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CULTURA Banksy, o grafiteiro antissistema, entra num palácio de Roma ‘Guerra, Capitalismo e Liberdade’ reúne 150 obras na maior exposição do artista de rua já realizada Exposição com obras do grafiteiro reacende o debate sobre a mercantilização de suas obras Roma - 25 MAI 2016 - 00:01 CEST ARTE URBANA PABLO ORDAZ Um visitante em frente a várias versões de ‘Love Is in The Air’ (Flower Thrower)’ no palácio Cipolla./ ERNESTO RUSCIO (GETTY IMAGES) / QUALITY

Banksy, o Grafiteiro Antissistema, Entra Num Palácio de Roma _ Cultura _ EL PAÍS Brasil

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Banksy, o grafiteiro antissistema, entra numpalácio de Roma‘Guerra, Capitalismo e Liberdade’ reúne 150 obras na maiorexposição do artista de rua já realizada

Exposição com obras do grafiteiro reacende o debate sobre amercantilização de suas obras

Roma - 25 MAI 2016 - 00:01 CEST

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PABLO ORDAZ

Um visitante em frente a várias versões de ‘Love Is in The Air’ (Flower Thrower)’ no palácio

Cipolla./ ERNESTO RUSCIO (GETTY IMAGES) / QUALITY

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Estão lá os velhos aerossóis tremendo sob o pó. Cerca de 150 obras de

Banksy, o enigmático desenhista de rua, aquele cujo rosto e verdadeira

identidade continuam sendo um mistério, estão expostas num museu do

centro de Roma (Itália), entre os palácios do poder e da moda, protegidas

por um arco de segurança à prova de grafiteiros descontentes com o rumo

mercantilista de uma arte nascida para protestar usando os muros de

fábricas abandonadas. A exposição, batizada de Guerra, Capitalismo e

Liberdade, é a maior já organizada sobre o artista que despontou em Bristol

(Reino Unido) nos anos oitenta. Reúne algumas de suas peças mais

conhecidas – por exemplo, a da menina com um balão em forma de coração

e a do manifestante encapuzado lançando um ramo de flores – procedentes

de coleções privadas, nenhuma arrancada dos muros.

A exposição começou nesta terça-feira, dia 24, e fica

aberta até 4 de setembro no palácio Cipolla (Vía del

Corso, 320). Ok, mas será que Banksy , quem quer que

seja ele, participou ou está ciente da mostra? “Não posso

responder a essa pergunta”, diz um dos organizadores.

O mundo da arte está cheio de fantasmas, mas nenhum

com o pedigree de Banksy. Além da qualidade de suas

obras e do compromisso de seus argumentos, há um

grande mistério sobre sua identidade, que a

Universidade Queen Mary de Londres tentou desvendar

meses atrás. Os pesquisadores realizaram um estudo

com técnicas policiais nos mais de 140 lugares onde Banksy deixou alguma

obra. A conclusão: trata-se de um inglês de 42 anos chamado Robin

Gunningham. Mas não puderam encontrá-lo.

  

“Você acha que ele está aqui? Pode ser qualquer um de nós”, diz Filippo, um

romano de 28 anos que acaba de pagar os oito euros (cerca de 31 reais) do

valor reduzido da entrada para contemplar a obra de quem durante anos foi

um herói a imitar. Já não é esse herói? Filippo pensa na resposta. “Já não

tanto”, conclui. “É um debate que surge com frequência entre os que

também se dedicam ao grafite, sejam os ocasionais, como eu, ou os que o

fazem de maneira quase profissional, como Blu [um dos grafiteiros italianos

mais conhecidos]. Um grafite dentro de um museu é como um leão na jaula

de um zoológico.”

“Um grafite dentro de um museu é como um leão na jaulade um zoológico”

Enquanto passeia com alguns colegas pelas imaculadas salas da exposição –

cada uma com seu atento guarda de segurança –, Filippo diz que os

‘Applause’, 2006. Obra de Banksy exposta na mostra ‘Guerra, capitalismo e liberdade’. /VINCENZO

PINTO (AFP)

desenhos de Banksy, como o leão cativo, continuam mantendo a beleza, mas

perderam o afã transgressor, a denúncia e o perigo, a adrenalina da incursão

noturna e clandestina. Até os grafiteiros espanhóis que Arturo Pérez-Reverte

entrevistou para escrever O Franco-Atirador Paciente diziam que “os

verdadeiros grafiteiros não tentam expor em galerias”. Depois de tê-lo

admirado tanto, eles o criticam por ter se vendido a “marchands poderosos,

a casas de leilões, a críticos de arte absolutamente venais que participam

dos lucros do sistema”, segundo declarou o veterano correspondente de

guerra.

Banksy é um vendido? Acoris Andipa, um galerista londrino especializado em

sua obra, diz que “Banksy não gosta da dimensão comercial da circulação de

suas peças”. Em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, Andipa

afirma que a exposição de Roma foi organizada com a condição de que no

título não figurasse o nome de Banksy para, na medida do possível, tirar o

“sabor comercial”. Mas o certo é que a mostra – dividida em três temas:

guerra, capitalismo e liberdade – não se diferencia de qualquer outra

exposição convencional, tendo inclusive uma loja onde as técnicas de

mercado souberam domesticar aqueles primeiros grafites sobre os trens e

muros de Bristol em camisetas e xícaras de café.

Stefano Antonelli, um dos organizadores da mostra, diz que o sucesso de

Banksy está na simplicidade de suas mensagens: “A guerra é algo errôneo. O

capitalismo sem árbitros provoca grandes danos. A liberdade não é como

havíamos imaginado.

VIZINHO DE VAN GOGH E VELÁZQUEZ

Há alguns meses, o grafiteiro italiano Blu, um dos mais prestigiosos do mundo

e cuja identidade também se desconhece, decidiu arrancar das paredes de

Bolonha alguns de seus murais para evitar que integrassem a exposição Street

Art. Banksy&Co. A Arte em Estado Urbano. Em sua página na internet, onde

podem ser vistas fotos de suas obras, o artista explicou que alguns de seus

colaboradores tinham jogado tinta cinza sobre seus desenhos para evitar que

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se prestassem “ao grotesco paradoxo representado pela arte de rua dentro de

um museu”. Uma fronteira, a que separa a rua dos museus, já cruzada por

Banksy faz tempo e que, apesar das críticas de seus pares, permitiu que suas

obras chegassem a conviver, por exemplo, com as de Rembrandt e Van Gogh

no novo Museu de Arte Moderna de Amsterdã. Sob uma perspectiva radical, a

irrupção de Banksy num palácio de Roma pode ser vista como a capacidade

do capitalismo de fagocitar as críticas e transformá-las em produtos de

mercado. Mas também como a possibilidade de atrair aos museus um público

mais jovem e despertar sua curiosidade pela arte. Agora, Banksy é vizinho de

Velázquez em Roma. Na mesma Via del Corso, a poucos metros do palácio

Cipolla, está a galeria Doria Pamphilj. Uma de suas salas abriga o retrato do

papa Inocêncio X, que provocou grandes filas quando foi exposto no Museu do

Prado e que aqui permanece solitário, quase esquecido, na maior parte do dia.

Quando se fala em enigmas, não há comparação entre o que encerra o olhar

que Velázquez desenhou no rosto de Giovanni Battista Pamphili (1574-1655) e

o que se esconde sob o pseudônimo de Banksy. Quando o Papa contemplou

seu rosto no quadro de Velázquez, exclamou: “Demasiadamente verdadeiro!”

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