120 Revista O Papel - novembro/November 2016

SESSÃO TEMÁTICA DE BIORREFINARIACADERNO ABTCP 2016

A mesa-redonda sobre biorrefinaria, tema que aponta para o futuro da indústria de base florestal, marcou o último dia da programa-

ção de palestras do 49.º Congresso Internacional de Celulose e Papel, demonstrando uma visão da bior-refinaria integrada aos negócios dessas empresas. Peter Axegard, vice-presidente de Estratégias em Biorrefinaria da Innventia, um dos Keynotes do Con-gresso deste ano, trouxe tendências mundiais sobre o mercado e posicionou a redução do consumo glo-bal de papel e a potencial sobrecapacidade de celu-lose entre os principais desafios para a indústria a justificar a diversificação dos produtos.

“O setor � orestal é uma das indústrias com o maior potencial para a biorre� naria, pois tem um conjunto

Biorrefinaria integrada à indústria de base florestalFabricantes e fornecedores discutem desa� os atuais e planejam futuro diante do potencial das estratégias tecnológicas já disponíveis

Por Thais SantiEspecial para O Papel

de fatores positivos, entre os quais as � orestas certi-� cadas, e� ciência nos sistemas de logística e energia, entre outros”, disse Axegard. Ele se baseia no último estudo divulgado pela Innventia, A Cellulose-based society, a terceira pesquisa da instituição sobre essa indústria, em que foram examinadas as atitudes em relação aos materiais utilizados pelas pessoas em seu dia a dia e descritas as potenciais forças que levarão a uma economia mais sustentável no futuro.

Cinco países foram entrevistados com perguntas so-bre como as pessoas imaginavam um futuro em que a maior diversidade de produtos fosse criada a partir da � oresta. “Chegamos à molécula da celulose como peça chave dessa cadeia de transformação, incluindo a lignina, a hemicelulose e todas as demais característi-

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Players do mercado já vivem cenário de oportunidades com as vantagens do setor � orestal para o cenário das biorre� narias

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cas e suas in� nitas possibilidades, através de diferentes plataformas”, disse Axegard.

Os demais palestrantes demonstraram que a indústria compartilha dessa visão e já caminha para um futuro próximo de diver-si� cação do portfólio de produtos com pro-jetos e/ou trabalha na de� nição de estraté-gias atendendo ao conceito da biorre� naria integrada – a exemplo de Vinicius Lobosco, pesquisador sênior da Suzano, falando so-bre a planta de lignina da empresa, que já ganha escala a partir de 2017.

“Avaliamos a lignina como a que melhor combina a disponibilidade com pureza para o desenvolvimento de aplicações”, disse ele. Inicialmente a planta irá produzir 20 mil toneladas por ano, 55 toneladas por dia de vários tipos de lignina, por diversas vias, com ou sem modi� cação química. Entre os principais campos de aplicação dos pro-dutos a serem comercializados estão o de adesivos e o de dispersantes.

Tiago Coelho Marchi, gerente de Estra-tégia e Novos Negócios da Fibria, abordou as rotas que a empresa definiu para tam-bém adotar a lignina como um produto de valor em seus projetos. A partir da aqui-sição da empresa canadense Lignol, hoje Fibria Innovations, foi incorporado um amplo portfólio de patentes no assunto, além de ativos que incluem plantas pilo-to para desenvolvimento da Organosolve, tecnologia que consiste em uma polpação a utilizar uma solução de solventes orgâ-nicos para quebrar e solubilizar a lignina da madeira. No caso da Fibria, contudo, considera-se a rota para a produção de bio-óleo como a de maior maturidade.

Como a pirólise foi uma das tecnologias priorizadas, a Fibria desenvolveu parceria com a empresa norte-americana Ensyn, tornando-se acionista com participação atual de 12,6% no capital. Como terceira rota está previsto o desenvolvimento de nanocelulose, tanto cristalina como fibri-lar. A Fibria constrói atualmente uma plan-ta piloto de nanocelulose em sua unidade

de Aracruz (ES), que deverá iniciar produ-ção de amostras no primeiro trimestre de 2017, buscando desenvolvimento de apli-cações em diferentes cadeias de valor.

Finalizando a mesa-redonda, o pesqui-sador Marcelo Muguet, representando a Klabin, falou que a companhia está defi-nindo sua estratégia sobre bioprodutos, embora exista um desafio maior, pois, nesse caso, trabalhará com mais de uma matéria-prima, o que acarreta trabalho com características diferentes. “Você tem de conhecer sua biomassa e as utilizações para, a partir daí, definir as rotas de bior-refinaria”, disse Muguet, apontando que existem diferenças nas aplicações das lig-ninas de conífera e de folhosas.

Para atingir esse objetivo, a Klabin vem fortalecendo sua frente de Pesquisa & Desenvolvimento com investimento da ordem de R$ 70 milhões até 2018 e foco na matéria-prima florestal para celulose, na otimização de papéis e novas aplica-ções, em estudos relativos a biocombustí-vel/bioquímicos, na redução de consumo e em nanotecnologia com aplicação em novos produtos.

Para Celso Foelkel, moderador da Ses-são Técnica de Biorre� naria e especialista e consultor da empresa Grau Celsius, as biorre� narias têm muito a contribuir para a expansão do negócio � orestal e ganham força com os projetos dessas grandes em-presas, que têm mostrado uma visão de fu-turo bastante aberta para a diversi� cação de seus negócios. Segundo o especialista, a criação e a ampliação dos mercados virão como consequência do crescimento dessas aplicações, mas o Brasil não pode esperar muito tempo para aproveitar essas vanta-gens e as novas oportunidades oferecidas pelo setor � orestal. n

Nota: saiba mais sobre esses projetos na matéria especial sobre biorre� na-rias publicada na revista O Papel em julho deste ano.

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