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Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet Shore

Bianca no. 8

 

Cristina partiu para Kampili, na África, para se casar com seu noivo,Martim. Mas foi forçada a interromper a viagem e se hospedarna casa de Dominic, médico de Ugadu, durante os três mesesque duram as chuvas torrenciais na África quatorial. !esse

meio tempo ela, que tam"ém era médica, ficou a#udandoDominic no hospital, e a convivência com aquele homem t$o

sedutor fe% com que Cristina sentisse uma forte atraç$ose&ual por ele. 'oi a( que um verdadeiro inferno começou)

decidir entre seus dois amores. *ual deles seria o homem quesatisfaria os seus dese#os mais secretos+

  Este Livro faz parte do LivrosFlorzinha,

sem fins lucrativos e de fãs para fãs. A

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Entre dois amores“Tropical ospital!

"uliet #hore

$i%italizado& 'aléria

(orri%ido& Andréia

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/artin, bem entendido, não aceitaria a e+plica$ão de bom grado. :ndagariase os outros passageiros tinham perdido igualmente o vapor e ela seriafor$ada a admitir que não, que somente ela se atrasara para o embarque.

 — 0uer di"er que somente você se enganou sobre o horário de partida. —

insistiria /artin, infle+&vel.*la acabaria confessando que ficara deslumbrada com tudo que avistara em'ue" — era sua primeira viagem ao e+terior — e que perdera por isso ahora do embarque. As pessoas que conhecera foram simpatic&ssimas e elaficara fascinada com a bele"a de /assa;a depois dos dias passados sob oc(u t#rrido e escaldante do mar ermelho. 6erdera três dias, em conse-quência de sua desaten$ão, enquanto aguardava que a companhia de nave-ga$ão providenciasse um outro camarote no pr#+imo vapor, um cargueiro,

 por sinal, que se dirigia a <an"ibar. 6ara falar a verdade, Cristina gostoumuito mais da viagem no cargueiro do que no navio de passageiros com arcondicionado nos camarotes e comida de primeira. =oi somente quando onavio atracou em /ombasa, uma semana depois, que ela ouviu di"er que aschuvas de verão tinham chegado com quin"e dias de antecedência aqueleano, e que as estradas do interior estavam intransitáveis, inclusive para os

 !ipes. >air#bi era a última cidade onde as estradas eram asfaltadas ou, pelomenos, recapadas.As estradas para ampili eram asfaltadas ou não?eorge, que se encontrara com Cristina em /ombasa, e+plicou que al-gumas estradas eram boas e que outras eram ruins. *le lembrou, por(m, a

ordem que recebera de /artin3 levar Cristina para ampili no pra"o maiscurto poss&vel. 'e ela tivesse chegado no dia em que era aguardada, nãoteria encontrado atoleiros nas estradas e a viagem teria transcorrido semmaiores problemas.Cristina foi despertada de seu devaneio melanc#lico pela vo" e+citada doguia que caminhava alguns passos na frente. *le apontou com a mão direita

 para o rio de águas barrentas que cortava o caminho que estavam seguindo. — A ponte caiu — anunciou eorge. — As águas transbordaram do leito earrastaram a ponte embora!

 >a outra margem do rio havia uma estrada em bom estado que se perdia nadist2ncia. Certamente era a rodovia constru&da pelo e+(rcito para seu uso

 pr#prio. *ntretanto, como o rio tinha uns cinquenta metros de largura e aságuas estavam caudalosas em consequência das chuvas torrenciais queca&ram durante a semana, ele não podia ser atravessado facilmente por um

 barco a remo. A rodovia do outro lado parecia ser algo impraticável e&nacess&vel.

 — *ra aqui a ponte de Ugadu? — perguntou Cristina desanimada. — *ra essa a ponte — confirmou eorge. —  Ugadu está a uns três

quil#metros daqui. Agora estamos numa enrascada. patrão vai berrarcomigo por causa de nossa demora.

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Bianca no. 8

 — Com você não * s# comigo que ele vai ficar zangado, eorge. 0ueculpa você tem? =ui eu que me atrasei mais do que devia e vou dei+ar isso

 bem claro. >ão se preocupe.eorge por(m não pareceu muito tranquili"ado com a e+plica$ão. Conti-

nuou olhando fi+amente para o rio inundado, perguntando a si mesmo seera poss&vel atravessá-lo de alguma maneira. 1ina ficou com pena do guiaafricano, /artin tinha preparado tamb(m um roteiro para eorge e reco-mendou que fosse seguido 8 risca. s roteiros de /artin não levavam emconsidera$ão os caprichos do momento, nem os incidentes imprevis&veis.Cristina estava muito deprimida e desanimada no momento para refletircom mais calma sobre a personalidade do noivo, mas prometeu que voltariaa isso na primeira oportunidade.

 — eorge, como não podemos atravessar o rio de !eito nenhum, acho boma gente providenciar um lugar para passar a noite. *+iste algum hotel ouhospedaria aqui por perto? 0ualquer um. >ão precisa ser lu+uoso...

 — @otel, aqui? — repetiu eorge com uma risadinha nervosa. — A mo$aestá sonhando. A nica coisa que e+iste é um abrigo na reserva. *u possocondu"i-la at( lá e depois voltar para apanhar o !ipe onde n#s o dei+amos. 

 — 6erfeito amos em frente, antes que escure$a.A reserva tinha, de fato, uma esp(cie de garagem para #nibus no meio dafloresta, s# que não havia nenhum Bnibus ali, o galpão de tábuas era abertode um dos lados. >o momento, o enorme barracão servia apenas

 para proteger os via!antes das chuvas torrenciais que desabavam repentina-

mente, com muitas trovoadas e rel2mpagos.)m grupo de negros estava abrigado ali quando 1ina e eorge entraramcom as malas nas mãos.

 — 5oa tarde, pessoal — disse Cristina, procurando conquistar a simpatiados negros.

 >ingu(m respondeu. uas mulheres que estavam cochichando em vo" bai+a olharam uma para outra e ca&ram na risada. Cristina sentou-se emcima da mala e olhou em volta com curiosidade. As árvores de maior porte

 pareciam contentes com o aguaceiro3 as folhas estavam lavadas, brilhantes

de vi$o, e tinham as ra&"es alagadas. )m ribeirão de águas barrentas corrialentamente por entre a vegeta$ão cerrada. >o interior do barracão havia umcheiro forte e en!oativo de roupas molhadas, de couro mofado, misturadoao aroma acre de suor e de urina.6ouco depois, feli"mente, o c(u limpou pela terceira ve" aquele dia e osraios do sol atravessaram as nuvens ralas e bateram de cheio no topo dasárvores copadas.Alguns negros come$aram a sair lentamente do abrigo, como se nãotivessem pressa de chegar. 6assaram na frente de Cristina sem voltar a

cabe$a, como se ela fosse uma criatura inanimada que não despertasse a

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Bianca no. 8

menor curiosidade. As duas mulheres que cochichavam no canto foram asltimas a sair do abrigo.

 — ocês falam inglês? — perguntou Cristina, com um sorriso.As duas pararam um instante, surpresas com a pergunta, sem saber o que

di"er. *m seguida, puseram as trou+as pesadas nas cabe$as e se afastaramcom uma risadinha nervosa. estiam saias amplas de algodão e andavamdescal$as, com um gingado gracioso dos quadris.1ina ficou so"inha no abrigo. eorge tinha partido algumas horas antes

 para buscar o !ipe abandonado na estrada. A noite ia cair de um momento para outro e, na frente do abrigo, erguia-se a floresta densa, escura, ondehavia provavelmente animais fero"es. 'erá que eorge ia demorar muito,

 pensou Cristina com ansiedade. *ra pouco provável que voltasse antes dameia-noite com a estrada nessas condi$%es.nde se encontrava, e+atamente?1inham via!ado uns cento e cinquenta quil#metros depois que partiram de

 >air#bi, por estradas terr&veis, at( abandonarem o !ipe atolado e decidiremcaminhar uns quin"e quil#metros a p(, a fim de procurar a tal ponte deUgadu. abrigo no meio da mata ficava a uns quatro quil#metros asudoeste do rio. Cristina procurou no mapa que /artin lhe mandara e en-controu de fato o lugar marcado com uma pequena cru" vermelha.*stava no meio de uma grande reserva, no centro da Dfrica, onde osmovimentos dos europeus eram cuidadosamente seguidos e controlados.*ra por isso que fora recebida com tanta frie"a pelos negros. 6elo visto,

ningu(m simpati"a muito com os estranhos por aquelas bandas... /as o que podia fa"er? 1inha que aguardar pacientemente a volta de eorge. >ão podia perder a cabe$a nem ficar nervosa 8 toa.* se fosse assaltada durante a noite? )m grito de mulher, no meio de umafloresta, não seria ouvido por ningu(m...A noite caiu rapidamente e as chuvas desabaram pouco depois da primeiratrovoada que sacudiu o ar e a árvore mais alta da floresta caiu ruidosamenteatingida por um raio.Cristina estava encolhida num canto, morta de susto e de apreensão, com as

mãos nos ouvidos para abafar o estrondo das trovoadas que se seguiamininterruptamente agora. *m dado momento, tomou coragem e abriu osolhos para ver o que havia em sua volta.A paisagem noturna lhe pareceu mais sinistra e amea$adora do que nunca.Ah, por que fora sair da 'anta Casa onde trabalhava para vir se meter nomeio dessa floresta tropical? Eá pelo menos sentia-se segura, protegida, eraconhecida por todos como uma m(dica compenetrada e cumpridora dosseus deveres. * aqui, embai+o desse abrigo, havia algu(m para protegê-lade um animal fero" ou de um homem com más inten$%es? >ão havia abso-

lutamente ningu(m. *stava so"inha e indefesa como nunca estivera na vida.

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Bianca no. 8

A sensa$ão de p2nico foi tão forte que ela tornou a fechar os olhos e a levar as mãos aos ouvidos num gesto instintivo de defesa.

 — 5oa noite — disse algu(m atrás dela. — que você está fa"endo aquinessa escuridão.

 >o primeiro instante, ela pensou que estava sonhando. Ao abrir os olhos, por(m, e voltar a cabe$a para trás avistou um homem alto, de cabelosloiros, sobrancelhas espessas e olhos verdes. *stava com botas de canoalto, pr#prias para o clima chuvoso dos tr#picos, e um leve aroma de fumoe+alava de sua pessoa, embora estivesse com o cachimbo apagado devidoao forte temporal que desabava sobre a floresta.

 — e onde você apareceu? — perguntou Cristina que nunca se sentiumais contente na vida de encontrar um compatriota e foi com lágrimas nosolhos que o contemplou, boquiaberta.

 — *u me chamo ominic e sou o m(dico encarregado da reserva. — 0ue coincidência *u tamb(m sou m(dica. /eu nome ( Cristina4oberts, mas os conhecidos me chamam de 1ina.

 — que você está fa"endo aqui. so"inha no meio dessa escuridão. — Ah, isso ( uma longa hist#ria. *u estava a caminho de ampili, commeu guia africano, quando chuvas torrenciais nos impediram de prosseguirviagem. /eu guia foi buscar o !ipe que largamos no meio do caminho. *uestava morrendo de medo de passar a noite aqui, sobretudo depois que ouviuma árvore ser derrubada por um raio... =oi por isso que fiquei tão contentequando você apareceu.

 — =oi meu criado que me disse que havia uma mo$a inglesa no abrigo efiquei curioso em conhecê-la.

 — Como ele soube que eu estava aqui? — uas mulheres passaram no hospital e dei+aram esse recado. — Ah, !á sei... As duas que estavam aqui no abrigo. *u perguntei a elas sesabiam falar inglês.ominic deu uma risada.

 — 4aros são os nativos que falam inglês na reserva. — e qualquer maneira, elas foram muito gentis de darem esse recado no

hospital. *u gostaria de agradecê-las na primeira oportunidade. — /ais tarde eu vou convidá-las para aparecerem no hospital. Agora vocêestá intimada a vir comigo e a passar a noite na minha casa.Cristina encarou-o com ansiedade. *stava entre dois perigos3 passar a noiteno meio da floresta, entre animais fero"es, ou na casa de um homemtremendamente simpático e atraente. 0ual era o menor risco.

 — 6assar a noite na sua casa? — repetiu, a fim de ganhar tempo. — /inha irmã mora comigo e você pode vir sem susto. >ão será a nicamulher em casa de um homem solteiro.

 — 'ua irmã tamb(m mora aqui? — *la se mudou para cá há alguns anos. *ntão, vamos?

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Bianca no. 8

 — * meu guia? *u tenho que esperar por ele. — amos dei+ar um recado com algu(m daqui. *le irá nos encontrar emminha casa.'em ter certe"a se podia ou não confiar em ominic. Cristina saiu do

abrigo e afundou mais uma ve" os p(s na lama. seguindo-o em silêncio emdire$ão ao !ipe que estava estacionado perto dali.

  CA6:1)E ::

tamborilar mon#tono dos pingos, no telhado de folhas de palmeira, erauma indica$ão vis&vel que a esta$ão das chuvas chegara mais cedo aqueleano na Dfrica equatorial. s aguaceiros dos ltimos dias não foram apenasuma advertência do que estava para virF eram tamb(m um verdadeiro desa-

 bar de águas, como se as comportas do c(u estivessem abertas sobre aquelaregião. 'omente as pessoas que !á presenciaram esses temporais, nos cli-mas tropicais, fa"em uma ideia do que são na realidade. As chuvas caemcom uma tal intensidade e um tal volume que parecem anunciar o fim domundo, o dilvio universal.*ra por isso que o pequeno hospital, que Cristina vira de longe na noiteanterior, fora constru&do em cima de pilares. *la respirou aliviada quandochegou perto da casa de ominic e percorreu o resto do tra!eto num terrenorelativamente seco, protegido da chuva por uma coberta de ti!olos. Ali pelomenos não havia lama nem po$as dGágua. epois do banho quente, en+u-

gou-se vigorosamente na toalha comprida e come$ou a ver as coisas commais otimismo. estiu roupas limpas e dirigiu-se 8 sala de estar, a fim dereunir-se aos donos da casa.ominic estava sentado numa poltrona quando ela entrou e observou-acom vis&vel satisfa$ão. 0uando a vira pela primeira ve" no abrigo, no meioda floresta, encolhida num canto, tr(mula de medo, Cristina estava com osolhos arregalados e uma e+pressão de desespero na fisionomia. Agora, comos cabelos ondulados, caindo sobre os ombros, e olhos a"uis muito claros,ela estava serena e bonita como se tivesse sa&do da capa de uma revista.

 — 'ua casa ( muito gostosa e o banho que tomei estava divino. *stou mesentindo outra...

 — *ssa casa fa" parte do departamento de minha irmã. /eu setor parti-cular ( o hospital que você terá ocasião de conhecer amanhã.Cristina notara, desde o primeiro instante, que ominic devia ser umm(dico compenetrado e eficiente, que não dava muita import2ncia 8s ques-t%es dom(sticas.

 — e qualquer forma, foi uma surpresa para mim encontrar uma casatão arrumada como essa no meio do mato.

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Bianca no. 8

 — )gadu não ( exatamente mato — corrigiu ominic. — H um povoadode alguns recursos, no interior do continente africano. '# o fato de ter umhospital o promove 8 condi$ão de vila.

 — esculpe, eu me e+pressei mal.

Cristina provou o aperitivo que ominic lhe serviu. — que (? — H uma bebida preparada com água de coco. *stá bom? — *stá uma del&cia. — @á milhares de hospitais rsticos nesse vasto continente, com recursosmaiores ou menores, atendidos por m(dicos de todas as ra$as e religi%es.@á também milhares de turistas que insistem em chamar as coisas pelosnomes errados.

 — *u não sou turista. *u vim aqui a trabalho. — Ah, sim? nde você pretende trabalhar? — *m ampili. — >ão ( numa cl&nica especiali"ada no tratamento de mulheres gordas eociosas que sofrem de hipocondria? — perguntou ominic com um ligeirotom de ironia na vo". — *m geral, os m(dicos que se dedicam a atividadesdesse g(nero estão decepcionados com a medicina ou simplesmenteenfastiados da e+istência...s dois se encararam com uma hostilidade vis&vel. Aliás, a agressividadeestava presente, numa forma velada, desde o primeiro encontro no abrigo.

 — *u não posso falar nada — disse Cristina, se controlando para não di"er 

um desaforo. — /eu trabalho ( com crian$as pequenas. 6elo que eu saiba,os rec(m-nascidos não sofrem de hipocondria...

 — ocê me perdoe. *u retiro o que disse. =oi provavelmente o res&duoamargo de uma antiga frustra$ão. Is ve"es eu me arrependo de não teraberto uma maternidade aqui e ter ganho dinheiro com isso. /inha irmãsempre me critica nesse sentido. *la di" que eu não tenho iniciativa para osneg#cios. 6or falar nisso, você vai conhecê-la pessoalmente. *la está vindo

 para cá. >o instante seguinte, CicelJ entrou na sala com um sorriso, olhando para

Cristina. *ra uma mulher de quarenta anos, de cabelos pretos presos noalto da cabe$a e que tinha a fisionomia serena de uma madona do renasci-mento italiano. s olhos, no entanto. eram de uma cor peculiar de verde,olhos de serpente, frios e impiedosos. *la apertou a mão de 1ina e fitou-ademoradamente, com um olhar desconcertante,CicelJ estava com um vestido cin"a de um feitio simples e despretensioso,com uma pequena gola redonda. ominic apresentou-a como a diretora dohospital.

 — ominic me contou que você estava so"inha naquele abrigo escuro...

ocê podia apanhar uma pneumonia. Eá ( muito mido. — =oi isso que eu pensei — disse Cristina com um sorriso.

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 — *u vou arrumar seu quarto.CicelJ saiu da sala enquanto os dois continuaram tomando lentamente oaperitivo que ominic tinha preparado com água de coco e aguardente decana.

 — @á um detalhe que minha irmã não comentou com você — disseominic em dado momento. — 0ual (? — >a melhor das hip#teses, sua estada aqui vai se prolongar durantealgumas semanas ou talve" meses.

 — eus me livre *u não posso ficar tanto tempo, de !eito nenhum. 1enhoque chegar a ampili o mais rapidamente poss&vel. *u tenho trabalho aminha espera e um dia de atraso !á vai criar problemas.

 — :nfeli"mente, por maior boa vontade que se tenha, ( imposs&vel atra-vessar o rio na (poca das cheias. /eu novo assistente foi for$ado a adiarsua vinda pelas mesmas ra"%es.

 — *u não posso tomar um avião? — s avi%es necessitam de campos de pouso em boas condi$%es, o quenão e+iste aqui no momento. >enhum piloto se arriscaria a descer numa

 pista que virou um atoleiro... problema ( insolvel. 6or falar nisso, voutelefonar para o outor =a"ai a fim de confirmar a data da vinda dele.

 — ocê tem telefone aqui? — amos !antar primeiro. epois vamos conversar com calma a respeitodo que você pode fa"er. *m geral, n#s costumamos !antar na varanda

fechada, por ser o lugar mais fresco da casa. Eu acho que a chuva passou.amos at( lá para ver se as estrelas estão de fora...1ina deu o bra$o a ominic e fitou-o com um sorriso cordial.

 — 'e!a paciente comigo. ominic. *u estou numa situa$ão dif&cil egostaria que você me a!udasse a resolvê-la.

 — 1em algu(m esperando você em ampili? — *+atamente. /eu noivo, que dirige a maternidade do hospital. *u nãosegui as recomenda$%es que ele me deu... a&, toda essa trapalhadaominic ouviu a e+plica$ão com um sorriso nos lábios, como se houvesse

motivo para riso, na desventura de uma !ovem m(dica perdida no interiorda Dfrica.A liga$ão telef#nica para ampili estava p(ssima. /esmo assim, Cristinaouviu perfeitamente a vo" fria de /artin no outro lado da linha e notou queele estava uma fera.

 — ocê causou um s(rio transtorno nos meus planos, com sua imprevi-dência — comentou /artin, sem demonstrar o menor interesse pela condi-$ão f&sica ou moral dela no momento. — >ão apenas você terá que perma-necer afastada daqui, durante toda a esta$ão das chuvas, como levou consi-

go um dos meus melhores a!udantes. que você pretende fa"er comeorge?

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Bianca no. 8

 — 'ei lá *u não sei nem mesmo o que vai ser de mim, quanto mais deeorge. *u gostaria que você desse uma sugestão.

 — Ah, agora você quer meu conselho? 'e você tivesse ouvido minhasrecomenda$%es e seguido 8 risca o roteiro que eu tracei, nada disso teria

acontecido. e onde você está telefonando? — e um hospital em )gadu. — e quem ( o hospital? e algum m(dico europeu? — e dois irmãos. *les são ingleses. *le se chama ominic e a irmãCicelJ.

 — >esse caso, ( melhor você ficar a& at( o fim das chuvas. 6elo menosvocê está numa atmosfera familiar.

 — *u não quero abusar da hospitalidade deles. 6refiro me hospedar num hotel.

 — >ão há hot(is decentes nessa região, Cristina. 6or outro lado, os hot(isde >air#bi são car&ssimos. lha, você fe" sua cama e terá que deitar nela.

 >ão há outro !eito.1ina levantou a cabe$a e encontrou o olhar de ominic. Ali estava ohomem que tinha o poder de solucionar seus problemas. que faria? Ape-laria para seus sentimentos humanitários. * CicelJ? 0ual seria sua rea$ão?6rovavelmente, ela preferia muito mais hospedar em casa um conhecido,do que uma pessoa totalmente estranha, que ningu(m sabia quem era nemde onde tinha vindo.

 — 1ina, você está me ouvindo? — perguntou /artin, com impaciência.

 — ocê não respondeu a minha pergunta. *u posso falar um minuto com odiretor do hospital?

 — *spere um instante — disse 1ina, cobrindo o fone com a mão. —/artin dese!a conversar com você — disse ela, estendendo o fone paraominic. — ocê pode atender seu pedido?

 — Claro, com muito pra"er.1ina saiu da sala e dirigiu-se 8 varanda envidra$ada. /inutos depois,ominic foi ao seu encontro.

 — *stá tudo resolvido. ocê pode ficar aqui o tempo que quiser. *u

conversei esse assunto com /artin e achamos que essa era a melhor solu-$ão. /inha irmã foi ao hospital e deve estar de volta dentro de uma hora.'e eu fosse você, iria direto para a cama. ocê deve estar morta de cansa$ocom as perip(cias do dia. Al(m disso, as coisas são sempre mais positivasna parte da manhã.

 >a manhã seguinte, contudo, Cristina acordou sem disposi$ão para nada.ormira mal, com o barulho irritante da chuva no telhado de "inco, semfalar no ru&do do rio que passava ao lado da casa. 0uando mergulhoufinalmente no sono profundo, estava na hora de acordar. *la esqueceu a

vene"iana aberta e foi acordada pelos primeiros raios do sol quente doverão.

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Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet Shore

Bianca no. 8

CicelJ mostrou-se ainda mais fria e austera 8 mesa do caf(. =ora informadaque Cristina ia permanecer algum tempo hospedada na casa e pelo vistonão aprovou a decisão de seu irmão.

 — ocê não acha que Cristina podia hospedar-se no chal( que reservamos

 para =a"al? — perguntou ominic, sentando-se 8 mesa. — *la ficaria mais bem acomodada. :sso ( importante, você não acha, Cristina? 1er um lugarreservado para se refugiar algumas horas por dia?

 — 'im, muito importante — concordou Cristina. — /as eu não queria dar mais trabalho do que !á dei. Ká basta o que vocês fi"eram por mim, 6or falar nisso, meu noivo pediu para lhe agradecer, especialmente sua acolhida,CicelJ.

 — ocê está noiva? *u não sabia. — *u estava via!ando para encontrar com ele em ampili, quando essaschuvas atrapalharam meus planos. >#s pretendemos nos casar at( o fim doano.

 — *stá vendo, CicelJ? ocê não tem motivo para se preocupar comigo.Cristina não tem a inten$ão de lhe roubar o irmão.

 — *u nunca pensei que tivesse — disse CicelJ, com vivacidade — Como você pode di"er uma coisa dessa, sem saber primeiro se Cristinasimpati"ou com você, seu convencido de marca maior?

 — ominic foi muito gentil comigo — interveio Cristina com um sorriso. — 'e não fosse por ele, eu estaria at( agora naquele abrigo na floresta,morrendo de medo de ser atacada por um animal fero".

 — *stá vendo? H s# você, mana, que não dá valor ao seu irmão. Cristinaencontrou o olhar de ominic, e abai+ou a cabe$a, diante de suae+pressão ir#nica.

 — A conversa está boa mas está na minha hora — disse CicelJ levantando-se da mesa. — ocê não quer conhecer o hospital, Cristina?

 — *u tenho uma sugestão melhor — interrompeu ominic. — Cristina pode tomar provisoriamente o lugar de =a"al. Assim, ela terá com que seocupar, enquanto estiver aqui, e não correrá o risco de morrer de t(dio comessa permanência for$ada em )gadu.

  CA6:1)E :::

Com um avental branco que ficava folgado em seu corpo. Cristina seguiu a pequena comitiva que acompanhava ominic na sua ronda matutina pelasdiversas alas do hospital. 1odos os presentes, com e+ce$ão de doiseuropeus, eram africanosF mesmo assim, a atmosfera era de um hospitalcomo em qualquer cidade do mundo. @avia o cheiro habitual de produtosanti-s(pticos, de (ter, de iodof#rmio. A roupa de cama era branca e estava

impecavelmente limpaF o uniformes das enfermeiras, por sua ve", estavam

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imaculadamente engomados e as vo"es que se ouviam nos corredores eramabafadas e cerimoniosas.At( mesmo os pacientes pareciam ter sido esfregados e escovados como olin#leo que cobria o chão. s ventiladores estavam ligados e davam uma

sensa$ão de brisa refrescante nos quartos e nos corredores. *mbora Cristinaestivesse suando em bicas, não podia negar que soprava um ventinho gos-toso no rosto. outor i;a, bra$o direito de ominic, era natural do 0u(nia. A irmãencarregada da se$ão feminina viera do Congo, ap#s ter fugido de ládurante as reviravoltas sociais que seu pa&s atravessou. >a ala dos homens,Cristina foi apresentada 8 irmã /ustafa. uma !ovem de olhos negros e peleesplêndida, natural do 0u(nia, filha de pais paquistaneses.

 — 5om dia, irmã — disse ominic, e+aminando a ficha de um paciente pendurada na cabeceira do leito. — >ão houve nenhum progresso sens&velat( agora. amos ter que tomar medidas mais drásticas.

 — que ele tem? — perguntou Cristina, em vo" bai+a. — *le sofre de elefant&ase. ocê !á viu essa doen$a horr&vel? — >ão, nunca.A um sinal da cabe$a, a irmã retirou o len$ol que cobria a perna do

 paciente. Cristina fe" um esfor$o para disfar$ar seu espanto. A perna dohomem estava inchada desproporcionalmente, como se fosse a perna de umelefante. Cada um dos dedos perdera a forma pr#pria e se tornara umaesp(cie de massa espon!osa. Al(m da aparência medonha, a perna e+alava

um odor insuportável, embora os curativos fossem trocados diariamente. — 0uando ( poss&vel aliviar a circula$ão a tempo, a perna volta ao normal — e+plicou ominic. — infeli"mente, esse paciente demorou muito parareceber o tratamento adequado. Agora o p( está gangrenado. amos ter queamputá-lo sem demora.ominic e sua pequena comitiva iam passar ao leito seguinte, quando elese- voltou para Cristina com o rosto apreensivo.

 — que foi? >ão está se sentindo bem.Cristina estava branca como cera e prestes a ter uma vertigemF respirava

com dificuldade enquanto tentava manter o equil&brio. — >ão foi nada, está passando — disse, procurando evitar o cheirohorr&vel de carne putrefata, apesar de todo seu treino nos hospitais da :ngla-terra.lhar para aquele escorrimento esverdeado na perna do paciente era hor-r&vel. >unca tinha visto nada parecido na vida. 1alve" não fosse ainda umam(dica cem por cento, a despeito do diploma que possu&a. 1ratara de paci-entes que estavam completamente desenganados, mas nunca tinha visto al-gu(m apodrecendo na sua frente. espetáculo era medonho demais para

sua sensibilidade.

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 >o leito seguinte, estava um paciente com uma doen$a igualmente hedi-onda. >um lado da perna havia um arame prateado no qual estava enroladoum fio de nJlon. *ra um fio aquilo? 6erto do arame, a carne inflamadae+alava um odor f(tido de pus.

 — amos pu+ar um pouco mais — disse ominic indo lavar as mãos na pia. — ê-lhe a &n!e$ão de morfina, i;a. — *le fe" sinal com a cabe$aem dire$ão a Cristina. — *sse ( o verme da uin(. s ovos estão debai+oda pele e 8s ve"es, o bicho cresce at( quin"e cent&metros ou mais. >#s

 pu+amos o verme para fora, uns dois cent&metros de cada ve", at( ele saircompletamente.

 — 6or que você não mata o verme primeiro e depois pu+a para fora? — ocê !á tentou arrancar um corpo estranho de um tecido vivo? pobrecoitado botaria a boca no mundo. Ká ( e+tremamente doloroso dessa forma,imagina então tirar tudo de uma ve".

 — /as ele podia ser anestesiado — insistiu Cristina, — ocê di" ser cortado como uma fatia de bolo? )ma opera$ão dessasenvolve um risco muito grande de infec$ão. >ão me diga que você ( adeptada facaominic voltou ao leito do paciente que estava sonolento ap#s ter recebidoa in!e$ão de morfina que i;a aplicara. 1ina acompanhou os demais,sentindo-se profundamente ferida com o comentário anterior de ominic.*la não era absolutamente uma Ladepta da facaL como ominic comentaraironicamente e ficou magoada de ser descrita nesses termos.

arame prateado foi virado lentamente de um lado para o outro e um novo peda$o do verme foi retirado do abscesso formado na perna. homemgemeu em vo" bai+a e fechou os olhos sonolentos. ominic fe" umae+clama$ão de triunfo.

 — *stá vindo, pessoal amos pu+á-lo todo para fora Aguente firme, meuvelho rabo está aparecendo...

 >o instante seguinte, o verme foi desenrolado e e+aminado atentamente para se ter certe"a que nenhuma parte fora dei+ada no interior da perna. Airmã /ustafa recebeu ordem de limpar a ferida e fa"er o curativo com

antibi#ticos, uma ve" que não podiam mais afetar o parasita que era a causado sofrimento do paciente.ominic tinha ra"ão, evidentemente, pensou 1ina no seu canto. *la nãodevia ter feito nenhum comentário, ominic entendia melhor do assuntoque ela. *le era um especialista em doen$as tropicais. s pacientes o vene-ravam como um pai e lhe dedicavam uma lealdade a toda prova.Cristina não abriu mais o bico enquanto visitou os outros leitos da enfer-maria. *stava agora imune ao choque inicial e e+aminou atentamente umrapa" que fora curado da lepra e que fitava os presentes com dois olhos

afundados nas #rbitas. *m lugar do nari", tinha dois orif&cios no rosto, por

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onde respirava. s lábios tamb(m estavam completamente deformados peladoen$a.

 —  Jambo — e+clamou ominic com um sorriso. — 'am ( da 1an"ánia efala s;ahili. *le veio para cá a fim de se recuperar e ficar forte, antes de

fa"er uma s(rie de opera$%es plásticas em >air#bi. — >#s não tratamos a lepra aqui — e+plicou a irmã. — @á um hospital para esses casos especiais a uns setenta quil#metros daqui. s pacientesque recebem alta são orientados e encaminhados para uma cl&nica de defei-tos da face.

 — 0ue maravilha — e+clamou um m(dico !ovem que fa"ia parte da pequena comitiva de ominic. — 'am voltará a ter uma aparência normal,como antes?

 — Certamente. s membros feli"mente estão intactos. cirurgião plástico poderá remover tecido das pernas para en+ertar no rosto. 'am terá um novonari" e os olhos serão recolocados no local anterior. A cirurgia plásticaopera milagres...Aquela noite CicelJ subiu mais cedo para o quarto, quei+ando-se de um

 pouco de dor de cabe$a. — *la não precisa de nada? — perguntou Cristina quando ficou a s#s comominic na sala de estar.

 — >ão, !a está habituada com essas en+aquecas. *la levou a bande!a decomida para o quarto, !untamente com as revistas da semana. *la tem comque passar o tempo. *nquanto isso. vamos !antar os dois num téte-à-tête.

Cristina afastou um fio de cabelo que ca&a na testa. — epois de tudo que presenciei durante o dia. creio que não estou emcondi$%es de conversar animadamente.

 — Covarde ocê está querendo evitar minha companhia. *u a intimido, por acaso? ocê tem receio que eu saia da linha? — >ão, não ( isso. 'eria absurdo pensar isso*ntretanto, foi e+atamente esse absurdo que aconteceu minutos depois.0uando ela voltou a si de sua surpresa, estava sendo abra$ada e bei!adacom fria por ominic. 1omada, ao mesmo tempo, de sentimentos confu-

sos de revolta e de perple+idade, Cristina foi for$ada a reconhecer que os bei!os dele fa"iam sua cabe$a girar alucinadamente. *la sentiu-se feminina,indefesa, vulnerável nos bra$os dele. =a"ia tanto tempo que não via /artin,que não se lembrava mais do gosto que tinham os bei!os na boca.

 — * prefer&vel enfrentar o perigo do que fugir — disse ominic com orosto s(rio. — ocê temia que isso acontecesse... 6ois bem, agora aconte-ceu e podemos esquecer o incidente e tratar de coisas mais importantes.

 — *u realmente não sei o que pensar... ocê me assaltou, praticamente, edepois me di" para esquecer o que aconteceu 'e eu pudesse sair daqui, iria

embora nesse instante.

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ominic observou-a com aten$ão. Cristina estava corada, ofegante e muitoatraente, com os cabelos soltos, caindo sobre o rosto.

 — *u prometo que isso não vai acontecer de novo. A menos que vocêqueira. '# assim você se sentirá mais segura na minha companhia.

 — ocê ( insuportável, com seu ar de superioridade — *u sei disso. =a" parte do meu charme ou da minha falta de charme.como você preferir. *u não me sinto 8 vontade, quando estou na companhiade mulheres !ovens. 1alve", durante nosso conv&vio for$ado, você poderáme ensinar os bons modos e a boa educa$ão. 6or minha ve", vou introdu"i-la em alguns aspectos mais incomuns da medicina.Cristina ouviu o comentário em silêncio, sem se pronunciar a favor nemcontra. *la se lembrava da gafe que cometera no hospital e não queriaincorrer no mesmo erro uma segunda ve". ominic era um m(dico e+tre-mamente competente, isso era inegável.

 — ocê ficou abalada com o que viu ho!e? — )m pouco. — ocê não esperava ver um paciente com lepra e outro com o verme dauin( na perna. 0uem sabe se não era dessa realidade que você queriafugir, mais do que de mim?

 — *u me controlei para não fugir. A despeito de sua opinião sobre mim,digo que eu não sou covarde.

 — ocê estaria disposta a provar que não (? — Claro que sim. Como?

 — Come$ando a trabalhar amanhã no hospital. Com seus conhecimentosde anestesia, você poderá ser muito til na sala de opera$%es.Cristina ficou um instante pensativa, de cabe$a bai+a.

 — 6or que não? Ká que sou obrigada a permanecer aqui, contra minhavontade, ( prefer&vel trabalhar do que ficar 8 toa. Amanhã, você disse? Aque horas?ominic segurou-a pelo quei+o e for$ou-a a encará-lo, como se quisessefelicitá-la por sua decisão. Cristina fi+ou-o no fundo dos olhos, sem sentirmais apreensão com seu contato f&sico.

6elo visto, o bei!o trocado entre os dois dissipara as tens%es que pairavamno ar carregado da noite tropical.

  CA6M1)E :

 >a manhã seguinte, Cristina recebeu a lista de opera$%es programadas paraaquele dia no hospital. =inalmente, ela ia pBr em prática seus conheci-mentos de anestesista, adquiridos nos hospitais de Eondres.

 — ocê poderá nos dar uma mão — disse ominic, quando ela o procurou

na sua sala. — i;a em geral nos a!uda, mas ele prefere a cl&nica 8 sala deopera$%es. Como estão seus conhecimentos de patologia?

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 — *u sei apenas o que aprendi na faculdade. >#s t&nhamos equipesespeciali"adas, no hospital onde eu fi" um estágio. 1odos eram muito ciu-mentos de seus departamentos pr#prios e não gostavam da presen$a deestranhos.

 — *u sei como são essas coisas. >o fundo ( uma atitude rid&cula. >oshospitais daqui, os m(dicos devem fa"er um pouco de tudo, da cl&nica geral8 cirurgia. 1alve" se!a por isso que não nos especiali"amos em nenhumassunto.1ina ouviu o comenlário de ominic em silêncio, embora pensasse consigoque ele devia se !ulgar um grande especialista em diversos assuntosm(dicos. 6elo menos, era essa a impressão que dava.

 — i;a vai prosseguir no trabalho de classifica$ão sangu&nea. *u sugiroque você o a!ude, para refrescar a mem#ria. Aqui está uma lista demedicamentos e da dura$ão das opera$%es que vamos reali"ar na parte damanhã. 'e você tiver alguma sugestão, ( s# di"er. *stamos aqui paraaprender...ominic fe" uma pequena inclina$ão e afastou-se com um sorriso. 1ina nãosabia se ele estava falando a s(rio ou de brincadeira.eorge chegou nas primeiras horas da manhã e recebeu o recado para

 procurá-la em casa de ominic. eorge trou+e no !ipe o resto da bagagem.1ina podia agora vestir seu uniforme branco, no tamanho certo, sem ter que

 pedir emprestada a roupa de CicelJ.eorge ficou ligeiramente decepcionado, quando ela sugeriu que ele cui-

dasse da casa, na condi$ão de copeiro e de motorista. — /eu patrão me dei+a trabalhar no hospital — quei+ou-se eorge. — *usou seu bra$o direito. 'omente as mulheres e os moles trabalham em casa.

 — *scute, eorge, eu não posso lhe dar um trabalho no hospital daqui. >#s dois temos que nos adaptar da melhor maneira poss&vel, durante essasitua$ão de emergência. >esse meio tempo, eu sugiro que você trabalhe emcasa. 'ua obediência ( mais importante para mim que sua boa vontade.Certo.

 — A patroa ( quem sabe — disse eorge, sem muita convic$ão. epois de

come$ar a trabalhar no hospital com ominic, 1ina passou a sentir-se maisanimada e bem disposta. Eogo fe" ami"ade com i;a e a!udou-o a tirarsangue dos nativos a fim de classificá-lo segundo os tipos sangu&neos. *ramais divertido trabalhar no hospital do quê fa"er papel de turista de

 passagem. epois de passar algumas horas diante do microsc#pio,classificando os grupos sangu&neos, 1ina fe" uma visita ao paciente quesofria de elefant&ase. homem fora informado pela enfermeira que a pernaseria amputada do !oelho para bai+o e mostrou-se admiravelmentecora!oso. 1ina notou que os nativos tinham uma confian$a cega em omi-

nic, cu!o nome na reserva era Byatnbura, o que significa rande 5falo,

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um animal muito estimado e temido pelos africanos, tanto quanto por suacoragem e for$a f&sica como sua carne suculenta.

 >a hora prevista, ominic entrou na sala de opera$ão acompanhado de sua pequena equipe. A sala era imaculadamente limpa, embora fosse um forno.

6or bai+o do telhado primitivo, de folhas de palmeiras, havia umacobertura de folhas de "inco, que mantinha o ar do ambiente abafado equente a maior parte do ano. @avia entradas de ar no forro, mas não chega-vam a refrescar a sala. CicelJ fa"ia parte da equipe e estava presente 8opera$ão.

 — *m geral, eu dou uma mão"inha a meu irmão — comentou ela. — Agente tem que fa"er um pouco de tudo. Aqui não há lugar para especiali"a-$%es nem preferências.

 —*u estou vendo ocê está com saudade da :nglaterra? — /ais ou menos. *u me adapto em qualquer lugar. 6ara falar sincera-mente, eu não gosto nem um pouco da Dfrica, mas gosto do meu trabalhono hospital.

 — paciente está pronto? — interveio ominic. — 6enso que sim — respondeu Cristina. — 0uando você tiver certe"a, me avise. *u não vou operar a perna antesque tudo este!a preparado convenientemente. — paciente está pronto para ser operado, doutor — disse Cristina comdecisão, corando embai+o da máscara que cobria parte do rosto.*la sentiu-se como uma estudante do primeiro ano na presen$a do mestre.

Arrependeu-se de ter respondido distraidamente 8 pergunta que lhe foi feitae de ter dado oportunidade a ominic de corrigi-la diante dos outros.6rometeu a si mesma prestar mais aten$ão 8s palavras dele no futuro.ominic era infal&vel? >unca tinha cometido um erro, ou um simples enga-no, na sua carreira m(dica? 'e fosse assim, não estaria trabalhando num

 pequeno hospital, coberto com folhas de palmeiras, numa cidade perdidano cora$ão da Dfrica. *staria, em ve" disso, num dos mais modernos hos-

 pitais de Eondres, onde seu nome seria pronunciado com respeito pelosestudantes e colegas de trabalho.

epois da primeira incisão na perna do paciente. 1ina passou a prestar maisaten$ão no que se desenrolava diante dos seus olhos e se esqueceu de seus

 problemas pessoais. — Como está o pulso? — perguntou ominic em dado momento. — *stá ligeiramente abai+o do normal. — :sso ( natural. *u vou soltar as art(rias durante um instante. iga-me,quando ocorrer melhora na pulsa$ão. *u não quero correr o risco de umahemorragia. '# preciso de mais alguns minutos para costurar os talhosabertos.

epois de alguns minutos, como o pulso apresentasse melhoria, ominic passou a fechar os vasos sangu&neos e uniu as grandes veias e art(rias.

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 — Agora vou costurar o corte — disse por fim. — =eli"mente o pacienteestá reagindo bem e não perdeu muilo sangue. 4emova o balde com a

 perna amputada, enfermeira. >ão vamos empestiar a sala de opera$ão. Afi-nal, essa perna não pertence a mais ningu(m.

6ela primeira ve". 1ina sentiu o odor nauseabundo de carne em decom- posi$ão na sala de opera$ão. 6ossivelmente o cheiro era acentuado pelocalor e encobria o aroma dos antiss(ticos usados durante a opera$ão.

 balde foi despe!ado no incinerador mas o mau cheiro perdurou durantealgum tempo ainda. *m dado momento, Cristina viu dois m(dicos de aven-tal branco na sua frente, depois quatro. =inalmente, não viu mais nada. 'eultimo gesto, antes de cair sem sentidos no chão, foi levar a mão 8 cabe$a.0uando ela voltou a si, segundos depois, ominic estava debru$ado sobreseu corpo e abanava o rosto com um leque improvisado.

 — *stá melhor? — que foi? *u desmaiei? — ocê teve seu batismo de sangue. ocê tinha que passar por isso, maiscedo ou mais tarde. >ão se levante ainda escanse mais um pouco erespire pausadamente. >#s vamos terminar isso aqui num minuto e lhedaremos toda nossa aten$ão.

 — =oi aquele cheiro horr&vel — comentou 1ina com CicelJ, na hora doalmo$o. — *u nunca desmaiei antes na vida e olha que trabalhei mais deum ano em salas de opera$%es.

 — :sso ( natural. ocê não teve tempo ainda para se adaptar ao clima

daqui. É muito quente, especialmente na esta$ão das chuvas. A gente sesente mole depois do almo$o, sem vontade para nada.

 — *u não entendo como isso foi acontecer comigo. *u sou forte como umtouro. *u me sinto como uma perfeita idiota por ter desmaiado desse !eito. que ominic falou?

 — ocê sabe como ( ominic... >a opinião dele, as mulheres são maisfracas que os homens. 'empre. *le gosta das mulheres femininas, frágeis,vulneráveis. A noiva dele ( desse tipo. engosa e mimada como uma gataangora.

1ina ficou intrigada com a informa$ão. *ntão, o infal&vel e impass&veloutor ominic se dei+ara prender nas teias de uma criatura e+tremamentefeminina e meiga? >esse caso, ele era um homem como os outros, concluiu1ina, com um certo despeito.

 — 0uem ( que se parece com uma gata angora? — perguntou ominic,ouvindo o fim da conversa.

 — *u estava falando com 1ina a respeito de elia. — Ah, bom. *ssa defini$ão se aplica perfeitamênte a eNa.como está sesentindo 1ina? /elhorou?

 — *u estou #tima — disse 1ina com frie"a. — *u não costumo desmaiar 8toa. >ão sei o que aconteceu.

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 — ocê não quer que a e+amine? — >ão, não há necessidade — >em que se!a para saber como está seu cora$ão? — /eu cora$ão está perfeito. 6ode dei+á-lo por minha conta. *u nunca

sofri desse mal — Otimo. >esse caso, vamos voltar ao trabalho.C&cPlJ olhou para 1ina com uma e+pressão interrogativa, depois queominic se afastou da sala.

 — ocê antipati"a com meu irmão? — >ão chega a tanto *u simplesmente não entendo muito bem suamaneira de ser.

 — *le vai melhorar de atitude depois que casar. '# eus sabe quanto elenecessita de uma mulher para aprender a ser mais humano. 0uando eliachegar, dentro de algumas semanas, ela vai botar tudo nos ei+os. ocê vaiver

  CA6:1)E

Cristina sentiu-se indisposta o dia todo. *ntretanto, al(m de sair para o !ardim de tempos em tempos, a fim de respirar o ar fresco, procurou ocultar sua indisposi$ão dos demais.CicelJ observou, com uma certa curiosidade, suas idas e vindas. Cristina

 !ulgou que tinha uma confidente na irmã de omimc e resolveu se abrir

com ela. — *u não sei se ( esse clima, mas estou com falta de ar e com umasensa$ão de esfogueamento que não passa.

 — :sso ( natural, no come$o. 1odos n#s passamos por isso. ocê não devetrabalhar demais nos primeiros dias. /eu irmão pensa que todo mundo (resistente como ele e não tem no$ão das limita$%es dos outros.

 — *u prefiro não comentar nada com ele, no momento. *le dese!a que euse!a mais eficiente do que !amais fui na vida. >esse ponto, pelo menos, eulhe sou grata. 1udo ( fascinante, aqui no hospital. *u s# gostaria que as

salas fossem um pouco mais ventiladas. calor lá dentro ( sufocante.6arece um forno.A temperatura de fato continuava elevada, apesar das chuvas constantesque ca&am quase todas as tardes. 0uando o sol darde!ava seus raios sobre otelhado de "inco, as pessoas que estavam lá dentro suavam em bicas e nãohavia outro !eito senão aceitar o calor com paciência. >o cinturão, em voltado rio, onde habitava a tribo machua, que plantava milho, banana, cana-de-a$car e constru&a suas casas de terra batida, cobertas de sap(, o solo negroestava come$ando a fecundar e a se cobrir com uma variedade imensa de

flores silvestres. A terra seca sorvia gulosamente a água das chuvas. 1odosos temporais eram antecedidos por trovoadas ensurdecedoras que dei+avam

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os nativos apreensivos e ligeiramente nervosos, por mais habituados queestivessem com essas e+plos%es. e" por outra, um raio derrubava umaárvore na floresta. )ma tarde, um nativo foi levado numa maca improvisa-da ao hospital por ter sido ferido pelo galho de uma árvore atingida pelo

raio.Ap#s os primeiros dias, na sala de opera$ão, 1ina habituou-se pouco a pouco com a rotina de trabalho. *m geral, !antava com CicelJ e ominicFterminado o !antar, despedia-se logo dos dois e ia para seu chal(, porquenão queria abusar da hospitalidade. Al(m disso, aproveitava as horas defolga para pBr em dia sua correspondência.As cartas eram postas no correio na parte da manhã, mas Cristina tinhadvida quanto 8 hora e+ata da entrega. A fim de esclarecer esse assunto deuma ve" por todas, ela voltou uma noite 8 sala de estar e parou surpresa nocorredor quando ouviu os dois irmãos conversarem a seu respeito.

 — ocê está abusando de sua boa vontade. ominic. *la não está acos-tumada a trabalhar tanto assim. ocê viu como ela está abatida?

 — >ão, não notei nada. @o!e, pelo menos, ela trabalhou normalmente, semse matar. 6or que você di" isso. *la se quei+ou com você?

 — >ão, não falou nada, mas eu tenho a impressão de que ela está um pouco tensa. ocê devia perceber isso melhor do que ningu(m.1ina pensou afastar-se dali, na ponta dos p(s, mas não resistiu 8 curiosidadede ouvir um pouco mais.

 — 6erceber o quê? >ão entendo onde você quer chegar. )m m(dico tem

que aceitar com coragem as situa$%es duras da carreira. Cristina ( forte etem estrutura para aguentar o tranco. 6elo menos ( a impressão que me dá.

 — *u não estou me referindo a isso. — *u confesso que não entendo nada. — assunto é delicado. >#s nunca falamos sobre isso antes. — *ssa será a primeira ve" então. >ão se acanhe por minha causa. igaclaramente o que você pensa.

 — >ão lhe parece evidente? — >ada ( evidente para mim. Abra o !ogo.

 — ocê lembra como Cristina ficou aflita quando soube que devia per-manecer aqui durante a esta$ão das chuvas? *la dese!ava chegar o maisrapidamente poss&vel a ampili, a fim de combinar o casamento com onoivo.

 — At( a&, não ve!o nada de mais. — * você não achou estranho ela ter desmaiado na sala de opera$ão? *unotei que ela anda meio indisposta ultimamente. >ão lhe ocorre nada?@ouve um silêncio na sala, durante o qual 1ina podia ouvir as batidas doseu cora$ão.

 — Continue — disse ominic por fim. — Ah, não se fa$a de sonso ocê está me provocando. ocê sabe

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 perfeitamente do que se trata. — amos falar claramente. >a sua opinião, Cristina está grávida. Hisso?

 — *+atamente.

 — *u sinto di"er que sua dedu$ão ( completamente falsa. >ão há nenhumind&cio de gravide". — Como não?1ina não quis ouvir o fim da conversa. Apareceu no canto da varanda, semolhar para CicelJ, dirigiu-se a ominic.

 — esculpe interromper a conversa, mas eu queria um favor seu. *u vouescrever uma carta para /artin e precisava de um selo. ocê podia mearrumar?

 — 6ois não. @á uma folha de selos na gaveta da c#moda, bem como umvidrinho de cola. s selos aqui não têm cola, como você !á deve ter perce-

 bido.1ina apanhou o selo e o vidrinho de cola na gaveta da c#moda e retirou-seda sala. *la estava agradecida a ominic por ter defendido sua reputa$ão,embora ele não pudesse saber que fa"ia mais de um ano que ela não seencontrava com /artin. Agora sabia em quem podia confiar naquela casa.CicelJ, apesar de sua atitude liberal e compreensiva, não inspirava muitaconfian$a. ominic. no entanto, era um homem de toda confian$a, emboraa tratasse 8s ve"es de maneira rude e pouco educada. /ais uma ve" elaconstatou que as aparências enganam.

=oi essa a conclusão a que chegou ao despedir-se dos dois e voltar para seuchal(.

 >a semana seguinte. eorge foi transferido para o hospital a fim de e+ercer a fun$ão de porteiro e vigia noturno. *le estava sorridente e feli" com suanova atividade. trabalho dom(stico não era realmente de seu gosto. 1inaempregou, em lugar de eorge, um adolescente africano que tinha oapelido curioso de Chefão. garoto pertencia a uma fam&lia antiga daregião que fora bem-sucedida nos ltimos anos. *le gostava de falar dostios ricos que moravam atualmente no litoral.

 — 0uer di"er que você não nasceu aqui? — *u venho do sertão. *u perten$o 8 tribo massai, por parte de pai. —  E sua mãe? — /inha mãe está no +adre". — >ão me diga que foi que ela fe"? — *la andou lendo o futuro. *la di"ia quem ia morrer, quem ia casar,quem ia ter filho. E tudo acontecia como ela di"ia. *+atamente como eladi"ia. =oi então que ela disse que um pol&tico ia morrer em tal dia, 8s tantashoras. pol&tico não morreu, continuou viv&nho da silva. /amãe ficou

com medo que as pessoas desacreditassem nela P pagou um homem paraescrever uma carta para o tal pol&tico. L6or que vosmecê não morreu em tal

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dia como eu disse? *stá todo mundo desacreditando agora de mim.L  pol&tico ficou intrigado com a hist#ria e foi at( a casa de minha mãe. =e"muitas perguntas a ela. que você fa", o que você não fa"? 0uem vaimandar aqui? Aí meu pai ficou com medo. pegou um dinheiro embai+o do

colchão e disse para mim. L6u+a o carro, filho, antes que você vá para o+adre" com sua mãe,L *u andei muitos dias, sem rumo, at( ficar com os p(sdoendo. =oi então que vim parar aqui. * agora estou trabalhando na casa da

 patroa. — >ão acredite em uma palavra do que ele di" — comentou ominic queouvira uma parte da conversa. — Chefão ( bom su!eito mas adora contaruma hist#ria...Chefão deu uma risada sem !eito e dirigiu-se 8 co"inha, onde come$ou a

 preparar o almo$o. — A mãe dele lava roupa para o hospital e ele nunca saiu dessa reserva. *verdade que trabalhou na casa de um missionário e foi lá que aprendeu afalar inglês. *la gosta de contar essa hist#ria de cartomante para os turistasque passam por aqui a caminho de ampili. s turistas, naturalmente,ficam todos e+citados e pedem para conhecer a mãe dele, a vidente de)gadu.1ina caiu na risada.

 — =oi bom você ter me prevenido. *u estava come$ando a me comovercom a hist#ria.

 — Você está fa"endo alguma coisa agora?

 — >ão, por quê? ocê precisa de mim? — ocê não quer me a!udar numa cesariana? )ma menina de tre"e anosestá grávida de g(meos. 6elo !eito, um deles está morto. 6recisamos operarsem demora.

 — *stou a sua disposi$ão.1ina estava mais habituada agora com o calor sufocante na sala de opera-$ão. A pequena gestante estava no trabalho do parto quando foi levada paralá. /esmo depois de receber a anestesia, as contra$%es do abd#men aindaeram muito fortes.

 — *la tem contra$%es de quin"e em quin"e minutos — disse ominic,vestindo as luvas de láte+. — 'e andarmos ligeiro, podemos terminar aopera$ão antes da pr#+ima contra$ão. *u não gostaria que ela tivesse umaconvulsão acompanhada de hemorragia. amos dar-lhe um calmante, paraevitar qualquer surpresa.ominic continuou a fa"er comentários em vo" bai+a enquanto operava a

 parede do abd#men e e+punha o tero inflamado. — Agora vamos ver como estão as coisas aqui — disse, fa"endo umaincisão na membrana fina que reveste o tero.

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 >o interior do tero estavam dois g(meos encolhidos como duas lagartasnuma folha. )m deles tinha a cor vermelhaF o outro, no entanto, era de umacor cin"a-escuro.

 — Como eu pensava — murmurou ominic, colocando a crian$a viva em

cima da mesa, presa ainda pelo cordão umbilical. *m seguida, separou o beb( morto que !á estava nas primeiras fases de decomposi$ão, — Agora vamos limpar o tero e aplicar penicilina para evitar umainfec$ão. evemos tomar o má+imo cuidado para que isso não aconte$a.A menina-mãe foi levada para o quarto, num leito de rodas. beb( sadiofoi colocado num ber$o ao seu lado. As outras mulheres, parentes econhecidas, queriam ver e tocar no beb(, mas C&celJ proibiu terminante-mente qualquer contato f&sico nas primeiras horas.

 — Ainda bem que foi o menino que viveu — comentou ominic, lavandoas mãos na pia. — 'e fosse a menina, ela seria muito malvista pelos

 parentes e at( mesmo pela mãe. — 0ue ideia absurda — comentou Cristina com vivacidade. — *stá provado que as mulheres são melhores do que os homens em tudoominic deu um sorriso divertido.

 — lha lá o que você está di"endo — *u não me refiro a isso que você está pensando — Como você sabe o que estou pensando? — *stá na cara.ominic sorriu com o canto da boca.

 — *u vou tirar um cochilo. ocê não vai aproveitar para descansar um pouco? — Acho que sim. — /uito obrigado, por sua a!uda. ocê foi uma mão na roda. — >ão tem de quê. =oi um pra"er atender seu pedido.Cristina saiu primeiro da sala e ominic acompanhou-a em silêncio com osolhos, admirando as pernas bem feitas que ela tinha e das quais seorgulhava, com ra"ão.

  CA6:1)E :

mês passou tão depressa que 1ina mal percebeu. *ntretanto, nas páginasdo diário, estava tudo anotado, o que ela tinha feito e aprendido naquele

 per&odo. *ra como se sua carreira, que parecia um livro terminado, tivesseinaugurado um cap&tulo novo que não podia ser pulado. trabalho no hospital era fascinante como sempre. *la desempenhou asfun$%es de anestesista, fe" alguns atestados de #bito e algumas pequenascirurgias sob a supervisão de ominic.

 — A primeira apendicite que aparecer no hospital será sua — disse elecom um sorriso.

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1ina limitou-se a balan$ar a cabe$a, sem saber se ele estava brincando oufalando s(rio.As chuvas que desabavam ao entardecer, quase diariamente, ainda eram umligeiro contratempo no seu programa, mas não chegavam a incomodá-la

seriamente. A verdade ( que o hospital passara a ser um universo pequeno einteressante, onde ela vivia intensamente e aprendia um mundo de coisasque faltavam 8 sua forma$ão m(dica.epois de ouvir sem querer a conversa entre ominic e CicelJ, na varandada casa, 1ina passou a desconfiar da vo" macia e insinuante de CicelJ e

 preferiu tomar as refei$%es em casa, em ve" de fa"er companhia aos dois 8mesa do !antar. *la deu como desculpa que não queria abusar dahospitalidade deles, uma ve" que tinha uma casa pr#pria onde podia perfei-tamente co"inhar.

 — *u compreendo sua preferência — disse ominic. — *u tamb(m s# mesinto bem na minha casa, com minhas coisas.A nica coisa que incomodava a e+istência tranquila de Cristina em )galaera lembrar-se da atitude fria e cr&tica de /artin na conversa que tiveracom ele pelo telefone. 0uando pensava no casamento para breve, sentia umarrepio na espinha, apavorada com a ideia de unir-se para sempre a um totalestranho.*la se lembrava do passeio que tinha feito com /artin no dia em que elelhe pedira em casamento. 4ecordava suas dvidas e receios, a hesita$ão deabandonar uma carreira promissora para unir-se a um homem que mal co-

nhecia. *ntretantoF por fraque"a talve". acabara cedendo. que acontecera com seu amor? 6or que não se lembrava desse senti-mento !untamente com o resto? )m ano de correspondência era um pobresubstituto para o relacionamento pessoal, mas ela tinha a esperan$a deencontrá-lo em breve, logo que passasse a esta$ão das chuvas, e tomariaentão uma decisão definitiva sobre seu futuro. fato de conhecer ominic nesse meio tempo não era uma ra"ão sufici-ente para esquecer-se de /artin. motivo era outro. *la ingressara, sem

 perceber, na #rbita de ominic e não podia escapar 8 sua influência pode-

rosa. >o dia em que se despedisse dele e partisse para ampili, onde /ar-tin a esperava, voltaria sua aten$ão para outra esfera de atra$%es e poria seucora$ão no lugar certo.

 — e!a se essas botas cabem em você — disse ominic, entrando na salacom um par de botas de cano alto na mão.

 — nde vamos? 6escar no rio? — A pescaria dessa ve" ( outra — disse ominic, com uma risadinha. —amos visitar a aldeia dos machuas.

 — H muito longe daqui?

 — /ais ou menos. )ma hora, apro+imadamente. urante a esta$ão daschuvas os meninos da aldeia se tornam agitados e aprontam toda sorte de

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Bianca no. 8

travessuras. )m grupo de adolescentes resolveu travar um combate, comlan$as de verdade, para ver quem era mais forte e cora!oso. 4esultado3acabaram ferindo-se com a ponta das lan$as. *u vou dar um pulo lá paraver os estragos e aplicar algumas in!e$%es antitetánicas, se for necessário.

ocê vem comigo? — amos a p(? — H. Calce primeiro as botas. epois venha atrás de mim. nde eu pisar,você tamb(m pisa. >ão se afaste um palmo de mim. amos partir dentro deuns de" minutos. >ão se esque$a de levar seu chap(u de e+plorador.1ina ficou e+citada com a perspectiva de conhecer a aldeia dos machuas.1odos os africanos que vira, at( então, eram pacientes do hospital e seriamuito diferente — e muito mais divertido — encontrá-los na aldeia ondemoravam, com a mulher e os filhos.*la não estava lá muito elegante com as botas de cano comprido, o chap(ude e+plorador no alto da cabe$a e um casaco de couro em cima dos ombros./as, o que ia fa"er? Aquilo era uma e+pedi$ão e não um desfite de modasominic sorriu ao vê-la nesses tra!es de safari.

 — *stá pronta, doutora? 6odemos partir? — *stou 8s suas ordens.eorge ia com eles e estava muito orgulhoso de sua fun$ão, que consistiaem transportar uma mochila nas costas com todo o equipamento m(dico eos sacos de dormir./al se afastaram alguns passos da marquise do hospital, enfiaram os p(s na

lama. *mbora Cristina seguisse o conselho de ominic e caminhassecolada a ele, sem se afastar um passo de seus p(s, ela escorregou algumasve"es e foi parar no chão. >o fim de meia hora, cansada de levar uma meiad"ia de tombos, ela parou e levou a mão 8 testa suada.

 — Ainda falta muito? — *stamos quase chegando. ocê está muito pregada? — /ais ou menos. — 0uer que a leve no col#? — >ão, muito obrigada *u posso andar so"inha com meus pr#prios p(s.

 — Otimo. >esse caso, tome cuidado para não cair de novo, caso contráriovou ser obrigado a carregá-la nos ombros como uma trou+a de roupa.aqui para a frente, o caminho vai melhorar. 6rocure pisar nos ob!etoss#lidos, nas ra&"es de árvores, nos troncos quebrados. ocê pode ir nafrente, eorge. *u vou fa"er companhia a essa mo$a aqui. As mulheres sãomoles como água...1ina preferia ter recusado a companhia dele, mas no fundo ficou contentequando ominic lhe deu a mão e impediu que ela escorregasse de novo./ais adiante, eles se abrigaram embai+o de uma árvore copada at( a chuva

 passar. ominic contou a 1ina que at( há alguns anos atrás os nativostiravam veneno, para passar nas flechas, daquela mesma árvore.

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 — Agora, essa prática foi proibida pelas autoridades. *les podem, quandomuito, ca$ar e levar alimentos para os membros da tribo. s predadores lueamea$am a aldeia, ou qualquer outro animal kali, como a fêmea do elefanteque perdeu o filhote, são controlados pelo encarregado da reserva e por

seus au+iliares. — que significa kali? — H o animal que está furioso por alguma ra"ão. A fêmea que foi privadados filhotes, por acidente ou deliberadamente, torna-se kali e, muitas ve"es,tem que ser morta a tiro. rinoceronte torna-se kali quando ( assus tado

 por algum ru&do que não identifica com a vista. *le ouve o ru&do mas nãov( o ob!eto. * tomado de fria e ataca qualquer pessoa que se encontra nasua frente. A chuva está passando. amos andando?=oi s# então que 1ina notou que continuava de mãos dadas com ominicsem nenhum motivo aparente.

 — >#s vamos encontrar algum animal fero" no caminho? — 6rovavelmente não. As plan&cies e savanas estão a uns cinco quil#me-tros mais ao norte. H lá que se acham os rebanhos de animais selvagens, asga"elas, os ant&lopes, as "ebras, os elefantes. >ão há le%es nessa região.ocê s# os encontra nas colinas ao p( do iliman!aro. 6odemos, quandomuito, topar com algum casal de rinoceronte mergulhado na lama. H a& queeles procriam.Alguns minutos depois avistaram uma clareira na floresta. solo era maisfirme que a terra vermelha e escorregadia do caminho. *ra um al&vio,

caminhar na superf&cie firme e regular. ominic mostrou a 1ina algunscactos que tinham flores cor-de-laran!a e apontou para uma árvore emforma de candelabro, semelhante a uma forma$ão de estalactite no interiorde uma caverna. 0uando ouviram o borbulhar das águas do rio, a algumadist2ncia dali, tomaram uma trilha estreita que passava debai+o de árvoresenormes chamadas baobás, cu!as ra&"es lembravam pernas torcidas,enterradas na lama. As árvores eram brancas e as copas tinham sementes

 penugentas, como paineiras. 1ina imaginou que aquelas árvores deviam terum aspecto aterrori"ante de noite, com os galhos desfolhados e o tronco

torcido.s c2nticos e as batucadas ouvidas a dist2ncia eram um ind&cio seguro deque estavam se apro+imando da aldeia para onde se dirigiam.

 — s nativos estão sempre cantando e batucando. /esmo quando têmmotivo para triste"a.ominic foi recebido na aldeia com manifesta$%es de !bilo. 6elo visto, erauma figura e+tremamente popular entre os machuas.

 — 1odos aqui falam :cis;ahiti — e+plicou ominic a 1ina. — e temposem tempos, diga ambo ao avistar um nativo. Assim você ganha a estima

deles.

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Bianca no. 8

1ina não se fe" de rogada. 1oda ve" que algu(m olhava na sua dire$ão,surpreso com sua presen$a na aldeia, ela di"ia ambo, e essa sauda$ão erasempre recebida com um sorriso . Antes de tratar dos doentes, ominicreuniu-se com os homens mais velhos da tribo, no centro da aldeia.

*nquanto isso. 1ina foi condu"ida para uma cabana coberta de sap(. ondeas mulheres lhe ofereceram água para lavar as mãos e o rosto. 1ina ficousurpresa quando uma menina lhe ofereceu uma cuia com um chá de ervacidreira. gesto gracioso da adolescente contrastava claramente com a

 bravura dos meninos que lutavam de lan$as em punho para afirmar suavirilidade. *mbora os adolescentes se agredissem uns aos outros, para mostrar queeram valentes guerreiros, as meninas sabiam fa"er chá e punham uma gotade leite condensado na bebida, para torná-la mais saborosa.Cristina estava mais apresentável sem a capa de plástico, de rosto lavado ecabelos penteados, quando foi chamada por uma menina para ir ao encon-tro de ominic, que tinha come$ado a tratar dos doentes. s !ovens esta-vam reunidos no terreiro, onde ouviram um sermão sobre os perigos dainfec$ão com lan$as su!as de terra. As feridas que apresentavam sinais deinfec$ão eram lavadas e tratadas com cuidado por 1ina e ominic, todosreceberam in!e$%es antitet2nicas. s cortes mais fundos foram medicadoscom penicilina e cobertos com ga"e.

 — lha s# — e+clamou 1ina, em dado momento, ao levantar a cabe$a eavistar a fila de nativos que aguardavam a ve" de consultar o m(dico

 branco de visita 8 tribo. — >ão vamos poder voltar ho!e para casa — >ão tem import2ncia. 6odemos pernoitar aqui. Aquela cabana lá foi preparada especialmente para n#s. — ocê está brincando — e+clamou 1ina at#nita quando avistou umacabana minscula que mal dava para duas pessoas. — >#s vamos dormirali?

 — 0ue rem(dio *les não têm muita ideia de conforto nessa tribo. eorgeficará hospedado em casa de algum conhecido. ocê ficou assustada comisso?

 — '# — *ssa alian$a que você tem no dedo serve de muro de separa$ão. 'emfalar que lhe dei minha palavra que não tomaria nenhuma liberdade semseu consentimento, está lembrada? ocê está segura aqui. e qualquermaneira, vou ficar acordado at( tarde conversando e fumando com os maisvelhos da tribo. *les prepararam um banquete especial para n#s. Agora ( aesta$ão da ca$a e o menu deve estar e+celente 6rocure mostrar que vocêesta gostando de tudo e não fa$a cara feia diante dos pratos que servirem,ainda que você tenha que vomitá-los mais tarde. *ntendido?

 —0ue rem(dio

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Bianca no. 8

ominic evidentemente estava se divertindo 8s custas dela, que fa"iasempre papel de idiota na sua frente. 1ina mordeu os lábios com raiva.Agora entendia por que seus sentimentos de revolta eram tão fortes quandose encontrava a s#s com ominic *ra porque o detestava no &ntimo. Com

seu ar de superioridade, ele a fa"ia sentir-se uma perfeita tonta, umaadolescente insegura e terrivelmente rid&cula.Ah, como gostaria de estar em ampili, na companhia atenciosa e educadade /artin

  CA6:1)E ::

ominic entrou na cabana redonda e ficou surpreso com o que avistou nasua frente. )ma fileira de ob!etos — cai+as de rem(dios, botas, capasimpermeáveis de plástico, roupas avulsas — dividia a pe$a em duas meta-des. Cristina estava deitada no lado direito, enfiada no saco de dormir, s#com a cabe$a de fora. *stava terrivelmente quente no interior da cabana

 para algu(m dormir num !lee"in# ba#. — ocê está dormindo. Cristina? — perguntou om&nic, em vo" bai+a.*la murmurou alguma coisa incompreens&vel e balan$ou a cabe$a,

 — 'abe que horas são? 'ão de" horas A dan$a está come$ando agora. que deu em você? 6or que você não vem assistir 8 festa?1ina me+eu-se no saco de dormir, alagada de suor.

 — 0ue festa?

 — A festa que vão dar em nossa homenagem Eevante-se da& e venha ver oque eles prepararam. A noite está linda, o c(u coberto de estrelas, a lua estáde fora. /ais tarde você contará a seus netos que assistiu a uma festa numaaldeia machuia.

 — 1á bom. Ká vou.1ina come$ou a sair lentamente do saco de dormir, como uma borboleta docasulo.

 — *u vou virar de costas para você se vestir. — *u estou vestida.

 — 'ua louca ormir de roupa num calor desses ocê vai acordar enso- pada e com risco de pegar uma gripe. A ordem aqui ( dormir pelado.1ina ouviu a cr&tica em silêncio, sem !eito por causa de sua timide".

 — que você quer? 1udo isso é novidade para mim — disse por fim, passando os dedos entre os cabelos. — *u nunca dormi antes nessas con-di$%es.

 — 6ara que você fe" essa separa$ão? Para eu não pular por cima. ocênão entende que a melhor prote$ão da mulher ( a mod(stia natural. :sso !á (mais do que suficiente. amos *les estão esperando por você para

come$arem a dan$a.

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Bianca no. 8

)ma fogueira enorme estava acesa no meio do terreiro e os galhos secoscrepitavam quando os dois se apro+imaram. )ma passadeira de folhas de

 palmeira fora estendida no chão de terra, para os assistentes sentarem semse su!arem na fama. A lua brilhava no c(u como um medalhão de prata e o

ar noturno estava impregnado com o perfume forte da terra mida, da lenhaque queimava na fogueira, das ervas aromáticas que as mulheres usavam para temperar a comida. @avia um clima contagiante de alegria e deatividade na aldeia inteira. 1odos corriam de um lado para o outro, falavamem vo" alta, chamavam um conhecido pelo nome, e+plodiam nagargalhada. A festa era um grande acontecimento na vida da aldeia machua.

 — 'ente-se aqui — disse ominic, apontando para uma esteirinha esten-dida no chão. — *u vou dar uma volta.

 — ocê vai me dei+ar so"inha aqui? — *u vou me sentar com os homens, como manda a etiqueta. — Ah, por favor, fique comigo — 'e você insiste...ominic agachou-se ao lado dela e acendeu o cachimbo com uma delibe-ra$ão bem masculina.s cantos e os acompanhamentos de palmas, que tinham servido at( então

 para marcar o ritmo, ganharam em dado momento maior intensidade. )m bando de rapa"es, magnificamente vestidos para a ocasião, com penas nascabe$as e saiotes de folhas, entrou correndo no terreiro e come$ou a dan$ar e rodopiar em volta da fogueira, com um movimento ritmado das cadeiras e

dos ombros. — *les estão mostrando 8s mo$as que são fortes e bem-feitos de corpo —e+liicou ominic em vo" bai+a. — ocê está vendo entre as penas oscurativos que fi"emos? *les levaram a s(rio nossas recomenda$%es...s rapa"es pareciam cada ve" mais animados e os movimentos dos quadrise dos ombros se tornaram mais rápidos e fren(ticos. >o instante seguinte o

 bando das mo$as entrou no outro lado do terreiro. *las mantinham ascabe$as abai+adas e observavam os rapa"es com o canto dos olhos, comose a mod(stia as impedisse de encará-los de frente. As mo$as estavam

vestidas com saias curtas de algodão e usavam colares de váriasvoltas no pesco$o e pulseiras de contas nos bra$os. /esmo assim, nãoestavam tão magnificamente parameniadas como os rapa"es.s cantos cessaram, no instante em que os dois grupos pararam, um diantedo outro. As mo$as e os rapa"es balan$avam as cabe$as de um lado para ooutro, num movimento l2nguido, estático, como se estivessem cochilandode p( — mas ningu(m tocava no outro. e" por outra, uma !ovem batia deleve no bra$o do rapa" e esse era o nico contato que ocorria entre os doisgrupos.

 — A mo$a que toca no bra$o do rapa" está convidando-o para um encontronoturno — e+plicou ominic. — 1udo ( muito simples, você não acha?

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Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet Shore

Bianca no. 8

 — @um, bem primitivo — disse Cristina, que tinha acabado de tocar no bra$o de ominic e não queria revelar sua confusão moment2nea. — /asnão se pode chamar isso de amor...

 — 6or que não? amor afinal ( uma coisa muito simples. H composto de

atra$ão mtua, seguran$a e pra"er rec&proco. — *u pensei que isso fosse se+o. — * e+iste amor genu&no sem se+o? ocê, pelo !eito, tem ideias ocidentaisa respeito do amor, que incluem compatibilidade de temperamentos e

 posi$ão social. >ão se esque$a por(m que há muitas pessoas — e povos — que desconhecem esses valores e que se apai+onam mesmo assim uns pelos outros. — ocê gostaria de entrar na fila e esperar que uma mo$a tocasse no seu bra$o? — >ão, eu não sou um primitivo. Aliás, eu sou contra as filas em qualquercircunst2ncia. *u sou um individualista por nature"a. :sso não me impedede observar os costumes dos outros e procurar compreende-los, semnecessariamente dese!ar imitá-los.

 — ocê !á gostou de algu(m?— Já, por quê?

 — * você está gostando de algu(m no momento? — :sso ( uma pergunta ou uma afirma$ão? — esculpe minha indiscri$ão, mas eu queria esclarecer um ponto que medei+ou intrigada.

 — 0ual (? *stou pronto a esclarecê-la, se estiver dentro de minhas pos-sibilidades.

 — *u tenho a impressão que não gosto mais de /artin... — Ah, sim? — >ão ( absurdo? *ra tudo maravilhoso no in&cio e depois... sem que nem pra que, não sinto mais nada por ele — :sso ( natural. — >ão sei por que estou comentando esse assunto com você... — * bom se abrir com os outros de ve" em quando. 6or que você acha que

não gosta mais dele? — A lembran$a que guardei dele não me atrai mais como antes. *u seique isso não tem muita import2ncia, mas eu fico pensando se isso não ( ofim do amor.

 — Como não tem import2ncia? :sso ( fundamental, Cristina eus criou ohomem e a mulher para se unirem carnalmente. ocê pode ser amiga dequem você quiser, mas a intimidade e o dom do corpo são do dom&nioe+clusivo do homem que você gosta. :sso ( important&ssimo. >ão se podecasar sem isso.

 — 1alve" eu este!a atravessando uma fase de frie"a em rela$ão a /artin.*u tenho algumas amigas que passaram por algo parecido, antes do

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Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet Shore

Bianca no. 8

casamento, e que depois voltaram a amar perdidamente os maridos. >ofundo, tudo isso ( muito complicado para mim.

 — *u não poderia a!udá-la? — 1alve". ocê poderia me a!udar a tomar uma decisão. *u tenho a

impressão que você ( uma das poucas pessoas que compreende minhadvida. 6osso lhe pedir um favor? *u sei que ( meio absurdo, mas não temoutro !eito...

 — 0ual (? — ocê me daria um bei!o, para saber se eu estou atravessando uma fasede frie"a emocional?s !ovens machuas estavam pulando sobre as chamas, com as lan$aserguidas no alto e havia uma anima$ão indescrit&vel no terreiro.

 — ocê está falando teoricamente ou praticamente? — 6or favor, não fa$a disso uma questão de honra. ocê não precisa me bei!ar, se não tiver vontade. =oi apenas uma ideia que me passou pelacabe$a.

 — )m pensamento bastante agradável, por sinal. ocê não tem medo queeu perca a cabe$a? /uitas pessoas revelam suas emo$%es verdadeirasquando se bei!am pela primeira ve".

 — Ah, você está levando meu pedido na piada *u sei que você tem umanoiva chamada elia. ocê não vai esquecer sua noiva por causa de um

 bei!o *u certamente não vou sentir nada de mais, pode crer. — lha lá, Cristina ocê !á imaginou qual seria a rea$ão de /artin e de

elia se soubessem de nossa e+periência?Ao ouvir o comentário, mesclado de ironia e de cr&tica. Cristina corourepentinamente, levantou-se com um movimento brusco e correu para acabana de sap(. ominic conseguiu alcan$á-la por(m e segurou-a pelo

 pulso. — nde você vai? A festa não terminou ainda — 6ara mim !á. *u vou me deitar e !uro que não vou sair daqui antes denascer o dia. *u fi" papel de idiota e você se divertiu 8s minhas custas.

 — ocê está completamente enganada. *u fiquei muito contente com a

confian$a que você depositou em mim. 6or favor, não me leve a mal. Isve"es eu rio sem querer. *u ouvi seu problema com toda a seriedade. ocênão deve se casar com /artin apenas por obriga$ão ou porque você deu a

 palavra. >enhum casamento deve ser reali"ado nesses termos. * eu não preciso bei!á-la para saber que você não ( fria. 'e você está na dvidaquanto ao casamento com /artin, não ( um bei!o que vai provar coisanenhuma. ocê devia antes conversar esse assunto com ele, de cora$ãoaberto. s sentimentos morrem, como tudo o mais. >ão há nada que se

 possa fa"er para ressuscitar um amor morto.

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Bianca no. 8

A lu" t(nue da manhã, os nativos pareciam indiv&duos normais e sono-lentos, em nada diferentes dos pacientes africanos que Cristina encontravadiariamente no hospital. As mulheres estavam com vestidinhos simples dealgodão e os rapa"es com as cal$as curtas que usavam o ano inteiroF alguns

de camisa, outros com o tronco nu. *ram aqueles homens sonolentos quetinham saltado a noite inteira em volta da fogueira, com as lan$as em punho? 'uas dvidas desapareceram definitivamente quando ela viu umrapa" se apro+imar da barraca onde estava hospedada e quei+ar-se de umaqueimadura na perna. *le estava tão e+citado com a dan$a, na noite ante-rior, que não percebeu a gravidade da ferida. 'omente na manhã seguinte,ao acordar, sentiu dores fortes e procurou os m(dicos brancos que estavamde passagem na aldeia.Cristina fe" o curativo na queimadura e aconselhou ao rapa" que mostrassea perna queimada a ominic, que tinha mais prática nesse assunto que ela./inutos depois, ominic atravessou o terreiro e dirigiu-se a passos rápidos

 para a barraca onde 1ina estava acampada. sol estava quente comosempre, mesmo 8s primeiras horas da manhã, e o vapor que se levantava daterra mida insuportavelmente sufocante.

 — *stava e+aminando uma velha que sofre de febre intermitente — disseominic, como se os acontecimentos da noite anterior tivessem sidocompletamente esquecidos. — 1odos os parentes a abandonaram e aguar-dam apenas que ela morra. *u disse 8 filha que sua mãe pode viver maiscinco anos, pelo menos, se tomar os rem(dios que lhe dei. s parentes não

fa"em isso por mal. *les simplesmente aceitam a morte como uma fatalida-de e não movem um dedo para socorrer os velhos.

 — *nquanto você estava fora, eu fi" o curativo num rapa" que se queimouontem na fogueira. ostaria que você o e+aminasse pessoalmente.1alve" se!a necessário fa"er um en+erto de tecido — disse Cristina.

 — >esse caso, vamos levá-lo conosco para )gadu — falou ominic.A viagem de volta transcorreu normalmente, com a nica diferen$a queagora eram quatro, em ve" de três. Com o sol de fora, a trilha aberta namata secou rapidamente e levaram menos tempo na volta que na ida.

 — 'e parar de chover, vou poder partir na semana que vem para ampiii. — ocê vai mesmo? — 0ue rem(dio *u tenho que ir. Acordei com mais disposi$ão ho!e. >ãosei o que aconteceu comigo ontem 8 noite. =oi alguma coisa que bebi nafesta, provavelmente. *u lhe pe$o desculpa por alguma coisa que disse ouque fi" ontem. *u não estava com a cabe$a no lugar.

 — =oi a aguardente que você tomou ou foi o momento da verdade? — 0ual momento da verdade? >ão entendi onde você quer chegar. — Is ve"es, nas circunst2ncias mais inesperadas, deparamos com uma

nature"a primitiva em n#s. >ão foi isso por acaso que aconteceu com vocêontem 8 noite.

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 — >ão, claro que não — respondeu Cristina com vivacidade, corandoligeiramente. trabalho no hospital manteve-a ocupada o resto do dia e ela não pensoumais no incidente ocorrido na aldeia machua. Ao chegarem em casa, no fim

do e+pediente, ominic foi direto ao armário das bebidas e preparou umdrinque para os dois. — >ão se entusiasme muito com esse bom tempo. estio ( apenas passageiro. As chuvas vão voltar de um momento para outro e o rio conti-nua muito cheio para poder ser atravessado com seguran$a. 'omente quan-do as águas bai+arem ao n&vel normal a ponte de )mbulu será reconstru&da.

 — elia telefonou — disse CicelJ entrando na sala. — *la ficou triste denão encontrá-lo em casa.

 — que ela queria? — perguntou ominic. — *la não falou. /andou muitas lembran$as para você e disse que vaiF passar um dia aqui para lhe fa"er uma visita.Como não havia nada urgente para fa"er. Cristina aproveitou para descan-sar uma hora no quarto. *la se lembrou da carta que /artin lhe escrevera eque não tivera ainda coragem de ler. =icou um instante pensativa, com oenvelope fechado na mão. *m seguida, tomou 2nimo, deitou-se na cama eabriu o envelope no canto.L/inha querida, recebi sua carta contando not&cias da&. *spero que vocêtenha tomado os comprimidos que lhe receitei contra a malária. s mosqui-tos portadores da doen$a são mais ativos na (poca das chuvas e todo cuida-

do ( pouco. 'eria muito desagradável que você ca&sse doente depois detodo esse tempo que perdemos.* eorge, como vai? *stá se saindo bem no novo emprego? ê-lhelembran$as minhas e diga que ele está me fa"endo muita falta aqui. =iqueicontente ao saber que ominic arrumou trabalho para você a&. H prefer&vel

 passar o dia ocupada do que de bra$os cru"ados. iga a ominic que nãotenho not&cias do doutor =a"al. Aqui na cl&nica s# temos m(dicos europeus,

 porque nossos pacientes dão preferência aos m(dicos brancos. *u imaginoque você deva estar amargamente arrependida de ter perdido o vapor. 'e

n$o fosse por causa disso, você estaria agora aqui, na minha companhia.:nfeli"mente, a gente s# aprende as coisas errando.*u fui convidado para um !antar em casa de uns amigos. 'ão pessoas muitoinfluentes em ampili e go"am de uma e+celente reputa$ão entre osmembros da col#nia inglesa. *les mandaram lembran$as para você e disse-ram que estão ansiosos para conhecê-la. >ingu(m acredita aqui que eueste!a noivo de uma m(dica inglesa... ocê precisa vir para eu apresentá-laaos meus amigos.L1ina dobrou lentamente a folha de papel e tornou a guardá-la no envelope.

A carta de /artin dei+ou-lhe um gosto amargo na boca. :ncr&vel como eleera ego&sta '# pensava em si mesmo e nas coisas que lhe di"iam respeito.

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Bianca no. 8

* di"er que há um ano atrás estava apai+onada por ele Casar-se com/artin, depois dessa conclusão, era o mesmo que se suicidar emocional-mente. *la tinha certe"a que !amais voltaria a amá-lo como antes. >omomento s# havia um solu$ão3 aguardar o fim da esta$ão das águas e voltar 

 para a :nglaterra. @averia sempre de encontrar trabalho num hospital. >ão podia querer que /artin pagasse indefinidamente sua permanência na Dfri-ca. Aliás, não receberia dinheiro dele em hip#tese alguma. 1inha que setomar independente e cuidar de sua vida.1ina ouviu o ru&do de passos perto da !anela que dava para a varanda eergueu-se na cama para ver quem era.

 — /inha mãe está aqui — disse Chefão, o criado africano, passando acabe$a na !anela do quarto. — *la veio fa"er uma visita 8 patroa.1ina levantou-se da cama e cal$ou as sandálias. *stava curiosa paraconhecer a mãe do menino. *la não escondeu sua surpresa, por(m, quandoavistou uma mulher pequena, muito escura, com um vestida a"ul de algo-dão todo remendado. A descri$ão que o filho fi"era da mãe era bem dife-rente da realidade que tinha diante dos olhos. A mulher observou-a umlongo momento em silêncio, balan$ou várias ve"es a cabe$a e depois diri-giu-se ao filho numa linguagem incompreens&vel.

 — /inha mãe disse que a patroa ( muito bonita, e que tem o rosto bondoso. — /uito obrigada — disse 1ina com um sorriso dirigido a mulher. *latinha a impressão que a africana ia ler sua sorte. *mbora não acreditasse

nessas coisas, estava curiosa para ouvir sua opinião.A mulher, por(m, limitou-se a balan$ar novamente a cabe$a com umae+pressão divertida nos olhos.

 — /inha mãe disse que eu sou um filho muito trabalhador e que mere$oganhar mais por meu trabalho.epois da advertência de om&nic a respeito do garoto africano, 1ina

 passou a não acreditar muito nas palavras dele. — 'ua mãe não falou nada disso. ocê está inventando garoto deu umsorriso sem gra$a.

 — /inha mãe falou que a patroa vai encontrar um marido muito em breve.ai ter dois filhos no casamento, dois meninos. * vai ter muitos netos.

 — 6ode ser — disse 1ina, sem muita convic$ão. — que mais sua mãefalou?

 — *la falou que a patroa não vai casar com o m(dico que mora emampili, mas que vai casar com o doutor daqui, * disse tamb(m que essecasamento ( muito melhor para ela que o outro.

 — 'ua mãe disse isso? — isse, sim. senhora.

1ina ficou um instante pensativa, no momento em que a mãe e o filho seafastaram da varanda. Como a mulher podia saber da e+istência de /artin?

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Bianca no. 8

A não ser que o filho tivesse ouvido alguma conversa entre ela e CicelJ.6rovavelmente era isso. >ão valia a pena preocupar-se com essas boba-gens...CicelJ a convidara para !antar com eles aquela noite e, enquanto aguar-

davam que a torta de galinha assasse no forno, Cristina e ominic !ogaramuma partida de +adre" na sala de estar. — H você quem !oga — disse ominic, levantando a cabe$a do tabuleiro. — ocê não está prestando aten$ão — Ah, desculpe. *stava distra&da.1ina !ogava +adre" com seus colegas de faculdade, antes de conhecer/artin, que ignorava o !ogo e não tinha paciência para ficar sentado horas afio diante do tabuleiro. Ao ser chamada a aten$ão por ominic, ela

 procurou se reabilitar movendo rapidamente uma pe$a e amea$ando adefesa do adversário.

 — Agora eu preciso pensar — disse ominic, afundando a cabe$a entre asmãos, com o cotovelo apoiado na mesa. — ocê me colocou numa situa$ãodif&cil...

 — 0uem manda você me chamar a aten$ão*nquanto ominic refletia sobre o pr#+imo lance, Cristina aproveitou paraobservá-lo 8 vontade. ominic tinha cabelos aloirados, finos e crespos, eele estava muito bonito naquela posi$ão, com a fisionomia concentrada notabuleiro. 6arecia a imagem do pensador. Cristina lembrou-se que estiveranos seus bra$os há algumas horas atrás, na aldeia machua, quando fora

tomada pela alegria contagiante dos nativos. 0uem era elia, a mulher quelhe telefonava de tempos em tempos para saber not&cias? *la costumava vir a )gadu? s dois eram noivos ou s# namorados? ominic, pelo visto, nãotinha preconceitos raciais, como /artin, e reconhecia apenas o esfor$o e om(rito como qualidades básicas nos outros. e que nacionalidade seriaelia?

 — ocê ouviu o que eu disse? *u lhe dei +eque. — Ah, sim — e+clamou 1ina sem !eito, ao ser surpreendida olhandofi+amente para ele. —>a minha ve" de !ogar...

 — >o que você estava pensando? — perguntou ominic encarando-a nofundo dos olhos. — 'e não me engano, seus pensamentos são muito maisinteressantes que essa partida de +adre"...

  CA6:1)E :Q

Cristina fi+ou o olho no microsc#pio e admirou pela cent(sima ve" o prod&gio da composi$ão do sangue humano. *la adorava as pesquisas delaborat#rio, mas não gostava muito das aut#psias e das disseca$%es de

#rgãos, nem dos e+ames de parasitas malignos.

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*m dado momento, afastou a vista do microsc#pio e escreveu na ficha queestava ao seu lado3 Lrupo A positivo, anticorpos presentes, provavelmentede malária. @emoglobina, 7NRL.*mbora tivesse confian$a nas suas anota$%es, submetia-as em geral 8

aprecia$ão de ominic ou de i;a, o m(dico africano, que entrou !usta-mente naquele momento no laborat#rio, num estado de e+cita$ão fora docomum.

 — ominic está esperando-a na sala de opera$ão. @á um caso urgente deapendicite e seu nome está na lista para a interven$ão.Com o cora$ão batendo 8 toda, as mãos e os p(s gelados, Cristina dirigiu-se8 sala de opera$ão. /as antes, lavou as mãos na pia e vestiu o avental e amáscara na salinha ao lado.

 — *ntão, está pronta para o momento decisivo? — perguntou ominic, passando a cabe$a pela porta entreaberta. >ão adiantava responder Lpenso que simL, porque nesse caso ele diriaLavise-me então quando estiver pronta para darmos a anestesia no paci-enteL.ominic entrou na sala onde a anestesia era aplicada nos pacientes que se

 preparavam para a interven$ão e, três minutos depois, voltou com o paciente deitado no leito de rodas. *ra eorge que empurrava a cama emdire$ão 8 sala de opera$ão. 6elo visto. eorge não sentia muita saudade de/artin, pensou 1ina consigo. *m )gadu, eorge era tratado como um serhumano inteligente e disposto a aprender e progredir na vida. ominic lhe

dava sempre novas oportunidades para testar suas capacidades.1ina vestiu as luvas de borracha, enquanto o paciente foi transferido para amesa de opera$ão. =oi s# então que ela teve a oportunidade de e+aminar de

 perto o paciente. *la arregalou os olhos, perple+a e estupefata, diante doque avistou na sua frente.

 — *ssa mulher ( branca — e+clamou vendo os cabelos louros e a peleclara da paciente.

 — * da&? 0ue diferen$a fa"? — perguntou ominic com naturalidade. —ocê me perdoe, mas eu não tive tempo de lhe apresentar minha amiga,

a doutora elia. — 'ua noiva? — perguntou 1ina ainda mais surpresa. — *u nunca opereiningu(m do apêndice antes. *u apenas assisti uma operarão na faculdade.*u nem sabia que (lia era m(dica

 — elia formou-se no ano passado — interveio CicelJ, que tamb(m era da pequena equipe que ia tomar parte na opera$ão. — 6or sinal, ela ( muitocompetente em doen$as tropicais.

 — 5em, pessoal, chega de conversa — disse ominic, com uma ligeiraimpaciência. — amos 8 opera$ão. >ão temos tempo a perder. A anestesia

vai durar apenas vinte minutos. 'e ela acordar antes disso, vai botar a bocano mundo

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Cristina concluiu que não havia outro rem(dio senão reali"ar a primeirainterven$ão cirrgica de sua carreira, pelo menos a primeira cirurgia deverdade, porque as pequenas incis%es que praticara antes não contavam. Asitua$ão fora preparada de prop#sito por ominic. *ra esse seu batismo de

sangue. *la tinha que enfrentar uma situa$ão que estava dentro de suas possibilidades com coragem e decisão.Cristina praticou a incisão profunda au+iliada por CicelJ que foi muitoeficiente e atenciosa no seu papel de enfermeira. /inutos depois, o apêndi-ce inflamado foi removido sem maiores problemas. resto da opera$ãotranscorreu normalmente.

 — )ma bela cicatri" — comentou ominic satisfeito, antes do corte sercoberto com o curativo. — ai desaparecer completamente dentro de al-guns meses. *ntão, foi tão dif&cil quanto você imaginava?Cristina estava e+ultante e tr(mula com o resultado da opera$ão.

 — >ão, foi muito mais simples. /uito obrigada, por ter me dado essaoportunidade. A pior parte foi saber que se tratava de elia. *la não estavana :nglaterra, quando telefonou a ltima ve" para cá?

 — *stava. e lá ela via!ou para >air#bi e veio imediatamente para caquando sentiu os primeiros sintomas. elia e eu somos grandes amigos,mas não somos noivos como minha irmã teima em di"er. H por isso, aliás.que mantemos um relacionamento tão bom. As ami"ades, muitas ve"es, sãomais duradouras que as pai+%es.ominic reuniu seus instrumentos cirrgicos e afastou-se da sala, dei+ando

1ina surpresa e pensativa com a revela$ão que ouvira. >aturalmente, ela estava curiosa para conhecer elia numa situa$ão maisfavorável do que na mesa de opera$ão. >o dia seguinte, por sinal, seudese!o foi atendido. *la encontrou-a sentada na cama, com um sorriso noslábios. elia estava hospedada em casa de ominic e recebeu Cristina comgrandes manifesta$%es de alegria, de acordo com seu temperamento e+pansivo. *la foi atenciosa, agradecida e obediente com a m(dica que tinha lheoperado o apêndice, ao contrário da grande maioria dos m(dicos que são,em geral, p(ssimos pacientes quando caem doentes.

 — /uito pra"er em conhecê-la, Cristina — disse elia, apertando suamão com anima$ão. — ominic disse que a opera$ão foi e+celente e que acicatriz vai desaparecer completamente dentro de alguns meses. *le dissetambem que eu posso andar uma hora pelo quarto ho!e 8 tarde, sem for$armuito. que você acha? >ão tem perigo?

 — >ão, nenhum. 6ode andar sossegada. =a" at( bem e+ercitar-se um pouco. — =a" quanto tempo que você se formou? ocê é tão mo$a — lha, para falar a verdade, eu me formei no ano passado e fa" apenas

dois meses que estou praticando meus conhecimentos aqui em )gadu.

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 — CicelJ me contou que você foi apanhada de surpresa pelas chuvas e quenão pBde sair daqui. >o fundo, valeu a pena, não? Aposto que vocêaprendeu mais nesses dois meses que durante os cinco anos de faculdade.ominic ( um e+celente professor. *u digo isso por e+periência pr#pria.

=oi bom você estar aqui para me operar. — ominic ( um e+celente operador — disse 1ina com anima$ão. — *u sei disso. >#s nos conhecemos há anos, náo ( mesmo querido? — perguntou elia a ominic, que entrou no quarto nesse momento e lhedirigiu um sorriso afetuoso.A afei$ão que havia entre os dois, por sinal, era vis&vel na maneira como seolhavam. elia estava com os olhos brilhantes quando lhe dirigiu a palavra.

 — 'erá que a gente se conhece mesmo. — perguntou ominic com umsorriso. — *u diria antes que fi"enos for$a nesse sentido. Conhecer o outrona intimidade ( uma coisa muito dif&cil, sobretudo entre pessoas detemperamento tão diferente quanto n#s.

 — ocê acha?Cristina sentiu-se repentinamente uma intrusa no meio da conversa, — Olha, eu vou dei+ar vocês dois conversarem 8 vontade.

 — At( outra hora — elia apressou-se em di"er./al Cristina atravessou a porta do quarto e saiu no corredor, ouviu eliadi"er a ominic3

 — 0uerido, eu via!ei quil#metros para vê-lo Agora não vou embora daqui por nada deste mundo, tá? 6or nada deste mundo

Cristina mordeu o lábio com despeito e tomou o caminho do hospital.Com o passar dos dias, ela ficou conhecendo elia melhor, especialmenteatrav(s de CicelJ, que era uma grande fã da LnoivaL do irmão. elianascera na África do 'ul e formara-se na =aculdade de /edicina de ur-

 ban, onde fi"era diversos estágios em cl&nicas e hospitais. *la conheceuominic em >air#bi e logo surgiu uma ami"ade profunda entre os dois.ominic estava interessado especiali"ar-se em doen$as subtropicais e dese-

 !ava trabalhar numa reserva a fim de pesquisar de primeira mão as mol(s-tias e seus tratamentos. elia manifestava tamb(m um certo interesse pelo

assunto e por isso entrou para a equipe constitu&da em )gadu, na condi$ãode assistente de ominic, onde trabalhou durante quase um ano. epoisdisso, embarcou para o litoral e trabalhou num hospital europeu na ilha de/ombasa. ominic passou as f(rias com ela nessa cidade litor2nea.

 — elia costuma nos visitar frequentemente — prosseguiu CicelJ. — *lanos diverte muito com as hist#rias que conta. *la ( uma gra$a, você nãoachou?

 — @umm — murmurou Cristina sem muita convic$ão. — *u gostaria muito que os dois se casassem, antes que elia se!a pedida

em casamento por algum rica$o de fora. @á muitos europeus na Dfrica,atualmente, e as mulheres bonitas são disputad&ssimas... elia pretende

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Bianca no. 8

trabalhar algum tempo aqui depois de ficar completamente boa da opera-$ão. >#s vamos arran!ar um lugar"inho para ela no hospital

 — *la pode me substituir a qualquer momento — disse Cristina comvivacidade. — *u estou apenas de passagem e compreendo perfeitamente a

situa$ão. 6or falar nisso, vou partir para ampili, logo que houver con-du$ão. — 0uais são seus planos? ocê está mesmo decidida a morar em ampili? — 5em, eu não decidi nada ainda, a esse respeito. — ocê mudou de ideia? *u me lembro que você estava muito ansiosa para chegar em ampili quando conversamos pela primeira ve". u$a meuconselho. *u falo isso por e+periência pr#pria. >ão perca essa oportunida-de. *u fi" isso uma ve" e me arrependo at( ho!e. utro dia eu estava

 pensando que vou ficar solteira a vida inteira... — >ão diga isso ocê ainda ( mo$a.CicelJ encarou-a com uma e+pressão triste no olhar.

 — *u vou fa"er quarenta e quatro anos. *u sou de" anos mais velha queominic.

 — *u !amais diria que você tem essa idade. ocê parece ter, quando muito,uns trinta e cinco.CicelJ sorriu agradecida.

 — s anos passam sem a gente perceber. — 'e há tantos europeus na Dfrica como você di", deve haver algum quese!a do seu agrado. *u ouvi contar que as enfermeiras são muito cobi$adas

aqui... — 'ão mesmo. Cobi$ad&ssimas — >esse caso, não há motivo para você desanimar. ocê é mais !ovem quesua idade real e você não tem apenas uma estampa bonita como tamb(m (muito elegante e graciosa.

 — Ah, você está e+agerando...  i — Kuro que não 'eu nico problema, na minha opinião, ( ser meioderrotista. *m ve" de tirar partido dessas qualidades, você fica de bra$oscru"ados observando embevecida elia e ominic conversarem, como se

eles fossem atores de cinema. 6or que você tamb(m não torna parte nofilme?

 — *u bem que gostaria — murmurou CicelJ, com um suspiro. — /as eunão tenho ánimo para pensar nessas coisas. 6or outro ladoF se eu casasse esa&sse daqui, quem tomaria conta do hospital? ominic necessita de mim.

 — A irmã /ustafa ( muito ativa e e+periente, al(m de ser uma pessoa detoda confian$a. *la pode assumir perfeitamente a dire$ão do hospital na suaausência. >ingu(m é indispensável, lembre-se disso

 — Você vai acabar me convencendo...

 — * não ( isso que você quer?

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Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet Shore

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 — *u vivi a vida inteira aqui e não ( fácil para m&m recome$ar tudo denovo num outro lugar. Al(m disso, eu espero que ominic se case em brevee n#s três seremos muito feli"es aqui. elia e eu sempre nos demos muito

 bem. casamento dos dois não alteraria em nada nosso relacionamento.

6elo contrário, ter&amos a oportunidade de manter um contato mais &ntimo. — 6ois olhe, na minha opinião, você não devia contar muito com as promessas de elia. — Como você pode di"er uma coisa dessas. 1ina? ocê mal a conhece... — *u a conhe$o o suficiente para saber que ela pensa antes de mais nadaem si mesma, no seu futuro e nos seus planos. ocê me disse uma ve" queelia se parecia com uma gatinha dom(stica, lembra? *la ( e+atamenteisso. osta das almofadas macias, do leite cremoso e das coisas c#modasda vida. * ela se aproveita dos outros, toda ve" que tem oportunidade.

 — 'erá? — u$a o que eu estou lhe di"endo.)ma coisa, por(m, era inegável, pensou Cristina mais tarde, refletindosobre a conversa que tivera com CicelJ. elia era uma m(dica competente,como davam prova os diplomas obtidos na =aculdade de /edicina. *laabrira mão de uma vida social intensa para cursar a faculdade e podiaagora, quando bem lhe agradasse, encontrar um marido do seu agrado elevar uma vida mais pacata, sem depender necessariamente de sua pro-fissão.Cristina tinha que reconhecer que não fora tão bem-sucedida quanto ela.

 >ão seguira a carreira com o mesmo empenho e se dei+ara sedu"ir cedodemais pela perspectiva de se casar com o primeiro m(dico que tinhaconhecido na intimidade. Agora, precisava pagar sua imprevidência e voltar 

 para a :nglaterra 8 procura de um emprego. 1alve" pudesse ser assistente deum m(dico que estivesse sobrecarregado de trabalho. A nica coisa queestava completamente fora de cogita$ão era voltar para ampili e casarcom /artin. )sar /artin como uma bengala num momento de dificuldade,at( a situa$ão melhorar, repugnava a sua consciência. Al(m do mais, não

 podia aceitar um casamento sem amor, muito menos quando come$ava a

suspeitar que o amor autêntico era uma realidade indiscut&vel.ominic comentara, durante a festa na aldeia machua, que algumas ve"esas emo$%es surgem no cora$ão de uma pessoa em consequência de umnico bei!o trocado.=ora e+atamente isso o que acontecera. As emo$%es que estavam latentesdentro dela se transformaram com aquele nico bei!o numa pai+ão ardente,embora não houvesse nenhuma indica$ão que ominic retribu&sse seu sen-timento.6or outro lado, agora havia elia para embaralhar ainda mais a situa$ão.

*la era realmente atraente e encantadora, com sua seguran$a de mulherreali"ada profissionalmente e a intimidade com que tratava ominic dava a

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entender claramente que os dois eram mais que simples amigos. quehavia realmente entre eles? *ram namorados ou amantes? 6or que ominicfi"era questão de acentuar que elia não era sua noiva?A esta$ão das chuvas tra"ia consigo um clima de agressividade e de

nervosismo. Certa manhã, um nativo foi internado no hospital com umafacada no peito. agressor foi mandado para >air#bi, onde ia ser !ulgado por tentativa de homic&dio. *nquanto ominic e CicelJ preparavam a trans-fusão de sangue para o rapa", elia aproveitou que estava so"inha comCristina 8 mesa %o caf(, para ter uma conversa que vinha adiando desdeque chegara a )gadu.

 — ormiu bem, Cristina. — perguntou elia com simpatia, quandoCristina entrou na sala.

 — ormi como uma pedra. — =oi bom você ter aparecido. *u queria mesmo ter uma conversa comvocê. *u estou ansiosa para conhece-la mais intimamente. Afinal, não (todos os dias que a gente encontra um colega da mesma nacionalidade numhospital perdido no meio %o mato. 6or que você não nos fa" companhia 8noite, Cristina? ocê tem algum trabalho para fa"er em casa ou você fogedos contatos sociais? >ão me diga que é por timide" porque eu não acre-dito

 — >ão, não é por isso. Eu simplesmente não quero abusar da hospitali-dade. Como vocês são velhos amigos, eu imagino que tenham muita coisa aconversar uns com os outros. Al(m disso, eu não sou dessas pessoas que

não suportam a solidão nem por um minuto. 6elo contrário, eu adoro passar algumas horas so"inha.

 — ocê disse que n#s dois somos velhos amigos? *u creio que ominic eeu somos um pouquinho mais que isso — corrigiu elia, com um sorrisoir#nico nos lábios.

 — Ah, desculpe, não foi com essa inten$ão que eu falei — >ão foi nada. 6or falar n&sso, você veio aqui para tomar um cafe"inho enão para me fa"er uma visita clinica, não ( verdade? 6odemos conversar 8vontade e dei+ar de lado os protocolos m(dicos. Aliás, eu não sabia que

essa foi sua primeira opera$ão importante. *u fiquei boba quando ominicme contou. >ão por sua causa, evidentemente, mas pelo fato dele ter mefeito de cobaia

 — *le insistiu para eu operá-la — *u sei, Cristina, eu estava brincando. 6or sinal, sua opera$ão foie+celente. A cicatri" ( m&nima e vai desaparecer completamente no fim dealguns meses. /udando completamente de assunto. ocê tinge os cabelosou eles são dessa cor?

 — *les são dessa cor. 6or quê? ocê não gosta?

 — 'eus cabelos são lindos.

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 — /uito obrigada. mesmo eu digo dos seus. *les t(m uma tonalidaderara e combinam muito bem com seu tom de pele.

 — ocê acha? om tamb(m gosta dos meus cabelos. /as eu vou lheconfessar uma coisa em particular, a vida ( dura para as ruivas. @á certas

cores que a gente não pode usar em hip#tese alguma, sem falar que o sol (um inimigo declarado dos cabelos cor de cobre. /as voltando a você,Cristina. CicelJ me contou que você foi obrigada a fa"er uma estada for$a-da aqui...

 — 6ois (. *u estava a caminho de ampili quando desabaram os primeirostemporais da esta$ão e a ponte foi abai+o, impedindo nossa passagem. 6orsorte, ominic e CicelJ tiveram a imensa gentile"a de me hospedar aqui,

 !untamente com meu guia. — Ainda bem que você ( m(dica e encontrou uma atividade no hospital. Káimaginou, passar três meses aqui de bra$os cru"ados, sem ter nada parafa"er? om ( um trabalhador incansável. *u tentei convencê-lo uma ve" aabrir uma cl&nica particular no litoral mas ele não decidiu nada at( agora.ocê não acha que seria um sucesso?

 — 'em dvida alguma. — *ssa reserva ( um local prop&cio para a malária e outras doen$asepidêmicas. >ão há nenhuma ra"ão para om permanecer enfurnado aqui.*le não lucra nada com isso, profissionalmente falando. 6or outro lado, hámuitos europeus em 0u(nia e eu penso que uma clinica particular seriauma ideia e+celente. ocê deve saber disso melhor do que eu. CicelJ me

disse que seu noivo dirige uma cl&nica em ampili, não ( mesmo? — * uma cl&nica e uma maternidade. — *stá vendo como eu tenho ra"ão? @á muitas maneiras de ganhardinheiro em nossa profissão *u sei que os m(dicos não devem pensar s#no dinheiro, mas o sucesso ( sempre bem-vindo, não ( verdade?Cristina ouviu o comentário em silêncio, sem saber o que responder. Aconversa dei+ou-a ligeiramente embara$ada.

 — CicelJ me falou mais uma coisa — prosseguiu elia indiferente aosilêncio de Cristina. — *la me disse que você estava na dvida quanto 8

data do seu casamento. *u espero que isso se!a um problema passageiro,que será resolvido com o tempo.

 — *u não gosto de comentar esse assunto — disse Cristina com impaci-ência. — *u simplesmente não tenho certe"a do que vou fa"er no futuro,como tinha antes de vir para cá.

 — :sso por acaso tem alguma coisa a ver com algu(m que você conheceuem )gadu?

 — 0uem podia ser? — perguntou Cr&stina com uma risada nervosa,corando at( a rai" dos cabelos. — *u não conhe$o ningu(m aqui, al(m de

CicelJ e ominic, bem entendido.

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 — ocê tem ra"ão. 4aramente passam rapa"es interessantes por aqui. ocêdesculpe eu insistir nesse assumo. /as se você mudou de ideia e não quermais partir para ampil&, a estrada para o litoral está aberta. =oi por ela queeu vim at( aqui.

 — Ah, sim? H bom eu saber disso.ominic e C&celJ chegaram pouco depois e interromperam a conversa ,entre as duas. *nquanto os dois foram descansar um pouco em casa,Cristina ficou encarregada de supervisionar o paciente que estavarecebendo uma transfusão de sangue.*la ficou intrigada com a conversa que tivera com elia, especialmentecom sua observa$ão final. 'e não pretendia mais ir a ampili, a fim deencontrar-se com /artin, como era sua inten$ão original, não tinha motivo

 para permanecer indefinidamente em )gadu. >ão sabia que ve&culo (l&ausara na viagem, mas se viera de /ombasa ( porque a estrada estava tran-sitável. e /ombasa, Cristina podia tomar facilmente um avião ou navio

 para a :nglaterra,*la vinha adiando todos os dias sua partida de )gadu. >o momento por(mem que elia sugeriu a possibilidade, ela se achou na obriga$ão moral de

 partir o quanto antes dali, onde nada mais a detinha a não ser um amorabsolutamente rid&culo por ominic, que não era nem mesmo corres-

 pondido. — Como estão as coisas por aqui? — perguntou ominic, ao entrar noquarto do hospital onde Cristina estava de plantão.

 — 1udo bem. paciente está com o pulso mais regular. — Otimo. * &ocê, está melhor tamb(m? — *u estou #tima. 6or que você pergunta? — 6or nada, apenas para saber. Afinal, fa" um tempão que a gente não seencontra a s#s.Cristina levantou a cabe$a e encontrou seus olhos verdes. 6arecia que

 penetravam dentro dela e lhe causavam uma sensa$ão estranha na espinha. — *u soube que a estrada para o litoral está aberta. — =oi elia que disse?

 — =oi, por quê? — 6or nada. /as a estrada de ampili ainda continua intransitável. — *u posso ir a /ombasa e de lá tomar um navio de volta para a:nglaterra.

 — ocê ( quem sabe. *u preferia que você aguardasse um pouco mais at(=a"al aparecer por aqui. >#s estamos muito contentes com seu trabalho nohospital.

 — elia vai me substituir, de qualquer forma... — (lia? *la não está em condi$%es de trabalhar. *la seria mais um

transtorno do que uma a!uda.

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 — 5em, eu não quero causar nenhum problema a vocês, especialmentedepois da hospitalidade atenciosa que me ofereceram. *u disse isso porquetinha a impressão que estava sobrando no hospital. /as se você dese!a queeu fique um pouco mais, eu terei o maior pra"er em atender seu pedido.

 — Otimo, estamos entendidos, então. *u gostaria que você ficasse aqui at(a chegada de =a"al. — Combinado. * elia? *la vai pensar que eu estou tirando o lugar dela. — ei+a isso por minha conta. *u vou ter uma conversa com ela a esserespeito.

  CA6M1)E Q

As chuvas, segundo di"iam os moradores de )gadu. terminariam mais cedoaquele ano. >as plan&cies do norte, onde os guerreiros samburu criavamrebanhos, os habitantes se quei+avam que os pastos iam secar e que o gadomorreria por falta de alimento.

 — 'e ao menos chovesse onde ( necessário — comentou ominic com umsuspiro, ap#s ouvir o noticiário na televisão. — rio )mbulu continuacheio e toda essa água ( desperdi$ada inutilmente. >o norte, os camponesese os criadores de gado se dariam por satisfeitos se pudessem aproveitar umter$o dessa água para irrigar as planta$%es e os pastos.

 >aquela manhã, por(m, o sol estava mais quente que nunca. 1ina sentou-sena pequena varanda da casa e observou distraidamente o trabalho do

 !ardineiro que estava formando canteiros de a"al(ias, de hortênsias e deoutras plantas ornamentais.

 >ão havia dvida que o sol estava em ascendência novamente. 1odos osdias o astro rei condu"ia as nuvens como cordeirinhos para longe do seucaminho e brilhava com uma intensidade ofuscante lá no c(u. entro deuns dois meses, o calor seria insuportável em )gadu e a umidade chegariaao limite da satura$ão.Cristina s# ia voltar ao hospital depois do almo$o. Aproveitou as horaslivres para ler um livro de medicina sobre doen$as tropicais e subtropicais

que tinha pedido emprestado a ominic. /as interrompeu um momento aleitura para escrever a carta mais dif&cil de sua vida, sobretudo porque nãoconseguia concentrar-se na reda$ão. *la se adaptara de tal modo 8 e+istên-cia sossegada em )gadu, que estava aprendendo a praticar uma esp(cie demedita$ão de olhos abertos, um estado semelhante ao sonambulismo. >ãofa"ia nada, não pensava em nada. ei+ava a mente vagar 8 vontade, paraonde bem entendesse, sem !amais for$á-la nessa ou naquela dire$ão. *racomo se tivesse posto um aviso na porta com os di"eres3 Lolto dentro decinco minutosL.

A carta para /artin tinha que ser escrita e mandada pelo correio naquelemesmo dia. *la !á adiara demais.

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1rês dias antes. elia partiu de )gadu e foi passar o fim de semana em Ero,a fim de restabelecer-se completamente da opera$ão. :a ficar hospedada nafa"enda de uns conhecidos que criavam rebanhos e via!ara para lá nacompanhia de um oficial do *+(rcito, um homem muito simpático e falante

que tinha um furgão odge. carro era tão alto e tão possante que conse-guia atravessar os atoleiros que encontravam pelo caminho.epois da partida de elia aconteceram vários casos urgentes no hospital.Cristina não teve tempo para pensar nos efeitos da ausência de eliaem rela$ão a ominic.

 >a realidade, ominic não dei+ou transparecer um s# momento que sentiafalta de elia. 1rocou algumas palavras essenciais com sua assistentedurante as opera$%es e, no resto do tempo, dirigiu-se a ela com sua cordia-lidade habitual.1ina segurou a caneta e escreveu com a letra firme3 LCaro /artin, eu dese!oromper nosso noivado. *stou convencida que não gostamos o suficiente umdo outro para nos casar. 'eria absurdo pretender que sim.L*la leu a frase que escrevera e achou que soava um tanto rude. /as comoera poss&vel romper o noivado de forma delicada? >ão adiantava di"er quesentia muito ter que tomar essa decisão porque era mentira e isso ia soarterrivelmente falso. *la amassou a folha e atirou-a no chão.LCaro /artin, resolvi não ir mais a ampili. 6ensei no assunto durantealgum tempo e cheguei 8 conclusão...L*la levantou a cabe$a ao pressentir que havia algu(m por perto, obser-

vando-a em silêncio. — esculpe interrompe-la — disse ominic se apro+imando da mesinhaonde ela estava sentada. — *u tamb(m tenho uma dificuldade incr&vel paraescrever cartas. 1oda ve" que pego na caneta e me sento diante do blocoaberto na minha frente, entro em curto-circuito e a nica frase que meocorre ( essa3 L/uito obrigada por sua carta do dia 9 de abril...LCristina deu uma risada.

 — 1amb(m não precisa e+agerar. *u não acredito que você se!a tãoincapa" assim de escrever uma carta. 6elo menos se for uma carta para

elia... — 6or sua e+pressão, aposto que você está escrevendo para /artin. — Certo, e da&? — *u vim aqui para avisá-la que o substituto do doutor =a"al deve chegarnos pr#+imos dias.1ina teve a impressão que uma nuvem negra encobriu momentaneamente osol, escurecendo e esfriando tudo em volta. 6elo visto, ominic estavadespedindo-se delicadamente de sua assistente. 

 — *u gostaria de conversar com você a esse respeito.

 — 'ente-se ali — disse 1ina, apontando para a cadeira va"ia. — ocêtoma um refresco de frutas?

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 — )ma laran!ada, se for poss&vel. que você pretende fa"er, Cristina? — 0uando sair daqui? >ão decidi nada ainda. Acho que vou tirar uns diasde f(rias para pensar no assunto.

 — ocê vai para ampili ou não?

 — 1udo depende da resposta de /artin 8 carta que vou mandar. — ocê ainda tem a inten$ão de se casar com ele?1ina estremeceu de raiva. s dois se e+asperavam facilmente nos ltimosdias. @avia um clima de tensão que pairava no ar. 'em di"er uma palavra,ela agachou-se e apanhou a folha amassada que estava !ogada no chão.

 — H isso que você quer saber? Eeia.*la estendeu-lhe o papel amassado. ominic passou rapidamente os olhos

 pela nica frase escrita. — *u fico contente de saber que você não mudou de ideia, desde a ltimave" que conversamos. >esse caso, para que ir a amp&li?

 — /artin talve" queira discutir o assunto pessoalmente. *u não quero dara impressão que sou uma covarde e que estou fugindo de um encontrodecisivo.

 — A nica maneira de resolver esse assunto ( manter uma atitude firme eirrevogável. 6or que você não telefona? Assim você ficará sabendo se temque ir ou não a ampili.

 — 5oa ideia. — *u vou providenciar para ningu(m perturbá-la. á ao meu escrit#rio eresolva de uma ve" esse assunto. Kante comigo ho!e 8 noite e vamos

conversar com calma sobre os planos que você tem para o futuro, entreoutras coisas. CicelJ vai passar a noite com uma amiga. >#s temos tempode sobra para resolver essa questão da melhor forma poss&vel.Cristina teve a impressão que uma brisa fresca soprava no seu rosto eafastava para longe todas as ideias tristes. *m seguida, fe" o que ominicsugeriu. =oi a sua sala de trabalho e ligou para /artin em ampili. telefone ainda era a melhor maneira de fa"er comunica$%es desse tipo. *ramais impessoal e frio que uma carta. uviu alguns estalos no fone antesque /artin atendesse e perguntasse, com a vo" distante que lhe era habi-

tual, se estava tudo bem com ela e eorge em )gadu. — 1udo bem, obrigada. — 6or que você não me escreveu mais? ocê não mandou di"er se eorgeestá contente no emprego ou se está sentindo falta da gente.Cristina mordeu o lábio com for$a. *ra esse o homem com quem pensaracasar? >o fundo, eorge lhe fa"ia mais falta do que ela. /artin seria sem-

 pre o patrão que conta na ponta dos dedos os dias de descanso dos empre-gados.

 — eorge vai voltar para a& logo que for poss&vel. *le está trabalhando no

hospital daqui e recebendo um ordenado. Aliás, ele está gostando muitodo trabalho.

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 — * você, Cristina? que aconteceu com você? ocê está regulando bemda cabe$a? Aposto que há um outro homem no meio. Ainda bem que tudoisso aconteceu antes do casamento. Ká imaginou o que seria ter problemasdesse tipo mais tarde?

Cristina fe" um esfor$o terr&vel para não di"er um desaforo. — H s# isso que você tem a me di"er, /artin? *u vou lhe devolver aalian$a, naturalmente.

 — @á alguma coisa entre você e ominic, por acaso? =oi por isso quevocê mudou de ideia repentinamente

 — >ão, /artin, não foi por isso. — *ntão, quem ( o outro homem? — lha, /artin, eu não estou disposta a conversar nesses termos. Adeus.6asse bem. — 1ina colocou o fone no gancho antes de ser tentada aconfessar a verdade.Ao encontrar ominic no corredor, falou-lhe de sua decisão3

 — *sta tudo decidido. >ão vou mais a ampili. >#s dissemos tudo quet&nhamos a di"er pelo telefone. H engra$ado, não? *u esperei todo essetempo para atravessar a ponte de )mbulu e agora não tenho mais necessi-dade dela...

 — @á sempre outras pontes pelo caminho... especialmente nas viagenscompridas, sem destino certo. comentário de ominic, por mais enigmático que fosse, soava estra-nhamente verdadeiro naquelas circunst2ncias. Cristina foi ao hospital aque-

la tarde mais bem disposta do que nunca. Ap#s ter rompido definitivamentecom /artin, sua consciência estava leve como uma pena. 6rocurou, por(m,não se antecipar a nada e aguardou com paciência o momento emque teria uma conversa comprida com ominic sobre seus planos para ofuturo.ominic ia notar alguma diferen$a se ela usasse um vestido especial para aocasião? *ra evidente que sim. 1odo homem reparava nessas coisas, aindamesmo que morasse no meio do mato. Cristina decidiu, por isso, fa"er-seespecialmente bonita e encantadora para o !antar daquela noite.

0uando faltavam de" para as oito, o criado entrou na sala de !atar e parou !unto da porta, com os olhos arregalados. — irgem, como a patroa está bonita — *u vou !antar fora, Chefão. ocê queria alguma coisa? — >ão senhora, eu não quero nada. *u vim s# saber se era para servir amesa na sala ou na varandinha.

 — @o!e você está de folga, Chefão. Coma alguma coisa e depois pode sair,se quiser. *u vou !antar com o doutor ominic. rosto do garoto iluminou-se de repente como se entendesse tudo clara-

mente. — Ah, bem que mamãe disse *stá vendo s#?

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Cristina corou sem querer e abai+ou a cabe$a. menino deu um sorriso,com seus dentes muito brancos, e saiu da sala em dire$ão 8 co"inha, ondecome$ou a cantarolar bai+inho como era seu costume quando estava so"i-nho em casa.

Cristina mirou-se rapidamente no espelho da sala. *stava com um vestidolongo, de seda a"ul-pastel pu+ando para violeta, que era correto paraqualquer ocasião. 6rendera os cabelos com um grampo de marfim e passarauma camada bem leve de sombra a"ul para acentuar a cor dos olhos. 6refe-riu não pBr nada no pesco$o. Como era comprido e roli$o, o pesco$o claroficava mais bonito e atraente sem nenhum enfeite.Atravessou o pátio que separava as duas casas com seus sapatos de cetima"ul — o chão estava seco e podia andar 8 vontade com seus sapatinhosabertos — e parou um instante para apreciar a bela lua cheia. s !asminsque subiam pelos muros da casa estavam abertos e o ar estava impregnadocom o perfume deles.Cristina deu um suspiro ao pensar que logo estaria na hora de partir de)gadu. Amadurecera ali, num curto espa$o de tempo, e aprendera a aceitaras responsabilidades e a tomar as decis%es de uma mulher adulta.

 — *u ia passar em sua casa para apanha-la — disse ominic, surgindo nomeio das sombras do !ardim.*la viu o %inner-acket branco contra o fundo escuro, a gravata preta nocolarinho engomado. ominic tamb(m se vestira especialmente para a oca-sião. *la aceitou em silêncio o bra$o que ele lhe ofereceu e caminhou ao

lado dele em dire$ão 8 sala iluminada. — Cristina, o que você diria de ser minha mulher?A pergunta apanhou-a de surpresa, quando ela estava subindo os degrausque levavam a varanda.

 — 'ua mulher? — H. /inha mulher. ocê não gostaria. *u encontrei um padre a caminhode )gadu que poderia reali"ar a cerim#nia amanhã.

 — 1em que ser nessa correria? — *le vai embora amanhã mesmo, no fim da tarde. >ão há outro !eito.

*ntão, o que você me di"? ocê não quer atravessar essa ponte comigo?

  CA6M1)E Q:@ouve um lapso nos acontecimentos daquela noite que Cristina não con-seguiu preencher satisfatoriamente.

 >um momento ela estava ouvindo aquela pergunta inesperadaF no instanteseguinte — ou assim lhe pareceu — ela estava sentada na varandaenvidra$ada na casa de ominic, diante de duas velas acesas, uma alta ecor-de-rosa, a outra mais curta a"ul, colocadas em dois casti$ais de prata,

finamente lavrados.

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*la nunca soube realmente como subiu os degraus da escada, como sesentou na varanda e avistou a mesa posta com todo o requinte de um !antarde cerim#nia. ominic estava falando no mesmo assunto, quando ela vol-tou a si de sua surpresa, e tudo indicava que a pergunta fora feita seria-

mente. — >#s dois combinamos muito bem um com o outro, como pudemosobservar nesse tempo que trabalhamos !untos. *u tenho umas f(rias acumu-ladas e pod&amos aproveitar para dar um giro de carro pelo continente afri-cano. 6odemos visitar o vale do 4ift e ver as neves do iliman!aro. quevocê acha? u você tem uma outra sugestão?Cristina levou alguns segundos para responder, de tal forma estava muda

 pelo curso dos acontecimentos. — *u não entendo — murmurou finalmente. — ocê não está noivo deelia?s lábios dele se contra&ram visivelmente e uma veia saltou no lado datesta.

 — >ão há absolutamente nada entre mim e elia. CicelJ tentou trans-formar um namoro em pai+ão, mas tudo !á terminou há muito tempo atrás.

 — 6or parte de quem? — *u preferia não comentar esse assunto. elia sente um pra"er especialem conquistar os homens e ela nunca se resignaria ao papel de esposafiel. *u, por(m, estou 8 procura de um relacionamento estável, tranquilo ecreio que você está atravessando tamb(m um per&odo cr&tico em sua e+is-

tência. *u lhe sugeri uma op$ão. >#s dois somos parecidos um com o outroe isso ( um bom sinal. Eembra como a atmosfera estava carregada aquelanoite na aldeia machua? 6arecia que ia e+plodir uma bomba... criadoserviu a sopa de tartaruga e afastou-se da sala.

 — ocê não acha um pouco prematuro falar de casamento? >#s nemsabemos se gostamos um do outro.

 — Cristina, eu sei que meu pedido decepcionou-a e não correspondeu 8declara$ão de amor que você esperava ouvir. /as n#s não temos tempo a

 perder, minha querida. padre vai passar por aqui amanhã e vai embora no

mesmo dia. *u prometo que serei um bom marido e espero que o amor e aami"ade nas$am da admira$ão e do afeto que sentimos um pelo outro. *unão sou mais um adolescente. *u não tenho ilus%es sobre a vida. *u

 procurei mantê-la aqui, o maior tempo poss&vel, porque sentia pra"er na suacompanhia. 1alve" isso se!a o in&cio do amor, quem sabe? 1udo que possoadiantar no momento ( que se você aceitar meu pedido, esse será omomento mais feli" da minha vida.

 — ocê não vai falar nada com CicelJ e elia? que elas vão di"erquando souberem que você casou de uma hora para a outra, sem comunicar 

o casamento a ningu(m?

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Bianca no. 8

 — *u sei o que elas vão di"er. 0ue eu sou um louco varrido. /as queimport2ncia isso tem? H com você que vou me casar e não com elas...Cristina ouviu o comentário em silêncio. 'eu cora$ão batia com tantafor$a que chegava a doer.

 — 'e ( assim... eu aceito seu pedido, ominic. *spero que tudo corra bem.ominic apagou as duas velas e deu a volta na mesa para segurá-la nos

 bra$os. — *u prometo que serei um bom marido — disse, bei!ando-a com ternura. — ocê não vai se arrepender de sua decisão. iga que você tamb(mestá feli".*m ve" de responder, ela ficou na ponta dos p(s e apro+imou a bocatr(mula da dele. 'ua felicidade seria completa se tivesse certe"a que omi-nic viria a amá-la um dia como ela gostava dele no momento. At( esse diateria que se contentar com a admira$ão, a ami"ade, a atra$ão f&sica quee+istia entre os dois. /uitos casamentos tinham come$ado com menos doque isso...epois do !antar, os dois continuaram conversando na varanda, ate altashoras da noite. As estrelas piscavam no alto, al(m das árvores copadas,cu!os galhos pareciam apontar para cima como flechas. >ão houvenenhuma cena rom2ntica aquela noite. s dois estavamaprendendo a conviver tranquilamente, sem conflitos, nem dramas, parti-lhando o respeito mtuo, a admira$ão e o interesse profissional que o! unia

na mesma ambi$ão. *m dado momento, ominic assumiu uma e+pressãomais s(ria e abordou o problema inevitável da irmã. — CicelJ era muitodiferente antes. @ouve uma (poca em que ela era uma mo$a alegre eencantadora, com data marcada para casar. e repenteF bum foi tudo porágua abai+o *la entrou em p2nico com a pro+imidade do fato consumadoe rompeu o noivado sem quê nem pra quê. *la imaginava provavelmenteque *ddie fosse insistir, que a levasse praticamente 8 for$a para o altar. /asela se enganou nesse ponto. *ddie voltou ao regimento onde servia e foimandado para o riente, onde se casou pouco depois com uma mulher

menos neur#tica que CicelJ. Ao receber a not&cia, CicelJ caiu numadepressão profunda, seguida de uma crise nervosa que teve consequênciass(rias sobre seu comportamento. =oi um pesadelo. =eli"mente, ela serecuperou pouco a pouco e retomou interesse pela vida. =oi então que fe"um curso de enfermagem e passou a dedicar-se de corpo e alma a sua novaatividade. 6apai morreu nessa (poca e quando mamãe estava de cama,desenganada pelos m(dicos, ela me pediu para cuidar de CicelJ e nãodei+á-la nunca so"inha. *u prometi que faria isso. CicelJ mora comigodesde então. *la ( uma e+celente enfermeira, como você !á teve ocasião de

 !ulgar, mas não esqueceu at( ho!e a perda do noivo. 6rocura casar osconhecidos para compensar sua frustra$ão. 6reocupa-se muito comigo e fa"

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Bianca no. 8

 planos para meu futuro. Como ela se dá muito bem com elia, imagina queser&amos o casal perfeito. CicelJ naturalmente pode morar conosco nessacasa, a menos que ela queira mudar e levar uma vida independente.

 — 'eria duro para ela sair daqui — comentou Cristina, comovida com a

hist#ria que ouviu. — *u não sabia nada do noivado mas eu lhe disse umdia que achava que ela devia casar. *u tenho a impressão que ela levouminhas palavras a s(rio e refletiu longamente sobre tudo que conversamos.

 — Ká era tempo. 'ua companhia fa" bem a ela, nem que se!a despertá-la desua apatia emocional. 'em falar que você ( um e+emplo vivo de algu(mque se cuida.Cristina deu um sorriso sem !eito.

 — 6ode ser, mas elia nesse caso ( melhor e+emplo que eu. — 6ois olha, eu gosto das louras de olhos a"uis e de nari"inho arrebitado. — /eu nari" ( arrebitado? — )m pouquinho. >ão atrapalha quando a gente se bei!a. reverendo 5rJan =ulham ficou encantado com a not&cia que havia umcasal preparado para receber o sacramento do matrim#nio. *le conheciaominic há muitos anos e aprovou a escolha de 1ina como uma bên$ão doc(u.s dois comungaram durante a missa no altar improvisado que o padrearmou no meio da pracinha, !untamente com os demais cristãos que haviana par#quia. epois da missa, 1ina foi se vestir para a cerim#nia, enquantoo padre acompanhou ominic at( sua casa a fim de assinar vários docu-

mentos que eram e+igidos em casamentos reali"ados de uma hora para aoutra.A irmã /ustafa, que era cristã e que servia de madrinha e de testemunha aomesmo tempo, a!udou Cristina a se vestir e lhe deu um ma$o de florescolhidas no quintal de casa.

 — ocê vai fa"er um #timo casamento — disse a irmã, — doutor ( umhomem muito bom e merece uma mulher como você. elia ( muitocompetente como m(dica, mas dei+a a dese!ar como mulher, *u não deviadi"er isso, mas o dia do casamento deles não teria sido tão feli" quanto

ho!e.Cristina recebeu a not&cia com espanto. elia e ominic tinham estado decasamento marcado? que acontecera para voltarem atrás?

 — ocê lembra desse dia, irmã? — Como se fosse ontem. 'e bem que tenha passado mais de ano. doutor estava muito nervoso e gritava com todo mundo. >em parecia que era o diade seu casamento. >#s estávamos reunidos na igre!a, 8 espera da noiva, eelia não apareceu 8 hora marcada. =inalmente fomos informados que ocasamento tinha sido adiado.

 — *ssa eu não sabia

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 — >a minha opinião, o doutor teve muita sorte. elia não era mulher paraele. Com você isso não tem perigo de acontecer. ocê vai fa"(-lo feli". *lemerece isso, aliás, porque ( um m(dico muito bom para os africanos. 1odosn#s gostamos dele como se fosse um irmão.

Cristina continuou algum tempo alarmada com a informa$ão que ouvira.6or que ominic não contara que estavam de casamento marcado e que, naltima hora, elia voltara atrás? *le tinha vergonha do que acontecera?

 — ocê tem um comprimido para dor de cabe$a, irmã /ustafa? *u não seio que me deu de repente. >ão estou me sentindo muito bem.

 — *u vou buscar na farmácia. olto num minuto.Cristina respirou aliviada quando se viu so"inha durante alguns minutos,embora a dor de cabe$a fosse verdadeira e não um prete+to para se ver livreda irmã. *la tinha a impressão que algu(m martelava um prego na suanuca. Al(m disso, estava pálida e tinha olheiras fundas, *videntemente anot&cia que ouvira da irmã a respeito de ominic e de elia calara fundo nasua imagina$ão e contribu&ra para agravar a indisposi$ão que sentia desde amanhã.*la melhorou um pouco, depois de tomar a aspirina, e preparou-se para acerim#nia na igre!a. estiu um con!unto de linho cor de areia, pBs o chap(ude palhinha italiana, que combinava com o vestido, cal$ou os sapatos

 brancos de cetim e apanhou o ma$o de flores que a irmã colhera no !ardimde casa.

 — As flores são melhores que uma !#ia no dia do casamento — comentou a

irmã com um sorriso. — *las alegram a noiva e lhe dão um ar de pure"a ede !uventude. lha, está na hora. *u atrasei o rel#gio cinco minutos paranão chegarmos cedo demais. /as eu lembro que o doutor não gosta deesperar.

 >o momento em que Cristina atravessou o pátio de bra$os dados com o padrinho, acompanhada pela irmã /ustafa, sentiu-se uma estranha, comose não pertencesse de corpo e alma 8quele mundo ali. ese!ava ter umaconversa a s#s com ominic, antes da cerimonia, entretanto, quandochegou diante do altar e foi recebida por um sorriso no rosto, sentiu-se

desarmada e preferiu adiar as confidências para uma outra ocasião. *laainda tinha a vida inteira para esclarecer as dvidas que atormentavam suacabe$a.

  CAPITULO XII

Cristina passou o resto do dia indisposta, com a cabe$a pesada e a vistaturva. >o in&cio da noite, ominic levou-a para a cama com trinta e oito

graus de febre.

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 — Coitada de você — comentou ominic. guardando o term#metro noesto!inho. — ocê passou mal o dia inteiro e não falou nada comigo.'egundo todos os sintomas, Cristina estava com uma forma benigna demalária. CicelJ, que voltara no fim da tarde da casa de sua amiga, ficou

furiosa por não ter sido convidada para o casamento. — ocê não tem a m&nima considera$ão por mim que custava ter meavisado com algumas horas de antecedência? Afinal, n#s somos irmãos.

 — *scute, CicelJ, não adianta brigar. >#s estamos casados e não há nadaagora que possa nos separar. Cristina estava perfeitamente lcida quandoaceitou meu pedido.

 — que você quer que eu diga? 0ue estou feli" da vida? *u nuncaimaginei que você fosse casar desse !eito, sem avisar os parentes e osamigos. A menos que ha!a uma ra"ão que eu desconhe$a...ominic fe" uma careta de aborrecimento. — >ão há nenhuma ra"ãoespecial. ocê me conhece o suficiente para saber que eu não agiria dessaforma.

 — 5em, se!a como for, esse casamento me apanhou de surpresa. *u penseique você gostasse de elia e que um dia...

 — * que um dia eu correria atrás dela como um cachorrinho? ocê estásonhando, CicelJ. *u não tenho mais idade, nem paciência, para aceitar o

 !oguinho amb&guo de elia. casamento com Cristina foi maravilhosa-mente simples. *u espero ser feli" com ela at( que a morte nos separe.'endo assim, acho melhor você aceitar o fato !á consumado.

CicelJ apanhou sua bolsa e fe" men$ão de sair de casa, ofendida com as palavras do irmão. — nde você vai? — perguntou ominic com paciência, acendendo ocachimbo.

 — ou me mudar para o chal( ao lado. '# assim vocês terão maisliberdade em casa. *u não quero atrapalhar o namoro de vocês.

 — /as não há necessidade de mudar agora 8 noite. Cristina está doente.*la apanhou malária, pelo !eito.

 — 'into muito. Apanhar malária no dia do casamento não ( realmente uma

das melhores coisas desse mundo. ocê falou alguma coisa com elia arespeito do casamento? u prefere que eu fale?

 —  6ara in&cio de conversa eu não tenho que dar satisfa$ão a elia dosmeus atos. =oi você que manteve essa ilusão a respeito de n#s dois. (liateve de"enas de casos nesse meio tempo e é disso que ela gosta — ter um

 bando de admiradores em sua volta. — /as ela sempre volta para você. *la me disse que você ( uma esp(ciede referência para ela. *la não pode viver sem sua companhia por muitotempo.

 — *stá mais do que na hora dela se virar so"inha — disse ominic comimpaciência. — *u não vou mais servir de referência para ningu(m.

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Bianca no. 8

CicelJ balan$ou os ombros e chamou o criado da casa para a!udar a levarsuas coisas para o chal( vi"inho, onde Cristina estava hospedada desde quechegara a )gadu. 6or sua ve", as roupas e ob!etos pessoais de Cristinaforam tra"idos de volta para a casa de ominic. 'em querer, o criado

dei+ou o vestido longo que Cristina vestira na noite anterior arrastar nochão. ominic apertou os lábios com um gesto de irrita$ão, ao ver umamancha de lama na bainha.*le estava escovando o vestido de seda quando CicelJ tornou a entrar nasala e parou !unto da porta como se fosse uma estranha.

 — 6osso entrar? — perguntou cerimoniosamente. — *ntre, por favor. =oi bom você ter aparecido. *u queria mesmo con-versar com você.

 — A respeito do quê? — A respeito de Cristina. 'e você tem a inten$ão de ofendê-la, como vocêtentou me agredir há pouco, eu quero preveni-la que serei for$ado a tomaruma providência en(rgica. >#s estamos !untos há muitos anos, mas nãovou permitir que Cristina sofra com sua frustra$ão, como eu sofri emsilêncio. ocê ( uma e+celente enfermeira e não lhe faltarão oportunidadesem qualquer hospital do mundo. >ão há ra"ão por isso para você se isolarnesse lugar aqui. sobretudo se não está feli" com a situa$ão. A decisãodepende inteiramente de você, certo? ocê ( minha irmã e eu gosto devocê. As ve"es, no entanto, você assume uma atitude negativa que não meagrada nem um pouco.

CicelJ ouviu em silêncio as palavras francas do irmão. *m seguida, entrouna sala de cabe$a erguida. CicelJ era uma mulher alta e imponente, no quese parecia com o irmão.

 — /uito obrigada, ominic, por tudo isso que você me disse. ocê temra"ão na maior parte de suas cr&ticas. *u dependi de você a vida inteira efiquei surpresa, naturalmente, quando você se afastou de mim repentina-mente. *u vou enfrentar so"inha a situa$ão. 1alve" se!a melhor para mim.quem sabe? Agora, posso fa"er uma visita a Cristina?

 — *la está de cama, com febre alta.

 — *u sei disso. Eu sou enfermeira e não esque$o de meus deveres pro-fissionais por motivos pessoais. *u vou fa"er companhia a ela durante anoite. ocê tem alguma ob!e$ão?

 — >ão, nenhuma. 6elo contrário, eu agrade$o sinceramente sua genero-sidade.Como ominic raramente fa"ia elogios, CicelJ ouviu com agrado oagradecimento do irmão. *la não estava mais furiosa nem magoada comono primeiro instante em que recebera a not&cia do casamento. Cristina nun-ca lhe dera a menor ra"ão de quei+a. 6elo contrário, ela se lembrava perfei-

tamente da conversa entre as duas e que a levara a relletir longamente sobresua condi$ão de mulher. *la ouviu com aten$ão as palavras de Cristina e

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Bianca no. 8

 procurou pBr em prática os conselhos que lhe dera. 6assou a se vestir commais cuidado, mudou o penteado e acreditou que ainda era uma mulhermerecedora do amor de um homem.elia nunca tinha feito nenhum comentário nesse sentido, A verdade ( que

elia s# sabia falar de si mesma, dos seus planos e ambi$%es para o futuro.Kamais dava a oportunidade aos outros para lhe confiarem seus problemas.A observa$ão de Cristina de que ela tinha uma bela aparência que podia setornar ainda mais atraente se alterasse alguns pequenos detalhes na suamaneira de ser, causou uma impressão duradoura em CicelJ. *la visitouuma amiga que tinha um ateliê de costura e encomendou dois vestidosnovos para renovar seu guarda-roupa.

 — que deu em você, CicelJ? — perguntou /aria, boquiaberta com avisita da amiga. — ocê nunca ligou para a aparência

 — 6ois (, mas eu resolvi me cuidar mais, de agora em diante. ocê achaque eu não tenho mais idade para isso?

 — e !eito nenhum ocê fa" muito bem de se vestir com eleg2ncia.0uem falou que você está velha? ocê ( muito mo$a ainda e tem idade

 para come$ar a vida de novo. — >ão brinca, /aria — erdade ocê sabe que eu não costumo di"er o que não penso. *u voulhe fa"er um vestido longo para a noite e um vestido mais simples paraandar de dia. Assim. você terá um guarda-roupa para qualquer ocasião.

 — Otimo. ocê é um an!o. 0ue cor você sugere para o longo? 

Eembrando de todos esses acontecimentos, CicelJ sentou-se ao lado dacama onde Cristina estava deitada, com o rosto em brasa, e lhe aplicou umlen$o molhado na testa. Cristina murmurou um agradecimento em vo" bai-+a e abriu os olhos sonolentos.

 — Ah. estou me sentindo tão mal, CicelJ — murmurou, levando a mão 8cabe$a. — >ão sei o que eu tenho... /inha cabe$a está estourando.ominic estava ao lado de CicelJ quando Cristina abriu os olhos, ela viroulentamente a cabe$a, de um lado para o outro, como se mal conseguissemanter as pálpebras abertas.

 — ocê vai melhorar, querida — disse CicelJ procurando confortá-la. — ocê está com um pouco de febre, ( s# isso. Amanhã você estarámelhor e poderá se levantar da cama. *u tenho e+periência dessa doen$a.

 — eus te ou$a — balbuciou Cristina num sussurro. >o momento seguinte, ela voltou a mergulhar no del&rio da febre alta ecome$ou a falar de navios, de naufrágios em alto-mar e de outrasrecorda$%es antigas,ominic deu um suspiro e sentou-se na beira da cama. casamento inclu&atamb(m esses momentos de angstia, em que o marido assumia o

sofrimento da mulher como se fosse o seu. *le recordou sua primeira crisede malária, as depress%es repentinas, os del&rios da febre alta, a garganta

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Bianca no. 8

 permanentemente seca, o esfor$o para falar e não conseguir se e+pressarclaramente, porque a l&ngua parecia ter dobrado de tamanho e os lábiosestavam moles e pega!osos.1udo isso estava se repetindo agora com Cristina e ele sentia na pr#pria

 pele o sofrimento da mulher.(lia chegou no dia seguinte, de vestido novo e os cabelos frisados no altoda cabe$a, a la #reca.

 — Ah, vocês não fa"em ideia de como eu me diverti — e+clamou aoentrar na sala. — Como vai você, querido?*la fe" men$ão de atirar os bra$os em volta de ominic que estava sentadoao lado de Cristina no sofá da sala.

 — Cristina passou muito mal, ontem. @o!e ( o primeiro dia que ela sa&%o quarto.

 — que ela tem? — perguntou elia espantada e sem !eito. — /alária. >uma forma benigna. — *u estou me sentindo completamente tonta.— murmurou Cristinalevando a mão 8 cabe$a.

 — Coitadinha ocês não me falaram nada. 6or que esse rem(dio contra amalária dei+a a gente tão amarela, como se fosse um chinês?

 — *u estou amarela? — perguntou Cristina surpresa, voltando-se paraominic.

 — )m pouquinho, mas isso passa com o tempo. — oltou-se para elia. — ocê não quer esperar por mim na biblioteca? *u vou levar Cristina para

o quarto e estarei lá num minuto. — 0uanto mist(rio, gente — disse elia, saindo da sala.ominic queria comunicar o casamento a elia em particular. *le sabia,

 por e+periência, que a rea$ão dela seria mais do que de simples surpresa.*ntretanto, a irmã /ustafa atrapalhou seu plano ao entrar na sala nessemomento.

 — *stá melhor, 1ina? — *stou. /as a cabe$a ainda me d#i. — Ah, por que você foi cair doente logo no dia do casamento? Coitada. ..

não teve tempo nem para provar o bolo que eu fi" — 5olo de casamento? 0ue hist#ria ( essa que não estou sabendo? 0uemfoi que casou nessa casa. — perguntou elia da porta.ominic percebeu que não havia outro !eito senão contar tudo de umave" a elia.

 — Cristina e eu nos casamos na semana passada. — >ão me diga — e+clamou elia com um sorriso amarelo. — :sso ( primeiro de abril — *u vou e+plicar a você em particular.

 — >ão demore, então *stou morrendo de curiosidade para ouvir suae+plica$ão.

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Bianca no. 8

  CA6:1)E Q:::

 — *u imagino que você se entedie mortalmente nesse fim de mundo, mas

 por que s# agora você decidiu casar, sem avisar nada a ningu(m? A menosque não tenha ocorrido a oportunidade antes. >o fundo, tudo isso me parece uma enorme piada.ominic não sabia ao certo o que se passava na cabe$a de elia. *la estavase controlando para não di"er um desaforo ou estava calma e indiferentecom a not&cia do casamento? 1alve" o sorriso que estampava nos lábiosfosse o sinal de que estava prestes a e+plodir numa crise de fria.

 — >ão foi por isso que me casei — come$ou ominic. — *sse pode ser oseu caso. elia, mas você não deve !ulgar os outros por você.

 — * por que esta correria? 6or que você não convidou ao menos os!amigos &ntimos para o casamento?

 — Concordo que a decisão foi precipitada, mas não havia outro !eito. — ocê terá tempo de sobra para se arrepender dessa decisão... — :sso ( uma previsão ou um dese!o?elia procurou ocultar da melhor forma poss&vel o rancor que nutria nocora$ão.

 — *u não me importo a m&nima com o que você fa" ou não fa". Como eufui a principal responsável por nossa ruptura, não posso me quei+ar delevar um fora. *u fiquei ofendida apenas porque você me ocultou esta

decisão, s# isso. A impressão que você dá ( de quem se envergonha do seucomportamento. 6or pouco eu não o bei!ei na frenle de sua mulher

 — ocê foi sempre muito e+pansiva... — * ela, tamb(m (? — que você está querendo saber? 'e fi"emos amor na noite de npcias?A resposta ( não. 1ina caiu doente no dia do casamento. 0uanto a sabercomo vai ser mais tarde, isso não ( absolutamente de sua conta.

 — *u conhe$o esta conversa Como amante você ( tremendamente t&mi-do, sabia? *u pensei que você tinha amadurecido nestes ltimos anos.

 — *u não vou discutir os detalhes &ntimos do meu casamento com você,nem agora nem daqui a de" anos. As ve"es eu penso que essa vida fabulosaque você leva ( composta apenas de alguns romances banais e das fofocasque você ouve nas casas que frequenta.

 — ocê tem ( inve!a — >ão se!a rid&cula.  — ocê nega que me guarda rancor? lhe, um casamento fundamentadonesse sentimento não tem muita chance de sobreviver, na minha opinião.

 — amos dei+ar meu casamento de lado e saber o que você pretende fa"er 

agora. ocê vai voltar para /ombasa e reatar o caso interrompidocom @arrJ?

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Bianca no. 8

elia deu um sorriso sem gra$a. — Como você sabe que eu namorei com @arrJ? — caso foi muito comentado nas colunas sociais. — Ah, bom. *u pretendo abusar de sua hospitalidade mais uma semana,

antes de partir para o litoral. *u combinei com 5ill verdale e n#s vamosnos encontrar em /ombasa. ocê tem alguma ob!e$ão? — Absolutamente. ocê pode ficar o tempo que quiser, contanto que nãocrie problemas em nossa vida con!ugal. — ominic procurou tranquili"ar-se a si mesmo pensando que elia não podia fa"er mal a Cristina, uma ve"que o casamento estava consumado.

 — 6ode ficar sossegado, meu querido. *spero que Cristina se recupererapidamente. *u imagino que você recebeu um belo golpe com essa doen$ainesperada...Cristina acordou no dia seguinte com a impressão de que estava doente hámuitas semanas. A febre alta que abatera suas for$as alterara tamb(m suamem#ria, não dos fatos, mas dos motivos dos fatos. *la sabia que estavacasada com ominic, mas não tinha a menor ideia do motivo que a levara acasar-se. ominic dissera que gostava dela? >ão. issera apenas que osdois combinavam e que podiam levar uma vida harmoniosa !untos.ominic visitava-a constantemente, aproveitando os per&odos de folga nohospital, e ficou ligeiramente irritado quando os rem(dios que receitou nãotiveram o efeito imediato que esperava.

 — Como você se sente?

 — 6(ssima. >ão sei o que eu tenho. *sta ( a primeira ve" que eu caio decama, desde que tive sarampo em crian$a.

 — A ureia no sangue ainda continua alta, H isso que causa essa impres-são de mal-estar. *u acho melhor adiar minhas f(rias por mais uma semana.ocê não está em condi$%es de via!ar.

 — ocê me desculpe, ominic. *u estou atrapalhando todos os seus planos. — /inha querida, você está doente ocê não tem culpa de ter apanha domalária.

 — *u sei disso. /as você estava aguardando com tanta ansiedade essaf(rias.

 — *u vou aguardar com paciência um pouco mais. que se há dl fa"er?Eogo que você estiver em condi$%es de via!ar, vamos partir.

 — Aposto que você está arrependido de ter casado comigo. *u s# lhe doutrabalho. 'e não fosse por minha causa, você faria esta viagem quando bementendesse.ominic lan$ou-lhe um olhar contrariado.

 — amos dei+ar de lado as suposi$%es gratuitas, minha querida. hos- 

 pital está cheio, e mais dois funcionários ca&ram doentes. *u pedi a elia, para nos dar uma a!uda.

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 — ocê fe" bem. *la tem a vantagem de conhecer o trabalho. — ocês duas andaram conversando ultimamente?   —  >ão. *u não vi ningu(m depois que ca& de cama, e você, pelo visto, estásempre muito ocupado no hospital para me fa"er companhia. — )ma

lágrima rolou pelo rosto pálido e abatido.ominic sentou-se na beira da cama e segurou a mão dela. — ocê tem ra"ão, 1ina. /as não ( por querer. *u não posso me ausentarmuito tempo do hospital. — *le afastou os fios de cabelo que ca&am emcima dos olhos. — *ssa sua depressão vai passar quando você melhorar,tenho certe"a. ocê vai se sentir mais animada e bem-disposta quandovoltar a se alimentar normalmente. A& então vamos aproveitar minhasf(rias com alegria e entusiasmo. *stá combinado?1ina balan$ou a cabe$a em silêncio. 'e ominic achava que a situa$ão iamelhorar, era porque não estava satisfat#ria no momento. 6ara nenhum dosdois. ominic estava arrependido do casamento precipitado? e fato, o

 pedido e a cerim#nia na igre!a transcorreram quase no mesmo dia, e os doisnão tiveram nem mesmo vinte e quatro horas para refletir sobre o assuntocom calma. =ora isso, havia a alusão a elia. 0ue import2ncia tinha seelia conversava ou não com ela? que elia tinha para contar que era

 prefer&vel ela não saber? Cristina estava febril, tr(mula de frio e com dor decabe$a quando CicelJ apareceu para lhe fa"er uma visita, pouco antes doalmo$o.

 — Como você está se sentindo, Cristina? ominic me disse que você está

deprimida e abatida. ocê não pode se dei+ar levar pela depressão, minhaquerida. Eembre-se como elia foi paciente e resignada quando operou doapêndice.Cristina concordou com um gesto lento da cabe$a. Como CicelJ podiacomparar uma opera$ão de apendicite com uma crise de malária? *la esta-va inteiramente alheia a tudo e nada lhe despertava o menor interesse, nemmesmo a opinião dos outros.

 — ocê está com um pouquinho de febre novamente — comentou CicelJ,olhando com aten$ão para o term#metro que segurava na mão. — Acho

melhor você tomar um salofeno.CicelJ sentou-se na cadeira ao lado da cama, com as mãos cru"adas emcima do colo. *la parecia uma madona italiana do 4enascimento. 'omenteos olhos não eram tão plácidos quanto o resto do corpo.

 — *u tenho quin"e minutos livres. amos conversar sobre as ltimasnovidades, desde seu casamento repentino...

 — Ah, você me desculpe, CicelJ, mas eu não estou com disposi$ão paraconversar sobre esse assunto — disse Cristina com sinceridade.

 — 6or favor, Cristina, não me e+clua de sua vida *u confesso que fiquei

magoada quando recebi a not&cia do casamento. *u sei que a visita do padre foi inesperada, mas isso não !ustifica toda esta correria.

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Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet Shore

Bianca no. 8

 — ocê preferia que ominic tivesse casado com eliaG? *u soube queos dois estavam com data marcada.

 — H verdade — concordou CicelJ sem !eito. — elia por(m não com- pareceu na hora marcada e o padre não pBde esperar. =oi depois disso que

os dois brigaram. *u não pensei que fosse coisa s(ria, no in&cio, mas pareceque foi. — padre não achou estranho quando me viu no altar com ominic? — >ingu(m se espanta aqui com as decis%es do meu irmão. *le sabe perfeitamente o que fa". /as eu não queria falar sobre ominic nem elianesses poucos minutos que tenho para passar com você. *u queria agrade-cê-la por um grande favor que você me fe". *stá lembrada daquela conver-sa que tivemos há algumas semanas? *u refleti sobre tudo que dissemos.Confesso que fiquei magoada no primeiro momento, mas depois acabeiaceitando sua sugestão. *u fi" realmente uma forcinha para modificar meuestilo de vida. 4enovei meu guarda-roupa, modifiquei meu penteado e re-solvi inclusive namorar, tá bom.

 — 6arab(ns, CicelJ ocê está certa, absolutamente certa — *u vim convidá-la para !antar conosco na qu&nta-feira. *spero quevocê este!a completamente boa at( lá. *u convidei tamb(m um amigo meue gostaria que você o conhecesse. *le se chama Kim Saterman e ( guarda-florestal na reserva de )gadu. *u s# o encontrei umas duas ve"es at( agora,mas n#s nos damos muito bem. :sso ( bom sinal, você não acha. *u mandeifa"er um longo de crepe indiano para o !antar e forrei um par de sapatos

que eu tinha com o tecido do vestido. ocê acha que eu fi" bem? — Claro que fe" ocê vai estar linda... — Ah, fa" anos que não recebo ningu(m em casa para !antar e estou muitocontente.

  CA6M1)E Q:

elia apoiou o cotovelo na mesa de mármore do laborat#rio com um gestoestudado. *stava com um avental impecavelmente passado e #culos com

aros grossos de tartaruga. *la tinha a vista perfeita, mas usava #culos parater uma aparência intelectual, especialmente quando colocava os #culos emcima da cabe$a, no meio dos cabelos castanhos.elia tinha um diploma de patologia. >a ocasião em que obtivera odiploma, seu namorado era um patologista e+tremamente bonito. Agoraesse conhecimento lhe era muito til. )ma epidemia de malária podiainfestar a região atingida pelas cheias do rio.A maior parte dos nativos que moravam na reserva sofria de crises peri#-dicas de malária. *ntretanto, se uma mulher grávida fosse acometida desse

mal, era muito provável que perdesse o bebe, a menos que fosse medicadaa tempo, de uma forma adequada. ominic mantinha por isso postos m(di-

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Bianca no. 8

cos volantes que percorriam as principais aldeias da comunidade,e+ortando os homens a levarem as mulheres ao hospital aos primeirosind&cios de febre e tremor.elia tirou os #culos do rosto e apontou-os na dire$ão de ominic.

 — ocê quer saber minha opinião sincera ou uma versão cor-de-rosa? — iga a verdade. — Cristina está com o ba$o inchado. :sso significa que terá que seroperada se apanhar novamente a malária. f&gado tambem está pregui$o-so. *u creio que ela tem uma hepatite latente. Concorda comigo?

 — Concordo — disse ominic, com a fisionomia tensa. — ocê sim- plesmente confirmou minhas suspeitas. — que você vai fa"er? — 4ealmente não sei. — 0uer um conselho de amigo? Eeve-a imediatamente dessa regiãosu!eita 8 malária

 — Como eu posso me ausentar daqui agora? m(dico que me mandaramde >air#bi ( completamente ine+periente. 0uem vai se ocupar dasopera$%es?

 — >esse caso, dei+e Cristina aos meus cuidados. 5ili verdale pode noslevar ao hospital de >air#bi e lá ela será tratada pelo professor itre,inclusive eu posso ficar lá alguns dias para saber o diagn#stico do m(dico ecomunicá-lo a você. epois, vou cuidar da minha vida.ominic ouviu a sugestão em silêncio, com a fisionomia pensativa.

 — >ão sei como agradecê-la. elia — disse por fim. — 6or que vocêdecidiu ser tão generosa depois do que aconteceu?

 — *u fiquei com pena de Cristina. Al(m disso, lembre-se que sou m(dicacom uma boa dose de compai+ão pelos doentes. u você !á se esqueceudisso, querido?ominic percebeu pelo tom artificial de elia que ela não o perdoara porseu casamento com Cristina. At( que ponto podia confiá-la aos cuidados de(lia? 6or outro lado, não linha outra alternativa senão aceitar a sugestãodela. *nquanto não fosse substitu&do por um m(dico de toda confian$a não

 podia se ausentar tranquilamente de )gadu. *le passaria um telegrama para >air#bi a fim de providenciarem um substituto adequado para suasfun$%es.

 — que você acha, Cristina, de ir com (lia para >air#bi? — perguntouominic 8 hora do almo$o. — professor itre ( o maior especialista daDfrica em quest%es de doen$as epidêmicas e ele a tratará com maisconhecimento de causa do que eu.

 — ocê vem comigo ou eu vou so"inha? — :nfeli"mente, eu não posso me ausentar daqui agora. =a"al está para

chegar de um dia para o outro. At( lá terei que permanecer no meu posto.ocê vai via!ar com elia e 5ill verdale. *la se ofereceu para permanecer 

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Bianca no. 8

alguns dias em >air#bi e lhe fa"er companhia. Eogo que você estiver boa,n#s vamos tirar as f(rias prometidas, está bom?Cristina deu um suspiro de des2nimo.

 — 'e ( que vou ficar boa um dia... ocê pensou que ia casar com uma 

mulher alegre e bem-d&sposta e, em ve" disso, lhe cai nas mãos mais uma  paciente. Coitado de você, meu querido /as ( absolutamente necessário que eu vá a >air#bi? @o!e, por e+emplo, eu estou me sentindo melhor. 0uem sabe vou ficar boa?

 — *sses per&odos de melhoria são comuns nessa doen$a, mas você não está completamente curada, essa ( a verdade. *u tenho receio que sofra uma reca&da ou se!a contaminada outra ve" por um portador da malária. 'eisso acontecer, o que não ( dese!ável, você terá problemas s(rios no ba$o eno f&gado. *ntendeu?Cristina balan$ou a cabe$a em silêncio, ominic terminou de beber o caf(e colocou a +&cara com cuidado em cima do pires. Cristina percebeu quehavia um clima de suspeita pairando no ar.

 — /e diga uma coisa.., Aquela noite que !antamos !untos, na v(spera docasamento, você estava perfeitamente lcida?Cristina corou com a pergunta inesperada. nde ominic queria chegar e+atamente?

 — ocê quer saber se eu estava no meu !u&"o perfeito, ( isso? Acho que podemos falar abertamente um com o outro. Afinal, somos marido e mu-lher.

 — *stá bom, então. ocê tinha plena consciência dos seus atos naquelanoite?

 — 1inha. *u concordei em desempenhar meu papel numa esp(cie dematrimonio que tinha por ob!etivo tirar partido de nossas aptid%es m(dicas.*stá contente? amor não entrou em cogita$ão nesse acordo. — *la enca-rou-o no fundo dos olhos. — *u não podia imaginar que ia cair doente nomesmo dia e que s# lhe daria amola$ão, em ve" de a!udá-lo no seutrabalho.ominic levantou-se da cadeira com um gesto de cansa$o.

 — ocê não tem culpa do que aconteceu. 6rocure entender isso, pelo amor de eus ocê está deprimida em consequência da doen$a. epois deamanhã você vai embarcar para >air#bi com elia. amos dar um !antar dedespedida ho!e 8 noite. CicelJ gostaria muito que você nos fi"esse com-

 panhia. — ou vou fa"er o poss&vel — disse Cristina, sem anima$ão.*la tinha a impressão que estava se afastando lentamente de ominic. >ãoagia daquela maneira por indiferen$a ou agressividade, mas apenas com aesperan$a de provocá-lo, a fim de que ele se mostrasse menos frio e

reservado na sua presen$a. As conversas cerimoniosas que os dois tinhamtrocado desde o dia do casamento dei+avam-na e+asperada. Afinal, ela era

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Bianca no. 8

tão elegante assim nde está o feli"ardo? eve ser algu(m fora docomum, para você levar tanto tempo para se arrumar...elia caiu na risada e CicelJ olhou sem !eito para Kim.

 — ei+e CicelJ em pa" — interveio ominic, ao notar o !eito embara$ado

da irmã. — ocê toma um outro aperitivo, Kim? — /uito obrigado.6obre CicelJ. *la estava encabulada na presen$a de Kim e passou a noiteinteira conversando em monoss&labos. *la levou a mão várias ve"es 8 cabe-$a, como se estivesse insegura com o penteado novo que, alguns minutosantes, gostara tanto de ver diante do espelho. !antar transcorreu num clima de tensão. elia continuou com seuscomentários ferinos dirigidos indistintamente a todos os presentes. At(mesmo Kim recebeu sua parte. ominic cansou de tomar o partido da irmãe mergulhou num silêncio pesado. e tempos em tempos, olhava em dire-$ão a Cristina, que estava com a fisionomia abatida.

 — *u vou dormir, pessoal — disse elia com um boce!o depois que ocriado serviu o caf( na sala. — Ainda bem que vou voltar para a civili"a-$ão *u não aguento essa vidinha do interior. ocês estão com uma cara dedes2nimo 5oa noite para todos.

 — *u tamb(m estou de sa&da — disse Kim, levantando-se do sofá. — ocê !á vai? >ão quer tomar mais um u&sque? — >ão, muito obrigado. *u ainda tenho um bom caminho pela frente. — =oi um pra"er conhecê-lo — disse ominic. — Apare$a sempre. >#s

estamos em casa todas as noites.Cristina acorapanhou-o at( a porta da sala.

 — *u posso ter uma conversa particular com CicelJ? — perguntou Kimem vo" bai+a.

 — /as claro que sim — e+clamou Cristina com um sorriso, apontando para a varanda que ficava ao lado da sala. — 6or que vocês não conversamna varanda? H mais sossegado que na sala e ningu(m vai incomodá-los.Kim aceitou a sugestão com alegria. Eogo depois CicelJ reuniu-se a ele.

 — =ica um pouco comigo — disse Cristina quando ominic entrou no seu

quarto para despedir-se dela. — s dois estão conversando na varanda. — que aconteceu com CicelJ? *la perdeu completamente o !eito... — *la não está acostumada a ser e+posta publicamente. elia não lhe deuum instante de sossego, pobre"inha. Ainda bem que tudo terminou bem. sdois estavam muito contentes quando os dei+ei na varanda./eia hora depois, CicelJ entrou radiante no quarto de dormir de Cristina.

 — Ah, estou tão contente Kim me convidou para !antar fora na quarta-feira. >ão ( maravilhoso? *le disse que quer me ver de novo com estevestido e ficou contente ao saber que elia está de partida. 6elo visto. Kimi

não simpati"ou muito com ela. — 1amb(m ela s# fe" agredir todo mundo durante o !antar

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 — 6ois (. Ah, Kim gostou muito tamb(m do penteado que você me fe".6osso lhe dar um bei!o de agradecimento.Cristina estreitou-a nos bra$os e bei!ou-a com ternura no rosto.

 — Ainda bem que tudo saiu como você queria. CicelJ. elia vai embora

depois de amanhã e você não terá mais que ouvir seus comentáriosmaldosos. — ra$as a eus *spero que at( lá ela não crie nenhum problema paravocê e ominic. '# faltava agora vocês brigarem por causa dela

  CA6M1)E Q

 >a semana seguinte ocorreu uma diminui$ão na atividade do hospital e oatendimento dos pacientes declinou sensivelmente. @ouve um momento,

 por(m, que o pequeno hospital dava a impressão que ia estourar de ativida-de. s pacientes aflu&am de todos os cantos e ominic deu ordens paraserem instalados mais seis leitos a fim de atender as v&timas de malária oude outras doen$as epidêmicas.A primavera em )gadu ( uma esta$ão mida e quente, muito diferente, sobtodos os aspectos, da primavera na *uropa, a esta$ão mais gostosa eapreciada do ano. As serras no entanto estavam cobertas de vegeta$ão e afloresta parecia palpitar de vida. Algumas árvores estavam carregadas deflores, outras de frutas e os animais pequenos, que faziam os ninhos na orlada mata. corriam pelo chão ou saltavam de galho em galho numa atividade

fren(tica, com os olhos arregalados na face pequena. — /uito obrigado por sua a!uda — disse ominic a elia, no fim doe+pediente. — ocê foi uma mão na roda. >ão sei como agradecP-la.

 — =oi um pra"er trabalhar com você. querido. *stou sempre 8 sua dis- posi$ão. iga que você vai sentir falta de mim — Com toda certe"a. ocê ( sempre bem-vinda. — *u fui uma visitante leal nos ltimos anos. não ( verdade? 1alve" eutenha feito mal de correr atrás de você como uma desesperada, e foi porisso que acabei perdendo-o. — *la deu um suspiro fundo. — que se há

de fa"er a vida não perdoa. Como vamos ficar muito tempo Lsem nosencontrarmos acho que pod&amos aproveitar o momento para nos despe-dirmos...elia estava segurando um cigarro na mão e ominic inclinou-se para

 bei!á-la, lembrando-se da atra$ão f&sica que apro+imara os dois no passado. >o instante seguinte. (lia mordeu-o no lábio e deu uma gargalhada ao ver uma gota de sangue escorrer de sua boca.

 — ocê não mudou nada — e+clamou ominic. levando a mão ao lábioferido.

 — esculpe, querido, mas eu não resisti 8 tenta$ão de machucá-lo peloque você me fe". ocê me magoou profundamente, sabia?

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 — elia, não minta, pelo amor de eus ocê não ligou a m&nima para omeu casamento. ocê apenas ficou ofendida por não ter sido avisada. /aso que está feito, está feito. ocê tem que aceitar os fatos como são.- — 0ue ideia antiquada, homem div#rcio está a& para remediar os

casamentos precipitados. /as não há de ser nada. *u não sou mais sens&velcomo era antes. ou sobreviver a esta perda. — *u tamb(m não sou mais ing(nuo como era antes. * foi com essas palavras que os dois se despediram.5ill verdale ia passar na manhã seguinte para apanhar as duas e havia

 pouco tempo livre para as despedidas. ominic dese!ava passar a ltimanoite com Cristina a fim de tratarem de certas quest%es mais &ntimas eesclarecerem as ltimas dvidas.*le estava tenso e preocupado quando entrou no chal( e perguntou maisuma ve" a si mesmo o que tinha ocorrido ultimamente que o afastara dela.s dois se pareciam estranhos um ao outro, sensa$ão que nunca e+perimen-tara antes com a mesma intensidade.Cristina estava fa"endo um arran!o de flores na sala e voltou-se surpresaquando ominic entrou, como se a presen$a dele a incomodasse.

 — Como você passou o dia? — perguntou educadamente. ominicsentou-se na cadeira de !unco e esticou as pernas.

 — /uito trabalho, como sempre. >#s contávamos com essa epidemia enão fomos apanhados de surpresa. =eli"mente, o pior peda$o !á passou.Alguns leitos vagaram na ltima semana. ocê não fa" ideia de como estou

cansado... — 6or que você não descansa um pouco no quarto? *u posso levar seu !antar lá. ocê aproveita e tira um cochilo...ominic deu uma risada sem gra$a.

 — /uito obrigado, 1ina, por sua gentile"a. u você sugeriu isso para sever livre de mim?*la voltou-se como se tivesse recebido um tapa no rosto.

 — *scute, não vamos brigar na ltima noite que passamos !untos. >ão podemos conversar tranquilamente?

 — 6odemos, claro que podemos. o que vamos conversar? — =ale-me de seus primeiros anos de medicina — disse Cristina, comanima$ão. — que você fe" depois que terminou os estudos?

 — *u passei um ano na *sc#cia, como diretor de um pequeno hospital. dono era um velho chamado /ac1aggart, uma figura inesquec&vel. *letinha o costume de chamar a aten$ão dos novatos quando encontrava umdeles fumando no pátio ou nos corredores. *le se apro+imava do calouro e

 balan$ava o dedo amarelo de nicotina no seu nari", di"endoF Locê estásoprando essa fuma$a para dentro do peito, !ovem ocê vai acabar com

c2ncer no pulmão. 6or que você não cheira o fumo? H muito mais segurodo que tragar a fuma$aL. /esmo assim, ele morreu alguns anos depois.

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 — e c2ncer no pulmão? — >ão, de um tumor na cabe$a. *le adiou a opera$ão at( o ltimoinstante. *u suponho que deve ter dado muito trabalho aos operadores,

 porque ele abominava a cirurgia. )m dos seus lemas favoritos era3 Ls

matadouros para o gado e os hospitais para os homensL — * depois, para onde você foi? — 1rabalhei algum tempo como cl&nico e obtive # diploma de cirurgião./ais tarde vim morar aqui, onde estou at( ho!e.

 — ocê pretende mudar daqui um dia? — 6ara onde eu iria? *u não me dou bem num consult#rio particular,atendendo os clientes ricos. *u gosto mais de trabalhar com as pessoassimples, como são os nativos daqui, embora eles se!am terrivelmente irri-tantes 8s ve"es, com seus preconceitos e cren$as absurdas.@ouve um silêncio comprido enquanto terminavam de !antar. criadolevou os pratos embora e ominic acendeu o cachimbo enquanto esperavao cafe"inho.

 — *u posso lhe fa"er uma pergunta? — :ndagou Cristina em dado mo-mento.

 — 0uantas você quiser. — @á quanto tempo você conhece elia? — @á uns quatro anos, mais ou menos. 'e ( que posso di"er que conhe$ouma mulher amb&gua como elia.

 — /as você gostou dela uma (poca...

 — elia ( muito insinuante quando quer. *la atirou seu charme em cimade mim e confesso que me dei+ei sedu"ir por ele,

 — 6or que vocês romperam o casamento na ltima hora?*ra a primeira ve" que Cristina tinha a coragem de abordar o assunto quelhe torturava a mente. 6or que ominic não tocou nisso espontaneamente,sem ela ser for$ada a fa"P-lo? 1eria sido prefer&vel, pensou, enquantoaguardava uma resposta 8 sua pergunta.

 — ocê tamb(m estava com data marcada para casar com /artin. 6or que você desmanchou o noivado?

 — 6orque eu mudei de ideia ao refletir melhor sobre o assunto. /as vocêfoi salvo pelo gongo... 'e elia tivesse ido 8 igre!a naquele dia, comoestava previsto, vocês dois agora seriam marido e mulher. Ká pensou nisso?

 — Como eu lhe disse antes, eu não tenho o costume de pensar em supo-si$%es abstratas. *u me limito aos fatos concretos. 6or que você se preocu-

 pa com isso? =oi com você que eu casei e não com elia. 6onto final. 6orque você não aceita a realidade?

 — 6orque eu tenho a impressão de que (lia combinaria melhor com vocêdo que eu. *la ( uma mulher muito interessante e você gostou dela antes de

me conhecer.

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 — ocê tamb(m ( uma mulher interessante, acho que at( mais do que ela,quando está bem de sade.

 — * se eu não ficar boa mais, o que vai ser da gente? )m casal deve teralguma coisa que os una nos momentos de crise. >#s não temos um la$o

deste tipo, que eu saiba. cachimbo tinha apagado e ominic fitava-a com aten$ão. — *scuta, não vamos nos preocupar com isso agora. amos esperar quevocê este!a completamente curada para conversarmos sobre o futuro. >un-ca ( tarde demais para remediar as coisas. *ssa ( minha posi$ão. >ão seinquiete antecipadamente. >ada aconteceu at( agora. 1udo se resolverá nomomento oportuno.

 — Como ( poss&vel eu não me inquietar? 'e eu soubesse ao menos por quevocê casou comigo cora$ão dele se contraiu como se fosse apertado por um punho forte.

 — *u vou responder 8 sua pergunta em >air#bi. clima de lá ( maisfavorável 8s confidências &ntimas. Agora vamos deitar que !á ( tarde. ocêtem uma longa viagem para fa"er amanhã e deve estar bem descansada.ominic bei!ou-a na testa antes de apagar a lu" da cabeceira.

 — *u passo no meio da noite para ver como você está — disse. Cristinadormia mal e acordava de tempos em tempos, com tremores de febre. —amos tomar nosso chocolate !untos.

 — ocê tamb(m precisa descansar — disse Cristina com a vo" triste, pensando na separa$ão que ia ocorrer em breve. — sono ( indispensável

 para quem se esgota como você. — 6ois é. A ve"es eu penso que minhas necessidades são tão simples quechegam a ser inating&veis... 5oa noite, querida, durma bem.elia foi muito atenciosa e sol&cita durante a viagem que as duas fi"eramno Carro de 5ill verdale. 1omaram a estrada estreita e esburacada, que

 podia ser considerada, sem e+agero, uma das piores do mundo, e rumaramdiretamente para o sul, em dire$ão a >air#bi,

 — ocê sabe dirigir? — perguntou elia em dado momento, ap#s terrefrescado a testa de Cristina com um len$o embebido em água gelada.

 — *u sei dirigir na cidade, mas não me arrisco nesta estrada. — A gente se acostuma. *u me tornei uma verdadeira cigana ultimamente.Ando de um lado para o outro como um cachorro sem dono. *u vou tirarum cochilo e depois vou substituir 5ill na dire$ão. *le tamb(m deveestar cansado.elia fechou os olhos, mas tomou a abri-los minutos depois. Cristinaestava olhando pela !anela aberta, com rosto pensativo.

 — *stá quente demais para dormir. Acho melhor a gente conversar paramatar o tempo. '# pe$o uma coisa.., não vamos falar em ominic. >#s

duas estamos muito envolvidas no caso para abordar o assunto com sereni-dade. Aliás, eu não tenho vergonha de di"er que gosto muito dele, ainda.

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Bianca no. 8

Cristina sorriu sem !eito. — *u pensei que estivesse tudo terminado entre vocês. — 0ual nada 6ode ser que a gente nunca mais se encontre na vida, mashaverá sempre uma grande ternura no ar, você entende. /as eu não tenho

absolutamente a inten$ão de ir 8 desforra, dou minha palavra, e muitomenos se tratando de você. Afinal, você não tem nenhuma culpa do queaconteceu. ocês dois se conheceram, gostaram um do outro e acabaramcasando... >ão foi isso? u você casou sem amá-lo?

 — *u gosto muito dele, se bem que não tive at( agora a ocasião de dar  provas do meu amor. — >ão me diga. 0uer di"er que vocês se casaram sem uma grandedeclara$ão de amor?

 — >ão houve tempo. padre s# ficou um dia em )gadu. epois eu ca&doente e ominic estava muito ocupado no hospital com a epidemia demalária. 0uando eu ficar boa, vou recuperar esse tempo perdido. ou fa"erfor$a para ser uma esposa perfeita...

 — *u acredito que ominic encontrou em você uma mulher realmentededicada, como sempre dese!ou. *le e um m(dico e+traordinário e CT tem que aceitar isso com paciência. A mulher vem depois da profissão,neste caso.

 — *u sei disso. /as n#s dois pretendemos trabalhar !untos e vamosdividir de certa forma nossa dedica$ão mtua com o trabalho.

 — ocê não tem medo de passar o resto da vida enfurnada numa aldeia de

nativos? * seus filhos? Como você vai fa"er para educá-los? ão estudarna :nglaterra? A gente tem que escolher entre os fiihos e o marido quandodecide residir num lugar isolado. *u fui criada desta forma e falo pore+periência pr#pria. /eus pais residiam numa missão no meio da Dfrica.*u conhe$o este problema pessoalmente. =oi este, por sinal, o motivo deminha briga com ominic. *u queria morar numa cidade grande, ondehouvesse recursos e um certo conforto, mas ele se mostrou infle+&vel. *mve" de atender meu pedido, muito !usto, a meu ver, renovou o contrato detrabalho em )gadu por mais dois anos. =oi por isso que eu desisti do

casamento e o dei+ei plantado na porta da igre!a. *le achou provavelmenteque você seria mais cordata e preferiu casar com você, sobretudo porquedesta forma podia se vingar de mim. — elia deu uma risada sem gra$a. — *u disse que não ia falar de ominic e acabei falando unicamente nele.amos mudar de assunto rapidamente. que aconteceu com seu e+-noivo?0ue fim ele levou?

 — /artin continua em amp&li, onde dirige uma cl&nica particular. — 6or que você desmanchou o noivado, se não ( indiscri$ão perguntar? — *u percebi que não gostava mais dele. Achei que seria incorreto pro-

longar um relacionamento que estava praticamente terminado.

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Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet Shore

Bianca no. 8

 — ocê fe" bem ocê descobriu que não gostava mais de /artin e casoucom ominic. :sso ( que se chama ser ligeira...

 — uvindo você falar at( parece que eu plane!ei tudo isso — * não foi o que realmente aconteceu? ocê mesma disse que não houve

tempo para nada. Agora pelo menos vocês terão muito tempo pela frente para amadurecer o relacionamento. — *u espero que sim. — A conversa com elia absorvia toda sua aten$ãoe a dei+ou e+austa. Cristina fechou os olhos e apoiou a cabe$a no banco docarro.

 — ocê está cansada? — )m pouquinho. ou fechar os olhos e tirar um cochilo. — 5oa ideia. *u vou passar para o banco da frente e conversar um poucocom 5ill.5ill verdale aceitou de bom grado a sugestão de elia de substitu&-lo nadire$ão do carro. *le tamb(m estava e+austo, da noite maldormida edese!ava tirar um cochilo para chegar descansado em >air#bi. Como eliaestava sem sono, 5ill não fe" cerim#nia. A!eitou-se no banco, fechou osolhos e pegou imediatamente no sono.s pensamentos de elia se voltaram mais uma ve" para ominic quandoos dois adormeceram e a dei+aram praticamente so"inha no interior docarro. s olhos castanhos que fitavam atentamente a estrada estavam agorafrios e duros. *la tinha desarmado Cristina ao confidenciar que ainda gosta-va de ominic. Cristina, naturalmente, deve ter ficado envaidecida com a

confissão.elia, no entanto, mentira deliberadamente com o prop#sito de obtermaiores informa$%es de Cristina sobre o relacionamento dos dois. 1alve"nunca tivesse gostado de ominic. A forte atra$ão se+ual que sentia por elenão tinha nada a ver com amor.*la sentiu a raiva lhe subir 8 cabe$a quando lhe ocorreu que devia haver amesma atra$ão se+ual entre ominic e Cristina. Ap#s ter satisfeito seudese!o, ominic ia e+igir da mulher uma vida de fidelidade e de const2n-cia. :sso, para elia, era o mesmo que pedir o imposs&vel. 0uando ominic

 percebeu que elia não se resignava a levar uma vida retirada em )gadu,deu-lhe a oportunidade de romper o noivado. destino, no entanto, interferiu com os planos de (lia. *la tinha decididocasar primeiro e depois persuadir ominic, por todos os meios, a sair de)gadu. >o momento em que ela se dirigia 8 igre!a, na companhia de umamigo, o carro engui$ou no meio da estrada deserta e os dois não tiveramoutra alternativa senão aguardar pacientemente que um outro ve&culo pas-sasse por ali e os rebocasse at( o posto mais pr#+imo.*nquanto isso, cansado de esperar, ominic desculpou-se aos convidados

reunidos diante da igre!a e voltou para casa, dando gra$as a eus por (liater desistido na ltima hora do casamento.

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Bianca no. 8

elia nunca contou a ominic que sua inten$ão inicial era for$á-lo a partirde )gadu depois da cerim#nia oficial.*nquanto não havia outra mulher na vida de ominic. elia aceitouresignada a situa$ão. s homens, em geral, acabavam cedendo 8 sua vonta-

de, como ela sabia por e+periência pr#pria. *la tinha a esperan$a que, maiscedo ou mais tarde, o mesmo ia suceder com ominic. *le era dese!ável,simpático, go"ava de uma reputa$ão merecida entre os colegas, e era ocompanheiro ideal para elia levar aos clubes que frequentava no litoral.s planos dela foram por água abai+o quando ominic se casou repenti-namente com uma mulher água-com-a$car, meiga, cordata, que pareciadisposta a ceder em todos os pontos a vontade do homem. >o fundo, ocasamento inesperado era uma esp(cie de declara$ão 8 pra$a3 Lominicnão quer mais saber de eliaL.Ap#s refletir longamente sobre o caso. elia chegou 8 conclusão de quea melhor atitude no momento seria fa"er ami"ade com Cristina e aguardar

 pacientemente o momento oportuno para agir. )ma amiga podia ter maischance de sucesso que uma rival. *la podia aproveitar a intimidade e+isten-te entre as duas e desferir o golpe mortal quando surgisse a oportunidade.6elo menos era esse seu plano no momento.

 >aquela (poca do ano o clima em >air#bi era temperado, o ar bastantefresco, especialmente ao entardecer. >os três primeiros dias, Cristina ocu-

 pou um quarto particular na ala europeia do grande hospital constru&do no

alto do morro, de onde se avistava a cidade inteira. Cristina fora submetidaa diversos e+ames e aguardava o diagn#stico do professor itre. At( omomento ela não recebera nenhuma carta de ominic. As comunica$%estelef#nicas com )gadu estavam interrompidas em consequência das chu-vas. *la escrevera duas cartas e pedira a elia para pB-las no correio.

 >a manhã do terceiro dia, Cristina recebeu uma carta de CicelJ.L/inha querida, espero que você este!a passando bem e que logo possavoltar para )gadu. >air#bi ( muito agradável nesta (poca do ano e ( porisso que os europeus deram preferência a essa cidade para centro de suas

opera$%es comerciais. *u tenho um favor a lhe pedir. ostaria que vocêcomprasse na cidade alguns metros de renda bordada 8 mão. *u estou pre-

 parando meu en+oval. K&m me pediu em casamento na semana passada.ominic ficou surpreso quando anunciei na hora do almo$o que vou sair de)gadu dentro de umas seis semanas, se eus quiser. >#s vamos passar alua-de-mel na :tália. *u estou tão contente que você nem imagina. 'emfalar que estou tamb(m muito apai+onada por Kim. )m abra$o bem grande.Eembran$as a elia.LCristina ficou contente com a not&cia do casamento de CicelJ. mas não

entendeu a ra"ão do silêncio de ominic. 6or que ele tamb(m não lhe

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escrevia uma carta confessando seu amor? Ah. tudo seria mais fácil se issoacontecesse*la sentia-se muito so"inha em >air#bi e aguardava com impaciência asvisitas notumas de elia. As ve"es, sentava-se diante da !anela do quarto e

olhava distraidamente para a alian$a que tinha no dedo. 6or que não sesentia como uma mulher casada. era inclusive o nome de solteira 8recepcionista do hospital. Ainda bem que elia estava ao seu lado ecorrigiu o lapso com um sorriso. Como podia considerar-se casada se nãotinha selado fisicamente a união com ominic? Is ve"es, tinha o

 pressentimento de que essa união não iria se concreti"ar nunca. — *ntre — disse em vo" alta ao ouvir algu(m bater na porta do quarto.(lia estava elegante como sempre. 1inha prendido os cabelo, no alto dacabe$a e estava com um vestido marrom e um casaquinho vermelho.

 — *u trou+e uma visita para você. Adivinhe quem (?Cristina deu uma e+clama$ão de alegria ao pensar que o visitante fosseomenic. >o instante seguinte, por(m, seus olhos se turvaram de decep$ãoquando ela voltou-se para a porta e avistou /artin parado na sua frente.Com os bra$os cru"ados na altura do peito. *la observou-o em silencio,at#nita, com os olhos rasos dGágua.

 — >ão chore, 1ina - disse /artin, estreitando-a nos bra$os. - *u soube quevocê atravessou uma fase dif&cil, mas, feli"mente, tudo vai melhorar daqui

 para a frente. *u vou dar um !eito na situa$ão. 6ode dei+ar por minhaconta.

  CA6:1)E Q:

Cristina encarou surpresa o homem de cabelos louros, olhos a"uis e facescoradas que a segurava nos bra$os. /artin parecia mais um beb( satisfeitoque um m(dico residente em pleno cora$ão da Dfrica. Como era poss&velter sido seu noivo? >aturalmente, amar algu(m e pensar que amava eramduas coisas bem diferentes. Agora, pela primeira ve" na vida, ela !ulgava-oob!etivamente, e os defeitos de /artin saltaram 8 vista. *ra um homem

ego&sta, irritante e insuportável com sua atitude paternalista. — que &ocê está fa"endo aqui. /artin?s dois estavam so"inhos no quarto, pois elia fi"era uma retirada estra-t(gica.

 — *u vim aqui especialmente para ter uma conversa com você, Cristina.ocê aprontou uma confusão medonha com sua decisão e eu aproveiteiumas f(rias atrasadas para dar um pulo em )gadu e esclarecer o assunto

 pessoalmente. =iquei sabendo por(m que você tinha via!ado para >air#bi.#minic foi muito gentil e me deu o endere$o. *u não perdi tempo. im

diretamente at( aqui. que aconteceu com você, Cristina? que deu emvocê para aceitar este casamento rel2mpago com ominic? *le, por sua

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ve", agiu muito mal. ocê não estava em condi$%es para tomar uma decisãodessa nature"a. Afinal, você estava com trinta e oito graus de febre

 — * da&? que tem isso de mais? — *u não via!ei seiscentos quil#metros para lhe dar os pararab(ns por um

casamento de que não fui nem mesmo notificado, Cristina. *u aceitei o fatocom naturalidade. *ntretanto, como eu conhe$o você de longa data, estouconvencido de que você não estava no seu !u&"o normal quando aceitouesse pedido de casamento. /inha opinião ( que esse casamento não (válido, legalmente.Cristina ouviu em silêncio aquela afirma$ão inesperada. *stava tão evi-dente assim aos olhos dos outros que o casamento não fora consumadofisicamente. *la tinha amigas casadas e nunca notara nenhuma diferen$aentre a aparência de antes e depois do casamento. 6or que no seu caso issoestava vis&vel? 'eria por sua inseguran$a?

 — ocê conversou com elia a esse respeito? — perguntou Cristina porfim, sem !eito de abordar o assunto.

 — elia gosta muito de você e ela me procurou e+atamente para comen-lar seu caso.

 — *u sabia ocê não tem o direito de conversar isso com os estranhos. @ámuitos assuntos mais interessantes do que comentar minha vida privadacom qualquer um...

 — ocê não entendeu o que eu disse, Cristina. *u compreendo que vocêeste!a deprimida. *u tenho certe"a que, em condi$%es normais, você não

seria ingrata a esse ponto. elia está preocupad&ssima com sua sade. =oi adiretora do hospital que me disse isso, não foi ela pessoalmente. ocê deviadar gra$as a eus de ter amigas como elia. *u tamb(m estou decidido aagir da mesma forma, como seu amigo de sempre, a despeito do queaconteceu entre n#s. *u sou responsável de certa forma por você, pelomenos enquanto você estiver na Dfrica. Afinal, foi por minha causa quevocê veio at( aqui. 'e não fosse por isso, você estaria a essas horas numhospital de Eondres...

 — Como você pode saber? 'ua suposi$ão ( comptetamente gratuita,

/artin. *u tenho mais de vinte e um anos, e sou considerada maior deidade para todos os efeitos legais. 'e eu não tivesse vindo para cá, teria mecasado provavelmente com um m(dico na :nglaterra e podia estar agora emqualquer outro lugar do mundo. ocê não ( o responsável por meu destinoe nunca foi. 'e há algu(m a quem devo contas dos meus atos ( meu marido,esse sim

 — 'e eu tivesse me casado com uma mulher que estava com trinta e oitograus de febre na igre!a, eu não consideraria meu casamento válido. Aliás,qualquer pessoa com um pouco de !u&"o na cabe$a pensaria da mesma

forma ominic sabe disso tão bem quanto eu. 1odos são de opinião queesse casamento deve ser anulado. epois que você estiver completamente

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restabelecida, você pode discutir seus planos para o futuro. Antes por(m ( preciso que você este!a disposta a colaborar com seus amigos, minhaquerida *u s# lhe pe$o uma coisa3 não tome as coisas mais dif&ceis do que

 !á são, pelo amor de eus

Cristina ficou perple+a com as palavras de /artin. ominic aguardavarealmente a anula$ão do casamento? 'eria essa a decisão legal da questão?*la aceitara casar com ominic por livre e espont2nea vontade, se bemUque tivesse uma ideia meio vaga da cerim#nia religiosa na igre!a. Aimpressão que tinha ( que tudo transcorrera num estado de sonolência e deapatia total.

 — 0uer di"er então que o casamento não foi legal. — A assinatura de um homem demente ( legal? ocê não estava emcondi$%es de casar *ssa ( a verdade nua e crua, Cristina.

 — /as eu queria casar com ominic — insistiu Cristina obstinadamente. — epois que meu del&rio passou, eu fiquei contente com nosso casa-mento.

 — * ominic? *le tamb(m está satisfeito com o casamento? * isso queimporta saber. ocê tem que aceitar a realidade, querida 6ara falar franca-mente, você não está numa situa$ão muito favorável no momento. 'e vocêquiser, podemos consultar o advogado e esclarecer definitivamente a situ-a$ão,e repente, como se fosse tomada de vertigem. Cristina levou a mão 8cabe$a e deitou-se na cama.

 — que foi Cristina? ocê não está se sentindo bem? 0uer que chamea enfermeira?

 — >ão, não precisa. >ão foi nada. *u estou um pouco tonta, s# isso. *ugostaria de ficar so"inha. 6or que você não convida elia para dar umavolta pela cidade?

 — *stá bom, eu vou dei+á-la 8 vontade — disse /artin, ligeiramenteofendido de ser mandado embora do quarto.epois da sa&da de /artin. Cristina passou o resto da tarde refletindo sobrea conversa que tivera com ele. *la estava profundamente abalada e

apreensiva com o futuro.*ra inegável que gostava de ominic. A questão por(m era saber seominic gostava realmente dela. *le comentara um dia que o casamento,com o passar dos anos, daria seus melhores frutos, embora tivesse afirmadona mesma ocasião que não pretendia acelerar esse processo. *ra Cristinaque devia avisá-lo quando estivesse madura para aceitar as responsabilida-des e deveres mtuos do casamento.:sso era uma declara$ão de amor. >ão, ela não podia se iludir a esserespeito. 0uando ominic percebeu que Cristina estava com febre alta na

igre!a e que apenas balbuciara seu consentimento ao padre que os casou,ele ficou na dvida, naturalmente, sobre a validade do casamento. 'abia

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que, do ponto de vista legal, o casamento podia ser anulado a qualquer momento.=oi por esse motivo, aliás, que passou a tratá-la com a mesma reserva quededicava aos pacientes no hospital. *le lhe dava toda a aten$ão, ( verdade,

mas não havia intimidade entre os dois, nem o menor sentimento deternura. 0uando ela procurava seu olhar, ao voltar a si das crises de del&rio,encontrava apenas uma fisionomia atenta e bondosa ao seu lado.Al(m disso, todas as ve"es que insistira em abordar o assunto do casa-mento. ominic encontrara uma desculpa para adiar a conversa para outraocasião.

 — 0uando você ficar boa, vamos conversar com calma sobre isso — di"ia.Cristina foi tomada de um sentimento profundo de depressão ao concluirque, na opinião de ominic, o casamento não passava de um acordo verbalsem nenhuma validade legal. 6elo visto, elia e /artin estavam a par detudo. *ra somente ela que se agarrara estupidamente a uma certidão decasamento que não tinha nenhum valor, imaginando que os dois estavamgenuinamente casados pelo fato de terem pronunciado os votos diante detestemunhas,

 >o fundo, ela não devia ter aceitado o pedido de ominic sabendo que nãoestava em condi$ão de se pronunciar ob!etivamente sobre uma decisão tãoimportante para sua vida. Ao fa"er isso, criara uma situa$ão insustentável.'# havia uma nica solu$ão — anular o casamento. *la resolveu seguir a

sugestão de /artin e consultar o advogado na manhã seguinte.CicelJ estava sentada na cadeira de balan$o, bordando a toalha de mesaque fa"ia parte do en+oval.

 — 6ara quem você está escrevendo? — perguntou em dado momento,voltando a cabe$a na dire$ão de ominic.

 — *stou tentando escrever para Cristina. 6referia que você não me inter-rompesse.

 — esculpe — *stá desculpada.

 — *u estou me sentindo tão feli" que minha alegria transborda sem querer./as vou dei+ar você terminar sua carta em pa". 6rometo que nãovou incomodá-lo mais.

 — /uito obrigado. ocê ( um an!o. *u não sei o que se passa comigo. >ão consigo escrever uma carta leg&vel para minha mulher. 6or outro lado,as liga$%es para >air#bi estão interrompidas há uma semana. Cristina estáinacess&vel como se estivesse em /arte ou num outro planeta do sistemasolar

 — 'e você está com tanta saudade dela assim, por que não pega o !ipe e

vai at( >air#bi? dr. =a"al pode tomar conta do hospital na sua ausência.

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ominic ouviu a sugestão em silêncio. CicelJ tinha ra"ão. 6or que não ia pessoalmente a >air#bi? 1inha receio de interferir na decisão de Cristina? fato dela consultar o advogado por sugestão de /artin, era uma prova deque ela tinha dvidas sobre a validade do casamento. >esse caso, era

 prefer&vel adiar a viagem at( que ela chegasse a uma conclusão definitiva.Afinal, Cristina tinha todo o direito de anular o casamento, se fosse esseseu dese!o. e que adiantava continuarem casados se não havia amorrec&proco?ominic deu um suspiro e levou a mão 8 cabe$a. 1udo bem pesado, era elequem sairia perdendo com a anula$ão do casamento. >a semana em queCristina passara fora, ele descobrira perple+o que estava perdidamenteapai+onado pela mulher com quem não tivera um contato f&sico profundo.Cristina terminou de ler a carta de ominic com a impressão de quealguma coisa importante fora omitida deliberadamente. 6or outro lado, tudo

 parecia indicar que uma infelicidade inevitável pairava sobre sua e+is-tência, pronta a desabar a qualquer momento, como as chuvas de verão naDfrica.@avia esperado pela carta de ominic desde que chegara ao hospital nasemana anterior. *la não sabia contudo que essa era a terceira carta queominic lhe escrevia. As duas primeiras tinham sido interceptadas por e-lia que, ap#s lê-las rapidamente, achou conveniente atirá-las na cesta doli+o, sem hesitar um instante sobre sua decisão.

 — As cartas costumam e+traviar no correio — comentou elia quando

Cristina se quei+ou do silêncio prolongado de ominic. — ocê vai ver s#.0uando menos esperar, vai aparecer uma carta e+traviada.

 >aquela manhã, contudo. elia foi obrigada a sair do hospital mais cedo ea ltima carta de ominic chegou finalmente 8s mãos de Cristina. *la tinhaa impressão de que estava separada dele por uma dist2ncia imensa.Cristina desdobrou a folha com cuidado e tornou a ler a carta pela terceirave". 1alve" não soubera ler entre as linhas as palavras de ternura que lheeram dirigidas. tom cerimonioso e reservado era apenas um disfarce. 'eela lesse com aten$ão, descobriria o sentimento afetuoso que estava por trás

das palavras frias. =oi com essa esperan$a, pelo menos, que Cristina se preparou para reler a carta do marido.L/inha querida, recebi as três cartas que você me escreveu e fiqueicontente com a not&cia de que os e+ames m(dicos !á estão praticamenteconclu&dos. amos aguardar agora o diagn#stico do professor itre. >essemeio tempo, aproveite bem sua estada em >air#bi.*u soube que /artin está na cidade e que ele não perdeu a esperan$a de teruma resposta favorável, mesmo depois da conversa telef#nica que vocêstiveram. >o fundo, ele não ( a criatura resignada e pacata que eu

imaginava.

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6or falar nisso, foi /artin quem sugeriu a consulta ao advogado? *u seique os !uristas encontram sempre pontos vulneráveis nos melhores con-tratos, e reconhe$o que você não estava no seu !u&"o normal quando pro-nunciou os votos matrimoniais na igre!a. Aliás, eu pretendia conversar

sobre esse assunto com você na primeira oportunidade.ocê tem todo o direito de consultar o advogado, por ser a pessoa maisindicada para lhe dar uma resposta sobre o assunto. nico conselho quelhe dou ( procurar um advogado de toda confian$a, caso contrário você teráum parecer inteiramente inconsistente e duvidoso.*u presumo que o advogado possa sugerir a anula$ão do casamento, umave" que ele s# conhece o aspecto legal da questão. ese!o sinceramente quevocê fa$a o que lhe parecer melhor, reflita cuidadosamente antes de tomaruma decisão e certifique-se primeiro do que você dese!a realmente. 'e aanula$ão for necessária para você ver as coisas com maior clare"a, euaceitarei sua decisão e aguardarei at( que tudo este!a legalmente decidido.1alve" essa se!a a decisão mais acertada e /artin poderá condu"i-la, maisuma ve", por águas mais calmas.A companhia telef#nica comprometeu-se a restabelecer ainda essa semanaas liga$%es interurbanas entre )gadu e >air#bi. ocê podia me telefonar nasemana que vem, ap#s ter chegado a uma conclusão. 'eu. como sempre,ominic.LL'eu, como sempre.L que ele queria di"er com aquilo? Como podiaterminar a carta daquela forma e afirmar ao mesmo tempo que a anula$ão

do casamento era a melhor solu$ão? ominic tinha a inten$ão de pedi-lanovamente em casamento depois da anula$ão? Claro que não :sso seriaabsurdo e rid&culo. *le dese!ava no fundo que o casamento fosse definitiva-mente dissolvido. 1alve" estivesse arrependido de ter casado com uma mu-lher que s# lhe dera amola$ão desde o primeiro dia.

 >o primeiro instante. Cristina pensou em ignorar a sugestão do advogado edefender com unhas e dentes sua condi$ão atual, fosse válida ou não. Comisso, for$aria ominic a tomar uma decisão definitiva. *le teria que aceitá-la como mulher ou desquitar-se dela por vontade pr#pria. *sse pensamento

 por(m era terr&vel e ela não estava em condi$%es de encará-lo no momento.Aliás, ela tinha a impressão de que as suas op$%es eram igualmenteinaceitáveis. 'e não tomasse a iniciativa de anular o casamento, era elequem tomaria. >ingu(m tinha sugerido que podiam continuar !untos, umave" que não se casaram por amor. elia repetia sempre que ominicgostava dela e que o casamento com Cristina fora um ato de despeito, como ob!etivo de magoá-la. Al(m disso. Cristina tinha a vantagem de fa"ercompanhia a ominic na condi$ão de assistente no hospital de )gadu.situa$ão essa que outra mulher dificilmente aceitaria.

/artin, por sua ve". !ulgava que Cristina ignorava o sentimento do amor. >a opinião dele, o amor e+igia responsabilidade e Cristina condu"ira-se de

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maneira inteiramente irresponsável ao casar-se com ominic. 'e ela nãotivesse agido dessa forma, não estaria agora numa situa$ão dif&cil. Comoamigo leal e constante. /artin se ofereceu para condu"i-la no caminhocerto da responsabilidade e das obriga$%es matrimoniais.

 — 6or que você não me dei+a em pa"? — e+clamou Cristina nummomento de impaciência. — *u estava decidida a romper o noivado comvocê antes de conhecer ominic. *u compreendi que não havia nada entren#s, que você não gosta de ningu(m a não ser de você mesmo...Antes que /artin pudesse responder ás acusa$%es dela. (lia apro+imou-secom um copo de u&sque na mão. /artin aproveitou a oportunidade paramudar de conversa e esquivar-se assim 8s cr&ticas de Cristina.

 — *ntão elia, quais são as novidades? — 1udo na mais perfeita pa". — *u soube que você está procurando um emprego... — 0ue rem(dio /inhas economias estão acabando. 1enho que voltar atrabalhar rapidamente. Ká perdi muito tempo "an"ando por a&... estou pen-sando seriamente em embarcar como m(dica a bordo de um navio de

 passageiros. — ocê não gostaria de trabalhar comigo em ampili? — >a maternidade? —  É. — lha, em princ&pio eu não tenho nada contra, — clima lá ( e+celente. A cidade está situada no alto de uma monta-

nha e tem boa altitude. 1odos n#s praticamos iatismo e esqui-aquático nosfins de semana. o ponto de vista do trabalho, você podia ficar encarregadada se$ão feminina do hospital e teria um chal( 8 sua disposi$ão, bem comocriados e um carro.

 — Agora as coisas mudaram de figura — e+clamou elia, com anima$ão. — que eu tenho que fa"er para me candidatar a esse emprego. — >ormalmente, você teria que preencher uma ficha, fa"er os testeshabituais de aptidão, etc, at( ser selecionada entre outras candidatas. /ascomo eu sou o diretor-e+ecutivo do hospital, nada disso ( necessário. 5asta

apenas uma palavra minha para você ser contratada.elia e+aminou /artin com um sorriso nos lábios, ele tinha de fato a pelerosada de um beb(, mas as fei$%es pelo menos eram atraentes e sua alturaera ra"oável, embora as pernas fossem ligeiramente finas para seu gosto. fato por(m de /artin ser o diretor do hospital mudava completamente asitua$ão. ominic era idealista demais. Ali, no entanto, estava um m(dicoque adotava uma atitude realista que correspondia perfeitamente com suamaneira de ser.

 — 'ua proposta me tenta. ou pensar com simpatia nela. Antes por(m eu

gostaria que você passasse a vista no meu curr&culo. *u trabalhei emdiversos hospitais e nunca fui despedida de nenhum emprego. Al(m disso,

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Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet Shore

Bianca no. 8

tenho algum conhecimento de doen$as epidêmicas dos climas tropicais.Creio que vou me dar muito bem em ampili e não pensarei em mudar deemprego tão cedo, se ( que as condi$%es lá são como você as descreveu...

 — 'ão at( melhores, pode crer.

 — Como a vida ( estranha H fantástica a maneira como a gente seconheceu. 'e eu não tivesse acompanhado Cristina a >air#bi, não teriaencontrado você e não receberia esta proposta para trabalhar em ampili*ra este o trabalho que você reservava para Cristina?

 — >ão. Cristina teria primeiro que adquirir e+periência de nossas condi-$%es antes de poder ocupar uma posi$ão de responsabilidade.

 — 6ois olhe, foi Cristina quem me operou o apêndice. — >ão me diga — 6ois (. ominic lhe deu esta oportunidade para ela pBr em prática seusconhecimentos te#ricos.

 — * como foi a opera$ão? >ão houve nenhum problema? — >enhum. 6elo contrário, eu s# tenho elogios a fa"er. A cicatri" ( tão pequena que vai sumir dentro de alguns meses. ocê quer ver? — =ica para outra ve"s dois ca&ram na gargalhada e /artin sentiu pela primeira ve" a e+cita$ãoque elia costumava produ"ir entre os homens, como se fosse umaantecipa$ão do que ela tinha em reserva para dar. /artin esqueceu-semomentaneamente de Cristina e do motivo que o levara a >air#bi.elia, no entanto, não se esqueceu de seu plano anterior. *la não podia

 perdoar a re!ei$ão que sofrera e estava firmemente decidida a presenciarcom seus olhos o desenlace trágico do caso Cristina e ominic.

 

CA6M1)E Q::

Como estava bastante deprimida, Cristina procurou conforto onde encon-trou. >ão suportava mais a presen$a de /artin. 6assou por isso a dirigir

uma aten$ão maior a elia que, verdade se!a dita, era uma e+celente com- panhia. Cristina distra&a-se com sua conversa animada e não pensava nassuas triste"as que não tinham fim.

 — 6or que você está chorando? — perguntou elia ao entrar no quarto edeparar com a fisionomia abatida de Cristina, o rosto banhado de lágrimas.

 — >ão sei. Acho que estou deprimida com a carta que recebi de ominicho!e de manhã.

 — Ah, sim? — perguntou elia na defensiva. 'erá que ominic comentaraalguma coisa a respeito das cartas anteriores que escrevera e que elia

desviara das mãos de Cristina? — que ele manda di"er? — >ada de especial.

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Bianca no. 8

 — >este caso, por que você ficou triste? — *le disse que eu posso pedir a anula$ão do casamento a hora que quiser.ocê pode ler a carta. >ão há nada pessoal.elia segurou o envelope que Cristina lhe estendeu, retirou a folha dobrada

de dentro e percorreu-a rapidamente com a vista. *ssa ltima carta era maisfria e reservada que as anteriores. ominic, pelo visto, estava na dvidaquanto 8 rea$ão de Cristina e procurava sondar o terreno, sem see+por em demasia.

 — *u não entendo a ra"ão de suas lágrimas — disse elia, dobrando afolha de papel. — ocê não precisa seguir o conselho do advogado. /as sevocê se decidir a favor da anula$ão, isso não ( o fim do mundo. ocês

 podem casar de novo. — ocê acha que ominic faria isso? — Claro, sua bobinha. *le gosta de você. — >ão, ele não gosta de mim. elia. *u mesma não sei por que ele me pediu em casamento. >#s não tivemos at( ho!e nenhum contato f&sico. — *u entendo como são essas coisas. Alguns casais se contentam comamor puro, enquanto outros necessitam de contatos f&sicos. casamentode vocês podia ter dado certo...

 — pior ( que eu gosto dele, elia — murmurou Cristina com umsuspiro. — *u queria muito que ele fosse feli" comigo. *u gostaria que eleestivesse agora aqui para a gente conversar sobre esse assunto...

 — 5oa ideia 6or que você não escreve para ele convidando-o a dar um

 pulo aqui? — ocê acha que ele viria? — Claro que sim — Ah. você ( um amor. elia *u não sei o que seria de mim sem você.o professor itre entrou no quarto e ficou surpreso ao ver a cama va"ia.

 — nde está a paciente, enfermeira? *la não foi avisada de que ho!e eradia de visita m(dica?

 — *la deve ter se esquecido, professor — interveio elia, da porta. — *laestava muito deprimida ontem 8 tarde quando passei por aqui e prova-

velmente saiu para refrescar um pouco as ideias. — Ah que pena — *u soube que o senhor vai sair de f(rias... — *+atamente. H por isso !ustamente que queria comunicar meu diag-n#stico 8 paciente.

 — 'e o senhor quiser, eu posso transmitir a ela seu parecer. — =a$a-me este favor. iga 8 paciente que a icter&cia desapareceu quaseque completamente com o tratamento. *la pode voltar para casa quandoreceber alta no fim da semana que vem.

 — oltar para a :nglaterra, professor? — 6ara onde ela quiser.

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Bianca no. 8

 — 5em, neste caso ( a :nglaterra. — Como ela preferir. — H o ba$o. professor? A inflama$ão não tem perigo? — ba$o inflamado não ( um problema s(rio. Algumas pessoas sadias

costumam ter o ba$o ligeiramente inchado. tempo ( o melhor rem(dionesses casos. entro de algumas semanas ela estará completamente resta- belecida. — * há perigo de uma reca&da, professor? — >ão, se ela seguir 8 risca minhas recomenda$%es. *u escrevi numafolha separada a lista dos medicamentos e das doses. H uma pena a pacientenão estar aqui para ouvir pessoalmente minhas recomenda$%es. á pr#+imave", vou trancá-la no quarto, como se fosse uma crian$a pequena. hospital não ( um hotel, onde a gente sai e dei+a a chave na portaria...

 — *la vai ficar sentid&ssima quando souber que o senhor esteve aqui. — *u escrevi uma carta com certas recomenda$%es ao marido — disse o professor itre, estendendo o envelope a elia. — 6oderia providenciar para lhe ser entregue em mãos? — 6ois não, professor. *u farei isso sem falta. * muito obrigada por tudo.*u lhe pe$o mil desculpas pela ausência de minha amiga. =oi realmente umesquecimento lamentável...elia não disse naturalmente que ela tinha chamado o tá+i que levouCristina para dar um passeio nos arredores de >air#bi, epois que o pro-fessor itre saiu do quarto. elia sentou-se na cadeira de balan$o, pediu um

cafe"inho pelo telefone e preparou-se para receber Cristina com um sorrisono rosto. 'eu plano estava saindo melhor do que ela esperava...Cristina voltou para o hospital na hora do almo$o. Com e+ce$2o dasolheiras fundas, ela estava quase tão bem-disposta quanto antes de ter acrise de malária.

 — A irmã me falou que o professor ficou muito aborrecido de não meencontrar no hospital. 6or que você não me avisou que ele ia passar ho!e

 por aqui? — *u s# fiquei sabendo da visita do professor depois que você tinha

sa&do. — A irmã me disse que avisou-a com antecedência. — *la está enganada. A irmã ( muito boa"&nha, mas ( completamentea(rea. 5om, isso não tem mais import2ncia. ocê está de volta e eu vou lhetransmitir tudo o que o professor me disse.

 — que foi que ele disse? — perguntou Cristina, torcendo as mãos,com a fisionomia tensa.

 — 'ente-se primeiro e acalme-se. *stá tudo bem. ocê não tem motivos para se preocupar. professor disse que você está bem e que logo receberá

alta do hospital. — *u me sinto muito melhor realmente, mas ( bom saber que o m(dico

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Bianca no. 8

( da mesma opinião. que mais ele falou? — *le disse que ( prefer&vel você voltar para casa logo que receber alta.na semana que vem.

 — 6or quê? *le não e+plicou a ra"ão?

 — 6orque sua permanência na Dfrica não lhe fará nenhum bem. *ssa pelomenos ( a opinião do professor. *le disse tamb(m que você deve seguirrigorosamente as prescri$%es que ele dei+ou por escrito.

 — Ah, eu gostaria de ter uma conversa pessoalmente com o professor'erá que ele está em casa agora?

 — 6ara que você quer falar com ele? ocê não confia em mim? — >ão ( isso, elia. *u queria me desculpar por não estar aqui pararecebê-lo.

 — *u !á pedi desculpas por você. 6ode ficar sossegada. *u e+pliquei quevocê tinha ido dar uma volta para espairecer as ideias. Al(m disso, o

 professor vai embarcar ho!e 8 tarde para Koanesburgo. *le vai tirar um mêsde f(rias. =oi por isso que fe" com antecedência a visita aos pacientes. *utenho uma carta dele para ominic — disse elia, segurando o envelope namão. — 6or que você não lê o que está escrito? *u faria isso no seu lugar.

 — *u prefiro que ominic me conte pessoalmente o que o professorescreveu.

 — ominic vai embarcar correndo para cá quando receber esta carta do professor. * vai querer levá-la de volta para a :nglaterra imediatamente,sabendo que você corre o risco de uma reinfec$ão aqui na Dfrica.

 — *u não quero que ominic abandone seu trabalho em )gadu por minhacausa. 'e o casamento for anulado, n#s não temos mais nenhumcompromisso mtuo.

 — *le não vai dei+á-la, querida. *u conhe$o ominic. u$a o que estoulhe di"endo. *le ( um homem de princ&pios e vai fa"er questão de assumir aresponsabilidade por seu bem-estar.

 — ocê tem certe"a? — Absoluta. lhe, eu vou sair um instante para pBr a carta no correio. — *spere um minuto, elia. *u não quero que ominic continue casado

comigo apenas por obriga$ão. *u não quero que ele largue seu trabalho em)gadu somente porque sente pena de mim. hospital ( a vida dele, ( maisimportante que tudo e eu não quero interferir na sua carreira. *u posso lhe

 pedir um grande favor. elia? ei+e para pBr esta carta no correio depoisque eu tiver partido daqui. *u vou embarcar para Eondres e providenciareia anula$ão do casamento com meu advogado.elia hesitou um instante antes de entregar a carta do professor a Cristina.

 — ocê ( quem sabe. *u sou de opinião de que você devia ficar no hospitalmais alguns dias at( receber alta. @á muita coisa que você pode fa"er nesse

meio tempo. :nfeli"mente, eu não poderei lhe fa"er companhia nos

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Bianca no. 8

 pr#+imos dias. ou ficar hospedada em casa de uns amigos enquanto procuro um emprego. *u preciso trabalhar, !á que não tenho um marido para me sustentar...1rês dias depois ominic recebeu uma carta de Cristina, !untamente com o

 parecer do professor itre. ominic leu primeiro o laudo m(dico, que lhe pareceu e+tremamente confortador. >a opinião do professor, sua pacienteestava praticamente restabelecida, necessitando apenas de mais alguns dias

 para receber alta no hospital.ominic guardou a carta do professor no envelope e apanhou a de Cristina. nome impresso em relevo no envelope era o de um hotel novo em

 >air#bi, o 6alladian. ominic hospedara-se ali certa ve", logo depois dohotel ter sido inaugurado. 1inha duas piscinas e várias quadras de t(nis.Cristina devia estar aproveitando muito a estada ali, uma ve" que ela eraapai+onada por esportes.*ra estranho como algu(m podia conviver durante meses com uma pessoae ignorar os fatos mais #bvios de sua personalidade. Cristina era umaesportista por nature"a e devia ter se sentido tremendamente frustrada em)gadu, onde não havia um nico clube onde pudesse praticar seu esportefavorito.ominic ficou algum tempo com o envelope na mão, sem ter coragem deabri-lo. 1emia tomar conhecimento do seu contedo? *stava preocupadocom a possibilidade de perdê-la para sempre? /artin estivera em >air#bi eos dois aproveitaram certamente para esclarecer muitos pontos pendentes.

0uem sabe, inclusive, se não tinham tomado uma decisão mais s(ria?=inalmente, com um gesto firme da mão. ominic rasgou o canto doenvelope e retirou a folha dobrada de dentro.L/eu querido, seguindo a recomenda$ão do professor, vou voltar para a:nglaterra por ra"%es de sade. *u estou me sentindo bem agora, mas nãovou me esquecer tão cedo das semanas que passei muito mal e que mefi"eram dar o !usto valor 8 sade.*u suponho que você este!a aguardando uma resposta minha com refe-rência ao nosso GcasamentoG. >#s estamos realmente casados ou não? Como

você disse, os advogados encontram falhas nos melhores contratos. >onosso caso, por(m, eu creio que eles têm ra"ão de se pronunciarem negati-vamente. *ste assunto deve ser resolvido o mais rapidamente poss&vel e eutenho a inten$ão de consultar meu advogado em Eondres logo que chegar.ocê nunca me disse o que o levou a me pedir em casamento, mas euacredito agora que a base de qualquer união autêntica ( o amor mtuo. 'emamor, o casamento não passa de um acordo provis#rio entre duas pessoas.'e for este o nosso caso, acho prefer&vel a separa$ão.ocê vai di"er que eu sou volvel como o vento, mas não ( verdade. *u sou

fiel aos meus princ&pios. 6retendo reiniciar minha carreira na :nglaterra efa$o votos de que você continue leal a seu trabalho em )gadu.

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Bianca no. 8

nde n#s dois estávamos com a cabe$a quando pensamos que nossocasamento podia dar certo? /inha doen$a foi positiva num certo sentido.*u refleti bastante nos dias em que passei na cama e cheguei 8 conclusãode que não suportaria saber que você está decepcionado com a mulher que

casou.*u dese!o tudo de bom para você. /inha decisão está tomada e não voltareiatrás. 6retendo embarcar para Eondres nos pr#+imos dias. Adeus, Cristina.Lominic permaneceu alguns instantes com a carta na mão, olhando paralonge, triste e deprimido, at( que sua mente recusou-se a aceitar por maistempo esse estado de des2nimo.6or que Cristina di"ia na carta que devia voltar para a :nglaterra por ra"%esde sade? *le tornou a ler o relat#rio que o professor itre lhe mandarasobre o estado cl&nico de sua paciente. >ão havia men$ão da :nglaterra nacarta, nem muito menos de um outro pa&s qualquer. professor era bemclaro3 Lepois de uma semana, sua esposa receberá alta e poderá voltar

 para casaL. Cristina tinha entendido LcasaL no sentido de :nglaterra? 1alve".e qualquer forma, o professor não di"ia absolutamente que ela deviavoltar para a :nglaterra ap#s receber alta no hosital,ominic lembrou-se em seguida de outro detalhe. Cristina di"ia na carta3Locê nunca me disse o que o levou a me pedir em casamento, mas eu .acredito agora que a base de qualquer união autêntica ( o amor mtuo. 'emamor, o casamento não passa de um acordo provis#rio entre duas pessoas.'e for este o nosso caso, acho prefer&vel a separa$ãoL.

*la não di"ia que não gostava dele e, quanto ao segundo ponto, podia provar que gostava dela no instante em que a visse.'em perder um minuto. ominic foi ao hospital e quase derrubou CicelJ,que sa&a da lavanderia, onde tinha ido verificar a lista das roupas guardadasno armário. — >ossa, que pressa ( essa.

 — esculpe, CicelJ. *u preciso telefonar com urgência. — 6ara quem, posso saber? — 6ara Cristina.*le estava agitado ao e+tremo quando pediu 8 telefonista para fa"er uma

liga$ão com o 6alladian @otel, em >air#bi. /inutos depois, uma vo" femi-nina atendeu no outro lado da linha

 — 6alladian @otel, bom dia. — 5om dia. *u gostaria de saber se há uma m(dica chamada Cristina4oberts hospedada no hotel.

 — )m minuto. ou verificar.'egundos depois, a mesma vo" voltou a falar3

 — AlB? — 6ois não, estou ouvindo.

 — >ão há ningu(m com este nome no hotel. — >ão sabe me di"er se ela estava hospedada nesses ltimos dias?

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Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet Shore

Bianca no. 8

 — )m momento, por favor. — A recepcionista levou mais tempo destave" para dar a informa$ão dese!ada. — *u creio que o senhor deve estarenganado. >ingu(m com este nome hospedou-se no hotel nos ltimos dias.

 — /as como? *sta pessoa me escreveu uma carta endere$ada da& ha dois

dias. A menos que ela tenha dado seu nome de casada. e!a por favor se háalgu(m chamado Cristina /ount. — )m momento, por favor s intervalos de espera eram insuportáveis. ominic estava uma pilha denervos.

 — AlB? — 6ois não, pode falar. — >#s temos realmente uma h#spede chamada Cristina /ount. *la nãoestá no momento. ostaria de dei+ar recado?

 — >ão, muito obrigado. *u telefono mais tarde. esculpe a amola$ão. — >ão tem de quê. *stamos 8s suas ordens.ominic voltou correndo para casa ap#s comunicar a CicelJ que ia partirde carro para >air#bi no mesmo dia.

 — )(. você mudou de ideia de repente? — /udei. ou fa"er uma visita-surpresa a Cristina.Cristina passou os ltimos dois dias num corre-corre medonho. *la nãoconseguiu passagem de avião para ondres e foi informada na agência deviagens que todos os bilhetes tinham sido vendidos com antecedência.

 — H sempre assim depois que terminam as chuvas de verão — comentou

o balconista da agência de turismo. — 1odos aproveitam para via!ar outirar ferias nesta (poca do ano. A nica coisa que posso fa"er ( avisá-la dealguma desistência.

 — Otima ideia. *u ficarei e+tremamente agradecida. >ão havia outro !eito. 1inha que continuar hospedada no hotel e aguardar pacientemente que algu(m desistisse da viagem. e repente, sem nenhummotivo aparente, Cristina sentiu-se en!oada de >air#bi, de si mesma, davida idiota que estava levando nas ltimas semanas. 1udo lhe pareciamon#tono e desinteressante. *la não tinha nem mesmo saudade do per&odo

 passado em )gadu. Como estava decidida a separar-se de ominic,apagara da mem#ria todas as lembran$as relacionadas com ele ou com otrabalho no hospital.Como se tudo isso não bastasse, ela passara a sofrer de ins#nia ap#s a crisede malária. >em mesmo os comprimidos para dormir que tomava 8 noitelhe proporcionavam um sono profundo e reparador. Acordava assustada nomeio da noite, e rolava de um lado para o outro da cama, sem conseguir

 pegar novamente no sono. >a manhã seguinte, despertava e+austa edeprimida, como se tivesse passado a noite em claro. Como n$o queria

depender de drogas mais fortes, apanhava um livro na cabeceira e lia at( ocriado lhe tra"er o caf( na cama.

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Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet Shore

Bianca no. 8

As noites em >air#bi eram ainda mais quentes e abafadas que os dias. 'eunico consolo nas horas de ins#nia era beber uma +&cara de caf( que o

 porteiro da noite ia buscar no bar defronte.*la ia telefonar para a portaria e pedir seu cafe"inho noturno quando ouviu

uma batida firme na porta. — 0uem (? — perguntou, erguendo-se na cama.*la ouviu a vo" familiar do porteiro noturno no corredor.

 — esculpe acordá-la, d. Cristina, mas a senhora está sendo aguardada nohospital.1ina levantou-se de um pulo da cama e correu at( a porta.

 — que foi que você disse? 1em algu(m internado no hospital? queaconteceu?

 — *u não sei de mais nada. 4ecebi apenas este recado na portaria. — Ah, muito obrigada, /atias. ocê chama um tá+i para mim? — 6ois não. >um minuto.Cristina vestiu-se as pressas e desceu correndo a escada. 0uem tinhasofrido um acidente e estava internado no hospital? '# podia ser /artin ouelia, as duas nicas pessoas que conhecia em >air#bi. /as ela tinha aimpressão de que os dois tinham via!ado na semana anterior e que não seencontravam na cidade. 0uem mais podia ser?Ao chegar na portaria do hotel, havia um tá+i parado na cal$ada 8 suaespera. *la entrou correndo no carro e deu o endere$o do hospital ao moto-rista. /inutos depois o carro parou diante de um pr(dio moderno, onde

havia um luminoso com letras bem grandes3 6ronto-'ocorro.Cristina identificou-se na portaria e perguntou se havia algum recado paraela.

 — Ah, que sorte encontrá-la — e+clamou a irmã. — 'eu marido sofreuum acidente. >ão precisa se assustar. >ão ( nada grave, mas ele está sobcuidados m(dicos.

 — /eu marido? nde ele está? — Ali, naquela sala.Cristina correu para lá sem perder um instante e atravessou a porta.

 — 0uerido, o que aconteceu com você? — e+clamou, ao avistar umhomem com a cabe$a enfai+ada deitado na cama branca de ferro. — ocêestá bem, meu amor?

  CA6M1)E Q:::

 — H você. Cristina? — perguntou uma vo" de homem do quarto ao lado. — *u estou aqui.Cristina afastou-se sem !eito da cama onde estava o homem de cabe$a

enfai+ada.

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Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet Shore

Bianca no. 8

 — 'eu marido sofreu apenas um acidente leve — e+plicou a irmã. — *leestá passando bem, feli"mente. >#s encontramos seu endere$o no bolso docasaco e achamos conveniente informá-la do ocorrido, ele vai passar anoite aqui apenas por uma questão de seguran$a.

 — /uito obrigada por tudo — disse Cristina, dirigindo-se ao quarto pegado, onde ominie estava sentado na cama, sendo atendido por umaenfermeira que passava mercurocromo nas feridas leves que havia no rostoe nos ombros.

 — que aconteceu? — *u cai numa vala e fui atirado longe. >ão foi nada muito grave. =oi s#o susto.

 — Ainda bemA enfermeira terminou de fa"er os curativos e saiu do quarto.

 — ocê estava dormindo quando recebeu meu recado. — >ão, eu estava acordada. — 'e eu não estivesse meio tonto quando cheguei aqui, não teria dado seuendere$o 8 enfermeira. ocê me desculpe toda essa amola$ão...

 — :magine *u fiquei muito contente de você me procurar. Como vocêencontrou meu endere$o.

 — 6elo papel timbrado do hotel. *u tamb(m estive uma ve" hospedado no6alladian @otel.

 — Ah, sim... Agora estou entendendo.Cristina ficou um instante na dvida, sem saber o que se passava na cabe$a

de ominc. As palavras dele eram um misto de reserva e de boa educa$ão.6or que ele via!ara at( >air#bi se ela di"ia na carta que iria partir nos

 pr#+imos dias para Eondres. — ocê levou um susto quando recebeu o recado? — *u não fa"ia ideia de quem podia ser. *u ando dormindo mal ultima-mente.

 — /uitas preocupa$%es na cabe$a? — eve ser. * você, como está? — 'entindo falta de você.

A irmã entrou no quarto neste momento. — esculpe interromper a conversa, mas está na hora de ir para a cama,doutor.ominic levantou-se e apoiou-se na cabeceira.

 — :rmã, eu decidi voltar com minha mulher. *la tamb(m ( m(dica e poderá cuidar de mim. se for necessário.epois de acertar a conta no pronto-socorro, os dois tomaram um tá+i na

 porta do hospital e rumaram para o "otel 6al&adian. Ao descerem do tá+idiante do hotel, Cristina ouviu ominic gemer e apoiar-se na porta do carro

com uma careta de dor.

  Livros Florzinha - 88 -

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Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet Shore

Bianca no. 8

 — *u torci o torno"elo na queda. 1alve" fosse melhor eu dormir numquarto separado esta noite para não acordá-la com meus gemidos. ocê nãoacha?Cristina balan$ou lentamente a cabe$a. *la não sabia o que era melhor

naquelas circunst2ncias. Ao passarem pela portaria, ominic preencheu aficha de h#spede e pediu um quarto pegado ao de Cristina. >aquela noite, antes de dormir, Cristina refletiu longamente sobre osmotivos que ominie podia ter para procurá-la em >air#bi. que ele que-ria conversar com ela desta ve"? *mbora estivesse apreensiva com oencontro que teria com ominic no dia seguinte, estava feli" por saber queele estava hospedado no mesmo hotel, no quarto pegado, e que bastavaapenas bater de leve na parede para que ele ouvisse seu chamado.Com esse pensamento tranquili"ante na cabe$a, ela adormeceu finalmente.6assavam das de" da manhã quando acordou no dia seguinte. )m raio desol penetrava por um fresta na cortina e tra$ava desenhos curiosos no asso-alho brilhante. >o momento em que ela voltou-se para o rel#gio que estavaem cima da mesinha-de-cabeceira, lembrou-se que o dia prometia ser ricoem emo$%es. Antes de mais nada, havia o encontro e a conversa comominic tão ansiosamente aguardados.Cristina pulou da cama e enfiou os p(s nos chinelos que estavam embai+odo estrado.6or que não fora acordada mais cedo naquele dia? *m geral, serviam o caf(no quarto 8s oito da manhã. Cristina escovou os dentes no banheiro, passou

um pente nos cabelos e saiu no corredor, que estava escuro e silencioso8quela hora. A porta do quarto de ominic estava aberta e a cama não foraarrumada ainda pela empregada. )m menino estava encerando o piso docorredor. Ao avistá-la levantou-se prontamente e deu o recado que ominicdei+ara para ela3

 — doutor disse para a senhora esperar aqui. *le não vai demorar. — Aconteceu alguma coisa? — perguntou Cristina, imaginando imedia-tamente que ominic tinha passado mal 8 noite e voltara 8s pressas para ohospital.

 — *u s# recebi este recado — repetiu o menino. — /as você viu se o doutor estava bem? — *stava. *le não tinha nada quando falou comigo.Ap#s um momento de hesita$ão, Cristina achou prefer&vel aguardar porominic no hotel, para não haver perigo de um desencontro.1omou um banho de imersão demorado e resolveu esperar na sala deleitura, onde estavam os !ornais e revistas da semana.ominic chegou meia hora depois, com um sorriso enigmático nos lábios.Convidou-a para tomar um drinque na varanda que dava para a piscina,

onde havia mesas e cadeiras brancas de madeira embai+o de guar-da-s#iscoloridos.

  Livros Florzinha - 89 -

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Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet Shore

Bianca no. 8

 — que o m(dico disse? — perguntou Cristina. — 'eu torno"elo estámelhor? 6or que você não me acordou para acompanhá-lo ao hospital?

 — *u não quis incomodá-la. ocê estava com o sono atrasado e precisavadormir bastante. — ominic fe" uma e+pressão de surpresa. — nde estão

os outros? — 0ue outros? — elia e /artin. — >ão tenho ideia. =a" uma semana que não ve!o elia. /artin deve tervoltado para ampili.

 — *u pensei que você fosse reatar com /artin. — ocê está sonhando /artin ( a ltima pessoa com quem eu me casaria.*u terminei tudo com ele quando estava em )gadu. ocê sabe disso.

 — *u sei tamb(m que ele veio at( aqui para ter uma conversa com você.Aliás, fui eu que lhe dei o endere$o.

 — *le me falou. — *u tamb(m vim at( aqui e+pressamente para ter uma resposta sua. ocêcont&nua comigo ou vai me dei+ar?A pergunta foi tão inesperada que Cristina ficou muda no primeiro instante,como se estivesse com a faca no pesco$o. *la tinha a impressão e+ata deque estava encurralada, e que não podia esquivar-se a uma respostadefinitiva.

 — *u dei+ei tudo claro na minha carta — disse por fim. — 'ua vida e seutrabalho estão em )gadu e eu tenho que voltar para a :nglaterra, por

quest%es de sade, como !á e+pliquei. iante disso, não ve!o outra alterna-tiva senão a separa$ão. Aliás, você sabe perfeitamente que nosso casamentoestava destinado ao fracasso desde o in&cio. acordo que fi"emos não mesatisfa".ominic acendeu cuidadosamente o cachimbo e deu algumas baforadas

 para o alto, inundando a varanda com o perfume aromático do fumo, antesde fi+á-la com aten$ão.

 — amos come$ar tudo de novo. Antes de mais nada. quem disse que vocêtem que voltar para a :nglaterra?

 — professor itre. *le disse que eu devia voltar para lá logo querecebesse alta no hospital.

 — Curioso... ele não fala isso na carta que me escreveu. *le di" apenasque, dentro de uma semana, você receberia alta no hospital e que podiavoltar para casa, o que ( bem diferente tratamento posterior podia sercontinuado em qualquer parte do mundo.

 — >ão foi isso o que elia me falou. =oi ela quem recebeu pessoalmenteas recomenda$%es do professor. *u estava fora naquele dia. 1inha sa&do

 para passear na cidade.

 — *+atamente. =oi para tirar este assunto a limpo que eu fui ho!e demanhã ao hospital. 'abe o que fiquei sabendo da assistente do professor?

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Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet Shore

Bianca no. 8

 >ão há nenhuma necessidade de você voltar para a :nglaterra, a menos quevocê queira. Como eu pensava, o tratamento de manuten$ão pode ser feitoem qualquer parte.

 — ai ver que elia inventou esta hist#ria para me separar de você —

e+clamou Cristina. — *la disse claramente que eu devia voltar para a :n-glaterra e que você ia largar tudo aqui para me acompanhar. =oi por issoque resolvi partir antes de lhe enviar a carta do professor. *u não queria quevocê abandonasse seu trabalho aqui por minha causa.

 — elia previu que você agiria desta forma e arrumou toda esta confusão para nos separar. — *la tem ra"ão num ponto. ocê gosta mais de seu trabalho do que detudo o mais.

 — amos dei+ar este assunto de lado por enquanto. @á uma questão maisurgente para resolvermos.

 — *u sei disso. >osso casamento. =oi /artin quem me aconselhou a procurar o advogado. — * a que conclusão você chegou? Cristina encarou-o no fundo dos olhos. — ocê quer realmente continuar casado comigo? *u s# lhe dei amola$ãoat( agora. 6rimeiro minha doen$a. epois essa minha vinda para cá. Al(mdisso, há um outro detalhe mais importante que todos os outros3 você nãogosta de mim.

 — =oi isso que você disse na carta. >unca lhe ocorreu inverter a pergunta?6or que você não confessa que ( você que não gosta de mim.

 — ocê não está sendo !usto. *u não quero ser sua mulher se meu amornão for rec&proco. *sta situa$ão não me satisfaria.

 — /inha querida — disse ominic. segurando-a pelas mãos. — *u gostode você desde o primeiro dia em que nos conhecemos e muito antesdaquele bei!o que trocamos na festa que fomos na aldeia dos machuas. *ulhe disse uma ve" que me considerava um indiv&duo e+tremamente l#gico eque a loucura não tinha lugar no meu esquema de vida. Acontece que vocêmudou essa situa$ão. *u me sentia tremendamente aflito quando você esta-va perto de mim e mais aflito ainda quando você não estava. *u nunca me

senti assim antes e suponho que se!a essa ambivalência de sentimentos o talamor de que falam tanto. *u não queria perdê-la em hip#tese alguma efiquei tão desesperado quando você foi embora que !urei a mim mesmofa"er você gostar de mim, custasse o que custasse. *u achava que você nãogostava de mim. Como você está vendo, n#s dois nos enganamos a respeitodos nossos verdadeiros sentimentos. * quase que nos separamos estpida- .mente, sem nenhuma ra"ão de ser... 'e você acha que o primeiro casamentonão valeu, podemos remediar isso. amos nos casar de novo, se esse for ocaso. >ão precisamos consultar nenhum advogado nem especialista em

quest%es !ur&dicas. 5asta apenas conversar com um bispo compreensivo...

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Bianca no. 8

  CAPITULO XIX

 >o primeiro instante, Cristina olhou em volta de si sem saber onde estava.6ouco a pouco ela se lembrou que estava hospedada com ominic num

hotel numa cidade"inha chamada :mpho e que no dia anterior ela e omi-nic tinham sido os padrinhos de casamento de CicelJ e Kim. Agora os doiscasais iam partir em dire$%es diferentes. CicelJ e Kim pretendiam visitar o

 belo vale 4ift, que ficava ao norte, enquanto ominic e Cristina iam rumar para o sul, em dire$ão 8s neves eternas do iliman!aro. )m dos sonhos deominic era trabalhar na cidade de odoma, entre os nativos da 1an"ãnia.

 — amos conhecer o lugar. 'e você gostar, podemos nos mudar para lá.*m ltimo caso, há sempre uma cidade portuária na :nglaterra onde meusconhecimentos de doen$as tropicais podem ser teis.epois de tomarem um caf( da manhã substancial, com frutas, cereais ecaf( com leite, eles se despediram de CicelJ e de Kim e partiram num carroalugado em dire$ão ao sul. 6ouco antes do meio-dia chegaram a uma ponteque tinha sido reconstru&da recentemente e que atravessava um rio de águas

 pardas. — Adivinhe onde estamos — disse ominic com um sorriso. — >ão fa$o ideia — ocê tem certe"a que não conhece este rio? — >unca estive aqui antes. 1enho certe"a absoluta. — Como não? *sta ( a ponte que impediu sua passagem e este rio de

águas lamacentas que você está vendo ( o )mbulu, que aumenta o dobrode volume na (poca das cheias.

 — *ste ( o rio caudaloso que eu vi uma ve"? — e+clamou Cristina, boquiaberta. — *u posso atravessar a p( este filete de águas barrentas — 6ois (. mesmo )mbulu que você viu na esta$ão das chuvas e queagora está vendo na esta$ão da seca. >ão ( fantástico?*la se lembrou nitidamente do dia em que chegou 8 margem do rio e deeorge, apontando para longe, com as mãos tr(mulas.

 — A ponte caiu. >ão podemos atravessar. 6arecia que fa"ia anos que

estivera ali antes. — >em sempre a ponte ( levada pelas águas — e+plicou ominic, desli-gando o motor do carro. — =oi o destino que a derrubou daquela ve" paranos apro+imar um do outro.

 — 6rovavelmente — disse Cristina, inclinando-se no banco para bei!á-lono rosto.

 >este instante um carro grande passou 8 toda por eles. 6oucos metrosadiante, o carro parou com uma brecada brusca, manobrou na estrada es-treita de asfalto e voltou no sentido contrário. carro deles estava estacio-

nado embai+o de uma palmeira. =oi ominic quem reconheceu primeiro osocupantes do outro ve&culo.

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Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet Shore

Bianca no. 8

 — lhe s# quem vem a& >o instante seguinte, elia abai+ou a !anela e cumprimentou os dois, dointerior do carro.

 — )(, Cristina, você não voltou para casa? Como você continua casada

com um homem que não ( seu marido legal?Cristina fitou-a com a fisionomia fria. — ocê, com suas mentiras, quase aprontou uma bela confusão — 0ue mentiras? *u não sei do que você está falando — amos dei+ar este assunto para uma outra ocasião — disse Cristina,com a vo" gelada. — >#s dois estamos muito feli"es !untos para estragar-mos nosso dia com uma conversa desagradável. At( 8 vista. elia.

 — *stá bom, sua antipática, n#s vamos dei+ar vocês dois em pa" — disseelia, fa"endo sinal para /artin ir embora.

 >o instante em que o carro se afastou na estrada levantando uma nuvem de poeira, ominic voltou-se para Cristina, com um sorriso no rosto. — *sta ( a primeira ve" que eu ve!o elia perder o rebolado. *la sempretem uma resposta para tudo.

 — ocê acha que eu fui grosseira? — perguntou Cristina inocentemente. — 1alve" eu pudesse ter sido mais delicada... — 0ue nada ocê foi maravilhosa. *u s# espero não lhe dar motivo paravocê me tratar um dia do mesmo !eito...

 — *u fico uma on$a quando pisam no meu p( — disse Cristina, apro+i-mando os lábios dos dele. — *u não gosto das pessoas falsas ominic

 bei!ou-a de leve na boca. — Agora que eles foram embora, vamos ao nosso piquenique.Cristina apanhou a cesta de vime que estava no carro, estendeu uma toalhaem cima da relva arrumou, com o mesmo cuidado que dedicava aosarran!os de flores, os sandu&ches, os frios e os quei!os que estavamembrulhados em papel alum&nio. 6or ltimo, colocou em cima da toalha agarrafa de vinho tinto e os dois copos de cristal.

 >o instante seguinte. elia e /artin foram rapidamente esquecidosenquanto Cristina e ominic comiam e bebiam entre risadas e e+clama$%es

de alegria reclinados sobre a relva macia que crescia 8s margens do no