Barroco No Brasil

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Barroco no BrasilO Barroco foi introduzido no Brasil por intermdio dos jesutas. Inicialmente, no final do sculo XVI, tratava-se de um movimento apenas destinado catequizao. A partir do sculo XVII, o Barroco passa a se expandir para os centros de produo aucareira, especialmente na Bahia, por meio das igrejas. Assim, a funo da igreja era ensinar o caminho da religiosidade e da moral a uma populao que vivia desregradamente.Nos sculos XVII e XVIII no havia ainda condies para a formao de uma conscincia literria brasileira. A vida social no pas era organizada em funo de pequenos ncleos econmicos, no existindo efetivamente um pblico leitor para as obras literrias, o que s viria a ocorrer no sculo XIX. Por esse motivo, fala-se apenas em autores brasileiros com caractersticas barrocas, influenciados por fontes estrangeiras (portuguesa e espanhola), mas que no chegaram a constituir um movimento propriamente dito. Nesse contexto, merecem destaque a poesia deGregrio de Matos Guerrae a prosa do padreAntnio Vieirarepresentada pelos seus sermes.Didaticamente, o Barroco brasileiro tem seu marco inicial em1601, com a publicao do poema picoProsopopeia, de Bento Teixeira.Conhea a seguir os trechos selecionados:ProsopopeiaI

Cantem Poetas o Poder Romano,Sobmetendo Naes ao jugo duro;O Mantuano pinte o Rei Troiano,Descendo confuso do Reino escuro;Que eu canto um Albuquerque soberano,Da F, da cara Ptria firme muro,Cujo valor e ser, que o Ceo lhe inspira,Pode estancar a Lcia e Grega lira.

II

As Dlficas irms chamar no quero,que tal invocao vo estudo;Aquele chamo s, de quem esperoA vida que se espera em fim de tudo.Ele far meu Verso to sincero,Quanto fora sem ele tosco e rudo,Que per rezo negar no deve o menosQuem deu o mais a mseros terrenos.

Esse poema, alm de traar elogios aos primeiros donatrios da capitania de Pernambuco, narra o naufrgio sofrido por um deles, o donatrio Jorge Albuquerque Coelho. Apesar de os crticos o considerarem de pouco valor literrio, o texto tem seu valor histrico pois foi a primeira obra do Barroco brasileiro e o marco inicial do primeiro estilo de poca a surgir no Brasil.

AutoresGregrio de Matos Guerra: o Boca do Inferno Gregrio de Matos Guerra nasceu em Salvador (BA) e morreu em Recife (PE). Estudou no colgio dos jesutas e formou-se em Direito em Coimbra (Portugal). Recebeu o apelido de Boca do Inferno, graas a sua irreverente obra satrica.

Gregrio de Matos firmou-se como o primeiro poeta brasileiro: cultivou a poesia lrica, satrica, ertica e religiosa. O que se conhece de sua obra fruto de inmeras pesquisas, pois Gregrio no publicou seus poemas em vida. Por essa razo, h dvidas quanto autenticidade de muitos textos que lhe so atribudos.

O poeta religiosoA preocupao religiosa do escritor revela-se no grande nmero de textos que tratam do tema da salvao espiritual do homem. No soneto a seguir, o poeta ajoelha-se diante de Deus, com um forte sentimento de culpa por haver pecado, e promete redimir-se. Observe:Soneto a Nosso SenhorPequei, Senhor, mas no porque hei pecado,Da vossa alta clemncia me despido;Porque quanto mais tenho delinquidoVos tem a perdoar mais empenhado.Se basta a voz irar tanto pecado,A abrandar-vos sobeja um s gemido:Que a mesma culpa que vos h ofendido,Vos tem para o perdo lisonjeado.Se uma ovelha perdida e j cobradaGlria tal e prazer to repentinoVos deu, como afirmais na sacra histria.Eu sou, Senhor a ovelha desgarrada,Recobrai-a; e no queirais, pastor divino,Perder na vossa ovelha a vossa glria.O poeta satricoGregrio de Matos amplamente conhecido por suas crticas situao econmica da Bahia, especialmente de Salvador, graas expanso econmica chegando a fazer, inclusive, uma crtica ao ento governador da Bahia Antonio Luis da Camara Coutinho. Alm disso, suas crticas Igreja e a religiosidade presente naquele momento. Essa atitude de subverso por meio das palavras rendeu-lhe o apelido de "Boca do Inferno", por satirizar seus desafetosTriste BahiaTriste Bahia! quo dessemelhanteEsts e estou do nosso antigo estado!Pobre te vejo a ti, tu a mi abundante.A ti tricou-te a mquina mercante,Que em tua larga barra tem entrado,A mim foi-me trocando e, tem trocado,Tanto negcio e tanto negociante.O poeta lricoEm sua produo lrica, Gregrio de Matos se mostra um poeta angustiado em face vida, religio e ao amor. Na poesia lrico-amorosa, o poeta revela sua amada, uma mulher bela que constantemente comparada aos elementos da natureza. Alm disso, ao mesmo tempo que o amor desperta os desejos corporais, o poeta assaltado pela culpa e pela angstia do pecado. mesma d. ngelaAnjo no nome, Anglica na cara!Isso ser flor, e Anjo juntamente:Ser Anglica flor, e Anjo florente,Em quem, seno em vs, se uniformara:Quem vira uma tal flor, que a no cortara,De verde p, da rama fluorescente;E quem um Anjo vira to luzente,Que por seu Deus o no idolatrara?Se pois como Anjo sois dos meus altares,Freis o meu Custdio, e a minha guarda,Livrara eu de diablicos azares.Mas vejo, que por bela, e por galharda,Posto que os Anjos nunca do pesares,Sois Anjo, que me tenta, e no me guarda.

O poeta erticoTambm alcunhado de profano, o poeta exalta a sensualidade e a volpia das amantes que conquistou na Bahia, alm dos escndalos sexuais envolvendo os conventos da cidade.Necessidades Forosas da Natureza HumanaDescarto-me da tronga, que me chupa,Corro por um conchego todo o mapa,O ar da feia me arrebata a capa,O gadanho da limpa at a garupa.Busco uma freira, que me desemtupaA via, que o desuso s vezes tapa,Topo-a, topando-a todo o bolo rapa,Que as cartas lhe do sempre com chalupa.Que hei de fazer, se sou de boa cepa,E na hora de ver repleta a tripa,Darei por quem mo vase toda Europa?Amigo, quem se alimpa da carepa,Ou sofre uma muchacha, que o dissipa,Ou faz da mo sua cachopa.

Padre Antnio VieiraPadre Antnio Vieira nasceu em Lisboa, em 1608, e morreu na Bahia, em 1697. Com sete anos de idade, veio para o Brasil e entrou para a Companhia de Jesus. Por defender posies favorveis aos ndios e aos judeus, foi condenado priso pela Inquisio, onde ficou por dois anos.Padre Antnio Vieira, por Arnold van Westerhout (1651-1725)

Responsvel pelo desenvolvimento da prosa no perodo do barroco, Padre Antnio Vieira conhecido por seus sermes polmicos em que critica, entre outras coisas, o despotismo dos colonos portugueses, a influencia negativa que o Protestantismo exerceria na colnia, os pregadores que no cumpriam com seu ofcio de catequizar e evangelizar (seus adversrios catlicos) e a prpria Inquisio. Alm disso, defendia os ndios e sua evangelizao, condenando os horrores vivenciados por eles nas mos de colonos e os cristos-novos (judeus convertidos ao Catolicismo) que aqui se instalaram. Famoso por seus sermes, padre Antnio Vieira tambm se dedicou a escrever cartas e profecias.Mito do SebastianismoCom o desenvolvimento do mercado martimo, Portugal vivenciou um perodo de asceno e grandeza. Porm, com o declnio do comrcio no Oriente, Portugal viveu uma crise econmica e dinstica. Como consequncia, o ento rei de Portugal D. Sebastio resolve colocar em prtica seu plano de organizar uma cruzada em Marrocos e levando batalha de Alcacer-Quibir em 1578.A derrota na batalha e seu dedesaparecimento (provvel morte em batalha), gerou especulaes acerca de seus paradeiro. A partir de ento, originou-se a crena de que o rei retornaria para transformar Portugal novamente em uma grande potncia econmica. Padre Antnio Vieira era um dos que acreditavam no Sebastianismo e, mais adiante, Antnio Conselheiro anunciava o retorno de D. Sebastio nos episdios da Guerra de Canudos.Os sermesEscreveu cerca de duzentos sermes em estilo conceptista, isto , que privilegia a retrica e o encadeamento lgico de ideias e conceitos. Esto formalmente divididos em trs partes:Intrito ou Exrdio: a apresentao, introduo do assunto.Desenvolvimento ou argumento: defesa de uma ideia com base na argumentao.Perorao: parte final, concluso.

Seus sermes mais mais famosos so:Sermo da Sexgsima (1655):O sermo, dividido em dez partes, conhecido por tratar da arte de pregar. Nele, Padre Antnio Vieira condena aqueles que apenas pregam a palavra de Deus de maneira vazia. Para ele, a palavra de Deus era como uma semente, que deveria ser semeada pelo pregador. Por fim, o padre chega concluso de que, se a palavra de Deus no d frutos no plano terrreno a culpa nica e exclusivamente dos pregadores que no cumprem direito a sua funo. Leia um trecho do sermo:Ecce exiit qui seminat, seminare. Diz Cristo que "saiu o pregador evanglico a semear" a palavra divina. Bem parece este texto dos livros de Deus o s faz meno do semear, mas tambm faz caso do sair:Exiit, porque no dia da messe ho-nos de medir a semeadura e ho-nos de contar os passos. (...) Entre os semeadores do Evangelho h uns que saem a semear, h outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear so os que vo pregar ndia, China, ao Japo; os que semeiam sem sair, so os que se contentam com pregar na Ptria. Todos tero sua razo, mas tudo tem sua conta. Aos que tm a seara em casa, pagar-lhes-o a semeadura; aos que vo buscar a seara to longe, ho-lhes de medir a semeadura e ho-lhes de contar os passos. Ah Dia do Juzo! Ah pregadores! Os de c, achar-vos-eis com mais pao; os de l, com mais passos: Exiit seminare. (...) Ora, suposto que a converso das almas por meio da pregao depende destes trs concursos: de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender a falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador, ou por parte de Deus? (...)Sermo pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda(1640):Neste sermo, o padre incita os seguidores a reagir contra as invases Holandesas, alegando que a presena dos protestantes na colnia resultaria em uma srie de depredaes colnia. Leia um trecho do sermo:Se acaso for assim o que vs no permitais e est determinado em vosso secreto juzo, que entrem os hereges na Bahia, o que s vos represento humildemente, e muito deveras, que, antes da execuo da sentena, repareis bem, Senhor, no que vos pode suceder depois, e que o consulteis com vosso corao enquanto tempo, porque melhor ser arrepender agora, que quando o mal passado no tenha remdio. Bem estais na inteno e aluso com que digo isto, e na razo, fundada em vs mesmo, que tenho para o dizer. Tambm antes do dilvio estveis vs mui colrico e irado contra os homens, e por mais que No orava em todos aqueles cem anos, nunca houve remdio para que se aplacasse vossa ira. Romperam-se enfim as cataratas do cu, cresceu o mar at os cumes dos montes, alagou-se o mundo todo: j estaria satisfeita vossa justia, seno quando ao terceiro dia comearam a boiar os corpos mortos, e a surgir e aparecer em multido infinita aquelas figuras plidas, e ento se representou sobre as ondas a mais triste e funesta tragdia que nunca viram os anjos, que homens que a vissem, no os havia.Sermo de Santo Antnio (1654):Tambm conhecido como "O Sermo dos Peixes", pois nele o padre usa a imagem dos peixes como smbolo para fazer uma crtica aos vcios dos colonos portugueses que se aproveitavam da condio dos ndios para escraviz-los e sujeit-los ao seu poder. Leia um trecho do sermo:Vs, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que faam na terra o que faz o sal. O efeito do sal impedir a corrupo; mas quando a terra se v to corrupta como est a nossa, havendo tantos nela que tm ofcio de sal, qual ser, ou qual pode ser a causa desta corrupo? (...) Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes? Nunca pior auditrio. Ao menos tm os peixes duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e no falam. Uma s cousa pudera desconsolar o Pregador, que serem gente os peixes que se no h-de converter. Mas esta dor to ordinria, que j pelo costume quase se no sente (...) Suposto isto, para que procedamos com clareza, dividirei, peixes, o vosso sermo em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas atitudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vcios. (...) RESUMOO Barroco: sculo XVIICONTEXTO HISTRICO- Contrarreforma;- Renascimento.CARACTERSTICAS- Conflito entre corpo e alma;- Passagem do tempo;- Cultismo e conceptismo;- Figuras de linguagem.PRINCIPAIS AUTORES- Bento Teixeira;- Gregrio de Matos Guerra;- Padre Antonio Vieira.