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A P í T U L O IO Mulher, gênero e política Lúcia A velar E da natureza dos sistemas políticos demo- cráticos a emergência de novas forças polí- licas que se constituem por traços de identida- de comuns aos seus membros tais como classe social, relações étnico-raciais, religião, grupos tle cultura política e de gênero. Ao se constitu- írem, sua propensão é lutar por representação. Na democracia brasileira, as mulheres mio um exemplo das forças de constituição nicente, apesar de sua relativa invisibilidade no quadro da representação com autorização eleitoral. Reconhecendo as dificuldades para t|Ue suas plataformas chegassem à agenda pú- lilica, a saída encontrada foi a da representação rxiraparlamentar por meio dos canais abertos nus várias instâncias do Estado. Fundindo o fe- minismo com a democracia, construíram uma dinâmica que envolve diferentes organizações, loino os movimentos de mulheres, as redes feministas que fazem a intermediação entre a mu iedade e o Estado, ONGs especializadas em uiivocacy nos Legislativos e nos Executivos. O BeNiifio para a análise é mapear tal dinâmica l|IH! tem logrado importantes avanços na le- ((l .lação e nas políticas públicas favoráveis às lliulheres. Nas seções que se seguem discuti- mos uma nova realidade de participação/re- bresentação por meio da qual as mulheres se jlniistruíram como sujeitos políticos e demo- li itlicos. Apresentaremos uma breve leitura O contexto é tudo. Mary Dietz dos primeiros envolvimentos da mulher brasi- leira com a política, os fatores que facilitaram a construção dessa nova força, como a maior in- serção no mercado de trabalho, maiores níveis educacionais, participação nos movimentos de resistência no período da ditadura militar, os ganhos na Constituinte de 1988 e financia- mentos internacionais para ações propositivas voltadas à melhoria do status da mulher na so- ciedade. Finalmente, discutiremos aspectos da representação extraparlamentar das mulheres, entre eles, o feminismo de Estado. A emergência da questão feminina, em breve digressão O s movimentos para a emancipação da mulher e sua luta pelos direitos de cida- dania datam de meados do século XIX, mas apenas na segunda década do século XX é que o feminismo se firmou em resposta aos mo- vimentos de liberação das décadas anteriores. Até chegar aí, na Europa - especialmente na Inglaterra - e nos Estados Unidos, milhares de clubes femininos, debates em creches e sacris- tias de igrejas, panfletagem conforme o tema do momento e congressos nacionais de libera- ção feminina levavam ao público suas reivin- dicações que, no geral, ficavam em torno de quatro exigências: igualdade de remuneração, 207

AVELAR, Lúcia, Mulher Gênero e Política

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Mulher e Gênero e Política. Artigo.

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Page 1: AVELAR, Lúcia, Mulher Gênero e Política

A P í T U L O I O

Mulher, gênero e política

Lú c i a A v e l a r

Eda natureza dos sistemas políticos demo­cráticos a emergência de novas forças polí-

licas que se constituem por traços de identida­de comuns aos seus membros tais como classe

social, relações étnico-raciais, religião, grupos tle cultura política e de gênero. Ao se constitu­

írem, sua propensão é lutar por representação.Na democracia brasileira, as mulheres

mio um exemplo das forças de constituição nicente, apesar de sua relativa invisibilidade

no quadro da representação com autorização

eleitoral. Reconhecendo as dificuldades para t|Ue suas plataformas chegassem à agenda pú-

lilica, a saída encontrada foi a da representação rxiraparlamentar por meio dos canais abertos

nus várias instâncias do Estado. Fundindo o fe­minismo com a democracia, construíram uma

dinâmica que envolve diferentes organizações, loino os movimentos de mulheres, as redes

feministas que fazem a intermediação entre a mu iedade e o Estado, ONGs especializadas em

uiivocacy nos Legislativos e nos Executivos. O

BeNiifio para a análise é mapear tal dinâmica l|IH! tem logrado importantes avanços na le-

((l .lação e nas políticas públicas favoráveis às lliulheres. Nas seções que se seguem discuti­

mos uma nova realidade de participação/re- bresentação por meio da qual as mulheres se

jlniistruíram como sujeitos políticos e demo­li itlicos. Apresentaremos uma breve leitura

O contexto é tudo.

Mary Dietz

dos primeiros envolvimentos da mulher brasi­

leira com a política, os fatores que facilitaram a construção dessa nova força, como a maior in­serção no mercado de trabalho, maiores níveis

educacionais, participação nos movimentos de resistência no período da ditadura militar,

os ganhos na Constituinte de 1988 e financia­mentos internacionais para ações propositivas

voltadas à melhoria do status da mulher na so­ciedade. Finalmente, discutiremos aspectos da

representação extraparlamentar das mulheres, entre eles, o feminismo de Estado.

A e m e rg ê n c ia da q u e s t ã o fem in ina, e m breve d igressão

Os movimentos para a emancipação da mulher e sua luta pelos direitos de cida­

dania datam de meados do século XIX, mas

apenas na segunda década do século XX é que

o feminismo se firmou em resposta aos mo­vimentos de liberação das décadas anteriores. Até chegar aí, na Europa - especialmente na

Inglaterra - e nos Estados Unidos, milhares de clubes femininos, debates em creches e sacris­tias de igrejas, panfletagem conforme o tema

do momento e congressos nacionais de libera­ção feminina levavam ao público suas reivin­

dicações que, no geral, ficavam em torno de quatro exigências: igualdade de remuneração,

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CA igualdade de educação e oportunidades, cre­

ches 24 horas e liberdade de contracepção e

aborto (Eley, 2005).Na sociedade norte-americana, o maior

envolvimento foi o das mulheres brancas, de

alta educação e status social. Na Europa Oci­dental, a movimentação feminina emergiu lado a lado com as organizações operárias, em

prol do socialismo e da expansão dos direitos para a classe trabalhadora. Com exceção dos

socialistas utópicos do início do século XIX,

que incorporavam as plataformas femininas,

a soberania popular era entendida como uma prerrogativa masculina (Eley, 2005). A cada

etapa de luta dos movimentos de trabalhado­

res, as demandas femininas eram jogadas para um futuro indeterminado, priorizando-se “a

questão social” e os movimentos de classe para

o acesso ao poder.Em meados do século XX o feminismo vai

se firmando como ideologia estruturadora dos movimentos de mulheres. Ele foi amplamente

definido como um conjunto de ideias voltadas

ao avanço do papel social e político da mulher com o questionamento das bases tradicio­nais do poder político de natureza patriarcal

(Randall, 1982).1 Em termos organizacionais, ideológicos e políticos, é um novo movimen­to social (Lovenduski, 1986). E crítico quanto

ao governo representativo e adepto da demo­

cracia direta. Defende políticas públicas para a proteção contra a violência doméstica, acesso

ao aborto legal, direitos reprodutivos, direitos

1. Em texto publicado em 1995, apresentamos ideias sobre a condição da mulher na sociedade capitalista do ponto de vista de autores da Escola de Frankfurt. De modo fragmentário, ao criticarem a estrutura da socie­dade burguesa-industrial dos movimentos fascistas, aca­baram expressando concepções sobre a mulher e a con­tribuição dos seus movimentos para a liberação feminina (Avelar, 1995).

iguais. Tomou diferentes perspectivas confor me as grandes linhas do pensamento social, como o feminismo liberal, o socialista, o mar­

xista e o radical, entre outros.O feminismo liberal no vasto terreno do

liberalismo seria expresso, pela formulação de

John Stuart Mill, como a procura pela liber dade, a igualdade perante as leis, o direito .1

educação. Para essa corrente, a socialização dí

ferencial entre meninos e meninas é a respou sável pelo status mais baixo das mulheres. 0

direito ao voto era visto como um instrumento crucial para a conquista de outros direitos, ao

trazer embutido o princípio da potencialidtuh' igualitária (Pizzorno, 1966). Mas a potcn

cialidade igualitária nada mais é do que uma

promessa de igualdade e não a real igualdade Como mostra Mary Dietz (1987), a igualdade

liberal é formal, e é longo o caminho para HO chegar à igualdade real. O princípio da igual

dade de acesso, diz a autora, não é suficientc, pois nele se encontra uma rede de conceitOn

como direitos, interesses, contratos e gover 110 representativo. Para o feminismo tais concei­

tos são potencialidades, mas insuficientes puni se alcançar uma ‘boa vida’ entendida como 11

fruição plena dos direitos de cidadania.2O feminismo socialista prega reivindica*

ções socioeconômicas e políticas, sob o pfeN suposto de que a igualdade de gênero depcn

de da ação do Estado com políticas pública1, e

sociais que garantam assistência para os filhou das mães trabalhadoras, pagamentos igimk

igualdade na educação e mudança nas leis 1I1

2 . As contribuições do feminismo liberal no âmbilo ■ lil filosofia política e da ciência política foram respolsilvolfpelos fecundos debates que podem ser vistos em algin....autoras tais como Anne Phillips, Carol Pateman, N11111É Fraser, Iris Marion Young e Mary Dietz. Uma excclciltl bibliografia sobre o tema pode ser vista no artigo riliulffl de Mary Dietz (1987).

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Page 3: AVELAR, Lúcia, Mulher Gênero e Política

acesso ao aborto. Em 1878, August Bebei pu­blicou As mulheres sob 0 socialismo, livro que

em 1909 alcançou 50 edições e 15 traduções.

Nele apresentava o programa de direitos das mulheres. Dizia ele: as mulheres só seriam ver­

dadeiramente libertadas pelo socialismo, por meio da independência econômica do traba­lho fora de casa. A ‘questão da mulher’ só se­

ria solucionada se “o Estado e a ordem social

existentes fossem radicalmente transformados ... as mulheres seriam libertadas da prisão do­

méstica da família após a derrubada do capi­talismo e assim encontrariam proteção social

para a criação dos filhos e o trabalho domésti­co, socializado”.

Apesar da retórica emancipatória, a reali­

dade nos sindicatos e nos partidos trabalhistas continuaria sendo excludente em relação às

mulheres. Os preconceitos, o paternalismo, o

sexismo continuaram menosprezando o ideá­rio das mulheres. Sowerwine (citado por Eley) escrevia: “a tendência sindicalista também se

recusou a integrar as mulheres na sua lideran­ça ou levar a sério as mulheres trabalhadoras.

Na Internacional de tendência sindicalista (se­

tembro de 1913), houve uma única delegada”.3 Rosa Luxemburgo, filósofa marxista e militan­te da social-democracia alemã, foi uma expo­ente dessa corrente.4

O feminismo marxista é crítico quanto

tios fundamentos da sociedade capitalista e pa-

Iriarcal por serem responsáveis pela opressão

No livro citado de Eley, são várias as contribuições iiubre gênero, feminismo e a situação das mulheres nas urbanizações de esquerda no período da sua pesquisa: 1II50-2000. O atraso na construção das democracias, se­cundo ele, vem da exclusão sistemática das mulheres nos (unflitos de classe.

I As críticas das últimas décadas no contexto do neoli- lutralismo pregavam o recuo do Welfare State, acusando-o tle excessivo poder de interferência na vida dos indivíduos, iiliím de ter construído burocracias lentas e ineficientes.

decorrente da divisão sexual do trabalho: são

as mulheres que contribuem para a subsistên­cia do capitalismo com seu trabalho não pago

na família. A liberação da mulher só será pos­sível quando a estrutura patriarcal do Estado

capitalista for desmantelada (Alambert, 1985). Uma precursora do feminismo comunista foi

Alexandra Kolontai, que no início do século XX discutia o tema da “nova mulher e a moral sexual”.

A corrente do feminismo radical próxi­ma à do feminismo marxista enfatiza o papel

da mulher na família como a base de toda a opressão, assim como as culturas patriarcais

que traçam o destino do ser humano confor­me a biologia. São céticos em relação ao poten­

cial transformador do Estado, afirmando que todo Estado é patriarcal e, por isso, jamais irá

incorporar os objetivos feministas (MacKin-

non, 1989) e que, por sua natureza, perpetua as desigualdades de gênero. A sociedade civil,

mais que o Estado, é o campo onde as mulheres deveriam concentrar suas energias de modo a

transformar as estruturas do patriarcalismo (Dietz, 1987; Dworkin, 1981; Daly, 1979). Como

saída, indicava a vivência em pequenos grupos

de contracultura, claramente hostis e separa­tistas, ideia que influenciaria as mulheres da geração dos anos 196o.5

Gênero e ciência política, breve resgate

A pesar dos avanços decorrentes da mobi­

lização das mulheres, tal realidade não se tornaria objeto de estudo acadêmico an­

tes da década de 1960, e com maior número de pesquisadores ao final da década de 1970 e

5 . As correntes políticas que informariam o feminismo vinham de todo o espectro político, dos liberais aos radi­cais de esquerda (Lovenduski, 1986).

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nos anos 1980. Carroll e Zerilli (1993), convi­dadas a escrever sobre “ Feminist Challenges to Political Science” para publicação no periódi­co da American Political Science Association (APSA), The State of Discipline, mostraram o

baixo interesse pela área considerando o pe­queno número de livros, artigos e teses acadê­

micas sobre o tema. Após 1980, o campo de es­tudos cresce rapidamente, e em quase todos os congressos e conferências nacionais, regionais e internacionais multiplicam-se as mesas so­

bre “Mulher e Política” e “Gênero e Política”. A primeira geração de pesquisas tratou de elabo­

rar críticas aos estudos sobre comportamento político, participação política e políticas pú­

blicas realizados sem a perspectiva de gênero. Uma exceção foi o texto pioneiro de Maurice Duverger La participation des femmes à la vie

politique, de 1955, um estudo encomendado pela Unesco. Duverger concluiu sobre a im­

portância da inserção da mulher no mercado de trabalho e de níveis mais altos de educação

para seu maior interesse pela política e menor conservadorismo. Suas conclusões destoavam

de estudos posteriores, da década de i960, que continuavam reafirmando as teses da menor

participação política das mulheres, baixa efi­

cácia política e um sistema de crenças pouco sofisticado (Almond; Verba, 1963; Devaud, 1968; Campbell, i960; Lane, 1978). As críticas feministas insistiam nos estereótipos embu­

tidos nas análises quase nunca submetidas a teste empírico. Apontavam a necessidade de

reconstituir as categorias do cânone da análi­

se política, de modo a incorporar as mulheres como um de seus focos (Zerilli, 2006). Zerilli argumenta que as variadas abordagens no

campo da teoria política feminista são fruto

da interlocução entre críticas feministas e não

delas com os autores da ciência política tradi­

cional. Os diálogos se realizam desde um lugar de outsideness e constituem, assim, uma verda­

deira comunidade teórica crítica.Na década de 1970 os movimentos de li

beração feminina ganhavam alcance interna

cional graças a fóruns como a Convenção dos Direitos Políticos da Mulher de 1952 e 1960, A Convenção para a Eliminação de Todas as

Formas de Discriminação contra a Mulher,

em 1979, foi um exemplo. Depois disso, houve a Conferência de Nairóbi de 1985, e a Qual

ta Conferência Mundial sobre a Mulher de 1995, realizada em Beijing (Pequim), um dos

eventos mais importantes pela participação de mulheres de todo o mundo. Outros fóruns Se

sucederiam desde então, tais como as Confe rências de População e Desenvolvimento, com reivindicações atentas para a diversidade dos

segmentos de mulheres. Os estudos na ciência

política receberam apoio financeiro das funda ções de pesquisa e ganharam espaço nos even

tos acadêmicos.Em publicação coordenada por Krook e

Childs (2010), um manual destinado ao ensino dos estudos e pesquisas sobre mulher, gênero

e política, os capítulos tratam de temas como “Mulheres e Movimentos Sociais”, “As Mullie

res e os Partidos Políticos”, “ Mulheres, Gênero e Eleições”, “ Gênero e Representação Política",

“Mulheres, Gênero e Políticas Sociais” e “ Mu­lheres, Gênero e o Estado”. O mercado editorial

passou a oferecer, crescentemente, publicações sobre o tema, nutrindo uma comunidade de

leitores que se expande cada vez mais. As inser

ções da temática em handbooks se multiplica«

ram - por exemplo, The Oxford Handbook < w political theory (2006). No Brasil, a produção acadêmica sobre os temas acompanhou o de

senvolvimento das ciências sociais e, desde eu

tão, é uma importante área de estudos, como stf

Page 5: AVELAR, Lúcia, Mulher Gênero e Política

pode ver no mercado editorial brasileiro e nos

periódicos especializados no tema de gênero, entre outros a Revista de Estudos Feministas

(UFSC), Lybris (revista eletrônica da UnB), Cadernos Pagu (Unicamp) e Revista Ártemis

- Estudos de gênero, feminismo e sexualidade (UFPA), além de vários dossiês sobre “ Mulher

e Política” nos periódicos nacionais.

As m ulher es c o m o sujeitos políticos e democrát i cos

A s primeiras manifestações das mulheres brasileiras em direção à igualdade foram

pálidas expressões do que ocorria na Europa e

nos Estados Unidos. A imprensa feminina da segunda metade do século XIX era dirigida por senhoras de classe alta com a intenção de tor­

ná-las úteis à sociedade. Entre as publicações

ilcstacavam-se o Jornal das Senhoras (1852), O Ikllo Sexo (1862), O Sexo Feminino (1873), O

(lomingo e o Jornal das Damas (1874), Myosotis (1875) e Echo das Damas (1879). O tema con­

sensual era a importância da educação femi­

nina para a sua emancipação (Hahner, 1981). No início da década de 1920, as líderes do nas-

icnte movimento das sujfragettes eram médi- ctls, dentistas, escritoras, escultoras, poetisas e

pintoras, engenheiras civis, cientistas, funcio­nárias públicas e parentes de políticos da alta

elite. Um grande nome, a pesquisadora BerthaI utz. Mesmo assim, não escaparam aos ata­

ques da imprensa, que frequentemente as acu- miva de pertencerem ao terceiro sexo, carentes

1 lo charme feminino, histéricas, declassées.

Ao lado dos movimentos sufragistas, as mulheres também se envolveram com organi-

Ztições de esquerda, ao largo das repercussões il.ls organizações comunistas e socialistas no

Inicio do século XX. Dina Lida Kinoshita, físi­

ca e ambientalista, membro da cátedra Unesco

para a “ Educação para a Paz, Direitos Huma­nos, Democracia e Tolerância” do Instituto de

Estudos Avançados (IEA) da Universidade de

São Paulo, aponta os feitos de mulheres co­munistas no início do século XX, como a pa­

raense Erecinha Borges de Souza, que ingres­

sou no Partido Comunista Brasileiro em 1927 e passou a desempenhar cargos importantes

no partido. No Socorro Vermelho Interna­cional, trabalhando contra a ditadura Vargas,

Sara Becker de Mello, Inês e Felícia Schechter

e Rachel Gerdel destacaram-se no partido. Ao longo da década de 1930, Patrícia Galvão, Nise da Silveira, Raquel de Queirós, Olga Be-

nario e Lisa Berger são algumas delas. Mas é no pós-Segunda Guerra Mundial que aumenta

o número de participantes. Fundam a Federa­

ção Democrática Internacional de Mulheres, com Ana Montenegro como uma das líderes. Mas as décadas de 1960 e 1970 foram o grande marco.6

Uma conjuntura facilitadora ao envolvi­

mento político das mulheres em escala muito maior do que em qualquer momento anterior

foi o período da luta contra as ditaduras no

continente. No Brasil, em 1964, as mulheres

aumentavam sua participação na educação, no mundo do trabalho, envolviam-se nos movi­

mentos estudantis, tinham acesso aos métodos contraceptivos, acesso a terapias e psicanálise,

adotavam novos comportamentos afetivos e sexuais, com maior acesso ao mundo da cul­

tura, fatores que facilitariam sua emancipação

(Beltrão; Diniz Alves, 2009; Pinto, 2003; Teles,

6. Na conjuntura internacional os movimentos feminis­tas procuravam resolver o que Betty Friedan intitulou como “mal-estares sem nome”, para falar da insustentá­vel hierarquia de gênero diante das mudanças no status social da mulher (Sarti, 1998).

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CA 1999). A imprensa dirigida às mulheres inseria

matérias de caráter emancipatório. Em uma

delas, na revista Claudia da editora Abril, a

articulista Carmem da Silva foi pioneira nos

assuntos da liberação feminina.A militância das mulheres nas organiza­

ções clandestinas de esquerda e nos grupos guerrilheiros nas décadas de 1960 e 1970 tam­

bém foi um instrumento de emancipação.7

No geral, eram jovens intelectualizadas, estu­dantes e professoras (Ridenti, 1990), operárias

metalúrgicas, trabalhadoras rurais. Prisões, torturas, exílios e humilhações foram práticas

sofridas por muitas dessas mulheres. Publi­cações recentes e depoimentos na Comissão

Nacional da Verdade e similares nos estados

federados aos poucos vão reconstruindo a vida das mulheres ativistas no período mili­

tar.8 A hierarquia de gênero estava presente nas organizações de esquerda como se pode

ver nas publicações com depoimentos de ex- militantes (Ferreira, 1996; Costa, 1980; Colling,

1997; Moraes, 19850. Mas a elaboração daque­

la hierarquia, segundo Costa et al. (1988), foi realizada principalmente no exterior, nos exí­lios, e em contato com os grupos feministas

internacionais.As mulheres atuavam simultaneamente

em várias frentes, mesmo não sendo feminis­

tas, realizando uma dupla transgressão: a luta contra o regime militar e o questionamento

dos códigos tradicionais de conduta (Gianor- doli-Nascimento et al., 2007). Uma frente des­

7 . Ridenti (1990) cita os grupos de esquerda do período militar e uma relação daqueles nos quais a participação feminina era mais destacada.

8. Ver, por exemplo, Azevedo, 1985; o jornal Estado de Minas publicou em junho de 2012 uma série de depoi­mentos de mulheres torturadas: “A Tortura de Esteia contada por Dilma”. Esteia foi o codinome de Dilma Rousseff. Ver, também: Rago, 2013.

tacada era a das universidades, de onde os gru

pos organizados de mulheres expandiram Sun participação e se envolveram com os movi mentos populares das periferias urbanas, jun

to às pastorais da Igreja católica de esquenl.i

as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), gru pos populares locais e associações de bairro:.,1' Com a ajuda das feministas, clubes de miic»

iniciaram a luta por creches e contra a caresl in,

a violência doméstica e a violência sexual. 1 111 meados da década de 1970 jornais da militAn

cia feminista entraram em circulação, como

Brasil Mulher, Nós Mulheres e Mulherio. I Ml, a politização crescente levou à organização <!■

Congressos como o de 1979, em São Paulo. < >II Congresso da Mulher Paulista, em 1980, lo)

organizado por 52 entidades com a participa­ção de aproximadamente 4 mil mulheres ('Ir

les, 1999).A participação simultânea em movinn n

tos diferentes estendeu os horizontes polítiuM

das mulheres que aprendiam outras forniii» de fazer política além dos canais partidário», i'

nesse processo foram se construindo como mi jeitos políticos e democráticos. No final da < l< cada de 1970, duas grandes tendências pocli.iit.

ser identificadas: a corrente feminista que qtif

ria fazer da militância uma profissão, tr.ilm

lhando no campo da promoção da igualdmli de gênero e na formulação de políticas piíMI

cas, utilizando as várias entradas que o Eslmln

oferecia para o diálogo com os representii 111«1 da sociedade organizada e das Organizai, np| Não Governamentais (ONGs) feministas;1" |

outra tendência foi a da mobilização no pliillfl

9 . Entrevista concedida por Adriana Gragnani à ,minify São Paulo, out. 2013.

10. Entrevista concedida por Sonia Miguel à autOni I'1 1 sília, 2002.

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local e regional, lado a lado com outros grupos

associativos da sociedade civil.Em relação ao primeiro grupo, as mu­

lheres passaram a agir profissionalmente no

campo das ONGs, e a relação movimentos/ ONGs continuou sendo umbilical. Com fi­

nanciamentos internacionais, passaram a vi­ver de projetos temáticos frequentemente em

verdadeiro conflito de interesses com seus fi­nanciadores, diante da necessidade de adequar

suas prioridades com aquelas definidas pelas agências, tais como as Fundações Ford e Mc-

i Carthy e as Nações Unidas, quase sempre com feministas em altos cargos, as quais se torna­

ram aliadas dos grupos de mulheres apoian­do o modo diferenciado de agir na política,

principalmente no plano extraparlamentar. A motivação para o trabalho nas ONGs era fazer

política com outro arcabouço. Atravessaram a década de 1990 no trabalho de consolidar tal

lorma de participação/representação, e a par- lir de 2000 conseguem o reconhecimento pelo

listado brasileiro. No percurso, as feministas

nlcançaram maiores recursos de comunicação e organização e socializaram as novas gerações

com valores políticos e formas de ativismos inovadores.

O engajamento institucional dos movi­mentos e redes constituiu uma nova fronteira

ile representação democrática além da via elei­toral. Até que as pesquisas evidenciassem as

liovas instâncias de mediação entre sociedade

K Estado nos anos que se seguiram ao fim da

ditadura militar, as conquistas logradas pelas mulheres se apresentavam como um verda­

deiro paradoxo (Htun, 2002) ou, até mesmo,11 in quebra-cabeças: com participação ínfima

li.i representação formal, como explicar os ga­

nhos das mulheres nos campos da legislação e ilas políticas públicas?

A represen tação ex t r a p a r la m e n t a r das m ulheres brasileiras

Para compreender o quebra-cabeça, o argu­mento que emergia entre os pesquisado­

res era o de que, por meio do associativismo,

construíam-se outras formas de representação

fundadas nas relações constitutivas entre Es­tado e sociedade (Avritzer, 2002; 2011; Gurza

Lavalle et al., 2006). Por meio do associativis­mo e da participação em instâncias ofertadas

pelo Estado, como o Orçamento Participativo,

os Conselhos e as conferências temáticas, em conexão com os movimentos, redes e ONGs, comissões e secretarias, estariam influencian­

do o conteúdo da agenda pública, legitimando

temas não privilegiados pelos restritos canais advindos do voto (Mansbridge, 2003). Em suma, os interesses articulados nas organiza­

ções civis e sedimentados nas redes aglutina- doras desses interesses passaram a ser trans­

mitidos aos governos em paralelo aos canais

tradicionais de representação (Fung, 2003).Para se ter ideia do sucesso da representa­

ção das organizações de mulheres, o Cfemea,

ONG feminista e braço legislativo da Articu­lação das Mulheres Brasileiras, uma das mais

importantes do país, analisou as leis federais aprovadas desde 1888, quando ocorreu legal­

mente o fim da escravidão, e constatou que, no que tange aos direitos das mulheres, das 249

leis aprovadas, duzentas o foram após a Cons­tituinte de 1988, um marco na mobilização das

mulheres na política brasileira (Ogando, 2011,

com base nos dados do Cfemea). Um marco, porque os movimentos de mulheres consegui­ram que 80% de suas reivindicações fossem

incorporadas ao texto constitucional. A par­

tir de 1990, as organizações feministas junto à Câmara Federal, assim como nas agências

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CA estatais, têm logrado avanços na legislação no

campo dos direitos das mulheres, com exce­ção para a legalização do aborto, tema trans­

versal às muitas instituições representadas na Câmara, com fortes opositores (Rangel, 2012).

Mas, entre outros aspectos, a legislação avan­çou na criminalização da violência domésti­ca e do assédio sexual; no seguro-saúde para a reconstrução de mamas em caso de câncer; em licença-maternidade; em inovações no Código Civil quanto à igualdade de homens

e mulheres no casamento; na eliminação do pátrio poder; no seguro-desemprego para tra­

balhadoras domésticas; no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS); em leis que dispõem

sobre a efetivação de ações que assegurem a

prevenção, a detecção, o tratamento e o se­guimento dos cânceres de colo uterino e de mama (2008); e na assistência jurídica para

as mulheres em situação de prisão (2008). Em

abril de 2013, foi aprovada a PEC (Projeto de Emenda Constitucional) que legisla sobre os

direitos das trabalhadoras domésticas, mais uma vitória após anos de mobilização da cate­

goria profissional.Ao pesquisar as instâncias de mediação

das organizações de mulheres e de redes femi­

nistas com o Estado, as quais denominou de Instâncias de Mediação de Temas de Gênero (IMTG), Patrícia Rangel (2012) constatou a

existência de agências de políticas para as mu­

lheres, conselhos das mulheres, procuradorias das mulheres, bancadas nacionais, delegações,

comissões de assessorias, agências administra­tivas e comissões parlamentares, enfim, um

mosaico de organizações e redes com represen­tação nas diferentes instâncias governamen­

tais. Para a autora, as referidas instâncias em

conjunto com as femocratas incrementaram a representação das mulheres nos governos, co­

locando na agenda das burocracias públicas ag

demandas feministas.A autora ressalta a importância das três

principais redes de articulação das plataformas

feministas: a Articulação das Mulheres Brasi­leiras (AMB), a Marcha Mundial das Mulhe res (MMM) e a União Brasileira de Mulheres

(UBM). São organizações formal e juridica

mente estabelecidas em todo o território na cional. Para exemplificar, Rangel aponta que a

AMB tem em seu ápice o Comitê de Política

Nacional, com 81 representantes dos agrupa­mentos estaduais, três secretarias executivas

e coordenadoras executivas nacionais com oito regionais no país. Essa rede dialoga com

as agências estatais e com a ONG CFemea em ações de advocacy advindas dos movimentos de mulheres. No seu quadro encontram se

pesquisadoras, redatoras, jornalistas e asses* soras, todas militantes feministas que trab.i

lham junto aos deputados, em parceria com .1 bancada feminina no Congresso. Os trabalhos de mobilização, articulação e representaçan

dessa ONG giram em torno de quatro temas:

“ Poder e Política”, “ Enfrentamento à Violên­cia de Gênero”, “ Direitos Sexuais e Reprochi

tivos” e “ Trabalho e Proteção Social”. Por meio da advocacy, que é a ação coletiva, pública e

política em defesa dos direitos das mulheres, a finalidade é democratizar a esfera públic.i 0 conquistar mais justiça e igualdade (Roch i

gues, 2010). Diferentemente dos lobbies, cujas ações se dão de modo mais ou menos cia 11

destino, para benefício de grupos particulares de interesses, as ações de advocacy dirigidas ,11 >

Estado, aos partidos políticos e às organizaçóe* da sociedade civil têm como objetivo ampliai

alianças e promover mudança nos valores tu

dicionais de gênero. A AMB também se ai lí

cuia com outras ONGs, como o SOS Cor| «•'

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Page 9: AVELAR, Lúcia, Mulher Gênero e Política

(Recife) e o Cunhã Coletivo Feminista (Natal), ambos bastante influentes e que mobilizam

organizações de mulheres de todo o país.Do lado do Estado, as agências de política

para as mulheres são, entre outras, o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, fundado em

1985, ligado ao Ministério da Justiça, e a Secre­taria de Direitos das Mulheres (Sedim), funda­

da em 2002, sob o governo Fernando Henrique Cardoso. No governo Lula foram criadas a Se­

cretaria de Política para as Mulheres (SPM) e a Secretaria de Política de Promoção à Igualdade

Racial (Seppir), ambas com status de Ministé­rio. A Seppir mantém programas para as mu­

lheres negras, trabalhando em parceria com a

SPM, com lideranças feministas reconhecidas,

com mecanismos de consulta, formulação e fi­nanciamento de projetos.

Art iculação entre pares e com o Estado

A s redes feministas AMB, UMB e MMM

articularam-se horizontal e verticalmen­

te para a criação do Conselho Nacional dosI )ireitos da Mulher (CNDM), na instituição da

Secretaria de Política para as Mulheres (SPM) c da Seppir, na realização da I Conferência

Nacional de Política para Mulheres, na elabo­ração do Plano Nacional de Política para Mu­

lheres e na criação das cotas por sexo. O Con­

selho Nacional de Direitos das Mulheres é o principal espaço institucional de participação

da Articulação de Mulheres Brasileiras no go­verno federal, mas todas as outras redes tam-

hém ali se representam. As redes feministas se

m ticulam com outros atores, como a Seppir, o < onselho Nacional de Saúde, o da Juventude c o da Comunicação. No plano horizontal as

ivdes mantêm como aliados organizações de

iidvocacy, como o Social Watch Brasil, a Asso­

ciação Brasileira de Organizações Não Gover­

namentais (Abong), o Instituto de Estudos So- cioeconômicos (Inesc) e a Rede Feminista de

Saúde, entre outros. Trata-se de uma interação vertical e horizontal com o fim de comparti­

lhar e fortalecer as temáticas principais para alcançar visibilidade na construção da agenda pública.

As organizações civis no campo da saú­de são das mais antigas. No Executivo federal

encontram-se a Rede Nacional Feminista de

Saúde do Ministério da Saúde e a Rede pela Humanização do Parto e Nascimento, com

institucionalidades reconhecidas. Destacados ativistas tornaram-se quadros governamen­

tais, mudando a orientação do Ministério da

Saúde para políticas voltadas a coletividades mais amplas. Os programas para a saúde da

mulher são parte dessa história de construção política

de um ponto de vista político institucional

e sociológico, não porque seus atores são

atores políticos tradicionais e nem porque são subordinados aos seus ditames, mas

porque o Estado e as instituições políticas de um lado e os atores da sociedade civil

e os cidadãos, de outro, tornaram-se mu­tuamente constitutivos. (Gurza Lavalle; Isunza Vera, 2011)

No Ministério do Desenvolvimento Agrá­rio encontra-se a Assessoria Especial de Gê­

nero, Raça e Etnia (Aegre), que desenvolve

estudos sobre mulheres trabalhadoras rurais e acolhe a formulação de planos para as mulhe­

res do campo, em parceria com a Secretaria Es­pecial de Política para Mulheres e Movimentos

de Mulheres Trabalhadoras Rurais (MMTR) em suas seções municipais e estaduais. Pro­

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CA move feiras feministas de economia solidária

juntamente à Rede de Produtoras Rurais. O projeto Formação e Articulação das Mulhe­res Rurais nos Territórios de Cidadania é mais

uma de suas iniciativas. Ademais, o Aegre aco­lhe as demandas do Movimento de Mulheres

Camponesas (MMC), outra organização de

destaque de trabalhadoras rurais.No Ministério da Justiça encontra-se o

Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, que trabalha em parceria com movimentos e

redes feministas na formulação do Pacto Na­cional pelo Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres. É também ali que se encontra o

Departamento Nacional Penitenciário, assim

como as Delegacias Especializadas de Atendi­mento à Mulher e suas Secretarias estaduais. Já o Ministério de Desenvolvimento Social

incorporou em seus quadros lideranças femi­

nistas que trabalham nos programas de com­bate à fome e no Bolsa Família e estabelecem cooperação com outros Ministérios e agências

estatais, na promoção de programas e políticas

para as mulheres.

Feminismo de Estado

A chave unificadora para entender a repre­

sentação das mulheres além do âmbito

parlamentar é o conceito de feminismo de Estado. Ele é definido como “as atividades de

feministas e femocratas nos governos e admi­nistrações” ou como o feminismo institucio­

nalizado em agências públicas, ou ainda como

a capacidade do Estado para responder às de­mandas das agências feministas, ou simples­

mente como a advocacy dos movimentos de mulheres no âmbito do Estado (Lovenduski,

2005). Femocratas são feministas que traba­lham na burocracia do Estado, influenciando

o processo político na formação da agenda pú­

blica com os temas de interesse das mulheres, incrementando o debate, enfatizando a sua

importância para as mulheres e influenciando nas decisões da burocracia do Estado.

Na construção política do feminismo do Estado destaca-se o percurso histórico dos mo

vimentos feministas ao feminismo acadêmico, e dele aos cargos públicos e estatais. Mesmo

com as históricas tensões entre a militância li1 minista e a acadêmica, tratadas em alguns estu­

dos (Teixeira, 2010), elas mantiveram laços de transversalidade e de cooperação mútua.

Teixeira entrevistou feministas que fize

ram tal percurso e descreve o caminho: se guiram da militância contra a ditadura à ml

litância feminista, de onde muitas mulhercN se alçaram às universidades, fundaram ON( Is,

ocuparam cargos nos governos. A experiência política somada à reflexão acadêmica inaugu

rou um novo espaço de militância, a militância acadêmica, particularmente nas áreas das ( li

ências Humanas e Sociais, em Letras e Litera

tura, na Saúde Pública e em Demografia."No âmbito do feminismo de Estado, tome

mos como exemplo o caso da ministra da Pio

moção da Igualdade Racial, Luiza Bairros. Hm

entrevista à pesquisadora Sônia Alvarez (201;! ela relata a dinâmica de militantes de movimen

tos que passam à militância acadêmica e depoli se alçam aos cargos de governo, sejam eles ihin

municípios, nos estados ou no Executivo fede

11. A produção de conhecimento na área contou com 11 estímulo de instituições e agências de fomento, como lolo caso na década de 1980 da Fundação Carlos Chagir, 1 da Fundação Ford, que lançaram editais para oito c o i i »

cursos sobre gênero. A Associação Nacional de Pós ( 11 a duação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs) criuti em 1980 o Grupo de Trabalho GT Mulher. A partir «I» então proliferaram os Núcleos de Pesquisa nas Univoi'« sidades.

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Page 11: AVELAR, Lúcia, Mulher Gênero e Política

ral. Seu tema é o do racismo institucional, e seu trabalho no Estado se volta para a implemen­

tação de medidas que o combatam. Ela aponta como exemplo de um projeto de política públi­

ca a inclusão no II Plano de Política para as Mu­lheres da meta de formar 120 mil profissionais

da educação básica nas temáticas de gênero, re­lações étnico-raciais e orientação sexual. Outras

metas são a redução do analfabetismo das mu­lheres negras e maior ingresso no ensino supe­rior, o que veio a gerar a polêmica discussão de

cotas para negros nas universidades.

Tendo vivenciado o processo participativo do movimento negro em suas distintas fases,

,1 ministra Luiza Bairros acompanhou a orga­nização política dessa população e a formação

das múltiplas identidades, como a dos quilom- holas, dos jovens, das lésbicas e das trabalha­

doras domésticas. Para ela um dos maiores

ganhos do movimento das mulheres negras foi lerem assegurado espaço político no campo das organizações civis, sem o que seria impos-

itlvel a visibilidade dos problemas das questões

específicas que as afetam: “Sou ministra, mas nunca saí do movimento negro. Você não sai ilisso!”, diz Luiza Bairros.

I spaços públicos promovidos

pelas a g ê n c ias est atai s e a 11‘pres entação das m ulheres

L v

A s dinâmicas da ligação entre a sociedade e o Estado, apontadas anteriormente, so-

nium-se outras experiências de representação «’ controle da sociedade civil em geral e, em

barticular, dos grupos organizados de mu­

lheres. Entre elas incluem-se as Conferências Nueionais de Mulheres, os Conselhos Gestores

i> 11 Orçamento Participativo, três espaços de

Inovação institucional e de representação vol­

tados à gestão compartilhada na definição de políticas e acompanhamento da implementa­ção. Tais instâncias também se articulam com

os movimentos, associações e ONGs locais,

particularmente nos casos em que as mulhe­res recebem formação para se tornarem re­presentantes nessas áreas participativas. São

inúmeras as experiências em que as Secretarias

municipais de mulheres e ONGs feministas formam as mulheres para serem delegadas

e conselheiras nas Conferências Estaduais e Nacionais, nos Conselhos Gestores e no Orça­

mento Participativo.

As Conferências Públicas Nacionais tor­naram-se espaços de ampliação da partici­pação social no ciclo de políticas públicas no

país (Avritzer, 2012; Petinelli, 2011). Elas são promovidas pelas agências estatais e organi­

zadas tematicamente, envolvendo governo

e sociedade civil (Moroni, 2005; Pogrebins- chi; Santos, 2011). São precedidas por etapas municipais e/ou estaduais e regionais. Desde

sua criação (1940) até 2010, foram realizadas

111 conferências nacionais, das quais 99 ocor­reram após 1988, 72 delas entre 2003 e 2010,

durante os dois governos Lula (Petinelli, 2011). Foram iniciativas dos Ministérios e Secretarias

da Presidência. A Secretaria Especial de Direi­tos Humanos promoveu 24 conferências sobre

seis temas, e o Ministério da Saúde organizou

nove conferências em torno de nove temas. Es­tudando os públicos participativos das Confe­rências, Petinelli e Avritzer concordam em que

é a saúde, antiga área de participação dos ato­

res da sociedade civil, a que apresenta maior

intensidade de envolvimento. Com forte mo­bilização nas últimas três décadas, seu impac­to sobre as políticas públicas foi positivo, pois

se incrementaram os vínculos institucionais e

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CA não institucionais das novas formas de repre­

sentação (Avritzer, 2012).Em 2004 realizou-se a I Conferência de

Política para as Mulheres, que procurou esta­belecer as diretrizes para o I Plano Nacional de

Políticas para as Mulheres (PNM I). A segunda conferência ocorreu em 2009. Ambas foram

precedidas por conferências municipais e re­gionais, em torno de 2 mil encontros munici­

pais e 26 estaduais. Foram envolvidas cerca de 240 mil pessoas nos 2 anos de encontro, com

50% de atores estatais e 50% de movimentos e entidades civis. As conferências de promoção

de igualdade racial contaram com a participa­

ção de 140 mil pessoas de associações e movi­mentos de mulheres e do movimento negro.

Ambas debateram temas de natureza social para a melhoria das condições das mulheres

e dos negros. A inserção das propostas defi­

nidas por meio da deliberação pública (Peti- nelli, 2011) influenciou a formação da agenda

de políticas públicas, pois quase a metade das propostas aprovadas foi inserida na agenda do

governo federal.É significativa a articulação que antecede

as conferências nacionais no âmbito dos mu­nicípios - são as Conferências Municipais de

Mulheres. Elas são convocadas pelos Conse­

lhos Municipais de Políticas para as Mulheres, ou Coordenadorias, ou Secretarias, em parce­

ria com as secretarias estaduais das mulheres, mobilizando gestores, associações e entidades

da sociedade civil organizada, para discutir temas como a autonomia econômica e a par­

ticipação das mulheres nos espaços de poder,

sobre educação e saúde, segurança etc. O mapa da distribuição das conferências municipais é uma tarefa ainda a ser realizada, mas basta

uma busca nos sites dos municípios brasileiros,

sobretudo os de maior porte, para verificar sua

ocorrência.Um exemplo é o que ocorreu no estado

de Minas Gerais.12 O Conselho Estadual da Mulher elaborou o regimento interno da III

Conferência Estadual para Mulheres, com a participação de 17 integrantes para definir a

estrutura e composição da Comissão Organi

zadora - representantes da Assembleia Legisla­tiva de Minas Gerais, da Marcha Mundial lias Mulheres (MMM), da Associação de Lésbicas

de Minas (Alem), da Associação Mulheres Bra

sileiras (AMB), do Núcleo de Estudos Política

para as Mulheres (Nepem-UFMG), da Rede Feminista de Saúde (RFS), da União Brasileira de Mulheres (UMB) e do Conselho Estadual

da Mulher (CEM), entre outras.Os Conselhos Gestores locais são ouli a

forma de participação institucional definida

a partir do marco legal. São amparados poi legislação nacional e têm como caracterísli

cas a formulação, o acompanhamento e a fis­calização das políticas nas três esferas goviT

namentais - municipal, estadual e nacional

(Lüchmann, 2012). As áreas dos Conselhos sau aquelas das políticas governamentais, como an

de Educação, Saúde, Assistência Social, Melo Ambiente, Planejamento Urbano e Transpor* te. Eles são constituídos com representantes

do Estado e de organizações civis, que divi­

dem a definição da agenda e da dinâmica da

deliberação. Vistos sob o crivo da represenla ção, têm merecido a atenção de analistas que procuram saber em que medida tais espai/it

estão efetivamente ampliando o acesso de gru

pos sub-representados. Tomamos da literatura alguns exemplos que nos permitem avaliar »0

12. Ver www.conselhos.mg.gov.br.

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Page 13: AVELAR, Lúcia, Mulher Gênero e Política

nessa instância a sub-representação feminina é a mesma dos governos e parlamentos, ou se nela as mulheres encontram melhores opor­

tunidades de apresentar seu universo de inte­

resses. De saída os estudos de Bonino e Bruera

(2005) concluem que as mulheres compõem a maioria dos participantes, mas são os homens que se encontram nos espaços de poder e de­

cisão (Ribeiro, 2011). Uriella Ribeiro propôs-se a discutir a dinâmica participativa dos Conse­

lhos Municipais de Saúde sob a perspectiva de

gênero, perguntando se ali as mulheres encon­trariam oportunidade de maior representação e se os Conselhos respondem às reivindicações

dos movimentos feministas e de mulheres. A

autora analisou 13 Conselhos, pesquisando

documentos e atas produzidos entre 2003 e 2007. Um dos focos de análise consistiu em re­

gistrar o número de mulheres participantes e

confrontá-lo com a frequência em que elas se

manifestavam verbalmente ao longo das reu­niões. As mulheres falantes eram, no geral, as

representantes dos governos, as doutoras, que acumulam o cargo de profissionais da saúde e

de representação estatal. Nos espaços de deci­são e poder dos Conselhos os homens ocupa­

vam a maioria, particularmente aqueles que representavam o governo.

A pesquisa de Lüchmann e Almeida (2010) uvaliou a presença das mulheres nos Conselhos

( lestores de dois municípios do estado de San-

tii Catarina - Chapecó e Itajaí - , concluindo sobre o predomínio da “conselheira mulher,

com faixa de 40 anos, alta escolaridade, casada,i atólica e branca”. A predominância delas foi

constatada nos Conselhos de Assistência Social (H<>%) e nos Conselhos de Direito da Criança

C do Adolescente (78,6%), tendo sido menor

nos Conselhos de Saúde (43,7%). Ao concluí­

rem sobre a maior presença das mulheres nas áreas sociais, as autoras sugerem haver

relação entre gênero e tipo de política - na

medida em que determinadas áreas de po­líticas públicas, as de corte social, mobili­

zam as mulheres para o exercício da par­ticipação e representação em detrimento

de outras, que ainda parecem ser conside­radas campo de domínio e competência masculina, (p.90)

A experiência do Orçamento Participa­tivo (OP) teve início na década de 1970, no

município de Lages (SC), mas foi na década de

1990, com a eleição de governos municipais do Partido dos Trabalhadores (PT) em Porto Ale­gre (RS), que se firmou como uma instância de

inovação democrática e de estímulo à partici­

pação. Wampler (2003) define o OP como: a) uma força inicial de transformação social; b)

uma instituição democrática; c) uma institui­ção de elaboração de políticas públicas; e, fi­

nalmente, d) uma escola de formação política.

Tomemos como exemplo o trabalho da Coordenadoria da Mulher na prefeitura de

Recife: quando as mulheres começam a par­ticipar, apresentam baixo nível de informação

sobre o que é o OP e sua metodologia. No ge­ral são mulheres de baixa renda e sem o trato

com a vocalização na dinâmica dos debates.

Diante de tal realidade, comum a outras loca­lidades, ONGs feministas organizam cursos de

formação política tanto pará inserção dessas mulheres nas atividades do OP - no papel de

delegadas, por exemplo - como para sua par­ticipação em Conselhos e Conferências Muni­

cipais. No caso de mulheres negras, cuja parti­

cipação ainda é mais baixa, os cursos também se voltam para qualificá-las como conselheiras

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CA e, assim, tomarem parte nas deliberações nas

referidas instâncias (Ribeiro, 2002).O estudo de Uriella Ribeiro para o Or­

çamento Participativo de Belo Horizonte

também é um exemplo de como se dá a par­ticipação/representação das mulheres: embo­ra sua presença seja expressiva, as mulheres

mantêm-se mais caladas. O mesmo se obser­

vou em trabalho realizado em Porto Alegre nas

experiências do OP de 1991 a 2005. Nas assem­bleias regionais e temáticas (2005), entre 7.572

participantes, 57,1% são mulheres e 42,7% são homens. A presença delas é maior nas reuni­

ões de base e diminui à medida que se avança nas instâncias de decisão. Dos 87 conselheiros

eleitos, 60% são homens. De todo modo vale a pena lembrar o argumento de Ribeiro e Borba (2012) de que a participação no OP por seg­

mentos de baixa renda contraria, em parte, o

modelo de centralidade da participação polí­

tica, o qual propõe que a participação do indi­víduo é maior na medida em que é mais cen­tral sua posição na estrutura social. Lüchmann

(2012) complementa esse argumento afirman­

do que a inserção nas atividades do OP neutra­liza, ao menos em parte, as assimetrias cogniti­vas e culturais dos segmentos desprivilegiados.

Conc lusão

Se o Brasil é um dos países com menores

índices de mulheres eleitas no continente, a sub-representação feminina pela via eleito­

ral veio compensada pela ação ativa dos mo­

vimentos e redes junto às agências do Estado. É inquestionável a singularidade do caso das

mulheres organizadas, assim como de outros grupos da sociedade civil.

Avançar nas pesquisas sobre a dinâmica

do caminho construído pelas mulheres, desde os primeiros movimentos às atuais instâncias

de participação/representação, é o que a ciên­cia política e outras áreas de estudo têm feito,

como um compromisso com uma ciência sen­sível às questões de gênero (Lovenduski, 2005). Hoje, contudo, é inquestionável que no cená­

rio das forças políticas em disputa, as mulheres

estão presentes como novos sujeitos políticos e

democráticos.

Page 15: AVELAR, Lúcia, Mulher Gênero e Política

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