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04_ 12 reabilitação > Figura 1: Fotografia da Baixa de Coimbra.. 4_cm

baixa de coimbra - civil.ist.utl.ptcristina/RREst/Aulas_Apresentacoes/07... · das áreas mais degradadas da Baixa, sendo visível o mau estado de conservação das coberturas, em

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04_12reabilitação

> Figura 1: Fotografia da Baixa de Coimbra..

4_cm

processo de recuperação e renovação urbana e social da baixa de coimbra

1. INTRODUÇÃO (Eduardo Júlio)

A reabilitação e a requalificação urbanas

estão directamente ligadas às exigências de

um desenvolvimento sustentável. De facto,

o abandono progressivo das zonas urbanas

mais antigas e degradadas, que levou à quase

desertificação de muitos centros históricos,

teve consequências nefastas em termos

culturais e ambientais. Por um lado, conduziu

à degradação destes núcleos urbanos e, por

outro, conduziu à ocupação alargada do territó-

rio com construções novas, com consequente

poluição ambiental, primeiro na produção das

matérias primas necessárias à sua execução

e, depois, no consumo continuado de com-

bustíveis fósseis nos trajectos mais longos

casa-trabalho-casa.

Na Europa, em geral, e em Portugal, em con-

creto, a origem das cidades é anterior à própria

nacionalidade, representando o seu desen-

volvimento morfológico, funcional e social um

património historico-cultural de valor inesti-

mável que importa salvaguardar. O abandono

dos centros históricos tem implicações sociais

graves, nomeadamente, o envelhecimento e o

empobrecimento da população, o aumento da

criminalidade e a diminuição das condições de

higiene e da salubridade. A fixação de popula-

ção jovem activa é extremamente importante

na revitalização destas zonas com implicações

imediatas na redução dos factores negativos

anteriormente referidos. Do ponto de vista

económico existem igualmente consequências

directas da desocupação dos meios urbanos.

A fixação de capital é um factor crucial para

a sua vitalidade e desenvolvimento da sua

competitividade.

Eduardo Júlio,

Raimundo Mendes da Silva,

Walter Rossa,

Carlos Fortuna,

Paulo Peixoto,

Carina Gomes,

João Coutinho-Rodrigues,

Luís Alçada

e Eduardo Natividade

Universidade de Coimbra

As diversas iniciativas do poder político, no

sentido de intervir nas zonas urbanas degra-

dadas, em especial nos centros históricos,

representa um salto qualitativo importante na

salvaguarda do património historico-cultural

e na preservação da identidade da cidade.

Programas de apoio e incentivo a particulares

para a recuperação, reabilitação e manuten-

ção do património edificado, assim como a

criação das SRU, sociedades de reabilitação

urbana, são uma prova desse interesse por

parte das câmaras municipais, apoiado nos

recentes instrumentos disponibilizados pelo

poder central.

O caso que se apresenta neste caderno, relativo

ao processo de recuperação e renovação urba-

na e social da Baixa de Coimbra, é um exemplo

desse interesse e promete vir a ser um bom

exemplo de como intervir correctamente num

centro histórico: estudo da realidade, come-

çando por efectuar levantamentos exaustivos

em todas as vertentes relevantes, seguindo-se

a análise e o diagnóstico da mesma, até se

chegar à elaboração de propostas de soluções

devidamente fundamentadas. Neste caso, em

que cidade e universidade estão intimamente

ligadas, é natural que, numa intervenção desta

dimensão, haja igualmente um envolvimento

conjunto em todo o processo de ambas as

instituições. Assim, foi estabelecido um proto-

colo de colaboração Universidade de Coimbra

- Câmara Municipal de Coimbra, com a finalidade

de, no espaço de 18 meses, desenvolver um

sistema de informação de apoio à decisão no

processo de recuperação e renovação urbana

e social da Baixa de Coimbra, num universo

cm_5

laboração universidade/câmara seja alargada a outras fases deste processo, que esta fórmula

seja adoptada a outras realidades da cidade de Coimbra, a breve trecho, e de outras cidades, a

médio prazo.

2. CASO DE ESTUDO

A área sobre a qual incide o estudo inclui a freguesia de S. Bartolomeu e parte da freguesia de Santa

Cruz, sendo delimitada a Nascente pela muralha da cidade, a Sul pelo Largo da Portagem, a Poente

pelas avenidas Emídio Navarro e Fernão de Magalhães e a Norte pela Rua do Carmo e Largo do

Arnado. Envolve um universo total estimado de 842 famílias residentes (1979 indivíduos), 1280

alojamentos (481 vagos) e 721 edifícios.

Na Figura 1 apresenta-se uma fotografia aérea da Baixa de Coimbra e, na Figura 2, encontra-se

representada uma planta desta zona da cidade, podendo observar-se a sombreado os edifícios

incluídos no estudo.

3. PATOLOGIA (Raimundo Mendes da Silva e Eduardo Júlio)

As anomalias observáveis nos edifícios são manifestações da sua progressiva degradação com o

tempo associada à falta de manutenção, mas também de erros estruturais e/ou construtivos, quer

de origem, quer resultantes das progressivas adaptações. A sua análise permite identificar, em

geral, as respectivas causas e definir a estratégia ou técnica de intervenção necessária. Fissuras

inclinadas nas fachadas devido a assentamentos diferenciais, localizadas sobretudo nos cantos

de aberturas onde existem concentrações de tensões, fissuras verticais junto à cobertura, provo-

cadas por impulsos horizontais exercidos por esta como consequência da degradação das asnas,

abaulamento de fachadas em pedra argamassada por degradação do ligante devido a infiltração

de água, são apenas alguns dos exemplos mais frequentemente registados.

Para efectuar o levantamento exaustivo do estado de conservação dos edifícios da zona da Baixa

em análise, incluindo o registo dos defeitos em todos os seus elementos construtivos e a avalia-

ção dos níveis de conforto, salubridade e segurança, foram previamente criadas várias fichas de

de cerca de 800 edifícios e 2000 pessoas. Foi

criada, para o efeito, uma equipa multidiscipli-

nar, constituída por 11 engenheiros civis, 10

arquitectos, 14 sociólogos e 10 engenheiros

informáticos, entre professores, supervisores,

tarefeiros e alunos de doutoramento e de mes-

trado, com o objectivo de, numa primeira fase,

efectuar o levantamento da realidade daquela

zona da cidade, nas vertentes da patologia, do

património e da sociologia. Em simultâneo, foi

construído um sistema de informação, onde os

dados recolhidos foram sendo armazenados

com recurso a uma base de dados relacional

sobre a qual assenta um sistema de informação

geográfica, que possibilitará, numa segunda

fase, o cruzamento de toda a informação, de

acordo com funções analíticas específicas

pre-definidas, permitindo efectuar análises que

apoiem a decisão.

Neste caderno, os coordenadores científicos do

projecto descrevem sumariamente o trabalho

de cada equipa (recolha de dados, alguns

resultados, a fase de tratamento e validação,

assim como algumas análises simples) com

o propósito de ilustrar as potencialidades do

sistema em desenvolvimento. Espera-se que

este estudo se revele profícuo e que esta co-

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> Figura 2: Identificação dos edifícios do estudo. > Figura 3: Mau estado de conservação das coberturas, em geral.

reabilitação

>3

6_cm

inspecção: (A) Ficha de Identificação do Edifício; (B1) Ficha de Avaliação das Coberturas - Elemento

Primário; (B2) Ficha de Avaliação das Paredes de Fachada - Elemento Primário; (B3) Ficha de

Avaliação dos Pavimentos - Elemento Primário; (B4) Ficha de Avaliação das Paredes Interiores/

Caixilharias/Tectos - Elementos Secundários; (C) Ficha da Qualidade e Segurança Estrutural; (D1)

Ficha das Condições de Ventilação/Salubridade e Iluminação Natural; (D2) Ficha das Condições

Térmicas e Acústicas; (E1) Ficha de Eficiência das Redes de Distribuição de Águas e Drenagem

de Esgotos; (E2) Ficha de Eficiência das Redes Eléctrica e Telefónica; (E3) Ficha das Condições

de Segurança Contra Incêndio. Foram ainda desenvolvidas fichas de inspecção específicas para

edifícios em situação de pré-ruína, edifícios remodelados ou recentemente intervencionados e

edifícios de armazéns e comércio. Além destas fichas de inspecção, o levantamento de cada um

dos edifícios incluiu igualmente um pormenorizado registo fotográfico de todos os elementos

relevantes. A título de exemplo, apresenta-se, na Figura 3, uma fotografia abrangente de uma

das áreas mais degradadas da Baixa, sendo visível o mau estado de conservação das coberturas,

em geral, o que permite, a curto prazo, infiltrações de água com a consequente degradação das

asnas, dos pavimentos e das fachadas.

A observação e registo exaustivos das soluções construtivas e das actuais anomalias de todos

estes edifícios tem uma tripla vantagem. Em primeiro lugar permite um quadro de referência

geral sobre o estado de conservação do centro histórico, favorecendo uma escolha criteriosa das

melhores ferramentas técnicas e administrativas para a operação. Em segundo lugar, constitui

uma ferramenta impar de apoio ao projecto individual ou colectivo de reabilitação e ao processo de

licenciamento. Por último, permite uma imagem precisa, datada e contextualizada, das situações

pontuais mais urgentes, ao nível da intervenção estrutural, por motivos de segurança, que estão,

frequentemente associadas às situações mais frágeis do ponto de vista social.

4. PATRIMÓNIO (Walter Rossa)

As tarefas atribuídas a esta equipa consistem, resumidamente, no levantamento arquitectónico dos

edifícios registado em CAD sobre a base topográfica georeferenciada e posterior análise de múltiplas

> Figura 4: Desenho esquemático de planta.

> 4

características dos mesmos. A isso acresce o

levantamento das características do espaço

público e respectivo equipamento. Uma outra

vertente fundamental é a da avaliação crítica do

valor cultural dos edifícios, conjuntos e espaços

públicos, bem como o regresso à análise sobre

a evolução morfológica da área.

Os levantamentos são essencialmente feitos

à fita, sendo exigido que a margem de erro não

ultrapasse os 2 cm. Por outro lado, nos dese-

nhos é carregada informação que, conjugada

com o levantamento fotográfico, nos dá uma

leitura correcta dos detalhes e acabamentos,

permitindo a recomposição do desenho sempre

que tal se torne necessário. Graças à georefe-

renciação toda esta informação desenhada

é interactiva, ou seja, é possível relacionar e

juntar de forma automática plantas, cortes

e alçados de edifícios diversos, ter leituras

globais de quarteirão, etc.

É a partir desse enorme manancial de dados

básicos que, em presença dos conhecimentos

existentes sobre a história da área, se procede

a uma seriação dos edifícios segundo diversos

aspectos, designadamente dimensões, tipos,

divisão, organização e composição, etc., os

quais nos permitem parametrizar a habitabili-

cm_7

dade existente e potencial e a valia patrimonial

de cada imóvel. E é cruzando essas conclusões

com a informação das restantes equipas que,

entre todos, vamos encontrando patamares de

informação que permitem à entidade gestora

do processo determinar — também face ao

estatuto da propriedade, aos meios disponíveis

para a intervenção, as possibilidades de realo-

jamento dos actuais ocupantes, etc. — qual o

tipo de acção adequada a cada caso.

Claro que após a decisão, os dados básicos

voltarão de novo a ter uma importância instru-

mental essencial, pois é sobre os desenhos CAD

produzidos que desenvolverão os projectos que

conduzirão as empreitadas de reabilitação.

5. SOCIOLOGIA (Carlos Fortuna, Paulo Peixoto

e Carina Gomes)

Sem nos determos aqui acerca do mosaico

que a Baixa da cidade de Coimbra constitui,

limitamo-nos a uma breve síntese descritiva

de algumas das principais coordenadas sócio-

demográficas, incluindo alguns traços relativos

às actividades económicas instaladas e às

condições de alojamento prevalecentes nesta

parte da cidade.

No conjunto das 8 zonas identificadas sobre

reabilitação

> 5

> Figura 5: Desenho esquemático de pormenor. > Figura 6: Desenhos em AUTOCAD.

que incide o estudo sobre o “Processo de Renovação Urbana e Social da Baixa de Coimbra”, foram

identificados 838 edifícios, dos quais 66 (7.9%) têm função exclusivamente residencial e 274

(32.7%) são exclusivamente não residenciais. Além dos edifícios como usos residenciais diversos,

registam-se 77 casos (9.2%) de edifícios totalmente devolutos.

À parte destes, o número de fracções autónomas identificadas corresponde a um total de 3384.

Destas, enquanto 1295 (38.3%) têm uma utilização residencial, 2041 (60.3%) são ocupadas por

funções não residenciais, sendo residual a expressão dos casos cuja função/uso principal não

foi possível identificar. No que respeita a estas fracções não residenciais, vale a pena destacar

que 1421 casos (69.6%) estão em uso efectivo, 229 (11.2%) constituem fracções de apoio a uma

actividade económica e as restantes 391 (19.2%) encontram-se devolutas.

O desdobramento da informação recolhida permite caracterizar, em linhas gerais, a extensão e

natureza das actividades instaladas. Como se percebe a um nível elementar de observação, a

actividade económica predominante é o comércio por grosso ou a retalho, que ocupa cerca de

47% das fracções não residenciais. Além deste cenário, destacam-se também as actividades

imobiliárias, de aluguer e de prestação de serviços às empresas (escritórios de advogados, con-

tabilistas, etc.), com um peso de 12%, e as actividades de alojamento e restauração, com 11,7%.

As actividades de serviços colectivos, sociais e pessoais (por exemplo, associações, institutos

de beleza ou empresas funerárias), respondem por 9,3% e a saúde e acção social (por exemplo,

clínica ambulatória, medicina dentária, lares ou infantários, etc.) representam 8,2%.

Do conjunto das fracções residenciais identificadas (1295), 880 casos (68%) encontram-se em

uso efectivo. Incidiu sobre elas o inquérito de caracterização lançado aos residentes da Baixa.

Contudo, como sempre sucede nestas circunstâncias, não foi possível senão inquirir 662 unidades

residenciais, devido principalmente a ausências repetidas dos moradores.

Destas 662 residências inquiridas, 83.4% são arrendadas. Em 28.2% destes casos, o valor da

renda é igual ou inferior a 25, em contraste com os 23.5% das situações em que os montantes

do arrendamento ultrapassam os 250.

Ao conjunto dos 662 inquéritos aplicados a outras tantas unidades residenciais autónomas cor-

>6

8_cm

responde um total de 1528 residentes na Baixa, dos quais 42.1% são do sexo masculino e 57.9%

do sexo feminino.

O grupo etário de maior expressão é o dos 16-24 anos que, agregado aos residentes com idade

inferior a 16 anos, revela uma Baixa bem mais “jovem” do que porventura se esperaria. Por outro

lado, merece também destaque a percentagem de residentes com 65 anos ou mais anos de idade

(23.1% do conjunto). Vista desta perspectiva demográfica, a Baixa de Coimbra revela uma manifesta

dualidade de situações que reclamam equipamentos e acções/soluções específicas: por um lado,

adequadas a um grupo amplo de jovens com expectativas de vida claramente diferenciadas das

referentes a um conjunto de residentes idosos que, acrescente-se, são, em grande parte (39.6%)

reformados ou pensionistas.

Nesta breve síntese, vale ainda a pena salientar o peso relativo elevado (30.4%) de residentes

que completou o ensino secundário, o que contrasta com os 11.5% daqueles que não possuem

qualquer formação escolar formal.

Atente-se ao facto de 511 indivíduos (77.3% dos inquiridos) afirmarem não terem outros laços

familiares além do agregado com que vivem. Destes 511, 31.3% vivem sozinhos. Este isolamento

ganha contornos particularmente preocupantes se se considerar que uma grande parte (35.1%)

tem mais de 64 anos de idade, o que reclama uma atenção particular ao grau de vulnerabilidade

de muitos dos habitantes da Baixa de Coimbra.

Inquiridos acerca das razões que justificam a sua residência na Baixa, 35.3% dos respondentes

assinalam o facto de a sua família já ali residir. Outros (27.5%) destacam a proximidade ao local de

trabalho ou estudo e outros ainda (21.5%) mencionam a centralidade da Baixa o factor determinante

da sua opção residencial. Independentemente destes motivos, é interessante ter em conta que

cerca de ¾ dos inquiridos mantêm uma relação afectiva forte com a sua casa na Baixa e declaram

gostar ou gostar muito de ali residir. Esta relação afectiva estende-se até à recusa da hipótese de

viver noutra zona da cidade que não a Baixa, opinião declarada por 63.3% dos respondentes.

De um conjunto de aspectos relativos ao ambiente urbano da Baixa, os inquiridos valorizam sobre-

tudo a vizinhança e os transportes públicos (avaliados como bons ou muito bons por 56.8% e 56.3%

de inquiridos, respectivamente). Em contraste,

os elementos que menos lhes agradam são a

acessibilidade automóvel e a segurança (cada

um classificado como mau ou muito mau por

19.5% de inquiridos). Também a classificação

do ambiente nocturno e da higiene das ruas

tendem a receber avaliações negativas.

Por último, parece-nos relevante referir a forma

como os inquiridos percepcionam a cidade de

Coimbra. A maioria, 73.7%, olha para Coimbra

como uma cidade universitária, o que contrasta

com os 6.9% e 6.6% de inquiridos que, respec-

tivamente, a avaliam como cidade histórica

ou cidade cultural. As associações a Coimbra

como uma cidade de serviços, de comércio ou

turística são mais reduzidas ainda.

Estes dados traduzem uma perspectiva sinté-

tica de situações que caracterizam a Baixa de

Coimbra e a revelam como zona de contrastes

sociais, demográficos e culturais, certamente

a reclamar acções de intervenção e renovação

atentas a um cenário e a expectativas de vida

urbana marcadas por graus diversos de vulne-

rabilidade e fragilidade sociais.

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reabilitação

6. SISTEMA DE APOIO À DECISÃO PARA GESTÃO

URBANA (João Coutinho-Rodrigues, Luís Alçada

e Eduardo Natividade)

Uma intervenção de reabilitação urbana pres-

supõe tomadas de decisões complexas que

implicam um conhecimento profundo da reali-

dade. Para isso torna-se necessário recorrer a

informação cuja recolha estará a cargo de equi-

pas relacionadas com várias especialidades

(patologias, arquitectura, sociologia e outras,

quando for o caso) e o adequado tratamento

e uso dessa informação. Ao intervir numa re-

alidade construída e já habitada pelo Homem

surgem problemas complexos que se levantam,

muitos deles diferentes dos que ocorrem com a

construção de raiz, e implicam uma adequada

justificação das decisões. Nesse contexto jus-

tifica-se o papel e a utilidade dos sistemas de

informação e apoio à decisão proporcionados

pela tecnologia actual. Um tal sistema, desig-

nado por SIGURB (sistema de informação e

gestão urbana) tem vindo a ser desenvolvido e

a ser carregado com a informação recolhida nos

levantamentos efectuados no terreno pelas

diversas equipas no caso concreto do projecto

da designada reabilitação urbana e social da

baixa de Coimbra.

Para além das funções intrínsecas de um

SGBDR (sistema de gestão de bases de dados

relacional), este sistema integra tecnologia SIG

(sistemas de informação geográfica) e ainda

uma terceira componente que designamos por

BM (base de modelos) essencialmente consti-

tuída por modelos específicos tanto de análise

espacial como de apoio à decisão. Na BM são integradas técnicas e modelos formais oriundos

nomeadamente das matemáticas aplicadas (investigação operacional).

O sistema ultrapassa o conceito da simples aquisição e utilização de ferramentas genéricas

(como uma package de modelação matemática geral, ou um SIG) com níveis mínimos (ou mesmo

inexistentes) de integração. Usa efectivamente tecnologia SIG e as respectivas funções analíticas

intrínsecas dada a natureza espacial de muita da informação envolvida, mas inclui, a funcionar

de forma integrada:

> outras funções analíticas espaciais implementadas e ligadas ao SIG, necessárias ao tratamento

do problema específico;

> as capacidades de um SGBDR para permitir o armazenamento da informação de qualquer

natureza (alfanumérica, gráfica) e inter-relações complexas;

> o poder dos modelos formais de apoio à decisão implementados na BM (incluindo modelos

de programação matemática, representações difusas de preferências, a consideração de

múltiplas dimensões da realidade, aspectos ligados ao incremento cognitivo dos agentes de

decisão, etc.).

No sistema são ainda desenvolvidas funcionalidades que são disponibilizadas na web. Assim, um

potencial utilizador apenas terá de dispor de um “browser” para, qualquer que seja a sua máquina

e sistema operativo, poder aceder através da Internet a essas funções analíticas implementadas

e disponibilizadas, executar interrogações à base de dados e fazer executar a resolução de mode-

los complexos num (ou em vários) servidor(es) configurado(s) para o efeito, podendo observar

os resultados em ambiente SIG sobre mapas da realidade (no caso concreto, o mapa da cidade

de Coimbra). Este tipo de funcionalidade apresenta utilidades a vários níveis. Ao nível de uma

intranet permite que os vários departamentos de uma autarquia e/ou sociedade de reabilitação

urbana possam executar operações quer de consulta quer de actualização de dados de uma forma

centralizada. Ao nível da internet permite que as instituições promotoras dos processos de reabi-

litação possam disponibilizar quer informações sobre o processo de reabilitação, quer meios de

participação pública, permitindo que as populações se pronunciem e emitam opiniões que podem

ser levados em conta na fundamentação das decisões a tomar, e até na concretização de certos

mecanismos formais previstos na legislação (por exemplo, consulta pública).

O processo de construção de um sistema de informação e gestão urbana com as funcionalidades

descritas envolve necessariamente complexas operações de análise de sistemas, de projecto de

bases de dados, de desenvolvimento de código que implemente modelos específicos de análise

> Gráfico 1 > Gráfico 2

> Gráfico 1: Tipologia das fracções. > Gráfico 2: Residentes na Baixa por sexo e grupos etários (%).

10_cm

> Gráfico 3

> Gráfico 3: Opiniões sobre várias dimensões relativas à

vida na Baixa.

> Figura 7

> Figura 7: SIGURB – Esquema conceptual, tecnologias

associadas e serviços disponibilizados.> Figura 8: SIGURB – Classificação multidimensional de

edifícios representada no mapa (classes diferenciadas

por cores).

> Figura 8

cm_11

e de apoio à decisão, de implementação de li-

gações entre as várias componentes. É, assim,

um projecto de desenvolvimento que apela ao

conhecimento e exploração de tecnologias de

informação emergentes, baseia-se no domínio

de modelos formais de apoio à decisão e na

análise do problema concreto nas suas múlti-

plas vertentes.

Um output típico deste sistema pode ser

constituído por um mapa (ou mesmo foto-

grafia aérea), como se representa na Fig. 8,

com a classificação dos edifícios do universo

em estudo agregando várias dimensões na

análise e cruzando informação diversa, por

exemplo parâmetros de caracterização física

ligados às patologias (estado de conservação

de alvenarias, coberturas, pavimentos, etc.),

elementos relativos à arquitectura (classifi-

cação arquitectónica, existência de valores a

preservar, áreas, etc.), elementos sociológicos

(idades dos residentes, estado de saúde, valo-

res das rendas, etc.). Tal classificação pode ser

uma resposta do SIGURB a um pedido de esta-

belecimento de prioridades de reabilitação de

edifícios tendo em conta os critérios relevantes

referidos anteriormente.

Com base na aplicação de modelos de classifi-

cação pode chegar-se a estimativas de custos

de intervenção e indicadores sobre necessi-

reabilitação

> Figura 9

dades de realojamento, podendo o sistema fornecer informação útil sob a forma de histogramas

como os representados na Fig. 9.

A necessidade das intervenções em realidades urbanas confrontadas, por um lado, com a inevita-

bilidade da justificação técnica bem fundamentada e, por outro lado, com os múltiplos impactes e

aspectos a contemplar na análise dessas realidades (engenharia, sociologia, arquitectura, etc.),

e ainda com os interesses não convergentes de múltiplos intervenientes obrigando ao uso da

racionalidade na procura de equilíbrios, justifica plenamente:

i) a exploração de tecnologias actuais e emergentes que permitam gerir e aproveitar o manancial

de informação disponível;

ii) a inclusão de modelos formais (nomeadamente de natureza matemática) que, em certos

casos podem ser usados de maneira bastante transparente para o utilizador;

iii) o envolvimento de uma universidade com uma autarquia na prestação de serviços especiali-

zados através da aplicação de conhecimentos relacionados com as duas alíneas anteriores

e a conjugação de esforços de equipas pluridisciplinares.

BIBLIOGRAFIA

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Support System for Planning Urban Infrastructure Investments”, (artigo submetido para publicação

em revista científica internacional).

> Figura 9: SIGURB – Custos de intervenção nos edifícios

relacionados no mapa (classes diferenciadas por cores).

12_cm