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BALANÇO DAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS: CURRÍCULO, PRÁTICAS E CONCEPÇÕES ACERCA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL Este Painel reúne três trabalhos que, por meio de diferentes critérios, procuram analisar as produções referentes ao currículo, práticas educacionais, procedimentos, percepções e recursos de ensino destinados a alunos da educação especial. O primeiro trabalho fez um levantamento de artigos publicados na Revista Brasileira de Educação Especial no período compreendido de 2001 a 2015, no qual buscou elucidar quais os temas e focos investigados por meio da seleção e leitura dos resumos de 97 artigos. O segundo trabalho analisou as tendências das produções acadêmicas acerca da temática, currículo na área da Educação Especial, especificamente aquelas relacionadas a APAE Educadora: A Escola que Buscamos, efetuou uma busca no Portal de Periódicos e do Banco de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior-CAPES, nos Periódicos Acadêmicos do Portal Scientific Eletronic Library Online-SciELO, nos encontros da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação-ANPED e nos Encontros Nacionais de Didática e Prática de Ensino- ENDIPE, no período de 2001 a 2015, e o terceiro trabalho analisou as principais tendências da produção científica contidas no portal de Periódicos disponíveis pela Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino Superior (CAPES/MEC), no período de 1983 a 2015, acerca da prática educacional voltada para o aluno autista. Teve como referencial teórico estudos que se inserem no campo da inter-relação entre escola e cultura na perspectiva das ciências sociais. A análise dos três trabalhos em relação ao balanço da produção possibilitou identificar alguns avanços nas pesquisas analisadas, no que se refere à prática voltada aos alunos da educação especial no ensino regular, apesar de serem apontados alguns entraves como a formação do professor, condições e organização do trabalho nas escolas; o predomínio de pesquisas na perspectiva da educação inclusiva; o ínfimo número de pesquisas relacionando currículo e educação especial, e sobre a educação do sujeito autista. Palavras-chave: Prática Pedagógica. Currículo. Educação Especial. XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 10329 ISSN 2177-336X

BALANÇO DAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS: CURRÍCULO, … · criação de valores e significados não é uma ... A seleção deste periódico se justifica pelo fato de ser um dos

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BALANÇO DAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS: CURRÍCULO, PRÁTICAS E

CONCEPÇÕES ACERCA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

Este Painel reúne três trabalhos que, por meio de diferentes critérios, procuram analisar

as produções referentes ao currículo, práticas educacionais, procedimentos, percepções

e recursos de ensino destinados a alunos da educação especial. O primeiro trabalho fez

um levantamento de artigos publicados na Revista Brasileira de Educação Especial no

período compreendido de 2001 a 2015, no qual buscou elucidar quais os temas e focos

investigados por meio da seleção e leitura dos resumos de 97 artigos. O segundo

trabalho analisou as tendências das produções acadêmicas acerca da temática, currículo

na área da Educação Especial, especificamente aquelas relacionadas a APAE

Educadora: A Escola que Buscamos, efetuou uma busca no Portal de Periódicos e do

Banco de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível

Superior-CAPES, nos Periódicos Acadêmicos do Portal Scientific Eletronic Library

Online-SciELO, nos encontros da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa

em Educação-ANPED e nos Encontros Nacionais de Didática e Prática de Ensino-

ENDIPE, no período de 2001 a 2015, e o terceiro trabalho analisou as principais

tendências da produção científica contidas no portal de Periódicos disponíveis pela

Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino Superior (CAPES/MEC), no período de

1983 a 2015, acerca da prática educacional voltada para o aluno autista. Teve como

referencial teórico estudos que se inserem no campo da inter-relação entre escola e

cultura na perspectiva das ciências sociais. A análise dos três trabalhos em relação ao

balanço da produção possibilitou identificar alguns avanços nas pesquisas analisadas, no

que se refere à prática voltada aos alunos da educação especial no ensino regular, apesar

de serem apontados alguns entraves como a formação do professor, condições e

organização do trabalho nas escolas; o predomínio de pesquisas na perspectiva da

educação inclusiva; o ínfimo número de pesquisas relacionando currículo e educação

especial, e sobre a educação do sujeito autista.

Palavras-chave: Prática Pedagógica. Currículo. Educação Especial.

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PESQUISAS EM EDUCAÇÃO ESPECIAL: TEMAS E FOCOS NA REVISTA

BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL (2001-2015)

Sirleine Brandão de Souza. PUC-SP/ CNPq

RESUMO

O presente trabalho tem como propósito analisar artigos que versam sobre práticas de

ensino e de aprendizagem destinados a alunos com deficiências na rede regular de

ensino, publicados na Revista Brasileira de Educação Especial – periódico trimestral

especializado, produzido pela Associação de Pesquisadores em Educação Especial -

ABPEE, criada em 1993, na cidade do Rio de Janeiro, durante a realização do III

Seminário de Educação, por um grupo de pesquisadores (sócio fundadores)

preocupados em criar um espaço que visava servir como veículo para integração entre

pesquisadores, profissionais e professores das áreas de Educação, Educação Especial e

Saúde, existente desde 1992 - entre 2001 e 2015. Busca elucidar quais são os temas e os

focos investigados e quais são as contribuições que a literatura especializada em

educação especial pode oferecer em relação à prática docente no ensino regular. O

material aqui analisado compreende 97 trabalhos que versam especificamente sobre a

relação ensino e aprendizagem voltados para alunos com deficiências na rede regular de

ensino, tais trabalhos foram selecionados a partir da leitura dos títulos e posteriormente

da leitura dos resumos. Tais achados foram cotejados com as recomendações do

Conselho Nacional de Educação, especificamente as Resoluções 2/2001, 1/2002 e

4/2009 que orientam as ações das práticas educativas, além do documento Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Utilizou-se como

método a abordagem quanti-qualitativa com técnica de análise de conteúdo, de acordo

com Bardin (1977). Teve como referencial teórico estudos que se inserem no campo da

inter-relação entre escola e cultura na perspectiva das ciências sociais.

Palavras-Chave: educação especial; deficiência; prática pedagógica.

INTRODUÇÃO

O debate sobre Educação Especial tem uma significativa produção no que se

refere tanto ao atendimento da população alvo com desdobramentos em inovações

práticas, materiais especializados, técnicas diferenciadas, instituições adaptadas, estudos

que evidenciam, de uma forma generalizada, a apropriação do conhecimento teórico

nesse campo e sua respectiva prática de atuação, quanto na análise dos desdobramentos

educacionais, sociais, políticos, econômicos e culturais a partir do conhecimento que é

veiculado pelos estudiosos da área e que, de certa forma, influenciam as políticas

educacionais voltadas para essa população.

A partir de publicações internacionais que acabaram por influenciar a legislação

nacional, a prática na educação especial vem sofrendo alterações substanciais.

Alterações estas que podem não refletir em mudanças na conceituação do sujeito

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público alvo da educação especial, mas que refletem mudança na prática, como afirma

Skrtic (1996), que faz distinção entre o que denomina como conhecimento prático e

conhecimento teórico da educação especial. De acordo com este autor, para que haja de

fato avanços significativos no campo da educação especial, que ultrapassem as

mudanças na prática, faz-se necessário que esta tome as críticas apresentadas sobre as

teorias que a embasam e as suposições assumidas como verdadeiras para repensar suas

bases e fazer uma análise reflexiva sobre seus limites e possibilidades. Pode-se afirmar

que, desde a sua gênese, o campo da educação especial, especialmente na caracterização

e classificação de sua população, expressa lutas simbólicas, as quais, por sua vez, foram

delimitando espaços de poder e de dominação, campo este que, embora dotado de

autonomia, mantém íntima relação com o campo político.

Nesse sentido a análise de produções disseminadas na área da educação especial

é essencial de ser discutida, visto que estas influenciam as concepções e tomadas de

posicionamento frente à organização educacional, práticas, recursos destinados às

situações de ensino e aprendizagem que ocorrem na escola, entendendo-se que a

linguagem é uma atividade social prática, dependente de uma relação social. De acordo

com Bakhtin (2009) a consciência é social, mas deve ser entendida em um processo

dialético, uma vez que ela, em termos práticos, opera na transformação dos seres

humanos. Nesse mesmo sentido Williams (2007) postula que a atividade de criação,

circulação e confirmação de sentidos não podem estar separados do campo da avaliação

e dos usos sociais, ou ainda da experiência do vivido, como se fosse algo que

acontecesse apartado do movimento de produção e reprodução da vida. Aponta que a

criação de valores e significados não é uma atividade autônoma.

Destarte, a análise aqui proposta pretende ampliar a discussão referente aos

temas e focos de investigação disseminados por meio da Revista Brasileira de Educação

Especial. A seleção deste periódico se justifica pelo fato de ser um dos veículos mais

reconhecidos no campo da educação especial e por congregar as contribuições de

pesquisadores renomados e que influenciam as práticas e as políticas educativas na área

da educação especial. Para tal investigação realizou-se um levantamento dos artigos

publicados no período de 2001 a 2015, após, foi feita a leitura dos títulos dos artigos e

selecionados aqueles que tinham relação direta com questões voltadas para os

procedimentos, percepções e recursos de ensino destinados a alunos com deficiência na

rede regular de ensino. A partir da leitura dos resumos foi realizada uma classificação

por meio da análise de conteúdo, possibilitando categorizar as produções em temas e

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focos específicos, os quais foram analisados e cotejados com alguns documentos legais

que orientam a educação especial. Evidencia-se o fato de que uma pesquisa mais

aprofundada faz-se necessária para destacar outros aspectos importantes de serem

discutidos nas produções.

A PRODUÇÃO DE SENTIDOS: OS ARTIGOS PUBLICADOS

Dentre os 97 trabalhos selecionados para análise com reflexões dirigidas à

inclusão do aluno com deficiência na escola regular, destaca-se como focos de pesquisa:

a Deficiência Auditiva; Deficiência visual; Deficiência Intelectual; Deficiência Física;

Deficiência de forma geral; Síndrome de Down; Epilepsia; Autismo, Altas Habilidades

e Superdotação; Surdocegueira e Deficiência Múltipla.

Sobre a Deficiência Auditiva selecionou-se 25 trabalhos. Dentre estes, os termos

empregados para designar o sujeito com deficiência são: surdo com 19 trabalhos; aluno

com surdez 1 trabalho; deficiente auditivo com 1 trabalho; não-falante com 1 trabalho e

surdocego com 1 trabalho. Vale ressaltar, sobre a denominação utilizada, que esta

também não é neutra e que demonstra a luta que ocorre no campo da educação especial

na caracterização do sujeito público alvo da educação especial.

Dentre os temas abordados nos trabalhos, 12 deles apresentam a questão da

linguagem, sendo esta designada por meio de sua importância para o desenvolvimento

social, emocional e cognitivo dos alunos. Abordam a linguagem alternativa como forma

de promover a inclusão desses alunos no ensino regular, destacam a diferença na

produção escrita de alunos com deficiência auditiva, as práticas de letramento

disponibilizadas na família e na escola para possibilitar o desenvolvimento cognitivo e

interativo desta população, a análise da interação linguística e descrição da linguagem

utilizada em ambientes escolares, além de considerações teóricas a respeito do ensino da

Língua Brasileira de Sinais (Libras).

Propostas de implementação de estratégias para facilitar o ensino e

aprendizagem de conceitos em determinadas áreas do conhecimento como Matemática e

Ciências fazem parte das preocupações dos pesquisadores. E 1 trabalho preocupou-se

em investigar as formas de comunicação na família e na escola de crianças com

deficiência auditiva de uma comunidade indígena.

Neste rol de trabalhos há aqueles que apresentam discussões sobre leitura e

escrita discutindo a influência das linhas comunicativas que atuam na educação desta

população sobre o processamento cognitivo, as condições necessárias para que ocorra

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aprendizagem significativa, a interação desses alunos com seus pares nas escolas

regulares em diferentes ambientes, assim como a interação com o professor e com o

intérprete de língua de sinais. Análise de métodos facilitadores da aprendizagem são

discutidos de forma a ressignificar o espaço da sala de aula no contexto da educação

inclusiva. A construção da identidade do aluno com deficiência auditiva se faz presente

em 1 análise que relaciona a cultura escolar, a cultura surda e a influência desta na

construção da identidade do aluno.

Sobre as concepções, práticas, percepções e vivências de professores, destaca-se

a relação que estas têm com a questão do prognóstico destes alunos, as formas de

atendimento prestadas pelo AEE e a própria inclusão destes nas salas comuns.

Os estudos demonstraram como alguns resultados a necessidade do professor

conhecer as formas diferenciadas de produção escrita destes alunos, bem como os

benefícios produzidos pela comunicação alternativa por meio de boas mediações, para

isso faz-se necessário a melhor formação do intérprete de libras e do professor da sala

de aula regular, pois constatou-se, dificuldades na produção escrita desta população

após longos anos de escolarização, práticas de leituras restritas tanto no ambiente

familiar quanto no escolar, a falta de diversidade de gêneros textuais nas escolas e

consequentemente interações linguísticas restritas e pouco efetivas, o que demonstra,

segundo algumas pesquisas o desconhecimento acerca da surdez, da Libras e das

consequências para o aluno. Entretanto, vale destacar a crítica feita por Bueno (2010) no

que se refere a transmissão restrita à Língua de Sinais, na formação do professor sem a

incorporação de uma literatura que trate a linguística como campo científico de fundo.

Por outro lado, estes resultados podem demonstrar que a legislação por si só não

se torna eficaz, na medida em que, segundo o Documento “Diretrizes Nacionais para a

Educação Especial na Educação Básica” (MEC/2001) e a Resolução CNE/CEB nº

2/2001, estabelecem que, referente ao processo educativo dos alunos que apresentam

condições de comunicação e sinalização diferenciados deve-se garantir formas de

acessibilidade aos conhecimentos curriculares mediante a utilização de comunicação

alternativa, assegurando desta forma o conhecimento e aprendizagem da língua

portuguesa. Os sistemas de ensino devem prover os recursos humanos e materiais

necessários para que esta meta seja alcançada.

Tendo como foco a Deficiência Visual, 10 trabalhos tratam de temas como:

condições de aprendizagem, linguagem, métodos empregados, o brincar e percepção de

professores e alunos. Os trabalhos discutem as formas pelas quais esta população

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adquire a linguagem, as formas discursivas dos professores em sala de aula e estratégias

facilitadoras para o ensino de conceitos específicos em determinadas áreas do

conhecimento, além de trazer à tona discussões referentes à percepção dos alunos a

respeito de suas dificuldades no contexto escolar e das formas que possibilitam sua

inserção nas salas de aula. Este dado é importante de ser destacado, visto que poucos

trabalhos têm a preocupação de saber qual é a percepção do próprio aluno a respeito das

estratégias que estão sendo utilizadas para que a aprendizagem e o ensino de conteúdos

escolares sejam significativos. Pode-se supor que esta perspectiva de trabalho denote

uma compreensão de sujeito integral e ativo no processo de ensino e aprendizagem,

contrariamente a uma perspectiva que vê no sujeito alguém incapacitado pela sua

deficiência.

Há trabalhos que discutem a percepção dos professores em relação à inclusão do

aluno com deficiência visual nas escolas e as estratégias encontradas para facilitar a

aprendizagem por meio de métodos que foram aplicados e analisados.

Os termos utilizados para se referir a esta população são: aluno com baixa visão,

aluno com deficiência, deficiente visual e portador de deficiência visual. Os resultados

destas pesquisas demonstram a necessidade de pesquisas na área, uma vez que foi

averiguado certo despreparo dos professores no que se refere à comunicação em aula,

assim como o conhecimento de métodos e estratégias facilitadoras da aprendizagem e

do ensino. Evidenciou-se também que os métodos empregados e analisados nas

pesquisas demonstraram bons resultados e que valeria a pena o investimento nestes,

possibilitando entre outras coisas a identificação, elaboração e organização de recursos

pedagógicos e de acessibilidade, algo que na opinião de alunos com deficiência visual é

essencial, uma vez que apresentam dificuldades como enxergar na lousa, ler dicionários

e livros, se movimentar no espaço escolar, embora para grande parte o computador seja

uma ferramenta essencial no processo de aprendizagem escolar. Dado relevante, visto

que na Resolução CNE/CEB nº 2/2001:

Art. 11. Recomenda-se às escolas e aos sistemas de ensino a constituição de

parcerias com instituições de ensino superior para a realização de pesquisas e

estudos de caso relativos ao processo de ensino e aprendizagem de alunos

com necessidades educacionais especiais, visando ao aperfeiçoamento desse

processo educativo.

Quando o foco se trata de Deficiência Intelectual, foram analisados 12 trabalhos

dos quais 3 deles tratam sobre métodos, 3 sobre percepções e concepções de professores

e os demais sobre: sexualidade, ensino de habilidades, o brincar, linguagem, ensino e

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aprendizagem. Utilizam-se dos termos deficiente mental, deficiente mental leve e

deficiente intelectual para designar o sujeito com deficiência.

Dentre os principais resultados cabe ressaltar que em relação aos estudos que

têm como objetivo a aplicação de um método e sua consequente avaliação, estes

apontam para avanços, sinalizando a importância de estudos sobre a temática, bem

como para a importância de se desenvolver parcerias entre os diferentes profissionais

que trabalham com o aluno com deficiência, para a mediação qualificada no processo de

ensino e aprendizagem nas escolas regulares. Tema sinalizado nos documentos aqui

cotejados, quando indicam a necessidade de parcerias entre outros profissionais para

uma melhor organização e implementação das intervenções destinadas aos alunos

público alvo da educação especial.

Ressaltam a importância das Salas de Recursos como estratégias pedagógicas,

embora o trabalho aí desenvolvido deva ser visto, não como um trabalho de reforço

daquilo que é ensinado na classe comum, mas como um espaço de interações

favorecedoras do processo inclusivo e de estabelecimento de parcerias entre o professor

especializado e o professor capacitado, como evidenciado nas “Diretrizes Nacionais

para a Educação Especial na Educação Básica” (MEC/2001, p. 51):

A inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais em classes

comuns do ensino regular, como meta das políticas de educação, exige

interação constante entre professor da classe comum e os dos serviços de

apoio pedagógico especializado, sob pena de alguns educandos não atingirem

rendimento escolar satisfatório.

Apesar de ter ocorrido significativos avanços no atendimento dessa parcela da

população, os trabalhos apontam para uma distância entre professor especializado que atua nas

Salas de Recursos e professor capacitado que atua na sala regular com os mesmos alunos,

desconsiderando a perspectiva de um trabalho pedagógico orientado para o fortalecimento do

processo de ensino e aprendizagem, se baseando mais num atendimento especializado a partir

da deficiência.

Os trabalhos destacam ainda as concepções de alguns professores, que mesmo

após discussões ainda possuem uma visão segregacionista e reducionista referente aos

alunos com deficiência, portanto faz-se necessário, segundo estes trabalhos, um

repensar sobre a deficiência e a educação escolar que se pretende inclusiva e as formas

de lidar com esta situação.

Os trabalhos que tratam da Deficiência Física destacam como temas:

percepções/concepções e atuações dos professores, percepção dos alunos, métodos e o

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cuidado. Utilizam os termos; aluno com deficiência e deficiente para designar os

sujeitos, e 1 dos trabalhos designa o sujeito como aluno com paralisia cerebral.

Dentre os resultados encontrados pode-se destacar a necessidade de formação

que qualifique o professor para trabalhar com alunos com deficiência, pois foi ressaltada

a importância de discussões que considerem as dificuldades encontradas pelos

professores não só relacionadas aos conteúdos, estratégias e recursos, mas àquelas

relacionadas à administração escolar, questões familiares e aquelas decorrentes da

própria estrutura escolar que acaba por interferir no processo de inclusão. Reconhece-se

nestes trabalhos a importância de estabelecer parcerias entre os professores e os

profissionais da área da saúde objetivando o estabelecimento de estratégias que possam

facilitar os avanços relacionados ao ensino e aprendizagem escolares dos alunos com

deficiência, além de discutir a importância da participação dos alunos na identificação

de tecnologias que possam contribuir para o seu desenvolvimento.

Novamente cabe destacar que um documento legal por si só não é capaz de

mudar concepções embasadas por teorias que identificam a deficiência como uma causa

orgânica somente e que incapacita o sujeito. Nota-se que nas “Diretrizes Nacionais para

a Educação Especial na Educação Básica” (MEC/2001, p.40), é destacada a alteração de

uma concepção integracionista para outra inclusiva, que prevê entre outras alterações a

mudança da escola e das estratégias pedagógicas para dar conta do processo

denominado inclusivo, no entanto, parece que a complexidade que se estabelece na

realidade pode dificultar este processo. O documento estabelece ainda que:

O conceito de escola inclusiva implica uma nova postura da escola comum,

que propõe no projeto pedagógico – no currículo, na metodologia, de ensino,

na avaliação e na atitude dos educadores – ações que favoreçam a interação

social e sua opção por práticas heterogêneas. A escola capacita seus

professores, prepara-se, organiza-se e adapta-se para oferecer educação de

qualidade para todos, inclusive para os educandos que apresentam

necessidades especiais. Inclusão, portanto, não significa simplesmente

matricular todos os educandos com necessidades educacionais especiais na

classe comum, ignorando suas necessidades específicas, mas significa dar ao

professor e à escola o suporte necessário a sua ação pedagógica.

Nesse sentido vale destacar que os cursos de formação inicial de professores têm

papel significativo nesta perspectiva, assim como a implantação das condições que

favoreçam o desenvolvimento de trabalho do professor na escola.

Os trabalhos que têm como foco a Deficiência de forma geral, em número de 18

artigos publicados tratam de temas relacionados à ações, práticas, concepções,

percepções e perfil de professores, métodos, interação, ensino e aprendizagem,

implantação de projetos e práticas das Salas de Recursos. Os termos utilizados para

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designar os sujeitos são alunos com deficiência, deficientes, alunos com necessidades

educacionais especiais e portadores de necessidades específicas.

Os principais resultados demonstram que para que ocorra a inclusão de fato dos

alunos com algum tipo de deficiência, faz-se necessário, além de uma formação docente

inicial e continuada de qualidade que garanta discussões e problematizações referentes

ao cotidiano da sala de aula, as políticas que são implementadas no país, as condições

de trabalho dos professores, também o investimento em infraestrutura que garanta a

acessibilidade desta população, o apoio com outras secretarias, como a secretaria da

saúde, por exemplo, o apoio do professor especializado no ambiente da sala de aula,

uma interação mais consistente com a família. Alguns trabalhos demonstraram que por

meio de intervenções pontuais em salas de aula com alunos com deficiência ocorreu

alteração na interação entre professor e aluno e entre os alunos, destacando a

necessidade de criação de espaços na escola que possibilitem as discussões e reflexões

sobre o ato pedagógico.

Os trabalhos que analisaram métodos de intervenção demonstraram a

necessidade de pesquisas relacionadas ao tema, visto que um dos métodos analisados se

mostrou ineficaz para o objetivo proposto.

A paralisia cerebral foi foco das pesquisas com 11 trabalhos publicados dentre

aqueles selecionados para análise. Vale destacar que grande parte dos trabalhos ressalta,

mais uma vez, a necessidade de uma formação qualificada para que haja a inclusão nas

escolas regulares, pois os professores demonstram desconhecimento sobre o diagnóstico

da criança com paralisia cerebral e elaboração de práticas pedagógicas que contemplem

o ensino e a aprendizagem dos conteúdos escolares para esta população. As concepções

dos professores muitas vezes são orientadas pelos discursos médicos ou baseados no

senso comum, o que poderia ser discutido se houvesse espaços destinados a reflexão

sobre a prática e a elaboração de conhecimentos sobre a prática em sala de aula.

As pesquisas constataram também a carência quanto ao conhecimento da

Comunicação Alternativa e Técnicas Assistivas como estratégias de ensino e

aprendizagem e como possibilidades de manifestação da linguagem dos alunos que não

são oralizados. Apontam para a interferência de barreiras arquitetônicas que interferem

no desempenho dos alunos nos ambientes escolares, havendo necessidade de ações

governamentais para as devidas implementações de adequações. Destaque-se que

referente à eliminação de barreiras é posto na Resolução o seguinte:

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Art. 12. Os sistemas de ensino, nos termos da Lei 10.098/2000 e da Lei

10.172/2001, devem assegurar a acessibilidade aos alunos que apresentem

necessidades educacionais especiais, mediante a eliminação de barreiras

arquitetônicas urbanísticas, na edificação – incluindo instalações,

equipamentos e mobiliário – e nos transportes escolares, bem como de

barreiras nas comunicações, provendo as escolas dos recursos humanos e

materiais necessários.

Alguns trabalhos apontaram para a necessidade de mudanças na escola, como

nas práticas e estratégias pedagógicas, nas concepções dos professores, na busca de

parcerias, principalmente com a área da saúde.

Quanto aos trabalhos que analisaram métodos, estes apontam a importância de

estudos como estes que visam colocar em prática determinado método e analisar seus

resultados, todos demonstrando a eficácia de se pensar em estratégias que facilitem a

aprendizagem dos alunos com paralisia cerebral.

Os demais trabalhos em menor número, têm como foco o Autismo, Síndrome de

Down e Altas Habilidades e Superdotação com 3 trabalhos cada um, a Epilepsia,

Surdocegueira e Deficiência Múltipla com 1 trabalho. Questões relacionadas à

Aprendizagem e outros com 3 trabalhos.

Os principais resultados destes trabalhos apontam a necessidade de parcerias

entre educação e área da saúde na elaboração, desenvolvimento e reflexão a respeito de

tecnologias que possa facilitar a permanência dos alunos na escola regular e sua

consequente aprendizagem, a importância de estudos relacionados à métodos e suas

consequências para a aprendizagem dos alunos, a necessidade de formação qualificada

para os professores e adequação das escolas.

Referente ao Autismo os temas compreendem: interação e ensino de habilidades

matemáticas, destacam a importância de compreensão da forma como o aluno interage

com as pessoas e com o objeto para o planejamento de práticas voltadas para sua

inclusão no processo de ensino e aprendizagem e que a mediação do professor é

fundamental neste processo. Referente à Síndrome de Down os trabalhos tratam da

interação e do processo de inclusão, apresentam como resultados o fato de que as

crianças com esta Síndrome, em determinada escola infantil não apresentaram

características da interação social muito diferentes das demais crianças observadas e que

quanto maior é o desenvolvimento acadêmico maior é a chance de interações

significativas com os colegas. Quanto ao tema inclusão destacam que ainda há muitos

desafios a serem enfrentados pelas escolas, pais e professores neste processo.

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Referente à Altas Habilidades e Superdotação os temas recaíram sobre as Salas

de Recursos e indicam certo ecletismo e esforços pessoais das professoras para lidar

com este público, indicam ainda que os professores admitem não ter uma formação

adequada para o atendimento desta população.

O problema de Aprendizagem foi outro foco de pesquisa, apontando, por um

lado, que os professores relacionam as dificuldades dos alunos à aspectos familiares e

que ocorre, na escola uma tentativa de homogeneização, e por outro que, quando

estratégias são pensadas especificamente para atingir determinados objetivos e são

postas em prática de forma pensada, podem ser facilitadoras no processo de

aprendizagem destes alunos.

Quanto aos trabalhos definidos nesta análise como “Outros”, estes demonstram a

importância, mais uma vez das parcerias entre a educação e a área da saúde, além de

demonstrarem a eficácia de métodos que podem ser utilizados nas escolas de ensino

regular.

Os trabalhos que tiveram como foco a Epilepsia, Surdocegueira e Deficiência

Múltipla apresentam como resultados a necessidade de pesquisas que abordem aspectos

relacionados à identificação das pessoas com epilepsia, a necessidade de ação planejada

nas Salas de Recursos, uma vez que um dos trabalhos admite a ausência dessas ações, o

isolamento do professor especialista na escola e o desconhecimento das necessidades

reais dos alunos, fato oposto ao apresentado por outro pesquisador que se refere à este

ambiente da escola, demonstrando a importância de ações planejadas como estratégia

de identificação, elaboração e organização de recursos pedagógicos e de acessibilidade,

podendo colaborar com o professor em sua prática pedagógica.

Referente às Salas de Recursos a Resolução nº 4 de 2 de outubro de 2009

estabelece que:

Art. 2º O AEE tem como função complementar ou suplementar a formação

do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade

e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na

sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem.

Este mesmo documento que Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento

Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial,

explicita que:

Art. 9º A elaboração e a execução do plano de AEE são de competência dos

professores que atuam na sala de recursos multifuncionais ou centros de

AEE, em articulação com os demais professores do ensino regular, com a

participação das famílias e em interface com os demais serviços setoriais da

saúde, da assistência social, entre outros necessários ao atendimento.

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Portanto, é de se esperar que as estratégias de ensino sejam eficazes para que os

alunos possam aprender e que a parceria entre os professores ocorra para além da

normatização legal.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Vale destacar que, de forma geral, os trabalhos apontaram para alguns avanços

significativos relacionados ao ensino e aprendizagem dos alunos público alvo da

educação especial, embora alguns tenham evidenciado que ainda estamos longe da

realização de uma educação de qualidade para todos, principalmente para os alunos com

algum tipo de deficiência ou necessidades especiais.

É sabido que aquilo que é inscrito como Lei pode ser interpretado de diversas

formas, dando margem à diferentes situações. É sabido também que a Lei por si só não

pode transformar formas de pensar e de se relacionar com o outro, que as mudanças

para se efetivar requerem muito mais do que a leitura e a interpretação dessas Leis.

Compreendem um movimento complexo de disputas, jogos de poder, de entraves que

fazem parte da trama social e que, portanto, não escapam à educação e mais

precisamente à educação especial.

Nesse sentido, embora haja documentos que legislam sobre a formação de

professores ressaltando que “[...] essa política inclusiva exige intensificação quantitativa

e qualitativa na formação de recursos humanos e garantia de recursos financeiros [...], e

que se faz necessário, além dessa formação:

[...] Condições para reflexão e elaboração teórica da educação inclusiva, com

protagonismo dos professores, articulando experiência e conhecimento com

as necessidades/possibilidades surgidas na relação pedagógica, inclusive por

meio de colaboração com instituições de ensino superior e de pesquisa. (Art.

8º; § VI, Resolução CNE/CEB nº 2/2001)

Sabemos que esta realidade está longe de se realizar num contexto que não

exclui somente o aluno com algum tipo de deficiência ou necessidade especial, mas que

exclui todos aqueles que não se enquadram no perfil tido como “normal” e adequado,

portanto, estamos falando de algo muito mais amplo do que a discussão de uma escola

que respeite a diversidade, estamos falando de todo um sistema que exclui a maioria de

seus alunos justamente aqueles menos favorecidos. Nesse sentido, a exclusão está

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

10340ISSN 2177-336X

13

intimamente ligada a desigualdade social e não somente à diferenças físicas, biológicas

e psíquicas, estas podem ser potencializadas pelas condições sociais.

Esta discussão é importante de ser realizada, visto que tem relação intrínseca

com o fazer pedagógico do professor em sala de aula, uma vez que suas percepções e

formas de agir denotam a concepção de mundo que embasa tais ações. Não se pode, no

entanto, fazer uma análise ingênua e acreditar que somente uma boa formação daria

conta de solucionar os problemas educacionais nas escolas públicas especialmente. Esta

– formação – deveria fazer parte de uma política educacional que privilegiasse a

qualidade em detrimento da quantidade e que apontasse para mudanças estruturais e não

apenas paliativas como vem ocorrendo nas últimas décadas.

REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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10342ISSN 2177-336X

15

CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL: BALANÇO DA PRODUÇÃO

ACADÊMICA APÓS A PUBLICAÇÃO DA APAE EDUCADORA

Márcia de Souza Lehmkuhl-PUC/SP

CAPES

Resumo:

Objetivando analisar as tendências das produções acadêmicas acerca da temática,

currículo na área da Educação Especial, especificamente aquelas relacionadas a APAE

Educadora: A Escola que Buscamos, investigamos cinco repositórios de busca, como:

Portal de Periódicos e do Banco de teses e dissertações da Coordenação de

Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior-CAPES, os Periódicos Acadêmicos do

Portal Scientific Eletronic Library Online-SciELO, nos encontros da Associação

Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação-ANPED e os Encontros Nacionais

de Didática e Prática de Ensino- ENDIPE, no período de 2001 a 2015. A partir deste

levantamento foram analisados quatro resumos de teses e dissertações e 18 artigos

científicos publicados em periódicos de educação ou apresentados em eventos,

totalizando 22 trabalhos. As análises desenvolvidas apoiaram-se na proposição de

análise de discurso de Fairclough (2001), e nas contribuições de Bueno (2011), Michels

(2006) e Meletti (2008) para a compreensão destas relações na educação especial. Tal

análise possibilitou identificar o número ínfimo de pesquisas relacionadas a temática,

currículo e educação especial, sobretudo sobre a proposta da APAE Educadora: A

Escola que Buscamos. No levantamento realizado nos bancos de dados de produção

científica, verificou-se o predomínio de pesquisas na perspectiva da educação inclusiva,

analisando o currículo no atendimento escolar do público alvo da educação especial.

Como também, um número de dissertações e teses defendidas em 2011, que analisaram

o currículo nas instituições especializadas em educação especial, mesmo com os

indicativos nas Políticas de Educação Especial de encaminhamento de alunos público

alvo da educação especial exclusivamente para o ensino regular, o que pode parecer

uma contradição.

Palavras-chave: Currículo. Educação Especial. APAE Educadora.

Introdução

O referido estudo tem como objetivo investigar as tendências das produções

acadêmicas acerca da temática, currículo na área da Educação Especial, especificamente

aquelas relacionadas à proposta de encaminhamento educacional da Federação Nacional

das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais-FENAPAES, APAE Educadora: A

Escola que Buscamos.

Passaram-se quinze anos desde a publicação do documento da FENAPAES,

APAE Educadora: A Escola que Buscamos, e considerou-se necessário fazer um

balanço das produções acadêmicas buscando verificar o quanto se tem produzido sobre

o tema currículo na educação especial, quais as temáticas pesquisadas, quais as

perspectivas nos estudos, as mudanças no encaminhamento de atendimento da

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

10343ISSN 2177-336X

16

população público alvo da educação especial, estabelecendo desta forma, algumas

reflexões sobre a temática e os estudos relacionados a APAE Educadora.

Para o desenvolvimento deste estudo foi utilizado como procedimento

metodológico o levantamento das produções acadêmicas em cinco repositórios de

busca, são eles: Portal de Periódicos e do Banco de teses e dissertações da Coordenação

de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior-CAPES, os Periódicos Acadêmicos do

Portal Scientific Eletronic Library Online-SciELO, nos encontros da Associação

Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação-ANPED e os Encontros Nacionais

de Didática e Prática de Ensino- ENDIPE, no período de 2001 a 2015, estabelecendo

alguns descritores de busca, como: educação especial, currículo, APAE e APAE

Educadora. A partir deste levantamento foram analisados quatro resumos de teses e

dissertações e 18 artigos científicos publicados em periódicos de educação ou

apresentados em eventos, totalizando 22 trabalhos.

Desta forma, as análises desenvolvidas apoiam-se na proposição de análise de

discurso com as contribuições de Fairclough (2001), que utiliza o termo “discurso” para

afirmar que a linguagem é uma forma de prática social, existindo boas razões para a

utilização do discurso como ação que contribui para a manutenção da sociedade, mas

também para transformá-la, ou seja, “o discurso é uma prática, não apenas de

representação do mundo, mas de significação do mundo, constituindo e construindo o

mundo em significados” (FAIRCLOUGH, 2001, p. 91). Desta forma, é possível

compreender os discursos indicados nos trabalhos acadêmicos, suas perspectivas e

proposições sobre o currículo e a educação especial e a relação com o documento da

APAE Educadora: A Escola que Buscamos proposto pela FENAPAEs.

2. O début da APAE Educadora: A Escola que Buscamos

O documento da FENAPAES completou 15 anos de proposição, neste período,

ocorreram mudanças nas políticas para a área da Educação Especial, mudanças

significativas no lócus de atendimento de alunos da educação especial, que

historicamente foram atendidos em instituições especializadas de caráter privado,

assistencial e filantrópico. Segundo Bueno (2011), “após a Segunda Guerra Mundial, a

educação especial brasileira distinguiu-se pela ampliação e proliferação de entidades

privadas, ao lado do aumento da população atendida pela rede pública, [...]”. (BUENO,

2011, p. 110). Com o passar do tempo, instituições para pessoas com deficiência mental

foram assumindo a hegemonia no atendimento da educação especial, não só pelo maior

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

10344ISSN 2177-336X

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número de instituições, como pelo seu papel na área da saúde e da educação, assumindo

perante a sociedade, a identificação, por meio do diagnóstico e o atendimento dos

sujeitos que não se encaixavam no ensino formal. (BUENO, 2011). As políticas de

Educação Especial, desde a década de 1990, vêm encaminhando o atendimento

educacional na perspectiva de inclusão escolar dos alunos da educação especial na rede

regular de ensino.

Com as mudanças nos encaminhamentos de atendimento educacional na área da

Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva, este atendimento continua

ocorrendo nas instituições especializadas das APAES? Segundo Michels e Lehmkuhl

(2015) “as Instituições Especializadas em Educação Especial [...] atendem regularmente

um contingente significativo de sujeitos com deficiência, contrapondo o

encaminhamento para o ensino regular das políticas educacionais na perspectiva

inclusiva.” (MICHELS e LEHMKUHL, 2015, p. 7) Segundo as autoras, mesmo com os

encaminhamentos da legislação atual na área da Educação Especial, as instituições da

APAE mantém o atendimento de alunos em ensino substitutivo em diferentes faixas

etárias de ensino. (MICHELS e LEHMKUHL, 2015).

O documento da APAE Educadora: A Escola que Buscamos é o que orienta as

instituições especializadas da APAE na construção de um sistema educacional paralelo

ao sistema regular, no atendimento de alunos com diagnóstico de deficiência intelectual.

No primeiro capítulo, apresenta um compêndio sobre a legislação brasileira,

especialmente aqueles de orientação curricular, como: Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) (MEC, 1997), Diretrizes Nacionais de Ensino Fundamental (CEB,

1998), Diretrizes Nacionais de Ensino Infantil (CEB, 1999), Diretrizes Nacionais de

Educação de Jovens e Adultos (CNE/CNB, 2000) e o Plano Nacional de Educação (Lei

nº 10.172/2001).

No terceiro capítulo, o documento apresenta a proposição da APAE Educadora,

que tem como objetivo a “construção de um projeto pedagógico em âmbito nacional, ou

seja, em cada uma das instituições escolares do Movimento Apaeano” (FENAPAES,

2001, p. 27), mas nesta proposição a educação especial é vista como substitutiva e não

como modalidade da educação. “Parte-se da premissa que a educação é um ato de

construção social e que não deve se limitar à instituição escolar.” (FENAPAES, 2001, p.

27). A proposta educacional da APAE Educadora é de ofertar atendimento de

“educação infantil, ensino fundamental, educação de jovens e adultos e educação

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

10345ISSN 2177-336X

18

profissional, com as interfaces e parcerias, bem como as demais políticas públicas e

programas de educação nacional.” (FENAPAES, 2001, p. 29).

Neste sentido, como estão as produções acadêmicas na área? Os estudos têm

indicado o atendimento educacional nas instituições especializadas? Qual a proposta de

currículo para o atendimento na área da educação especial?

3. Balanço da produção acadêmica

No balanço da produção acadêmica nos repositórios analisados, o levantamento

ocorreu a partir de alguns descritores, como: educação especial, currículo, APAE e

APAE Educadora e a estratégia de busca seguiu os critérios definidos em cada banco.

No banco de dados do Portal de Periódicos da CAPES, o levantamento foi por meio da

busca avançada, indicando os descritores a partir de palavra exata no título dos

trabalhos, para depois ser realizado a leitura dos resumos. Com o descritor educação

especial foram encontrados 1.037 trabalhos e no intercruzamento com o descritor

currículo, cinco trabalhos foram identificados, um trabalho que discutia a organização

curricular da formação de professores para a área da educação especial; três artigos

específicos sobre deficiência sensorial, dois sobre adequações curriculares e a educação

de surdos e um sobre o currículo prescrito para educação inclusiva de alunos com

deficiência visual; e por fim, um sobre o estigma e o currículo oculto no ensino regular.

Os cinco trabalhos analisados tinham como base a perspectiva de educação inclusiva,

analisando o processo de inclusão dos alunos com deficiência no ensino regular.

Ainda no banco de dados do Portal de Periódicos da CAPES, no intercruzamento

dos descritores educação especial e APAE, nenhum trabalho foi encontrado, mas

quando inserido o descritor, APAE Educadora, um trabalho foi localizado. O trabalho

trata sobre a aplicação da proposta da APAE Educadora na instituição especial da

APAE de Porto Alegre/RS. Salaberry (2008) defende a continuidade da proposta, que

tem como base os princípios normativos vigentes da educação nacional e a prática do

Movimento Apaeano, da permanência da instituição especial, como único meio de

educação dos alunos com deficiência intelectual.

No banco de teses e dissertações da CAPES, a primeira filtragem foi realizada

utilizando o descritor: educação especial e em seguida, currículo. Quando pesquisado o

descritor exato, educação especial, 364 trabalhos foram encontrados e na utilização do

descritor currículo apareceram 1.689 trabalhos. Após novo refinamento na busca deste

repositório, utilizando as palavras educação especial e currículo na mesma frase,

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

10346ISSN 2177-336X

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somente um trabalho tinha no título os dois descritores relacionados, educação especial

e currículo que tratou sobre o acesso ao currículo escolar de alunos da educação especial

que frequentavam anos iniciais do ensino fundamental, em escola da rede regular de

ensino em uma perspectiva inclusiva. (EFFGEN, 2011).

Em uma nova busca, relacionando os descritores, educação especial e APAE na

mesma frase, um trabalho foi encontrado que discutia a atuação do professor de

educação física numa escola especial. A autora conclui, que os “educandos

institucionalizados participam de atividades restritas nas esferas sociais” (PIFFER,

2011, p.1), e são cerceados na relação de ensino e aprendizagem. (PIFFER, 2011)

Quando relacionados os descritores currículo e APAE, dois trabalhos foram

encontrados. Um discutiu sobre a importância do lazer no desenvolvimento pessoal e

social das pessoas com deficiência intelectual na instituição especializada da APAE.

(NOGUEIRA, 2011). E outro, sobre o documento da APAE Educadora, analisando a

aprendizagem da Língua Portuguesa por alunos com diagnóstico de deficiência

intelectual que frequentavam a APAE, cotejando com os Parâmetros Curriculares

Nacionais de Língua Portuguesa e o documento da APAE Educadora. (SANTANA,

2011).

Podemos perceber que os trabalhos analisados no Banco de Tese da CAPES

tiveram predominância de estudos sobre currículo nas instituições especiais da APAE,

demonstrando um debate ainda presente nas pesquisas. Esta realidade pode representar

um contrassenso, se considerarmos a proposição da política de educação especial com a

perspectiva de educação inclusiva vigente, onde o lócus de atendimento educacional dos

alunos da educação especial é exclusivamente na rede regular de ensino, inclusive os

com diagnóstico de deficiência intelectual.

No levantamento da produção acadêmica no Portal da Scielo foram encontrados

391 artigos científicos com o descritor educação especial e no intercruzamento da

palavra currículo, 12 artigos foram selecionados. Após a leitura dos títulos dos trabalhos

e do resumo, dois tratavam sobre currículo e educação especial, um sobre o estigma

como currículo oculto (MAGALHÃES e RUIZ, 2001). E outro, sobre as tendências

curriculares na área da educação especial, sobretudo, as referentes às adequações

curriculares. Este trabalho nos ajuda a refletir sobre o encaminhamento curricular da

área de Educação Especial no ensino regular, especialmente a permanência das

concepções segregacionistas, mesmo em uma perspectiva integracionistas/inclusivistas.

(MOREIRA e BAUMEL, 2001)

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

10347ISSN 2177-336X

20

Na busca do Portal da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em

Educação-ANPED, foram utilizados os mesmos descritores. A análise foi realizada ano

a ano, no período estipulado para o balanço de produção, buscando nos títulos dos

trabalhos as palavras educação especial e currículo. Foram analisados oito resumos dos

trabalhos e pôsteres apresentados nos Grupos de Trabalho-GT, da Educação Especial e

do Currículo.

No 25º encontro da ANPED, no GT de Currículo, Franco (2002), apresentou o

trabalho discutindo a proposta de adaptação curricular nas Diretrizes Nacionais para a

Educação Especial na Educação Básica, e conclui que os documentos têm como

proposição a homogeneização no currículo nacional e não o respeito às diferenças de

aprendizagem. (FRANCO, 2002, p. 8)

No GT de Educação Especial, foi encontrado em 2005, trabalho que versa sobre

as práticas curriculares da escola e analisa se a marca do diagnóstico de deficiência

intelectual muda a prática pedagógica de sala de aula em escola da rede regular de

ensino. Lunardi (2005) conclui que, “as práticas curriculares culturalmente sedimentadas

e institucionalizadas, levam ao entendimento da diferença como um obstáculo no

processo de ensino e aprendizagem.” (LUNARDI, 2005, p. 14). Em 2006, outro trabalho

foi apresentado relacionando currículo e educação especial no ensino regular. Ferri e

Hostins (2006) analisaram as práticas docentes de seleção e organização do conhecimento

para o atendimento de alunos com histórico de deficiência intelectual nas escolas da rede

regular de ensino e nas instituições especializadas em Educação Especial.

Em 2008, neste mesmo GT, foi encontrado um estudo que trata sobre a educação

das pessoas com deficiência intelectual a partir do documento APAE Educadora: A

Escola que Buscamos. Segundo Meletti (2008), o documento “sintetiza a proposta de

unificação das ações educacionais de instituições especiais.” (MELETTI, 2008, p. 1) A

autora analisa o documento da APAE Educadora: A Escola que Buscamos e alerta para

reinterpretação da legislação brasileira para a permanência do atendimento educacional

mantido pelas APAES.

Meletti (2008) demonstra no estudo, que as instituições de educação especial

assumiram ao longo do tempo, a educação das pessoas com deficiência intelectual, se

distanciando do sistema comum de ensino. O Estado delegou a função educacional para

o setor privado, legitimando o ensino especial como mais adequado para estes sujeitos,

especialmente os de caráter filantrópico e assistencial. Mostra também, que a mudança

para uma perspectiva inclusiva no discurso da educação brasileira, ocorre a partir de

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

10348ISSN 2177-336X

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1990, atingindo diretamente a educação especial, já que a partir desta data a área passa a

ser considerada como “modalidade de educação escolar a ser oferecida

preferencialmente na rede regular de ensino” (MELETTI, 2008, p. 3).

Meletti (2008) alerta que, “apenas em casos excepcionais – aqueles que em

função dos comprometimentos do aluno – em que a escola não tiver recursos para o

atendimento é que este poderá ocorrer em instâncias consideradas especiais: classes ou

escolas.” (MELETTI, 2008, p. 3) Foi na excepcionalidade dos casos de atendimento que

as instituições especiais se pautaram para dar continuidade ao atendimento educacional

das pessoas com diagnóstico de deficiência intelectual nas instituições.

E conclui que mesmo utilizando como referências curriculares os documentos

nacionais, o documento da FENAPAES, conserva o perfil institucional, apropriando o

discurso oficial, de acordo com a interpretação que beneficie a instituição especializada.

Para a autora, a proposta de construção de uma escola na instituição especializada é para

“conservação do espaço institucional reiterando sua condição de lócus social da

deficiência mental em nosso contexto.” (MELETTI, 2008, p. 15)

Dando continuidade a busca no repositório da ANPED, foram encontrados dois

textos com os descritores currículo e educação especial, no GT de Educação Especial,

em 2010. Um discutindo os avanços e impasses da proposição de inclusão das pessoas

com deficiência visual no ensino regular. E outro, sobre a diferenciação na

escolarização das pessoas com deficiência, a partir das políticas curriculares e os

documentos curriculares nacionais. Neste segundo trabalho, Silva (2010) analisa os

documentos curriculares nacionais e compara com as políticas estadual e municipal,

evidenciando que os encaminhamentos dos documentos não se confirmam nas políticas

analisadas, a igualdade de oportunidades, anunciada nos documentos, não faz parte da

realidade encontrada. Em 2011, foi localizado um trabalho que trata sobre o currículo na

educação infantil na perspectiva inclusiva. E no 37º encontro da ANPED, encontramos

um trabalho que investigou a relação entre currículo e a educação especial na produção

acadêmica brasileira. Haas e Baptista (2015) relacionaram o balanço da produção com

documentos oficiais das políticas nacionais, objetivando apontar pistas para o trabalho

pedagógico. Os autores discutem ao longo do texto, a precariedade e a falta de pesquisas

no debate acadêmico sobre a temática, e o contexto das práticas que prevalece uma

visão reducionista do sujeito da educação especial e o que deveria ser considerado

currículo escolar. Nos trabalhos apresentados na ANPED, com os descritores e no

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

10349ISSN 2177-336X

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período analisado, a temática predominante foi de trabalhos que discutiram o currículo e

a educação especial na perspectiva da educação inclusiva.

No repositório dos Encontros Nacionais de Didática e Prática de Ensino –

ENDIPE, a procura dos trabalhos acadêmicos realizou-se por meio da leitura dos títulos

de todos os trabalhos, buscando assim, os descritores currículo e educação especial.

Foram encontrados inicialmente, aproximadamente 600 trabalhos com a temática

currículo, com diferentes enfoques, e cerca de 100 trabalhos com o descritor educação

especial. No intercruzamento das palavras educação especial e currículo, encontramos

sete trabalhos apresentados em painéis e pôsteres no período de 2001 a 2014.

Em 2006, Lunardi discutiu sobre o currículo e a inclusão escolar. O trabalho

contribuiu para a compreensão das relações entre os documentos oficiais que orientam a

prática dos professores e as práticas curriculares no processo de ensino e aprendizagem

de alunos com deficiência. Concluindo que o discurso oficial está longe da prática, que

o discurso de atendimento a diversidade, de educação inclusiva não foram encontrados

na prática escolar analisada, ao contrário, as práticas curriculares estão cada vez mais

homogeneizadoras e uniformes. (LUNARDI, 2006)

No Encontro de 2008, quatro trabalhos foram localizados com os descritores

currículo e educação especial. O primeiro trata sobre o repensar do currículo na

perspectiva da educação inclusiva, discutindo o currículo e as adequações curriculares

no ensino regular. (RODRIGUES e ZWETSCH, 2008) O segundo faz uma reflexão

sobre o currículo e as práticas pedagógicas na perspectiva da educação inclusiva e o

cotidiano escolar, analisando o processo de inclusão de crianças com deficiência em

classes comuns de ensino, evidenciando que as práticas seguem concepções tradicionais

de currículo, sem a utilização de adaptações necessárias para a aprendizagem, pautadas

no binômio normalidade/deficiência. (PLETSCH, GLAT e MOREIRA, 2008) O

terceiro versa sobre como as diferenças são entendidas no cotidiano escolar, tentando

compreender as relações entre deficiência e normalidade construídas nas práticas

curriculares. Concluindo que os alunos que aprendem de forma diferente estão sendo

excluídos dentro da escola. (MENDES, 2008). E o quarto trabalho reflete sobre o

controle das diferenças e a emancipação pelo currículo, concluindo que a escola para

todos tão anunciada nos documentos brasileiros, inclusive para os alunos com

deficiência, está centrada no currículo como instrumento “capaz de interpretar os

interesses, projetos e vontades dos indivíduos e dos grupos.” (SILVA, 2008, p.1)

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

10350ISSN 2177-336X

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Em 2010 foi encontrado um trabalho sobre currículo e educação especial, que

estabelece reflexões teóricas acerca do currículo da e na educação especial, em uma

perspectiva de escola inclusiva. O que os autores alertam é que na maioria das vezes as

escolas têm se mostrado ineficientes no atendimento escolar por meio do currículo dos

alunos da educação especial. (EFFGEN e ANJOS, 2010) E no ano de 2012, mais um

trabalho foi apresentado na discussão currículo e a educação especial, que versa sobre a

igualdade de oportunidades no acesso ao currículo comum e a escolarização de alunos

da educação especial em processo de inclusão escolar. (VIEIRA, 2012)

Dos trabalhos apresentados no ENDIPE no período analisado, prevaleceram a

discussão sobre currículo e o processo de inclusão de alunos da educação especial no

ensino regular. A discussão perpassou entre o currículo e as adaptações curriculares e

sobre o processo da prática pedagógica desenvolvida em sala de aula. Na maioria dos

estudos os autores alertam para as condições de ensino dos alunos da educação especial.

O que nos leva a refletir se o processo de ensino e aprendizagem vem ocorrendo de

forma satisfatória para os alunos da educação especial?

Analisando todos os repositórios de busca, a predominância dos trabalhos foi na

perspectiva da educação inclusiva. Neste sentido, a perspectiva de educação inclusiva

passa a ser vigente na reforma educacional iniciada na década de 1990, a educação

passa a assumir um novo papel e a política de inclusão é um dos focos centrais.

Segundo Michels (2006), uma das tarefas destinadas à educação, à escola e aos

professores é a “inclusão dos alunos que historicamente foram excluídos da escola. A

inclusão, então, aparece como propulsora de uma nova visão da escola. Agora sob a

narrativa do respeito às diferenças, oportuniza-se educação diferente para „compensar‟

as diferenças sociais” (MICHELS, 2006, p. 407). Para a autora, o viés das políticas de

inclusão tem como objetivo apreender a exclusão como diferença e assim normalizar o

discurso de aceitação das diferenças para consolidar a exclusão social.

4. Algumas considerações

O estudo apresentado sobre o balanço das produções acadêmicas indicou um

número ínfimo de trabalhos acadêmicos com a temática, currículo e educação especial,

sobretudo os relacionados a APAE Educadora: A Escola que Buscamos. Observando

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

10351ISSN 2177-336X

24

que o levantamento foi realizado em cinco repositórios de estudos, em um período de

quinze anos.

As análises dos trabalhos acadêmicos indicaram uma predominância de estudos

que versam sobre currículo e educação especial em uma perspectiva de educação

inclusiva, com exceção do levantamento no Portal do Banco de Teses da CAPES, com

maior índice de trabalhos que discutiram o currículo na instituição especial da APAE,

defendidos em 2011. Este fato pode indicar uma contradição entre os encaminhamentos

da Política Nacional de Educação Especial na perspectiva de Educação Inclusiva, da

legislação vigente e a continuidade de atendimento educacional nas instituições

especializadas das APAEs.

Pelo estudo de Meletti (2008) o documento da APE Educadora: A Escola que

Buscamos, reivindica a permanência do status quo institucional nas políticas nacionais,

de permanência de atendimento segregado nas instituições dos sujeitos com deficiência

mental, e consequentemente a busca por financiamento público.

O que leva a refletir se houve mudanças significativas no lócus de atendimento

na área da educação especial, mesmo com as políticas na perspectiva da educação

inclusiva? Historicamente as instituições de educação especial de cunho privado

assistencial se constituíram como principal espaço de atendimento aos sujeitos da

educação especial, com proposições de atendimentos na área da saúde e mais

tardiamente, com atendimento educacional, como o documento da APAE Educadora: A

Escola que Buscamos. Mesmo com uma predominância de estudos na perspectiva

inclusiva, o atendimento educacional nas APAEs permanecem e a proposta da APAE

Educadora: A Escola que Buscamos mesmo depois de 15 anos está vigente.

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PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE A EDUCAÇÃO DO ALUNO COM

TRANSTORNO ESPECTRO AUTISMO (TEA)

Katia Cristina Luz- PUC/SP

CNPQ

RESUMO

Este artigo procura analisar as principais tendências da produção científica contidas no

portal de Periódicos disponíveis pela Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino

Superior (CAPES) do Ministério da Educação, por todo período coberto pelo portal, ou

seja, 1983 a 2015. Num levantamento inicial, utilizando o descritor “autismo”

constatou-se a existência de 657 produções, que após a escolha daqueles que foram

revisados por pares resultaram 286 artigos. Destes, após excluir aqueles que se

repetiam, os que não possuíam resumos, uma vez que a leitura preliminar partiria deles,

e os que não eram destinados à educação, sobraram apenas 11 produções para esta

análise. A organização do conteúdo deu-se pelo agrupamento das informações que

constavam no corpo dos textos: tema geral, tema específico e resultados de pesquisa.

Percebeu-se que os trabalhos abarcados por este levantamento que, apesar de não

abordarem diretamente as habilidades sociais, comunicativas e comportamentais do

aluno autista, tiveram estes enfoques como norteadores das pesquisas, uma vez que

partem das necessidades especificas deste alunado. Existem na sociedade atual

características comportamentais socialmente construídas na e pela cultura. O autista,

por possuir características comportamentais diferenciadas daquelas consideradas dentro

de padrões “normais” tem tido sua inclusão escolar dificultada. Na tentativa de desvelar

um pouco sobre a prática educacional voltada ao aluno TEA, na produção acadêmica,

optou-se pela realização deste balanço tomando como pressupostos teóricos o

materialismo cultural de Raymond Williams e por meio dele averiguar as

particularidades desta produção material. Constatou-se que a produção científica com

vistas à educação do sujeito com TEA é pífia, nos poucos trabalhos localizados há uma

hegemonia daqueles advindos da área educacional. A preferência dos pesquisadores por

propostas de intervenção também se sobressai, o que denota discreto esforço em romper

com os limites de uma pratica dificultada por diversos fatores.

Palavras-chave: Autismo; educação; pesquisa educacional

Introdução

Este trabalho tem como objetivo a realização de um mapeamento e análise das

tendências das produções científicas no Brasil que versam sobre a prática educacional

escolar do sujeito com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Conforme Bueno (2014) durante os últimos vinte anos houve um avanço

significativo na realização de balanços da produção científica e uma vez que se toma a

própria produção para análise crítica este fato proporciona certa compreensão da

maturidade em que a área vem desenvolvendo.

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

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No caso do autismo, por exemplo, supomos que, teve pouquíssima ou nenhuma

produção quando observados os tipos de deficiência no balanço realizado por Bueno

(2014). Pois, em fase do balanço realizado pelo autor sobre a educação especial o

autismo estava incluído na nomenclatura “Transtorno Global do Desenvolvimento”

(TGD), por determinação das normas de nomenclatura e diagnóstico do DSM-V, não

existindo, deste modo, nas produções analisadas uma especificação direta sobre o

autismo. O TGD caracterizou menos que 10% dos trabalhos analisados conforme Bueno

(2014), o que nos permite a elaboração de uma hipótese: Ainda que as pesquisas em

educação especial ao final de vinte anos, tenham se consolidado, supõe-se que no caso

do autismo os pesquisadores ainda têm um longo caminho a ser percorrido na

consolidação de estudos que abordem a educação destes sujeitos.

Há na sociedade contemporânea maneiras de se comportar socialmente que são

construídas na e pela cultura. De acordo com Mesibov; Shea (1996), em artigo

traduzido por Rocha, quando pensamos nas pessoas com TEA, apesar de não haver,

necessariamente uma cultura “autística” as características e comportamentos similares

conotam uma expressão cultural diferenciada. Noutras palavras, as pessoas com TEA

têm um jeito peculiar anunciado pela vestimenta, alimentação, jeito de comunicar-se,

forma de entender o mundo a sua volta, bem como na aquisição do conhecimento. Estes

dados não são comuns aos padrões comportamentais existentes fora do contexto

autístico e isto têm dificultado sua inclusão escolar.

Atualmente, existem vários dispositivos legais que garantem a entrada e a

permanência na escola dos sujeitos com diagnóstico de autismo, como: Constituição

Federal (1988), a Política Nacional de Educação na Perspectiva da Educação Inclusiva

(2008) e o mais recente Decreto Lei 12.764 (2012) que dispõe sobre a Política Nacional

de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autismo,

especificamente quando trata sobre os aspectos educacionais e de inclusão destes

sujeitos a fim de garanti-los em todas as modalidades de ensino. Dito isto, cabe inquirir

como esta educação esta sendo realizada na prática? É possível compreender por meio

da análise crítica da literatura científica de que forma a prática educacional voltada para

estes sujeitos tem ocorrido?

Ao tomarmos como abalizamento os pressupostos de Skinner (2000 apud

BAGAIOLO; GUILHARDI; ROMANO, 2011) compreende-se que “a educação é o

estabelecimento de comportamentos que serão vantajosos para o individuo e para outros

em algum tempo futuro.” Neste mote, pode-se deduzir que a escola tem papel

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

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importante na modelagem de alguns comportamentos que consequentemente

repercutem na forma dos sujeitos aprenderem, foi sobre esta ótica que surgiu a

necessidade de saber o que acontece na prática pedagógica uma vez que o sujeito com

TEA, devido a complexidade de sua patologia e por possuir comportamentos sociais

diferenciados daqueles considerados dentro dos “padrões” e “aceitáveis”, exige para sua

educação uma prática minimamente diferenciada tanto nos aspectos relacionados ao

ensino quanto de aprendizagem.

A escolha pela análise dos artigos científicos justifica-se pelo fato de que, além

de ter expressiva representatividade na disseminação do conhecimento, função social

prioritária dos artigos científicos, possuem efeito direto sobre a elaboração de políticas

públicas, tanto em âmbito mundial como aqui no Brasil. Também têm sido eleitos pela

comunidade científica como porta principal de visibilidade às pesquisas que vem sendo

desenvolvidas, o que de certa forma, facilita a captação atual do cenário da produção

científica sobre o tema. Esta valorização pressupõe-se seja advinda de uma eleição

coletiva determinada pelas convenções existentes na sociedade moderna que expressam

um contínuo, uma preexistência de um padrão literário estabelecido coletivamente,

revelando uma forma concreta de expressão cultural, indo ao encontro dos pressupostos

apontados por Raymond Williams, que reavaliou o conceito “cultura”, perpassando pelo

marxismo com intuito de transcendê-lo, criou uma nova teoria da cultura. Para o autor o

uso de determinados conceitos numa sociedade, em um período específico, seu

significado e até mesmo as mudanças que sofreu no transcorrer do tempo pode

demonstrar aspectos fundamentais da cultura que mantém o funcionamento e até a

manutenção de um sistema.

Ao tomar para análise crítica o produto dessa cultura, no caso a produção

literária científica, além de reclamar sua concretude, traz-se à luz articulações,

contradições, sentimentos e consciência que a linguagem e os meios de produção

cultural expressam. Daí a importância de considerar a literatura como “lócus” desta

pesquisa e a sua narrativa como expressão de uma prática institucionalizada. A

linguagem e a produção cultural, assim como a cultura, para o autor são mutáveis e

passíveis de intervenção.

Quanto a construção do objeto de pesquisa, que se pretende sob as vistas das

ciências sociais, além de considerar os pressupostos willianos apreciando os aspectos

sociais e históricos de contextos sociais, culturais, tempo e espaço no qual os autores

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

10357ISSN 2177-336X

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escreveram, serão adotados os preceitos de Bourdieu; Chamboredon; Passeron (2004)

quanto à construção do objeto.

Sendo assim, em consonância com os últimos autores, para a construção do

objeto adotar-se-á, primeiro um distanciamento de pré-noções elaboradas pelo senso

comum, depois a utilização de uma problemática que com base teórica dê conta da

demarcação do campo de pesquisa. Logo, para suprir esta necessidade a presente

pesquisa seguirá como roteiro o questionamento: o que se tem investigado sobre a

prática educacional do autista em artigos científicos? A problemática faz-se necessária

uma vez que, segundo os autores tomados como referência, esta pode contribuir para a

detecção de um fato, uma prática, inseridos num contexto social e histórico demarcado

por lutas simbólicas.

Caracterização da Produção

Como fonte de dados optou-se pelos artigos de periódicos contidos no portal de

Periódicos disponíveis pela Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino Superior

(CAPES) do Ministério da Educação, por todo o período coberto pelo portal. (BRASIL.

MEC. CAPES, 2015)

Os critérios para seleção e inclusão dos artigos neste trabalho foram: a) período

1983 a 2015, b) Os provenientes da busca utilizando o termo “Autismo”, c) os artigos

revisados por pares, d) em todas as línguas, e por último; e) aqueles voltados à educação

do sujeito autista. Como critério de exclusão dos artigos seguiu-se primeiro a lógica de

repetência, depois, ao efetuar as leituras, prioritariamente dos títulos e resumos, aqueles

que não possuíam resumos e os que não focavam a educação desses sujeitos.

No levantamento inicial observou-se a existência de 657 artigos sobre autismo

no portal de periódicos CAPES, após a escolha daqueles que foram revisados por pares

resultaram 286 artigos. Destes, quando comparados a fim de efetuar a exclusão daqueles

que se repetiam e os que não apresentavam resumos sobraram apenas 113. Após este

levantamento, numa leitura mais minuciosa, aqueles voltados à educação totalizaram 11

produções, dado este que expõe precocemente a hipótese deste trabalho, ou seja,

realmente há uma escassa produção científica com o tema autismo voltada a educação

deste sujeito.

A análise dos artigos selecionados segue uma ordem temática sem

necessariamente destacar uma dada importância. Para apreciação deu-se ênfase aos

temas gerais, específicos e os resultados da pesquisa, num contexto mais generalizado,

privilegiando os aspetos que descrevem não só a prática educacional do alunado com

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

10358ISSN 2177-336X

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TEA, mas também aquelas que podem auxiliar a compreensão desta prática,

considerada por alguns profissionais da educação como um grande desafio.

O conhecimento disseminado sobre o autismo é um dos temas que aparece nas

pesquisas, este foi contemplado por dois trabalhos, um de autoria de Araújo; Souza

Santos (2012) com o título “Representações sociais de professores sobre o autismo

infantil” expuseram em sua investigação, baseada na Teoria das representações sociais,

as ideias formadas pelo senso comum a respeito do autismo entre professores, outro de

autoria de Nicpon; Assouline (2010), intitulado “Atendimento as necessidades de

estudantes talentosos com Transtorno do Espectro Autismo: Aproximações

diagnósticas, terapêuticas e psicoeducativas” focaram o trabalho com estudantes

talentosos com TEA para efetivar o atendimento das suas diversas necessidades e

dissertaram a partir das atuais abordagens diagnósticas, terapêuticas e educativas

secionando apenas estudos bibliográficos empiricamente testados.

Na primeira pesquisa, Araújo; Souza Santos (2012) assinalaram que os

resultados coadunam para vislumbrar uma prática marcada por incertezas, uma vez que

os professores atuam com testes de possibilidades baseadas em erros e acertos e

percebem fragilidades dos estudos acadêmicos advindos das mais diferentes áreas.

Embora o conhecimento desses professores seja ancorado em diversos repertórios que

partem prioritariamente da psicanálise, neurociências e da linguagem midiática.

Concluindo ser na prática cotidiana escolar que constroem alternativas pedagógicas de

funcionalidade para o ensino dos sujeitos com TEA.

O estudo bibliográfico realizado por Nicpon; Assouline (2010) demonstrou que

as intervenções terapêuticas apareceram como as mais prósperas para os alunos com

TEA. Mesmo não havendo uma avaliação da sua eficácia em alunos superdotados com

TEA. Cabe salientar que as intervenções cognitivo-comportamentais estão presentes

nesta seleção. Já no que diz respeito às intervenções psicoeducativas eficazes, os autores

discorreram que o foco incidiu sobre as capacidades cognitivas e acadêmicas, além das

amplas dificuldades de comunicação, social e comportamental destes estudantes.

Outras duas pesquisas tiveram a heurística como tema, Burger-Veltmeijer;

Minnaert; Bosch (2015) realizaram uma exploração entre diagnosticadores de diversas

organizações psicoeducativas, analisando dossiês. Nesta pesquisa cujo título é

“Avaliação dos alunos superdotados com ou sem características de TEA: uma

exploração entre diagnosticadores de diversas organizações psicoeducativas”

planejaram avaliar se os testes de avaliação sobre a prática psico-educacional com

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

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estudantes talentosos TEA foram consistentes com princípios heurísticos, base teórica

criada pelos próprios autores. Noutra perspectiva os aspectos heurísticos foram

abordados por López (2011), desta vez, sob o titulo “A falácia da conjunção e

contextualização no autismo”. Neste trabalho de ordem bibliográfica, mesmo tendo o

autor admitido a relevância das pesquisas realizadas por Morsanyi, Handley e Evans

(2009), questiona suas justificativas de que estudantes autistas não utilizam heurística

por causa da dificuldade que este alunado tem quanto ao processo contextualização da

informação.

Burger-Veltmeijer; Minnaert; Bosch (2015) apresentaram como resultado que o

teste de avaliação sobre a prática psico-educacional “não foi qualificado de forma

sistemática, dimensional e baseada em necessidades conforme os princípios teóricos

heurísticos. ( S&W)”. Para os autores este fato sugere a necessidade de otimização

heurística (S&W) já que este princípio teórico é pautado pelas necessidades do alunado

com superdotação TEA. Na pesquisa teórica desenvolvida por López (2011), o autor

pontuou que a falta de utilização heurística destes sujeitos está ligada ao fato de

possuírem raciocínio lógico matemático mais rigoroso do que os estudantes em geral e

depois de destacar a importante contribuição da psicologia na educação, sugeriu a

implementação de projetos e o desenvolvimento de metodologias que considerassem a

singularidade cognitiva do aluno autista.

Dois trabalhos têm como tema a competência social e as habilidades sociais

separadamente. No primeiro denominado “Competência social, inclusão escolar e

autismo: um estudo de caso comparativo” os autores Camargo; Bosa (2012) avaliaram

comparativamente a competência social entre uma criança com autismo e outra com

desenvolvimento típico, considerando a influência do ambiente escolar (classe e pátio)

na competência social entre estas crianças pertencentes a fase pré-escolar. No segundo,

os autores Freitas; Pereira Del Prette (20013), sob o título “Habilidades sociais de

crianças com diferentes necessidades educacionais especiais: avaliação e implicações

para intervenção” observaram 12 grupos de crianças com diferentes necessidades

educacionais especiais a fim de apontar as peculiaridades das habilidades sociais

identificando-as por suas semelhanças e diferenças e depois sugerir modos de

intervenção.

No que diz respeito ao estudo comparativo sobre competência social Camargo;

Bosa (2012) discorreram que, “enquanto o perfil de competência social da criança com

desenvolvimento típico pouco variou entre os contextos, a criança com autismo

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

10360ISSN 2177-336X

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demonstrou maior frequência de comportamentos de cooperação e asserção social e

menor frequência de agressão e desorganização do self, no pátio.” No segundo estudo os

autores discutiram as necessidades de intervenção de cada categoria avaliada. A

observação possibilitou verificar que as crianças com TDAH, autismo, problemas de

comportamento internalizantes e externalizantes e problemas de comportamento

exibiram comparativamente menor quantidade de habilidades sociais requerendo

atenção prioritária em programas de intervenção.

Percebeu-se no presente levantamento que há certa preferência dos

pesquisadores em utilizar a intervenção como fonte de coleta de dados. Esta preferência,

talvez, esteja relacionada ao fato de que prioritariamente a produção advenha da área

educacional, o que supostamente pode dar indícios dessa necessidade na prática. Este

fato nos remete a reflexão de Bourdieu (1975 apud GARCIA, 1996) sobre a posição dos

agentes (pesquisadores) dentro do campo científico e como influenciam na produção

cultural, bem como na reprodução dos valores simbólicos por eles disseminados.

Neste levantamento foram encontrados cinco trabalhos cujo tema recai sobre

proposta de intervenção. A pesquisa intitulada “Os efeitos do reforço social alertando

sobre o estabelecimento de interações sociais com pares durante a inclusão de quatro

crianças com autismo na pré-escola.”, realizada por Gena (2006), aponta que

procedimentos com respaldo empírico foram priorizados tanto para a melhoria de

interações sociais das quatro crianças autistas, como para sua inclusão na fase pré-

escolar em escolas gregas. Os resultados demonstraram que o reforço social combinado

com procedimentos estimulantes fornecidos por um professor auxiliar foi essencial para

fomentar o início das interações sociais e de contrapartida fazer responder

adequadamente às interações iniciadas pelos colegas de classe.

Outra pesquisa contemplada por este estudo e que tem a intervenção como fonte

de dados foi concretizada por Pérez González; Williams (2005). Nesta pesquisa

intitulada “Programa Integral para o ensino de habilidades em crianças com autismo” os

autores propuseram a implementação de um programa que, apesar de usar uma

linguagem comum a todos, algo que se difere dos programas mais conhecidos como

TEACCH que utilizam a comunicação por meio de signos, considerou o ensino

individual de cada sujeito de acordo com as suas principais necessidades de

aprendizagem. Durante a aplicação do programa utilizaram todos os métodos de

intervenção advindos das mais diferentes áreas, motivo pelo qual este programa foi

considerado como sendo integral.

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

10361ISSN 2177-336X

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Os resultados desta pesquisa demonstraram que as três crianças, sujeitos desta

pesquisa, aprenderam sobre uma habilidade para cada hora de ensino. Quando a

intervenção foi intensa os alunos aprenderam mais habilidades por hora, mostrando

desta forma a eficácia de uma intervenção na educação e no ensino de crianças autistas

quando aplicada intensivamente, constituindo assim a melhora da qualidade de vida

tanto dos sujeitos quanto de seus familiares.

Thompson; Mclaughlin; Derby (2011) também utilizaram uma proposta de

intervenção para o ensino de uma criança autista, com o estudo denominado “Uso do

reforço diferencial para reduzir verbalizações inapropriadas de uma aluna autista da

educação primária”. Neste estudo os autores testaram um programa de linha de base

múltipla, buscando provar a relação e mediar a eficácia do reforço diferencial a fim de

diminuir verbalizações inapropriadas de uma aluna autista. Utilizaram-se fichas

compensatórias para estimular a diminuição das falas inapropriadas e a adesão de

comportamentos ensinados na sala de aula, na aula de educação física e sala especial.

Ao final da pesquisa os autores comprovaram que houve eficácia no uso de

procedimentos diferenciais de reforço, pois não só diminuíram comportamentos sociais

problemáticos na aluna em questão, mas também auxiliou a incorporação de novas

atitudes.

A avaliação dos efeitos da utilização de um programa de intervenção também foi

contemplada na pesquisa de Carvalho Gomes; P. Nunes (2014), desta vez na interação

dos sujeitos. O trabalho apresentado sob o título “Interações comunicativas entre uma

professora e um aluno com autismo na escola comum: uma proposta de intervenção”

focou na avaliação de um programa que oportunizasse o desenvolvimento de

habilidades comunicativas e interação em uma criança autista de 10 anos. Para

implementação do programa, primeiro a professora foi habilitada a aplicar estratégias do

ensino naturalístico e recursos de comunicação alternativos. Três rotinas escolares

foram eleitas para avaliação do programa: hora do lanche, atividades pedagógicas e na

entrada da escola. Depois de o programa ter sido implementado e devidamente

registrado por meio de filmagens e relatórios, tomou-se as respostas comunicativas

entre a professora e o aluno para compor as variáveis. A professora mudou a

organização ambiental da sala de aula, deixando pictográficos de comunicação

acessíveis ao aluno e seus objetos de uso preferencial fora do alcance para que o mesmo

o solicitasse quando quisesse. Utilizando os pictográficos juntamente com a

comunicação oral, também passou a aguardar a interação espontânea do aluno. Assim

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

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que houve a implementação do programa as autoras identificaram mudanças tanto

qualitativas quanto quantitativas nas interações professora-aluno.

Carlson; Mclaughlin; Derby; Blecher (2009), com intento de aumentar a

legibilidade das letras em alunos com deficiência da educação infantil utilizando

procedimentos cartografados do programa Handwriting Without Tears[R] program

(Olsen, 1998) também utilizaram a intervenção. No estudo intitulado como “Ensinar

alunos autistas da educação infantil a escrever” os autores selecionaram dois sujeitos da

fase pré-escolar de uma escola de educação especial do Noroeste Pacífico. Uma criança

diagnosticada autista e outra com diagnóstico de atraso no desenvolvimento. Ambas

conheciam as letras dos seus nomes, por este motivo a proposta deste estudo recaiu

sobre o aumento da legibilidade das letras. Foi-lhes oferecido novo repertório gráfico. A

eficácia positiva do programa Handwriting Without Tears[R] program (Olsen, 1998)

para o ensino da escrita de alunos autistas da educação infantil foi comprovada neste

trabalho.

Conclusão

Há um consenso nos artigos revisados, todos discorrem que o TEA possui

características peculiares que expressam déficits no desenvolvimento das habilidades

sociais, comunicativas e comportamentais que comprometem sua educação, de certa

forma, este fato pode ter impulsionado a elaboração de pesquisas neste segmento, ainda

que se apresentem de maneira discreta.

A preferência dos pesquisadores por propostas de intervenção, seja para

implementar, testar ou avaliar, traz à luz a necessidade de uma prática, qual seja, o

desenvolvimento de programas e procedimentos educacionais que efetivem a

aprendizagem deste alunado, a facilitação do trabalho do professor, oportunizando a

inclusão integral do alunado TEA. Os resultados testados empiricamente demonstram a

eficácia das propostas de intervenções para o ensino.

Evidenciou-se no presente levantamento pouquíssima produção científica no que

tange a educação do sujeito autista e embora haja predominância de implementação,

teste e avaliação de programas para o ensino-aprendizagem destes sujeitos, esta prática

demanda mais pesquisas empíricas para que somente assim interfira numa prática

abalizada atualmente pela insegurança. A complexidade da patologia, a dificuldade de

implementar métodos diferenciados e o despreparo dos professores podem ter

influenciado nesta pífia produção.

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Deduz-se que a pouca produção científica acerca da educação do aluno TEA

causa um impacto negativo à prática de ensino, isso pode ser percebido tanto na

elaboração de leis, já que, a produção, ao dar indícios de necessidades práticas exerce

influência direta na criação de dispositivos que a regularize, quanto na sala de aula, pois

reflete sobre a ação pedagógica dos professores, que pouco preparados, buscam nos

artigos científicos - principal ferramenta atualmente na disseminação do conhecimento

sobre o assunto - subsídios empiricamente comprovados para sua prática de ensino.

Neste mote, cabe salientar ainda que os próprios resultados de pesquisas podem

subsidiar na formação de professores, propiciando discussões sobre as mais diversas

possibilidades de ensino ao aluno autista, que de acordo com este levantamento tem

sido observado e apontado nas pesquisas como um dificultador na efetivação da

inclusão deste alunado.

Diante disso, ao adotar o materialismo cultural em conformidade com os

pressupostos de Williams (1980) considerou-se impraticável a dissociação da linguagem

e significação para o apontamento de uma problemática. Mais que isso, por meio desta

base teórica foi possível descrever o funcionamento cultural na sociedade atual acerca

do tema que, ao abalizar esta produção material para análise e crítica, tenta fazer

emergir novos valores e significados, já que não se trata apenas do apontamento do que

se falam nas pesquisas, mas considerar aquilo que não se fala ou pouco se fala.

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