrada e estada de imigrantes no Brasil, e define normas de proteção

para o emigrante brasileiro. Pelo PLS 288/2013, a política migratória brasileira passa a ter

explicitamente entre os princípios a "não criminalização da imigração" e a "acolhida

humanitária", entre outros (SENADO FEDERAL, 2015, [s.p.]).

Explicação da ementa: Dispõe sobre os direitos e deveres do migrante e regula e

entrada e saída de estrangeiros no Brasil, revogando, em parte, o Estatuto do

Estrangeiro (Lei 6.815/80). Regula os tipos de vistos necessários para ingresso de

estrangeiros no país. Estabelece os casos e os procedimentos de repatriação,

deportação e expulsão. Dispõe sobre a naturalização, suas condições e espécies e os

casos de perda de nacionalidade. Trata da situação do emigrante brasileiro no

exterior. Tipifica o tráfico internacional de pessoas para fins de migração e infrações

administrativas relativas à entrada irregular no país. Altera a Lei nº 8.213/91

(Previdência Social), para facilitar contribuição à Previdência do trabalhador

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brasileiro referente ao período em que tenha trabalhado em país estrangeiro.

(SENADO FEDERAL, 2013, [s.p.])

Fica notório no desfecho do texto do PLS 288, o repúdio à xenofobia, a não

criminalização da imigração, a acolhida humanitária e a garantia à reunião familiar que

passam a figurar como princípios da política migratória do Brasil. Além disso, o PLS 288

também prevê uma série de direitos e garantias para os imigrantes, como o amplo acesso à

justiça e medidas destinadas a promover a integração social.

È importante lembrar que, também existe o Anteprojeto de Lei de Migrações,

apresentado em agosto de 2014, ao Ministério da Justiça, com o objetivo de substituir o

retrógrado Estatuto do Estrangeiro, herança da ditadura militar.

No ano de 2013, o Ministério da Justiça, através da Portaria nº 2.162/2013, organizou

e elaborou uma Comissão de Especialistas com o objetivo de expor uma proposta de

Anteprojeto de Lei de Migrações e promoção dos Direitos dos Migrantes no Brasil.

O Anteprojeto de Lei foi elaborado primeiramente, por versões antecedentes do texto

que foram submetidas a críticas em duas audiências públicas. Os onze integrantes da

comissão formada por acadêmicos e servidores públicos, ouviram por cerca de um ano,

órgãos de governo, instituições internacionais, parlamentares, outros acadêmicos, entidades

que lidam com migrantes e os próprios migrantes, como ocorreu durante a 1ª Conferência

Nacional sobre Migrações e Refúgio (Comigrar). (PORTAL BRASIL, 2014, [s.p.]).

O Anteprojeto tem como proposta a desburocratização da regularização migratória, e

permite permanecer regularmente no território brasileiro quando se está para a procura de

emprego, deixar a expressão “estrangeiro” em favor do termo “migrante”, e também nos

limites da Constituição Federal, admite por reconhecimento os direitos dos migrantes.

As cinco principais características do Anteprojeto de Lei de Migrações são: a

compatibilidade com a Constituição e os tratados internacionais de Direitos Humanos já

vigentes no Brasil, a mudança de paradigma (deixa de considerar as migrações no viés da

segurança nacional), a unificação de numerosas normas esparsas vigentes, a longa escuta e

ampla participação da sociedade brasileira, e a preparação do Brasil para enfrentar o novo

ciclo de migrações internacionais.

A 1ª Conferência Nacional sobre Migrações e Refúgio (Comigrar) foi um marco

histórico na questão migratória no Brasil, pois foi o primeiro projeto que foram consultados

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diretamente os imigrantes residentes no Brasil, deu voz a comunidade resignada ao “silêncio”,

para ajudar na formulação de políticas públicas voltadas aos seus direitos e necessidades.

Um comitê de migrantes entregou ao ministro o Plano de Atenção aos Migrantes, que

sistematiza as 2.840 propostas coletadas e debatidas durantes os seis meses, além de mais de

200 etapas preparatórias da conferência que reuniu, em sua etapa nacional, quase 800

migrantes, acadêmicos e militantes de 30 nacionalidades distintas (PORTAL BRASIL, 2014,

[s.p.]).

Portanto, através do Anteprojeto e da 1ª Comigrar, pode-se ver que se inicia no Brasil

o reconhecimento do imigrante como um ser de direitos, e que deve ser tratado sob a óptica da

cidadania e dos direitos humanos, e não de segurança e interesse nacional.

Como visto no decorrer deste capítulo, normativas, diálogos e ações unilaterais,

bilaterais e regionais a respeito da imigração são muitas, porém mesmo assim, o imigrante (no

nosso estudo o imigrante boliviano) continua vulnerável e exposto a violações de direitos

humanos, portanto, vítima do abuso do poder econômico. No próximo capítulo, será analisado

os avanços e retrocessos dessas relações da política bilateral Brasil e Bolívia em relação à

migração boliviana para o Brasil.

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3 ANÁLISE DOS AVANÇOS E RETROCESSOS DA POLÍTICA

BILATERAL BRASIL E BOLÍVIA EM RELAÇÃO À IMIGRAÇÃO

BOLIVIANA PARA O BRASIL

Sobre os avanços da política bilateral Brasil e Bolívia em relação à imigração

boliviana para o Brasil, o avanço que tem maior destaque é, sem dúvidas, o Acordo sobre

Residência para Nacionais dos Estados Partes do Mercado Comum do Sul, Bolívia e Chile, de

07 de outubro de 2009, pois de todos os acordos criados até então, não tinham a amplitude

política regional para o tema da imigração que o Acordo de Residência possui.

Na evolução do processo de integração Brasil e Bolívia, e também sul-americana, o

Acordo de Residência do MERCOSUL mostra-se como um expressivo marco na questão

migratória, certamente um grande avanço, pois simplifica a regularização dos imigrantes dos

Estados membros por meio de visto temporário e permanente, por estabelecer regras comuns

para a tramitação da autorização de residências aos nacionais dos Estados partes e seus

associados.

Redin (2013, p.131), relata como “o principal avanço mercosulino para uma livre

circulação de pessoas, e que realiza um esforço de incluir de forma significativa o estrangeiro,

para dentro de sistema que compreende como objeto produtivo (esquema do Estado Nação)”.

O problema é que mesmo que o imigrante boliviano tenha a possibilidade facilitada de

admissão e trabalho no território brasileiro, ainda estão submetidos às redes de exploração

econômica no setor têxtil. Isso se dá, por serem pessoas que sofrem de uma situação de

pobreza em seu país de origem, a Bolívia, em sua maioria são pessoas da zona rural que não

possuem muita informação em relação aos benefícios do Acordo de Residência, ou até mesmo

nem possuem o conhecimento do mesmo, por isso são vítimas fáceis de “coiotes”, e quando

chegam ao Brasil são ameaçados por seus patrões de serem denunciados e sofrerem

deportação.

Os que já possuem o conhecimento do Acordo por estarem em uma situação de

vulnerabilidade e de pouco poder aquisitivo, não conseguem pagar o valor das taxas previstas

no Acordo de Residência, por isso continuam na condição de indocumentados ou

clandestinos.

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O Acordo de Residência é com certeza um grande avanço, porém não resolve por

completo a questão da informalidade, pois depois de ultrapassar o período de dois anos de

residência provisória, o imigrante boliviano precisa comprovar renda para conseguir o visto

permanente, a grande maioria não consegue comprovar sua renda, assim, coloca o imigrante

boliviano à margem da clandestinidade. Neste ponto de fissura que se encontra o retrocesso

do Acordo de Residência.

Segundo a orientadora jurídica da Pastoral do Imigrante em São Paulo, a advogada Ruth

Camacho, estima-se que cerca de 70% dos imigrantes bolivianos trabalham na informalidade.

"Para eles, comprovar a renda é muito difícil (...). São pessoas oriundas de zonas mais rurais

da Bolívia e não têm noção que têm que formalizar a situação de onde recebem dinheiro."

(G1, 21/08/2012) 6

Quanto à regularização dos que já vivem no Brasil de forma clandestina, é necessário

uma nova lei de anistia ampla, a última anistia realizada foi no ano de 2009, pelo Decreto de

Lei nº. 1664, para contemplar os imigrantes que se encontram em situação irregular e

clandestina, com taxas reduzidas, assim, o imigrante que possui família poderá regularizar a

situação sua e de cada um dos seus integrantes. A anistia concedida aos imigrantes gera o

reconhecimento e a valorização do imigrante irregular, como um ser humano que precisa de

solidariedade e de cidadania, para poder exercitar os seus essenciais direitos.

Outro avanço a ser comentado, são as políticas municipais para migrantes feitas pela

prefeitura da capital do Estado de São Paulo, como por exemplo: o primeiro Centro de

Referência e Acolhida para Imigrantes da Prefeitura de São Paulo, a regularização da feira de

bolivianos na Rua Coimbra na cidade São Paulo, criação dos Conselhos Participativos, onde

imigrantes residentes na cidade obtiveram a chance de concorrer às cadeiras de conselheiros

extraordinários por meio de eleição e realização de diálogo aberto com a comunidade para

discutir sobre as políticas municipais para migrantes, já citados no capítulo 2.2.

As políticas públicas da Prefeitura de São Paulo visam criar e implementar a política

municipal para migrantes, combate a xenofobia, promover uma cultura de cidadania e

valorização da diversidade para, assim, reduzir as manifestações de discriminação de todas as

naturezas. Políticas estas que ajudam a garantir a efetividade dos direitos dos imigrantes e a

6 Fontes utilizadas pelo jornal G1: Ministério da Justiça, Ministério Público do Trabalho, Receita Federal, Polícia

Federal, SEBRAE.

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sua integração social e cultural na cidade de São Paulo, com efeito um grande avanço para o

tratamento e o reconhecimento do imigrante boliviano.

Como acrescenta Gonçalves (2011, p.110) “as políticas públicas, de modo particular

as políticas sociais, desempenham um papel importante na superação das vulnerabilidades

sociais a que ficam sujeitos certos indivíduos e grupos que migram”.

Por ora, é nítido que a imigração boliviana na cidade de São Paulo é considerada como

uma presença reconhecida (admitida) na cidade, prova disto são as políticas públicas adotadas

pela prefeitura da cidade já citadas anteriormente, e também é importante relatar sobre as

políticas adotadas recentemente como a divulgação da inclusão de imigrantes no programa do

Governo Federal o Bolsa Família, e a incorporação no calendário oficial da cidade em 2014

da Feira da Alasita.

A inclusão de imigrantes no Bolsa Família na cidade de São Paulo, com certeza é um

grande avanço, pois é a primeira vez que imigrantes poderão ter acesso ao programa social

Bolsa Família no Brasil.

Poderá ter acesso ao benefício o imigrante residente na capital paulista que vive em

situação de vulnerabilidade e extrema pobreza, por meio da inscrição no Cadastro Único do

governo federal (CadÚnico).

No ato da inscrição o imigrante terá que apresentar o protocolo do pedido de refúgio

ou do Registro Nacional de Estrangeiros (RNE), além de CPF (Cadastro de Pessoas Físicas),

comprovar renda per capta de até R$140,00, e também terá de cumprir as mesmas obrigações

dos brasileiros que recebem o Bolsa Família, como manter os filhos na escola e seguir o

calendário de vacinação. O registro no (CadÚnico) abre margem para se ter acesso à outros

programas do governo federal como o programa Minha Casa Minha Vida.7 (O GLOBO,

04/12/2014)

É importante ressaltar que, a medida só foi possível através da interpretação e

consequente entendimento do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) sobre o Estatuto

do Estrangeiro, Lei nº. 6.815 de 1980, cujo artigo 95 assegura que: “o estrangeiro residente no

Brasil goza de todos os direitos reconhecidos aos brasileiros, nos termos da Constituição e das

leis”.

7 Fontes utilizadas pelo jornal O Globo: Ministério do Desenvolvimento Social, Secretaria Municipal de Direitos

Humanos da cidade São Paulo, Coordenação de Políticas para Migrantes da Secretaria Municipal de Direitos

Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo.

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Segundo dados oficiais da prefeitura de São Paulo apontam que, pela cidade de São

Paulo, circulam 360 mil imigrantes, mas a secretaria admite que o número está subestimado e

pode chegar até um milhão. (O GLOBO, 04/12/2014)

Não conhecemos o perfil de todos esses estrangeiros, por isso é difícil saber quantos

podem se beneficiar dos programas sociais. O cadastro deve servir como estímulo

para os que não têm documentos regularizarem a situação e, assim, vamos conhecê-

los melhor — disse Camila Baraldi, coordenadora adjunta de políticas para

migrantes de São Paulo. (O GLOBO, 04/12/2014)

O acesso dos imigrantes de São Paulo ao Bolsa Família, é uma medida que visualiza o

imigrante como um ser humano digno de solidariedade e cidadania, assim, inserindo-o como

pessoa reconhecida no espaço-tempo da cidade por tê-lo incluído em uma garantia social, que

torna-se uma porta de entrada para outras políticas públicas.

Sobre a Feira da Alasita, foi incorporada no calendário oficial da cidade em 2014, é

comemorada na cidade de São Paulo dede 1999, e sempre ocorre no dia 24 de janeiro. A Feira

da Alasita é uma festividade da cultura boliviana, é uma festa tradicional da capital da

Bolívia, La Paz, e celebra o “Ekeko”, o deus da abundância. A oficialização da Feira no

calendário oficial da cidade mostra a nova política municipal em relação aos migrantes.

Este ano a Feria da Alasita organizada pela Associação de Empreendedores Bolivianos

da Rua Coimbra (ASSEMPBOL), localizada no Parque Dom Pedro, reuniu mais de 30 mil

pessoas, que vieram apreciar a cultura boliviana. A Feira contou com a presença do ex-

presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que causou grande alvoroço na plateia. (ESTADÃO,

24/01/2015).

Lula em seu discurso enfatizou a importância da presença dos imigrantes para o

desenvolvimento do Brasil, e também ressaltou a grande relevância do fortalecimento da

integração Brasil com a Bolívia e países latinos americanos em âmbito do MERCOSUL e

UNASUL, como forma de desenvolvimento conjunto da América Latina.

Enquanto PT governar São Paulo e o País, boliviano será tratado como brasileiro.

[...] A integração é um sonho que ainda não é fácil de realizar, porque tem muitos

obstáculos. A relação da Bolívia com o Brasil tem que ser cada vez mais fortalecida.

A relação do Brasil e MERCOSUL e com a UNASUL também. E aí nós vamos

construir uma nação latino-americana forte, com um povo vivendo em harmonia,

trabalhando, estudando e tendo acesso à cultura. (ESTADÃO, 24/01/2015)

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O discurso do ex-presidente Lula durante a Feira Alasita pode ser comparado com o

seu discurso realizado durante a cerimônia de sanção da lei que anistia dos estrangeiros em

situação irregular no Brasil em 02 de julho de 2009, pois em sua fala nota-se traços

humanitários sensíveis à imigração, e de identidade para com os imigrantes latino-americanos

e africanos.

[..] Esta terra é generosa, e sempre recebeu de braços abertos todos os que vêm para

trabalhar, criar seus filhos e construir uma vida nova. [...] Ao longo de muitas

décadas, o Brasil sempre acolheu europeus, asiáticos, árabes, judeus, africanos e,

mais recentemente, temos recebido fortes correntes migratórias de nossos irmãos da

América do Sul, países africanos e da América Latina [...] Defendemos que a

questão da migração irregular tem aspectos humanitários e não pode ser confundida

com criminalidade. [...] para muitos dos nossos vizinhos, o Brasil é visto como uma

chance real de melhorar a sua vida. Aqui, esses estrangeiros têm direito à saúde

pública e, seus filhos, à educação gratuita, o que, infelizmente, não ocorre em muitos

dos países que recebem imigrantes brasileiros. [...] Eu tenho dito aos presidentes dos

países: o Brasil não quer mais e nem menos. Nós não queremos nenhum privilégio a

nenhum brasileiro, em nenhuma parte do mundo. Nós queremos apenas que vocês

tratem os brasileiros no exterior como nós tratamos os estrangeiros aqui no Brasil:

como irmãos, como parceiros e como brasileiros. (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA,

2009, p. 1-5) 8

Observa-se no discurso do ex-presidente Lula, que se alinha a política externa

brasileira na questão migratória, pois mostra a postura oficial do Brasil diante dos

movimentos migratórios atuais e às políticas migratórias adotadas. Deste modo, é reforçada a

valorização dos ideais do multilateralismo, da cooperação e da promoção da paz entre os

povos.

Logo se conclui que, do ano de 2009, para os dias atuais o contexto em relação à

imigração continua o mesmo, há avanços em políticas públicas através de ações unilaterais

entre Brasil e Bolívia, como já citados anteriormente, mas estagnação no que se refere às

ações bilaterais do Brasil e Bolívia, e MERCOSUL.

8 Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia de sanção da lei que anistia

estrangeiros em situação irregular no Brasil - Ministério da Justiça – Brasília-DF, 02/07/2009.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho de conclusão de curso (TCC), foi possível analisar os avanços e

retrocessos da política bilateral Brasil e Bolívia na questão migratória, evidenciou-se que a

intensa mobilidade humana na atualidade, é fruto da globalização mundial, assim, acarreta o

estímulo do crescimento econômico, a diminuição de oferta de emprego, a recusa e o impulso

às migrações.

Consequentemente, cria-se uma tensão nos Estados receptores de fluxos migratórios,

por se ter o entendimento que a soberania e a identidade nacional estão potencialmente

ameaçadas diante o recebimento de imigrantes. Ressalta-se que o imigrante só é “bem visto”

pelo Estado, quando este é portador de mão de obra especializada, como consequência, é

aceito e bem recebido em seu território.

Logo, entende-se que é por isso, que a imigração é conduzida por muitos Estados

como uma questão de segurança e interesse nacional, e com tal característica, aplicam-se

políticas repressivas com o objetivo de controlar a entrada de imigrantes em seus territórios,

deste modo, trespassando os Direitos Humanos e abrindo margem para a irregularidade e a

clandestinidade. Então, surge o que muitos consideram como “problema social”, o imigrante

econômico, este é estigmatizado por vir de um país pobre e por ser diferente. Em vista disso,

o imigrante econômico sai de seu país de origem economicamente pobre, em busca de

melhores condições de vida em países industrializados, ou em países em fase de

desenvolvimento.

É nesta conjuntura, que se observou a ocorrência deste fenômeno na América Latina,

como por exemplo, o presente caso de estudo, um dos fluxos migratórios mais acentuados na

América Latina, o caso dos imigrantes bolivianos, os quais seguidamente da Argentina, tem

marcado presença de maneira significativa em aumento no Brasil e especialmente na cidade

de São Paulo.

O imigrante boliviano vem para o Brasil com a aspiração de melhores condições de

vida, ele é atraído por promessas de bons salários pelos empregadores do ramo da costura,

coreanos, brasileiros e por seus conterrâneos, donos das oficinas de costura, localizadas na

cidade de São Paulo. Devido o Brasil compartilhar uma grande extensão de fronteira com a

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Bolívia, torna-se fácil o acesso ao território brasileiro, assim, vários imigrantes bolivianos

contam a ajuda de coiotes para fazer a travessia. O imigrante boliviano quando chega em

território brasileiro, é submetido à longas jornadas de trabalho nas oficinas de costura,

análogas à escravidão, portanto, imbuído em um cenário de violação de direitos humanos.

Este cenário proporcionou a relação bilateral Brasil e Bolívia para o tratamento

político jurídico do migrante boliviano. Dessas relações bilaterais resultaram dois acordos: o

Acordo de Facilitação para o Ingresso e Trânsito de seus Nacionais em seus Territórios de 08

de junho de 2004, e o Acordo, por troca de Notas, sobre Regularização Migratória de 15 de

agosto de 2005.

Todavia está em vigor o Acordo de Residência para Nacionais dos Estados partes do

Mercado Comum do Sul – MERCOSUL, Bolívia, Chile de 07 de outubro de 2009, pelo

Decreto de Lei nº 6.974. Este por ter uma maior amplitude sobre o tema da imigração é o que

tem prevalecido atualmente no tratamento político jurídico do imigrante boliviano no Brasil.

Sem dúvidas, o Acordo de Residência é um grande avanço das mercosulino na questão

migratória. O presente Acordo é um expressivo marco no processo de integração Brasil e

Bolívia, e também sul-americana, pois visa de uma maneira simplificada resolver os

problemas que se referem à regularização dos imigrantes dos Estados membros e signatários

do MERCOSUL. Esta facilitação se dá por meio de visto temporário e permanente, através de

regras comuns para a tramitação da autorização de residências aos nacionais dos Estados

partes e seus associados.

O ponto de fissura do Acordo de Residência se encontra ao passar de dois anos do

visto temporário, é necessário comprovar renda para conseguir o visto permanente, e a grande

maioria dos imigrantes bolivianos não conseguem comprovar sua renda, assim, ficando na

informalidade. Diante desta situação, torna-se imprescindível uma nova lei de anistia ampla,

visto que a última foi realizada pelo Brasil há seis anos atrás, no ano de 2009, pelo decreto de

Lei nº1664. A demora de uma nova lei de anistia é um retrocesso, pois a anistia concedida a

imigrantes é uma forma de eliminar o tráfico de pessoas e os abusos cometidos aos

imigrantes.

Ficou evidente outro grande avanço nas ações unilaterais Brasil para com a Bolívia, as

políticas municipais para imigrantes feitas pela prefeitura da cidade de São Paulo, por

reconhecer a presença da imigração boliviana, e por haver um interesse por parte do

Executivo local, de integrar o imigrante no espaço-tempo da cidade, para que assim, ele

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consiga se desenvolver, e ter uma vida digna com direitos civis garantidos e sua cultura

respeitada. Um dos exemplos citados no presente trabalho, é a concessão ao imigrante do

direito de acesso ao benefício social, o Bolsa Família, com a finalidade de incentivar a

regularização da documentação, combater o tráfico de pessoas e o trabalho análogo à

escravidão.

Após ter analisado os fatores que desencadeiam o processo de imigração de bolivianos

para o Brasil, e de ter verificado a descrição da relação bilateral Brasil e Bolívia no tratamento

político e jurídico do migrante boliviano no território brasileiro, observou-se a complexidade

do tema, por se ter a dificuldade na fixação de sólidos parâmetros normativos e de definir

políticas públicas da função do Estado e de cada organismo envolvido com a questão da

imigração.

Portanto, tornou-se evidente a importância de se estabelecerem no Brasil, regras

efetivas e concretas políticas públicas que tenham como base os fundamentos dos Direitos

Humanos, sem serem conduzidas como uma questão de segurança e interesse nacional do

Estado, para que assim, o imigrante venha ser tratado e acolhido com respeito e dignidade.

Pela relevância social desta temática, deixa-se em aberto esse estudo, para que outros

acadêmicos possam se interessar e dar continuidade a essa pesquisa, vindo a contribuir com

mais ideias para se formularem regras e políticas públicas calcadas nos ideais dos Direitos

Humanos, para a questão da imigração.

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