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7º SIMPÓSIO BRASILEIRO SOBRE COLHEITA E TRANSPORTE FLORESTAL - SIF 61 BAMBU MATÉRIA PRIMA DO SÉCULO 21 Eloy Fassi Casagrande Jr 1 1 PhD - Programa de Pós-Graduação em Tecnologia - PPGTE / CEFET-PR. E-mail: [email protected] Em 1882, Thomas Edison usou o bambu Madake carbonizado como filamento de 0,3 mm para o bulbo da primeira lâmpada elétrica. O bulbo ficou aceso por um tempo aproximado de mil horas, demonstrando o quão durável é a fina fibra e intensa a energia produzida pelo bambu. Em 1907, Santos Dumont usou uma estrutura de bambu para construir o Demoiselle. O Taj Mahal, o Palácio do Amor, na Índia, teve a estrutura de sua abóbada substituída por metal recentemente, depois de ser sustentada por mais de 350 anos por bambu. Bambu usado em estrutura na arquitetura portuguesa do Século 18 – Ouro Preto, MG POR QUE BAMBU? O Brasil conta com a maior di- versidade e o mais alto índice de flo- restas endêmicas de bambu em toda a América Latina: são mais de 130 espécies, representando 32% das espécies da América Latina, e 17 gêneros ou 85%, sendo que os Es- tados de São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Bahia e Paraná, possuem a maior diversidade de florestas de bambu. Sua versatilidade, flexibilidade, resistência e durabilidade o trans- forma numa alternativa sustentável para substituir vários produtos sinté- ticos usados pela nossa sociedade.

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BAMBUMATÉRIA PRIMA DO SÉCULO 21

Eloy Fassi Casagrande Jr1

1 PhD - Programa de Pós-Graduação em Tecnologia - PPGTE / CEFET-PR. E-mail:[email protected]

Em 1882, Thomas Edison usou o bambuMadake carbonizado como filamento de 0,3 mm parao bulbo da primeira lâmpada elétrica.

O bulbo ficou aceso por um tempo aproximadode mil horas, demonstrando o quão durável é a fina fibra eintensa a energia produzida pelo bambu.

Em 1907, Santos Dumont usou uma estrutura de bambupara construir o Demoiselle.

O Taj Mahal, o Palácio do Amor, na Índia, teve a estrutura de suaabóbada substituída por metal recentemente, depois de ser sustentadapor mais de 350 anos por bambu.

Bambu usado em estrutura na arquitetura portuguesa do Século 18– Ouro Preto, MG

POR QUE BAMBU?O Brasil conta com a maior di-

versidade e o mais alto índice de flo-restas endêmicas de bambu em todaa América Latina: são mais de 130espécies, representando 32% dasespécies da América Latina, e 17gêneros ou 85%, sendo que os Es-tados de São Paulo, Minas Gerais,Santa Catarina, Bahia e Paraná,possuem a maior diversidade de florestas de bambu.

Sua versatilidade, flexibilidade, resistência e durabilidade o trans-forma numa alternativa sustentável para substituir vários produtos sinté-ticos usados pela nossa sociedade.

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O bambu é uma espécie cicatrizante, tem um sistema radicularrizomatozo (caule subterrâneo) que protege o solo contra erosão e ou-tras calamidades.

O bambu cresce em média 30% mais rápido do que as espécies deárvores consideradas como de rápido crescimento, e graças a esse cres-cimento vigoroso, seu rendimento em peso por hectare ao ano é 25 ve-zes maior que o da madeira;

As espécies se dividem em alastrantes e toceirantes, sendo que doponto de vista agrícola, sua cultura é economicamente viável por serperene e produzir colmos assexualmente, ano após ano, sem necessida-de de replantio, com grande rendimento anual por unidade de área;

Do ponto de vista ecológico, o bambu consome menos energia epode substituir o aço em vigas, colunas de concreto e placas de fibro-cimento (alternativa para o amianto em vias de ser proibido no Brasil).

Fonte: JANSSEN (1990) citado por VÉLEZ (2001.P.155)

Material Energia (MJ/m3 por N/mm2)Aço 1.500Concreto 240Madeira 80Bambu 30

Quadro 1 – Consumo Energético por Material

PRODUTIVIDADECalcula-se que o bambu Guadua angustifolia obtido de uma área

plantada em um hectare de terra oferece um rendimento anual de 22 a44 ton métricas;

O bambu é uma planta classificada como C4, de alta absorção decarbono, o que contribui para o equilíbrio ambiental;

Estudos na Índia demonstram que se utilizar o bambu em substitui-ção à madeira, 1/4 das suas necessidades podem ser supridas, 11.000hectares de floresta podem ser poupadas a cada ano, e pode-se gerar1.200 novos empregos para a população extremamente pobre.

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BAMBU E A PESQUISA CIENTÍFICA NO BRASILA estrutura do bambu pode ser encarada como sendo um material

compósito constituído, a grosso modo, de fibras longas e alinhadas decelulose imersas em uma matriz de lignina.

Khosrow Ghavami; Albanise B. Marinho, Propriedades físicas e mecânicas do colmointeiro do bambu da espécie Guadua angustifolia. Rev. bras. eng. agríc.ambient., vol.9 no.1, Campina Grande, Jan./Mar. 2005.

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BAMBU – TECNOLOGIA SOCIALProjeto Bambu: A academia vai a comunidade / capacitaçãoBanco Real / UNISOL / CEFET-PRFazenda Rio Grande, PR.

Mosso (Phyllostachys pubescens)

Lúcio Ventania / Bambuzeria Cruzeiro do Sul – Bamcruz, MGMais de 50 bambuzerias organizadas em

forma de cooperativa no Brasil gerando traba-lho e inclusão social.

20 adolescentes retirados da favela fabri-cam brindes de bambu – Bambuzeria Brasil /Bamcruz, Belo Horizonte.

Portadores dedeficiência física sãoreintegrados.

Bambuzeria Capricho: gera mais de 85postos de trabalho Bamcruz / Instituto do

Bambu, Alagoas

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ALTERNATIVAS CONSTRUTIVAS

CASA SOCIAL, COLOMBIAEstudos na Colômbia demonstram que se pode obter até 1.300 va-

ras de guadua por hectare, sendo que a partir de cinco anos haveriamaterial básico para se construir 10 casas de 60 m2 por ano.

(Arq. Mario Alvarez Urueña, Plantemos bambu - guadua paracosechar casas )

Simon VelezCusto: US$4.000,00

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VIVIENDAS DEL HOGAR DE CRISTOViviendas del Hogar de Cristo (VHC) é uma NGO de Guayaquil,

Equador que usa 300,000 colmos de bambu anualmente para construircasas para famílias em estado de extrema pobreza. Em mais de 30 anosde existência, a VHC já construiu mais de 100.000 casas.

As casas tem uma área de 4.80 x 4.90m = 23,52 m2 e são construídasa um custo de US$450,00 (metade de custo é subsidiado pelo governoe as famílias pagam US$4,00 por mês sem juros durante três anos.

BAMBU - ESTRUTURAS

Estacionamento do Zoológico de Liepzig, Alemanha

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Pavilhão ZERI – Simon Velez, Colombia

Ponte de Bambu - Jörg Stamm, Colombia

BAMBU - ESTRUTURAS - BRASIL

Boate Kozumel, RJ Memorial Indígena, MS

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BAMBU NA CONSTRUÇÃO CIVILConstruções com estruturas de bambu puderam suportar o terre-

moto na região de Armênia, na Colômbia, em 1999.Construções em concreto não resistiramSistema BaharequeConstrução em encostas na ColômbiaReforços estruturaisBambucretoProf. Krosrow Ghavami, PUC-RJ

BAMBU LAMINADO – MERCADO CERTO E ALTAPRODUTIVIDADE

O piso laminado de bambu é flexível, de baixo custo e sua texturanatural é muito atrativa. É altamente resistente a riscos, pressão e umida-de e eficaz como isolante acústico;

Na China, existem mais de 100 fábricas produzindo cerca de 10milhões de m2 por ano que exportam seu produto para EUA, Japão eEuropa;

São 3.8 milhões de ha de florestas de bambu plantadas para atendera demanda de produtos.

Sistema Bahareque Bambucreto

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BAMBU + DESIGN = VALOR AGREGADO

BAMBU ASSOCIADO A OUTROS MATERIAIS

Troféu Prêmio Banco Real /UnisolPatricia Peralta & Eloy Casagrande

Michael McDonough’s

Bambu + fibra de aço carbonoCraig Calfee

Bambu + resíduos de madeiraPaulo Dias

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CARVÃO DE BAMBU – ALTERNATIVA ECONÔMICAE AMBIENTAL VIÁVEL

No Brasil, cerca 2/3 das madeirasutilizadas na produção de carvão sãoprovenientes de matas nativas.

O poder calorífero do bambu, igualou superior às espécies de florestasenergética (pinus e eucalipto), e sua

capacidade de renova-ção, caracterizam essaplanta como fonterenovável de energia.

O carvão de bam-bu tem propriedadesbactericidas e em países asiáticos é utilizado

para purificar a água, tratar esgoto doméstico e como produto anti-mofoe anti-odor.

BAMBU E O COMÉRCIO INTERNACIONALCalcula-se que o comércio do bambu e ratan movimenta cerca de

US$14 milhões anualmente (INBAR)

Quadro 2 – Producción de Bambú en el mundo

Pais productor Valor exportación u$ 2001 ParticipacionChina 600.000.000 43.70%India 300.000.000 21.90%Filipinas 200.000.000 14.60%Taiwán 150.000.000 10.90%Indonesia 121.000.000 8.80%Colombia 1.500.000 0.10%

Fuente: Centro Regional de Productividad e Innovación del Cauca, Cámara de Comerciodel Cauca, Corporación para la Reforestación de la Cuenca del Río Palo. Colômbia,Septiembre de 2003

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PAPEL DE BAMBU – MAIS RESISTÊNCIA EPRODUTIVIDADE

O bambu tem fibra longa, de 3 a 4 milímetros de comprimento, oespaço vazio dentro da fibra, é estreito, quando as fibras se acumulampara a produção do papel elas não se esmagam, mas mantêm sua forma,resultando num papel poroso e resistente*;

A produção de polpa de bambu gasta menos 10% de celulose doque as madeira;

Para o Instituto do Bambu - InBambu, de Alagoas, se bambuzaisnativos que ocupam 40% do Estado do Acre fossem explorados paraproduzir papel, renderiam US$ 14 milhões anuais. No caso de laminadoso ganho seria 30% maior, gerando mais empregos, porém maisespecializados.

PAPEL DE BAMBU – RESISTÊNCIA ERENTABILIDADE

A única cultura comercial do bambu no Brasil é para a produção decelulose. A Itapagé S.A, empresa do grupo João Santos, tem plantadomais de 80 mil ha da espécie Bambusa vulgaris no Maranhão;

Sacos de cimento, caixas de sabão em pó, de chocolates, de filtrosde café, de sanduíches do McDonalds, de produtos da Natura e deoutras embalagens são feitas de papel de bambu;

A empresa fabrica 6,5 mil t/mês entre kraft plano e cartões.

* Antonio Ludovico Beraldo, (Unicamp) e Anísio Azzini, Instituto Agronômico (IAC), ‘Bambu- características e utilizações‘, Edit. Agropecuária de Guaíba.

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PORQUE DESENVOLVER A CADEIA PRODUTIVA DOBAMBU NO BRASIL PARA GERAR ECONOMIA

SUSTENTÁVELArtesanato

Um levantamento realizado pelo Ministério do Desenvolvimento em2002, mostra que o artesanato no Brasil movimenta cerca de R$28 bi-lhões por ano, o que corresponde a 2,8% do PIB;

A renda gerada pelo artesanato supera a de indústrias tradicionais,como vestuário (2,7%) e bebidas (1%). E chega próximo à de uma dasmais tradicionais indústrias brasileiras, a automobilística, responsável porpouco mais de 3% do PIB;

Segundo a Organização Mundial de Turismo, enquanto a indústriaautomobilística precisa de R$170 mil para gerar um emprego, com ape-nas R$50 é possível garantir matéria-prima e trabalho para um artesão.

Design

O Brasil possui um bom desenvolvimento de design em móveis eoutros produtos, o que seria um fator de competitividade a ser explora-do como um diferencial dos produtos de bambu asiáticos.

PORQUE DESENVOLVER A CADEIA PRODUTIVA DOBAMBU NO BRASIL PARA GERAR ECONOMIA

SUSTENTÁVELAgricultura: Diversidade e produtividade

O bambu tolera solos ácidos com baixa fertilidade, longos períodosde seca, sobrevive em associação com as floresta e pode ser usado narecuperação de áreas degradadas. Um programa para plantio de bambuem pequenas e médias propriedades e em áreas de assentamento é umasaída para a agricultura no país --- média de colheita dos colmos de 5anos. Logicamente, o programa deve estar associado a pesquisa e aodesenvolvimento tecnológico.

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Setor madeireiroHá algum tempo o setor da madeira está preocupado com o ́ apagão

florestal´ no país. A produção de bambu laminado poderia aliviar a pres-são no setor como alternativa economicamente viável.

Habitação popularSeu baixo custo poderia ajudar a suprir o déficit habitacional no Brasil

de 7.2 milhões de unidades, segundo o Ministério das Cidades.

PROJETO BAMBU – DESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL E GERAÇÃO DE RENDA

Umezawa & Casagrande, 2002

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