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Thaty Furtado Baby, Você Me Ama

Baby, Você Me Ama - perse.com.br€¦ · sofá. - Ao invés de, como o resto dos adolescentes do mun-do, numa balada se matando de tanto dançar e beijar. Ele enche ... e Eric com

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T h a t y F u r t a d o

Baby, Você Me Ama

Baby, Você Me Ama

Thaty Furtado

São Paulo2014

Editora Perse

Baby, Você Me Ama

F992b Furtado, Thatyane Vieira Baby, Você Me Ama / Thatyane Vieira Furtado. São Paulo−2014.244f.:. Ficção Brasileira (Baby, Você Me Ama) – Perse, São Paulo,2012. 1.Ficção.2.Romance.2.LiteraturaBrasileira.I.Furtado ThatyaneVieiraII.Título.

CDD:B869.3

Índicedocatálogosistemático:

1.LiteraturaBrasileira:Ficção869.32.LiteraturaBrasileira:FicçãoeContosBrasileiros869.3

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

1ª edição 20122ª edição 2014

2012 © Thaty Furtado

Direitos autorais reservados de acordo com a lei 9610/98. Proibida a reprodução totalou parcial do livro sem a prévia au-torização do autor.

Essa é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com no-mes, datas e acontecimentos será mera coincidência.

Agradecimentos

Quero agradecer primeiramente aos meus pais; sem eles eu não seria nada. Talvez menos. E principalmente por terem aguen-tado as minhas perguntas intermináveis e assombrosas.

À minha irmã, Dani, que me apresentou ao mundo dos livros, e a quem eu devo tanto.

Minha amiga Jéssica, que foi meu controle de qualidade e que mal podia esperar para ler as bobagens que eu escrevia.

Tadeu Tuler e sua fantástica loja de joias.

Kate que tão gentilmente me concedeu uma de suas fotos maravilhosas.

Helô, minha coordenadora, que chegou até a me comparar à incomparável Marian Keyes.

Maria de Lourdes Andrade, que me ajudou a optar pelos meus sonhos, e não pelos meus medos.

E a quem esteja lendo, muito obrigada. =]

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Capítulo 1

Beatrice- Esses fi lmes de amor são um lixo. – Ouço Gabriel da cozi-

nha.

Meu melhor amigo está com os pés – tamanho 43 – sobre a mesinha de centro da minha mãe, esparramado no sofá de couro branco da sala.

Temos um esquema: uma noite assistimos aos seus fi lmes de briga, guerra, sangue espirrando de cabeças decapitadas, ou qual-quer outro que ele queira ver – e não posso negar, adoro esse tipo de fi lme tanto quanto ele, principalmente os atores gatos de Hollywood; sem roupa então...

Mas o próximo dia é meu, e estou passando por uma fase um tanto... Romântica. Eu sei, eu sei, super vergonhoso. Se alguém descobrisse, arruinaria minha reputação, que levei anos de suor e sangue para construir, literalmente segundo o Peter – ele sempre foi um tanto exagerado.

Agora, se eu não puder confi ar no meu melhor amigo, em quem mais confi aria?

Hoje, por exemplo, estamos vendo “Três vezes amor” na

Capítulo 1

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televisão de plasma com home theater dos meus pais. É por isso que Gabe vem para cá, gosto de pensar, ao invés da comida de graça. Que é o que estou pegando na cozinha.

Tiro o pacote fumegante do microondas assim que ele apita e volto para o sofá, apoiando os pés ao lado dos de Gabe e a pipoca em seu colo. Sem perder tempo, ele mete logo a mão – enorme – e abocanha os floquinhos brancos, me lembrando muito um leão devorando coelhinhos fofinhos no Discovery Chanel.

- Pega leve, assim você vai ter um infarto antes dos vinte. – Também pesco um pouco de pipoca, com mais classe do que ele.

- Hum... – Espero até que Gabe engula e termine a frase. – Esse cara é um banana. Se ele ama aquela garota, por que não corre atrás dela de uma vez? Para quê tanta enrolação?

Quase me engasgo. Putz, ele não entendeu nada. Está em-burrado assim porque quer voltar para os tiroteios e modelos de shortinho.

- Essa é a história, Gabe – Explico. – Sem isso, o filme perde-ria toda a graça.

- Tanto faz. – Ele bufa e apoia o cotovelo no braço do sofá e o queixo na mão, sem parar de devorar a pipoca. – Mas eles deveriam pelo menos lutar, e não esperar que a solução despenque do céu. – Comenta de boca cheia.

- Ah, e você é um especialista nesse assunto. É por isso que estamos aqui, quinta-feira à noite, matando o tempo no meu sofá. - Ao invés de, como o resto dos adolescentes do mun-do, numa balada se matando de tanto dançar e beijar.

Ele enche a mão de pipoca e joga em mim. Quando eu revido, a guerra começa.

- Eu não vou limpar isso. – Peter passou pela gente uma vez, mal tirando a atenção de suas tarefas de nerd. Como se eu já

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não soubesse.

Peter é meu irmão gêmeo. Isso ai, dividimos o útero, os pais, a casa, os brinquedos - eu preferia os dele, para encenar de acidente com minhas bonecas, era o arranjo perfeito. Não sei por que mamãe se irritava quando eu arrancava as cabeças de-las. Nenhum acidente está completo sem desmembramentos, não estou certa? – e até os amigos. Nunca soube, nem vou saber o que é ser filha única, tendo atenção total dos pais. Mas admito, e que Peter jamais fique sabendo, eu não sou capaz de imaginar uma vida sem ele.

Mesmo que a vida com ele seja dureza. Já tentou ser a irmã mais nova do maior nerd da escola, com todo mundo dizendo: “Bea, siga o exemplo do seu irmão”, ou “Peter é um amor; por-que você não tenta ser mais parecida com ele?”

Bom, eu vou dizer por quê: Peter é o maior chato.

Acredita que ele nunca ficou com garota nenhuma? Ele diz que é errado explorar outro ser humano desse jeito.

Fala sério, é ou não pura idiotice?

Então Gabe e eu estamos ajoelhados no chão, catando as mi-galhas da nossa noitada, quando a voz da Beyoncé sai do meu celular. O toque que identifica as chamada do meu querido – e preferencialmente morto – ex.

- Desliga. – É o aviso de Gabe, mas ele sabe que eu não pos-so. Devia ter trocado de chip. Melhor, de aparelho, assim eu nunca mais teria que falar com esse idiota.

- Oi Beni. – Saúdo com a voz menos amigável que consigo Apoio o tronco contra o sofá, agradecendo pelo tapete felpudo sobre meus joelhos. Sinto que será uma longa e exaustiva conver-sa.

- Gata, que bom falar com você. – Isso é uma ironia? Foi ele

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quem ligou para o meu celular, semanas depois de terminarmos, e ainda me trata como se fosse eu a desesperada para falar com ele?

O que eu não fiz, nem uma vez sequer, desde que o peguei trocando saliva – do jeito mais nojento possível – com outra ga-rota no vestiário da academia.

E não acredito que briguei com os meus amigos por causa dele. Ainda fui obrigada a aturar os ‘eu te disse’s:

- Eu te disse que se envolver com o inimigo era furada. – Gabe disse logo que contei o que o Beni tinha feito.

Benjamin apareceu no torneio de Kung Fu ano passado, vin-do de uma das escolas rivais. Fazemos amistosos às vezes, antes das disputas maiores.

Fiquei completamente derretida pelo seu cabelo loiro e desor-ganizado, os olhos azuis lindos de morrer e aquele sorriso. Acho que foi o que mais me atraiu nele, o sorriso de covinhas e dentes perfeitos.

Como ele morava em outra cidade, só começamos a namorar um bom tempo depois, e foi muito bom. Os beijos dele me dei-xavam sem ar e eu adorava passar as mãos pelos fios macios do seu cabelo.

Não transamos – ainda bem – mas fizemos outras coisas. Te-nho um pouco de vergonha em confessar que minha boca não é mais virgem desde que o conheci, em nenhum sentido.

- O que você quer? – Fecho os olhos para a cara de reprovação do Gabriel.

- Vim desejar os parabéns. Pelo que me lembro, seu aniversá-rio é amanhã.

- Desembucha logo, que merda você quer? – Não caio na dele. – Se for um convite para a minha festa, pode esquecer.

- Não, boneca. – Posso ouvir sua alegria por conta da minha

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raiva. – Quero te avisar sobre o interestadual no meio do ano. Provavelmente você terá que lutar contra a minha Stephany, mas eu apostei em você, amor. Ela tem um rosto lindo, e um espaço vazio enorme na cabeça. Meu tipo perfeito. – E ri.

Ah, essa é boa. Se houver alguma justiça nesse mundo, por favor, não faça com que ela seja minha adversária!

- Droga, você me deixou em dúvida. Não sei mais se quero mesmo ganhar.

Ele suspira contra o fone.

- Sempre a minha Bea. Eu sei, e você também sabe que não vai perder. Você detesta até mesmo empatar, não é docinho?

Seguro uma resposta ácida e posso ver seu sorriso vitorioso.

- Sabe por que terminamos? – Ele continua, mudando ligeira-mente o tom de deboche.

- Ah, Beni, eu não sei. Será que foi porque eu te peguei agar-rando uma vadia?

- Porque você é fria, Beatrice. – Sua voz perde toda a anima-ção. – Parece mais um garoto. Beijar você me dava nojo.

Engulo com esforço a raiva assassina que sobe pela minha garganta. Peter me segurou quando descobri a traição de Beni, ele estava lá. E tem razão; não vale a pena.

Talvez.

- Beni, querido, na próxima vez que você cruzar o meu cami-nho, eu vou chutar tão forte no meio das suas pernas, que você vai mudar de sexo! – E desligo na cara dele.

Largo o celular no sofá e escorrego até deitar sobre o tapete felpudo, exausta. Sinto Gabe se aproximar de mim, envolvendo meus ombros com seu braço enorme. Ele me ergue do chão com o mínimo de esforço, como se eu não passasse de uma boneca

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de trapos.

Gabriel sempre foi grande. Deve ser genético, pois o pai dele é um ex-halterofilista, e pelo o que ouvi dizer, é preciso uma certa constituição física para seguir essa profissão. Hoje ele é o dono da locadora mais próxima – por isso conseguimos DVDs de graça.

Na segunda série, pensei que Gabe tivesse repetido pelo me-nos uns cinco anos. Ele era o garoto novo de cara emburrada que teve a infelicidade de sentar na carteira do lado da minha. E pior, se mudou para a casa grudada na nossa – o que dura até hoje, aliás.

Não fui com a cara dele; reconheci um rival, alguém que pode-ria roubar minha fama de briguenta, na escola e no bairro.

Na saída para o recreio, não pensei duas vezes e barrei seu caminho com o pé, e ele acabou de cara no chão. Depois, me perseguiu até o pátio, enquanto eu corria, rindo. Um círculo de crianças se formou ao nosso redor, torcendo por uma boa briga – e eu sempre dei ótimos espetáculos. – Porém, nos encaramos por tanto tempo que no final caímos na gargalhada.

No dia seguinte éramos amigos de infância, brincando de pi-ratas com espadas imaginárias no meio da sala de aula.

- Você tem que esquecer esse cafajeste. Fazer a fila andar, saca?

Viro para que ele veja a minha expressão de ‘por que não pen-sei nisso antes?’

- Com você?

Ele nega com a cabeça, sacudindo os cachos morenos do ca-belo de leve. Somando toda a sua aparência externa, Gabe lembra muito um tipo de anjo negro. O nome apenas reforça isso.

- Amanda me mataria.

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Esse é outro problema, Amanda. Afro-descendente, no top 10 do colégio – segundo Daniel – e praticamente se jogou em cima de Gabe, aquela vaca. Assim que começaram a namorar, essa psicopata dirigiu todo seu ciúme doentio para mim. Não ti-rava os olhos de nós dois; interrompia nossas conversas; passou a nos seguir e, inclusive, a esperar as aulas de Kung Fu termina-rem – toda segunda, quarta, sexta e sábado, das quatro às cinco e meia. Suicídio, eu sei.

O golpe final aconteceu quando ela fez a pergunta clássica: ‘Ou ela, ou eu.’

Agora estão dando um tempo.

Gabe e eu sobramos no grupo. Peter e seus estudos intermi-náveis – o que é um desperdício; quem precisa estudar feito um condenado para ser só jornaista? –; Daniel brincando de “médi-co” em alguma balada por ai; e Eric com seu amor platônico por uma modelo de revista – ele tem uma parede abarrotada de fotos dela, e nem todas são nuas. Não sei o que é mais estranho.

Somos dois recém-solteiros, sem nada melhor para fazer de-pois da escola – nem pense em dizer estudar – além de comer pipoca amanteigada e revezar o DVD player.

- Chocolate quente? – Pergunta a chocólatra assumida.

- Demorô.

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LeonardoReclino-me contra as costas da cadeira acolchoada que cabe

ao ‘chefe’, afrouxando o nó da gravada. Procuro não pensar em nada, inutilmente.

Essa é a terceira vez na semana que trabalho além do expe-diente, não por estar sobrando trabalho, e sim faltando. Sinto ca-lafrios ao lembrar as paredes frias e vazias do apartamento, que me sufocam mais do que a redação em sua hora de maior mo-vimento. A simples ideia de ficar preso naquela casa vazia causa um mal-estar na boca do meu estomago. Já provei o suficiente da solidão para saber que fugir dela a qualquer custo é o melhor a se fazer.

Barbara tem apanhado muitos plantões ultimamente.

Conhecemo-nos através de amigos em comum, o típico con-to de fadas moderno. Seus olhos de um castanho claro e lábios carnudos, emoldurados por cabelos loiros e levemente cachea-dos me atraíram de imediato. Suas outras curvas deliciosas me prenderam naquela mesma noite, no meu apartamento, na minha cama.